Sheldon Moldoff em painel exposto em seu site: trabalho anônimo no Batman.
Infelizmente, pouco a pouco, todos os artistas da Era de Ouro dos Quadrinhos (entre os anos 1930 e 1950) estão indo embora. Agora, foi a vez de Sheldon Moldoff, um dos mais importantes desenhistas do Batman em seus primeiros anos, bem como desenhista de outros personagens da DC Comics, como Gavião Negro (Hawkman), Lanterna Verde e The Flash.
Sheldon “Shelly” Moldoff nasceu em 14 de abril de 1920 e tinha apenas 18 anos quando começou a trabalhar para a DC Comics. O editor Max Gaines ficou impressionado com a arte do garoto, que imitava o realismo fantástico do famosíssimo Alex Raymond, o criador de Flash Gordon. Inclusive, Moldoff desenhou a contracapa de Action Comics 01, que trouxe a primeira aparição do Superman, cuja primeira capa foi de Joe Shuster.
Capa de "All-American 16", com arte de Sheldon Moldoff, traz a primeira aparição do Lanterna Verde da Era de Ouro.
Durante um tempo, Moldoff foi um dos principais capistas da DC, desenhando algumas das históricas ilustrações da casa, como a primeira aparição do Lanterna Verde em All-American Comics 16e a capa com a primeira aparição do Flash em Flash Comics 01, ambas de 1940.
Em seguida, Moldoff também começou a desenhar a arte interna das revistas, fazendo histórias daqueles dois personagens e, principalmente, do Gavião Negro (Hawkman), trabalho que se tornou a sua primeira marca. Foi ele quem criou o visual da companheira do herói, a Moça-Gavião (Hawkgirl).
Contudo, Moldoff é mais conhecido por sua passagem nas revistas do Batman, onde trabalhou como artista não-creditado no estúdio de Bob Kane. Alguns fãs de quadrinhos se irritam com o criador do Batman por essa prática, mas isso era algum comum dentro do mercado da época.
O próprio Moldoff explicou a prática em uma entrevista de 1994:
Eu trabalhei para Bob Kane como um “desenhista fantasma” de 1953 até 1967. A DC não sabia que eu estava envolvido [com o Batman], era um acordo de aperto de mãos que eu tinha com Bob: “Você faz o trabalho e não diz nada para ninguém, Shelly, e você terá trabalho certo”. Não, ele não pagava grande coisa, mas era um trabalho certo, era seguro. Eu sabia que eu tinha que fazer um mínimo de 350 a 360 páginas por ano. Também, eu estava fazendo outro trabalho ao mesmo tempo para os [editores] Jack Chiff e Murray Boltinoff na DC. Eles não sabiam que eu estava trabalhando no Batman por meio de Bob… Então, eu estava ocupado. Entre os dois [editores], eu nunca enchi um ano [de produção], o que é a compensação por eu ter feito o trabalho “fantasma” com Bob, para me manter anônimo.
A capa de "Detective Comics 158" que traz o Capuz Vermelho e a origem do Coringa. Arte de Moldoff.
No Batman, a arte de Sheldon Moldoff pode ser conferida em muitas histórias clássicas dos anos 1950. Por exemplo, o artista é creditado em “Quem é o Capuz Vermelho?“, história que trouxe a origem do Coringa pela primeira vez, escrita por Bill Finger, publicada emDetective Comics 158, de 1951.Em Batman, contudo, o estilo de desenho de Moldoff se modificou, para ficar semelhante ao estilo cartunesco impresso por Bob Kane ao personagem.
Moldoff também é o cocriador da Batwoman e da primeira Batgirl, ambas criadas no fim dos anos 1950, bem como dos personagens Batmite (ou Bat-mirim, no Brasil) e Ace, o batcão, numa que não é da mais felizes fases do personagem. (Leia mais no dossiê sobre o Batman do HQRock, clicando aqui).
Por outro lado, Moldoff também criou o visual dos vilões Cara de Barro II, Sr. Frio e Hera Venenosa, importantes adesões ao cânone do Batman.
Capa de "Batman 181", de 1966, com a primeira aparição da Hera Venenosa.
Com a mudança editorial do Batman em 1964, na qual o estúdio de Bob Kane deixou de ter o monopólio na criação das histórias do homem-morcego, Moldoff continuou trabalhando com o personagem, inclusive com Kane, mas agora, sua arte se voltava ao novo estilo estético definido por Carmine Infantino.
O artista encerrou sua passagem pelo homem-morcego em 1967, quando Bob Kane (e seu estúdio) encerrou de vez o contrato com a DC. Ambos se aposentaram dos quadrinhos, então, mas continuaram a trabalhar juntos no ramo da animação por algum tempo.
Nos últimos anos, Sheldon Moldoff passou a ser reconhecido por sua anônima contribuição ao Batman e vinha participando de convenções de quadrinhos, onde vendia artes originais. Sua última aparição pública foi na Comic-Con de 2009.
Moldoff faleceu de insulficiência renal na quarta-feira, dia 29 de fevereiro, mas sua morte só foi anunciada à imprensa ontem.
A partida de artistas não só dos quadrinhos, mas também da música e do cinema, como foi o caso recente de Ralph McQuarrie, que desenhou praticamente todo o visial de Star Wars, é o destino natural de todos nós.
O que é realmente triste é saber que estamos ficando em um terreno cada vez mais esteril de bons artistas, em todas as áreas.
A partida de artistas não só dos quadrinhos, mas também da música e do cinema, como foi o caso recente de Ralph McQuarrie, que desenhou praticamente todo o visial de Star Wars, é o destino natural de todos nós.
O que é realmente triste é saber que estamos ficando em um terreno cada vez mais esteril de bons artistas, em todas as áreas.
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Disse tudo, Paulo!
Um abraço!
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