A maioria do público ouviu falar deles pelo cinema, e embora os Thunderbolts nunca tenham sido um grupo enormemente famoso fora do mundo das HQs, são um time que já causou bastante impacto nas histórias da Marvel Comics, e mais importante ainda, fizeram muito sucesso. Vamos conhecer um pouco desses anti-heróis (ou vilões?) dos quadrinhos?
Nos quadrinhos, os Thunderbolts era um grupo de vilões disfarçados de heróis, que estrearam como uma participação especial em The Incredible Hulk 447, de 1997, como uma estratégia de serem apresentados a um público mais amplo antes de ganharem uma revista própria, nas mãos de seus criadores, o roteirista Kurt Busiek (vindo de uma fase sensacional nos Vingadores) e o desenhista Mark Bagley (que trabalhou com o Homem-Aranha na maior parte da década de 1990).

Na trama, após os Vingadores, o Quarteto Fantástico e vários outros heróis serem dados como mortos após o confronto com o superpoderoso vilão Massacre, o Barão Zemo tem a brilhante ideia de “suprir” a carência dos heróis com o seu grupo de vilões, os Mestres do Terror. Portanto, ao fim e ao cabo, os Thunderbolts eram apenas uma nova versão dos Mestres do Terror, um dos mais antigos inimigos dos Vingadores. Então, precisamos de um longo parênteses aqui…
Quando a Marvel trouxe o Capitão América de volta após muitos anos sem ser publicado (pois lembrem, diferente dos demais heróis do Universo Marvel criados nos primeiros anos da década de 1960, o sentinela da liberdade tinha sido criado 20 anos antes, durante a II Guerra Mundial), em Avengers 04, de 1964, a dupla Stan Lee e Jack Kirby criaram a história na qual Steve Rogers tinha ficado congelado por décadas desde o fim da guerra (e por isso não envelheceu nada desde seus tempos de glória!), por causa de um acidente terrível que teria vitimado seu parceiro de combate, Bucky Barnes (que vamos adiantar, seria revelado como vivo sob a identidade de Soldado Invernal muito tempo depois, numa história de 2005).

Aquela HQ em específico deixava em mistério quem era o vilão responsável pela tragédia, mas isso foi revelado logo em Avengers 06: o cientista nazista Barão Zemo, que no presente, ao ver o Capitão América vivo de novo e reunido aos Vingadores, decide criar um time de vilões para derrotá-los, os Mestres do Terror, reunindo vilões que já tinham aparecido: Cavaleiro Negro (inimigo de Gigante e Vespa), o Homem-Radioativo (inimigo de Thor) e o Derretedor (inimigo do Homem de Ferro), e as histórias seguintes mostravam acirradas batalhas entre os dois times, com os vilões ganhando outros membros como a dupla Encantor e Executor, e o Magnum (Wonder-Man, no original), até serem derrotados em Avengers 15, de 1965, resultando na morte de Zemo.

O vilão Ultron (sim, aquele mesmo que apareceu nos cinemas em Era de Ultron) formou uma segunda versão dos Mestres do Terror, reunindo Garra Sônica, Homem-Radioativo, Derretedor, Tufão e o sobrinho do já falecido Cavaleiro Negro. Só que os vilões não sabiam que o novo Cavaleiro Negro era um herói, e não bandido, e isso os ajuda a ser vencidos, em Avengers 54, de 1968, por Roy Thomas e John Buscema.

As histórias do Capitão América (em Captain America & the Falcon 168, de 1973, por Roy Thomas, Tony Isabella e Sal Buscema) revelaram a existência de um filho vingativo de Zemo, e por fim, esse homem assume a identidade vilanesca do pai como Barão Zemo II, em Captain America 275, de 1986, por J.M. DeMatteis e Mike Zeck, e é esse novo Zemo quem reúne a mais terrível versão dos Mestres do Terror, coletando uma dúzia de vilões (Rocha Lunar, Tubarão-Tigre, Tufão, Poderoso, Homem-Absorvente, Titânia, Mister Hyde, Jaqueta Amarela e até a Gangue da Demolição inteira, liderada por Destruidor), para atacar os Vingadores no arco Sob Cerco, entre Avengers 270 e 277, também de 1986, por Roger Stern e John Buscema (em uma das melhores histórias da equipe em todos os tempos!), que resulta em vários membros do time seriamente feridos, inclusive, o semideus Hércules, e a Mansão dos Vingadores original destruída.

Nos anos seguintes, o novo Barão Zemo permaneceria como um dos maiores inimigos do Capitão América e dos Vingadores, até o contexto em que aqueles heróis estavam aparentemente mortos. Usando as bases daquela última versão dos Mestres do Terror, Zemo reuniu seus comparsas para fingirem serem um misterioso grupo de heróis, ganhar a confiança das autoridades, e tomar o poder. Assim, cada um dos membros assumiu um novo uniforme e codinome em prol de pôr em prática o plano: o Barão Zemo se tornou o Cidadão V, Rocha Lunar a Meteorita, Besouro o Mach-IV, Colombina a Soprano, Golias virou Atlas e Armador o Tecno.
Seguindo à aparição na revista do Hulk e algumas outras menções no Universo Marvel, o grupo aparece de verdade em Thunderbolts 01, de abril de 1997, por Busiek e Bagley, e os leitores só descobriram o real propósito do time na última página daquela edição, o que rendeu à revista grande aclamação da crítica e do público. Pouco tempo depois do início das atividades do grupo, a jovem inocente Choque se juntou a eles, o que Zemo usou como artifício para dar ainda mais credibilidade ao plano, e a personagem serviu como os olhos do público diante dos vilões disfarçados.

O plano de Zemo deu certo de início, mas as tramas de Busiek e Bagley terminaram por explorar que a maior parte do grupo foi sendo tocado pelos atos heroicos que realizavam e, quando Zemo tentou pôr em prática o seu golpe, apenas o Armador manteve o combinado e os demais se voltaram contra o seu líder. Busiek escreveu a revista até o número 34, e Bagley desenhou até o 51.
Depois disso, os Thunderbolts continuaram agindo como heróis renegados, embora fossem perseguidos pelas autoridades, e durante um tempo, admitiram o ex-Vingador Gavião Arqueiro como seu líder, pois ele próprio também era um ex-bandido.

Uma fase totalmente nova veio a partir de Thunderbolts 110, de 2006, com roteiro de Warren Ellis e arte do brasileiro Mike Deodato Jr.: Norman Osborn (o Duende Verde) assumia a liderança do grupo sob a batuta do Governo dos EUA como uma forma de “diminuir a pena” dos vilões da Marvel em missões suicidas (exatamente como o Esquadrão Suicida da DC Comics, que existia desde os anos 1980), e os roteiros sombrios de Ellis e a espetacular arte de Deodato Jr. fizeram mais sucesso ainda. Pouco tempo depois, em consequência da maxissérie Invasão Secreta, em 2008, os Thunderbolts ganharam uma variação como os Vingadores Sombrios (Dark Avengers), em uma revista própria, sob a pena de Brian Michael Bendis e a arte de novo de Deodato Jr., e também bastante sucesso.

Desde então, várias outras versões do time foram lançadas nas HQs da Marvel, e em 2023, na mesma época do anúncio oficial do filme sobre a equipe, foi lançada a versão mais atual do time: muito próxima daquela do cinema. A nova Thunderbolts 01 trouxe uma nova equipe liderada por Bucky Barnes (o Soldado Invernal, que agora adota o codinome Revolução/Revolution), e que reúne Viúva Negra, Viúva Branca (Yelena Belova), Agente Americano (US Agent), Guardião Vermelho, Sharon Carter (que usa o codinome Destruidora/Destroyer), Shang-Chi, e também coliderada pela Condessa Valentina Allegra De Fontaine.

A trama da nova HQ foi assinada pela dupla Hivemind, nome usado por Collin Kelly e Jackson Lanzing, enquanto a arte foi assumida pelo desenhista brasileiro Geraldo Borges. A imagem promocional era de Mahmud Asrar. O Hivemind deu sequência aos eventos que apresentaram em sua passagem na revista Captain America: Sentinel of Liberty, na qual criaram o Inner Circle (Círculo Interno), um grupo secreto que manipula o mal há um século e está por trás de movimentos como o nazismo e de vilões como o Caveira Vermelha. Com Bucky Barnes conhecendo os segredos do grupo, ele se une a Valentina De Fontaine para liderar um ataque direto ao establishment sobrevivente do Inner Circle, e portanto, as maiores ameaças à paz mundial, incluindo gente como Rei do Crime e Doutor Destino – figuras poderosas e intocáveis.
O grupo migrou para os cinemas, ocupando o espaço do MCU que era dos Vingadores na ausência do time original, que deixou de existir após os eventos de Vingadores – Ultimato. A formação oficial dos Thunderbolts nas telonas é: Fantasma, Guardião Vermelho, Viúva Negra II (Yelena Belova), Soldado Invernal, Agente Americano e Treinadora, com alguma ligação com Valentina Allegra de Fontaine, tanto como líder quanto oponente.

Cada qual desses personagens veio pululando nas produções do MCU… A Fantasma (Hannah John-Kamen) era uma vilã de Homem-Formiga e a Vespa, que termina tentando se ajustar no fim; Yelena Belova (Florence Pugh) estreou em Viúva Negra, revelada como mais uma das meninas da Sala Vermelha e que cresceu quase como uma irmã de Natasha Romanoff, e teve algumas aparições posteriores; Alexei Alanovich Shostakov, o Guardião Vermelho (David Harbour) também apareceu em Viúva Negra, mostrado como uma versão soviética do Capitão América desenvolvida pela Rússia provavelmente nos anos 1980 (talvez antes… isso ainda não ficou claro) e que, com o fim do regime soviético, terminou encarcerado numa prisão na Sibéria; também de Viúva Negra temos a Treinadora (Olga Kurylenko), uma menina que foi desenvolvida quase como uma ciborgue para ler e imitar os movimentos das outras pessoas e foi usada para fins vilanescos, mas no fim, termina se livrando da dominação mental maléfica; John Walker, o Agente Americano (Wyatt Russell) quase ocupou o papel de Capitão América na série de TV Falcão e o Soldado Invernal, e trilhou um caminho quase vilanesco, mas agora terá sua própria estrada da redenção; e por fim, o velho conhecido Bucky Barnes, O Soldado Invernal, o velho amigo de Steve Rogers nos tempos da II Guerra Mundial em Capitão América – O Primeiro Vingador, e que dado como morto, na verdade, foi resgatado e sofreu lavagem cerebral da HIDRA como vimos em Capitão América – O Soldado Invernal, mas terminou se redimindo a partir de Capitão América – Guerra Civil e, no fim, terminou lutando ao lado dos Vingadores em Guerra Infinita e Ultimato. Capitão América – Admirável Mundo Novo mostra que ele estava atuando como um congressista, ou seja, um membro do Congresso dos EUA.
Claro, a natureza dos Thunderbolts do cinema é essencialmente distinta das HQs. Nos quadrinhos, eles são inicialmente vilões disfarçados de heróis, e a maioria das outras versões (à exceção da atual), são de vilões mesmo. No MCU o time é formado por agentes renegados, de passado sombrio, e provavelmente, usados para missões sombrias pelas mãos de Valentina Allegra de Fontaine.
E no cinema, seu grande inimigo é o Sentinela. Mas aí, já é outro tema…

