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Os principais heróis da DC se reúnem na Liga da Justiça.

[Atualização: Este post foi originalmente escrito em 2011, mas foi atualizado em novembro de 2017].

A Liga da Justiça não foi a primeira equipe de super-heróis – o pioneirismo cabe à Sociedade da Justiça, sua antecessora, também da DC Comics – mas foi a primeira que se manteve publicada com constância. Era um empreendimento ousado: reunir os principais heróis da editora em histórias comuns, de modo a equilibrar seus poderes e habilidades, ao mesmo tempo em que são necessárias grandes ameaças para lidar com o nível de poder reunido.

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Capa de “The Brave and the Bold 28”, de 1960, com a primeira história da Liga da Justiça.

Mas a empreitada deu certo. A Liga da Justiça estreou na revista The Brave and the Bold 28, como uma espécie de teste, em 1960. A DC, comandada pelo editor Julius Schwartz, queria saber se um projeto daquele porte daria certo. Para a missão foi destacado o roteirista Gardner Fox, veterano da casa, escolhido porque havia sido ele quem criara a Sociedade da Justiça anos antes, mas ainda era “atual”, pois atuava ativamente na reformulação recente dos personagens da DC, como o novo Flash e a Mulher-Maravilha.

Para não “queimar” os seus dois principais campeões de vendas, a DC não colocou Superman e Batman na equipe no primeiro momento, para ver como a Liga se sairia. Assim, o grupo estreou com Flash, Lanterna Verde, Caçador de Marte, Mulher-Maravilha e Aquaman.

Seguindo os costumes da Era de Prata dos quadrinhos, na aventura de estreia, a Liga da Justiça já está formada e luta contra um alienígena em formato de estrela do mar, chamado Starro, que controla a mente das pessoas. Também nesta aventura, o mascote mirim Snap Carr, que cumpria a missão de ser “membro honorário” do grupo e um canal direto de comunicação com os jovem leitores.

Uma curiosidade na aventura de The Brave and the Bold 28, é que se dá a entender que Superman e Batman também são membros da Liga da Justiça, porém, na trama, quando é emitido os dois heróis estão ocupados demais para atender.

Brave_and_the_Bold_vol_1_30Na edição seguinte, a 29, o grupo combate o Mestre das Armas, e desta vez, Batman se une a eles, mas o Superman não. Na edição 30 – a última do “teste” – o grupo combate Amazo, um poderosíssimo androide construído pelo Dr. Ivo, que mimetiza todos os poderes da Liga, que pela primeira vez tem o Superman como um dos membros atuantes.

Essas primeiras aventuras já consolidaram alguns elementos do grupo: além do adolescente Snapper Carr como mascote e ajudante, o time de heróis se reúne em uma caverna chamada de Santuário Secreto, localizado num lugar chamado Happy Harbor, uma localidade entre Gotham City e Metropólis.

Anos iniciais:

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Capa da edição 01. Superman e Batman aparecem apenas no tabuleiro.

Justice League of America 01 foi lançada ainda em novembro de 1960 e foi um grande sucesso. A revista seguia as aventuras anteriores com a mesma equipe: Fox e Sekowski, com Murphy Anderson sendo o responsável pelas capas. Na trama do primeiro número, a estreia de um dos mais importantes vilões do grupo: Despero.

As primeiras aventuras da Liga eram as típicas da Era de Prata, sem muita explicação, muito fantasiosas e algo infantis. A cada edição, um vilão maluco e uma situação absurda colocava os heróis em maus lençóis, mas sem letalidade. Também há algumas curiosidades: quando consideramos o que era a DC Comics em 1960 e 1961, o host de heróis da Liga (Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, Flash, Aquaman e Caçador de Marte) era praticamente todo o elenco de heróis fixos da editora, com exceção dos “coadjuvantes”, como Robin, Supergirl etc.

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O Arqueiro Verde entra para o time.

Talvez isso ajude a explicar porque os leitores fizeram uma petição solicitando que o Arqueiro Verde também fizesse parte do grupo. O herói era publicado (com algumas interrupções) desde 1941, mas nunca fora um sucesso, embora os fãs gostassem dele. A DC não se fez de rogada: o Arqueiro Verde ingressou na Liga já na edição 04.

Outra curiosidade é que o grande número de heróis na revista e a necessidade de “poupar” Batman e Superman faziam com que esses heróis quase nunca aparecessem nas capas e, muitas vezes, tinham papel reduzidos nas aventuras. Por exemplo, o Batman não fala nada na edição 5 e ele e o Superman não participam da edição 6.

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A origem da Liga é contada pela primeira vez na edição 09.

A origem da Liga, por sua vez, só foi contada em Justice League 09, de 1962. Na trama, Gardner Fox optou por usar um recurso retroativo: nas comemorações dos três anos de existência da Liga (?), os membros fundadores decidem contar para Snapper Carr e o Arqueiro Verde como o grupo se uniu. Essa é a famosa história em que um time de alienígenas com formato de árvore vem à Terra disputar quem irá governar seu mundo e cada herói combate um deles separadamente para depois se reunir. Curiosamente, na trama de Fox e Sekowski, enquanto os “originais” Flash, Lanterna Verde, Mulher-Maravilha, Aquaman e Caçador de Marte combatem os aliens e se juntam, Superman e Batman – sem saber dos outros – combatem outra dupla deles em separado.

Esta história ganharia muitas outras versões no futuro, mas permaneceu por muito tempo como a origem oficial do time.

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O Átomo entra para o grupo.

Como se oito membros não fossem o suficiente, a Liga ainda ganhou outro membro na edição 14, com The Atom (chamado de Eléktron no Brasil por muito tempo).

Justice_League_of_America_Vol_1_19Outra grande curiosidade é que até Justice League 19, de 1963, os heróis não conheciam as identidades secretas um dos outros! Nesta aventura, o Dr. Destino está na prisão, mas criou um mecanismo chamado Materióptikon, que transformou versões oníricas (dos sonhos) da Liga em seres materiais, versões malignas, e esses confrontaram os heróis e agiram como criminosos. Com isso, a sociedade se volta contra o grupo. Mesmo com Jean Lorring (a esposa do Átomo) atuando como advogada para defender a Liga, o grupo é condenado ao exílio da Terra.

O grupo constrói uma nave com tecnologia Kryptoniana e marciana e vai para o espaço, mas lá bolam o plano de revelar as identidades secretas uns para os outros e voltar à terra sob disfarce para combater suas cópias más. Revelam então: Superman (Clark Kent, repórter do Planeta Diário), Batman (Bruce Wayne, milionário), Mulher-Maravilha (Diana Prince, secretária do Serviço Secreto), Flash (Barry Allen, cientista forense), Lanterna Verde (Hal Jordan, piloto de testes), Caçador de Marte (John Johns, detetive), Arqueiro Verde (Oliver Queen, empresário), Átomo (Ray Palmer, cientista); enquanto o Aquaman até tinha o nome de Arthur Curry, mas não uma identidade secreta propriamente dita.

Claro, o plano dá certo, a Liga volta à Terra em suas identidades civis, derrotam suas versões malignas e prendem o Dr. Destino. Contudo, como a DC não gostava de mudanças de status quo, no fim da história, Superman usa um mineral misterioso em sua Fortaleza da Solidão chamado Amnésio para que o mundo e eles próprios esqueçam as identidades secretas. Assim, os heróis voltam a não conhecer seus amigos.

É importante notar que o recurso da versão maligna da Liga da Justiça se tornaria um elemento constante no cânone do grupo dali para frente.

Gardner Fox e o desenhista Mike Sekowski produziram as aventuras da Liga da Justiça entre 1960 e 1968. Essa primeira fase foi marcada pelo estabelecimento dos membros clássicos e o surgimento dos principais vilões: Starro (BB 28), Amazo (BB 30), Despero (edição 01), Dr. Destino (edições 05 e 19), Felix Faustus (edição 10) e Dr. Luz (edição 12).

O Multiverso da DC

Antes de passarmos à segunda fase da Liga da Justiça nos quadrinhos é preciso aprofundar o desenvolvimento do Multiverso da DC Comics. Como já dito, o primeiro grupo de super-heróis da DC foi a Sociedade da Justiça, criada em 1940, na Era de Ouro, com as versões antigas de Flash, Lanterna Verde e Átomo, junto a heróis que eram esquecidos nos anos 1960, como Dr. Meia-Noite, Homem-Hora, Sandaman e o Gavião Negro (Hawkman).

A Mulher-Maravilha foi um membro ativo desse time antigo, porém, como explicar a realidade cronológica dos anos 1960 e da Era de Prata, com a mesma Diana Prince unida às novas versões dos heróis?

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Flash 123 introduz o conceito do Multiverso e traz Jay Garrick de volta.

O conceito foi estabelecido na revista Flash 123, de 1963, escrita por Gardner Fox e desenhada por Carmine Infantino, na qual o herói Barry Allen descobre que pode viajar por entre as dimensões vibrando seu corpo através das moléculas do tempo e do espaço. Isso permite ele encontrar o Flash dos anos 1940, Jay Garrick, que vivia na Terra 2. Os editores da DC perceberam que a ideia das “duas Terras” era perfeita para explicar as incongruências de sua confusa cronologia e incentivou que os escritores usassem esse recurso – além de possibilitar o uso de personagens há muito esquecidos. Por isso, já em Flash 129, Barry Allen se encontra não apenas com Jay Garrick, mas com toda a Sociedade da Justiça.

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Crise na Terra 1, com o primeiro encontro da Liga da Justiça com a Sociedade da Justiça.

Não demorou nada e Justice League 21 e 22, de 1963, trouxe o primeiro encontro entre a Liga da Justiça e a antiga Sociedade da Justiça, seguindo a ideia de que os velhos heróis agiram na época da II Guerra na Terra 2. Inicialmente, a DC evitou “repetir” os heróis que ainda continuavam em publicação desde aquele tempo – especialmente, Superman, Batman e Mulher-Maravilha – mas logo as “velhas” versões também começaram a voltar. O sucesso da empreitada fez com que os encontros entre a Liga e a Sociedade da Justiça se transformassem em eventos anuais, sempre na revista dos primeiros, o que se repetiu por 23 anos! 

A aventura das edições 21 e 22 apresentou uma versão da Sociedade da Justiça com os seguintes heróis: Átomo, Canário Negro, Sr. Destino, Flash (Jay Garrick), Lanterna Verde (Alan Scott), Gavião Negro e Homem-Hora, mas também são mencionados outros membros, como Dr. Meia-Noite, a outra Mulher-Maravilha, Sandman e Starman.

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Gavião Negro, Starman, Canário Negro, Sr. Destino e Dr. Meia-Noite na capa da edição 29.

Na trama também é mencionada a Terra 3, mas esta não apareceria até Justice League 29 e 30, com a história Crise na Terra 3, na qual é apresentada pela primeira vez o Sindicato do Crime, com as versões malignas da Liga, com Ultraman (Superman), Coruja/ Owlman (Batman), Super-Mulher/ Superwoman (Mulher-Maravilha), Anel do Poder/ Power-Ring (Lanterna Verde) e Johnny Quick (Flash).

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Capa de “Justice League of America 30”, com a primeira aparição do Sindicato do Crime.

Para combatê-los, a Liga se alia novamente à Sociedade da Justiça, que desta vez tem como membros: Átomo, Canário Negro, Dr. Meia-Noite, Sr. Destino, Flash, Lanterna Verde, Gavião Negro e Starman. Como já eram personagens demais, alguns dos membros da Liga aparecem só como “pontas” na história: o Átomo, Caçador de Marte e Aquaman.

Em consequência dos eventos dessa edição, o Gavião Negro (Hawkman) se torna membro oficial da Liga na edição 31, servindo como um tipo de representante da Terra 2 junto aos heróis da Terra 1. Logo mais, o herói alado deixaria de usar a máscara mais simples que vinha aparecendo para voltar ao seu visual original, com um capacete em formato de cabeça de gavião.

Justice_League_of_America_Vol_1_56Os encontros com a Sociedade da Justiça continuaram a ocorrer anualmente, aparecendo de novo nas edições 55 e 56, dessa vez, com um confronto entre as duas equipes. Já a edição 58, de dezembro de 1967, inaugurou uma tradição: uma revista especial com mais páginas, trazendo a republicação de histórias antigas; formato que passou a se repetir nos anos seguintes.

Nesta altura, além de um grande sucesso nas bancas, a Liga da Justiça tinha um número muito grande de membros, então, alguns começaram a ser privilegiados em razão de outros. Por um lado, o sucesso da série de TV do Batman, a partir de 1966, fez com que o homem-morcego passasse a estrelar a maioria das capas e ter participações mais efetivas nas tramas. Isso mostrou à DC que não precisava ter medo de usar seus medalhões em meio ao time e o Superman também passou a ter papel mais destacado e também aparecer mais nas capas. Em contrapartida, outros personagens, como o Átomo e, principalmente, o Caçador de Marte, começaram a se tornar redundantes e pouco usados.

No caso de J’on J’onz isso foi decisivo. O roteirista Gardner Fox colocou o Caçador de Marte na equipe como uma forma de ter alguém com o nível dos poderes do Superman, já que o próprio homem de aço só podia aparecer casualmente nas aventuras. Contudo, na medida em que o Superman passou a ser mais ativo, o marciano se tornou redundante.

JLA_v.1_64O fim da série de TV do Batman, em 1968, começou a puxar as vendas para baixo de toda a editora e a revista da Liga também sentiu isso. Ao mesmo tempo, a fórmula vencedora de Gardner Fox exibida nos últimos oito anos também mostrava claros sinais de cansaço. Assim, a editoria da DC, nas mãos de Julius Schwartz, começou a experimentar coisas novas. Por exemplo, Justice League of America 64, trouxe uma aventura da Sociedade da Justiça, com uma pequena participação de apenas alguns membros da Liga, numa história que trouxe a estreia do Tornado Vermelho, um androide consciente que se tornaria membro da equipe no futuro. Em certo sentido, era uma resposta ao Visão, que tinha se tornado membro dos Vingadores da concorrente Marvel Comics com bastante sucesso. Esta edição também trouxe um novo desenhista: Dick Dillin, que passaria mais de 10 anos desenhando a revista da Liga e vinha das aventuras dos Falcões Negros.

A Era de Bronze

 

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Capa de “Liga da Justiça 77”, de 1968: Dennis O’Neil introduz mudanças na equipe.

Em 1968, a DC começava a sofrer com a concorrência da Marvel. Os heróis mais realistas e pertubados da concorrente, juntamente ao desgate na imagem dos super-heróis gerada pela infame série de TV do Batman, obrigaram a editora a se mover para tornar as histórias mais sérias. Para isso, Julius Schwartz passou a dividir o comando editorial da DC com dois artistas mais jovens, Carmine Infantino e Dick Giordano, que decidiram abrir espaço para uma nova geração de artistas para cuidar dos velhos e cansados heróis da editora, como os escritores Dennis O’Neil, Gary Friedrich, Elliot S. Maggin e os desenhistas Neal Adams, Jim Aparo, Irv Novick etc.

Coube justamente a Dennis O’Neil o comando da Liga da Justiça, juntamente ao desenhista Dick Dillin. O’Neil tinha começado a carreira na Marvel Comics como assistente de Stan Lee e Roy Thomas, mas depois se mudou para a Charlton Comics, onde conheceu o editor Dick Giordano. Quando este foi contratado para a DC Comics, levou O’Neil consigo. Inicialmente testado nos títulos menores da DC, O’Neil se mostrou um escritor bastante talentoso e assumiu a revista da Mulher-Maravilha em 1968, a partir de Wonder-Woman 178.

Como a princesa amazona estava considerada velha e cansada para os jovens leitores, O’Neil modificou totalmente o status quo da personagem: matando Steve Trevor, tirando os superpoderes dela,e a transformando num tipo de agente secreta que usava artes marciais para lutar em tramas repletas de espionagem, e ainda, com um visual totalmente antenado à moda dos anos 1960, fruto do desenhista Mike Sekowski que, fruto de uma “dança das cadeiras” deixou a revista da Liga da Justiça para cuidar da heroína.

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O primeiro número de Dennis O’Neil, com bela capa de Neal Adams.

O resultado agradou, as vendas subiram e Dennis O’Neil foi designado para assumir a Justice League of America também. Para marcar a estreia, a edição 66 trouxe a arte de outro dos jovens artistas, o fantástico Neal Adams, para a arte da capa, enquanto o interior permanecia com o recém-ingresso Dick Dillin. Mas foi só um aperitivo, pois o número 67 foi outro especial de dezembro com republicações de velhas histórias, mostrando as aventuras em que Arqueiro Verde, Átomo e Gavião Negro ingressaram no time. De qualquer modo, esse número foi o último a trazer a assinatura de Gardner Fox e Mike Sekowski na revista.

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A edição de dezembro de 1968 com republicações  fecha a fase inicial da equipe.

A principal mudança implementada por O’Neil ao título foi o senso de consequência, com as aventuras um pouco mais associadas ao mundo real, com efeitos dramáticos de longo prazo (e não coisas que tipicamente eram esquecidas de uma edição para a outra, como antes), o que em certo sentido pode ser entendido como “o fim da inocência” que marcou a primeira fase da Liga. Por isso, se considera a entrada do escritor no título, na passagem de 1968 para 1969, como a entrada da Liga na Era de Bronze dos quadrinhos. Se por um lado a mudança de tom frustrou alguns velhos leitores que gostavam desse elemento descompromissado das aventuras iniciais, por outro, tornou as histórias mais fortes e relevantes.

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A Mulher-Maravilha sem uniforme e sem poderes na capa da edição 69.

Outras duas mudanças básicas se deram logo de início. Em primeiro lugar, para reforçar o senso de cronologia da DC, O’Neil tratou de afinar os eventos das história da Liga com aqueles mostrados na revista da Mulher-Maravilha que ele também escrevia. Desse modo, após uma última participação “clássica” em Justice League 68, Diana Prince aparece sem seu uniforme e sem seus superpoderes na edição 69, de 1969, quando, então, se desliga da equipe.

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Bela capa de Joe Kubert para a edição 72.

Em segundo lugar, Justice League 71 trouxe a saída do Caçador de Marte da Liga, eliminando o efeito redundante do Superman no grupo. J’on J’onz teria aventuras solo em Detective Comics e, depois, nas revistas de terror da editora.

O posto de membro feminina na equipe ficou vago por um tempo, embora duas heroínas tenham participado de edições avulsas nessa época: a Batgirl fez uma participação especial na edição 60 e a Mulher-Gavião aparece no número 72, nesta ocasião com uma belíssima capa ilustrada pelo veterano Joe Kubert, artista da Era de Ouro (mais conhecido por seu trabalho com Sgt. Rock) que desenhou as antigas aventuras da dupla de heróis alados nos anos 1940 e voltou a fazê-los em plena Era de Bronze para delírio dos fãs.

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Outro confronto com a Sociedade da Justiça.

Contudo, quem seria a membro feminina titular do grupo seria a Canário Negro, outra heroína da Terra 2 e membro da Sociedade da Justiça. Depois de mais um crossover entre os dois grupos, nas edições 73 e 74, 1969, que resultou em outra briga entre os times, a Dinah Lance é efetivada no grupo como membro reserva. (Vale à pena destacar que neste encontro da Liga e da Sociedade estavam presentes não apenas a Mulher-Maravilha da Terra 2, mas também o Superman).

Canário Negro permaneceria como membro reserva por algumas edições, porque em combate com um vilão chamado Aquarius, os membros da Liga foram afetados por magia e, como consequência, a Canário Negro desenvolveu a habilidade de emitir um grito sônico (pois até então, ela era uma heroína sem superpoderes), mas não sabia como controlá-lo.

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“The Brave and the Bold 85”, de 1968: novo visual do Arqueiro Verde. Arte de Neal Adams. 

Há um detalhe adicional interessante também: na onda da modernização dos heróis, o Arqueiro Verde ganhou um redesign definitivo nas mãos do desenhista Neal Adams, fazendo a estreia do novo look em The Brave and the Bold 85, de 1968. Sim, esta era a mesma revista em que a Liga estreou, mas agora, após o sucesso da série de TV, era um título dedicado a contar histórias do Batman em parceria com outros heróis da DC. Neste volume, foi o Arqueiro Verde.

Tal publicação se conecta com as edições 74 e 75 de Justice League, na qual Oliver Queen vive um tipo de crise existencial e que termina perdendo toda a sua fortuna e virando um vigilante mais preocupado com o lado social. Em algum tempo no futuro, o próprio Dennis O’Neil iria explorar este elemento colocando o Arqueiro como parceiro no combate ao crime do Lanterna Verde, na revista deste, em histórias carregadas de críticas sociais.

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Snapper Carr traidor. Arte de Dick Dillin.

Uma terceira mudança de status quo veio com a edição 77, de 1970, com o afastamento de Snapp Carr do time. O adolescente era um lembrete constante dos “outros tempos” da Liga e O’Neil desenvolveu uma trama em que ele trai a equipe a mando de um criminoso misterioso chamado apenas John Dough, o Sr. Normal, um cidadão “comum” que se revela ser o Coringa.

Em consequência a esta aventura, a Liga decide abandonar sua base do Santuário Secreto em Happy Harbor e se transfere para uma nova base de operações em um satélite artifial em órbita da Terra. Esse fator deu origem ao nome da nova fase.

A Fase do Satélite:

JLA 83Para muitos leitores, a Fase do Satélite, nos anos 1970, é o melhor período da equipe. De fato, a maioria das histórias que têm importância para a cronologia atual vêm desse tempo.

Dennis O’Neil ficou na revista apenas até o número 83 e, então, se tornou o escritor de outras, como Superman e Batman. Curiosamente, demorou alguns meses para um novo escritor fixo assumir a revista. Robert Kanigher – veterano escritor da Era de Ouro, responsável pelas aventuras da Mulher-Maravilha durante mais de 25 anos ininterruptos – escreveu a edição 84, na qual se consolida um tipo de atração entre Batman e a Canário Negro, com os dois se beijando.

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Batman e Canário Negro se beijam na edição 84. Arte de Dick Dillin.

O número 85 foi outro daqueles especiais de Natal com republicações e somente em Justice League 86, de 1971, estreia o novo escritor da revista: o jovem Mike Friedrich. (Dick Dillin continua nos desenhos). Sua fase foi relativamente curta e serviu mais para desenvolver as ideias que O’Neil havia traçado. Na edição de estreia, por exemplo, o Arqueiro Verde está enciumado pelo romance entre Batman e Canário Negro, mas esta esclarece que os dois chegaram à conclusão de que eram apenas amigos e o caminho ficou livre para o desenvolvimento de um romance entre Oliver Queen e Dinah Lance. Já a edição 87 trouxe a participação especial da mágica Zatanna, que iria ingressar o time no futuro.

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Capa da edição 91 por Neal Adams. 

As edições 91 e 92 trouxeram mais outro encontro com a Sociedade da Justiça, mas estes números introduziram o Robin da Terra 2, com um uniforme diferente (mais coberto e mais adulto, criado pelo capista Neal Adams) e que teria desenvolvimento em histórias posteriores da Terra 2.

A partir de Justice League 94, a Sociedade da Justiça e seus membros começaram a ter histórias secundárias publicadas na revista. Em meio à queda geral das vendas causada pela concorrência com a Marvel, a DC entrou na estratégia um modo de fazer mais leitores se interessarem por “novos” produtos – pois a Sociedade teria sua próprias aventuras publicadas em breve. A última edição de Friedrich foi o número 99.

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Capa da edição 100 com os Sete Soldados da Vitória. Arte de Nick Cardy.

Justice League 100, de 1972, era uma dupla comemoração, tanto pela numeração quanto pela chegada de um novo escritor: Len Wein (O desenhista continuou sendo Dick Dillin, embora a maior parte das capas daquela época eram criadas por Neal Adams ou Nick Cardy). Vindo dos quadrinhos independentes, Wein escrevia histórias de terror na DC e criou o Monstro do Pântano, o que lhe valeu muito prestígio. Alçado ao estrelato com a Liga da Justiça, Wein criou uma das fases mais queridas dos fãs da equipe.

Na trama, a Liga da Justiça decide promover um baile de gala para comemorar sua 100ª reunião e convida alguns outros heróis, como o Homem-Elástico, Metamorfo e Zatanna para a festa, além de Diana Prince, ainda sem poderes. Contudo, todos são transportados para a Terra 2 para auxiliar a Sociedade da Justiça contra uma grande ameaça chamada Mão de Ferro. Em meio a uma batalha que pode destruir a Terra, os heróis descobrem que apenas os Sete Soldados da Vitória – um antigo grupo de heróis da DC dos anos 1940 (do qual o Arqueiro Verde foi membro) – é que podem salvá-los. Viajando no tempo, este grupo é trazido para batalha.

Diferente das outras ocasiões, em que os crossovers entre a Liga e a Sociedade sempre se davam em duas edições, este durou três números, encerrando na edição 102, quando o Tornado Vermelho aparentemente sacrifica a própria vida para salvar o planeta.

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A edição do “crossover” com a Marvel. 

Na edição 103, Len Wein promoveu um (mal) disfarçado crossover entre a DC Comics e a concorrente Marvel Comics. Amigo dos escritores da Casa das Ideias, Wein, Gerry Conway e Steve Englehart criaram uma mesma história que transcorria em torno da Parada de Halloween de Rutland, em Vermont, na qual o povo sai às ruas com fantasias. Assim, o evento é central na trama de Justice League 103, mas também de Thor 207 e Amazing Adventuries 16, com os principais membros das revistas aparecendo como “pessoas fantasiadas” nas revistas um dos outros.

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O Tornado Vermelho se torna um membro da equipe. 

Em Justice League 105 o Homem-Elástico é oficialmente integrado ao grupo e o Tornado Vermelho é revelado vivo na edição seguinte, já em 1973, e também entra no time.

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Os Freedom Fighters estreiam.

Como é de crises que vive a DC, as edições 107 e 108 trouxeram a história Crise na Terra X, trazendo essa nova realidade, a Terra X (depois da 1, 2 e 3) na qual os Nazistas venceram a II Guerra Mundial e os protetores do planeta são um grupo chamado Freedom Fighters.

Justice_League_of_America_112O Gavião Negro deixa a Liga para voltar ao seu planeta, Thanagar na edição 109 e os números 111 e 112, de 1974, mostram uma aventura na qual o grupo combate um vilão chamado Libra, que consegue roubar metade dos poderes dos heróis, que são obrigados a reativar o androide Amazo (que possuía os mesmos poderes do grupo) para restituir suas habilidade, o que dá certo. A fase de Len Wein se encerra na edição 114, de 1975. 

Uma série de autores ficou pouco tempo na revista em seguida: Dennis O’Neil de novo (1975), Martin Pasko (1975), Cary Bates (1975-77), Elliot S. Maggin (1975) e Steve Englehart (1977-78).

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Identidades reveladas. 

A história mais significativa dessa fase é A Grande Crise de Identidade, publicada em Justice League 122, de 1975, escrita por Martin Pasko e desenhada por Dick Dillin, na qual o Dr. Luz invade a Fortaleza da Solidão do Superman e usa o Amnésio para que os membros da Liga confundam suas próprias identidades, com o Flash pensando que é Bruce Wayne ou Batman pensando que é Oliver Queen e este pensando que é Ray Palmer etc. Apenas Superman (por ser invulnerável) e Aquaman (por não ter identidade secreta) não são afetados e ajudam os companheiros a lutar contra o vilão. No fim, o Amnésio é destruído e os membros da Liga decidem revelar as identidades secretas uns para os outros, para evitar que este problema ocorra de novo.

Isto mostra que desde a edição 19 – quando revelaram as identidades secretas uns aos outros e depois fizeram esquecer dessa lembrança – os heróis da Liga desconheciam os nomes reais uns dos outros, exceto algumas exceções (Superman e Batman sabiam as identidades um do outro, por exemplo).

Também é nesta época que a Mulher-Maravilha volta para o grupo após uma longa ausência de quase sete anos! Em sua revista solo, a fase sem poderes tinha terminado em Wonder-Woman 203, de 1973, mas demorou outro ano inteiro para que – numa missão – Diana Prince encontrasse Clark Kent e este perguntasse desde quando ela tinha ganho seus poderes de volta. Descobrindo que estava sem memórias, a Mulher-Maravilha as ganhou de volta graças à sua mãe Hipólita, mas pensou que era um risco voltar à Liga sem provar que era digna, passando outro ano de histórias em um longo arco chamado Os 12 Trabalhos de Diana, na qual procura se provar para ver se pode ou não retornar ao grupo.

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O início da longuíssima fase de Gerry Conway. 

Após a sequência de fases curtas com vários escritores, a revista Justice League ganhou novamente um escritor fixo que iria passar vários anos no comando: Gerry Conway (ex-Editor-Chefe da Marvel e famoso escritor do Homem-Aranha) assumiu o título em 1978 e ficaria até 1986, contabilizando quase oito anos no título. Sua fase começou ainda com o desenhista Dick Dillin, que se manteve no título por 12 anos até falecer em 1980. Foi substituído por George Perez (que também advinha da Marvel, onde fazia Os Vingadores).

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Capa de “Justice League of America 168”, de 1979: Gerry Conway produziu histórias de grande importância cronológica aos personagens.

A história mais famosa da fase de Conway é o arco que percorre Justice League 166 a 168, de 1979, quando a Sociedade Secreta de Supervilões traça um plano em que trocam de corpos com os heróis e tentam difamá-los. O time precisa aprender a usar as habilidades de seus novos corpos para vencer os inimigos.

Nesta fase, além de seus membros tradicionais, alguns outros foram incorporados, como a Mulher-Gavião, a mágica Zatanna, o jovem Nuclear, Rapaz Elástico, Adam Strange, Metamorfo e até o Vingador Fantasma. A Liga chegou a ter 12 membros!!! Com tantos personagens, os heróis se reservavam nas aventuras e, raramente, apareciam todos juntos.

Liga da Justiça Anual 2 - liga de detroit 1984
Capa de “Justice League of America Annual 02”, de 1984, traz a estreia da Liga de Detroit: para muitos, é a pior fase do grupo.

A Liga de Detroit:

O início dos anos 1980 não foi bom para a DC, cujas vendas caíam. Tentando uma mudança que chamasse a atenção dos leitores, a editora arriscou mudar o status quo da Liga e o resultado se transformou na pior de todas as fases da equipe.

Gerry Conway e Chuck Patton criaram a história em que o satélite é danificado e a equipe volta à Terra. Aquaman se torna o novo líder e resolve montar um novo grupo somente com heróis que fossem 100% comprometidos com a Liga – pois Superman, Batman e Mulher-Maravilha tinham suas “aventuras solo”. Assim, ficaram os veteranos Aquaman, Caçador de Marte, Homem-Elástico e Zatanna, unindo-se aos novatos (e inexpressivos) Cigana, Gládio, Vibro e Víxen. A chamada Liga de Detroit não consegiu a adesão do público e foi encerrada em Justice League of America 261 (último número do primeiro volume da revista) na esteira do megaevanto Crise nas Infinitas Terras, que mudou o status quo de todo o Universo DC.

LendasPANINI - john byrne
“Lendas”, com a maravilhosa arte de John Byrne, serviu como inspiração à décima temporada de “Smallville”. O arco está disponível nas livrarias brasileiras em um encadernado.

Em Crise, Marv Wolfman e George Perez tentam unificar todo o Multiverso DC em uma única realidade. Assim, a Sociedade da Justiça – que antes pertencia a uma outra dimensão – passou a existir no passado da Liga. Personagens como Supergirl, Superboy, Batwoman e Caçadora simplesmente deixaram de existir, enquanto outros, como o Flash, morreram.

A sequência de Crise foi a minissérie Lendas, escrita por John Ostrander, com diálogos de Len Wein e desenhada por John Byrne. Os super-heróis – chamados de metahumanos – sofrem perseguição de um agitador chamado Gordon Godfrey que consegue fazer a opinião pública se voltar contra eles. Em meio ao pânico, o presidente dos EUA declara os metahumanos ilegais. Na verdade, Godfrey é um assecla de Darkseid, um dos piores vilões do Universo DC, que quer destruir os protetores da Terra de uma vez por todas. (Esse arco de histórias foi recentemente adaptado como a linha principal da 10ª e última temporada da série de TV Smallville).

Alguns dos membros (inexpressivos) da Liga de Detroit morreram e a equipe acabou.

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“Justice League 01”, de 1987: a inusitada versão cômica foi um grande sucesso.

A Versão Cômica:

Fazer da Liga da Justiça uma equipe engraçadinha parecia uma péssima ideia, mas funcionou. E muito bem! Dentro do clima sombrio e depressivo pós-Crise, as risadas da nova fase da equipe eram um sopro de alívio criativo dentro da DC.

Com a maioria dos principais nomes da DC indisponíveis, estreou em 1987 uma nova revista chamada Justice League 01, na qual Batman, Caçador de Marte e Canário Negro tentam reunir uma nova Liga com membros menos famosos, como Sr. Milagre (dos Novos Deuses), Sr. Destino (da Sociedade da Justiça), Capitão Marvel, Besouro Azul, Dra. Luz e o Lanterna Verde Guy Gardner. O grupo também ganha um porta-voz na figura ambígua de Maxwell Lord.

Com roteiros de Keith Giffen, diálogos de J.M. DeMatteis e desenhos de Kevin Maguire, a nova revista se transformou em um improvável sucesso de vendas, mostrando toda a canalhice de bom coração de Guy Gardner; a inocência (para não dizer burrice) do Capitão Marvel e as brigas constantes entre eles e o Besouro Azul. Batman, como líder, era o ponto sério e sombrio das histórias, mas terminava participando de momentos cômicos involuntários. Ficou famosa a cena em que Guy Gardner tem um ataque de estrelismo logo na primeira reunião do grupo e o Batman, sem dizer nada, dá-lhe um soco e o noucateia; os outros membros ficam comemorando que o ranzinza “foi derrubado com apenas um soco!”, o que virou piada recorrente.

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O trio de escritores logo ampliou a equipe, que ganhou a denominação Liga da Justiça Internacional, com a adesão de novos heróis, como Homem-Animal, Metamorfo, Poderosa, Homem-Elástico, Mulher-Maravilha, Flash (Wally West), Gladiador Dourado, (a brasileira) Fogo e Gelo. Os autores não tinham pudores em colocar esses personagens em situações estúpidas, o que agradou bastante o público da época, embora também tratassem de temas sérios, como a Guerra Fria: quando a Liga da Justiça Internacional passa a ser patrocinada pela ONU, as duas superpotências da época, Estados Unidos e União Soviética, ficam preocupadas e conseguem, junto ao Conselho de Segurança, impor um membro cada, entrando o Capitão Átomo e o Soviete Supremo.

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A Liga da Justiça de Dan Jurgens.

No auge da popularidade, em 1989, a DC criou, inclusive, uma nova revista do grupo: Justice League of Europe, com Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash, Capitão Átomo e outros. E, como mostra do escracho de seus autores, em uma única edição, foi criada a Liga da Justiça Antártida: formada por alguns dos personagens mais idiotas da DC, inclusive, o Esquiador Escarlate, uma paródia do Surfista Prateado da Marvel.

Anos Sombrios:

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Superman combate Apocalipse (Dooms Day) na batalha em que morre.

A fórmula cômica esgotou e a queda nas vendas das revistas da Liga, no início dos anos 1990, fez o grupo mudar de rumo. A DC encerrou a fase humorística e deu início a um período mais sóbrio, comandado pelo escritor/desenhista Dan Jurgens. Dois arcos chamam a atenção: a participação do grupo na saga A Morte do Superman, em 1992; e A Mão do Destino, em que se explora o Multiverso de um modo pós-Crise.

Contudo, na época, eclodiu o chamado “Estilo Muscular” capitaneado pela editora Image Comics, cujos personagens (Spawn, WildCats, Savage Dragon etc.) eram publicados em histórias com pouco enredo, muita violência e desenhos de anatomia exagerada. A DC (e a Marvel, também) não ficou imune e seus títulos foram afetados. Na Liga da Justiça, isso se refletiu na criação de duas séries derivadas marcadas por aquele estilo: Liga da Justiça – Força Tarefa (grupo liderado por Caçador de Marte) e Extreme Justice (liderado pelo Capitão Átomo), mas nenhuma agradou.

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O infame estilo muscular toma conta de “Justice League – Task Force”.

Por fim, os três títulos da Liga foram cancelados em 1996.

Apogeu:

Querendo revitalizar seu grupo mais importante, a DC fez uma agressiva campanha para trazer a Liga da Justiça de volta e o fez em grande estilo, com grandes artistas envolvidos. Primeiramente, uma minissérie em três capítulos chamada Midsummer’s Nightmare, escrita por Mark Waid e Fabian Nicieza, onde pela primeira vez pós-Crise os sete principais personagens da DC – Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Aquaman e Caçador de Marte – foram reunidas na Liga da Justiça, que mudou sua base para a Lua, na Torre de Observação ou Watchtower.

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A fase de Morrison e Potter está disponível nas livrarias do Brasil por meio do encardenado “Nova Ordem Mundial”

Em seguida, veio a revista JLA 01, ainda em 1996, escrita pelo renomado Grant Morrison e desenhada por Howard Porter. A ideia por trás da série era simples: os fãs queriam a Liga da Justiça com seus principais personagens. As tramas inteligentes e complexas, abordagem épica dos heróis e a exploração das personalidades de cada um resultaram em sucesso esmagador, a revista mais vendida da DC.

Morrison foi elevado a mais alta categoria dos roteiristas com esse trabalho, ao mesmo tempo em que abriu espaço para alguns amigos escreverem esporadicamente no título, como Mark Waid, J.M. DeMatteis e o novato Mark Millar, que se transformaria em um dos nomes mais famosos da indústria.

Esta fase prosseguiu com sucesso até o número 41, quando Morrison saiu do título e também foi a principal inspiração para o desenho animado de sucesso Justice League que estreou em 2001.

Com a grande popularidade da revista, a Liga da Justiça estrelou projetos paralelos ao seu título principal. Dois deles chamam a atenção: O Reino do Amanhã e Ano Um.

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Superman e Capitão Marvel combatem na metafórica histórica de “O Reino do Amanhã”.
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O Capitão Marvel zomba do Superman.

Em 1996, os quadrinhos ainda sofriam dos efeitos do “Estilo Muscular” e o (para alguns) excesso de violência e teor sombrio das histórias. Por isso, o escritor Mark Waid e o pintor/desenhista Alex Ross produziram uma espécie de manifesto pelos valores dos heróis clássicos: a minissérie em quatro edições O Reino do Amanhã (The Kingdom Come).

Na trama, num futuro próximo, o Superman está há anos sem agir e a maioria dos heróis clássicos encontra-se inativo, enquanto uma nova geração de metahumanos formados por seus filhos ou seguidores causa grandes pertubações por sua falta de valores, heroismo e batalhas sem sentido – numa metáfora do próprio mercado de quadrinhos. E um grupo de vigilantes superpoderosos e irresponsáveis termina causando uma hecatombe nuclear que destrói todo o Meio-Oeste dos Estados Unidos. Sem entrar em concenso, Superman e Batman montam grupos diferentes para conter os novatos. Um clássico moderno.

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A nova “equipe original” segundo as mudanças cronológicas instituídas pela “Crise nas Infinitas Terras” tem sua origem contada pela primeira vez em “Ano Um”, de 1998.

Em 1998, a DC lançou uma maxissérie em 12 partes chamada Liga da Justiça – Ano Um contando em detalhes, pela primeira vez, a nova origem do grupo estabelecida pelas mudanças de Crise nas Infinitas Terras. Agora, os membros originais eram: Flash, Lanterna Verde, Canário Negro, Aquaman e Caçador de Marte. E Batman e Superman não participam do primeiro ano da equipe. A história, escrita por Mark Waid e Brian Augustyn e desenhada por Barry Kitsen, mostra o grupo como heróis novatos aprendendo a usar suas habilidades, a agir em conjunto e tendo que confiar uns nos outros. Os autores exploram levemente o tom humorístico do passado recente e são bem sucedidos.

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“Ano Um” cria um interesse amoros entre a Canário Negro e o Flash inexistente em histórias prévias.

Buscando um caminho:

Após o apogeu só resta a queda, não é mesmo? Bons escritores como Mark Waid, Joe Kelly e até a dupla Chris Claremont e John Byrne tomaram conta do título, mas não conseguiram a mesma adesão dos leitores. Isso obrigou a DC a tomar um rumo ligeiramente diferente.

Desconfianças e Reformulações:

Em 2004, visando levantar “a moral” de sua principal equipe, a DC contratou o escritor de romances policiais Brad Meltzer para produzir uma minissérie. Com o desenhista Rags Morales (mais Michael Turner nas capas), ele lançou o arco em sete partes Crise de Identidade, onde faz uma abordagem profunda dos relacionamentos internos do grupo.

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“Crise de Identidade: talvez a melhor história da Liga. Disponível em duas versões nas livrarias brasileiras.

A trama: a esposa do Homem-Elástico é brutalmente assassinada em sua casa. Isso alerta aos membros da Liga para a segurança de seus cônjuges. Contudo, enquanto investiga o crime, Batman (o maior detetive do mundo) termina descobrindo um terrível segredo da própria Liga: no passado, na época do satélite, a vítima havia sido secretamente estuprada pelo vilão Dr. Luz. Alguns membros do grupo presenciaram a cena e, como represália ao criminoso, utilizaram a magia de Zatanna para lobotomizá-lo. Os membros que discordaram da decisão tiveram, também, suas memórias do evento apagadas. Batman descobre que ele mesmo teve sua memória apagada pelos companheiros quando descobriu o fato, anos antes. Agora, a Liga precisa lidar com as desconfianças internas e um conflito de valores colossal ao mesmo tempo em que o serial killer faz outras vítimas no círculo íntimo dos heróis.

Até por ser uma história concisa, que lida com questões internas sem grandes “eventos cósmicos”, Crise de Identidade é, sem dúvida, uma das melhores histórias da Liga da Justiça de todos os tempos, quiçá a melhor delas.

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A forte cena do estupro em “Crise de Identidade”: tratando de temas sérios, como violência, retaliação, confiança e identidade.
Liga da JUstiça - Crise Infinita - contagem regressiva detalhe da capa com besouro azul revelado
Arte promocional para “Contagem Regressiva para a Crise Infinita”: Batman ergue o Besouro Azul. Desenho de Jim Lee e pintura de Alex Ross.

O título mensal da equipe refletiu esses eventos em um arco de histórias escrito por Geoff Johns e desenhado por Allen Heinberg, na qual Batman vai tomar satisfações com os companheiros.

Em seguida, a DC criou o evento Contagem Regressiva para a Crise Infinita na qual um satélite espião do Batman é sequestrado por um vilão misterioso e dá origem aos OMACs, um exército de cirborgues que planeja dominar o mundo.

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O ex-aliado Maxwell Lord mata o Besouro Azul: período de violência na DC.

O ex-membro da Liga, Besouro Azul, investiga o caso e termina por resolver o caso: quem está por trás de tudo é Maxwell Lord, ex-aliado da Liga, agora, chefe da organização secreta Xeque-Mate e dotado de poderosos poderes mentais. Lord assassina o ex-amigo e passa a ser perseguido pelos membros da Liga. Usando seus poderes, ele assume o controle da mente do Superman, então, a Mulher-Maravilha se vê obrigada a matá-lo. Essa difícil decisão moral teve um grande impacto posterior e, no ambiente pós-Crise de Identidade só piorou a desunião da equipe.

Liga da Justiça - Crise Infinita - contagem regressiva - Wonder Woman v2 219 22 (morte de Maxwell Lord)
Em retaliação, a Mulher-Maravilha mata Maxwell Lord diante das câmeras de TV do mundo todo.

Veio, então, a sequência: Crise Infinita, escrita por Geoff Johns e desenhada por Phil Jimenez, George Perez, Jerry Ordway e o brasileiro Ivan Reis. Nela, uma versão jovem e maligna do Superman vinda de outra dimensão e chamado Superboy-Prime, tenta destruir a Realidade, destroçando também a Watchtower. A Liga desunida pelos eventos anteriores quase não consegue vencer.

Liga da Justiça - Infinite_Crisis_5 cover by George Perez (superman x superman)
“Crise Infinita” tenta consertar alguns aspectos cronológicos pós-“Crise nas Infinitas Terras” ao mesmo tempo em que questiona a essência dos personagens. Detalhe de capa por George Perez.

Apesar de ser uma saga de proporções cósmicas tão afeitas à DC, a série teve algumas boas considerações. Entre elas, o questionamento do papel do Superman: alguns heróis acham que ele não estava exercendo a liderança que deveria entre os metahumanos, ao mesmo tempo em que não conseguia mais ser uma fonte de inspiração – o que, na verdade, era um reflexão sobre a própria publicação do personagem e sua popularidade no mundo hoje. Ficou famosa a frase de Batman: “a última vez em que você inspirou alguém foi quando esteve morto”, em referência ao clamor da já referida saga de sua morte.

Liga da JUstiça - Crise Infinita - Batman diz que Superman não inspira mais ninguém
A famosa cena em que Batman afirma a Superman que a última vez em que ele inspirou alguém foi quando esteve morto. Textos de Geoff Johns e arte de Phil Jimenez.
LJA Justice herois e viloes by alex ross
Heróis e vilões da DC em “Justiça”, com a arte pintada de Alex Ross.

Como consequência desses eventos, Batman e Superman se afastam de suas atividades heróicas por um ano inteiro, buscando reavaliar tudo o que fizeram. O que aconteceu nesse “ano perdido” é contado na maxissérie 52, talvez o mais ousado projeto da DC em todos os tempos: uma série semanal de 52 edições produzida pelos principais roteiristas e desenhistas da casa, liderados por Geoff Johns e Grant Morrison.

Em meio a essa violência, a visão clássica da Liga da Justiça também teve espaço e sucesso. O pintor/desenhista Alex Ross lançou um projeto de uma aventura do grupo contada em uma maxissérie de 12 edições, publicada com atrasos entre 2005 e 2007. Chamada simplesmente Justice (Justiça, no Brasil) trazia Ross juntamente ao roteirista Jim Krueger e os layouts de Doug Braithwaite. A premissa era: imagine um episódio de Super-Amigos (o desenho da Liga dos anos 1970) sério. Assim, Lex Luthor e Brainiac faziam um plano de dominação onde reuniam os principais vilões do Universo DC para destruir a Liga. A trama é complexa e a arte pintada de Ross, fabulosa, o que resulta em uma das melhores histórias da equipe em todos os tempos.

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A arte de Ross se mostra eficiente também nas cenas de ação.

Reunião:

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A Liga desenhada por Ed Benes e escrita por Brad Meltzer: o Brasil no topo.

Após os eventos de 52, a Liga da Justiça voltou em grande estilo em 2006 na revista Justice League of America (volume 02) 01, escrita por Brad Meltzer e desenhada pelo brasileiro Ed Benes. Nela, depois do “ano perdido”, Batman, Superman e Mulher-Maravilha se reúnem para escolher a dedo os novos membros da equipe, resultando em uma combinação de personagens clássicos e novos: os três citados mais Lanterna Verde Hal Jordan, Flash, Canário Negro, Zatanna, Arqueiro Vermelho (antigo Ricardito e Arsenal), Tornado Vermelho, Mulher-Gavião, Víxen, Raio Negro e Nuclear.

A abordagem de personagens de Meltzer e a arte deslumbrande do cearense Ed Benes agradaram em cheio os leitores e a Liga da Justiça voltou a ser a revista de maior sucesso da DC. Este sucesso motivou a Warner Bros., dona da DC, a capitanear um longametragem com atores da equipe que começou a ser desenvolvido e terminou cancelado às vésperas das filmagens, em 2008. (Veja post de 29/03 sobre o assunto).

O arco de Meltzer e Benes terminou no número 12 da revista, prosseguindo com o escritor Dwayne McDuffie, enquanto Benes permaneceu na arte. O escritor vinha do desenho animado da equipe, mas infelizmente, não desenvolveu uma boa trama, em parte devido às interferências editoriais (há um post sobre isso, no dia 14/03, dê uma olhada!).

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Benes desenhou a Liga por vários anos.

Com a polêmica demissão de McDuffie (veja post citado), o veterano escritor dos anos 1970, Len Wein, assumiu a revista brevemente, cedendo o lugar para o aclamado James Robinson. Benes saiu do título para outros projetos e a arte foi assumida por Mark Bagley. Contudo, a fase de Robinson e Bagley também não agradou o público.

 

Os Novos 52

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A nova Liga nos Novos 52.

Após as polêmicas em torno da intromissão editorial de Dwayne McDuffie e da fase de James Robinson, a DC Comics decidiu criar um novo reboot do Universo DC. A direção editorial da DC, nas mãos de Dan Didio, Jim Lee e Geoff Johns percebeu que, enquanto alguns personagens iam muito bem nas vendas – caso do Batman e do Lanterna Verde – outros estavam com vendas muito baixas – notadamente a Liga da Justiça e Superman – e era preciso fazer algo.

Assim, o time decidiu criar um evento que, tal qual a Crise nas Infinitas Terras em 1985, modificasse totalmente a realidade do Universo DC e apresentasse seus personagens para todo um novo público.

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Batman dirige o batpod no final de “O Cavaleiro das Trevas”.

O pano de fundo disso tudo era a “profissionalização” da DC Comics. O sucesso sem precedentes dos filmes do Batman de Christopher NolanA Trilogia Cavaleiro das Trevas, que teve dois longas com arrecadação de mais de US$ 1 bilhão – demonstrou que havia um potencial monetário enorme nas propriedades do grupo, que pertencia ao conglomerado Time-Warner, dona da Warner Bros. Pictures. Além disso, a concorrente Marvel Comics havia começado a produzir seus próprios filmes em 2008 e fazia sucesso de público e de crítica, enquanto impulsionavam as vendas das revistas e, principalmente (e mais importante) de mershandising, produtos e brinquedos.

A Warner/DC ordenou o mesmo movimento.

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Flashpoint nos quadrinhos: realidade alternativa.

Assim, a editora usou a mesma estratégia do passado, fazendo uma saga mudar a realidade. No verão do hemisfério norte de 2011 chegou às comics shops dos EUA a minissérie Flashpoint (traduzida como Ponto de Ignição, no Brasil), na qual o Flash viaja ao passado para impedir sua mãe de ser morta pelo Flash Reverso, mas termina criando uma realidade alternativa em que foi Bruce Wayne quem morreu no assalto quando criança, de modo que seu pai, Thomas Wayne, é quem se torna o Batman. Com ajuda deste e outros heróis, o Flash “consegue” restaurar a realidade. Ou pelo menos ele pensa que sim.

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A nova origem da Liga da Justiça começa com a batalha dos dois.

Em agosto de 2011, com bastante antecipação e sucesso, chegou às lojas a nova Justice League 01, com roteiros de Geoff Johns e desenhos de Jim Lee na qual mostrava uma nova origem para o grupo. Nesta versão, em primeiro lugar, os heróis da DC eram mais jovens, mais tempestivos e inexperientes e eram mostrados se reunindo pela primeira vez. A ideia era se antenar com o público do século 21. Uma das considerações era que, na cronologia DC pós-Crise nas Infinitas Terras, heróis como Batman e Superman já estavam na ativa há mais de 15 anos (veja por exemplo a Cronologia do Batman, neste post especial do HQRock), o que os colocava como homens maduros de cerca de 40 ou 45 anos de idade. A Warner e a direção empresarial da DC achavam que eram heróis “velhos demais” para se relacionar com os jovens millenials.

Por isso, a trama do primeiro arco de Justice League, entre os números 01 e 07, deixa claro que tudo aquilo – a primeira reunião da Liga – só ocorreu há cinco anos atrás, de modo que os heróis eram todos bem mais jovens, na casa dos 25 ou 30 anos. Neste passado recente, não existe ainda a palavra “super-heróis” e o mundo não passou por nenhuma onda de metahumanos ainda. Por isso, quando o Superman começou a agir, foi tratado com desconfiança e tido como um criminoso. Outros heróis como Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde e Aquaman agem na surdina, praticamente sem conhecimento do mundo e o Batman é um pouco mais experiente do que todos os outros, mas ainda é tido como uma lenda urbana.

wonder woman vs superman by jim lee new 52Esta revista mostra então a nova origem da Liga da Justiça: os Parademônios de Apokolips preparam uma invasão à Terra e Batman pesquisa a ação deles em Gotham City. Isso o leva a encontrar com o Lanterna Verde, que também investiga o caso, porque se trata de monstros alienígenas. Por isso, a dupla decide ir atrás do único outro alienígena que conhecem na Terra: o Superman, que acabou de ser revelado ao mundo. Mas este homem de aço é jovem e impulsivo e ataca Batman na primeira vez que o vê. Aos poucos aqueles heróis citados vão se unindo e, na batalha contra os Parademônios, o jovem esportista Victor Stone, filho do cientista do Laboratórios STARS, Silas Stones, é atingido pelas ondas de energia e por uma Caixa Materna e se torna o Ciborgue.

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Banner da Liga da Justiça contra Darkseid na arte de Jim Lee.

Assim, esta “nova” Liga “original” (Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Ciborgue e Aquaman) se reúne para combater o grande vilão Darkseid, o líder de Apokolips. A Liga passa a agir sob os auspícios da ONU e tendo como principal contato com a organização o coronel Steve Trevor.

No segundo arco, o grupo precisa enfrentar uma invasão de Atlantis, o povo do Aquaman. A partir daí, as histórias da Liga avançam para o presente, mostrando que esse grupo original teria agido unido por cinco anos.

Os Novos 52 fez um grande sucesso comercial – a revista da Liga se tornou a mais vendida do mercado norteamericano, ultrapassando a do Batman, que mantinha o topo nos últimos anos, e cada um dos primeiros números da equipe vendeu mais de 200 mil unidades, um fenômeno nos tempos atuais. A crítica, contudo, não ficou muito feliz. Por mais que o conceito geral da nova origem do grupo fosse muito melhor adequado ao Universo DC – o time unido para lutar contra Darkseid – a trama corre rápido demais e sem muita profundidade.

Para além da Liga, o resultado dos Novos 52 foi dúbio. Enquanto o Batman entrou em outra ótima fase, com o escritor Scott Snyder, a própria Liga não manteve o sucesso após a partida da dupla sensação Geoff Johns e Jim Lee; enquanto o Superman não conseguiu acertar mesmo dentro desse mundo.

Rebirth

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A Liga na época de Rebirth, com os dois novos Lanternas Verdes da Terra.

Para acertar os ponteiros, a DC Comics promoveu um reboot do reboot em 2017, com o evento Rebirth: um renascimento do Universo DC mantendo a linha geral dos Novos 52, mas resgatando vários elementos da era pós-Crise que foram perdidos nos últimos tempos. Como jogada de marketing, a DC está pela primeira vez aproximando o Universo DC tradicional com o de Watchmen, a maxissérie super-aclamada de Alan Moore e Dave Gibbons, de 1986.

Assim, a trama de Rebirth até agora dá a entender que o Dr. Manhattan é o grande responsável pela criação do mundo de Os Novos 52, e teria roubado 10 anos do universo para algum propósito ainda não entendido. A trama ainda está se desenvolvendo, mas tudo indica que vai culminar no enfrentamento do Superman com o superpoderoso ser na maxissérie The Doomsday Clock.

Universo DC nos Cinemas

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Henry Cavill como Superman.

Inspirada no sucesso da concorrente Marvel, a DC decidiu levar seu Universo para os cinemas pela primeira vez, embora a Warner Bros. já seja dona da editora desde 1969! Tudo começou com Superman – O Homem de Aço, lançado em 2013, dirigido por Zack Snyder e com roteiro de David S. Goyer, um escritor de quadrinhos; além de ser estrelado pelo ótimo ator britânico Henry Cavill (de The Tudor).

A trama usa livremente conceitos vários das origens do Superman, guardando muitas semelhanças com Superman: Terra Um, de J.M. Straczynski, na qual Clark Kent vive secretamente na Terra meio perdido, sem saber qual é o seu lugar, até que uma nave kryptoniana chega ao nosso planeta, comandada pelo General Zod e decidida a transformar a Terra em um novo Krypton. Assim, Clark assume sua herança kryptoniana e usando um uniforme de seu planeta natal e se revelando ao mundo para impedir seus conterrâneos. O filme não foi tão bem recebido – foi considerado pesado demais e muito violento – mas animou o suficiente os executivos para prosseguir com o plano.

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A Origem da Justiça.

Assim, foi anunciado Batman vs. Superman – A Origem da Justiça, que estreou em 2016, novamente dirigido por Zack Snyder, mas agora com roteiro de Chris Terrio (ganhador do Oscar por Argo) e trazendo Ben Affleck para viver o cavaleiro das trevas em sua nova versão. A trama usava livremente conceitos de Batman – O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, de 1986, numa trama em que Batman julga o Superman uma grande ameaça à humanidade e decide acabar com ele, mas os dois heróis terminam sendo manipulados pelo maníaco Lex Luthor, que quer proteger o mundo de uma onda de metahumanos que está surgindo no planeta. O filme revela pequenos relances de que Flash, Aquaman e Ciborgue já existem, e a Mulher-Maravilha tem um papel importante, quando Luthor usa a tecnologia kryptoniana e o corpo de Zod para criar uma besta-fera incontrolável (Apocalipse/ Doomsday).

Tal qual os Novos 52, o filme mostra Batman como um vigilante mais experiente do que os demais: Bruce Wayne já tem 45 anos e luta contra o crime há duas décadas. Já a Mulher-Maravilha tem uma foto revelada em ação na I Guerra Mundial, em 1918, mas diz que “abandonou o mundo dos homens há cem anos”.

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A Origem da Justiça reuniu Superman, Mulher-Maravilha e Batman.

Assim, Superman, Batman e Mulher-Maravilha se unem contra o monstro e vencem, mas ao custo da vida do homem de aço. A Origem da Justiça foi muito bem nas bilheterias, fez US$ 800 milhões, mas ficou aquém do que a Warner queria (1 bilhão) e também decepcionou público e crítica, que também o acharam pesado, denso e carregado demais.

Seguindo a mesma linha, o filme Esquadrão Suicida foi lançado também em 2016, mas também decepcionou. Por sua vez, Mulher-Maravilha, saiu em 2017 e foi um grande sucesso, arrecadando mais de US$ 800 milhões e bem falado por público e crítica.

justice-league-2017-poster-you-can-t-save-the-world-alone-justice-league-movie-40583604-1500-500-86181681.jpgÉ daí que chega a Liga da Justiça, de novo comandada por Zack Snyder e Chris Terrio, mas dessa vez, com uma interferência maior de Joss Whedon como roteirista e codiretor (não creditado). As filmagens iniciaram em janeiro de 2017, correram aparentemente bem, mas a Warner exigiu refilmagens, com Snyder se afastando do projeto em junho (oficialmente por causa da morte de sua filha) e foi substituído por Joss Whedon, que escreveu novas cenas e realizou um cronograma de seis semanas de refilmagens, que só terminaram há dois meses do lançamento do filme, em novembro.