Cartaz de Skyfall com Daniel Craig.

James Bond, o agente secreto 007, está completando 50 anos nos cinemas, como a franquia mais longeva e de maior sucesso da história. E comemora com o lançamento de um novo filme, o fantástico 007 – Operação Skyfall. Contudo, o espião a serviço secreto de sua Majestade e com permissão para matar surgiu na literatura, fruto da mente inventiva e inquieta de Ian Fleming, ex-militar e jornalista que decidiu rechear sua idade matura com o sonho de lançar uma série de livros de sucesso sobre espionagem em plena Guerra Fria.

E deu certo!

Do primeiro livro, Cassino Royale, de 1953, e seu sucesso imediato, surgiu uma série de livros que fez sucesso na Grã-Bretanha, depois na Europa, e por fim, nos Estados Unidos, até terminar por ser adaptada ao cinema pela primeira vez em 1962. Fleming morreu cedo, em 1964, mas viveu o bastante para criar um dos personagens mais emblemáticos do século XX e ainda vê-lo transposto às telas.

Aproveitando as comemorações cinematográficas, o HQRock apresenta a história real de Ian Fleming e seus livros.

Ian Fleming, o criador

Ian Flaming: James Bond da vida real?

James Bond foi criado pelo escritor Ian Fleming em 1953. Nascido em 1908 na Escócia, Ian Fleming estudou no tradicional colégio privado de Eton e em escolas militares, buscando uma carreira diplomática que não chegou a alcançar. Terminou galgando certo sucesso no jornalismo e, em 1933, serviu como enviado da Reuters em Moscou, na União Soviética. Em 1939, Fleming foi convocado pela Inteligência Naval da Marinha, a orgulhosa Marinha Britânica e, de fato, atuado no Serviço de Inteligência da Grã-Bretanha durante a II Guerra Mundial.

Fleming comandou a 30º Unidade de Assalto (30AU, na sigla original), que se encarregou de missões de inteligência na Espanha e no Mediterrâneo, embora não fosse um agente de campo como sua maior criação, mas um oficial de escritório. Ele foi bem-sucedido e permaneceu no cargo até 1942, quando foi para um cargo mais alto na Inteligência Naval, assessorando o Diretor de Inteligência e ajudando na criação da T-Force, uma força operacional especial para missões no Pacífico contra os Japoneses.

Terminada a Guerra, Fleming voltou ao jornalismo, trabalhando no The Sunday Times, como coordenador dos correspondentes estrangeiros, o que lhe permitiu viajar muito. Ele gostava de dizer que nunca escreveu sobre uma locação em seus livros na qual não tenha estado. E 007 viaja muito!

Fleming: sua própria biografia rendeu elementos para compor James Bond como personagem.

Após uma vida até então marcada por inúmeras aventuras amorosas – muitas das quais com mulheres casadas (a quem Bond puxou?) – decidiu se casar com Ann Charteris, uma de suas ex-amantes, então casada com o Visconde de Rothermere. O casamento se deu em 1952 na Jamaica, colônia da Inglaterra que o escritor visitou nos tempos da guerra e decidiu ter uma casa de veraneio, que batizou de Golden Eye, o nome de uma das mais famosas missões que comandou no conflito.

Fleming tinha um período de três meses de férias no inverno do Hemisfério Norte, quando ia para a Jamaica. Foi lá que decidiu começar a escrever a série de novelas de James Bond, nome que tirou de um autor de um livro sobre pássaros que tinha em casa. Cassino Royale, o primeiro livro, saiu em 1953 e foi um sucesso imediato de público, mesmo que a crítica esnobasse sua qualidade. Continuou escrevendo novos livros anualmente, que foram se tornando cada vez mais fantasiosos, embora seja impressionante como Fleming procurava embasar na realidade seus enredos. Além disso, tinha um talento incomum para organizar dados, que usava para rechear os livros de informações críveis.

Criador e criatura: Sean Connery e Ian Fleming nos sets de Dr. No, em 1962.

O escritor continuou ligado ao jornal até 1959, quando decidiu se dedicar integralmente à sua obra literária, embora tenha permanecido com uma coluna semanal no Sunday Times por mais dois anos.

Os problemas começaram em 1958, quando Fleming se envolveu na produção do que deveria ser o primeiro filme de James Bond, junto ao escritor Kevin McClory e o produtor Jack Whittingham. A negociação do filme se arrastou por dois anos e Fleming foi convencido por Whittingham a transformar o roteiro que o trio produzira em um livro de 007. O livro Thunderball (A Chantagem Atômica, no Brasil) foi escrito, mas McClory entrou num processo judicial contra o autor. Fleming conseguiu um acordo fora dos tribunais após duas sessões, que consistia em McClory ter os direitos de um filme sobre a obra, enquanto o escritor mantinha os direitos do livro. Além disso, McClory ganhou coautoria no romance que saiu em 1961. É nesse livro em que aparece a SPECTRE, organização terrorista que seria a principal oponente de Bond nos últimos livros, em substituição à SMERSH, que era a contrainteligência da União Soviética, nos livros iniciais.

Golden Eye, a casa na Jamaica onde Fleming escrevia seus livros.

estresse do processo deve ter contribuído – junto com uma vida cheia de excessos de álcool e cigarros – para Fleming sofrer um infarto naquele mesmo ano. Isso fez o autor pedir demissão de sua coluna semanal para refrear o ritmo de vida. Ao mesmo tempo, as vendas de 007 caíram drasticamente, de modo, que o autor investiu em outra seara, escrevendo um livro com histórias infantis que só seria publicado após sua morte. Mas ainda naquele ano, a revista Times publicou um artigo com os livros favoritos do Presidente dos EUA, John F. Kennedy, nas quais constava Moscou Contra 007 (obra de 1957 considerada por muitos como o melhor livro de James Bond). Isso reacendeu o interesse pelo personagem e as vendas voltaram a subir.

Aproveitando-se disso, Fleming fez um acordo com os produtores Harry Saltzman e Albert Broccoli, da EON Productions, para produzir um filme de baixo orçamento do personagem. A dupla conseguiu negociar a distribuição com dois grandes estúdios – MGM nos EUA e United Artists no Reino Unido – e empreenderam uma vasta seleção de atores para escolher o protagonista, que caiu no escocês Sean Connery.

Sempre fumando, Fleming teve uma morte precoce, aos 56 anos.

007 Contra o Satânico Dr. No foi um sucesso imediato na Inglaterra, mas demorou um pouco para conquistar os EUA. Foi o terceiro filme, 007 Contra Goldfinger, de 1964, lançado logo após a morte de Fleming, que conquistou as plateias norteamericanas e, automaticamente, transformou 007 em uma mania mundial. As histórias de espionagem não eram novidade, mas os filmes de 007 as levaram a outro patamar.

A caracterização de Bond no cinema por Sean Connery e os filmes chegaram a influenciar os últimos livros de Fleming, que terminou falecendo de outro ataque cardíaco em 1964. Alguns contos e histórias póstumas foram publicadas em seguida e até a série foi retomada no futuro por outros autores, mas nenhum deles conseguiu casar a qualidade e o sucesso das obras originais.

Fleming deixou 14 livros de 007, dos quais 12 são romances (todos já adaptados ao cinema) e dois são de contos (Somente para seus olhos, de 1960, e o póstumo Octopussy, de 1966). O romance O Homem da pistola de ouro também foi publicado postumamente, em 1965, e teve que ser finalizado por Kingsley Amis, já que Flaming não o terminou.

O James Bond dos livros

A maneira como Ian Fleming imaginava Bond, num desenho de autor desconhecido.

Nos livros, James Bond não é a figura indestrutível que vemos nos filmes. Sua abordagem é mais humanizada e falha. Ele é um comandante da Marinha recrutado para o Serviço Secreto do MI-6 e um dos poucos agentes Duplo-Zero, ou seja, com permissão para matar no cumprimento do dever. Sua idade é de cerca de 37 anos.

Os livros contam uma história mais ou menos continuada e que se passa no tempo real: cada livro era lançado anualmente contando uma história daquele ano e há referências às aventuras passadas e suas marcações por datas. O inimigo maior de Bond nos primeiros livros é a SMERSH, a agência de contra-inteligência da União Soviética, mas a partir de A Chantagem Atômica, de 1961, surgiu a SPECTRE, uma organização terrorista independente, comandada pelo maléfico Ernst Blofeld.

A história de Bond, claro, ficou inacabada com a morte de Fleming em 1964, mas outros autores escreveram suas aventuras.

Capa original de Moscou contra 007: para muitos o melhor livro da série.

Os livros

  • Cassino Royale – Cassino Royale, 1953
  • Live and Let Die – Viva e Deixe Morrer, 1954
  • Diamonds are Forever – Os Diamantes são Eternos, 1955
  • From Russia, with Love – Moscou Contra 007, 1957
  • Dr. No – O Satânico Dr. No, 1958
  • Goldfinger – Goldfinger, 1959
  • For your Eyes Only – Somente para seus Olhos, 1960 (contos)
  • Thunderball – A Chantagem Atômica, 1961 [em coautoria com Kevin McClory]
  • The Spy Who Loved Me – O Espião que me Amava, 1962
  • On Her Majesty’s Secret Service – A Serviço Secreto de Sua Majestade, 1963
  • You Only Live Twice – Só Se Vive Duas Vezes, 1964
  • The Man with the Golden Gun – O Homem da Pistola de Ouro, 1965 [póstmo – finalizado por Kingsley Amis]
  • Octopussy – Octopussy, 1966 (contos) [póstumo]