
O HQRock já divulgou anteriormente que a editora Marvel Comics parece estar disposta a mudar totalmente o conteúdo de seu universo ficcional, promovendo um reboot que criaria uma nova cronologia para seus personagens. Embora não esteja claro qual o grau dessa mudança, ela vai ocorrer: a editora divulgou um release em que afirma que seu universo será “totalmente novo, totalmente diferente” no outono próximo, ou seja, a partir do mês de setembro ou outubro deste ano.
Alguns críticos e fãs ainda pensam (ou têm a esperança) de que não se trate de um reboot completo, mas apenas uma mudança de status quo, tais outras que a Marvel promoveu nos últimos anos. Até hoje, o universo ficcional da Marvel Comics mantém a mesma cronologia criada por Stan Lee e colaboradores nos anos 1960, ao contrário da concorrente DC Comics, que já recorreu a vários reboots nas últimas décadas, para adaptar seus personagens aos novos tempos e/ou tentar criar um universo mais coerente.
O grande motim da trama da Marvel é a saga Guerras Secretas, “releitura” de outra saga com este mesmo título ocorrida nos anos 1980. Na nova aventura, várias realidades distintas colidem e, por isso, se espera que uma nova realidade emerja ao fim de tudo.
Segundo o release, após o fim de Guerras Secretas haverá um salto de oito meses nas histórias e veremos os heróis da Marvel “em condições totalmente novas, com surpresas, mistérios e grandes mudanças”, garante o Vice-Presidente Sênior de Publicações Tom Brevoort.
Um dos efeitos esperados (e temidos) é a unificação do Universo Marvel tradicional (aquele que advém dos anos 1960) com o Universo Ultimate (uma outra versão, mais “moderna” surgida nos anos 2000 e publicada em paralelo).


Pois é, aparentemente e unificação do Universo 616 com o Ultimate parece ser o objeto desse reboot, o que acha Irapuan? Se for mesmo, lá se vai uma das grandes diferenças entre a Marvel e a DC – essa aparente consistência de seu universo ficcional ao longo do tempo, tão cara a alguns de nós leitores especialmente da velha guarda, já que dá essa sensação/ilusão de que falamos dos mesmos personagens e narrativas por tantas décadas. No final, será que essa suposta continuidade é tão importante (ou mesmo real) assim? E o recurso do reboot, tão necessário para revitalizar as narrativas? Minha primeira impressão é que sim para a primeira pergunta – já que essa suposta unidade me parece uma das grandes chaves do sucesso da Marvel, vide sua replicação bem sucedida nos cinemas; e não para a segunda pergunta – já que o recurso parece mais repetitivo e pobre do que renovador/inovador. Mas pelo visto os editores pensam mesmo o contrário…
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Olá, Jorge,
Você tem razão. É uma pena a Marvel ter que recorrer a este recurso. Acho extremamente desnecessário. Acho que uma coisa devia ficar clara aos editores, escritores, críticos e fãs: a cronologia é uma ilusão. Nenhuma cronologia é perfeita, nem aquela realizada por um único produtor. O que dizer de um universo com dezenas de escritores e desenhistas diferentes? Impossível…
Mas isso não quer dizer que não podemos ter uma ilusão cronológica, ou seja, estabelecermos um linha do tempo para nossos personagens e entendê-los quase como se suas vidas fossem reais.
E, portanto, sabendo que a cronologia perfeita é impossível, nos apegamos à ilusão cronológica, ignorando pequenas inconsistências que são inevitáveis.
Claro que a cronologia é um dos maiores pelos dos Universos Marvel e DC: essa ideia maravilhosa de que Batman e Superman – apesar de suas diferenças (conceituais) – compartilham o mesmo universo. ´
Mas não dá para se apegar a ferro e fogo com as cronologias depois de sete décadas de histórias mensais. Isso é fato. É impossível. Não foram as HQs quem criaram a cronologia: Sherlock Holmes já tinha a sua no fim do século XIX. Mas considera-se apenas a obra de um único escritor para esse fim e ele produziu quatro romances e uns 20 ou 30 contos. Pronto. A obra de uma vida e uma vida em obra. James Bond é semelhante. Existem apenas 14 livros canônicos e mesmo os filmes só foram 23 até agora. Dá para dar um jeito de encaixar todos em uma coisa só (novamente, usando a ilusão cronológica e não a cronologia pura e simples).
Mas nos quadrinhos não dá mais. Sete décadas de histórias mensais. Não dá.
Se me fosse feita a pergunta, eu responderia que a solução para Marvel e DC seria assumir a ilusão cronológica e simplesmente ignorar os fatos que queiram ignorar e seguir em frente contando histórias interessantes. Com o tempo , o leitor vai aprendendo que histórias “valem” e quais “não valem” e se segue adiante. com essa postura, as editoras poderia encontrar aquela que é a saída para a “crise” dos quadrinhos atuais: simplesmente contar histórias boas e inovadoras, que não dependam tanto de cronologia. Seria isso que faria milhões de pessoas lerem uma história do Batman, assim como lêem os livros dos Jogos Vorazes: Saber que pode ler a história sem ter que ler outras 20 anteriores (e ainda assim não entender totalmente).
Mas as editoras não querem isso: dá muito trabalho criar personagens novos, situações novas, romper padrões… É mais fácil trazer o Coringa de volta.
E lá vem o reboot. Ele aumenta o volume das vendas. Mas apenas nos primeiros meses, por curiosidade. O efeito a longo prazo é perder os leitores fieis e antigos. Afinal, o que as editoras não percebem é que o leitor antigo sente que destroçaram seu personagem favorito. E o “novo” personagem não é mais aquele seu. É outro. Só que no mercado atual, quem realmente compra revistas são esses fãs antigos. E você os afugenta. E agora? Quem vai comprar as revistas?
Um nova geração de leitores? Que – mesmo com o reboot – vai ter que ler 50 histórias antigas para descobrir que elas não valem mais para a cronologia, mas ainda assim é preciso lê-las se não não se entende o que está acontecendo e quem é o personagem ou o que aconteceu com ele? Rapaz, não é preciso ser um gênio para perceber que isso não vai dar certo.
A DC caiu nessa furada várias vezes (pensando desde 1994 e a Zero Hora?). Irá a Marvel fazer o mesmo?
Esperamos que não…
Um abração, Jorge!
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Na minha opinião, a Marvel já precisava dar uma recauchutada nas coisas há tempos, a continuidade andava muito confusa,principalmente se você levar em conta as revistas mutantes,que são uma enrolação só, fora decisões editoriais equivocadas e insanidades dos roteiristas perpetradas ao longo dos anos que estragaram alguns personagens ou deixaram as coisas confusas e mal explicadas. Tony Stark, por exemplo, que morreu, foi substituído por uma versão mais nova, que sumiu também, e quem é esse Stark atual então, que até hoje a Marvel não explicou ? Vejo essa série como uma forma da Marvel aparar as arestas e reiniciar de uma forma mais coesa, o que é muito bem vindo.
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O problema, Alex, é que um reboot tem muito malefícios. Veja a resposta que dei ao Jorge nesse mesmo post para ver algumas reflexões sobre os reboots.
Um grande abraço!
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