Não, você não leu errado. Sem aviso, de surpresa, o Pink Floyd lançou hoje nada menos do que 18 álbuns ao vivo da turnê de Darkside of the Moon, em 1972, e mais um álbum com versões alternativas das faixas gravadas em estúdio. O conteúdo está disponível nos canais de streaming como o Spotify.

Os 18 discos cobrem concertos entre os dias 23 de janeiro a 09 de dezembro de 1972, começando em Southampton, no Reino Unido, passando por Japão, cidades como Los Angeles e Chicago, nos EUA, e terminando de novo na Europa, com apresentações na Alemanha, França e Bélgica. Com Darkside of the Moon, o Pink Floyd inverteu a lógica da produção artística consagrada e criou e executou o álbum ao vivo primeiro para apenas depois registrá-lo em estúdio. Tanto que o disco só chegou às lojas em 01 de março de 1973.

Capa de “Darkside of the Moon”: maior obra-prima do Pink Floyd finalmente ganha versões ao vivo com a formação clássica.

Saiba como foram as gravações do álbum Darkside of the Moon do Pink Floyd neste post especial do HQRock.

O disco é considerado não apenas a maior obra-prima do quarteto britânico, mas também o divisor de águas de sua carreira: até então, apesar de conseguir boas colocações nas paradas britânicas e ser admirado pela imprensa musical, o Pink Floyd era basicamente uma banda alternativa cult, sem sucesso de massa. Mas os milhões e milhões de cópias vendidas do “disco do prisma” transformaram a banda num dos maiores sucessos da história do rock. E o sucesso se manteve daí em diante, em discos como Wish You Were Here (1975) e The Wall (1979), e permaneceu mesmo após a ruidosa saída do baixista e vocalista Roger Waters, principal compositor do grupo, em 1985, enquanto o trio David Gilmour (vocais e guitarra), Richard Wright (teclados) e Nick Mason (bateria) prosseguiu para mais discos e turnês de sucesso por outra década inteira.

A formação clássica do Pink Floyd.

Não é sabido o motivo de tamanho presente aos fãs, além do óbvio aniversário de 50 anos daquela turnê. Provavelmente, a iniciativa está também inserida numa estratégia comercial de garantir os direitos autorais sobre tais faixas antes que elas expirem de acordo com as leis de royalties a partir do seu tempo de lançamento. Movimentos similares foram realizados pelos Rolling Stones no passado.

Contudo, a extravagância do Pink Floyd é notável, ainda mais porque a banda sempre foi muito conservadora no lançamento de material extra de sua carreira, talvez, como uma estratégia de manter a força e mítica que seus discos têm no público. Mas o fato é que, afora as duas turnês da fase última da banda, registradas nos álbuns The Delicate Sound of the Thunder (1988) e Pulse (1995), o único material oficial que o grupo tinha disponibilizado ao vivo até há bastante pouco tempo era o longínquo disco 1 do álbum Ummagumma (1969), feito bem antes da fase áurea da banda.

O Pink Floyd ao vivo em 1971.

O maravilho filme ao vivo Live at Pompeii (1971), em que tocam (sem plateia) nas ruínas do anfiteatro romano de Pompeia, na Itália, por exemplo, nunca ganhara uma versão em disco. Em tempos mais recentes, o Pink Floyd chegou até a lançar Is There Anybody Out There?, um álbum duplo com a turnê do álbum The Wall, entre os anos de 1980 e 1981, a última vez que a formação clássica do grupo tocou junta, porém, o disco está fora de catálogo e não está disponível nem nos streamings.

Somente em 2015 e 2016 a banda lançou farto material ao vivo de seus tempos clássicos, com uma nova edição de sua discografia completa, remasterizada e com a inclusão de CDs bônus que traziam alguns shows (inclusive, no caso do Darkside of the Moon) [mas de novo, esse material não está disponível em streaming, apenas para quem comprou os discos físicos] e na box-set The Early Years: 1967-1972, que trouxe gravações ao vivo de seu período underground, pré-fama (este sim, está no Spotify).

Pink Floyd em sua formação clássica, nos anos 1970: Wright, Waters, Mason (acima) e Gilmour.

Para quem se interessa realmente por música, escutar esses discos será uma verdadeira arqueologia musical, onde se pode perceber a evolução do conceito do disco e da própria banda em sua performance, definindo as canções e seus arranjos na medida em que os shows avançam. Os primeiros shows já trazem basicamente 60% do que veríamos no disco, mas ainda numa forma muito crua e bruta; e o material, os arranjos e a execução da banda vão melhorando ao longo do ano; chegando até algo muito próximo da versão final nos últimos shows.

Claro, é preciso avisar que a qualidade de áudio é desigual, com shows gravados da mesa de som, de gravadores da plateia e de equipamentos de TV, garantindo que alguns shows tenham sons melhores e outros mais precários.

Conheça a Discografia Completa do Pink Floyd neste Dossiê especial do HQRock.