Capa exclusiva do brasileiro Joe Prado para "Batman 100" da Panini: primeira vez em 42 anos que o personagem atinge tal numeração.

Um feito histórico: pela primeira vez em 42 anos, uma revista entitulada Batman chega à edição número 100 no Brasil. Este mês, a editora Panini Comics, que publica os personagens da DC Comics no país, lança a revista especial Batman 100, com material-extra, maior número de páginas e a reprodução da revista original Batman 700, escrita por Grant Morrison e desenhada por vários artistas, como David Finch, Tony Daniel e Andy Kubert. A edição brasileira, contudo, vem com uma capa exclusiva, produzida pelo desenhista brasileiro Joe Prado, que trabalha na DC ilustrando personagens como o Lanterna Verde e também é agenciador de outros talentos nos EUA.

Em homemagem ao feito, o HQRock exibe uma pequena história da publicação do Batman no Brasil.

Criado em 1939 pelo ilustrador Bob Kane e contando com roteiros de Bill Finger, Batman foi publicado pela primeira vez na revista Detective Comics 27, nome que terminou batizando a editora que o publica até hoje, DC Comics. No Brasil, o personagem começou a ser publicado já em 1940, por meio das primeiras revistas de circulação nacional que traziam os quadrinhos da época, como Gibi, Lobinho e Globinho Juvenil. Inclusive, o personagem chegou a ser publicado por duas editoras diferentes, uma delas chamando-o de Morcego Negro e a identidade secreta de Bruce Wayne substituída por Bruno Miller.

Capa de "Superman 01" da Ebal, de 1947: Batman já aparece.

Em 1947, Batman estreou em uma revista regular por meio da editora Ebal, na histórica Superman 01, revista que trouxe aventuras do homem de aço, do homem-morcego e de vários outros personagens da chamada Era de Ouro dos quadrinhos, como o primeiro Flash (chamado de Joel Ciclone no Brasil), o Gavião Negro (Hawkman, chamado Falcão Negro na época), a heroína Canário Negro e a equipe Sociedade da Justiça. A Ebal publicou os personagens da DC Comics ininterruptamente até 1983.

Em 1953, o homem-morcego ganhou seu próprio título nacional: Batman, revista que teve quatro séries: a (1953-1961) com 100 edições; a (1961-1969) com mais 100 edições; a (1969-1977) com 89 números; e a (1977-1979) com 33 números. Paralelamente, a Ebal lançava outras revistas, como o Almanaque Superman & Batman, de periodicidade indefinida, ou edições anuais especiais, como o Almanaque do Superman, que teve 20 edições entre 1950 e 1982, também trazendo aventuras do Batman.

Capa de "Batman 01" da Ebal, de 1953: primeira revista própria do personagem no Brasil.

O sucesso de vendas do personagem no Brasil – particularmente após a série de TV dos anos 1960 – possibilitou a Ebal lançar uma segunda revista do homem-morcego nas bancas. Em 1969, estreou Batman em Cores , com o diferencial de ser impressa colorida, ao contrário da antiga revista regular, que era em preto e branco. A primeira série de Batman em Cores teve 67 edições entre 1969 e 1976.

Capa de "Batman 06 (2ª Série) da Ebal, de 1976: material sombrio clássico de Dennis ONeil e Neal Adams.

Na segunda metade da década de 1970, as revistas de super-heróis tiveram uma queda nas vendas e a DC passou a sentir a concorrência da Marvel no país, principalmente por causa do Homem-Aranha. Por isso, a Ebal mudou sua estratégia e adotou o chamado formatinho, onde as revistas eram menores (e portanto mais baratas). A estreia no novo formato se deu com a segunda série de Batman em Cores, que durou 70 edições entre 1976 e 1983.

Com as vendas menores, a antiga Batman em preto e branco foi descontinuada em 1979, permanecendo apenas o formatinho colorido. Em fins de 1983, a Ebal vendeu os direitos de publicação dos personagens da DC Comics depois de 36 anos.

A Editora Abril – que já publicava os heróis da Marvel desde 1979 – lançou uma linha com os heróis da DC em 1984, com duas revistas: Super-Homem e Batman.

Capa de "Batman 01 (1ª Série)" da editora Abril, em 1984.

A Abril, contudo, voltou a publicar material dos anos 1970, principalmente as histórias escritas por Dennis O’Neil e desenhadas por Neal Adams, o que não serviu para estabelecer o personagem de volta às vendas. Desse modo, Batman durou apenas 10 edições e foi cancelada em 1985, com o personagem passando a ser publicado na revista Super-Amigos que tentava capitanear em cima do desenho animado de sucesso na TV brasileira.

Com uma série de boas histórias publicadas ao longo dos anos 1980, Batman se tornou o super-herói mais popular do mundo na época. A editora Abril, então, lançou uma nova revista Batman (a 2ª série).

Entretanto, motivos comerciais fizeram a Abril mudar constantemente a numeração, dando origem a outras séries – e, com isso, impedindo-a de chegar a números altos. A 2ª Série foi publicada na sequência do mega-evento Crise nas Infinitas Terras, tendo 16 números publicados entre 1987 e 1988. Foi nesta série em que apareceram arcos importantes, como Ano Um de Frank Miller e David Mazzucchelli e Ano Dois de Mike W. Barr, Alan Davies e Todd McFarlane, pela primeira vez.

A série em "formato americano" da Abril trouxe as histórias sombrias e adultas de Alan Grant e Norm Breyfogle.

Em seguida, as vendas de Batman eram tão altas, que a Abril decidiu publicá-lo em formato americano (ao contrário de todo o resto de sua linha de revistas mensais, que eram em formatinho), fazendo o personagem voltar ao formato depois de 10 anos. O lançamento da nova Batman (3ª série, em formato americano), também veio na esteira de Batman – O Filme, de Tim Burton, lançado em 1989 e um grande sucesso de bilheteria e de crítica.

A terceira série teve até uma edição número zero e 30 números publicados entre 1990 e 1992. Esta série publicou uma das melhores fases do homem-morcego, em histórias adultas e sombrias de Alan Grant e Norm Breyfogle e de Marv Wolfman e Jim Aparo.

"Liga da Justiça e Batman 01": o início do arco "A Queda do Morcego".

Porém, de algum modo, a fórmula cansou e o Batman perdeu sua revista novamente, continuando suas histórias na revista Os Novos Titãs (grupo de heróis adolescentes da DC e o maior sucesso da editora no país na época) até que, em 1994, a Abril lançou Liga da Justiça e Batman, revista que, como diz o título, publicava histórias do personagem e da super-equipe, a partir do ponto cronológico correspondente à saga A Morte do Superman, que era publicada com sucesso.

A estratégia de unir o homem-morcego à equipe de super-heróis deu certo e, ao mesmo tempo em que se dava início ao arco de histórias A Queda do Morcego – saga que inspira o terceiro filme da trilogia do Batman nos cinemas e será lançado em 2012 – a Abril lançou uma segunda revista com aventuras do personagem: Batman (4ª série). As duas revistas mensais se complementavam e traziam histórias escritas por Chuck Dixon e Alan Grant e desenhadas por nomes como o ótimo Graham Nolan.

"Batman", de 1995: volta a duas revistas mensais pela primeira vez desde os anos 1970.

Liga da Justiça e Batman e Batman tiveram 28 e 19 edições, respectivamente, publicadas entre 1995 e 1996 até que um megaevento chamado Zero Hora – que visava fazer algumas correções cronológicas – fez todas as revistas da DC zerarem suas numerações. (O princípio da editora era de que numerações altas afastavam leitores). Assim, Batman (5ª série) voltou ao número 01 (e teve um número zero também) ao mesmo tempo em que Liga da Justiça e Batman foi substituída por Batman: Vigilantes de Gotham.

"Batman: Vigilantes de Gotham": a Abril zerou a numeração por razões cronológicas.

Esta última deixou de apresentar histórias da Liga da Justiça – que ganhou uma revista própria, chamada Os Melhores do Mundo, com as clássicas histórias de Grant Morrison e Howard Porter – e passou a se dedicar fundamentalmente ao universo de personagens em torno do Batman, que era bem extenso na época: Robin, Asa Noturna, Mulher-Gato, Azrael, todos tinham suas próprias aventuras.

Essa nova fase foi mais extensa. Batman (5ª série) e Batman: Vigilantes de Gotham tiveram 46 edições cada, publicadas entre 1996 e 2000. Depois disso, a Abril decidiu mudar sua política de publicações de super-heróis, abandonando o formatinho e adotando o formato americano, mas somado a acabamento de luxo, capas cartonadas e pintura computadorizada. O resultado foi que as revistas saltaram de R$ 2,50 para R$ 9,90.

Capa exclusiva do brasileiro Joe Bennet para "Batman 01 (formato premium) da Abril.

Não era preciso ser um gênio da economia para saber que o mercado brasileiro não aguentaria tal medida. Desse modo, a nova Batman (6ª série – apelidade de Formato Premium) resistiu bravamente por 23 edições entre 2000 e 2002. Foi uma boa fase, com o final do arco Terra de Ninguém e o início dos aclamados roteiros de Greg Rucka. Logo em seguida, o também aclamado roteirista Ed Brubaker se uniu ao time, o que resultou em ótimas histórias.

A última série da Abril, em 2002, foi marcada pelo desleixo editorial: triste crepúsculo de uma era.

Mas as vendas baixas obrigaram a Abril a mudar sua política, voltando ao formatinho em uma medida (algo desesperada) em 2002. Batman protagonizou duas revistas mensais: Batman (7ª série) e Batsquad (esta no estilo da finada Vigilantes de Gotham), mas era tarde demais: o projeto só durou 5 edições e a Abril deixou de publicar quadrinhos de super-heróis.

A empreitada foi assumida pela Panini Comics, empresa de origem italiana responsável pelo licenciamento dos quadrinhos da concorrente Marvel em todo o mundo. Como a DC ficou “sem casa” no Brasil, a Panini comprou os direitos, mantendo a tradição estabelecida pela Abril desde 1984 de que as duas grandes rivais norteamericanas são publicadas no Brasil pela mesma editora.

A Batman da Panini foi lançada em 2003 (por muito pouco o homem-morcego não teve três números 01 no mesmo ano) e se manteve ativa até agora, chegando em abril de 2011 a marca de 100 edições. É algo a comemorar, já que, seja por motivos comerciais ou de marketing, é a primeira vez que o Batman ilustra uma revista com essa numeração desde 1969 e a 2ª série da Ebal.

Na Panini houve a junção de boas histórias com qualidade gráfica superior.

A Batman da Panini publicou todas as principais aventuras do homem-morcego da última década, inclusive alguns momentos clássicos, como o final da passagem dos escritores Greg Rucka e Ed Brubaker pelo personagem; o longo arco de histórias Silêncio de Jeph Loeb e Jim Lee; as histórias que deram origem ao longametragem animado Batman Contra o Capuz Vermelho, lançado em DVD, escritas originalmente por Judd Winick; e a polêmica (e longa) fase do escritor Grant Morrison à frente do herói, nos últimos anos.

É justamente uma grande história de Grant Morrison que preenche a Batman 100 da Panini, republicando o material original de Batman 700 da DC. A história é uma celebração aos 70 anos de Batman (comemorados em 2009), fazendo uma trama que rende homenagens a todas as fases pelas quais passou o cavaleiro das trevas.