Parece que o contagotas de informações sobre a “reformulação cronológica” do universo ficcional da DC Comics finalmente está chegando ao fim. Hoje, a editora fará o “anúncio oficial” do megaevento com a presença do escritor Geoff Johns (Diretor Criativo da DC) e do artista Jim Lee (Co-Publisher da DC) no Hero Complex Film Festival, que ocorre este final de semana em Hollywood, Los Angeles.
Como prévia do evento, os dois artistas – mais o outro Co-Publisher da editora, Dan DiDio – falaram ao Los Angeles Times sobre o que são as mudanças e o que elas significam.
Johns, Lee e DiDio foram claros que há uma grande preocupação da DC Comics em ampliar seu público leitor. Afinal de contas, mesmo as revistas mensais de maior sucesso dos quadrinhos atuais (que são as do Batman) só vendem em torno de 90 mil unidades, o que é muito pouco comparado à bilheteria de US$ 1 Bilhão que Batman – O Cavaleiro das Trevas fez nos cinemas mundiais. Ou mesmo ao estardalhaço que o último episódio de Smallville causou na internet. A grande questão é: por que o público que assiste aos fimes e joga os videogames (como DC Universe e Batman: Arkham Asile, dois grandes sucessos recentes) não lê as revistas dos mesmos heróis?
A “reformulação” da DC nada mais é do que uma tentativa (algo desesperada?) de atingir esse público. O que os anúncios até aqui dão a entender é que o Universo DC vai se livrar um pouco do peso da cronologia de décadas de aventuras (e revistas mensais), retroceder alguns anos no tempo (de modo a deixar os heróis, muitos dos quais já “quarentões” em suas cronologias, mais jovens) e adequar o seu visual e design aos novos tempos. (Isso ao mesmo tempo em que eventos fundamentais do passado permanecerão válidos, garantem os editores).
Neste ponto, coube ao artista Jim Lee redesenhar o design de 52 personagens-chave do Universo DC, incluindo, é claro, Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, Flash, Aquaman e muitos outros. Lee falou ao LA Times afirmando que o visual fantasioso dos quadrinhos pode acostumar o leitor após algum tempo, mas sempre exige modificações quando é adaptado para outras mídias, como a TV, o cinema e até os vídeos games. A estratégia foi, dentro do possível, aproximar o visual dos quadrinhos daquele que as personagens apresentarão quando adaptados.
Afinal, ninguém quer ver o Batman usar uma roupa de lycra cinza no cinema. A personagem só funciona nas telas usando uma armadura preta tal qual nos filmes de Christopher Nolan. Trata-se de uma questão de coerência: se Batman é apenas um homem comum que treinou o máximo possível para combater o crime com as próprias mãos e sem usar armas letais; então, uma roupa de pano não lhe servirá de nada quando, invariavelmente, for esfaqueado ou baleado. Mas os desenhistas de quadrinhos continuam a desenhá-lo como se usasse apenas um tecido sobre a pele.
Outra questão é a tradicional “sunga sobre a calça” que marca o visual dos super-heróis desde o fim dos anos 1930, quando surgiram pela primeira vez. Se aquilo funcionava no papel naquela época, sempre soou ridículo quando adaptado ao live action, seja na TV ou cinema. Então, já algum tempo, várias personagens secundárias vêm abandonando seu uso. Inclusive, o Batman que já usa um collant preto-acizentado sem sunga há alguns anos. Mas o Superman resistia bravamente e o seu último longametragem Superman – O Retorno, de 2006, manteve a mesma aparência.
Mesmo o aporte mais realista de Smallville, série de TV que contou a história de Clark Kent antes dele se tornar o Superman, também o retratou, em suas cenas finais, com o mesmo visual de sempre. O curioso é que um dos temas da série era justamente o quanto ridículo o visual tradicional dos heróis o é na “vida real”. As personagens da DC que apareceram uniformizadas na série – que não foram poucas (Arqueiro Verde, Aquaman, Flash, Canário Negro, Gavião Negro, Sr. Destino, Stargirl etc.) usaram quase todos visuais mais sóbrios, de modo que a roupa do Superman no final quase destoa.
Além do visual, o rejuvenescimento das personagens parece ser uma coisa importante na “reformulação”, livrando um pouco o peso da cronologia de modo que leitores novos se sintam convidados a ingressar nas aventuras. Os editores da DC estão muito conscientes disso. Dan DiDio, que já foi o Editor-Chefe da DC e hoje foi promovido a Co-Publisher, diz ao LA Times:
Estamos tentando mudar não apenas a companhia [DC], mas toda a nossa indústria [dos quadrinhos], para novas áreas e novas audiências e, espero, rumo a um negócio mais saudável. Vemos isto como a hora certa e o momento certo. É uma maneira de refocar as energias da companhia para um meio que possa realmente atrair a maior e melhor audiência possível. Isto não é sobre tentar mudar um único personagem ou contar uma nova história. Isto é sobre reposicionar a companhia para o futuro. O que estamos tentando fazer é ampliar o alcance de nossas histórias e o apelo dos personagens rumo a diferentes sistemas de distribuição.
O trio de editores também informa que nenhuma das personagens sofrerá tantas modificações como o Superman e a Mulher-Maravilha, curiosamente (e muito provavelmente não por coincidência) duas daquelas na qual se tentou adaptá-las para outras mídias recentemente e não foram bem sucedidas: Superman – O Retorno não obteve o esperado das bilheterias e não ganhou sequências (uma nova franquia do homem de aço estreia no ano que vem) e a série de TV da Mulher-Maravilha não teve seu episódio piloto aprovado pelo canal NBC (temos posts sobre isso, leia!).
O homem de aço continuará com suas duas principais revistas – Action Comics e Superman – ambas com novos números 01 em setembro deste ano. A primeira será comandada pelo escritor Grant Morrison (que transformou o Batman no maior sucesso de vendas da editora atualmente e também escreveu a mais aclamada história do Superman das últimas décadas, a maxissérie em 12 capítulos All-Star Superman), com desenhos de Rags Morales (de Crise de Identidade). A segunda, será escrita e terá as capas do veterano artista George Perez, com desenhos de Jesus Merino.
Entre as mudanças do Superman, além de seu uniforme (sem a sunga vermelha), haverá uma transformação do status quo do Planeta Diário. Aparentemente, o homem de aço sofrerá de certa desconfiança da população. Talvez a ideia do próprio jornal seja adaptada aos novos tempos, como os jornais de hoje. Outros rumores também informam que Clark Kent e Lois Lane não serão mais casados, como parte do rejuvenescimento da personagem. Além disso, a capa da nova Action Comics 01, por Morales, traz uma misteriosa imagem do Superman com outro visual ergendo uma pedra. O que isso significa?
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