
Quando a editora DC Comics lançou seu reboot editorial e cronológico, em 2011, chamado oficialmente de Os Novos 52, foi dito que haveria poucas mudanças na cronologia do Batman, o mais popular super-herói da empresa. Embora não dito com essas palavras, a lógica era “não se mexe em time que está ganhando”.
Afinal, Batman não é só o maior sucesso da DC, é o maior sucesso MESMO da DC. Para se ter uma ideia, das 25 revistas mais vendidas dos EUA em novembro de 2012, sete eram da DC Comics, das quais três do Batman (as revistas Batman, Batman & Robin e Detective Comics) e uma da Batgirl. Sem contar a revista da Liga da Justiça, cujo Batman é um dos membros.
Contudo, as mudanças vieram sim. Na confusa nova cronologia da DC Comics, está estabelecidosque os heróis são bem mais jovens do que antes (pois na cronologia antiga, o homem-morcego já tinha bem mais 40 anos…). Em Os Novos 52, os super-heróis só estão em atividade há cinco anos.
Isso complica as coisas para o Batman: como puderam existir cinco Robins em tão pouco tempo? (Dick Greyson, Jason Todd, Tim Drake, Stephannie Brown e Damian Wayne). Aliás, como pode existir Damian – filho do Batman com Talia Head (a filha de Ra’s Al Ghul) – com cerca de 10 ou 12 anos de idade, se o próprio Bruce Wayne só tem 30 ou 28 anos?
É visando essas novas explicações que a editora publicará o arco de histórias Batman: Zero Year, contando em detalhes a origem do homem-morcego, em 11 capítulos escritos por Scott Snyder e desenhados por Greg Capullo, dentro da revista Batman – a de maior sucesso da DC – que a dupla já produz desde o início dos Novos 52.

Como o HQRock já publicou antes, Snyder se apressa em dizer que não irá reescrever Batman: Ano Um, a mais famosa e definitiva história de origem do cavaleiro das trevas, escrita por Frank Miller e desenhada por David Mazzucchelli, como um arco de quatro partes em 1987, dentro da revista Batman da época.
O escritor falou aos fãs na WonderCon, a convenção de quadrinhos que ocorreu na cidade de Anheim, na Califórnia, este final de semana. Segundo o site Omelete, Snyder disse:
O que aconteceu foi que [nos Novos 52] vieram histórias como a de que a origem de Selina Kyle ficou diferente, James Gordon Jr. teria só seis anos… Gordon ficou diferente, os Falcones ficaram diferentes. Eu até podia reescrever Ano Um pra vocês e dizer que “o que aconteceu aconteceu” e ia acabar saindo uma imitação pobre. Ou a gente pode fazer algo novo e foda… a origem que vocês nunca viram, personagens que vocês nunca viram, momentos que vocês nunca viram, equipamentos que vocês nunca viram… uma Gotham diferente de tudo que vocês conhecem! Não vai ter as pérolas caindo, não vai ter o poste. Desde a primeira página, você vai ficar tipo “Mas que p…? O que que é isso?”.

As pérolas e o postem fazem referência a famosíssima cena criada por Miller e Mazzucchelli em Ano Um, com o pequeno Bruce Wayne ajoelhado sobre os pais mortos, que virou um ícone dos quadrinhos e foi reproduzida no cinema (três vezes! Em Batman – O Filme, Batman Eternamente e Batman Begins) com bastante fidelidade.
Embora Snyder tenha se mostrado um bom roteirista à frente de Batman, em arcos como A Corte das Corujas e Morte da Família, se a DC escolher tirar Ano Um de sua cronologia, estará cometendo um grande erro não apenas cronológico, mas histórico. Ano Um não é só a origem definitiva do Batman, mas é uma das origens mais definitivas entre todos os quadrinhos que existem, encontrando par, talvez, apenas no conto de origem do Homem-Aranha, escrito por Stan Lee e Steve Ditko em 1962, na concorrente Marvel Comics.
É uma pena…
Embora o escritor a DC afirmem que a história de como Bruce Wayne rodou o mundo e treinou para se tornar o Batman nunca foi contada – Ano Um só mostra sua volta à Gotham e o que acontece a partir daí – isso não é verdade. Após a reformulação cronológica de Zero Hora, em 1996, a DC publicou uma série de aventuras do homem-morcego que contam resumidamente esses eventos. Com certeza, a nova história deve absorver elementos do filme Batman Begins, que abordou esse mesmo período.
A história Batman: The Zero Year, será publicada na revista Batman, a partir do número 21, durando cerca de 11 edições. As revistas terão ainda histórias secundárias, com menos páginas, mostrando detalhes de seu treinamento, com roteiros de James Tynion IV e desenhos do brasileiro Rafael Albuquerque.
Conheça a “velha” cronologia do Batman completa clicando aqui, no especial do HQRock sobre o tema.
Ano Um foi adaptada também como longametragem em desenho animado. Saiba mais aqui.
Batman foi criado pelo cartunista Bob Kane em 1939 e desde então é publicado pela DC Comics.


Amigo, poderia especificar melhor qual o arco que mostra a origem do Batman em detalhes? (você só disse que se passa após a Hora Zero). Admito que fiquei curioso em conhecer melhor. Grato.
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Olá, Guilherme, tudo bem?
Rapaz, é uma ótima pergunta! Não foram arcos de histórias propriamente ditos, mas histórias únicas (one-shots) publicadas no zero month da DC Comics, em outubro de 1994, quando todas as revistas tiveram um número zero publicado. No caso do Batman, duas dessas histórias são fantásticas!
Primeiro, Creature of the Night, publicada em Batman 0 (entre os números 511 e 512, com textos de Doug Moench e desenhos de Mike Manley, é a mais abrangente história de origem do homem-morcego, contando (rapidamente) tudo, desde quando ele caiu na cisterna que dá passagem à caverna, quando tinha quatro anos (cena depois levada ao cinema em Batman Eternamente e Batman Begins), passando pelo assassinato de seus pais aos oito anos e a maneira como vira uma criança obcecada sob a tutela de Leslie Thompkins e Alfred Pennyworth, e a viagem pelo mundo para se tornar o Batman. Em certo sentido, esta história se parece com O Homem de Cai, lá dos anos 1980, que também relata aspectos vários da origem do personagem, mas esta é mais abrangente. Foi publicada no Brasil pela Editora Abril em Batman Zero, após a Zero Hora, lá por volta de 1997.
Essa histórias traz algumas informações curiosas, como o fato de Bruce Wayne estudar direito e criminologia em universidades e ser admitido no FBI, antes de desistir de usar o sistema e ir para a margem da lei. Também se explica como Wayne não foi adotado por outra família, quando Alfred e Leslie manipulam os papeis do serviço social para manter sua guarda. Desse modo, Thompkins assume meio que o papel de mãe adotiva de Bruce, enquanto Alfred o de pai.
A outra história é Choice of Weapons, em Detective Comics 0 (entre 678 e 679), por Chuck Dixon e Graham Nolan, que mostra Bruce Wayne e Alfred Pennyworth construindo o arsenal do Batman, desde as escadarias da batcaverna até o batmóvel. Foi publicada no Brasil em Batman e os Vigilantes de Gotham Zero, da Abril.
É curioso ler essas histórias e notar como muito desse material terminou transposto literalmente para Batman Begins, de 2005.
Vale uma procurada.
Um abraço!
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caraca,ninguem mais quer criar coisas novas no universo dos super herois. e agora essa.contar a origem do batman de maneira abragente explicando pra geraçao burra a coisa mais explicita pra q todos possam entender melhor oq rolou e como ele treinou.fala sério. no ano um,eu quando li deduzir logo de unicio q ele vinha de uma viagem longa e q nao veio de volta pra casa a toa.quando ele começa a ter suas reflexoes sobre oq quer e oq e quando mostrava os golpes treinando sozinho,ja se podia notar q ele vinha de um treinamento. faça-me um favor DC .os verdadeiros viloes dos herois sao vcs!
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Pois é, Biano, isso é muito ruim. E o pior que outras vezes que a DC tentou “modernizar” a origem do Batman se deu mal. Já leu Terra Um? Não é tão bom.
Ano Um é a melhor e definitiva origem. Até as histórias de Zero Hora já explicaram o que aconteceu. Para quê contar tudo de novo sob o risco de sair tudo ruim? Ainda mais para simplesmente lançar elementos de Batman Begins para os quadrinhos?
Um abração!
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Olá Irapuan,
Na minha modesta opinião, a Dc continua repetindo so mesmos erros de sempre. Se vai mexer na cronologia, que não poupe ninguém. Mas nunca fazem isso. Quando Crise nas Infinitas Terras foi lançada, o ideal seria fazer o que Byrne e Pérez fizeram: recontar tudo e partir dali. Apesar do lançamento do Ano UM e Ano Dois, não fizeram o mesmo com o Batman por uma questão simples: O ROBIN!. Para quem viveu a época ou está familiarizado com a cronologia, o Robin já era Jason Todd (na versão trapezista) e Grayson já liderava os Titãs como Asa Noturna. Se não me engano, Novos Titãs ainda era a revista mais vendida da DC e não dava para “matar” a galinha dos ovos de ouro da empresa. O jeito foi tocar direto e arrumar as coisas pelo caminho. Daí a nova origem de Todd como moleque de rua e as 3 ou 4 “origens” tapa-buraco feitas para Donna Troy. Para mim, esses remendos acabaram enfraquecendo o conceito da Crise. Faltou um planejamento maior e uma certa coragem de sacrificar personagens e revistas já estabelecidas. E nem vou falar do Gavião Negro. Dez anos depois, lá estava Zero Hora tentando arrumar a bagunça. O pior é que nem assim adiantou. Tenho muito carinho por essa época, pois foi meu ponto de entrada no Universo DC. Acompanhei muita coisa da EBAL e da própria ABril pré-crise, mas o “meu” Superman é o do Byrne, “minha” Mulher-Maravilha é a de Pérez e o Flash é Wally West, de Mike Barón. Enfim, quem viveu a época sabe do que estou falando. Hoje a coisa ficou uma salada tão grande e o marketing se sobrepoe tanto frente aos conceitos que já não me desperta muito interesse. Façam o que quiserem, não é? Pra mim, Bárbara ainda é cadeirante, Donna ainda usa colante vermelho estrelado e Jason Todd nunca escapou da explosão na Etiópia. Mas deveria…
Grande abraço a todos e é sempre um prazer visitar o blog.
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Olá, Mauro,
Você está absolutamente certo.
Cada geração se relaciona com os conceitos com os quais estabelece contato. Quem leu a DC pré-Crise, tipo nos anos 1970 (a Liga da Justiça desenhada pelo Dillin, o Batman do Steve Englehart, o Superman do Dennis O’Neil…) tem aquela versão como “sua”. Quem travou mais contato com os personagens pós-Crise (como você e eu) têm naqueles personagens a “sua versão”; quem veio depois de Zero Hora idem; e por aí vai. Talvez isso aconteça até com os Novos 52…
O problema é que a cada “renovação” dessas, a DC perde uma grande leva de leitores que simplesmente não aceita a versão seguinte. Assim, uma empreitada como os Novos 52, que deveriam atrair novos leitores, inicia-se afastando os leitores antigos, o que não é lá muito inteligente em termos de planejamento.
Todas as outras crises e zero horas já deviam ter ensinado a DC que, em vez de gerar antipatia nos leitores, seria mais estratégico simplesmente contar histórias melhores.
Quando os leitores dos anos 1980 (pós-Crise) liam uma história estupenda como A Piada Mortal, ninguém ficava preocupado se aquele era o Batman pré ou pós. A história é tão boa que os componentes cronológicos (que existem) são irrelevantes.
Essa devia ser a lógica da editora.
E se o Batman já tem uma história de origem tão boa, pra que contá-la de novo? Será que não há outras histórias mais interessantes para se contar? Pra que voltar ao início de novo? Para que contar a origem da Liga da Justiça de novo se nenhuma delas é boa? Muito menos a nova…
Em resumo: o foco deveria ser histórias boas em primeiro lugar; e cronologia em segundo.
O alto investimento da DC em cronologias conflitantes torna simplesmente insuportável acompanhar personagens como Dona Troy ou o Gavião Negro. Eles não são “confiáveis”. Nem coesos.
Um grande abraço!
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Concordo com você inteiramente.
Os personagens que amamos são as versões que temos contato pela primeira vez. Daí essa inflexibilidade com as mudanças. Infelizmente, sou um profundo defensor das versões oitentistas dos personagens da DC devido a qualidade das histórias e as temáticas mais adultas. Superman não era mais tão poderoso, o Batman não era completamente são, a Mulher Maravilha não necessitava de identidade secreta e por aí vai. E pelo menso para a época, as histórias eram muito boas. O proprio conceito de um Robin rebelde, descuidado e cabeça-dura era interessante. Starlin fez um ótimo trabalho desenvolvendo o lado “sombrio” do garoto. Infelizmente, quando o personagem estava ficando muito interessante e com possibilidades de novos caminhos – a morte do filho do embaixador foi o ápice – a fatídica votação aconteceu e o personagem foi morto.
Mas estou me desviando. O fato é que quando acabei de ler o útlimo número de Crise Infinita e constatei que tudo que a DC construiu em 20 anos foi pelo ralo (lá vem o Multiverso de novo, com todas as suas confusões), vi que era hora de abandonar o barco. Li algumas coisas esporádicas e dei uma boa chance aos Novos 52 (adorei a abordagem do Aquaman). Mas o Superman saltando por Metrópolis de toalha vermelha e botinas “Ferdinando Buscapé” foi um pouquinho demais.
E seu comentário sobre a nova origem da Liga foi corretíssimo. Um história corrida, rasa e serviu para destruir o Batman de vez. Quando que um personagem como ele iria revelar sua identidade logo para o Lanterna Verde???
Enfim, são novas histórias para novos tempos e novos leitores. Como você disse, o que interessa são as boas histórias (que estão cada vez mais difíceis de se encontrar em gibis de linha).
Novamente um grande abraço.
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