Superman: garantido para a Warner.
Superman: garantido para a Warner.

Desde 2008, corre nos tribunais dos Estados Unidos um ruidoso processo judicial envolvendo a disputa pelos direitos autorais do Superman, o maior de todos os super-heróis, entre os herdeiros do criador do personagem, Jerry Siegel, e a editora DC Comics, que publica as histórias do herói desde sempre e pertence ao conglomerado Warner Bros. Hoje, a Nona Rodada da Corte de Apelação deu ganho de causa à Warner.

No processo, os herdeiros de Jerry Siegel – escritor falecido em 1996 – representados por sua filha, Joanne Siegel Larson, reclamavam que a criação do Superman se deu antes da firmação de um contrato entre o criador e a DC Comics, de modo que o personagem não se enquadra na característica da lei de “trabalho sob encomenda” que protegeria a editora.

Jerry Siegel nos anos 1970.
Jerry Siegel nos anos 1970.

Em rodadas anteriores, chegou-se a dar à família Siegel parte dos direitos autorais sobre a aparência do personagem (seu uniforme, o símbolo do “s”) e de sua origem, que aparece já em Action Comics 01, revista de 1938 que publicou a primeira aventura do Superman. Isso porque todo esse material já existia quando Siegel e o desenhista Joe Shuster foram contratados pela DC Comics. Neste sentido, a família Siegel poderia produzir um filme de origem do Superman, por exemplo, sem ter que pagar nada à Warner por isso. A decisão de hoje, contudo, parece revogar isso.

No entanto, o resultado de hoje dá ganho à Warner alegando que, em 2001, a família Siegel fez um acordo com a empresa cedendo os direitos do Superman em troca de uma indenização milionária.

O conglomerado Warner/DC divulgou um comunicado oficial conciso celebrando o veredito:

A decisão de hoje justifica a posição de longa data da DC Comics de que entrou em um acordo vinculativo com a família de Jerry Siegel em 2001. A decisão do Tribunal abre caminho para os Siegel, finalmente, receberem a compensação que negociaram e que a DC está pronta para pagar há mais de uma década. Estamos extremamente satisfeitos que as aventuras do Superman possam continuar a ser apreciadas em todas as plataformas de mídia em todo o mundo para as gerações vindouras.

Superman:novo filme chegou a ficar ameaçado pelo processo.
Superman:novo filme chegou a ficar ameaçado pelo processo.

Com a decisão, a Warner está desimpedida para continuar explorando o Superman em todas as mídias, inclusive, no cinema. Um novo filme do herói, Superman – O Homem de Aço, estreia em junho deste ano.

É bem provável que a família Siegel recorra da decisão, mas analistas consideram, agora, a causa ganha para a Warner.

Jerry Siegel na época das primeiras histórias do Superman, no fim dos anos 1930.
Jerry Siegel na época das primeiras histórias do Superman, no fim dos anos 1930.

Jerry Siegel nasceu em 1914 em Cleveland, Ohio, nos Estados Unidos, filho de imigrantes judeus da Lituânia. Desde cedo trabalhou em empregos temporários, como vendedor de jornais, e desenvolveu o gosto pela escrita. Ainda na escola, contribuiu com sucesso para o jornal escolar, chamado The Torch. Foi no colégio que conheceu o amigo e desenhista Joe Shuster, com que criaria o Superman pouco tempo depois.

Ainda bem cedo, Siegel e Shuster passaram a produzir histórias de ficção científica para fanzines e revistas pulp, sendo contratados pela editoral National Periodicals – a futura DC Comics – já em 1935, produzindo suas primeiras histórias em quadrinhos, com Henri Duval, no estilo de mosqueteiros, e o personagem místico Dr. Oculto. Mas seu primeiro sucesso mesmo foi o detetive Slam Bradley, que estreou em 1937 na revista Detective Comics 01 (a mesma publicação que dois anos depois traria a primeira história do Batman).

Siegel (em pé) e Shuster trabalham no Superman, nos anos 1940.
Siegel (em pé) e Shuster trabalham no Superman, nos anos 1940.

A mais proeminente criação da dupla, o Superman, estrearia no número 01 da revista Action Comics em 1938 e foi um sucesso imediato. Siegel e Shuster, contudo, seguindo a tradição da época, venderam o personagem para a DC Comics, o que lhes daria muita dor de cabeça no futuro. Siegel foi o principal escritor das histórias do Superman em seus primeiros anos e definiu a maior parte do universo canônico do personagem, mas em 1946, com o fim de seu contrato com a DC, moveu um processo contra a editora para reaver os direitos que venderam e foi demitido. Além disso, Siegel havia apresentado o projeto do personagem Superboy à DC, que se negou a publicá-lo, mas o fez após sua demissão, o que valeu outro processo judicial.

Ao longo dos anos 1950, Siegel viveu uma fase muito difícil, fazendo trabalhos para pequenas editoras até voltar às histórias do Superman em 1959. O escritor foi um dos arquitetos da versão da Era de Prata do herói, numa série de reformulações, além de também ter escrito importantes histórias do Superboy (versão adolescente do herói) e da Supergirl.

Siegel e Shuster nos anos 1980.
Siegel e Shuster nos anos 1980.

Com a diminuição do trabalho com a DC no início dos anos 1960, Siegel foi para a Marvel Comics, onde assinou suas histórias como Joe Carter e produziu histórias do Tocha Humana, Anjo e Ka-Zar. Sua relação com a DC Comics foi definitivamente rompida em 1967, quando entrou com um novo processo para reaver os direitos do homem de aço.

Contudo, com a iminência da produção do filme do Superman – que seria lançado pela Warner (nova dona da DC) em 1978 – a editora fez um acordo com o escritor: a partir dali, passou a ganhar um salário vitalício em honra de seus serviços prestados e todas as histórias do Superman passariam a ter a inscrição “Superman criado por Jerry Siegel e Joe Shuster”.

Ainda nos anos 1970, Siegel restabeleceu sua carreira ao se transferir para a divisão italiana da Disney. Primeiramente, trabalhou com o consagrado desenhista Carl Banks nas histórias dos sobrinhos do Pato Donald, que eram escoteiros, que fizeram bastante sucesso. Depois, passou a produzir também histórias de Mickey Mouse. Apesar dos quadrinhos da Disney não fazerem sucesso nos EUA, a editora italiana Panini distribuía o material para vários outros países da América e da Europa, onde faziam muito sucesso, inclusive, no Brasil.

Após seu falecimento, em 1996, sua família passou a processar a Warner pela propriedade dos direitos do Superman e do Superboy, caso que aparentemente se encerra agora.

Superman foi criado por Jerry Siegel e Joe Shuster em 1938 e desde então é publicado pela DC Comics.