Thor de joelhos
O Thor dos cinemas.

Na iminência do lançamento de Thor, novo filme do Marvel Studios, o HQRock traz uma pequena retrospectiva do deus do trovão da Marvel Comics desde sua criação em 1962 até os dias de hoje.

A Mitologia

Thor é um personagem da mitologia nórdica, dos povos Vikings, portanto, já existe há milhares de anos. Na crença daquele povo, ele seria o “deus do trovão” e o grande guia dos guerreiros na guerra. Era filho de Odin, o pai dos deuses e maior de todos, com a deusa da Terra, o que lhe confere uma atenção especial a Midgard, o mundo que chamamos Terra. Na cosmologia nórdica, existiram 9 mundos: além de Midgard; havia Asgard, a terra dos deuses da qual Thor e Odin fazem parte; bem como  Jotunheim, o lar dos Gigantes de Gelo e assim por diante.

Entre seus filhos, Odin adotou Loki, filho de um Gigante do Gelo e este se torna o deus da trapaça.

No Ragnarok, o fim do mundo, será tarefa de Thor combater a Serpente da Terra, Jormungand, que é tão grande que envolve o planeta inteiro e foi criada por Lóki. O deus do trovão vence a batalha, mas morre em seguida.

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A edição de estreia de Thor, em “Journey Into Mystery 83”, de 1962.

O Deus do Trovão na Terra

Baseados nessa lenda, em 1962, os escritores Stan Lee e Larry Lieber e o desenhista Jack Kirby criaram a versão da Marvel de Thor, quase ao mesmo tempo em que lançavam outros personagens fundamentais da editora, como Hulk e Homem-Aranha.

Thor estreou em uma história de Journey Into Mystery 83. O conto estabelecia que o médico norteamericano Donald Blake, que sofria de uma deficiência física na perna e usava uma bengala, ia passar férias nos países nórdicos e terminava presenciando uma invasão alienígena. Tentando fugir, entrou em uma caverna e encontrou um martelo (o superpoderoso Mjolnir) com as inscrições “Quem erguer este martelo, se for digno, terá o poder de Thor”. Blake toca o martelo e incorpora a forma do deus do trovão, expulsando os invasores com seu poder.

Thor no visual clássico de Jack Kirby...
Thor no visual clássico de Jack Kirby…

Vale um destaque ao imponente (mesmo que simples) visual de Thor criado por Kirby. Foi um layout tão definitivo que demorou nada menos do que 20 anos para que fosse criado um visual alternativo do herói (e que durou um curto período), com sua substituição de verdade ocorrendo somente após 30 anos (e pelo brasileiro Mike Deodato Jr.!). Ainda assim, o filho de Odin ainda retornou ao visual de Kirby para abandoná-lo em definitivo apenas em 2007, quando foi revitalizado na arte de Olivier Coipel, mais de 40 anos após sua criação.

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Os quadrinhos de terror de Lee e Kirby.

A revista Journey Into Mystery já era publicada há seis anos e, como seu título indicava, era dedicada a histórias de mistério, muitas delas estreladas por monstros e contos de terror, criados por Lee e Kirby antes da explosão dos super-heróis da Marvel a partir de 1961 com o Quarteto Fantástico. Juntamente com Hulk e o Homem-Aranha, Thor foi um dos pioneiros do Universo Marvel que nascia ali, com todos estes três chegando às bancas de revistas dos EUA no verão de 1962.

Nas histórias seguintes a Journey Into Mystery 83, publicadas na mesma revista, Donald Blake tentava lidar com seus novos poderes e a combater ameaças diversas. As coisas começaram a complicar quando começou a ter encontro com outros seres da mitologia nórdica, especialmente Loki, o meio-irmão de Thor, e seu arquiinimigo, que apareceu inicialmente em Journey Into Mystery 85, mas retornando nas edições 88, 91 e 92. 

Curiosamente, a edição 85 é a primeira a trazer referências a Asgard, o reino dos deuses nórdicos, trazendo seus habitantes, a ponte Bifrost do arco-íris e até referências a Odin, Balder e Tyr. Mas nada era explicado em relação há como Donald Blake e Thor se encaixavam em torno disso. Loki deixa claro o passado entre os dois e, inclusive, no início da história está aprisionado dentro de uma árvore, preso numa maldição de que só seria liberto quando alguém chorasse por ele; remetendo às velhas lendas da mitologia.

Na edição 86, Thor até invoca Odin, o senhor dos deuses (e seu pai), pedindo permissão para viajar ao futuro e derrotar Zaarko.

Na edição 88, Thor inclusive vai a Asgard pela primeira vez, embora não se mostre detalhes de sua interação com a cidade e seus personagens.

Thor versus Loki, na arte de Jack Kirby.
Thor versus Loki, na arte de Jack Kirby.

Tais situações trouxeram uma questão que precisaria ser respondida mais tarde por Lee e Kirby: se Thor era na verdade Donald Blake, mas os deuses nórdicos realmente existiam, como provavam os encontros com Odin e Loki; onde estava o verdadeiro Thor?

Mas antes disso, vale à pena ressaltar que Stan Lee não estava, inicialmente, muito ligado às histórias de Thor. Seu crédito era apenas de “história”, ou seja, ele bolava o conceito geral das tramas, tal qual um editor faria. A responsabilidade por desenvolver as tramas cabia, inicialmente, ao desenhista Jack Kirby, que criava os desenhos primeiros; e em seguida, os diálogos eram criados por Larry Lieber, o irmão caçula de Lee.

Além disso, por conta do desenvolvimento do Universo Marvel, logo no início houve ausências dos artistas principais. Larry Lieber só escreveu os diálogos das edições 83 a 91, esta última já em 1963, porque estava envolvido, também, nas aventuras do Homem de Ferro, que começaram a ser publicadas em 1963. Os diálogos foram assumidos por Robert Bernstein entre os números 92 e 96.

Jack Kirby também se ausentou um tempo, para poder desenhar as novas revistas da Marvel: Os Vingadores (que também trazia Thor) e X-Men, ambas lançadas ao final de 1963. Por isso, Al Hartley desenha a edição 90, Joe Sinnott – com uma arte excepcional, diga-se de passagem – ilustra as edições 91, 92, 94, 95 e 96; e Don Heck (que também desenhava o Homem de Ferro) assumiu entre as edições 98 e 100.

Por isso, essas primeiras histórias não são exatamente obras-primas, mas apenas o desenvolvimento de um bom conceito.

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Capa de Avengers 01 por Jack Kirby.

Os Vingadores

É preciso ressaltar a participação de Thor na fundação dos Vingadores, que estrearam em The Avengers 01, de setembro de 1963, também por Stan Lee e Jack Kirby. A equipe é acidentalmente reunida, inclusive, por causa do deus do trovão.

Na trama de The Avengers 01, Loki escapa mais uma vez de sua prisão mística e vem à Terra para atacar Thor, usando o Hulk como uma maneira de atingi-lo. Contudo, a ameaça do Hulk chama a atenção de outros heróis – Homem-Formiga, Vespa e o Homem de Ferro – e todos se juntam contra o golias verde, até Thor perceber que Loki está por trás de tudo.

Thor se torna um dos principais membros dos Vingadores até a edição 16 de Avengers, em 1965, quando o time original se afasta e dá lugar a um novo, liderado pelo Capitão América. Nos anos seguintes, Thor continuaria a fazer participações especiais na revista da equipe e, continuou, sempre, sendo um dos principais membros.

Desenvolvendo o Mito

Thor, Asgard e a Bifrost por Jack Kirby.
Thor, Asgard e a Bifrost por Jack Kirby.

O envolvimento total de Stan Lee e Jack Kirby com Thor se dá a partir de Journey Into Mystery 97, de 1963, quando a dupla passa a publicar uma série de histórias curtas chamadas Contos de Asgard, na qual iam detalhando o universo ficcional da mitologia nórdica. Vale lembrar que a revista ainda era uma antologia, que além de Thor, publicava várias outras histórias sem nenhuma ligação entre si.

Em Os Contos de Asgard, Lee e Kirby introduziam os leitores à mitologia nórdica, apresentando lendas e personagens. Logo na primeira edição, aparece brevemente Surtur, o gigante de fogo que se transformaria em um dos piores inimigos de Thor. A primeira batalha entre os dois se daria em Journey Into Mystery 104, de 1964. Esta edição marca também o momento em que a revista muda oficialmente de nome, passando a ser chamada de The Mighty Thor ou simplesmente Thor, mantendo a numeração original.

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Mapa de Asgard por Jack Kirby.

Esta é a fase em que Lee e Kirby consolidam o universo próprio de Thor, acirrando suas batalhas contra Loki que, inclusive, se torna o responsável pela criação de três poderosos inimigos do herói: o Homem-Absorvente (que tem o poder de absorver as propriedades de qualquer material que toque) em Thor 114; e dos dois vilões traduzidos no português como Destruidor; The Wracker (o futuro líder da Gangue da Demolição), na edição 148; e The Destroyer, na edição 118. Este último foi usado no filme Thor, de 2011.

Além desses, Thor também encontra oponentes como Homem-Radioativo, em Journey Into Mystery 93; os Homens-Lava, (97); Cobra (98); Mister Hyde, (99); Encantor e Executor, Thor 103; e o Gárgula Cinzento (107).

Essa primeira rodada histórias também introduz outros personagens coadjuvantes, como Balder, o seu melhor amigo; Lady Sif, a guerreira destinada a ser dona de seu coração; Heimdall, o guardião da Ponte do Arco-Íris que liga os nove mundos; os três guerreiros, Fandral, Hogun e Volstagg  etc.

Um Herói Humilde

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O fim do arco de Jane Foster.

Mas a grande questão permanecia: se Thor era na verdade Donald Blake, que encontrou casualmente Mjolnir, então, quem era Thor? Onde estava o verdadeiro deus do trovão?

Então, Stan Lee e Jack Kirby criaram a história em que Odin envia Thor para a Terra, sem memórias e preso em um corpo humano e frágil, para aprender uma lição de humildade – a mesma que serve de base para o primeiro filme.

No “núcleo da Terra”, destaque para a enfermeira Jane Foster, que trabalha com Donald Blake e é seu principal interesse romântico nos primeiros tempos (e que no filme é interpretada por Natalie Portman).

O arco com Jane Foster foi encerrado de maneira dramática. Após salvá-la das garras do vilão Alto Evolucionário (Thor 134), Thor é questionado por Odin mais uma vez sobre amar uma reles mortal. É colocado um desafio para Jane – na edição 136 – para saber se ela é digna de desposar um deus, e a enfermeira não passa no teste! Assim, Thor termina seu relacionamento com ela e envolve-se com Lady Sif.

O Fim da Era Kirby

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O fim da Era Kirby.

O ilustrador Jack Kirby, um dos maiores nomes dos quadrinhos em todos os tempos, fez um trabalho fantástico em Thor, usando todo o seu talento para visuais exóticos para recriar o mundo de Asgard e as roupas dos deuses. A habilidade do artista em criar novos mundos fantástico fez dele o nome ideal para essas aventuras e, em meio à onda psicodélica dos anos 1960, a revista Thor era um sucesso enorme, com suas páginas coloridas e insanas.

Por isso, o trabalho de Kirby em Thor é lendário e uma das grandes contribuições das HQs para a arte em geral.

Mas tudo tem um fim. Mesmo os deuses.

Thor 177 a 179, de 1970, trazem o encerramento da fase de Stan Lee e Jack Kirby à frente do título. E foi de uma maneira grandiosa: Surtur retorna e, para conseguir derrotá-lo, Odin evoca um falso Ragnarok, o fim dos deuses. Com ele, emerge a Serpente da Terra – o ser mitológico destinado a matar Thor! Surtur é derrotado, mas a um grande custo.

Jack Kirby abandonou a Marvel, descontente com as políticas internas da empresa e brigado com o ex-parceiro Stan Lee. Foi para a DC Comics, onde desenhou e escreveu histórias do Superman e criou o Quarto Mundo, uma série de revistas com personagens novos, chamados de Os Novos Deuses, dos quais emergiu o vilão mais poderoso daquela editora: Darkseid.

Os anos 1970

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Jack Kirby nos anos 1960.

A saída de Jack Kirby da Marvel não foi amigável (saiba mais clicando aqui no Dossiê do HQrock sobre o desenhista) e foi abrupta. Stan Lee – escritor de Thor e editor-chefe da Marvel – teve que encontrar uma saída rápida (até porque Kirby desenhava não somente Thor, mas também o Quarteto Fantástico e o Capitão América). Então, Lee mobilizou seus desenhistas de maior confiança para a tarefa: John Romita pegou o Quarteto e Gene Colan o Capitão. O editor queria John Buscema, desenhista dos Vingadores, como o substituto do Rei dos Quadrinhos nas HQs do deus do trovão, mas Buscema estava muito ocupado fazendo a revista do Surfista Prateado.

Desse modo, Stan Lee foi obrigado a improvisar e recorrer a um novato: o fabuloso Neal Adams. De uma geração mais jovem, Adams despontou na DC Comics fazendo histórias secundárias do Batman, mas sua arte era tão sensacional que logo se tornou uma das grandes estrelas da Distinta concorrente. Como era free-lancer (como a maioria dos artistas da época), Adams também trabalhou na Marvel, fazendo as revistas dos X-Men e dos Vingadores, ambas ao lado do escritor Roy Thomas (outro da nova geração que chegava às redações das editoras).

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A arte de neal Adams em Thor 181.

Infelizmente, por melhor que fosse a arte de Neal Adams, ele era muito independente para se submeter ao controlado “Método Marvel” de Stan Lee. Assim, após encher de alegria os leitores nas edições 180 e 181 de Thor, Adams foi sumariamente demitido da revista porque não concordou com alguns dos diálogos de Lee e os reescreveu. O The Man ficou furioso e convocou John Buscema para assumir o título.

 

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O Thor de John Buscema manteve a fantasia de Kirby, mas acrecentou uma dinâmica mais realista. Aqui, um confronto com Hércules, o deus grego.

A longa temporada de John Buscema como artista de Thor iniciou ainda com Stan Lee nos roteiros, mas logo, outros escritores assumiram o título: Gerry Conway, Len Wein e, por fim, Roy Thomas.

John Buscema se adaptava bem ao método de escrita de Lee e sabia dosar o realismo de Adams com a fantasia de Kirby, sendo um artista talhado para trabalhar nas aventuras do deus do trovão. Não à toa, a despeito de ser um dos maiores desenhistas da Marvel em todos os tempos, Buscema ficou na revista Thor praticamente durante toda a década, iniciando em 1970 e ficando (com raras ausências ocasionais) até 1979, ou seja, entre os números 182 e 285.

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Arte de John Buscema na capa de Thor 192. Último número escrito por Stan Lee.

Naquela época, Stan Lee sentia o fardo do crescimento da Marvel em seus ombros. A editoria crescia a passos largos, e ele era cada vez mais requisitados para negociar mershandising e royalities, além de dar palestras em universidades ou aparecer em programas de TV e convenções de quadrinhos. Faltava tempo para escrever. Por isso, o The Man começou a treinar uma nova geração para substituí-lo. Seu principal discípulo era Roy Thomas, mas este cobria muitas das funções de Lee na redação da Marvel, então, surgiu o jovem Gerry Conway, que aos 18 anos de idade (!) assumiu a revista The Mighty Thor (e também Captain America).

(O desdobramento disso tudo foi que, em 1972, Lee foi promovido a um novo cargo: Publisher, se afastando da redação para ser o representante e porta-voz da Marvel, enquanto Thomas virou o editor-chefe e Conway assumiu a principal revista da editora, The Amazing Spider-Man, do Homem-Aranha).

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Thor 194. Arte de John Romita.

Assim, Stan Lee assinou sua última The Mighty Thor na edição 192, de 1971, e no número seguinte, o jovem Gerry Conway assumiu o título, guiado pela arte John Buscema, que era o principal responsável pela narrativa no início. Contudo, como Buscema estava muito ocupado fazendo várias revistas ao mesmo tempo, a maior parte das capas de The Mighty Thor nesta fase eram de outros artistas, como John Romita e Gil Kane.

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A edição 200.

Foi na fase de Conway e Buscema que Thor chegou à histórica marca de 200 edições, embora o leitor deva lembrar que as aventuras do deus do trovão só começaram a partir do número 83 da antiga Journey Into Mystery da qual The Mighty Thor herdou a numeração. A edição marcava o fim de uma saga que trazia uma (nova) versão do Ragnarok, incluindo até a Serpente de Midgard.

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Bela capa de Thor 237, com arte de John Romita.

A dupla permaneceu um bom período na revista, com a fase da dupla se encerrando apenas em Thor 232, de 1975, quando o escritor saiu da Marvel e foi para a Distinta Concorrente.

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Representante da época de Len Wein. Arte de John Buscema.

Foi um curto período sem escritor fixo, começando no número 233, com Roy Thomas escrevendo, depois, passando a Bill Mantlo na edição 240, até que Len Wein se tornou o escritor oficial da revista na edição 242, ainda em 1975 e ainda ao lado de John Buscema na arte.

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Thor 239 com capa de Gil Kane.

Apesar de serem grandes escritores, Conway e Wein não conseguiram marcar as histórias de Thor. Quem conseguiu mais destaque foi Roy Thomas, que carregou a revista Thor de referências diretas da mitologia nórdica, chegando inclusive, a transcrever histórias diretamente das lendas para o formato dos quadrinhos, tal qual fez também, na mesma época, com Conan, o bárbaro.

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O Thor Ruivo na capa de Thor 278. Arte de Keith Pollard.

Roy Thomas se tornou o escritor oficial de Thor na edição 272, de 1978, ainda com a arte de John Buscema e a dupla se reencontrando após trabalhar em Vingadores e com Conan. Logo no começo esteve disposto a mexer no status quo do filho de Odin. Marcou essa fase inicial a trama do Falso Ragnarok, na qual Loki envia na surdina uma equipe de reportagem da Terra para Asgard com o intuito de filmar o Ragnarok, porém, no fim das contas, Loki seduz o cameraman Roger “Red” Norvell a roubar o Cinturão de Força de Thor (Megingjord), calçar as Luvas Douradas e atravessar o Fogo Místico, de modo que ele se torna uma nova versão (ruiva) de Thor.

No típico estilo Marvel, o Thor Ruivo (ou Red Norvell) enlouqueceu com seus poderes e lutou contra o filho de Odin, antes dos dois se aliarem contra o real vilão.

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A boa arte de Keith Pollard na Thor 287.

Neste período começa o desligamento de Buscema da revista, com o artista começando a “faltar” algumas edições, inclusive na curiosa Thor 280, de 1979, na qual a arte coube a Wayne Boring, o veterano desenhista clássico do Superman dos anos 1940 e 50.

A boa fase de Thomas e Buscema se encerra em Thor 285, na edição seguinte, assume o novo desenhista Keith Pollard, que em breve também desenharia as aventuras do Homem-Aranha. De um traço energético, Pollard já vinha fazendo algumas das capas de Thor e continuou entregando ótimas ilustrações até 1983, quando deixou o título ao lado de Thomas.

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Thor versus Odin na edição 292, com arte de Keith Pollard.
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A arte estilizada de Walt Simonson (e seus argumentos) agradaram os leitores.

A Era Simonson

Em seguida, o escritor e desenhista Walt Simonson assumiu o título a partir de Thor 337em 1983, e fez aquela que é a mais famosa (e apreciada) fase do deus do trovão nos quadrinhos. O artista também investiu na mitologia nórdica, usando-a como referência para seus roteiros. O autor também deu uma nova identidade secreta para o herói, na figura de Sigurd Jarlson, nada mais que Thor usando um óculos, quando precisa, por algum motivo, estar entre os mortais. A persona de Donald Blake é eliminada da existência por Odin em Thor 340.

No primeiro arco, Simonson fez Thor ganhar um grande aliado na figura do alienígena Bill Raio Beta. No típico estilo Marvel, os dois combatem primeiro, quando o deus do trovão percebe que o alien é capaz de levantar Mjolnir, ou seja, tem uma alma pura. Thor descobre que a raça de Beta está combatendo um exército de demônios, liderados por Surtur, o senhor do Reino de Fogo, que está de posse da poderosíssima Espada do Destino.

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Kurse na capa de Thor 363, por Walt Simonson.

Para derrotar Surtur, Odin concede parte do poder de Mjolnir a Bill Raio Beta, que se torna um novo deus do trovão, ao lado de Thor. Em meio ao que ficou conhecido como A Saga de Surtur, Thor ainda teve que combater Malekith, o Maldito, o senhor dos Elfos Negros de Svartalfheim, que se alia a Loki em busca da Caixa dos Invernos Antigos, artefato asgardiano poderosíssimo que pode transformar um mundo inteiro em um grande inferno gelado. No fim, os deuses vencem os demônios, mas Odin é aparentemente morto, desaparecendo junto a Surtur em uma batalha, no final da saga em Thor 353.

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Bill Raio Beta por Walt Simonson.

Com a ausência de seu pai, Thor precisa se tornar o governante de Asgard e lidar com a volta de Malekith, que com a ajuda do Beyonder, transforma Algrim, o mais poderoso dos Elfos Negros, em um ser extremamente poderoso, chamado Kurse, em Thor 363, de 1984, num arco relacionado à megassaga Guerras Secretas II. Em seguida, em uma das histórias mais inusitadas de sua longa trajetória, Thor se vê transformado em um sapo por Loki, que usa a Espada do Destino para isso, em Thor 364.

Walt Simonson também aproximou mais Thor do restante do Universo Marvel, especialmente do núcleo dos X-Men, cuja revista X-Factor (reunindo os X-Men originais) tinha roteiros de sua esposa, Louise Simonson. Neste ponto, Simonson passou a fazer os desenhos para os roteiros da esposa em X-Factor, enquanto o grande Sal Buscema assumiu os desenhos de Thor, ainda com os roteiros de Simonson.

Em Thor 374, o deus do trovão é amaldiçoado pela deusa da morte, Hela, que o impede de morrer, mas deixou seu corpo frágil e seus ossos quebradiços como vidro. Além disso, também fica com sérias cicatrizes no rosto, que o levam a deixar crescer a barba para escondê-las.

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A nova armadura de Thor criada por Walt Simonson, no traço de Sal Buscema.

Em seguida, num crossover com o X-Factor, Thor resgata o ex-membro dos X-Men, Homem de Gelo, dos Gigantes de Gelo e termina nos esgotos de Nova York combatendo o a equipe de vilões chamada Carrascos, onde termina gravemente ferido graças à maldição de Hela.

As batalhas seguintes, contra o Homem-Absorvente e os Elfos Negros vão deixando o estado de Thor cada vez pior até ele ficar tão debilitado que passa a usar uma armadura para manter seu corpo de pé. Para comemorar o número 380 da revista, em 1987, Simonson e Buscema fizeram a chocante história em que Thor combate a Serpente de Midgard (um ser gigantesco que, nos contos da mitologia nórdica, é o responsável pela morte de Thor), numa bela edição formada apenas por quadros de página inteira e acompanhada por trechos das narrativas originais da mitologia nórdica.

Thor combate a Serpente da Terra, em “Thor 380”, uma das melhores do personagem. Texto de Simonson, arte de Sal Buscema.
A fase de Simonson coletada pela Panini no Brasil.

Impedido de ser morto por causa da maldição de Hela, Thor destrói a criatura, mas tem seu corpo reduzido ao estado líquido e termina parando dentro da armadura do Destruidor, obrigando a deusa da morte a desfazer o feitiço, saindo Thor para punir Loki por suas armações. É o fim da fase de Simonson, em Thor 382, que faz tanto sucesso até hoje que, no Brasil, está sendo coletada pela editora Panini Comics, que publica o material da Marvel no país, na série Os Maiores Clássicos do Poderoso Thor: Walt Simonson que já está em seu quarto volume.

Altos e baixos

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O Capitão América (com uniforme diferente) ergue Mjolnir. Arte de Ron Frenz.

Em 1987, a revista Thor foi assumida pelo novo Editor-Chefe da Marvel, Tom DeFalco e desenhada por Ron Frenz, dupla que vinha de uma aclamada temporada na revista do Homem-Aranha. A dupla se esforçou para manter o pique de Simonson, mas embora suas histórias tenham sido boas, não chegaram ao mesmo nível de sucesso e aclamação da crítica.

Inicialmente, colocaram Thor numa gigantesca batalha contra os Celestiais – seres cósmicos gigantes de poderes infinitos criados por Jack Kirby – entre Thor 387 e 389, em 1988, para em seguida, contar a famosa história de Thor 390 na qual se estabelece que Steve Rogers, o Capitão América (que na época usava temporariamente um uniforme preto) é o único mortal capaz de erguer Mjolnir.

Eric Masterson, o novo Thor, por DeFalco e Frenz.

DeFalco e Frenz trouxeram Surtur de volta para comemorar o número 400 de Thor, em 1989. Em seguida, numa longa saga que se inicia em Thor 432, mostraram o deus do trovão matando seu irmão Loki em um combate, o que faz com que Heimdall, agora como o novo governante de Asgard, tenha que punir Thor, colocando-o em exílio. Para o papel de Thor não ficar ausente, Heimdall usa a Força Odin para conceder os poderes do deus do trovão ao mortal Eric Masterson, que se torna o novo Thor. Embora o novo personagem até tenha acumulado uma boa base de fãs, muita gente torceu o nariz para a substituição do protagonista.

O apelo mais humano das histórias de Masterson causaram confusão entre os fãs. Por fim, Thor e Masterson terminam dividindo o mesmo corpo em algum período e, por fim, são separados. Para atender aos fãs do personagem, Masterson continua um tempo na ativa como um novo herói, Thunderstrike (Trovejante no Brasil), em revista própria e detendo parte do poder do deus do trovão. A dupla encerra sua longa fase em Thor 457, em 1993.

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O visual radical de Mike Deodato assustou os leitores, mas os textos de Warren Ellis eram fantásticos.

Em seguida, Thor entra em uma má fase, profundamente influenciada pelo Efeito Muscular, tendência dos anos 1990 de desenhos exagerados, ausência de anatomia e textos fracos ou sem sentido. Para piorar, a Marvel decide matar metade de seu universo na saga Massacre, criando a saga Heróis Renascem, em 1996, que foi um fracasso retumbante.

A retomada da qualidade se deu a partir de 1996, quando o escritor Warren Elis e o desenhista brasileiro Mike Deodato Jr. produziram uma das mais ousadas versões do personagem, aprofundando elementos originais da mitologia. Os roteiros adultos e complexos e o visual modificado de Thor, entretanto, não agradaram o grande público, apesar da grande qualidade.

Novo Volume

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O Thor de Jurgens (texto) e Romita Jr. (arte): boa fase.

Em 1998, a revista Thor foi zerada e começou com um novo número 01, assumida pelo escritor Dan Jurgens (famoso pela Morte do Superman, na DC) com desenhos de John Romita Jr. em uma fase muito boa, na qual o deus do trovão assume outra identidade humana: o paramédico Jake Olson. Ao combater o misterioso Marnot e entrar em confronto com o Destruidor em Nova York, a batalha resulta na morte de Olson. Como um tipo de punição, Thor é obrigado a dividir seu corpo com o mortal, trazendo de volta a velha dinâmica de uma identidade secreta e mimetizando a velha fase de Donald Blake.

A longa fase de Jurgens à frente da revista não é tão celebrada quanto a de Simonson, por exemplo, mas também foi um período muito bom e criativo. Houve vários outros  desenhistas, com destaque para Stuart Imonnen, com quem produziu um outro grande confronto com Surtur, na edição 40, em 2001. A fase de Jurgens, então com Scott Eaton nos desenhos, termina na edição 79, de 2004, na qual após a destruição de Asgard pelo Destruidor, o Thor do futuro, chamado Lorde Thor, volta ao presente e ajuda a impedir os eventos que transcorreram.

Exílio

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Ragnarok: o fim da saga de Thor, em 2004.

Por fim, em 2004, a Marvel decide encerrar a revista do Thor, que vinha sofrendo com baixas vendas. Mas resolve fazer em grande estilo: entre Thor (vol. 2) 80 e 85, os escritores Michael Avon Oeming e Daniel Berman e a desenhista Andrea Divito, criam a saga Ragnarokque é o evento que causa o fim do mundo na mitologia nórdica. Na trama, com a ajuda de um revivido Surtur, Loki consegue forjar novos martelos de uru iguais a Mjolnir, o que inicia uma ação devastadora em Asgard e nos Nove Reinos. Em consequência, todos são mortos, restando apenas Thor vivo. Investido da Força Odin, Thor apaga sua própria existência, entrando em um tipo de hibernação que se assemelha à morte.

Straczynski

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O Thor de Olivier Coipel: visual inspirador para o filme.

Num caso raro nos quadrinhos mainstream, Thor ficou praticamente três anos sem ser publicado pela Marvel Comics. Assim, esteve ausente da retomada dos Vingadores pelas mãos do criativo escritor Brian Michael Bendis e a saga dos Novos Vingadores. A volta do deus do trovão só se deu em 2007, após os eventos da Guerra Civil.

Thor retornou dos mortos em uma aclamada fase escrita pelo polêmico escritor J.M. Straczynski e desenhada pelo excelente francês Olivier Coipel. O arco chamado O Renascer dos Deuses foi publicado nos 12 primeiros números da nova revista Thor (vol 3), entre 2007 e 2009, mas talvez seu fim tenha sido abreviado por uma briga pública entre o autor e o então Editor-Chefe da Marvel, Joe Quesada (envolvendo as histórias de Straczynski no Homem-Aranha).

Na trama, o médico Donald Blake reaparece em Nova York em uma aventura do Quarteto Fantástico – em Fantastic Four 536 – e após o Dr. Destino tentar capturar o martelo Mjolnir que caiu na Terra e está de posse do Governo dos EUA, Blake simplesmente pega o martelo e desaparece. Transportado ao limbo onde Thor está hibernando, ele explica a Thor que os dois formam uma entidade só e que Thor precisa voltar à Terra e salvar os asgardianos, que estão presos em corpos humanos desde o Ragnarok.

Thor novamente na arte de John Romita Jr.

Thor estabelece uma nova Asgard na Terra, no Estado de Oklahoma, nos EUA, e revive todos seus velhos aliados, inclusive Loki, agora habitando o corpo de uma mulher. Mais tarde, o deus do trovão descobrirá que isso é uma artimanha para manter Lady Sif ausente de Asgard. Thor também descobre que Odin está em um limbo temporal, eternamente combatendo Surtur, mas o velho todo poderoso informa que o novo papel de Thor, agora, é liderar os asgardianos e a ele cabe permanecer no limbo.

Straczynski também aproveitou para esclarecer o parentesco entre Thor e Balder, já que este, na mitologia, é irmão do deus do trovão, mas nos quadrinhos, é apenas um amigo. Agora, por meio das artimanhas de Loki, Balder descobre ser mesmo irmão de Thor.

O visual dessa fase – mérito de Coipel – serviu de influência fundamental para o design do filme Thor, de 2008, como se pode notar nas imagens. Este arco de histórias acaba de ser lançado como um encadernado para as livrarias brasileiras pela editora Panini, chamado O Renascer dos Deuses.

É uma boa introdução ao universo do deus do trovão dos quadrinhos.

O deus do trovão continua com boas histórias e voltou a ingressar os Vingadores definitivamente em 2010, após a saga Reinado Sombrio. A nova revista The Avengers, de 2010, com roteiros de Brian Michael Bendis e desenhos de John Romita Jr. trouxe uma nova formação clássica para a equipe, com os três grandes – Capitão América, Thor e Homem de Ferro – unidos a Homem-Aranha, Wolverine, Mulher-Aranha e o Protetor.

Baseado nas lendas da mitologia nórdica, onde é o deus do trovão, Thor surgiu nos quadrinhosem 1962, nas mãos de Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby, estreando em Journey Into Mystery 83. Os quadrinhos mantiveram sua origem mítica, mas colocando-o em um contexto de super-heróis do presente. Ele seria um dos membros fundadores dos Vingadores e 1963 e continua até hoje sendo publicado pela Marvel Comics.