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Superman: o homem de aço.

Suas revistas podem não ser as mais vendidas; seus filmes não emplacam faz um tempão; mas o Superman permanece como um dos maiores ícones do século XX e aparentemente manterá a função no novo século. Os aspectos mitológicos, o senso de justiça, o ideal do homem perfeito… enfim, o homem de aço da DC Comics é tudo isso e muito mais. Entenda um pouco dessa história neste post sobre a trajetória do Superman nos quadrinhos, bem como em suas principais adaptações para outras mídias.

Que melhor maneira de comemorar o aniversário de um ano do HQRock do que contando a história do Superman?

Uma Revolução

A criação do Superman é um dos fenômenos artísticos mais interessantes do século XX e seu impacto social foi enorme. O homem de aço foi o primeiro super-herói criado. Já existiam semideuses, aventureiros e até vigilantes mascarados, mas até 1938 não existiam super-heróis. O Superman foi o primeiro super-herói porque reuniu dois elementos fundamentais: um uniforme (e a identidade secreta, por conseguinte) e os superpoderes.

Aliás, superpoderes eram coisas bem raras na ficção até aquela época. Sem contar os semideuses, que tinham habilidades subrehumanas; no máximo, tínhamos aventureiros que estavam no limiar da capacidade humana, como Doc Savage, personagem da literatura pulp que foi uma grande influência para o Superman. Sabe qual era o apelido do herói? Homem de Bronze!

Falando em literatura pulp, este gênero à época renegado foi o grande antecessor do que chamamos hoje de cultura pop. Eram revistas – geralmente mensais – que traziam contos de vários autores e tinham o nome “pulp” porque eram publicados em papéis de baixa qualidade. Era a época da Grande Depressão nos EUA e tudo tinha que ser racionado. Contudo, os pulps terminaram se tornando em um entretenimento barato e interessante para a juventude e se tornaram um grande fenômeno.

Para se ter uma ideia da importância dos pulps, saiba que os primeiros “heróis” pop surgiram lá: Zorro, Conan, Tarzan, O Sombra, Doc Savage etc.

A geração de adolescentes que cresceu lendo as histórias pulps foi justamente aquela que criou as histórias em quadrinhos modernas. Particularmente, as de super-heróis.

Nos anos 1930, começam a surgir os primeiros aventureiros dos quadrinhos, especialmente em tiras de jornais, como Flash Gordon e o Fantasma.

As revistas em quadrinhos também eram uma novidade. Em meados daquela década, as revistas com material em quadrinhos começaram a se tornar populares, mas em sua maioria, traziam apenas republicações do material que era publicado nas tiras de jornais. O major Malcolm Wheeler-Nicholson fundou uma editora chamada National Allied Publishing, que lançou a primeira revista em quadrinhos a trazer material totalmente inédito (não sendo republicações de tiras): Detective Comics, chegou às bancas em 1937. Mais tarde, esta revista batizaria o novo nome da editora: DC Comics.

É neste contexto que surge a criação máxima de Jerry Siegel e Joe Shuster.

Os Criadores

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Jerry Siegel e Joe Shuster: os criadores do Superman.

Jerome Siegel nasceu em 1914, em Cleveland, Ohio, filho de um imigrante judeu da Lituânia, chamado Mitchell Siegel. O rapaz era o caçula de seis irmãos e estudou no Glenville High School, onde tornou-se escritor do jornal da escola: The Torch. Foi no jornalzinho que conheceu o futuro parceiro Joe Shuster.

Shuster também nasceu em 1914 e vinha de uma família judia – seu pai era de Rotterdan, na Holanda e sua mãe da Ucrânia. Os pais de Shuster se estabeleceram em Toronto, no Canadá e foi lá que Joe nasceu. Ainda criança, ele trabalhou vendendo o jornal Toronto Daily Star, mas migrou com a família para Cleveland quando tinha 10 anos de idade.

Do encontro entre Siegel e Shuster nasceu de imediato uma grande amizade e uma parceria, com a colaboração em tirinhas publicadas no The Torch, bem como na ilustração de artigos.

Primeiras tentativas

A primeira versão do Superman: um vilão careca!

Os especialistas em quadrinhos Gerald Jones (que escreveu o livro Os Homens do Amanhã) e Brad Meltzer (que escreveu O Livro das Mentiras) destacam que o pai de Jerry Siegel foi assassinado em 1932 e não é coincidência que ele tenha criado um homem à prova de balas e combatente do crime logo depois.

O primeiro esboço do Superman nasceu já em 1933, quando Siegel e Shuster criaram um fazine chamado Science Fiction e nele publicaram a história The Reign of Superman, na qual um cientista sem escrúpulos faz experimentos em um homem normal que, como resultado, passa a ter incríveis habilidades mentais. Adotando o nome de Superman, esse telepata usa seu poder para dominar o mundo. O tom pessimista da história talvez reflita o luto pela morte do pai, mas já em 1934, Siegel mudou o conceito do Superman para o de um aventureiro com habilidades sobrehumanas que luta pelo bem.

A maior influência inicial de Siegel para criação do Superman foi o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que cunhou o conceito do überman, um ser humano superior e sem moral. Esse é o Superman de The Reign…, mas aparentemente, Siegel decidiu inverter o conceito. O escritor também usou como influência as histórias de Doc Savage e o romance Gladiador de Phillip Wyllie, que narra a história de um homem com grandes habilidades.

Esboço de Lois Lane a partir de Joanne Carter, depois Joanne Siegel.

Já em 1934, Siegel e Shuster começaram a tentar vender a ideia do Superman, como herói, para os Sindicatos que controlavam a publicação das tiras de jornais, mas o conceito de um super-herói era muito inovador e ninguém aprovou a ideia. Em 1937, os esboços de uma tira de jornal para o Superman foi parar nas mãos de Max Gaines, um dos sócios da National Allied Publishing. O editor não aprovou o material, mas ainda assim, convidou a dupla para criar outras histórias para a nova revista do grupo: Detective Comics. Assim, Siegel e Shuster publicaram o seu primeiro material profissional, criando personagens como o Dr. Oculto e o detetive Slam Bradley.

Mas a dupla continuou refinando o Superman e até usou o dinheiro de suas primeiras histórias para contratar uma modelo profissional para servir de molde à amada do herói. Baseado em uma velha colega de colégio chamada Lois Amster, Jerry Siegel criou Lois Lane, inaugurando a tradição dos duplos “eles”. A modelo contratada chamava-se Joanne Carter e seu rosto e jeito foram traduzidos ao papel por Joe Shuster. E, pouco depois, Siegel casou com ela!

Em 1938, satisfeito com o sucesso de Detective Comics, Max Gaines encarregou o editor Vin Sullivan de criar uma nova revista: Action Comics e juntar material para publicá-la. Na época, essas revistas traziam várias histórias de oito ou doze páginas cada, coletando um total de cerca de 64 páginas, com vários personagens diferentes. Não havia tanto material assim no mercado e a National não tinha histórias suficientes para encher a nova revista. Por isso, Gaines pegou o material do Superman que estava em sua gaveta e o deu a Sullivan para que ele publicasse.

Aparentemente, Sullivan gostou demais do material. Imediatamente, o editor solicitou que Siegel e Shuster adaptassem o original produzido para tiras de jornais – nas quais apenas três quadros são publicados diariamente – para uma revista em quadrinhos com oito quadros por páginas. A dupla tinha produzido duas semanas de tiras para tentar vendê-las aos jornais, o que daria, aproximadamente, duas histórias de oito páginas, mas curiosamente, decidiram pular o início da história, de modo que o material escolhido foi o da segunda semana.

A história do Superman não apenas seria publicada na primeira edição da nova revista, como Sullivan garantiu que o herói ilustraria a sua capa.

Sucesso imediato

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A icônica capa de “Action Comics 01”, de 1938, com o visual primeiro do Superman.

A revista Action Comics 01 foi lançada com data de capa de junho de 1938 e foi um sucesso imediato. Sua capa impactante, com o Superman erguendo um carro e chocando-o contra uma rocha, deixou os leitores da época pasmos. Mais de um milhão de exemplares foram vendidos, um número muito alto na época (e ainda hoje). Refletindo a decisão de Siegel e Shuster, a história do Superman começa do meio, ou melhor, não tem começo. No primeiro quadro, o herói está carregando um bandido nas mãos e precisa ir à casa do Governador para impedir que um homem inocente seja condenado à morte.

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O primeiro encontro com Lois Lane.

Ainda assim, a primeira história traz Clark Kent vivendo em Metrópolis, trabalhando no Estrela Diária (Daily Star, o mesmo jornal de Toronto) e sendo parceiro da intrépida Lois Lane. O primeiro encontro entre o homem de aço e a repórter também se dá nessa edição.

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A curta origem na primeira história.

Para situar os leitores, Sullivan encomendou à dupla uma pequena introdução com a origem do personagem. Em uma única página, Siegel e Shuster explicam que o Superman nasceu no planeta Krypton, que foi enviado em um fogete à Terra antes que aquele mundo explodisse; foi adotado por um casal de fazendeiros; e quando eles morreram foi para Metrópolis ser o Superman. A página ainda explica os seus poderes, mostrando que seres como insetos, formigas e gafanhotos são capazes de proezas sobrehumanas, como dar grandes saltos e que as diferenças entre a Terra e Krypton ajudam a explicar suas capacidades.

Não tão poderoso

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O início da história de “Action Comics 01”, pelo meio.

A primeira versão do Superman não era exatamente o personagem que conhecemos. Apesar de já ter seu uniforme azul e vermelho, o herói não voava e nem era totalmente invulnerável. As balas desviavam em seu corpo – a primeira história mostra isso – mas uma granada podia feri-lo. Em vez de voar, o Superman dava grandes saltos. Inclusive, a primeira história acaba no momento em que o homem de aço não consegue chegar até um prédio com um criminoso nas mãos e tem uma grande queda pela frente.

A ideia de que o Superman voava e era totalmente invulnerável foi se desenvolvendo aos poucos, especialmente nas outras mídias em que foi sendo adaptado, como o seriado para rádio e os desenhos animados dos irmãos Fleischer. Falaremos deles adiante.

Novas revistas e novos artistas

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Capa de “Superman 01”, de 1939.

No começo, o Superman era apenas uma das muitas atrações de Action Comics e não estava em todas as capas. Contudo, com o passar do tempo, sua popularidade levou a ser o único personagem da publicação. Antes disso, porém, o grande sucesso levou a National decidir publicar uma nova revista somente com o homem de aço. Em 1939, estreou a revista Superman, de periodicidade trimestral (uma em cada estação) e com 60 páginas só do herói. O n. 01 trouxe praticamente somente republicações, mas ainda assim, foi um grande sucesso. Curiosidade: somente naquela revista foi publicado o início da história presente em Action Comics 01, bem como foram dados mais detalhes da origem do herói.

Coleção com as tiras de jornal de 1939 a 1942: textos de Siegel, arte de Wayne Boring.

As edições seguintes de Superman começaram a trazer material inédito, ao mesmo tempo em que, em 1939, estreava a tira de jornal do homem de aço, um velho sonho de Siegel e Shuster. A grande demanda de histórias, contudo, impossibilitou que a dupla produzisse tudo. Ao mesmo tempo, a visão de Shuster começou a ficar comprometida. Então, a dupla criou um estúdio em que outros artistas auxiliavam na arte sem levar os créditos, uma prática comum na época. Um dos nomes desse estúdio se tornaria um dos maiores ilustradores do Superman: Wayne Boring.

A DC Comics também passou a encomendar trabalhos para outros desenhistas fora do estúdio de Siegel e Shuster, quando o editor Vin Sullivan saiu da editora e foi substituído por Whitney Ellsworth. Com isso, em 1940, outros desenhistas começam a trabalhar com o homem de aço, como Jack Burnley, Fred Ray e Al Plastino, outros dos principais ilustradores do personagem. O novo editor também contratou um trio de novos escritores para auxiliar Siegel, todos com experiência em ficção científica: Manly Wade Wellman, Alfred Baster e Edmond Hamilton, que seria um dos maiores escritores da história do Superman.

O advento da II Guerra influenciou as revistas.

Toda essa equipe seria muito útil quando a DC lançou uma nova revista chamada World’s Finest, na primavera de 1941, trazendo mais histórias do Superman e dos outros personagens da editora, como Batman.

Em 1943, Jerry Siegel foi convocado pelo exército e se afastou temporariamente das revistas do Superman. Para preencher a lacuna, Ellsworth contratou mais dois escritores: Don Cameron e Alfred Schwartz. Não muito tempo depois, chegou o desenhista Curt Swan, que se tornaria o principal artista do herói nas décadas seguintes.

O afastamento de Siegel criou um problema grande para o futuro. O escritor tinha criado o projeto de publicar as histórias do Superboy, uma versão adolescente do Superman, visando aumentar ainda mais a identificação com o público adolescente, tendo em vista que o homem de aço era um dos únicos heróis que não tinha um “parceiro mirim”, como o Robin que acompanhava o Batman. Contudo, Ellsworth não gostou da ideia e vetou o projeto.

Um dos grandes desafios do Superboy: cortar a grama do jardim.

Em 1945, com Siegel ainda de serviço militar, o Superboy apareceu pela primeira vez, numa história publicada em More Fun Comics 101. Quando Siegel voltou, reinvidicou seus créditos e a editora negou. Enquanto isso, o Superboy começou a ter histórias regulares publicadas na revista Adventure Comics.

Esse fato criou problemas entre Siegel e a DC e as relações começaram a ficar ruins. Para piorar, o escritor percebia que tinha vendido sua criação à editora e não recebia royalities, ao contrário do que acontecia com Bob Kane, o criador do Batman, que manteve alguns royalities para si. Quando o contrato de dez anos de produção de histórias do Superman pela dupla Siegel e Shuster se encerrou, em 1947, a editora decidiu simplesmente não renová-lo e a dupla foi demitida. A título de comparação, Bob Kane continuou produzindo histórias do Batman até se aposentar em 1964.

E coincidência ou não, logo em seguida, em 1949, a DC lançou a revista Superboy, já que o personagem era um grande sucesso. Adventures Comics passou a ter histórias de outros personagens e em breve traria a Legião dos Super-Heróis, um grupo de adolescentes do futuro, ao qual o Superboy estava sempre ajudando.

Em outras mídias

Apresentador e atores do programa de rádio: fenômeno de audiência.

Desde o início, a DC Comics soube capitanear em cima do Superman em outras mídias e estas ajudaram muito a desenvolvê-lo como personagem. A primeira delas foi uma série de rádio The Adventures of Superman, exibida duas vezes por semana, com voz de Bud Collyer como Superman e Joan Alexander como Lois Lane. De incrivel sucesso, a série foi exibida entre 1940 e 1951. Foi no rádio que o jornal de Metrópolis teve seu nome mudado para Planeta Diário, que o editor virou Perry White (antes, seu nome era George Taylor) e que surgiu a Kryptonita. Devido à popularidade da série, eses elementos foram imediatamente transpostos para os quadrinhos.

A animação dos estúdios Fleisher é boa até para os padrões de hoje; o texto nem tanto.

Em seguida, veio Superman uma série de curtametragens em desenho animado criados pelo Fleischer Studios e lançado nos cinemas (não existia TV ainda, lembrem) entre 1941 e 1943, trazendo novamente Bud Collyer como o homem de aço. Esta série fez muito sucesso e é bastante apreciada pela crítica até hoje, devido à qualidade de sua animação.

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Kirk Alyn foi o primeiro Superman de carne e osso das telas.

A primeira adaptação em live action do personagem ocorreu em 1948, quando um seriado com 15 episódios para os cinemas foi produzido, tendo Kirk Allyn como Superman e Noel Neill como Lois Lane. O seriado não fez tanto sucesso, porque havia uma grande decepção quanto ao fato dos vôos do homem de aço. Como não existia tecnologia suficiente, o ator era substituído por uma animação, um efeito ruim até para a época.

Ainda assim, dois anos depois, o Superman ganhou outro seriado para o cinema, também com 15 episódios, chamado Atom Man vs Superman, novamente com Allyn e Neill. Como destaque, esta série trouxe a primeira adaptação de Lex Luthor às telas.

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George Reeves: grande sucesso na TV.

Em 1951, o homem de aço ganhou o seu primeiro longametragem no cinema: Superman vs the Mole Men. Agora, o homem de aço era vivido por George Reeves e Lois Lane por Phyllies Coates. Melhor sucedido dessa vez, em parte pelo carisma de Reeves, o filme serviu como um trampolim para a primeira série de TV do personagem Adventures of Superman trouxe novamente Reeves e Coates, bem como um universo mais ampliado do personagem, como Jack Larson como Jimmy Olsen e John Hamilton como Perry White.

A série estreou em 1952 e foi um grande sucesso. A atriz Phyllies Coates se afastou do programa depois da primeira temporada e Noel Neill voltou a interpretar Lois Lane. As duas primeiras temporadas foram em preto e branco, mas da terceira à sexta foram gravadas em cores. A audiência abaixou um pouco no decorrer dos anos e George Reeves começou a ficar velho e gordo para o papel, além de expressar seu desencanto em não conseguir outros papeis em Hollywood porque não era levado à sério.

O ator terminou morrendo em 1959, num aparente suicídio. Contudo, investigações da época também apontaram para homicídio, embora o caso não tenha ido adiante. O escândalo foi muito bem adaptado aos cinemas no filme Hollywoodland – Os Bastidores da Fama, na qual Ben Affleck interpreta George Reeves (e o Superman!), ficcionando a investigação do caso e apontando o envolvimento do ator com a esposa de um grande executivo de estúdio que poderia ter encomendado sua morte.

Tempos Difíceis e Clássicos

Lex Luthor se torna o principal vilão do Superman.

Superman começou os anos 1950 muito bem. Sua popularidade estava em alta devido aos seriados de rádio e TV e suas revistas vendiam bem. Em contrapartida, as histórias em quadrinhos oscilavam bons momentos com outros nem tanto.

Ao mesmo tempo, a censura às revistas aumentou muito, depois que o psicólogo Fredric Werthan publicou o livro A Sedução do Inocente, em 1954, acusando os quadrinhos de perverterem as crianças e serem o grande causador da onda de deliquência juvenil que assolava a época. Com isso, o Maccartismo começou a perseguir os quadrinhos até que as principais editoras se uniram e formaram o Comics Code Authority, um órgão de autocensura que trazia um tipo de Código de Ética. Sexo, mortes e temas difíceis estavam proibidos, bem como emoções intensas.

Nas revistas, o editor Whitney Ellsworth tinha um posto mais alto agora e a editoria dos títulos do Superman estavam nas mãos de Mort Weisinger, que promoveu uma série de mudanças, preparando terreno para a saída da Era de Ouro dos Quadrinhos para a Era de Prata.

Em 1954, a revista “World Finest” passa a trazer aventuras de Batman e Superman juntos.

Primeiramente, ocorreu o primeiro encontro entre Batman e Superman, em Superman 76, em 1952. Apesar dos heróis já dividirem a revista World’s Finest (e aparecerem juntos nas capas) há 11 anos, nunca havia se encontrado de verdade nas histórias. Nesta aventura, descobrem, também, a identidade um do outro. Ainda assim, apesar do sucesso óbvio da empreitada, demorou mais dois anos para que World’s Finest realmente passasse a trazer aventuras conjuntas dos dois heróis, a primeira no número 71, em 1954. Grande parte dessas aventuras de Superman e Batman foram escritas por Edmond Hamilton e desenhadas por Dick Sprang.

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A Fortaleza da Solidão estreia…

Grande parte da mitologia clássica do Superman foi criada nos anos 1950, como suas épicas batalhas com Lex Luthor. A Fortaleza da Solidão, o esconderijo do homem de aço no Ártico, apareceu em Action Comics 241, de 1958, escrita por Jerry Coleman e desenhada por Wayne Boring. No mês seguinte, o supervilão Brainiac surgiu em Action Comics 242, por Otto Binder e Al Plastino, numa aventura que também introduziu a cidade engarrafada de Kandor, uma metrópole de Krypton que foi sequestrada e encolhida por Brainiac. Superman consegue salvá-la, mas não devolvê-la ao tamanho natural.

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A versão original de Brainiac, nos anos 1950.

O vilão Bizarro surgiu em Superboy 68, também de 1958, como a criação de um cientista. Com seu sucesso, o personagem voltou (agora adulto) em Action Comics 254, de 1959, agora recriado por Lex Luthor.

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A estreia da Supergirl.

Uma primeira versão da Supergirl foi introduzida em Superman 123, numa história de Otto Binder e Dick Sprang, de 1958, quando Jimmy Olsen usa um artefato mágico para criar uma versão feminina do Superman para lhe servir de companhia. A personagem morre no final, mas fez tanto sucesso que poucos meses depois, surgiu a versão mais famosa da Supergirl. Em Action Comics 252, de 1959, numa hjistória de Otto Binder e Al Plastino, o Superman encontra sua prima Kara-El, que sobreviveu à explosão de Krypton junto a cidade de Argo. A partir de então, a Super-Moça, como foi chamada no Brasil, passou a ser personagem constante das aventuras do homem de aço, até ganhar as suas próprias, em Adventure Comics.

Na mesma edição, também surgiu outro clássico vilão do homem de aço: Metallo, numa história de Robert Bernstein e Al Plastino.

Contudo, embora houvessem esses bons momentos, também havia muitos pontos ruins, como histórias sem pé nem cabeça e situações exdrúxulas. Isso sem contar no gradativo aumento de personagens supers – além da Supergirl e do Superboy, tinha também Krypto, o supercão, Beppo o supermacaco, Streaky o supergato e Cometa o supercavalo. Toda uma fazenda de superseres.

Além disso, com o sucesso da série de TV, especialmente do personagem de Jimmy Olsen, não demorou e a DC lançou uma revista inteirinha dedicada ao jovem fotógrafo que está sempre se metendo em confusão. com isso, surgiu a revista Superman’s Pal: Jimmy Olsen, em 1954. Na revista, a tônica era o absurdo e o rapaz se metia em todo o tipo de confusão e sofria as mais absurdas transformações e metamorfoses. Pouco tempo depois, foi a vez de Superman’s Girlfriend: Lois Lane ser lançada, em 1958, agora, com o foco na repórter perseguindo o herói de todas as maneiras e agindo como uma louca casamenteira. Ambas as revistas seriam publicadas até 1974.

Consolidando uma Cronologia

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A clássica história de Siegel: “Retorno a Krypton”, com o herói encontrando sues pais, Jor-El e Lara.

Com o fim dos anos 1950, o Superman entrou em uma fase de transição, que procurava assentar as bases das grandes mudanças que ocorreram antes. Um dos marcos desse momento é a volta do criador do herói, Jerry Siegel, às histórias de sua cria. Um dos pontos cruciais aos quais o escritor colaborou foi na remotagem da cronologia do herói. Afinal, em sua versão original, o Superman havia surgido já adulto, em Metrópolis. Porém, agora existia o Superboy e sua cronologia; então, eram necessários ajustes.

Siegel, Weisinger e Otto Binder juntaram todas as peças para organizar uma nova cronologia do homem de aço, criando, portanto, a versão da Era de Prata do herói. Como parte desse projeto, Siegel escreveu, e Wayne Boring desenhou, aquela que é considerada por muitos como uma das melhores histórias do Superman: Return to Krypton, publicvada em Superman 141, de 1960. Nela, o homem de aço viaja no tempo sem querer e vai parar no planeta Krypton antes dele explodir, inclusive, conhecendo seus pais, Jor-El e Lara, bem como se apaixonando pela atriz Lyla Leroll.

A trama aproveita para estabelecer uma série de conceitos sobre o planeta, a família do herói e sua história, sendo o alicerce da nova cronologia que despontava. Com o passar das décadas, essa história ganhou várias novas versões, duas delas nos anos 1980 por Alan Moore e John Byrne, sobre as quais iremos falar depois.

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“Superman 146”, de 1961, consolida a cronologia do herói na Era de Prata.

Essa nova cronologia foi apresentada ao público na história retroativa The Complete Story of Superman’s Life na qual todos os eventos são organizados dentro de uma lógica temporal e cronológica. A história foi assinada por Otto Binder e desenhada por Al Plastino, publicada em Superman 146, de 1961.

Na trama, se mostra que o bebê Kal-El que é posto na nave que o traz à Terra não é um recém-nascido, mas um menino de três anos, o que ajudava a explicar porque o Superman ainda tinha lembranças de Krypton. A história também faz a ponte entre o Superboy de Smallville, criado por Jonathan e Martha Kent (que o ajudaram a treinar seus poderes) até o Superman de Metrópolis. A mesma revista ainda trouxe uma épica história escrita por Jerry Siegel, Superman’s Greats Feats, na qual o herói volta ao passado por um pedido da sereia Loris Lemaris (uma de suas ex-namoradas!) para impedir a trajédia da Atlântida, mas o herói percebe que não é possível alterar os fatos do passado.

Siegel contou a origem da rivalidade com Lex Luthor em uma história do Superboy.

Jerry Siegel continuou ocupado em estabelecer a nova cronologia do homem de aço e, por isso, criou a até então inédita história que explicava a rivalidade entre Superman e Lex Luthor. No entanto, como Luthor também era vilão nas histórias do Superboy, foi dentro desse contexto que ele o fez. Em Adventure Comics 271, de 1960, desenhada por Al Plastino, vemos o Superboy conhecendo e se tornando amigo do jovem ruivo Lex Luthor, um promissor cientista adolescente. Ele cria um antídoto para a kryptonita, mas um acidente no laboratório leva o menino de aço a agir e, sem querer, faz com que o jovem Lex perca todo o cabelo. Jurando vingança, o rapaz se torna um gênio do mal.

Apesar da inocência da história, esses elementos continuam influenciando os escritores até hoje. Embora a amizade juvenil entre Luthor e Superboy tenha sido apagada no futuro, vários outros artistas a resgataram, inclusive em outras mídias, como a série de TV Smallville.

Contudo, apesar do início intenso, a década de 1960 não foi um momento tão especial para o Superman. A ascensão da Marvel Comics (e seus heróis realistas e problemáticos) começou a tomar espaço da DC Comics. Ao mesmo tempo, a Era de Prata formava uma quantidade enorme de novos leitores e os produtores das histórias em quadrinhos em geral ainda eram os mesmos homens que tinham criado a indústria, 30 anos antes. Um conflito de gerações era inevitável.

O Superman na revista da Liga da Justiça.

Com isso, os maiores destaques à história do Superman naquela década vieram de fora de suas revistas principais. Primeiramente, vale destacar o surgimento da Liga da Justiça, em 1960, criada por Gardner Fox e Mike Sekowski. Inicialmente, para testar o mercado, o homem de aço e o Batman, os dois mais populares personagens da editora, permaneceram de fora da equipe, formada inicialmente por Flash, Lanterna Verde, Mulher-Maravilha, Aquaman e o Caçador de Marte. Porém, quando a equipe se mostrou um grande sucesso, Superman e Batman foram incluídos como membros (e líderes) na revista Justice League, que se tornou uma das mais vendidas da casa.

Foi principalmente nas revistas da Liga que surgiu o conceito de Multiverso, que tentava explicar porque o Superman interagiu com as velhas versões dos personagens do grupo, como Flash e Lanterna Verde. Assim, na Terra 1 vivia o Universo DC tradicional; enquanto as versões dos anos 1940 estavam na Terra 2. Depois, várias outras Terras surgiram.

Outro grupo também capitaneou e foi capitaneado pelo personagem, embora dessa vez em sua versão juvenil. Superboy juntou definitivamente suas forças à Legião dos Super-Heróis a partir de 1962, na revista comemorativa Adventure Comics 300. Era o início de Superboy in Tales of Legion of Super-Heroes, que durou 80 edições até 1969.

Em outras mídias, o homem de aço ganhou uma nova série de desenhos animados, agora na TV, produzidos pela Filmation, a partir de 1966 e durando até 1969. O herói foi novamente dublado por Bud Collyer. Por fim, um destaque menor foi a criação de um musical da Broadway sobre o Superman, chamado It’s a Plan, It’s a Bird… It’s Superman, que permaneceu em cartaz entre 1965 e 1966.

Nos quadrinhos, vale destaque ao surgimento do vilão Parasita, em Action Comics 340, de 1966.

Superman entra na Era de Bronze

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A icônica capa de Neal Adams marca o início da nova fase.

A perda de espaço do homem de aço na segunda metade dos anos 1960 preocupou seriamente a DC Comics e uma grande mudança foi feita. A diretoria da editora designou que o editor Julius Schwartz – o grande arquiteto da Era de Prata na DC, o homem que incentivou a criação das segundas versões de Flash e do Lanterna Verde, da reformulação da Mulher-Maravilha e da criação da Liga da Justiça – assumisse também o controle das revistas do Superman.

A estratégia de Schwartz foi a mesma que dera há pouco tempo para a Liga da Justiça e para o Batman, ambos desgastados: contratar escritores mais jovens, mais atenados aos novos tempos – você, sabe, final dos anos 1960, sexo, drogas, rock’n’roll, woodstock, Guerra do Vietnã e tudo aquilo acontecendo – que pudessem se comunicar com esse novo público diretamente.

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A arte mais dinâmica da dupla Curt Swan e Murphy Anderson.

O principal nome designado para o trabalho foi o escritor Dennis O’Neil, um rapaz de 30 anos que já havia reformulado a Mulher-Maravilha, a Liga da Justiça e o Batman, todos com ótimos resultados. Um dos maiores escritores da história dos quadrinhos.

Mas ele não estaria sozinho na empreitada. Outro nome foi importante: o escritor Elliot S. Maggin. Para trabalhar com eles, o desenhista Curt Swan foi escolhido como o principal artista do homem de aço. Swan já vinha desenhando o Superman há mais de dez anos, principalmente nas capas das revistas, mas agora se tornava, realmente, o artista oficial.

Para promover uma leve mudança no visual do homem de aço e tirar o aspecto semicartunesco de Wayne Boring que predominou durante os últimos 30 anos, Swan teve a ideia de trabalhar com o artefinalista Murphy Anderson, que acrescentou mais linhas e traços à arte, dando ao Superman um aspecto mais adulto e sério e aproximando seu visual do traço característico de Neal Adams, o principal desenhista da DC naquele momento, ocupado com as histórias do Batman.

Ainda assim, para marcar o novo momento, Neal Adams se tornou o capista oficial tanto de Action Comics quanto de Superman, enquanto Swan e Anderson cuidavam da parte interna.

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A kryptonita perde seu efeito.

Essa nova fase começava em Superman 233, de 1971, que trazia uma icônica capa de Neal Adams e um anúncio que dizia se tratar de um “novo número um”. Na história de O’Neil, Swan e Anderson; cientistas fazem uma experiência para usar a kryptonita como fonte de energia, mas algo dá errado e ocorre uma explosão atômica. O resultado? Um efeito em cadeia transforma toda a kryptonita da Terra em ferro, anulando a única fraqueza do Superman.

Era uma reação à banalização do mineral, que nas histórias antigas, tinha ganhado dezenas de versões, além da tradicional verde, como vermelha, roxa, preta, azul, dourada, lilás, prateada… com os efeitos mais bizarros e medonhos que se possa imaginar.

Em contrapartida, a explosão também afeta o homem de aço, que perde metade do seu poder. E ainda faz surgir um Superman de Areia, que se transforma em um grande vilão.

Era a saída da DC (e Schwartz e O’Neil) para tornar o Superman um personagem menos poderoso, pois suas histórias haviam tornado-o um deus invencível… e sem graça.

Além disso, a mesma história estabeleceu um novo status quo para o personagem, quando o Planeta Diário passa a fazer parte do conglomerado da Galaxy que pertence ao megaempresário Morgan Edge. Assim, o repórter Clark Kent vai trabalhar como âncora de TV.

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Capa de “Superman 247”, de 1972.

Exatamente um ano após esta história de reformulação, foi publicada uma das melhores histórias do homem de aço: Must there be a Superman?, escrita por Elliot S.Maggin e desenhada por Swan e Anderson, publicada em Superman 247, de 1972. Na trama, a pergunta do título – “precisa haver um superman?” – é feita pelos Gardiões de Oa (isso mesmo, os chefes da Tropa dos Lanternas Verdes) ao próprio homem de aço.

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Os Guardiões provocam o Superman: clássico de Elliot S. Maggin e Curt Swan.

Os poderosos seres cósmicos tentam argumentar com o herói que sua ação, sempre salvando a humanidade, deixa os seres humanos mal acostumados, e que ele não devia resolver os problemas da humanidade. Com isso, o Superman questiona suas ações e viaja a lugares distantes para tentar ações mais construtivas do que bater em bandidos.

No final, os Gardiões conversam entre e si e mostram que queriam apenas plantar a semente de dúvida no Superman e atingiram seu objetivo.

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Superman na arte de Jack Kirby.

Além dessas mudanças, é necessário contar que, um pouco antes, em 1970, um grande evento balançou as revistas do homem de aço. Jack Kirby, o criador do Universo Marvel com Stan Lee, saiu de sua velha editora e foi para a DC. E onde foi trabalhar? Claro que com o Superman.

Como nunca foi convencional, Kirby escolheu a revista Superman’s Pal Jimmy Olsen, estreando no número 133, de 1970. Obviamente, a entrada do “rei dos quadrinhos”mudou totalmente o foco da revista, que no passado era uma das mais cômicas e insólitas da DC.

Kirby transformou a revista em um produto sério e ousado, desenvolvendo uma complexa trama que mostrava o Laboratório Cadmus fazendo experimentações com clonagem; o retorno do Guardião, um super-herói criado por ele mesmo nos anos 1940, homenageando o Capitão América (que ele também tinha criado, para a Marvel); e apresentando as ações de um poderoso alien na Terra, envolvido em uma trama misteriosa: Darkseid.

O vilão Darkseid foi criado por Jack Kirby nas histórias do Superman.

Na revista, Kirby criou o conceito dos Novos Deuses: uma nova raça de seres cósmicos extremamente poderosos que vivem em dois mundos em guerra, o malígno Apokolyps e o benéfico Nova Gênese. Os personagens do chamado Quarto Mundo, como Sr. Milagre, Orion e Forever People logo ganharam suas próprias revistas, assim como os Novos Deuses, para as quais Kirby migrou.

Esses personagens se tornaram parte fundamental do Universo DC, embora as revistas do Quarto Mundo não tenham feito tanto sucesso, devido aos seus conceitos muito complexos. E Darkseid, com o tempo, se tornaria o maior de todos os vilões do Universo DC.

Todas essas modificações no universo do Superman o introduziram na Era de Bronze dos quadrinhos e ajudaram as suas revistas a se tornarem algumas das mais vendidas do mercado, ao longo da primeira metade dos anos 1970.

Histórias Especiais

Na segunda metade dos anos 1970, o Superman mantinha seu papel de um dos personagens mais populares do planeta, mas suas histórias começaram a perder força de novo.

Curiosamente, algumas grandes histórias do homem de aço foram publicadas nessa época, em uma tetralogia de revistas especiais em formato tabloide, bem maior do que o das revistas tradicionais.

O contexto de meados da década de 1970 na DC era bem diferente. Mudanças editoriais na concorrente Marvel fizeram vários escritores desta mudarem para aquela, de modo que nomes como Gerry Conway e Steve Englehart passaram a escrever histórias de Superman, Batman e Cia.

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O primeiro encontro Marvel-DC: Superman e Homem-Aranha.

Em 1976, o Editor-Chefe da Marvel era Len Wein, que já tinha passado pela DC e articulou um inédito crossover entre os principais personagens das duas editoras. Assim, naquele ano, saiu Superman vs Spider-Man uma revista especial escrita por Gerry Conway e desenhada por Ross Andru, mas com retoques de John Romita para a figura do Homem-Aranha e de Neal Adams para a figura do Superman.

Na trama, como se os dois sempre tivessem habitado o mesmo universo ficcional, uma aliança entre o Dr. Octopus e Lex Luthor força primeiro um confronto e em seguida a união de forças entre o homem de aço e o escalador de paredes.

A revista foi um grande sucesso e gerou alguns outros encontros entre personagens até as relações entre as editoras azedar totalmente.

O sucesso da empreitada ficou na memória dos editores da DC e, em 1978, quando o homem de aço completou 40 anos de idade, foram publicados no mesmo formato outras três revistas com confrontos especiais.

Superman vs Shazam mostrava o encontro entre o herói e o Capitão Marvel, personagem que era um plágio dele, criado pela editora Fawcett Comics em 1940 e que fora vítima de um processo pela DC Comics que levou à proibição de sua publicação.

Depois, a DC comprou o personagem e o integrou ao seu multiverso, colocando-o na Terra S. Naquela revista, uma ameaça aos dois planetas (a Terra 1 e a Terra S) força um conflito entre os dois poderosos personagens, numa história escrita por Gerry Conway e desenhada por Rich Buckler e Dick Giordano.

A segunda revista especial foi Superman vs Wonder-Woman, também escrita por Conway e desenhada por José Luis Garcia-Lopes, trazendo as versões da Terra 2 dos personagens, nos tempos da II Guerra Mundial.

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Muhammad Ali e Superman na gloriosa arte de Neal Adams.

E a cereja do bolo foi Superman vs Muhammad Ali na qual o homem de aço é obrigado a confrontar o maior campeão da história do boxe. Escrita por Dennis O’Neil e desenhada por Neal Adams é considerada uma das melhores histórias do homem de aço em todos os tempos, com um bom roteiro e uma arte simplesmente maravilhosa. Há uma invasão alienígena na trama, e os desenhos de Adams do Superman combatendo uma frota de naves é uma das coisas mais belas já realizadas com o personagem.

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O casamento de Superman e Lois. Mas na Terra 2.

A comemoração dos 40 anos do Superman também se deu em suas revistas principais. Action Comics 484 trouxe um evento bombástico: o casamento de Lois Lane e do Superman. No entanto, os leitores ficaram um pouco frustrados ao notar que se tratava do matrimônio das versões da Terra 2 e não da Terra 1. Os responsáveis pelo embuste foram Cary Bates e Curt Swan, com capa de José Luis Garcia-Lopes.

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Capa de “Superman 338” por Ross Andru.

Mais impactante foi Superman 338, também comemorativa das quatro décadas, que trouxe uma história em que Superman e Supergirl tentam devolver a cidade engarrafada de Kandor ao seu tamanho natural ao usar um artefato para acumular a energia da explosão de uma supernova para usá-la para aumentar a cidade.

O processo dá certo, mas como os kandorianos não podem viver na Terra, o Superman encontra um lugar para eles em um planeta de uma outra dimensão. Mas há um preço: o herói tem pouco acesso ao lugar. A história foi escrita por Len Wein e desenhada por Curt Swan, com capa de Ross Andru.

Um Novo Filme

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Christopher Reeve: o Superman para toda uma geração.

Tudo começou em 1969: o conglomerado Warner Bros., um dos mais poderosos dos EUA, decidiu comprar a DC Comics. Tendo em vista ser um poderoso estúdio de cinema, não demorou muito para a ideia de um filme do Superman surgir. Contudo, o estúdio estava decidido a fazer um “filme de verdade” não uma matinê de sábado, mas como? A primeira ideia: encontrar um ator durão para interpretar o homem de aço e dar um ar de seriedade à produção. E ninguém era mais durão no cinema da época do que Clint Eastwood. Isso mesmo, o Dirty Harris em pessoa foi convidado para viver Clark Kent, mas declinou.

A coisa então, esfriou. Poucos anos depois, um jovem produtor de origem estrangeira chamado Alexander Salkind e seu pai, Ilya. Os dois receberam sinal verde da Warner para uma superprodução ao garantir um roteiro épico escrito por ninguém menos do que Mario Puzo, o autor de O Poderoso Chefão. Para direção, foi escolhido Richard Donner, de A Profecia. O diretor adotou o roteiro, mas chamou Tom Mankiweickz para retocar o texto, autor este de vários filmes de James Bond.

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Superman – O Filme trouxe uma origem com diferenças.

Embora a Warner adorasse ver um nome famoso no papel do homem de aço, como Robert Redford, Donner optou por um nome desconhecido, para fortalecer o personagem, sendo escolhido Christopher Reeve após dezenas de testes. Em contrapartida, recheou o elenco de coadjuvantes de atores famosos e consagrados: Marlon Brando, um dos melhores atores da história de Hollywood, foi contratado para viver Jor-El, o pai kryptoniano do Superman; Gene Hackman para Lex Luthor; Glen Ford como Jonathan Kent; Suzanne York como Lara; Jackie Cooper como Perry White; Ned Beatty como Ottis, o assistente de Luthor. Para viver Lois Lane, a também desconhecida Margot Kidder.

O roteiro original de Mario Puzo era tão épico que foi dividido em dois filmes e a Warner gostou tanto do material que decidiu bancar a gravação dos dois filmes consecutivamente. As filmagens iniciaram em 1976, mas foram um pandemônio com brigas homéricas entre Donner e os Salkinds, que discordavam do tom da história; além de estouros no orçamento; atrasos; e enorme dificuldade em deixar os efeitos especiais críveis. Depois de mais de um ano de filmagens, abandonou-se o trabalho em Superman II para se concentrar somente no primeiro. O filme foi concluído às vésperas de seu lançamento, mas conseguiu ser lançado em 1978 e entrar nas comemorações dos 40 anos do personagem.

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Superman se comunica com Jor-El na Fortaleza da Solidão.

Superman – O Filme foi um estrondoso sucesso de bilheteria (a maior da história até então, ultrapassando Star Wars, que saiu no ano anterior) e de crítica. A Academia de Artes e Ciência de Hollywood até criou um Oscar especial de Efeitos Visuais para premiar o filme no ano seguinte – categoria que depois se tornou fixa. O filme é lembrado como exemplo de adaptação dos quadrinhos e criou uma imagem icônica do Superman na figura do ator Christopher Reeve.

As continuações, infelizmente, não seguiram o mesmo rumo. Devido aos problemas nas filmagens, Richard Donner foi demitido pelos Salkinds, e substituído pelo diretor de comédias Richard Lester, que recheou Superman II – A Aventura Continua de cenas de comédia pastelão e momentos “vergonha alheia”. Mesmo assim, parte do filme já tinha sido filmada anteriormente, de modo que foi possível o lançamento, em 2006, de Superman II – The Richard Donner’s Cut, que consegue ser melhor (e muito) do que a versão oficial. (O HQRock fez um post sobre o filme, leia aqui).

A coisa piorou mais ainda em Superman III, onde o pastelão e a “vergonha alheia” é a linha principal do filme. Tanto que o Superman em si se torna coadjuvante do comediante Richard Pryor, um sucesso na TV na época. O filme ainda foi bem nas bilheterias, mas a crítica (e boa parte do público) odiou.

Supergirl também ganhou seu filminho.

Tanto que foi difícil conseguir financiamento para o quarto filme. E no meio, os Salkinds ainda fizeram um filme da Supergirl, estrelado por Helen Slater.

Para o quarto filme da série, foram prometidas algumas mudanças. Christopher Reeve só aceitou retornar se fosse um filme sério e que ele próprio fosse o responsável pela história e direção. Um acordo foi feito, mas descumprido. Reeve elaborou uma beleza de premissa: a intervenção do Superman na corrida atômica entre os EUA e a URSS, mas os Salkinds ainda colocaram o ator apenas como Diretor de 2ª Unidade e o roteiro inventou um vilão solar cheio de referências camps. Com o orçamento bem menor do que antes, os efeitos especiais não foram bons e nada menos do que 50 minutos do filme foram cortados para diminuir os custos. O resultado é que Superman IV – Em Busca da Paz é uma porcaria. E os bônus da versão em DVD mostram que as melhores cenas (aquelas que dariam profundidade à história) foram cortadas.

O Superboy de Gerard Christopher.

Era o fim da franquia do homem de aço.

Ou quase. Dois anos depois do fracasso do filme, os Salkinds ainda conseguiram produzir uma série para a TV do Superboy, passada em Smallville. Com baixo orçamento, mas roteiros até descentes – além de fidelidade ao material dos quadrinhos – a série ainda gerou impressionantes 100 episódios, tendo, no papel de Clark Kent e Superboy, John Heymes Newton na primeira temporada e Gerard Christopher da segunda em diante; além de Stacy Haiduk como Lana Lang.

Uma Crise

Apesar do sucesso e da popularidade do Superman nos cinemas, os quadrinhos do homem de aço no fim da década de 1970 e início dos 80 foi difícil. As vendas das revistas da DC Comics sofreram uma queda brusca, impulsionadas pela tomada do mercado pela Marvel Comics. A situação ficou tão séria que os executivos da Warner pensaram seriamente em licenciar os personagens da DC para a Marvel, numa negociação que só não se concretizou porque a Lei Antitruste dos EUA não permitiu. Por pouco, os Vingadores e a Liga da Justiça não compartilharam o mesmo universo definitivamente.

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“Action Comics 544” traz as novas versões de Lex Luthor e Brainiac, por Gil Kane.

A DC tentou várias medidas para sair da crise. No início dos anos 1980, uma nova equipe de autores tentou dar uma renovada no universo do homem de aço. Escritores como Marv Wolfman e desenhistas como Gil Kane passaram a criar novos elementos para as histórias. Em Action Comics 544, de 1983, criou-se duas histórias que apresentavam versões mais modernas de Lex Luthor e Brainiac.

Cary Bates e Curt Swan contaram a história de Luthor, na qual ele adquire sua clássica armadura verde que lhe permite lutar braço a braço com o Superman. Na segunda história, Marv Wolfman e Gil Kane mostram Brainiac abdicando de seu velho corpo e assumindo um novo, totalmente metálico.

Mas as mudanças não foram suficientes para aumentar as vendas. Assim, na iminência da falência, a DC Comics resolveu promover uma mudança radical. O conceito do Multiverso era parte fundamental da cronologia da editora nos últimos 20 anos, mas um pesadelo para escritores e leitores que ficavam confusos demais com as idas e vindas de mundos. Assim, o editor Dick Giordano resolveu mudar tudo: destruir o Multiverso e alocar todo o Universo DC em uma única Terra; mudar origens, reformular personagens etc. A premissa para tudo isso foi a maxissérie Crise nas Infinitas Terras, que seria publicada em 12 capítulos mensais a partir de 1985.

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Supergirl é morta em “Crise das Infinitas Terras”, na bela arte de George Perez.

Crise foi escrita por Marv Wolfman e desenhada por George Perez, dupla que trabalhava na revista dos Novos Titãs, a de maior sucesso na DC na época. Na megassaga, uma entidade cósmica chamada Antimonitor tenta destruir toda a realidade. Os heróis de várias Terras se unem para detê-lo, mas ao custo de muitos sacrifícios, como o da Supergirl e do Flash, que morrem na história, junto com muitos outros.

Criado o mote, uma realidade alterada e a condensação de todas as múltiplas Terras em uma só, a DC tratou de reformular seus personagens a apresentar novas origens.

Para se despedir da velha versão do personagem, a DC decidiu contar a sua última história. A editora convidou o criador Jerry Sielgel para a empreitada, mas o escritor recusou educadamente, assim, o trabalho foi cair nas mãos de Alan Moore. Britânico, Moore chamara a atenção alguns anos antes nos quadrinhos alternativos, em especial por V de Vingança. Na DC, escreveu as histórias do Monstro do Pântano e deixou a crítica de boca aberta; criou o mago John Constantine; e fez histórias especiais do Lanterna Verde. Em seguida, Moore lançou Watchmen, aquela que é considerada a maior de todas as histórias em quadrinhos e virou um fenômeno da indústria.

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“Action Comics 583”: última história do Superman.

Com sua caneta afiada, Moore escreveu a história What happened to the man of steel?, que funciona como a última história do Superman, publicada em duas partes nas revistas Superman 423 e Action Comics 583, as últimas pré-Crise em termos cronológicos. Na história, Superman luta contra os seus piores inimigos e enfrenta seu destino final. Um clássico absoluto e atemporal.

Em tempo: essas duas edições também marcaram a despedida do desenhista Curt Swan, depois de 40 anos de serviços prestados.

Uma Nova Era

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“Man of Steel” de John Byrne cria a nova versão do Superman.

Terminada Crise nas Infinitas Terras, em 1986, era a hora de lançar um novo Superman. E a tarefa coube a John Byrne, a maior estrela do mercado dos quadrinhos na época, vindo de revistas de sucesso como X-Men e Quarteto Fantástico. Com supervisão de Marv Wolfman como editor, Byrne escreveu a minissérie Superman: Man of Steel, que contou sua nova origem pós-Crise. A versão de Byrne humanizava o Superman, mostrando-o menos poderoso. Também acabava com o ridículo mistério em torno de sua identidade secreta: como não usava máscara, ninguém pensava que o Superman tinha uma identidade secreta, o que ajudava Clark Kent a manter o anonimato. Assim, Clark não precisava ser desastrado ou atrapalhado. Ao contrário, era um ex-jogador de futebol – o que esplicava seu corpão e seu porte – e o melhor repórter do Planeta Diário em competição com Lois Lane. Nesta versão, Clark Kent se tornava o real personagem, enquanto o Superman era apenas uma máscara.

Lois Lane se tornou uma mulher mais moderna e madura. Nada da louca casamenteira dos anos 1960: alguém que ama o Superman, mas tem sua própria identidade e moral muito alta. Lex Luthor, por sua vez, deixou de ser o “cientista louco” de sempre para se tornar um empresário corrupto, mas de “ficha limpa”, adorado pelo público, esmagando quem ouse ficar em seu caminho, mas sempre conseguindo se livrar de qualquer acusação, quando elas surgem. Mais ou menos como o Rei do Crime nas histórias do Homem-Aranha.

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O Superman de John Byrne: menos poderoso e mais humano.

Entre as decisões mais polêmicas de Byrne estava o fato de que Superman era realmente o último filho de Krypton, portanto, não existia nenhum outro kryptoniano no novo Universo DC, o que acabava com a Supergirl (ela nunca existiu nessa nova realidade), com a cidade engarrada de Kandor, com o General Zod e até com Krypto, o supercão. Também ficou estabelecido que Clark Kent só começou a agir como o Superman já adulto, não existindo, portanto, o Superboy. E entre todas as kryptonitas, apenas a verde passou a existir.

Apesar da insatisfação de alguns leitores da “velha guarda”, Man of Steel foi um grande sucesso e possibilitou ao Superman ser novamente um dos maiores sucessos do mercado. Em seguida à minissérie, Byrne assumiu as revistas Action Comics e Superman, escrevendo e desenhando ambas. Esta última, mudou o nome para Adventures of Superman, enquanto foi lançada um segundo volume de Superman, esta escrita por Byrne, mas com desenhos de Jerry Ordway.

E para estabelecer o novo universo do Superman, Byrne escreveu três especiais muito celebrados na época: The World of Krypton, The World of Smallville e The World of Metropolis, focados nos três cenários principais do personagem, com colaboradores como Mike Mignola e Dick Giordano.

Nas revistas do Superman, Byrne mostrou os primeiros encontros do Superman com Lois Lane (ainda sem seu uniforme, o herói impede que um ônibus espacial, com Lois dentro, caia em Metrópolis; ela o vê e o batiza de “Superman” no Planeta Diário; isso o obriga a agir às claras depois de um tempo agindo escondido; e por isso cria seu uniforme); Lex Luthor; e Batman. Também dá a entender que foi o surgimento do homem de aço que motivou a ascensão de todos os outros heróis.

A nova fase foi um grande sucesso e durou dois anos. Chegou a tempo de comemorar os 50 anos do herói em grande estilo, com livros e exposições especiais em sua homenagem. Inclusive, uma capa da Time Magazine, numa bela ilustração de Byrne.

Em 1988, depois de todo esse tempo praticamente dedicado ao homem de aço, Byrne deixou a DC para dar outros vôos. O sucesso do Superman era tão grande que ele ganhou uma quarta revista mensal: Superman: Man of Steel.

Morte e Ressurreição

A estranha versão de Lex Luthor II.

Com a saída de Byrne, um supertime de escritores e desenhistas se montou para cuidar das revistas do azulão. Escritores como Roger Stern e Louise Simonson; desenhistas como Butch Guice, Jon Bogdanove, Rick Leonardi, Tom Grummett; e o desenhista e escritor Dan Jurgens. Entre os eventos importantes dessa fase, estão o surgimento de novos vilões, como o Erradicador; e a aparente morte de Lex Luthor, envenenado pela radiação de um anel de kryptonita que passou a usar.

O grande momento: Clark Kent revela que é o Superman.

Só que o vilão criou um clone mais jovem de seu corpo e transferiu sua mente para ele, adotando o nome de Alexander Luthor II, como se fosse seu filho, com uma grande cabeleira e barba ruivas. Demorou um tempão até que Luthor voltasse a ser o careca de meia idade que todos conhecem.

Ocorreu também o tão esperado pedido de casamento de Clark Kent para Lois Lane, numa ocasião em que, após mais de cinco décadas, ele revela (de verdade) sua identidade secreta para a amada. Isso aconteceu porque a repórter se cansou de ir atrás do inatingível homem de aço e reparou no amigo e boa praça Clark que estave sempre ao seu lado. A história foi de Roger Stern e Bob McLoud.

Apesar de boas histórias, as vendas declinaram e medidas urgentes foram tomadas.

O agora editor Cary Bates teve a ideia de matar o Superman, a partir de uma piada de J.M. DeMatteis. Assim, em 1992, se iniciou a saga A Morte do Superman, em Man of Steel 18, se extendendo às outras três revistas do herói e mais a revista da Liga da Justiça (que também era escrita e desenhada por Dan Jurgens, que cuidava de Superman).

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Superman combate Apocalypse na arte de Dan Jurgens.

Na saga, um monstro misterioso e indestrutível apelidado de Doomsday (Apocalypse, no Brasil) surge do nada e sai destruindo tudo em seu caminho. A Liga da Justiça tenta impedir, mas o monstro é tão poderoso que, literalmente, derrota a equipe com uma mão amarrada às costas. O Superman saí atrás do bicho e sua luta atravessa todo o país até culminar em Metrópolis. Ali, já muito debilitado, o Superman consegue matar o monstro, mas também morre. O grande evento ocorre em Superman 75, de 1992, produzida por Jurgens e causou um grande impacto na mídia, sendo noticiado no mundo todo o fim do maior dos heróis.

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Os quatro supermen: Superciborgue, Aço, Superboy e Superman de óculos.

Claro que todos sabiam que ele ia voltar, só não como. Depois do arco Funeral para um Amigo, onde ocorre o funeral e as homenagens ao homem de aço, iniciou-se O Retorno do Superman. Mas não do Superman, e sim, de quatro Supermen. Quatro seres poderosos aparecem reclamando ser o Superman de um jeito ou de outro: um Superman de óculos, frio e calculista; um Ciborgue sem memória; um americano afrodescendente usando uma armadura especial, chamado Aço, que parecia ter incorporado o espírito do herói; e um Superboy, um garoto rebelde que dizia ser um clone do verdadeiro.

O Superboy dos anos 1990 fez bastante sucesso.

Uma grande trama se arma e Lois Lane descobre que o Superman de óculos é o Erradicador e o Superciborgue é um vilão que quer transformar a Terra em um tipo de mundociborgue, o que faz com que os outros Supermen se aliem contra ele, inclusive o Erradicador, que se torna um tipo de herói violento.

O conjunto de histórias da morte e da ressurreição cumpriram aos seus dois propósitos: foram um grande sucesso e contaram boas histórias. O Superman voltou aos holofotes e o novo Superboy ganhou uma revista de sucesso, escrita por Karl Kesel e desenhada por Tom Grummett, que duraria 52 edições.

Na TV de novo

Superman volta às telinhas com “Lois & Clark”.

O início dos anos 1990 ficou marcado pela volta do Superman à TV em grande estilo: em 1993, em meio ao recém-readquirido sucesso nos quadrinhos, estreava Lois & Clark – As Novas Aventuras do Superman. Criando uma versão moderna e sexie da relação entre o casal de repórteres, a série foi um grande sucesso, transformando Dean Cain e Teri Hatcher em estrelas. A maior inovação da série foi tirar a tônica do homem de aço – e da ação e dos caros efeitos especiais – para a relação por vezes cômica entre Lois e Clark, o que agradou bastante o público não acostumado com os quadrinhos.

O sucesso se manteve por três temporadas, mas na quarta, o casamento de Lois e Clark terminou minando o interesse do público e, curiosamente, levou ao fim da série.

Fase estranha

A Liga da Justiça de Grant Morrison foi um grande sucesso de público e crítica.

Em 1996, as revistas do Superman ainda estavam em alta e ele também experimentou o sucesso na nova revista da Liga da Justiça: JLA, produzida por uma longa colaboração entre o aclamado escritor Grant Morrison e o desenhista Howard Potter. Foram quatro anos de deleite dos fãs. Nos primeiros arcos, a dupla inovou ao usar os “sete maiores” da DC juntos pela primeira vez desde os anos 1980 – pois a cronologia pós-Crise tinha privilegiado formações mais distintas. Agora, estavam de volta Superman e Batman, juntos a Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, Flash, Aquaman e o Caçador de Marte. Depois, novos membros foram sendo agregados, principalmente aqueles personagens do Quarto Mundo de Jack Kirby, como Orion, Grande Barda e Sr. Milagre.

Após a saída o escritor, em 2000, outros bons escritores deram sequência, como Mark Waid e Karl Kesel, mas a popularidade da revista da equipe caiu.

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O casamento de Lois e Clark em 1998: marco histórico.

Enquanto isso, um dos frutos de Lois & Clark foi o casamento do Superman. Em 1996, a DC decidiu retomar a história interrompida pela saga da Morte e uniu definitivamente Clark Kent e Lois Lane. O enlace matrimonial ocorreu com estardalhaço na revista especial Superman: The Wedding Album, com os cinco escritores do momento do homem de aço – Dan Jurgens, Roger Stern, Louise Simonson, Karl Kesel e David Michelinie, e com nada menos do que 30 desenhistas, dentre os quais, os clássicos Curt Swan e Gil Kane, o modernizador John Byrne e outros mais recentes, como George Perez, Ron Frenz e o fantástico Stuart Immonen. A capa era dupla e trazia uma frente branca com o símbolo do Superman e uma figura interna desenhada por Byrne. Na história quem os casa é um pastor com o rosto de Jerry Siegel, que infelizmente, morreu naquele mesmo ano.

Dois supermen: péssima ideia.

Em seguida, as revistas do Superman viviam momentos de estranheza. Querendo “experimentar”, a DC criou algumas bizarrices, a maior delas dividir o Superman em duas entidades, uma vermelha, outra azul, devido a um acidente mal-explicado. Os fãs reagiram negativamente e, em 1998, o Superman voltou ao natural para comemorar os seus 60 anos. Para marcar o retorno, foi lançada uma revista especial Superman Forever, com vários escritores e desenhistas e uma capa emblemática de Alex Ross.

Também para comemorar o aniversário, a DC lançou a minissérie Superman: As Quatro Estações, que retrata quatro tempos diferentes da vida do herói, em uma abordagem humana e reflexiva, escrita por Jeph Loeb e desenhada por Tim Sale (mesma dupla de Batman: O Longo Dia das Bruxas). Um clássico.

Na TV Mais Uma Vez

Smallville: explorando a relação entre Clark Kent e Lex Luthor.

O Superman não ficou muito tempo longe das TVs. Pouco tempo após o fim de Lois & Clark, em 1997, o herói voltou com tudo às telinhas. A Warner queria, inicialmente, fazer uma série de TV que explorasse a vida do jovem Bruce Wayne antes dele se tornar o Batman, mas com os planos de uma nova franquia do homem morcego para os cinemas, o estúdio mudou de ideia e colocou o Superman na mesma posição. Para desenvolver o projeto, foi convocada a dupla Alfred Gough e Miles Millar, que criaram um programa que mostraria a adolescência de Clark Kent com uma regra: no suits, no flying, ou seja, sem uniformes e sem vôos.

A série começou menos fantasiosa…

A explicação era criar um universo mais crível e moderno ao mesmo tempo em que explorava as motivações do jovem fazendeiro em se tornar o maior herói da Terra. O nome da série seria o da cidade onde rapaz cresce: Smallville. Com elenco puxado por jovens nomes – Tom Welling (Clark Kent), Kristin Kreuk (Lana Lang) e Michael Rosenbaum (Lex Luthor) – Smallville teve seu Episódio Piloto exibido em 2001 e fez tanto sucesso que marcou um recorde: oito milhões de expectadores!

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A Liga da Justiça de Smallville, com Bart Allen à esquerda.

A serie se desenvolveu explorando as personalidades de Clark e Lex, que vão lentamente de amigos a inimigos, aprofundando muito a psiquê do vilão, criando talvez a sua melhor versão entre todas. Inicialmente de natureza mais realista (apenas fantasiosa), lentamente, a série foi acrescentando elementos do universo do Superman, como Jor-El, a Fortaleza da Solidão, outros heróis da DC (Flash, Aquaman, Arqueiro Verde) e até a formação da Liga da Justiça. Na reta final, vilões como Brainiac, Doomsday/Apocalypse, General Zod e até Darkseid apareceram. Isso tudo antes de Clark Kent colocar seu uniforme de Sueprman! Lois Lane também foi introduzida bem cedo, na quarta temporada.

Embora muitos achem que Smallville perdeu a força com o passar dos anos, a série teve 10 temporadas até se encerrar em maio de 2011, sendo a mais longeva série de ficção científica da história da TV norteamericana. (Leia os melhores momentos da série aqui e compare os personagens principais com os quadrinhos aqui).

Trazendo Elementos Clássicos de Volta

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John Byrne volta aos desenhos, com texto de Gail Simone.

Com o início dos anos 2000, as histórias do Superman sofreram outra queda de interesse. Desde então, o personagem só ganha relevância de mercado pontualmente. Ainda assim, vale nota a fase escrita por Karl Kesel, que lidou com vários desafios éticos. A escritora Gail Simone também produziu histórias interessantes em que John Byrne atuou “apenas” como desenhista, na revista Action Comics.

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Superman vs. Brainiac na arte do brasileiro Ed Benes.

Já em Superman, houve uma boa fase escrita por Mark Verheiden (um dos roteiristas de Smallville) e com desenhos do brasileiro Ed Benes, que se tornou um dos grande nomes da editora.

Lex Luthor vira Presidente dos EUA.

Também alguns eventos importantes ocorreram na época, como a eleição de Lex Luthor como Presidente dos Estados Unidos, numa sacada ousada e interessante da DC. Também funcionava como uma crítica à Era Bush. Muitas boas histórias foram contadas em torno disso.

Além disso, a DC decidiu resgatar vários dos elementos pré-Crise eliminados na reformulação de John Byrne. Por exemplo, Krypto, o supercão, foi reintroduzido em 2001, em Superman (vol 2) 167, numa história da dupla Jeph Loeb e Ed McGuiness.

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Legado das Estrelas reconta a origem do Superman para os anos 2000.

Um dos marcos dessa virada foi a maxissérie Superman: Birthright (Legado das Estrelas, no Brasil), publicado em 12 partes entre 2002 e 2003, escrito por Mark Waid e desenhado por Leinil Francis Yu. A história até tenta não “atropelar” a Byrne, mas traz várias modificações, como reintroduzir a amizade juvenil entre Clark Kent e Lex Luthor; uma explicação para o fato do Superman não usar máscara; e mostra Clark como um jovem repórter viajando pelo mundo em busca de conhecê-lo e, secretamente, ajudar as pessoas com suas habilidades, antes de se tornar o Superman, propriamente dito.

Era uma forma da DC se aproximar da série de TV Smallville, que fazia um grande sucesso na época.

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All-Star Superman: para muitos a melhor história das últimas décadas.

Também foi um marco da volta dos elementos pré-Crise a maxissérie All-Star Superman, escrita por Grant Morrison e desenhada por Frank Quitely, com a publicação iniciada em 2005. A proposta da série All-Star era criar histórias icônicas de personagens icônicos. As tramas seriam à parte da cronologia e deveriam focar na essência dos personagens. Nisto, Morrison e Quitely acertaram em cheio. Os 12 capítulos são um deleite ao leitor, mostrando uma história ao mesmo tempo complexa (pois brinca com centenas de referências às Eras de Prata e Bronze) e simples (a linha principal da trama), em que o Lex Luthor consegue superexpor o Superman ao sol, no que resulta em sua morte lenta. Ao perceber que vai morrer, o homem de aço se autodetermina a uma série de atividades que quer realizar antes de partir, o que é pretexto para uma bela história.

Os críticos afirmam que é a melhor história do Superman em décadas e, definitivamente, é um clássico moderno. Mais tarde, foi adaptada como um longametragem animado de mesmo título muito interessante.

As várias versões da Supergirl na arte de Ed Benes.

A linha All-Star, entretanto, não emplacou. Um volume do Batman chegou a ser publicado com roteiros de Frank Miller e desenhos de Jim Lee, mas sequer foi terminado. Um outro da Mulher-Maravilha foi anunciado, mas nunca iniciado.

A nova Supergirl de Loeb e Turner.

A Supergirl foi outro elemento trazido de volta do pré-Crise. Ao longo dos anos, surgiram várias versões da heroína, mas nenhuma emplacava até que, no segundo arco da revista Superman/Batman, em 2004, o escritor Jeph Loeb e o desenhista Michael Turner criaram uma história que, mais ou menos, adaptava a mesma premissa da Era de Prata: o Batman encontra uma nave kryptoniana no mar e dentro dela uma garota que, depois o Superman descobre, é Kara Zor-El, sua prima. O vilão Darkseid, então, tenta pervertê-la, mas a dupla de heróis consegue impedir. Esta história foi adaptada, mais tarde, como um longametragem animado chamado Superman & Batman – Apocalipse.

Superman e Batman passam a dividir uma revista de sucesso.

Falando em Superman/Batman foi uma nova revista criada pela DC em 2003 para reprisar os encontros entre seus maiores heróis, tal qual em World’s Finest. O primeiro arco, escrito por Jeph Loeb e desenhado por Ed McGuiness, mostrava a dupla tirando Lex Luthor da Presidência dos EUA. Esta história também foi adaptada como longametragem de animação em Superman & Batman – Inimigos Públicos.

O Retorno ao Cinema

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Nicolas Cage quase foi o Superman…

Falando em filmes, o Superman demorou quase 20 anos para voltar às telas do cinema. Depois do fracasso de Superman IV, a Warner deixou o azulão de lado e promoveu uma bensucedida franquia do Batman, que lançou dois grandes filmes – Batman – O Filme (1989) e Batman – O Retorno (1992), ambos de Tim Burton – e dois grandes fiascos – Batman Eternamente (1995) e Batman & Robin (1997), ambos de Joel Schumacher.

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… e usaria isso.

Apesar do homem de aço frequentar bem as telinhas da TV, como já vimos, sua trajetória aos cinemas foi bem mais árdua. No início dos anos 1990, motivada pelo sucesso de Lois & Clark, a Warner retomou a ideia de um filme do Superman. Um roteiro foi feito e terminou caindo nas mãos do diretor Kevin Smith, conhecido nerd que mais tarde faria também quadrinhos de sucesso. Como era uma porcaria total, Smith terminou conseguindo convencer os executivos do estúdio em produzir um novo texto. O projeto seria Superman Lives e adaptaria o arco da morte e do retorno do Superman.

Contudo, o produtor Jon Peters, que tinha cuidado do Batman, interferiu no projeto e acabou impondo uma série de mudanças, como o fato do herói não voar, uma aranha mecânica gigante e um cachorro falante alienígena e gay. (Isso mesmo, não é brincadeira!). O vilão principal seria Brainiac e o astro (pelo menos na época) Nicolas Cage era o grande chamariz do projeto e faria o homem de aço. Então, por volta de 1996, a Warner decidiu contratar o diretor Tim Burton, que havia saído da franquia do Batman.

Superman e Batman no fanfilm.

Burton demitiu Kevin Smith, colocou outro roteirista e impôs sua visão: o Superman continuaria sem voar, usaria uma roupa preta e carro possante. Isso lembra alguém? Contudo, os conflitos criativos se agravaram e (graças a Rao) o filme não foi para frente. Por volta de 1998, surgiu um projeto ainda mais ousado: Superman versus Batman, já que a franquia do homem-morcego também tinha afundado. Essa ideia foi levada à sério durante algum tempo e o filme, que chegou a ser chamado também de World’s Finest terminou não acontecendo. Mas um grupo de fãs do herói fez um fanfilm (produções amadoras e não-oficiais) com os dois heróis que foi um hit na internet.

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… ao mesmo tempo de “Superman – O Retorno” e não conectados.

Então, o projeto voltou os olhos de novo à ideia de Superman Lives e, em 2004, com a entrada do diretor Bryan Singer (de Os Supeitos e os filmes dos X-Men), se transformou em Superman – O Retorno, lançado em 2006, com Brandon Routh (Clark Kent), Kate Bosworth (Lois Lane) e Kevin Spacey (Lex Luthor). Singer investiu em um projeto um pouco mais intimista, sem grandes cenas de ação, e totalmente voltado a homenagear os antigos filmes de Richard Donner e Christopher Reeve. Em termos plásticos, um ótimo filme, que teve a proeza de trazer até Marlon Brando de volta como Jor-El – por meio de um efeito especial e gravações da voz do ator falecido em 2004 – porém, carente de ação e intensidade que provocassem o público moderno.

Resultado: arrecadou apenas 400 milhões de dólares nas bilheterias e desmotivou a Warner a dar prosseguimento à franquia. Em paralelo, a franquia do homem morcego virara um fenômeno de crítica e público.

A Warner cogitou fazer um filme da Liga da Justiça, mas cancelou o projeto às vésperas de ser filmado, em 2008, com os atores contratados, cenários montados e figurino pronto. O movito era o medo de chocá-lo com os filmes de Batman, que faziam tanto sucesso. No longa da equipe Superman e Batman seriam vividos por outros atores que não Brandon Routh e Christian Bale, mas os mais jovens, D.J. Corona e Armie Hammer, respectivamente.

Novas Grandes Mudanças

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O Superman da Terra 2 vs. o Superman da Terra 1 na sólida arte de George Perez.

A segunda metade da década de 2000 foi repleta de mudanças e grandes arcos para o Superman, embora as vendas tenham oscilado. De fato, os escritores continuaram a empreitada de trazer de volta muitos dos elementos pré-Crise.

Na maxissaga Crise Infinita, de 2006, escrita por Geoff Johns e desenhada por Phil Phimenez, uma espécie de sequência da primeira Crise, o status de herói e inspiração do Superman é testado, inclusive na clássica cena em que o homem de aço discute com o Batman, que diz que ele não inspira ninguém desde que esteve morto.

Liga da JUstiça - Crise Infinita - Batman diz que Superman não inspira mais ninguém
Batman diz que a última vez em que o Superman inspirou alguém foi quando esteve morto. Texto de Geoff Johns e arte de Phil Jimenez.

Usando isso como mote, Johns coloca duas velhas versões do Superman – o da Terra 2 e o Superboy extinto – como personagens da saga. Ao final da primeira Crise, ambos ficaram presos em um limbo para além do tempo e do espaço, mas agora estavam de volta. Só que o Superboy Prime – para diferenciá-lo do Superboy clone, agora chamado, Connor Kent – quer remodelar a realidade à sua vontade e termina se transformando em um perigoso supervilão, que mata o Superman da Terra 2.

O nosso Superman quase não sobrevive ao confronto, mas mata sua versão juvenil e maligna, mas ao custo de seus poderes. O herói passa um ano afastado – cronologicamente – e retorna somente após a volta de sua força.

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A bela arte de Adam Kubert em “Last Son”.

Em seguida, o mesmo Geoff Johns une-se a Richard Donner (isso mesmo, o diretor de Superman – O Filme) para escrever um arco de histórias do personagem, The Last Son, belamente ilustradas por Adam Kubert. A partir de Action Comics 844 tem-se uma boa história em que o Superman encontra uma criança com seus mesmos poderes, um filho do General Zod com Ursa, concebido na Zona Fantasma como estratégia de libertar os criminosos lá trancafiados.

Johns se tornou o principal articulista das histórias do Superman e promoveu uma série de arcos em consequência deste, que introduziu uma moderna versão do General Zod, antigo vilão do Superman da Era de Prata e Bronze (mundialmente famoso pelo filme Superman II – A Aventura Continua) que foi “extinto” no pós-Crise. Em Novo Krypton, a cidade engarrafada de Kandor ganha uma nova versão e é liberta; o que deixa 100 mil supermen na Terra.

Espelhando-se nas histórias da Era de Bronze, Johns e outros escritores

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Superman versus Zod na arte do brasileiro Eddy Barrows.

colocam o Superman para alocar seus conterrâneos em um planeta com órbita oposta à nossa. Mas depois, em A Guerra dos Supermen, as maquinações de Zod, Luthor e do General Sam Lane (o pai de Lois), eclode uma guerra entre Novo Krypton e a Terra, que tem como resultado, a morte de praticamente todos os kryptonianos – cortesia de Luthor – e o estabelecimento de Zod como talvez o maior inimigo moderno do homem de aço.

Em meio a esse cenário, a revista Action Comics completou a histórica marca de 900 edições publicadas desde 1938.

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Painel com as capas de Origem Secreta, por Gary Frank.

Ao mesmo tempo, Geoff Johns também modificou mais uma vez a origem do herói. Na minissérie Origem Secreta, de 2010, escrita por ele e desenhada por Gary Frank, além de se estabelecer o herói com o rosto do ator Christopher Reeve, mostra-se uma origem que toma elementos de Legado das Estrelas, mas é muito mais explícita em reintroduzir a Era de Prata, colocando Clark Kent para ser amigo de Lex Luthor ainda adolescente; agir como Superboy (com uniforme e tudo); encontrar a Legião dos Super-Heróis; enfrentar um complô comandado por Luthor e o General Lane… e no caminho, mesclar elementos dos filmes e de Smallville.

O Reboot (ou The New 52)

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O novo uniforme Superman, por Jim Lee.

A nova origem durou pouco. Em 2011, o mesmo Geoff Johns se tornou o Diretor Criativo da DC Entertainment – o cargo criativo mais alto do conglomerado DC – e articulou um total reboot cronológico e editorial de seus personagens.

Enquanto Batman e Lanterna Verde sofreram poucas alterações, porque suas revistas estão entre as mais vendidas do mercado, o homem de aço sofreu transformações profundas. Ficou estabelecido que a palavra “super-herói” não existia até o surgimento do Superman e, que antes, os pouquíssimos seres metahumanos que tenham aparecido eram vistos com extrema descofiança, temidos e odiados. O Batman é um veterano, já agindo alguns anos antes, mas definitivamente, ninguém pensa nele como um “super-herói”, mas como uma lenda urbana ou um terrorista. Quando o Superman se revela em toda a sua glória, o público ainda demora um tempo para se acostumar com ele até ganhar sua confiança.

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O jovem Superman no início de carreira dos Novos 52: sem uniforme. Arte de Rags Morales.

Esse novo contexto é apresentado, no que concerne ao homem de aço, em três revistas. Em Action Comics, Grant Morrison e Rags Morales mostram exatamente o início da carreira de Clark Kent como Superman, antes mesmo de adotar seu uniforme (que agora é uma armadura kryptoniana), há mais de cinco anos atrás. É mostrado ainda como um jovem impulsivo e intempestivo, refletindo de certo modo a primeira versão de Jerry Siegel e Joe Shuster no fim dos anos 1930. Esta se tornou uma das revistas de maior sucesso da empreitada da DC, a terceira mais vendida de 2011, atrás apenas da Liga da Justiça e do Batman.

Na revista da Liga da Justiça, escrita pelo próprio Geoff Johns e com desenhos da estrela Jim Lee (agora, também Co-Publisher da DC), é mostrada uma fase de transição, há cinco anos atrás, em que o Superman já usa seu uniforme, mas ainda é intempestivo e não tem total confiança da população. Ao mesmo tempo, ele se une pela primeira vez com outros heróis do Universo DC, como Batman e Lanterna Verde. O inimigo a ser combatido é Darkseid.

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Lois e Clark: sem casamento e mais frio.

E, por fim, em Superman, é mostrado o “presente”, na qual o Superman já está mais próximo do herói que conhecemos, mas Clark vive meio melancólico e isolado, enquanto Lois Lane é uma editora dentro do conglomerado Galaxy que controla o Planeta Diário e não dá nenhuma bola para o repórter de óculos. O casamento entre os dois foi, obviamente, apagado da existência. O primeiro arco foi escrito por George Perez e desenhado por Jesus Merino, mas como não agradou muito o público, o próximo terá roteiros de Dan Jurgens.

Os números iniciais do reboot foram um grande sucesso comercial.

O Universo DC nos Cinemas

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Henry Cavill como Superman.

Foi preciso algum tempo para que a franquia cinematográfica do personagem fosse retomada de verdade, com Superman – O Homem de Aço, estrelado pelo britânico Henry Cavill e dirigido por Zack Snyder (de 300 e Watchmen), com uma história criada por Christopher Nolan e David S. Goyer, a mesma dupla dos filmes do homem morcego. A estreia foi em 2013, quando o herói fez 75 anos, mas não agradou a maioria do público.

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Clark Kent “antes da fama”: jornada do herói.
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Jonathan Kent e Clark adolescente: boas bases para a formação moral do herói.

O filme se inspira na história Terra 1 de J.M. Strawcziski e Shane Davis, lançada em 2010 com uma abordagem mais moderna da origem do Superman. O 1º Ato do filme é maravilhoso: após um longo prelúdio em Krypton (com Russell Crowe como Jor-El) na qual é recontada a história do pai do Superman previndo o fim do planeta e a rebelião liderada pelo General Zod; pula-se a infância e adolescência de Clark Kent para mostrá-lo como um jovem perdido no mundo; indo de um lugar ao outro, sem saber muito bem o que fazer, ajudando como pode, mas mantendo o anonimato e sumindo sempre que necessário. É por meio de flashbacks que vemos um pouco de como chegou ali – cenas na infância descobrindo os poderes, a frustração na adolescência por não poder usá-los ao mesmo tempo em que sofre bullying, e claro, a morte do pai, Jonathan Kent (Kevin Costner), apenas para manter seu segredo – que criam uma grande profundidade e densidade ao seu personagem.

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O quarteto de vilões kryptonianos: muita porrada!

Mas os dois Atos seguintes são acelerados demais, com Zod e seu time chegando à Terra querendo roubar o código genético de Krypton que Jor-El havia escondido no corpo do filho; e Clark sendo obrigado a se revelar ao mundo para combatê-los. Usando uma típica roupa kryptoniana, Kal-El saí à luta e é chamado de Superman pelas pessoas.

Contudo, para espantar o risco de ter um novo Superman – O Retorno nas mãos, Zack Snyder exagerou demais na ação. A luta final entre Superman e Zod dura quase 20 minutos e já chega tão tarde na história – após várias e várias batalhas diferentes já travadas – que o expectador já está cansado disso tudo quando apenas começa. O filme foi muito criticado pela falta de zelo do diretor em mostrar uma batalha simplesmente pulverizando uma megalópole, ainda mais quando quem é o herói é o Superman, conhecido pelo cuidado com o outro, com o inocente.

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O vilão Zod.

E para piorar, no fim, sem ter como parar Zod, o Superman decide tirar a vida de seu inimigo, quebrando o pescoço dele. Por mais que a cena faça sentido dentro da história e tenha sido bem realizada – dando ênfase no desespero do herói ao ter que tomar tal decisão – grande parte do público e da crítica não engoliu o ato, achando-o fora de tom para o personagem.

Como resultado, O Homem de Aço fez mais de 600 milhões nas bilheterias, mas a Warner esperava muito mais.

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Superman versus Batman.

Incertos do futuro, em vez de produzir um Homem de Aço 2 e ter resultados duvidosos de novo, os executivos da Warner decidiram arriscar na retomada do velho projeto de 15 anos de unir o homem de aço e o cavaleiro das trevas no cinema. Aproveitando que a Trilogia Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan havia sido encerrada em 2012, o estúdio investiu em Batman vs. Superman – A Origem da Justiça, que serve como sequência para o Homem de Aço, e estreou em 2016.

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A Origem da Justiça.

Novamente dirigido por Zack Snyder e estrelado por Henry Cavill, BVS ganhou a adesão do roteirista Chris Terrio (que ganhara o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por Argo) e surpreendeu todo mundo ao escalar o ator Ben Affleck (de 42 anos!) para viver Bruce Wayne. A trama fazia sentido: Batman estava em ação há 20 anos, mas num mundo de poucas manifestações sobrenaturais, até o Superman aparecer e destruir metade da cidade de Metropolis (no filme, retomando a ambiência da Era de Ouro dos Quadrinhos, estabelecida como uma vizinha de Gotham City, com as duas separadas apenas por uma larga baía). Furioso das vidas perdidas e acreditando que o kryptoniano é uma ameaça, o Batman termina sendo manipulado por Lex Luthor (retratado como um jovem louco e excêntrico) para sair numa briga contra o Superman.

A despeito das suspeitas iniciais, a versão mais madura, calejada, cínica e extremamente eficiente do Batman de Ben Affleck é a melhor coisa do filme e o público adorou!

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Ben Affleck como Batman em duas versões: tradicional…
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… e com a armadura para enfrentar o Superman.

Era uma desculpa para usar o design, as ideias e um pouco da ambiência de Batman: O Cavaleiro das Trevas, a lendária história de Frank Miller de 1986.

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A Origem da Justiça reuniu Superman, Mulher-Maravilha e Batman.

Mas Luthor também formula um Plano B, que é usar o corpo do General Zod para criar uma abominação genética monstruosa e praticamente de poderes ilimitados (uma versão de Apocalipse ou Doomsday, que nunca ganha esse nome no filme). Superman e Batman percebem que foram manipulados e se unem contra a criatura, mas só conseguem vencer com a ajuda da misteriosa Mulher-Maravilha, que aparece no meio do conflito. Luthor vinha investigando os metahumanos que vivem na Terra e descobriu a existência dela. Batman investiga as ações do empresário louco e a conhece antes de Diana Prince revelar ser tão poderosa.

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Apocalipse ganha sua versão nos cinemas.

No fim, Superman ganha a luta ao sacrificar sua própria vida, com o 3º Ato do filme adaptando ligeiramente A Morte do Superman.

A despeito da grande curiosidade gerada no grande público, Batman vs. Superman não foi um sucesso estupendo. Arrecadou US$ 800 milhões, o que é um volume enorme, um grande sucesso, mas todos sabem que a Warner esperava atingir 1 Bilhão nas bilheterias, tal qual os filmes do Batman de Nolan. Porém, o público parece não conseguir se relacionar com o tom pesado, denso, carregado e escuro criado pelos filmes Zack Snyder.

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Superman é um mero coadjuvante no filme.

Além disso, A Origem da Justiça tem três graves problemas: primeiro, é muito mais um filme do Batman do que do Superman, que na versão dos cinemas nunca tem tanta relevância na história quanto o “amigo”; segundo, que é prematuro demais matar o homem de aço em seu segundo filme, o que tira muito do peso e da dramaticidade do ato (sem contar que, com sua participação menor e carrancuda no filme, esse efeito vai quase a zero); terceiro, ao apresentar a Mulher-Maravilha no Ato final, torna inócua a ideia de um filme da Liga da Justiça.

Para piorar tudo, a concorrência Marvel Studios vinha em paralelo arrasando o tempo todo em seus filmes: entre 2012 e 2016, Os Vingadores, Homem de Ferro 3 e Capitão América – Guerra Civil  ultrapassaram o 1 Bilhão nas bilheterias; com Os Vingadores tirando da Liga da Justiça a oportunidade de ser a primeira equipe de super-heróis a ser apresentada de verdade nos cinemas; e Guerra Civil tirando a primazia de Batman vs. Superman de ser o primeiro grande duelo entre os principais heróis de um universo. A DC chegou tarde e comeu poeira.

Os filmes seguintes da DC foram desiguais: Esquadrão Suicida desagradou o público com um roteiro sem graça, uma edição bagunçada e o desperdício completo do Coringa; tendo de positivo a apresentação da Arlequina de Margot Robbie e o Pistoleiro de Will Smith; e Mulher-Maravilha foi um grande sucesso, com uma história leve, de época (se passa na I Guerra Mundial) apresentando as origens da Princesa Amazona.

justice league movie banner with superman (bustes)Veio então Liga da Justiça, que desde a campanha de marketing NÃO conseguiu cativar o público. A situação foi ainda pior: Zack Snyder no comando de novo, foi demitido porque os executivos predisseram um fracasso; Joss Whedon (diretor de Os Vingadores) foi chamado às pressas para reescrever e refilmar o longa, porém, na iminência de um fracasso e com a data de estreia muito próxima, o estúdio teve a atitude suicida de manter a data de novembro de 2017 e deixar Whedon comandar seis semanas de refilmagem (tempo suficiente para gravar um filme de médio porte), porém, realizadas entre agosto e setembro, há meros dois meses (!!!!!) do lançamento.

O resultado é um filme que mistura desequilibradamente as características díspares de Snyder e Whedon (a direção continuou creditada ao primeiro e o segundo ganhou o crédito de roteirista), mas não consegue se resolver em termos de história – praticamente não há uma, apenas a interação de personagens reagindo a situações (o que até funciona em termos gerais), além de efeitos especiais em sua maioria ruins.

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O (de)efeito especial do bigode de Cavill.

Ficou lendária – e é uma mancha à reputação da Warner, da DC e do Superman – o tremendo azar de Henry Cavilll estar filmando Missão Impossível 6 durante o momento em que ocorreram as refilmagens de Liga da Justiça e naquele filme, interpreta um vilão com bigode (e com um contrato que o impedia de tirá-lo!). Como o roteiro de Whedon recomendava que TODAS as cenas do Superman fossem refeitas, a solução foi encobrir o bigode de Cavill por meio de computação gráfica.

Até aí, nada demais, o cinema de ação vive fazendo isso: Scarlett Johansson gravou Vingadores – Era de Ultron (também de Whedon) estando grávida de já alguns meses, um barrigão, e a Marvel simplesmente apagou a barriga na pós-produção, algo que é imperceptível no resultado final. Mas ou a Warner não sabe fazer ou foram enganados pela empresa: o efeito sobre o rosto de Cavill ficou simplesmente horroroso! Parece um filme caseiro. Foi motivo de piada e não ajudou a bilheteria.

No fim das contas, Liga da Justiça arrecadou apenas US$ 200 milhões nos EUA e no mundo chegou a somente 600 milhões, sendo a menor bilheteria do Universo DC, o que resultou nas demissões dos CEOs da Warner e da DC Films! Os estúdios foram reformulados, mas afora o filme solo do Aquaman – que sai no fim de 2018 – no momento não está muito certo qual o futuro do homem de aço e da Liga da Justiça nos cinemas.

Se é que vai haver um futuro.