Thor e o poder de seu martelo, Mjolnir.

Mais uma vez o Marvel Studios acerta a mão.

Ao unir humor, aventura e fidelidade ao material original dos quadrinhos, Thor se une à tradição iniciada por Homem de Ferro, que inaugurou a pratica na qual a própria editora, a Marvel Comics, produz os filmes de seus personagens. Esse “detalhe” faz toda a diferença, pois os filmes do estúdio (os de Homem de Ferro, Hulk e Thor já lançados e o vindouro Capitão América em julho) atingem um nível de fidelidade à essência dos personagens que as franquias movimentadas por outros estúdios – como 20th Century Fox, Sony ou Columbia – não conseguem.

Em Thor está tudo lá: a história do jovem deus asgardiano (Chris Hemsworth) que é arrogante e prepotente e seu pai Odin lhe ensina uma lição de humildade ao lhe enviar para a Terra sem seus poderes. Também a trama de Loki, o irmão de Thor, que vai se revelando um ser ardiloso e causador de problemas.

Thor tinha o desafio de ser o primeiro filme do Marvel Studios a sair da zona de conforto da pseudociência e lidar com magia e outras dimensões, mas o longametragem faz isso bem. Começa na Terra, mostrando o trio de cientistas liderados por Jane Foster (Natalie Portman) que busca explicações para estranhos fenômenos metereológicos no Novo México, nos Estados Unidos e o encontro com Thor; para em seguida, retroceder no tempo e apresentar a origem dos deuses (por meio de uma cena de um Odin (magistralmente vivido por Anthony Hopkins) mais jovem ensinando aos dois filhos ainda crianças sobre o início dos tempos e o conflito com os Gigantes do Gelo, seus grandes inimigos.

Os três guerreiros: como nos quadrinhos, uma parábola (cômica) aos Três Mosqueteiros.

A trama se desenvolve em dois planos, mostrando os impactos na Terra por meio da atuação dos cientistas e da Shield em busca de respostas para o que está acontecendo; e outra trama mais “palaciana” envolvendo as maquinações de Loki. Particularmente nesta segunda, podemos ver ecos da base shakespeareana do diretor inglês Kenneth Branagh, especialista no bardo inglês.

Nos quadrinhos, Loki é um gênio do mal. A abordagem do filme é mais profunda, explorando aspectos obscuros de sua origem para montar uma trama em que ele não pode ser visto como alguém realmente maligno, mas um provocador, um trapaceiro. A relação entre Thor e Loki também é bem explorada pelo roteiro (escrito por J.M. Stracynski, o mesmo que escreveu as recentes histórias do personagem nos quadrinhos), mostrando como o primeiro não percebe que sua arrogância termina por ofuscar o papel do irmão.

O Destruidor chega à Terra: "Coisas do Stark?".

Outro trunfo do filme são os atores. Anthony Hopkins (Odin) e Tom Hiddleston (Loki) exploram cada nuance de seus personagens não somente com palavras, mas com expressões faciais e gestos enriquecedores. São os maiores destaques. Chris Hemsworth tem carisma e se sai melhor do que as fotos deixam a entender, incorporando a arrogância (no início) e a lição de humildade e heroismo (do meio para o fim).

Thor e o Agente Coulson, que serve de ligação aos outros filmes da Marvel.

Nathalie Portman está bem como sempre, acrescentando um ar “encantado” a Jane Foster que parece realmente “caidinha” por Thor. Stellan Skarsgards também está ótimo como o Dr. Selvig e até Kat Dennings faz sua Darcy funcionar como “alívio cômico” do filme. Outra que surpreende é Jaime Alexander, como a guerreira Lady Sif, emprestando bons olhares à personagem. Clark Gregg está mais sério do que a encarnação de seu Agente Coulson no primeiro Homem de Ferro, mas preservando algo do bom humor. E temos até um lampejo de Jeremy Renner, como um tal de “Agente Barton” que usa um arco de flecha, mas os fãs sabem ser o Gavião Arqueiro, membro dos Vingadores.

O Loki de Tom Hiddleston: um dos destaques do filme. O vilão também estará em "Os Vingadores".

Falando nisso, a articulação entre os outros filmes do Marvel Studios é bem desenvolvida: não atrapalha o entendimento de quem não assistiu aos outros filmes, mas premia aqueles que assistiram (e são fãs) com informações que se tornam relevantes se vistas dentro do contexto maior de todos os filmes: além da própria Shield e do Agente Coulson; o Dr. Selvig fala de um “cientista pioneiro em pesquisas com radiação gama” cujo a Shield dera sumiço (uma referência clara ao Dr. Bruce Banner, o Hulk); quando o vilão Destruidor chega à Terra e é visto pelos agentes da Shield, alguém pergunta “é alguma das coisas do Stark?”, enquanto Coulson diz “não sei, aquele cara nunca me conta as coisas” (em respeito a Tony Stark, o Homem de Ferro, e suas armaduras).

Por fim, para aqueles que gostam de “filmes de ação“, não irão se decepcionar com Thor. Logo no início do filme, vemos uma grande batalha entre Thor, Loki, Sif e os três guerreiros contra os Gigantes do Gelo, com o deus do trovão mostrando que sua versão cinematográfica é capaz de fazer tudo o que o seu correlativo dos quadrinhos faz. Atenção para aqueles que ficaram ligeiramente decepcionados com os trailers por causa da ausência de algumas coisas: Tudo!

No restante do filme, há ainda a batalha contra o Destruidor (muito boa) e a batalha final contra Loki, que termina sendo um anticlímax, mas é carregada de tensão emotiva por causa do que o filme desenvolve.

Anthony Hopkins como Odin: ares shakespeareanos.

Assim, Thor é um destaque dentro dos filmes do gênero de super-heróis, podendo ser posicionado no nivel de produções como o primeiro Homem de Ferro, do próprio Marvel Studios, mas com o diferencial de ser o primeiro da safra a investir em um conteúdo tão fantástico como a mitologia nórdica. Asgard com seus palácios, a Ponte Bifrost (ou Ponte do Arco-Íris), os cenários, o reino dos Gigantes do Gelo e a fotografia clara nas cenas na Terra, promovem um visual muito apurado e de bom gosto. A mão de Branagh é sentida no filme de forma positiva e esperamos que ele continue no cargo nas sequências que inevitavelmente virão.

Um último aviso a quem for assistir no cinema: fique até o final! Seguindo a tradição do Marvel Studios, há uma curta cena pós-créditos que faz uma ligação mais direta aos outros filmes do estúdio, pavimentando o caminho rumo ao filme Os Vingadores, em 2012. Por sinal, à moda de James Bond, ao final da exibição do filme aparece a mensagem: “Thor voltará em Os Vingadores“.

O Universo Marvel se solidifica no cinema de um modo que nenhuma outra editora foi capaz.