Dando prosseguimento à série que já teve publicada as partes Introdução, Parte 01 e 02.
Quando assumiu o cargo de Editor-Chefe da Marvel em 2000, o desenhista Joe Quesada estava determinado a deixar sua marca. E o fez, para o bem e para o mal.

Uma das medidas foi criar o Universo Ultimate: uma nova linha de histórias que mostrariam versões mais modernas dos personagens clássicos da Marvel, escritos e desenhados por “artistas de ponta” com o propósito de atrair novos leitores. Era um esforço conjunto ao novos filmes baseados nos mesmos personagens que estavam começando a ser produzidos naquele tempo – o X-Men de Bryan Singer estreou em 2000 e o Homem-Aranha de Sam Raimi em 2002.
O primeiro lançamento da linha Ultimate foi o Homem-Aranha, escrito por Brian Michael Bendis e desenhado por Mark Bagley e foi um sucesso imediato. Bendis vinha de uma carreira nos quadrinhos independentes, com sucesso pelo menos desde 1996. Ele passou ao mainstream na editora Image, onde trabalhou com Spawn e criou sua série autoral Powers, outro sucesso.

Bendis estreou na Marvel justamente com Ultimate Spider-Man , onde transformou o conto de origem do personagem – escrito em 1962 por Stan Lee e Steve Ditko – de uma história curta de 11 páginas para uma saga em sete capítulos. A abordagem moderna de Peter Parker agradou.
Bagley já era um desenhista veterano no Homem-Aranha, tendo trabalhado com o personagem durante quase toda a década de 1990. Para o projeto, ele mudou um pouco seu traço, mas ainda assim, serviu como chamariz, pois era bastante apreciado pelos leitores.A dupla trabalhou por 110 edições ininterruptas.
Em seguida, veio o Ultimate X-Men que mostrava os mutantes em uma versão mais jovem, violenta e realística nas mãos de Mark Millar e do desenhista Adam Kubert. Kubert já havia trabalhado com os X-Men anteriormente e Millar era um escocês que chamou a atenção da DC Comics e foi trabalhar na revista The Authority, que imagina como seria um grupo de super-heróis no mundo real. Seus roteiros inteligentes e ousados causaram polêmica e terminou sendo convidado pela Marvel para a nova versão dos X-Men.
Todavia, o suprassumo da linha Ultimates se deu em 2002 com a nova versão dos Vingadores, que foi chamada de The Ultimates (Os Supremos, no Brasil). Também escrita por Millar e desenhada por Bryan Hitch, foi uma visão moderna, violenta e radical do grupo, colocando o Capitão América como um militar de verdade; Thor como um hippie natureba; o Homem de Ferro como um ególatra milionário; e o Hulk como uma fera bestial e amoral.

Seus roteiros lidavam com várias questões políticas e mostravam que os super-heróis nem sempre são um exemplo a ser seguido. Por exemplo, em dado momento, o Gigante bate na mulher, a Vespa, e termina sendo surrado pelo Capitão América para lhe dar uma lição.
Os Supremos de Millar e Hitch foram o maior sucesso de público e crítica da linha Ultimate e tiveram dois arcos publicados entre 2002 e 2007. A revista é a base fundamental do vindouro filme dos Vingadores.
Bendis ganhou importância na editora e logo migrou para a linha tradicional, criando uma revista policial chamada Alias centrada na detetive Jessica Jones, uma ex-heroína. O sucesso rendeu um outro arco chamado The Pulse. Mas foi no Demolidor que o autor encontrou as melhores críticas, produzindo mais de 50 edições da nova revista do herói, uma fase elogiadíssima desenhada por Alex Maleev.
Na linha tradicional do Universo Marvel, duas ações de Quesada chamaram a atenção. Por um lado, se decidiu finalmente publicar a misteriosa origem de Wolverine, numa minissérie escrita por Paul Jenkins e ilustrada por Andy Kubert. Parte dela foi utilizada no filme X-Men Origins: Wolverine, de 2008.

A outra foi a polêmica fase do Homem-Aranha escrita por J.M. Straczynski. Vindo da TV, esse roterista chegou determinado a mudar o status quo do personagem: Peter Parker passou a trabalhar como professor no mesmo colégio que estudara; seu casamento com Mary Jane Watson entrou em crise e a Tia May descobriu que o sombrinho era o Homem-Aranha desde a adolescência.
Straczynski também colocou um pano de fundo diferenciado para a origem do personagem, que tratava originalmente de um acidente pseudocientífico. Em seu primeiro arco de histórias, desenhadas por John Romita Jr., acrescentou um aspecto místico, relacionado a poderosas entidades totêmicas e um caçador delas que tenta matar o herói a todo o custo e quase consegue.
Apesar de elogios aos textos, muitos leitores não gostaram das mudanças, especialmente daquelas que alteraram a personalidade de Gwen Stacy, quando Peter Parker descobre que a namorada que morreu muitos anos antes – numa história de 1973 (ver post sobre John Romita) – tinha escondido segredos horríveis.
No final das contas, a longa fase de Straczynski à frente do título terminou de modo trágico em 2008, numa briga pública com o editor Joe Quesada, que será objeto de um post futuro.
No próximo capítulo, dois arcos de histórias que definiram o futuro da Marvel dos anos 2000.

