Chegamos à Parte 02 de nosso Dossiê sobre a história dos X-Men nos quadrinhos. Não viu a primeira? Leia aqui a Parte 01, na qual acompanhamos a criação dos mutantes por Stan Lee e Jack Kirby, em 1963, a fase dourada de Roy Thomas e Neal Adams, o cancelamento da revista, em 1970, e seu retorno, em 1975, com a recriação da equipe por Len Wein e Dave Cockrum, o apogeu nas mãos de Chris Claremont e John Byrne (incluindo A Saga da Fênix Negra e Dias de um Futuro Esquecido), e a fase solo de Claremont, que transformou os X-Men no maior sucesso da Marvel já nos meados dos anos 1980.
Nesta Parte 02, veremos os anos finais da longuíssima temporada de Chris Claremont liderando os X-Men, entre os anos 1986 e 1991, que incluem também a explosiva participação do desenhista Jim Lee, que ajudou a transformar os mutantes em um fenômeno global de vendas, e criou uma iconoclastia marcante do time em seus novos visuais.
É uma história marcada por incrível sucesso, experimentações, exageros editoriais, guerra de egos e o fim de uma era, quando Claremont decide deixar o time após 16 anos de trabalho!
Esta parte da aventura, então, se inicia em 1986 e os X-Men vendem tanto quanto o quase imbatível Homem-Aranha, com a vantagem de serem um grupo de personagens. O escritor Chris Claremont acumula 11 anos de trabalho à frente da revista e continua a guiar os mutantes a fronteiras cada vez mais distantes e grandes mudanças (cronológicas e editoriais) chegariam em breve. Vamos lá!
Vale lembrar que, para a compreensão da história narrada aqui, é imperativo conhecer a Parte 01 desse Dossiê.
A Queda da Segunda Fênix
Com as partidas de Charles Xavier (para o espaço, com os S’hiar) e de Ciclope (para viver ao lado da esposa Madelyne Pryor e do filho, Nathan), os X-Men estão aliados ao ex-inimigo Magneto, que se arrependeu de seus crimes e trilha um caminho de redenção, mas as ameaças não cessam e chega a saga Guerras Secretas II, na qual o Beyonder (um ser cósmico de poder infinito) vem à Terra e fica intrigado com os humanos ao mesmo tempo em que considera simplesmente destruir a realidade.

Mais uma vez, Guerras Secretas II era um evento capitaneado pelo poderoso e polêmico editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, que o usou como um veículo para a celebração dos 25 anos da “era moderna” da editora, iniciada com o lançamento do Quarteto Fantástico, em 1961. Guerras Secretas II tinha, além da maxissérie principal (dessa vez em 9 capítulos escritos por Shooter e desenhados por Al Migrom), também se espalhava de modo decisivo em todos os títulos da Marvel, com as revistas ostentando ligações diretas à trama do evento, o que obrigava a todos os escritores basicamente abrirem mão de seus plots para ceder espaço às criações do chefe, o que não contribuiu para um bom clima na redação.

De qualquer modo, seguindo os eventos de Secret Wars II 01, publicada ainda em julho de 1985 (na qual o Beyonder se apresenta aos heróis Marvel), a saga já tinha aparecido de modo mais discreto a partir de Uncanny X-Men 196 (veja a Parte 01), contudo, a inserção mais incisiva da trama de Shooter se deu em Uncanny X-Men 202, de fevereiro de 1986, continuando a maravilhosa temporada de Chris Claremont e John Romita Jr., na qual após um encontro anterior com a criatura quase onipotente, Rachel Summers, a Fênix II (filha de Scott Summers e Jean Grey vinda de um futuro alternativo) decide matá-lo e parte atrás dele em San Francisco, com os X-Men se reunindo a Magneto e indo atrás.

Na tentativa de “argumentar” com Rachel, o Beyonder termina por trazer para o presente um grupo de Sentinelas Ômegas, os avançadíssimos robôs caçadores de mutantes do futuro dela (30 anos à frente), o que rende um grande confronto com os X-Men. Na edição 203, o grupo se reúne na casa da detetive Jessica Drew (a antiga Mulher-Aranha, que perdeu seus poderes) e reflete sobre a experiência, mas Rachel decide sugar a energia vital de todos eles e usá-la para matar o Beyonder, fazendo isso – a revelia de alguns deles – e indo ao espaço, também sugando Xavier e os Piratas Espaciais, e indo até o Cristal M’kraan (um objeto cósmico de imenso poder que contém em si um universo de nêutrons) com a ideia de destruir nosso universo e o Beyonder junto, o que daria origem a um novo universo livre daquela ameaça.

Mas ao ingressar no Cristal e entrar em contato com todas as criaturas vivas, Rachel desiste da missão e retorna à Terra, onde o Beyonder aparece e convida os X-Men para tentar detê-lo, o que o grupo recusa e prefere argumentar sobre a riqueza da vida e da finitude, algo que o poderoso ser não compreende até Rachel passar o poder extra que adquiriu no M’kraan para ele e o Beyonder finalmente entender o que significa ser um ser vivo! Ele vai embora para refletir sobre isso, mas avisa que seus dias podem estar contados.
Essa ação terá uma consequência, pois no fim da saga em Secret Wars II 09 e Avengers 266, publicadas em seguida, o Beyonder percebe que não tem o direito de matar todas as pessoas que existem, e decide se fazer nascer de novo como um bebê humano, para experenciar a vida, mas é morto pelo ex-vilão Homem-Molecular.
A edição 204 é uma aventura solo do Noturno (ilustrada pontualmente por June Brigman), que estava deixando os X-Men, pois o encontro com o Beyonder abalou sua fé cristã e fez ele ter dúvidas sobre quem era; e Uncanny X-Men 205, de maio de 1986, é outra daquelas maravilhosas histórias ilustradas (e coescritas) por Barry Windsor-Smith, aqui, explorando todo o potencial de seu traço ultradetalhado, numa aventura que teria bastante importância para a cronologia próxima dos mutantes.

Na trama, os três peões do Clube do Inferno (Cole, Reese e Macon) que foram mutilados por Wolverine ainda na Saga da Fênix Negra (no número 133) se unem à Lady Letal (Lady Deathstrike, no original), passam por uma transformação cibernética na Loja de Corpos da Espiral, uma bruxa de seis braços vinda de uma outra dimensão, o Mojoverso, porque é dominada pela criatura Mojo (e que surgiu na minissérie Longshot de Ann Nocenti e Arthur Adams), o que os torna uma ameaça muito pior. Eles caçam Wolverine em uma noite nevada, que é levado ao limite e quase à morte, sendo ajudado por uma das crianças do Quarteto Futuro (Power Pack, no original).
Wolverine tinha encontrado a vilã Lady Letal no mês anterior, na revista Alpha Flight 33 e 34 (por Bill Mantlo e Sal Buscema): ela é Yuriko Oyama, uma personagem surgida nas aventuras do Demolidor algum tempo antes, que é filha do Lorde Vento Negro, o cientista que criou o processo de vincular o adamantium aos ossos de uma pessoa e que, além de Wolverine, também fora usado no Mercenário (inimigo do homem sem medo). Yuriko achava que Logan havia roubado a tecnologia do pai dela e queria vingança, mas após ser derrotada na aventura da Tropa Alfa, ela decide ir atrás de Espiral, que a transforma em uma ciborgue incrivelmente avançada, com tecnologia de outra dimensão, que troca sua espada samurai por unhas extremamente afiadas que podem crescer até um metro de comprimento!
Ainda que surgida na revista da equipe canadense, é esta versão de Lady Letal que estreou em Uncanny X-Men 205 que se tornará em uma das principais vilãs de Wolverine em sua “carreira solo”.
Com um fio de história, mas uma esganiçada perseguição e luta na neve, a revista é um desbunde aos olhos, com Windsor-Smith explorando as texturas da neve e os detalhes de fios, engrenagens e peças dos ciborgues com um efeito incrível, se tornando uma das mais celebradas aventuras de Logan em todos os tempos!

Em Uncanny X-Men 206, com John Romita Jr. de volta à arte, e, ainda em San Francisco, os X-Men são atacados pela Força Federal, seus ex-inimigos da Irmandade de Mutantes, mas agora, sob a sanção governamental, oficialmente designados para prender os heróis mutantes pela Comissão de Assuntos Super-Humanos (e adicionados das novas membras Espiral e a nova Mulher-Aranha). Há uma acirrada batalha, e os X-Men chegam a ser derrotados, mas a polícia da cidade intervém, pois consideram os X-Men heróis que salvaram a cidade (na edição 202) e diz que a Força Federal não tem jurisdição ali a menos que possuam um mandato. Os ex-criminosos vão embora e os mutantes têm que ir também antes que eles voltem.

A edição termina com uma mulher misteriosa sendo recebida na emergência de um hospital, sem documentos e com múltiplos ferimentos a bala. A identidade dela é desconhecida, enquanto os socorristas lutam para salvá-la, mas o leitor sabe que é Madelyne Pryor, a esposa de Ciclope! O que aconteceu? Contamos já…

Na edição 207, por causa da perseguição governamental, o grupo se abriga nos túneis subterrâneos dos Morlocks, onde Rachel é assombrada por sonhos ruins que a relembram do futuro caótico de onde veio, mas Wolverine (que ainda está acamado pela batalha de dois números antes), aparece nesses sonhos de forma “real”, porque Rachel criou um vínculo telepático com ele quando sugou sua energia vital para combater o Beyonder. Abalada com tudo o que está acontecendo e pela derrota que sofreu nas mãos da Força Federal, Rachel decide contar o segredo de sua origem a seu pai, Ciclope, pois até aquele momento, Scott Summers ainda não sabia que a garota era sua filha vinda do futuro.
Ela não teria essa oportunidade, porém, pois ao sair dos túneis Morlocks, Rachel vê a casa do homem que a ajudou quando ela chegou ao presente e que foi morto por Selene (na edição 184) e decide se vingar dela indo até a sede do Clube do Inferno, na 5ª avenida, e travando uma luta com a vampira energética, que é interrompida por Wolverine, que lhe diz que os X-Men não matam e mesmo que eles (Logan e Rachel) já tenham matado pessoas antes, pelos X-Men, eles devem lutar para serem melhores.

Como Rachel se recusa a frear sua vingança, Wolverine acerta a amiga com suas mortais garras de adamantium!
Daí, vem a edição 208, na qual Rachel consegue escapar para o Central Park, enquanto Wolverine pede ajuda dos outros X-Men para encontrá-la, ao mesmo tempo em que Selene reúne o Círculo Interno do Clube do Inferno (com Sebastian Shaw, Harry Leland e outros) para caçar a menina em vingança. Uma grande batalha ocorre, e é adicionada por Nimrod, o Sentinela caçador de mutantes vindo do mesmo futuro de Rachel, que a localizou. A intervenção do avançadíssimo robô avança à edição 209 e muda a luta, com X-Men e Clube do Inferno se unindo contra essa ameaça maior.

Porém, nenhum dos três (X-Men, Clube do Inferno ou Nimrod) encontram Rachel, já que ela é atraída sem saber para uma armadilha: delirando pelos graves ferimentos infligidos por Wolverine e fugindo, Rachel é levada até a Loja de Corpos da Espiral sem que saiba, e a vilã lhe oferece consertar ou modificar seu corpo como quiser, na esperança de se apossar e manipular a Força Fênix. Mas em vista dos acontecimentos recentes – ter sugado as energias vitais dos colegas sem a permissão deles, a frieza de Tempesdade com ela e o ataque de Wolverine – Rachel pensa que seu tempo com os X-Men terminou e decide seguir com a mulher que ela não sabe que é Espiral.
Isso encerra a participação da Fênix II na revista dos X-Men dessa era e lança a personagem em uma nova aventura sobre a qual falaremos em breve.
A Chegada do X-Factor
Já vimos na Parte 01 que o imenso sucesso dos X-Men na primeira metade dos anos 1980 motivou o editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, a comissionar a criação de um spin-off da equipe, algo que Chris Claremont não queria, mas se viu obrigado a fazer, senão outro faria em seu lugar, o que levou ao surgimento dos Novos Mutantes, em 1982, que passaram a ter uma revista mensal própria com os novos pupilos do professor Charles Xavier. Quase ao mesmo tempo, também veio a minissérie Wolverine, com a primeira grande aventura solo de Logan (por Claremont e Frank Miller), que foi outro grande sucesso, e se seguiram outras minisséries, como Magik: Illyanna & Storm, Wolverine & Kitty Pryde e Nightcrawler.

Mas os X-Men se consolidaram mesmo como uma franquia com a chegada de uma terceira revista mensal dedicada ao universo mutante: X-Factor, no início de 1986, o que marcava de modo decisivo que o Universo Mutante era um quinhão em expansão dentro do Universo Marvel geral e um combo de revistas, personagens e eventos próprios. À título de comparação, apenas o Homem-Aranha tinha um combo de três revistas mensais dentro da Marvel. E mesmo os Vingadores, por exemplo, a despeito das revistas solo de seus membros, só tinham muito recentemente ganho uma segunda revista, com os Vingadores da Costa Oeste.
Outro ponto importante é que o X-Factor era trazido à tona sem o envolvimento de Chris Claremont e reunia, nada mais, nada menos, do que a equipe original dos X-Men: Ciclope, Garota Marvel, Fera, Anjo e Homem de Gelo. Mas peraí, Jean Grey? Sim, isso mesmo. Explicamos…

Em 1985, o escritor e desenhista Bob Layton era um artista bem-sucedido dentro da Marvel, tendo contribuído para a célebre fase dourada do Homem de Ferro, ao lado de David Michelinie e de John Romita Jr., na virada da década de 1970 para 80, e como era um grande fã dos X-Men originais dos anos 1960, apresentou uma proposta ao editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, de reunir o time, já que a revista Uncanny X-Men mostrava, naquele momento (após a edição 175 – veja a Parte 01) que nenhum dos membros originais dos X-Men fazia mais parte do grupo.

Jean Grey estava morta, Ciclope deixara o time para viver com a mulher e o filho e, também é preciso recordar, que Fera, Homem de Gelo e Anjo estavam, na mesma época, como membros da equipe dos Novos Defensores, na revista New Defenders. Os Defensores foram criados como um time pretensamente não-fixo de personagens, mas que mantinha um núcleo com Hulk, Doutor Estranho, Namor e Valquíria, com muitos outros heróis indo e vindo desde a estreia em 1973. Mas a fórmula cansou e, em 1980, foi criada uma nova versão do time, os Novos Defensores, com uma equipe fixa de heróis da Marvel que estavam sem publicação fixa: Valquíria (a única do antigo grupo), Gárgula, a ex-vingadora Serpente da Lua, e os três ex-membros dos X-Men, Fera, Anjo e Homem de Gelo.
Quem leu a Parte 01 sabe que o Fera virara um membro dos Vingadores em 1975, na época em que os heróis mutantes estavam sem revista, e quando os X-Men foram renovados, Anjo e Homem de Gelo saíram da equipe e formaram os Campeões, que durou pouco tempo. O Anjo e o Fera participaram dos X-Men de modo irregular entre A Saga da Fênix Negra e Dias de um Futuro Esquecido, mas saíram do time de novo. Sem revista, o trio se reuniu nos Novos Defensores. Porém, após cinco anos de publicação, com as vendas indo mal, a empreitada estava prestes a ser cancelada e, com a ideia do X-Factor, encerrou-se a publicação, com New Defenders 152, em fevereiro de 1986.

Claro, Layton sabia que Jean Grey estava morta e no pitch que mostrou a Shooter, deixava uma figura feminina indefinida no meio. Ele pensava que essa heroína poderia ser Cristal (Dazzler), cuja revista própria havia sido cancelada pouco tempo antes. Porém, ao ouvir a história, o editor assistente (e futuro escritor) Kurt Busiek teve uma ideia de como Jean poderia voltar dos mortos (ela e Fênix serem pessoas distintas) e ainda contou a John Byrne (que tinha escrito os X-Men ao lado de Claremont e estava, então, escrevendo e desenhando as revistas do Quarteto Fantástico e do Hulk). Em termos editoriais, Jean Grey havia sido morta (veja a Parte 01) porque o editor-chefe insistiu que, como a Fênix tinha se tornado uma assassina em massa, ela não poderia simplesmente “voltar ao normal” e continuar a vida sem uma punição. Daí, que a Fênix morreu a contragosto de Claremont e Byrne.

Mas a ideia de Busiek de separar Jean e a Fênix como uma forma de redimir a heroína acendeu uma lâmpada na cabeça de John Byrne e ele rapidamente desenvolveu toda uma trama a partir disso, mostrando como Jean poderia ser ressuscitada, e mostrou para Shooter. Lembrando de todo o mal estar que o fim da Saga da Fênix Negra tinha causado, Shooter achou uma boa ideia (pois a Fênix, como uma assassina em massa não podia voltar) e comissionou Layton para desenvolver sua nova revista a partir da trama de Byrne. Layton disse em entrevistas posteriores que não achou isso ruim, pois, como definiu: “por que eu não gostaria de usar Jean Grey?”. Para a arte, ele escolheu Jackson “Butch” Guice e os dois desenvolveram a primeira edição do X-Factor.
Porém, daí para frente houve uma série de problemas: Chris Claremont não foi consultado para a empreitada e fez uma confusão na redação da Marvel, mas é provável que Shooter achasse que era necessário “cortar as asinhas” do escritor, para que ele não ficasse empoderado demais como o “sr. mutante” da editora. Ao mesmo tempo, o próprio Shooter também interviu muito na revista X-Factor e mandou os artistas refazerem 1/3 do primeiro número da revista, ao ponto que o editor Mike Carlin foi demitido antes mesmo do lançamento, e substituído por Bob Harras, um nome que terá bastante importância ao Universo Mutante no futuro.
A chegada do grupo foi alardeada com estardalhaço, pois envolvia reunir os X-Men originais de novo, que não atuavam como equipe (de verdade) desde 1970!!!! E ainda envolvia a volta de Jean Grey dos mortos!

Assim, a trama criada por John Byrne inicia em Avengers 263, de janeiro de 1986, assinada pelo escritor Roger Stern (que fora editor das revistas dos X-Men no início dos anos 1980) e pelo desenhista John Buscema, na qual os Vingadores descobrem que um misterioso casulo se encontra no fundo da Baía da Jamaica, próximo da cabeceira da pista do Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York. Indo investigar, os maiores heróis da Terra são atacados pelo artefato até descobrirem que há algo vivo dentro dele e que pode, de algum modo, se comunicar com eles. A Vespa consegue acalmar o misterioso artefato dizendo que eles só querem ajudar e o ataque cessa.
Eles descobrem que o “casulo” está coberto de limo e sujeira (o que sugere que ficou um longo tempo debaixo d’água), mas é um artefato metálico e cilíndrico, e decidem levá-lo para a Mansão dos Vingadores, onde podem estudá-lo e contar com a ajuda de Reed Richards, do Quarteto Fantástico, que está hospedado por lá.
A última cena da revista mostra o casulo se tornar transparente por um instante e uma garota ruiva clamar por “Scott”!

Então, se passa a Fantastic Four 286, no mesmo mês, escrita e desenhada por John Byrne, na qual o Quarteto Fantástico descobre que a moça no casulo é Jean Grey, a falecida Garota Marvel dos X-Men, que se tornou a Fênix (X-Men 100) e morreu (Uncanny X-Men 137). Jean não tem memória de seus tempos como Fênix e também perdeu seus poderes telepáticos, mas terminam descobrindo que, em vez de ter se transformado na Fênix por ter sido atingida pela incomum tempestade solar que atingiu o veículo espacial com o qual os X-Men voltavam à Terra (em X-Men 100) – um tipo de energia que Reed Richards descreve como o mesmo tipo de radiação cósmica que transformou ele e seus amigos no Quarteto Fantástico – na verdade, uma Jean à beira da morte foi abordada por uma entidade cósmica chamada Força Fênix que trocou de lugar com ela, enquanto a colocou no casulo que terminaria no fundo da Baía da Jamaica.
Isso implicava, portanto, que Jean Grey não era a Fênix, e a Fênix era uma entidade outra que se apossou da forma e das memórias de Jean, de um modo tão completo que nem mesmo Charles Xavier foi capaz de distinguir.
Esta revista também causou uma série de problemas editoriais e conflitos dentro da redação da Marvel, e a ideia de ressuscitar Jean, ainda mais desse jeito, enfureceu Chris Claremont, que escrevia a revista dos mutantes há mais de dez anos àquela altura. E para piorar, era trazida à tona por John Byrne, que virou um desafeto depois que a dupla encerrou seu trabalho conjunto com os X-Men, cinco anos antes. Como uma forma de mediar alguns detalhes, Jim Shooter permitiu que Claremont reescrevesse parte dessa revista do Quarteto, com Jackson Guice – o desenhista do X-Factor – encarregado de refazer alguns dos quadros de Byrne, o que enfureceu Byrne e pavimentou o caminho para que, não muito tempo depois disso, ele terminasse por se demitir da Marvel.
Ainda assim, apesar de ter interferido nesse material, Chris Claremont jamais perdoou Shooter ou a Marvel por terem ressuscitado Jean Grey e a terem desassociado da Fênix.

De qualquer modo, X-Factor 01, de fevereiro de 1986, por Bob Layton e Jackson Guice, mostra as consequências da volta de Jean Grey, com ela descobrindo a histeria anti-mutante que tomou conta do país, o fato de Xavier ter ido embora e os X-Men andarem aliados a Magneto… Então, quando se reúne com seus antigos amigos, Warren Worthington III (Anjo), Bobby Drake (Homem de Gelo) e Hank McCoy (Fera), instiga todos a se reunirem e fazerem algo. Mas faltava Scott Summers (Ciclope), o antigo namorado dela, mas agora, casado e com um filho pequeno.

Quando sabe que Jean voltou, Scott vai para Nova York e passa alguns dias deprimido e confuso após reencontrá-la e não tem coragem de dizer a verdade para ela. Mas aceitam a ideia de formarem um novo grupo e, usando a fortuna de Warren, criam uma nova organização chamada X-Factor, que é administrada por Cameron Hodge, um amigo de escola do Anjo, que dá a ideia de se disfarçarem de caçadores de mutantes para encontrar jovens mutantes e treiná-los em suas habilidades, tal qual fazia Xavier no início, mas surfando na onda anti-mutante para enganar a população e o governo.

Não sabemos se era proposital, mas no fim das contas, a ideia do X-Factor ir encontrando jovens mutantes e treinando-os, na medida em que esses jovens se tornam coadjuvantes das histórias, se aproxima bastante da premissa que Claremont e Byrne criaram para os Novos Mutantes anos antes da ideia ser deturpada pela intervenção de Jim Shooter. Mas o fato é que esses jovens mutantes iam aparecendo a cada edição, como Rusty Collins, Artie Maddicks, Skids, Boom-Boom, Rictor, além de alguns Morlocks, como Calibam, Sanguessuga e outros.

Em uma entrevista posterior, Bob Layton disse que a produção de X-Factor foi muito conturbada e com muita intervenção editorial, com Shooter e Claremont reclamando e exigindo modificações, no que o escritor resistiu por apenas cinco edições, largando o título e sendo substituído por Louise Simonson a partir da edição 06, a escritora que já fora editora de Uncanny X-Men e que era uma amiga próxima de Claremont. Guice e outros desenhistas fizeram alguns números até que X-Factor 10 firmou o marido de Louise, Walt Simonson, como o desenhista, um nome importante na Marvel de então, e um artista-escritor que havia realizado uma fase explosiva de Thor (que escrevia e desenhava na época).

Mas visto em retrospecto, (talvez pelas intervenções editoriais) Layton não conseguiu fazer o título decolar e X-Factor iniciou como uma revista “fria”, e em particular, muito problemática na maneira “covarde” como retratou Ciclope. Aquele que foi o principal personagem dos X-Men durante a maior parte de sua existência, agora, aparecia como um marido infiel, que abandonou esposa e filho e ainda escondeu isso de Jean, ao passo que seus amigos mantêm todo o segredo em volta e são cúmplices, uma postura inaceitável e que maculou para sempre Scott Summers como personagem na visão de Claremont.
Ainda que Scott tente falar com Madelyne por telefone em X-Factor 02, ninguém responde à chamada (ela sumiu), ele continua em Nova York pelas edições seguintes…

O maior desenvolvimento de Layton em suas cinco edições foi reverter o Fera à sua condição mais humana original, depois de doze anos retratado como uma besta de pelos azuis. Na trama das edições 02 e 03, um cientista sequestra McCoy e faz experimentos nele que terminam por retroceder sua mutação à aparência que o personagem tinha nos anos 1960, mas ao mesmo tempo, com isso tendo algum impacto em seu aspecto intelectual.

Outro elemento importante a acrescentar nesses primeiros tempos do X-Factor era que a edição 06, com a estreia de Louise Simonson como escritora, já trouxe a estreia do vilão Apocalipse, que se tornaria o principal opositor do time. Na trama, ele é um viajante do tempo, vindo de um futuro distante, dotado de uma nave de tecnologia alienígena, e com uma ideologia na qual todos devem se enfrentar e o mais forte sobreviver para auxiliar a evolução natural. Um darwinismo social extremo.
O Massacre de Mutantes e o Início da Era dos Crossovers
As coisas estavam mudando dentro da Marvel naqueles tempos… Fundada em 1939 por Martin Goodman, a editora fora uma empresa pequena e familiar por décadas, com Goodman como publisher e Stan Lee como editor-chefe, até que Goodman vendeu a empresa em 1967 para um conglomerado comercial, a Cadence Inc. Com a mudança, Lee se tornou o novo publisher, em 1972, e o cargo de editor-chefe foi ocupado por uma geração mais jovem de artistas que manteve a qualidade e liderança de mercado de HQs. Porém, em 1986, a Cadence vendeu a Marvel para a New World Co., e os novos donos estavam interessados na ampliação do potencial da editora e em turbinar as vendas (depois da Marvel ter a melhor década de vendas desde os anos 1940!).
Uma das ordens vindas de cima era investir mais em grandes histórias interligadas – os chamados crossovers – tal qual Jim Shooter havia feito com as Guerras Secretas II: uma mesma história se espalhando por várias revistas, inclusive, indo além dos núcleos do Universo Marvel (o núcleo do Homem-Aranha, dos Vingadores, dos X-Men etc.). Até ali, as histórias dos mutantes eram basicamente mobilizadas pela alternância de grandes arcos (A Saga da Fênix Negra, Dias de um Futuro Esquecido, A Saga da Ninhada) com outros menores e menos articulados, mas isso agora ia mudar definitivamente.
E daí, os mutantes ingressam para valer na Era dos Crossovers com o Massacre de Mutantes, que articulou não somente os títulos mutantes (àquela altura, Uncanny X-Men, New Mutants e X-Factor), mas também outras, em particular The Mighty Thor, unicamente porque esta era escrita por Walt Simonson, o marido da escritora Louise Simonson (que passara a escrever X-Factor). Enquanto continuava a roteirizar o deus do trovão, Walt Simonson passou a arte naquela revista para Sal Buscema e foi ele mesmo desenhar X-Factor.

Massacre de Mutantes começa em Uncanny X-Men 210, de outubro de 1986, ainda por Chris Claremont e John Romita Jr., na qual o time lida com as consequências da batalha contra o Clube do Inferno e Nimrod e procuram os desaparecidos Noturno e Fênix (Rachel Summers). Magia (dos Novos Mutantes), Lince Negra (Kitty Pryde) e Colossos encontram Noturno e o salvam de ser linchado por uma multidão apenas por sua aparência, fruto da histeria anti-mutante que crescia cada vez mais. Enquanto procurava por Rachel, Vampira salvava um grupo de trabalhadores de cair de um edifício e, depois, vê uma multidão ao seu redor, dividida entre aqueles que a temem por ser uma mutante e outros que a defendem por ter salvado os trabalhadores. Ela também vê um anúncio do X-Factor, que “resolvem” os problemas dos mutantes (a primeira menção direta à outra equipe na revista principal dos mutantes) e reflete sobre o que eles são.
Mas o X-Factor aparece em carne e osso também na história: enquanto ajudam as autoridades que ainda cercam o Central Park (por causa da aventura anterior), os X-Men originais são vistos por Magneto que está em roupas civis e ingressa a sede do Clube do Inferno. Essa é a primeira vez que os membros originais dos X-Men aparecem reunidos em Uncanny desde a longínqua edição 94! A mesma cena – sob perspectivas diferentes – é mostrada tanto nesta revista quanto em X-Factor 09 (por Louise e Walt Simonson), o que era fruto de uma bem articulada associação editorial. Em Uncanny X-Men 210, Scott, Jean e os outros ficam desconfiados de ver Magneto entrar na base de seus inimigos, enquanto Magneto lamenta ver seus antigos inimigos aparentemente terem traído sua raça, pois o X-Factor é visto como caçadores de mutantes.
E o motivo da visita de Magnus ao Clube do Inferno é perturbador: ele tem uma reunião com Sebastian Shaw e os outros sobre a crise mutante atual e Shaw lhe oferece uma cadeira no Círculo Interno, o que o mestre do magnetismo considera aceitar.

E por fim a ação: vemos dois Morlocks que vivem em San Francisco serem caçados por matadores de mutantes e a cantora Cristal (Alison Blair) estar disfarçada como uma das backing vocalistas da banda de Lila Chaney (outra cantora mutante que aparecera nas revistas dos Novos Mutantes e tinha uma banda de rock), depois de ter revelado ao mundo que era mutante, e também ser atacada. No fim, vemos os Morlocks sendo mortos em massa em seus túneis por um grupo chamado Carrascos, formado por Caçador de Escalpos, Maré Selvagem, Embaralhador, Arrasa-quarteirão e outros.

Uncanny X-Men 211 mostra a plenitude do ataque dos Carrascos contra os Morlocks, deixando claro que os assassinos não têm nada pessoal contra eles, apenas estão realizando um trabalho contratado, e Calisto consegue que um morlock morribundo chegue à Mansão X e peça ajuda aos X-Men. O time (Tempestade, Wolverine, Colossos, Lince Negra, Noturno, Vampira) é auxiliado por Elizabeth “Betsy” Braddock, personagem de cabelos roxos que aparece pela primeira vez na revista. Betsy tinha sido criada por Claremont dez anos antes nas histórias do Capitão Britânia, o herói britânico criado para a Marvel UK e que, basicamente, só eram publicadas no Reino Unido. Ela era irmã do herói, mas Claremont decidiu resgatá-la apresentando-a como uma mutante telepata na New Mutants Annual 02, publicada naquele mesmo mês. Com o nome de Psylocke, Betsy Braddock será uma importante personagem no universo dos X-Men pela próxima década!

Nesta estreia, Betsy identifica que um grupo misterioso está matando os Morlocks e os X-Men vão confrontá-los, em uma batalha sanguinária com os Carrascos. em vista da carnificina, o sempre gentil e humano Colossos simplesmente mata um dos vilões (Maré Selvagem), quebrando-lhe o pescoço! Mas o resultado não é favorável aos heróis: resulta em Lince Negra, Colossos e Noturno serem gravemente feridos, com Kurt ficando em coma, Peter incapacitado de reverter de sua forma metálica para a humana e Kitty incapaz de sair da condição intangível que a faz atravessar os objetos.

Não é anunciado na revista, mas esta edição finaliza a longuíssima participação de Lince Negra e Noturno nos X-Men por muito e muito tempo. Quem também se despede da revista, infelizmente, é o desenhista John Romita Jr., que brindou os leitores com sua arte sensacional nos últimos dois anos. Nunca ficou muito claro o motivo desse desligamento, mas aparentemente, Romita Jr. não chegou nem a finalizar a arte, que foi complementada por Bret Blevins.

Como era típico nos crossovers, os eventos se desdobram para outras revistas, com New Mutants 46 (por Claremont e Jackson Guice), X-Factor 09 e 10 (por Louise e Walt Simonson), nesta última, com os membros originais dos X-Men também tendo um confronto acirrado com os Carrascos, mostrando mais membros do time de assassinos, incluindo, Dentes de Sabre, um vilão que fora criado por Chris Claremont e John Byrne dez anos antes nas histórias do Punho de Ferro e que, desde então, havia enfrentado outros heróis da Marvel, como o Homem-Aranha. As consequências dessa batalha são grandes para o X-Factor, pois o Anjo tem suas asas gravemente feridas e a intervenção do Thor – detalhada em The Mighty Thor 373 e 374 (por Walt Simonson e Sal Buscema) – que também combate arduamente os Carrascos e, no fim, vendo todo o rastro de morte, decide dar um funeral viking aos Morlocks, incinerando os túneis e eliminando as dezenas de corpos deixadas para trás.

As histórias do X-Factor também mostram Ciclope finalmente contar a Jean Grey que ele estava casado e com um filho quando ela ressuscitou, o que a deixa muito abalada, inclusive, na confiança a ele. Se até ali os dois ainda não tinham retomado o seu relacionamento de modo conclusivo, tal revelação realmente os tornou apenas “amigos”. E o Anjo já parte para confortar a Garota Marvel na X-Factor 10, o que Ciclope interpreta como o “amigo” já dando em cima dela (e lembrando das histórias dos anos 1960 que mostravam que Warren realmente gostava dela…). O gesto não passa desapercebido por Candy Southern, a namorada do Anjo, que fica furiosa!

O evento também aparece em Power Pack 27, a revistinha das criancinhas heroínas chamadas de Quarteto Futuro no Brasil (embora à esta altura, o time fosse um quinteto), numa trama por Louise Simonson e John Bogdanove, que termina por ser importante ao futuro porque é a primeira vez (em termos editoriais) que Wolverine encontra o Dentes de Sabre, aquele que será o seu arqui-inimigo nos quadrinhos.

Em Uncanny X-Men 212, com arte de Rick Leonardi, Wolverine vai aos túneis com a missão de capturar um membro dos Carrascos para saber quem os contratou e eliminar os demais, enquanto é monitorado por Psylocke em sua primeira missão (ainda que indireta) com os X-Men, ao mesmo tempo em que Tempestade, Magneto e Moira MacTargert coordenam a assistência médica aos Morlocks sobreviventes do massacre no complexo médico abaixo da Mansão X. Retomando o truque de mostrar a mesma cena em revista diferentes, vemos uma nova versão de Wolverine e Dentes de Sabre se encontrarem e lutarem, a primeira vez nas páginas oficiais da revista mutante. Até ali, não havia nenhum tipo de vínculo entre esses personagens, mas a história mostra que eles se conhecem há muito tempo.

Um elemento importante que aparece em meio à batalha com o Dentes de Sabre é que Wolverine capta o cheiro de Jean Grey com seus sentidos super-aguçados, porque a Garota Marvel também esteve nos Túneis Morlocks combatendo os Carrascos. O problema é que até aquele ponto, os X-Men não sabiam que Jean havia “ressuscitado”, porque os velhos membros do time não confiavam nos novos em vista dos acontecimentos recentes. Tendo em visto que Logan amava Jean e ficou muito abalado por sua morte, sentir essa presença sem saber o que está acontecendo (e, convenhamos, numa época em que não era tão comum ressuscitar os personagens mortos, como se tornaria depois) deixa o baixinho canadense quase fora de si, com apenas a obrigação de lutar por sua vida contra o Dentes de Sabre fazendo-o cair em si.
Wolverine consegue resgatar o Curandeiro das mãos do vilão e volta correndo para a Mansão para que ele possa ser curado e ajudar os demais, enquanto Tempestade tem uma crise de consciência e tenta “fugir” de suas responsabilidades, mas é confrontada por Calisto, que a faz cair em si.

O arco encerra em Uncanny X-Men 213, de janeiro de 1987, na qual Dentes de Sabre rastreia Wolverine de volta até a Mansão X e os dois têm outra grande batalha, magistralmente desenhada por Alan Davis, mas que Logan procura prolongá-la como uma forma de Psylocke ler a mente do vilão e capturar alguma informação sobre o mandante do massacre dos Morlocks, no que ela é bem sucedida. Ao fim, o vilão consegue escapar e Tempestade arranja para que todos os feridos sejam transportados para a Ilha Muir, na Escócia, onde ficarão sob os cuidados de Moira MacTargert.

Mas os X-Men estão reduzidos agora a apenas Tempestade, Wolverine e Vampira, então, Logan convence Ororo de que Betsy Braddock se mostrou mais do que capaz, e Psylocke é oficialmente admitida nos X-Men.
Renovação do Time
Talvez porque quisesse inovar ou em resposta às tensões editoriais da Marvel na época, o fato é que o término de Massacre dos Mutantes resultou em uma grande renovação da formação dos X-Men. Além de Psylocke, que foi oficializada na equipe no último capítulo daquela saga, chegariam em breve Cristal e Longshot, com a manutenção apenas de Tempestade, Wolverine e Vampira.

Um passo para isso veio no especial de verão X-Men: Giant-Size Annual 10, por Chris Claremont e arte de Arthur Adams, publicado em meio aquela saga, mas com sua história só fazendo sentido como se passando antes do Massacre (ali no meio dos eventos do início da edição 211). Na trama, somos apresentados ao Mojoverso, a dimensão dominada pelo asqueroso vilão Mojo, criado na minissérie Longshort de Ann Nocenti (a editora das revistas mutantes) e Arthur Adams, algum tempo antes. O monstruoso Mojo conduz seu mundo como se fosse os modernos reallity shows, produzindo material audiovisual para entreter e alienar as massas, e o vilão já tinha aparecido na New Mutants Annual 02 que introduziu Betsy Braddock aos leitores americanos, porque a garota tinha ficado cega nas aventuras do Capitão Britânia, e tinha novos olhos cibernéticos implantados por Mojo.
Isso significava que Mojo “filmava” tudo o que Betsy via e exibia às suas massas. Mas querendo um pouco mais de ação, daí vem o Annual 10, ele teleporta um de seus ex-lacaios que se revoltou contra ele, o jovem Longshot (que é um alienígena louro e bonitão, mas tem apenas três dedos em cada mão e é um mutante em sua dimensão, com poderes de ter sorte – sério, isso mesmo!), para a Sala de Perigo no meio de um treino dos X-Men, e usando os poderes místicos de Espiral – que é sua aliada, além de andar com a Força Federal e comandar a Loja de Corpos usada pela Lady Letal e oferecida à Fênix – faz com que os X-Men rapidamente vão sendo rejuvenescidos até a tenra infância.
Então, cabe aos Novos Mutantes ajudarem os X-Men e reverterem o feitiço, numa história meio transloucada de Claremont. Mas o resultado é que Longshot fica na Terra, aliado aos X-Men.

A consequência a essa história se dá em Uncanny X-Men 214, de fevereiro de 1987, por Claremont e com a maravilhosa arte de Barry Windsor-Smith, na qual Cristal está mentalmente dominada por Malice, uma das membras dos Carrascos, que se apossa do corpo e da mente de seus usuários, e gera um ataque em um clube noturno, que é combatida pelos X-Men. Psylocke percebe que há uma telepata dominadora em ação, mas o fato dela se transferir alternativamente para Tempestade, Wolverine e os demais mina a confiança um nos outros. No fim, os mutantes vencem, mas além de Ororo convidar Alison Blair para fazer parte da equipe e se manter em segurança agora que todos sabem que ela é uma mutante, ela decide que o time deve se dividir por enquanto, para se salvaguardar de um novo ataque dos Carrascos.
Então, a edição 215, agora desenhada por Jackson Guice, mostra Vampira conduzindo os novos membros no Pássaro Negro e os Morlocks doentes até a Ilha Muir, e Tempestade e Wolverine ficando nos EUA para conduzirem uma investigação. A dupla vai até a casa da família Grey, no interior do estado de Nova York, que foi incendiada pelos Carrascos. Wolverine percebe que a irmã mais nova de Jean, Sarah, saiu da casa antes do incêndio, mas de novo, sente o cheiro de Jean como tendo passado por ali há pouco tempo. Dessa vez, Logan fica totalmente fora de si, golpeia Ororo e sai correndo louco para dentro da floresta.

Isso leva a Ororo acordar amarrada dentro de uma cabana de caça e se libertar (com suas habilidades de ladra) e se ver como caça de um grupo de velhos heróis da II Guerra Mundial (Comando Escarlate, Muralha e Supersabre) que têm como diversão caçar criminosos que não foram presos para fazer sua justiça. Ororo termina ajudando outra perseguida, uma traficante de drogas, e precisa sobreviver por dois dias fugindo em meio à floresta, sem arma nem poderes, contra três seres poderosos, e na edição 216, consegue vencê-los, ainda que a traficante seja morta.
Durante essa jornada, Ororo precisou contemplar a possibilidade de matar seus oponentes, o que a fez refletir sobre a atitude de Wolverine, o mais mortífero de seu time, e na explosão recente de Colossos. No fim, com Wolverine de volta ao normal, ela diz a ele que chegou o momento dos X-Men deixarem de ter uma postura passiva, aguardando serem atacados por seus inimigos, e assumirem uma atitude mais agressiva e indo atrás de resolver seus problemas, em vez de apenas mediá-los.

Sem dúvidas, essa pequena trama marcava o início de um momento em que as aventuras dos X-Men se tornavam cada vez mais sombrias e violentas, com a postura do time realmente mudando até chegar a um ponto quase irreconhecível, como veremos adiante. Era uma adesão à chamada Era Sombria dos Quadrinhos, um período em que os anti-heróis se tornaram a norma, em vez da exceção.

A edição 217 é inteiramente dedicada ao novo quarteto dos X-Men (Vampira, Cristal, Longshot e Psylocke) que estão na Ilha Muir treinando e descobrindo como trabalharem juntos com seus poderes, mas Alison Blair está bastante infeliz, com saudades de sua vida de cantora, e decide ir embora, chegando em Glasgow, onde ao frequentar uma boate, termina encontrando Cain Marco, o Fanático, e decide lutar contra ele. O vilão não quer lutar, porque é fã de Alison, mas ela insiste e termina usando tanto seus poderes que ele pensa que ela morreu e, na edição 218, (agora desenhada por Marc Silvestri – que em breve seria o artista fixo do título) Alison está enterrada viva, sendo salva por seus companheiros que vão atrás do Fanático e, finalmente, o derrotam.

Aquele número também trouxe o gancho para o arco seguinte, com Alex Summers (Destrutor) e Lorna Dane (Polaris) vivendo nas Montanhas do Rio Diablo, no Novo México, descobrindo a chegada de uma nave da Ninhada na Terra, o que leva à edição 219, desenhada por Bret Blevins, que completa a virada iniciada três números antes: Alex decide ir a Nova York comunicar os X-Men e Lorna fica em casa, mas Alex fica chocado ao seguir Magneto até o Clube do Inferno e descobrir que seus amigos se aliaram a seus outrora poderosos inimigos, e ao entrar nos Túneis Morlocks, vê os X-Men finalmente reunidos (com seus novos membros), com Tempestade fazendo um discurso de que, para evitar a perseguição implacável que os Carrascos estão fazendo a eles e seus aliados, eles devem fingir as suas mortes.
Mas Destrutor é descoberto e, em vista das circunstâncias graves da eminente guerra entre humanos e mutantes, decide se reunir aos seus colegas, o que é um feito e tanto, em vista que, afora algumas participações especiais esporádicas, era a primeira vez que ele era um membro real do time desde a edição 94, de 12 anos antes!
E tudo isso acontece enquanto Lorna, sozinha em casa, é atacada pelos Carrascos (Caçador de Escalpos, Dentes de Sabre e outros), mas após uma árdua batalha, Polaris revela que está sob o domínio mental de Malice desde que Alex viajou! Dominada de corpo e alma pela vilã, Polaris se torna uma das membras dos Carrascos! E no meio da conversa, ficamos sabendo o nome do chefe deles pela primeira vez: Senhor Sinistro! Anote esse nome…
Os 4 Cavaleiros do Apocalipse
Na revista X-Factor, após o arco Massacre de Mutantes, se desenvolveu uma série de histórias que teriam grandes consequências ao Universo Mutante, ainda que, naqueles tempos, o título fosse um spin-off da equipe “principal”. A escritora Louise Simonson havia criado o vilão Apocalipse já na sua estreia na edição 06, mas em meio ao Massacre, começou a desenvolver um subplot paralelo no qual o vilão vai recrutando uma série de mutantes renegados para formar os seus Quatro Cavaleiros do Apocalipse! Assim, na edição 10 ele recruta a morlock Pestilência, na edição 11, um ex-soldado que está confinado em um hospital para ser Guerra, e na edição 12, uma menina incapaz de comer, que se tornará Fome.

Ao mesmo tempo, o Massacre tem uma terrível consequência para Warren Worthington III. Primeiro, na edição 10 é revelado à imprensa que o milionário, que se assumiu publicamente como mutante lá atrás em The Champions 01 (veja a Parte 01), é o financiador do X-Factor, que aos olhos do público é uma organização de caçadores de mutantes! Isso traz um problemão à empresa do Anjo. Enquanto isso, como já vimos, o herói alado é severamente machucado pelos Carrascos em X-Factor 10 e The Mighty Thor 374, o que resulta na X-Factor 11, de dezembro de 1986, com os médicos revelando que precisam amputar suas asas, senão ele irá morrer.
Essa mesma edição ainda mostra os X-Men originais tentando salvar uma dúzia de Morlocks sobreviventes, mas nem todos aceitam bem o fato deles fingirem serem caçadores de sua própria raça, o que leva a um grupo, liderado por Masque, a ir embora, mas terminar entrando em confronto com bandidos e depois com a polícia. Ciclope e Garota Marvel tentam ajudar, mas são obrigados a lutar quando os Morlocks furiosos decidem matar todos que estão próximos, no que resulta em uma garota transmorfa ser baleada e morta pela polícia e Scott matar o mais poderoso desses Morlocks, o que o deixa muito triste.
Na edição 12, Jean descobre que sua irmã mais nova, Sarah Grey, agora é uma fervorosa ativista pró-mutantes e percebe que não entrou em contato com sua família desde que “ressuscitou”. Ela decide ir à casa da irmã, mas quando a dupla está lá, a casa explode, no que parece uma retaliação de anti-mutantes, o que cria a situação que resulta em Wolverine e Tempestade visitarem a casa e Logan sentir o cheiro de Jean nos destroços, como já vimos. No fim, Jean diz que Scott deveria fazer o mesmo e ir atrás de sua mulher e filho e ele fiz que não têm conseguido falar com eles e não sabem onde eles estão, mas decide ir ao Alasca verificar.
Daí, vem X-Factor 13 a 15, começando em fevereiro de 1987, uma das melhores histórias da equipe nesta fase de Louise e Walt Simonson, no qual Ciclope volta ao Alasca para descobrir que sua casa foi posta à venda no mesmo dia em que ele viajou a Nova York, que Madelyne e Nathan estão desaparecidos e os registros da polícia e das autoridades não contam com nenhuma informação de que o casal morou lá! A polícia chega a investigar o aparecimento do corpo de uma mulher ruiva, dando a entender que é Pryor, mas isso não é verdade, porque as histórias dos X-Men, como já vimos, mostravam que ela tinha dado entrada em um hospital de San Francisco com múltiplos ferimentos a bala.

E no meio disso, Ciclope ainda é atacado pelo Sentinela Molde Mestre criado por Stephen Lang que estava arruinado em órbita da Terra, mas terminou por cair no Estreito de Bering e rastreou Scott para matá-lo. (Um detalhe: o arco de X-Men 98 a 101 que mostrou o ataque dos Sentinelas de Stephen Lang – veja na Parte 01 – não trazia explicitamente um Molde Mestre, mas a ideia foi trazida à tona em uma história escrita por Roger Stern e desenhada por John Byrne e publicada em The Incredible Hulk Annual 07, com a participação especial do Anjo, no qual o robô aparece e termina destruído no espaço).
A trama do casal Simonson mostra Scott extremamente atormentado pelas consequências de seus atos e em desespero pela falta de informação sobre sua (ex?)mulher e filho, o que o deixa em delírio e à beira da loucura, ao mesmo tempo em que tem um inimigo formidável para lutar. É uma grande história e o Molde Mestre revela que Ciclope é “um dos doze”, uma referência misteriosa que seria explorada depois em outras ocasiões, como que antecipando um evento que viria, mas nunca veio no futuro próximo (não antes de 20 anos!).
Na edição 14, ainda vemos Warren ser acusado de fraude por financiar secretamente o X-Factor, mas ser impedido de ir a julgamento porque está internado em estado grave no hospital, para na edição 15 não haver outra opção aos médicos do que amputar as suas asas! Ele fica completamente fora si. No Alasca, depois de vencer o Molde Mestre, Scott é convencido pela polícia de que o corpo encontrado é Madelyne e um funeral é realizado para ela, com ele jurando vingança! No fim, Warren pega um de seus jatinhos e o explode num ato de suicídio, que ocorre justamente quando Scott chega ao aeroporto e se reencontra com os outros.

Com o Anjo morto, Caliban o substitui como membro do time de ação do X-Factor e os jovens mutantes treinados pela equipe vão aumentando, incorporando Boom-Boom e introduzindo Rictor a partir da edição 17, que mostra o surgimento de um grupo paramilitar anti-mutante chamado Direita que usa armaduras especialmente desenvolvidas para repelir os poderes deles, enquanto o Homem de Gelo é sequestrado por Loki em Thor 377 e 378, no que o deus da trapaça o usa para substituir a Caixa dos Invernos Antigos e congelar Asgard, no que tem a consequência de Bobby Drake ter os seus poderes muito ampliados, mas também ficar incapaz de controlá-los, passando a usar um cinturão que inibe seus poderes.

A edição 19 traz a apresentação “formal” dos três primeiros Cavaleiros do Apocalipse e um primeiro confronto com o X-Factor que se estende pelas edições seguintes, culminando que no número 21, Pestilência toca o Fera e seu poder confere um grande mal estar às vítimas. Porém, em Hank McCoy, talvez pelo experimento recente que lhe devolveu sua forma humana, há um efeito colateral outro e seu intelecto começa a gradativamente diminuir, o que é fruto de muita angústia para o homem que era um gênio científico.
A batalha com a Direita segue em paralelo e revela, no número 22, que seu líder é ninguém menos do que Cameron Hodge, o homem que era amigo de infância de Warren e que administrava os negócios oficiais do X-Factor, agora, se assumindo um fervoroso anti-mutante que quer eliminá-los! Enquanto o grupo combate a Direita, vemos Apocalipse finalmente reunir seus Quatro Cavaleiros: Pestilência, Fome, Guerra e Morte, e X-Factor 23, de dezembro de 1987, também revela que a Morte, o Quarto Cavaleiro, é ninguém menos do que Warren, que foi transmutado por Apocalipse para um ser frio, assassino e azul, dotado de asas metálicas que disparam pequenas adagas afiadíssimas que envenenam suas vítimas.

X-Factor 24 já dava início ao novo crossover que iria abalar e meio que destruir o Universo Mutante…
A Queda dos Mutantes
Antes de caírem os mutantes, caiu Jim Shooter! O poderoso editor-chefe da Marvel, que se notabilizou por interferir e modificar as HQs dos outros autores, ao mesmo tempo em que elevou as vendas da editora a patamares recordes depois de um período (o fim dos anos 1970) de crise. Mas após nove anos de gestão, uma das altas apostas de Shooter – um novo universo de personagens – não deu o resultado esperado e os novos donos da Marvel, a New Worlds Co. o demitiram no início de 1987, com seu cargo sendo assumido por Tom DeFalco, que já vinha sido editor de várias revistas e se notabilizou como escritor à frente do Homem-Aranha.

A direção da Marvel era clara: mais crossovers! E meio “a toque de caixa” foi criado o “evento” A Queda dos Mutantes para animar o verão daquele ano. Entre aspas porque, talvez pelo improviso, a “saga” não consiste em uma história de verdade, como o fora a anterior, O Massacre de Mutantes. Queda… só diz respeito, de verdade, à revista Uncanny X-Men, com as outras do Universo Mutante (X-Factor e New Mutants) apenas minimamente associadas àquela trama e desenvolvendo, cada uma, o seu próprio arco.

No caso dos X-Men, o escritor Chris Claremont consolidava a nova fase marcada pelo tom sombrio, o que foi bastante potencializado pela arte “suja” de Marc Silvestri, que chegou para ser o artista fixo de Uncanny X-Men após uns oito meses de desenhistas circundantes. Nascido em Palm Beach, na Califórnia, em 1958, Silvestri tinha, portanto, 30 anos de idade e era um artista relativamente novato na indústria dos quadrinhos. Ele começou sua carreira na linha de terror da DC Comics em 1981, trabalhou em algumas editoras pequenas e se notabilizou mais na Marvel, trabalhando na revista King Conan, que adaptava as aventuras do bárbaro cimério em sua fase madura, a partir de 1982, depois deu um passo adiante ilustrando a Marvel Graphic Novel 17, em 1985, com a história A Vingança do Monolito Vivo, o antigo vilão dos X-Men, agora enfrentando os Vingadores, e entre 1986 e 87, algumas edições de Web of Spider-Man, a terceira revista do Homem-Aranha.
Assumir Uncanny X-Men foi, realmente, o maior passo de sua carreira e o tornou um astro dentro dos quadrinhos da época. Sua arte trazia adesão total ao novo estilo da Era Sombria, com um traço sombrio, sujo (no sentido de usar tons mais escuros – inclusive na pintura – e mais efeitos de sombra e ranhuras, aqueles pequenos traços, geralmente em linhas retas curtas, usadas para dar densidade (no caso de roupas ou objetos) e expressão (em figuras humanas), tal qual vinha sendo desenvolvido por artistas como Barry Windsor-Smith.

Na trama que inicia em Uncanny X-Men 220, de agosto de 1987, logo após o time se consolidar com uma nova formação, Tempestade deixa os X-Men em busca de Forge e de recuperar seus poderes, deixando Wolverine para liderar o grupo. Ororo à princípio não encontra Forge em seu Ninho da Águia, mas seu velho mentor, o xamã Nazé, que o leitor já sabe (mas ela não), foi dominado pela maligna entidade mística muito poderosa chamada O Adversário. “Nazé” manipula Ororo para ela pensar que Forge é o vilão e vai construindo um caminho para a heroína matá-lo, levando-a à Montanhas Rochosas, onde enfrentam uma ameaça mística.

Enquanto isso, na edição 221, Wolverine recebe um chamado desesperado por telefone: Madelyne Pryor está em um hospital em San Francisco e descobriu que todos os registros sobre ela foram apagados. É como se ela não existisse! E ela não sabe onde está seu filho nem Scott. Logan leva os X-Men rapidamente até lá e chega exatamente há tempo de lutarem contra os Carrascos, que querem matá-la, numa acirrada batalha que se prolonga à edição 222, quando Destrutor descobre que sua (ex?)namorada Polaris está aliada aos vilões (por estar dominada mentalmente por Malice). Estas duas edições também trazem a primeira aparição completa do Senhor Sinistro, o líder dos Carrascos, mas os vilões pensam que mataram Madelyne ao fazê-la cair na Baía, ao passo que ela foi encontrada e salva por Longshot.


Na edição 223, Ororo cuida de Nazé, que está ferido da batalha anterior, e tem uma visão na qual é atacada por demônios em forma de urso e cobra, até ver Forge lutando no Vietnã e usando suas habilidades místicas para evocar uma horda de demônios contra os inimigos, no que ela supõe ter sido o gesto que enfraqueceu a proteção da Terra contra essas forças místicas e o Adversário. Ao mesmo tempo, os X-Men se acolhem na desativada Ilha de Alcatraz e vemos Alex Summers e Madelyne se aproximarem, após ela pensar em suicídio e ele a confortar, pois ambos estão muito tristes com os destinos de seus amados.
Essa edição também traz uma interessante cena na qual repórteres anônimos conversam sobre a questão mutante e um deles diz que não é racista, pois tem amigos negros, mas é contra os mutantes, que podem roubar os empregos das pessoas e se ele tivesse um filho mutante, não hesitaria em matá-lo! Além de representar bem o tipo de “pensamento anti-mutante” que vinha desenvolvendo nas histórias, Claremont usou a cena para combinar uma série de falas comuns de pessoas com preconceitos e intolerantes, e que soam ainda mais verdadeiras nos dias de hoje, em que essas exatas falas são repetidas em prol das mais diversas situações de intolerância à diversidade.
Na edição 224, Valerie Cooper apresenta os novos membros da Força Federal – o trio de “heróis” Comando Escarlate, Muralha e Supersabre – em uma comitiva de imprensa e justifica o ataque aos mutantes e a ruptura dos direitos civis pela Lei de Registro de Mutantes como a vontade da maioria contra uma minoria. Mas Sina fica perturbada ao ver que Vampira e os X-Men não têm um futuro e irão morrer em Dallas, em breve, o que leva Mística a secretamente visitar a filha adotiva em San Francisco e avisá-la disso, pedindo para se afastar dos X-Men, no que a garota nega, pensando que os X-Men são uma família, ao mesmo tempo em que percebe que está rejeitando a mulher que a criou, o que a deixa em lágrimas. Vampira conta isso para Logan e ele decide que precisa ir a Dallas, então, e o time decide: todos vão, inclusive, Madelyne.

Ao mesmo tempo, Nazé deixa Tempestade no pé de uma montanha para que ela enfrente Forge. Após beijar o xamã, Ororo escala a montanha e encontra Forge no topo, em transe, diante de um portal dimensional e uma horda de demônios. Lutando contra as criaturas, ela consegue chegar até o inventor, que fica surpreso ao vê-la, mas ela lhe desfere uma adaga no coração e que ele não irá abrir o portal, no que ele replica que estava, ao contrário, tentando fechá-lo. Ororo percebe que ele está falando a verdade e os dois tentam fugir dali, mas são transportados para uma outra dimensão.


A Queda dos Mutantes começa oficialmente em Uncanny X-Men 225, de janeiro de 1988, onde após ser provocado por uma vidente – que na verdade é a entidade cósmica Roma, a mística filha de Merlin, criada por Chris Claremont nas histórias do Capitão Britânia – Colossos pede à sua irmã, Illyanna, que lhe teleporte para junto dos X-Men, e o mutante russo chega em Dallas justamente no meio de uma acirrada batalha dos X-Men contra a Força Federal, que, na edição 226, termina com os dois grupos unindo forças contra o caos místico que se instala na cidade: passado, presente e futuro se misturam! Enquanto isso, Tempestade e Forge estão em uma Terra na qual não existe a raça humana e o tempo passa diferente do nosso, de modo que eles ficam alguns anos exilados, vivendo juntos, até Forge conseguir criar uma maneira de transportá-los de volta à nossa realidade, recuperando os poderes dela no processo! Ororo retoma seus poderes que tinha perdido lá atrás, na edição 185!


Então, Uncanny X-Men 227, de março de 1988, conclui a saga, com Tempestade e Forge se reunindo aos X-Men e confrontando o Adversário, luta para a qual Forge foi treinado a vida inteira. No fim, a saída é o time entregar suas almas e com isso, afastar o demônio de nossa dimensão, evitando o caos que ele queria implementar, no que são bem-sucedidos, ao custo de suas vidas. O repórter Neal Conan acompanhava o time nas edições anteriores e filmava tudo, que por causa do caos místico instalado, terminava sendo transmitido para o país inteiro. Assim, ele capta os X-Men como heróis e eles se sacrificando pelo mundo, ao mesmo tempo em que Madelyne manda um recado amoroso de despedida para Scott.

Porém, após tudo ser reestabelecido, Roma pensa que os X-Men foram nobres demais para serem sacrificados e restitui suas almas, dando-lhes suas vidas de volta. De brinde, ela faz com que eles não sejam captados por aparelhos eletrônicos, o que garante que o mundo continue pensando que eles estão mortos, o que casa com os planos de Tempestade deles agirem na surdina de modo mais agressivo contra seus inimigos. O grupo discute a abordagem e decidem fingir que morreram e ficar no anonimato para realizar sua missão.

Roma ainda lhes dá outro presente: o Portal do Destino (Siege Perilous, no original), um portal dimensional compacto (do tamanho de um espelho de mão) que os permitiria ganhar uma vida totalmente nova caso se cansassem de suas vidas heroicas e esse item teria um papel importante no futuro próximo.
Era uma mudança de status quo importante para o grupo e duraria algum tempo. Para o mundo – inclusive seus parceiros mutantes das outras revistas – os X-Men estavam mortos!

Uma curiosidade dos bastidores é que o repórter Neal Conan que protagoniza o número 227, narrando a história, era uma pessoa de verdade: um repórter real que trabalhava para a TV e era amigo pessoal de Chris Claremont. Ele já tinha aparecido como personagem na edição 200.
Com oito membros (Tempestade, Wolverine, Colossos, Vampira, Psylocke, Cristal, Longshot e Destrutor), os X-Men abrem uma fase totalmente nova.

Na revista do X-Factor A Queda dos Mutantes representou, simplesmente, a conclusão do arco explosivo que o casal Louise Simonson (roteiros) e Walt Simonson (desenhos) desenvolviam desde o fim de O Massacre dos Mutantes, e o trio X-Factor 24 a 26, começando em janeiro de 1988, resultava no clímax da boa fase da dupla. Na trama, de luto pela “morte” do Anjo, o X-Factor adiciona Caliban como membro temporário substituto e é confrontado outra vez por Apocalipse, que tenta aliciar os heróis para o seu lado, e eles, claro, rejeitam.

Em represália, o vilão joga seus três cavaleiros para cima do grupo e, após uma acirrada batalha, adiciona, finalmente, o Quarto Cavaleiro do Apocalipse: Morte, o mais poderoso de todos. Uma figura alada, logo, fica muito claro, que ele é ninguém menos do Warren Worthington III transformado pelo vilão em uma criatura de pele azul, mais forte e poderoso e dotado de asas metálicas tecnorgânicas armadas de pequenas adagas afiadas que servem como “penas”. Na batalha, preenchido de ódio e rancor pelo massacre de seu povo na saga anterior, Caliban termina concordando com a ideologia de Apocalipse e pede para ser transformado pelo vilão, deixando seus amigos na mão. A luta danifica a imensa nave retangular do vilão, que começa a cair e irá tombar na Baía de Manhattan, exatamente em cima do já destruído (pela luta contra a Direita) complexo do X-Factor.
Os Cavaleiro são liberados para atacar a cidade e causam uma grande destruição, mas logo, Jean percebe que Warren está hesitante e tenta lhe fazer tomar a consciência. No fim dá certo, os vilões são derrotados, Apocalipse foge e Warren volta a si, mas se nega a se reunir aos velhos companheiros, pois precisa descobrir quem ele é agora.

O interessante é que o roteiro de Louise Simonson gasta um bom espaço (na edição 26) para mostrar as consequências da batalha, com o agora quarteto precisando salvar vidas dos escombros e dos incêndios que tomaram Manhattan. Nisso, eles são vistos como heróis pela polícia e pela população, no que Ciclope e Garota Marvel aproveitam a novidade para conversar com a imprensa e revelar toda o estratagema por trás da organização X-Factor (eles não estavam perseguindo, mas ajudando mutantes), acabando com a farsa que perdurava desde o número 01. No fim da edição 26, as autoridades organizam um desfile pelas ruas da cidade em homenagem aos heróis e um estilista que foi salvo por eles lhes dá um novo uniforme, com volumes nos braços e pernas (típicos da nova estética mais exagerada da Era Sombria), mudando ligeiramente o esquema de cores dos personagens.
E antes disso, outro ponto importante… Lutando juntos e salvando vidas juntos, Ciclope e Garota Marvel se redescobrem apaixonados um pelo outro, e se eram “apenas amigos” com um passado romântico até aquele ponto na revista, assumem seu romance, se beijam e (pela primeira vez de modo explícito em uma HQ mutante) passam a noite juntos. A justificativa moral para esse ato, nos planos de L. Simonson, era que Scott pensava, até então, que Madelyne estava morta.
O grupo passa a ocupar a nave de Apocalipse, que é dotada de uma Inteligência Artificial amigável e de um sistema que só permite a entrada de mutantes.
Na revista dos Novos Mutantes, Chris Claremont encerrou sua longa temporada com o grupo em New Mutants 54, de agosto de 1987, logo após o Massacre de Mutantes, e passou a bola para Louise Simonson, que assumiu os roteiros dali em diante, com a arte de Bret Blevins. Com isso, a escritora se tornava a mandatária de dois dos três títulos mutantes, mas havia um motivo para Claremont deixar essa revista, conforme iremos detalhar adiante.

No contexto de A Queda dos Mutantes, o grupo de adolescentes também enfrentou a Direita, paralelo aos eventos da revista X-Factor, no que resultou na morte de Cifra em New Mutants 60, num processo que começa a afastá-los de Magneto, oficialmente o tutor deles, ainda mais porque não concordam com sua vinculação com o Clube do Inferno. O papel do mestre do magnetismo passa a ser de um opositor ou castrador que sempre tenta impedir o time de encarar suas aventuras.
A Fase da Austrália
Finda A Queda dos Mutantes, os X-Men entram em uma de suas mais estranhas fases já criadas até então. No que pode ser entendido como um experimento de Chris Claremont (afinal, naquele ponto, ele já estava há 13 anos à frente dos mutantes!), os heróis estão dados como mortos, todos os seus amigos e familiares acreditam nisso e começam uma etapa totalmente nova, fora de seu status comum.

Após um “número de férias” na edição 228 (coescrita pelo editor-chefe Tom DeFalco, com arte de Rick Leonardi e focada em um amigo de Alison Blair lamentando a “morte” da amiga), a coisa começa para valer em Uncanny X-Men 229, de maio de 1988, no qual o time ataca um grupo de ciborgues chamados Carniceiros que roubavam pessoas e bancos ao redor do planeta, usando uma base cheia de tecnologia no meio do nada do deserto australiano e escravizando um aborígene local que tem o poder de abrir portais de teleporte. Vencidos os vilões (que são lançados no Portal do Destino!), os mutantes se apropriam da base e do aborígene, criando uma situação mais do que conveniente para o time sair em missões e voltar para o anonimato em seu esconderijo.
O grupo enfrenta algumas ameaças menores e tem um arco de três partes contra os velhos inimigos da Ninhada (que tinham sido descobertos por Destrutor meses atrás, lembram?), que se inicia na edição 232, numa época em que as vendas estavam tão altas que a revista assumiu, pela primeira vez em sua história, uma periodicidade quinzenal! Ou seja, eram duas revistas por mês!!!! O volume de trabalho obrigou a que Marc Silvestri alternasse os números com Rick Leonardi.

Também no número 232, Madelyne Pryor, que virou um tipo de “assistente técnica” do grupo e ficava operando os sistemas tecnológicos da base e acessando todas as fontes de notícias e TVs do mundo para auxiliar os X-Men em suas missões (o que parecia algo muito avançado numa época em que não existia internet, vale lembrar), tem, finalmente, a grande descoberta: vê uma entrevista na TV de Ciclope e Garota Marvel (aparentemente relacionada às consequências da aventura contra Apocalipse) e percebe que a mulher ruiva, que num primeiro momento pensa ser si mesma, é Jean Grey, e que, então, foi por isso que Scott a abandonou! Ela era a primeira membra dos X-Men a descobrir que Jean estava viva.

Mas algo importante acontece na edição 234: enquanto os X-Men estão fora, enfrentando a Ninhada, Madelyne é ferida pela explosão de um monitor e fica um longo tempo desmaiada no chão. No que ela pensa ser um sonho (mas era real), é visitada pelo demônio S’ym (que já tinha aparecido nas histórias que transformaram Illyanna Rasputina de uma criança para uma adolescente – veja a Parte 01 – e volta e meia reaparecia nas aventuras dos Novos Mutantes), que lhe faz uma proposta de transformá-la na mulher que ela quiser. Rancorosa pelo abandono de Scott e pelo desconhecimento do paradeiro de seu filho, Madelyne opta pela opção vingativa e é transformada por S’ym, inclusive, ganhando um uniforme sombrio e sensual. Não estava claro ainda, mas isso a transformou na Rainha dos Duendes, conforme veremos abaixo. Quando ela acorda, depois, ainda pensa que foi um sonho.

Outro evento muito importante ao futuro dos X-Men acontece em Uncanny X-Men 235, de outubro de 1988, na qual há a primeira aparição de Genosha, uma ilha-nação fictícia localizada na costa leste da África, no Oceano Índico, ao norte de Madagascar, e cuja capital é Hammer Bay. Lá, descobrimos que é um país que tem uma política explícita de perseguição aos mutantes, numa alusão clara ao regime do Aparthaid da África do Sul, que ganhou as notícias naquela época. A adoção da escravidão de mutantes leva os X-Men a visitarem o local e Wolverine e Vampira são capturados pelos Magistrados, o que leva a uma missão de resgate do time e de Madelyne Pryor surpreendentemente manifestando poderes psíquicos na edição 238, de novembro de 1988, e confrontando o Genegenheiro de Genosha (um cientista que elimina poderes mutantes), que diz que ela não tem poderes mutantes (!). Pryor assume de novo aquele visual maligno e diz que um “inferno” está vindo…
Outro ponto importante em meio a essas edições é que Vampira manifesta de súbito a personalidade de Carol Danvers, que ainda vive dentro dela, e passa a alternar esses momentos entre si e a outra. Isso vem a calhar porque, num retcon de Claremont (estabelecido já desde por volta da edição 150, vejam na Parte 01), Carol e Logan têm um passado no serviço secreto.

Wolverine queria destruir o governo e deixar Genosha em ruínas, mas os X-Men são convencidos por um dos bons homens do país a dar-lhes a oportunidade de mudar o regime de perseguição aos mutantes. Ao reencontrar Destrutor, Madelyne lhe dá um beijo na boca.
A nova postura de Madelyne teria uma enorme consequência no próximo arco de histórias…
Antes disso, porém, algumas questões… Uma importante mudança editorial ocorreu em meio a essa “fase australiana” dos X-Men: a partir da edição 232, a editoria do título saiu das mãos de Ann Nocenti para de Bob Harras. E não apenas isso: seguindo uma nova organização da Marvel sob a condução de Tom DeFalco, Harras se tornou o editor de todos os títulos mutantes, incluindo, Uncanny X-Men, New Mutants, X-Factor e a novíssima Wolverine (veja baixo), o que permitia, do ponto de vista administrativo, um melhor direcionamento dos trabalhos, especialmente em meio aos grandes arcos cruzados dos crossovers.

A chegada de Harras, contudo, pode ser entendida como uma ruptura, pois até então, os editores anteriores de Uncanny X-Men, como Roger Stern, Louise Simonson e Ann Nocenti, eram pessoas que foram muito próximas e amigas de Chris Claremont, a grande estrela, o que não era o caso com Harras, com quem não tinha nenhuma relação especial. Também é bem possível que, àquela altura, a administração da Marvel tivesse algumas ressalvas com Claremont, afinal, um artista que estava há tanto tempo (13 anos!) conduzindo a revista de maior sucesso da editora trazia uma série de complicações. especialmente de direitos autorais e salário.
O fato é que, até este momento, mesmo com as ocasionais disputas com Jim Shooter (como no caso da criação do X-Factor), Claremont era o “reizinho” do mundo dos X-Men. Mas isso mudou significativamente a partir de então, sob a batuta de Harras, e o escritor começou a perder espaço. E poder.
Wolverine: Carreira Solo
Àquela altura, Wolverine não era apenas o mais famoso membro dos X-Men, mas um fenômeno que aumentava as vendas de qualquer revista ou capa no qual aparecesse. A Marvel, sob nova direção e orientada pelo Departamento de Marketing, estava ciente disso e decidiu capitalizar o máximo que pudesse. Com as vendas em ebulição, a editora realizou algumas experimentações e começou a publicar os títulos mais vendidos em periodicidade quinzenal (como já vimos com Uncanny X-Men, mas ocorreu com outras, como Amazing Spider-Man). E como forma de reforçar o novo formato, lançou uma revista totalmente nova nesse estilo: Marvel Comics Presents.
Presents era uma revista de antologia, ou seja, reunia em um mesmo número várias histórias de vários personagens, tal qual era comum na década de 1940, porém, agora, com histórias curtas, de mais ou menos 8 páginas cada. Como não podia deixar de ser, para dar uma partida segura no título, Wolverine era o carro-chefe, enquanto havia histórias do Surfista Prateado, Shang-Chi e Homem-Coisa.

Marvel Comics Present 01 saiu em setembro de 1988 e a história de Wolverine, intitulada Save the tiger, era escrita por Chris Claremont e tinha a arte do veterano John Buscema. Era um arco que se distribuiu pelas 10 primeiras edições do título. Buscema era um dos mais importantes artistas da história da Marvel, tendo sido um dos ilustradores principais da era clássica da editora, ao lado de Jack Kirby e John Romita (o pai). Chamado de “Michelangelo dos quadrinhos” por Stan Lee, nos anos 1960, sua arte era marcada por uma incrível beleza plástica que abrilhantou as revistas dos Vingadores, Quarteto Fantástico e Conan, o Bárbaro.

Todavia, era notório que Buscema não gostava de super-heróis e desenhava as revistas apenas como um emprego. Talvez por isso e por sua idade avançada (ele já tinha 61 anos de idade), sua arte nessas histórias de Wolverine era bem diferente daquele traço clássico que lhe consagrou. Ali, em 1988, Buscema praticava uma arte mais suja (querendo se adequar ao estilo da Era Sombria?) e com figuras mais feias e até desajeitadas. Não há outra palavra para definir: por dinâmica que seja sua arte nas aventuras solo de Logan, tudo e todos pareciam feios no novo estilo de Buscema.

Na trama, se aproveitando do anonimato possibilitado pela “morte” dos X-Men, e da conveniência de poder se teleportar para onde quiser, Logan decide “passear” em Madripoor, outra ilha-nação fictícia criada por Claremont (dessa vez, estreando em New Mutants 22, já um tempo antes), que é apresentada como uma caricatura exagerada do terceiro mundo: vizinha a Indonésia (e, portanto, tal qual Genosha, também no Oceano Índico), Madripoor era habitada por uma população asiática e era um país marcado por um grau tão grande de corrupção que era impossível discernir o que era governo e o que era crime organizado. Além disso, tal qual a nossa Salvador, da Bahia, Madripoor era formada pela Cidade Alta dos ricos (um lugar tão moderno e rico como qualquer país europeu) e a Cidade Baixa (uma imensa favela sem lei) dos pobres.
Se aproveitando de seu passado misterioso, sobre o qual o leitor não sabe quase nada, Logan procura se reconectar com alguns contatos que tem em Madripoor e termina numa batalha para salvar a Tigresa, mais uma das femme fatale da vida do carcaju, outra daquelas vilãs de bom coração. Esse primeiro ciclo se encerrou na edição 10, de janeiro de 1989.
Presents, claro, continuou a ser publicada, e manteve quase sempre um dos membros dos X-Men como carro-chefe em aventuras solo, com Colossos sendo o próximo e Ciclope assumindo o protagonismo do título entre as edições 17 e 23 (em histórias de Ann Nocenti e Rick Leonardi), com Destrutor e o Excalibur (falaremos sobre eles em seguida) vindo depois. Mas a revista não se limitou aos mutantes e publicou várias outras histórias de personagens diversos da Marvel que foram testados para ver se tinham “força” para segurar uma revista mensal, e um dos destaques foi a aclamada história The Panther’s Quest, do Pantera Negra.
Um pouco mais tarde, a partir da edição 39, Wolverine retornaria à revista e se tornaria um tipo de atração fixa, da qual falaremos um pouco mais adiante.

De qualquer modo, os 10 capítulos de Save the Tiger foram aprovados pelo público (e pelas vendas!) e antes mesmo de serem encerrados já ganharam seu desdobramento direto: em novembro de 1988 chegou às bancas Wolverine 01, a nova revista mensal dedicada exclusivamente a Logan, continuando a saga de Claremont e Buscema. Para fins de catálogo, essa revista é chamada de Wolverine (vol. 2), porque a minissérie de seis anos antes (veja a Parte 01) é considerada como o volume 1.
Lembra que Claremont havia deixado de escrever a revista New Mutants? O motivo era para se dedicar à produção das aventuras solo do carcaju.

Talvez como um afago a Buscema, Wolverine não tem praticamente nenhum elemento do aspecto tradicional de super-heróis: era uma história low-fi, com poucos superpoderes e muito mais pautada na realidade surrealisticamente familiar aos brasileiros de Madripoor e sua desigualdade social afrontosa e controle pela criminalidade e corrupção, trazendo Logan para lutar contra bandidos amorais, trombadinhas, traficantes de drogas e gangsters, com superseres pontuais para dar tempero. Uma novidade foi que, como forma de garantir o anonimato – já que o mundo achava que Wolverine estava morto – Logan adota um “disfarce”, usando roupas sociais (ternos e gravata borboleta!!!!) e um tapa-olho (no estilo de Nick Fury), o que, sem dúvida, o deixava irreconhecível a qualquer um que o visse, sob o codinome de Caolho (Patch, no original). (Ironia embutida). E quando precisava entrar em ação nas noites ainda mais escuras do que o normal de Madripoor, Wolverine não usava seu tradicional uniforme marrom e bronze, mas uma roupa simples e preta e um tipo novo de máscara dominó (aquela que só cobre os olhos), feita de renda (!!!). De novo, Logan ficava irreconhecível! (De novo, ironia).

Mas afora essas idiossincrasias, as tramas da revista solo Wolverine eram bastante interessantes e mundanas, num estilo totalmente diferente daquelas mais fantasiosas dos X-Men, remetendo aos quadrinhos sombrios dos anos 1970 e com muita violência e referências mais “pesadas” do que o normal nas revistas “de linha” da Marvel, pois eram recheadas de drogas, prostituição e com muito assassinato a sangue frio. Também trazia todo um novo elenco coadjuvante, com a Tigresa, a ruiva Lindsay McCabe (vinda das aventuras da Mulher-Aranha), Archie Corrigan, O’Donnell (um dos donos do Bar Princesa), o chefe de polícia Tai, além da Karma (ex-Novos Mutantes) e de Jessica Drew, a antiga Mulher-Aranha, uma personagem cara a Claremont, por ter escrito suas histórias no passado. E também, o vilão de fundo, o Príncipe Baran.
O primeiro arco envolvia a posse de uma espada mística que corrompia a alma de quem a empunhasse e colocou Caolho contra ameaças antigas como o Samurai de Prata (veja a Parte 01) e novas, como o vampiresco Bloodsport (mais tarde rebatizado de Bloodscream, que será um oponente recorrente nos anos seguintes) e trouxe ainda a participação especial do Hulk (em sua versão cinza e na personalidade “Joe Tira-Teima” – um tipo de capanga de luxo da máfia – que vivia na época), afinal, havia um vínculo histórico entre esses dois personagens.

O arco de Madripoor de Claremont se encerra na edição 08, já em junho de 1989, mas após uma “edição de férias” no número 09, pelas mãos de Peter David e Gene Colan (com Logan caçando criminosos num cenário rural dos EUA ou Canadá), veio a histórica Wolverine 10, agosto de 1989, na qual temos o mais importante confronto até ali de Logan contra Dentes de Sabre.

A boa história de Claremont e Buscema se passa no presente, em Madripoor, com uma trama paralela em algum ponto indefinido do passado, no qual vemos que existe algum tipo de relação especial entre o herói e o vilão, como pessoas próximas, e que Dentes de Sabre aparece a cada ano para “celebrar” o aniversário de Logan e faz isso dando-lhe uma surra. (Por que? A trama não revela). Diferente de suas representações até ali (pois Wolverine venceu Dentes de Sabre com facilidade em duas ocasiões recentes), o vilão é retratado como um “fodão” total, que sempre vence e Wolverine nunca consegue superá-lo.

Em uma dessas ocasiões do passado, Dentes de Sabre mata a indígena Raposa Prateada (Silverfox, no original), a esposa de Logan! Na sequência há outra grande batalha, mas dessa vez, Wolverine lança ele próprio e o vilão de cima de uma montanha, garantindo uma vitória pela primeira vez e ganhando uma dose de respeito.

Contudo, por motivos até hoje não muito claros, esta terminou sendo a última edição de Claremont à frente do título. O editor Bob Harras optou por removê-lo e passou a revista para o escritor Peter David (que vinha de temporadas bem-sucedidas no Homem-Aranha e no Hulk) que manteve John Buscema na arte e publicou um arco em seis partes a partir de Wolverine 11 até 16, começando em setembro de 1989, envolvendo uma joia mística e vampiros, para Wolverine 17 a 23, terminando em abril de 1990, trazerem o escritor Archie Goodwin com a arte de John Byrne (que voltava à Marvel e ao universo mutante).
Ambos os arcos mantiveram o tom sombrio e violento e a ambientação em Madripoor, mas se aproximaram mais do tom super-heróico, marcadamente trazendo de volta o uniforme marrom e bronze como símbolo disso. Contudo, não foram tão marcantes.
O Excalibur
Como já mencionamos algumas vezes, foi Chris Claremont quem criou (lá em 1976) o Capitão Britânia, um super-herói britânico que foi um esforço da Marvel em capitalizar material original para ser publicado no Reino Unido, além de suas próprias revistas americanas. A empreitada da Marvel UK não foi longeva e não rendeu os frutos esperados até que, nos anos 1980, a editora comissionou artistas britânicos para desenvolver o personagem, o que serviu para lançar Brian Braddock em uma nova fase cheia de histórias aclamadas nas mãos de artistas como Alan Moore, Jaime Delano e Alan Davis.
As histórias do personagem foram descontinuadas em 1985, e quando Claremont leu o material, ficou impressionado com a qualidade e apresentou à Marvel um projeto de voltar a publicá-lo, no que foi aceito, desde que vinculasse o personagem aos heróis mutantes que o escritor conduzia tão bem. E já havia um precedente, pois Claremont incluiu Betsy Braddock, a irmã do herói, como Psylocke nos X-Men pouco tempo antes. A participação de Roma em A Queda dos Mutantes provavelmente já era uma ação deliberada de aproximar esses dois universos ainda mais.

Então, Claremont se reuniu ao desenhista Alan Davis (o mais tradicional a ilustrar o herói britânico) e a dupla lançou o grupo Excalibur (nomeado, claro, a partir da mítica espada das lendas do Rei Arthur) na revista especial de 48 páginas Excalibur Special Edition, em abril de 1988. Na trama, os britânicos Capitão Britânia e Meggan se unem aos ex-membros dos X-Men Lince Negra, Noturno e Fênix (Rachel Summers) para combater uma ameaça mística e decidem formar uma nova equipe.
Baseados em Londres, o time foi muito bem recebido pelos leitores e ganhou em seguida sua própria revista mensal: Excalibur 01, por Claremont e Davis, chegou às comic shops em outubro de 1988, e chegou a ser a revista mais vendida daquele mês! À frente de Uncanny X-Men! Os números seguintes ficaram em terceiro lugar, atrás de Wolverine e Uncanny X-Men, o que fazia com que Claremont assinasse nada menos do que as três revistas mais vendidas da Marvel na época!

Numa jogada de mestre nos bastidores da Marvel, Claremont conseguiu que a editoria de Excalibur ficasse com Ann Nocenti e Terry Kavanagh, porque, “oficialmente” não fazia parte do núcleo mutante da editora (sob o regime de Bob Harras), ainda que fosse vendida como outro spin-off dos X-Men. Também garantiu por contrato uma grande margem de controle criativo, e o escritor e Davis optaram por fazer da revista uma comédia de aventura, afastada do tom cada vez mais sombrio e violento das revistas mutantes, e usando dessa liberdade para simplesmente não relacionar quase de maneira nenhuma os eventos de Excalibur com aqueles do universo mutante.
Alan Davis desenhou o primeiro ano e meio da revista, mas depois deixou de ser o artista fixo, porque ficou doente, terminando por se afastar oficialmente após a edição 24, de julho de 1990. Claremont prosseguiu escrevendo o título até o número 34, de fevereiro de 1991, e o motivo de sua saída relataremos mais adiante.
Inferno
A condução do storytelling da Marvel da época continuava a ser guiado pelos crossovers de verão e isso, na verdade, ia ampliar ainda mais. O evento da vez era Inferno, uma saga importante na cronologia dos X-Men, ainda que não gozasse da mesma qualidade de outros do passado. Ao contrário do anterior A Queda dos Mutantes, contudo, a trama de Inferno era mesmo articulada entre todos os títulos mutantes, agora, sob o planejamento acirrado de Bob Harras, e tinha como mote resolver o imbróglio entre Madelyne Pryor e o paradeiro do filho de Ciclope, que se arrastavam já há um bom número de anos.

A grande trama começa em Uncanny X-Men 239, de dezembro de 1988, ainda por Chris Claremont e Marc Silvestri, na qual temos uma história basicamente mundana, apenas colocando as peças do tabuleiro em ordem: enquanto uma série de eventos paranormais inexplicáveis começam a acontecer em Nova York (como o edifício Empire State começar a crescer sozinho), vemos que o Senhor Sinistro armou para que Malice se fundisse com Polaris ao ponto da vilã não conseguir mais se separar da ex-heroína, vemos uma rivalidade crescente entre Vampira e Psylocke, enquanto a primeira continua a alternar momentos em que a personalidade de Carol Danvers se impõe.
Tempestade monitora as comunicações do mundo, usando a tecnologia de sua avançada base australiana, e vê uma entrevista de Ciclope ao lado da Garota Marvel. Isso vem como uma grande surpresa, pois até ali, Ororo ainda não sabia que Jean Grey estava viva! Elas tinham sido as melhores amigas no passado! Ela conta a Wolverine, que lhe informa que já sabia, pois tinha sentido o cheiro dela em duas ocasiões (nas edições 212 e 215, lembram?), mas achava que tinha perdido o controle de seus sentidos.
Mas o mais importante é que vemos Madelyne e Alex confortando um ao outro, se beijando e passando a noite juntos. Depois, ela assume sua persona Rainha dos Duendes e vai ao encontro ao demônio N’astirh, um dos “tenentes” de S’ym, com uma proposta: de eliminar os Carrascos e reaver seu filho, Nathan Christopher, que está desaparecido.
Na edição 240, Alex e Madelyne têm uma noite romântica em Nova York, mas coisas estranhas continuam acontecendo e vemos que Madelyne percebe o que está por trás e finge não ver nada. De volta à Austrália, ela se transforma na Rainha dos Duendes e parte numa missão, enquanto Alex pensa que ela está chateada e decide usar a tecnologia da base para localizar os Carrascos, que sequestraram o bebê dela. Enquanto vemos mais da rivalidade entre Vampira e Cristal, fica claro que Alison está apaixonada por Longshot, mas ele não parece corresponder, então, Destrutor localiza os Carrascos e os X-Men vão enfrentá-los no beco que dava acesso aos túneis Morlocks e há outra batalha esganiçada entre os times, mas os vilões conseguem escapar.
De volta à superfície, os X-Men percebem que a cidade está transformada: tomada por demônios, com paredes, prédios e carros ganhando vida e atacando as pessoas!

Enquanto isso, Madelyne se transforma na Rainha dos Duendes e segue as pistas fornecidas por N’astirh sobre seu filho e vai até um orfanato no Nebraska, descobrindo uma instalação secreta no subterrâneo, e percebendo que tem lembranças de ter crescido naquele lugar! Ela encontra uma cápsula que tem o seu nome e fica intrigada até que o Senhor Sinistro aparece diante dela e diz que é seu pai!!!!
Então, se passa à edição 241, na qual a Rainha dos Duendes confronta Sinistro, que lhe conta sua origem: ela era um clone de Jean Grey, que ele criou, mas fracassou, porque ela não desenvolveu os poderes mutantes, mas o vilão planejou toda a trama dela conhecer Scott Summers para que os dois gerassem um poderoso filho mutante. Também diz que quando a Fênix morreu na Lua, Madelyne despertou imersa em um pássaro de fogo, sugerindo que havia uma conexão dela com a Força Fênix, e que essa, provavelmente, era a origem de seus recentes poderes! Sinistro não tinha certeza e queria matá-la para dissecá-la e entender o que realmente aconteceu. Mas Madelyne não se entrega, se torna ainda mais poderosa – influenciada pela invasão dos demônios – e quando N’astirh lhe traz seu filho, ela diz que vai matá-lo como forma de se vingar do estratagema do vilão e da traição de Ciclope.

Ao mesmo tempo, os X-Men enfrentam hordas de demônios e reencontram alguns Carrascos em Nova York e agem de forma cada vez mais violenta e selvagem. Colossos fica surpreso ao ver Maré Selvagem, a quem ele matou no Massacre de Mutantes e descobre que Sinistro clona os vilões. Destrutor mata Arpão com seu poder, mas Colossos reconhece uma das espécies de demônios como aquelas que habitam o Limbo, a dimensão na qual sua irmã cresceu, e o demônio lhe diz que S’ym e N’astirh tomaram o poder de Illyanna do Limbo e também percebe que sua pele de aço orgânico lhe protege da influência maligna dos demônios, que estão fazendo seus colegas mutantes agirem cada vez mais selvagens.

A trama intricada nos obriga a voltar um pouco atrás para as revistas do X-Factor, nas quais a dupla Louise e Walt Simonson continuavam a desenvolver boas histórias. Seguindo a vitória contra Apocalipse, o grupo reduzido a um quarteto descobriu (assim como o mundo inteiro) que os X-Men haviam “morrido” e veem a despedida de Madelyne para Scott, e o time também enfrentou alguns vilões menores e um novo ataque da Direita, que tem como consequência Hank McCoy retornar à sua forma peluda e azul de antes, em X-Factor 33, processo que interrompeu a diminuição de seu intelecto como vinha acontecendo há algum tempo. Essa batalha também mostrou Warren Worthington III voltando para se vingar de Cameron Hodge, culminando na morte do vilão na edição 34, quando é decapitado pelas afiadas lâminas das asas metálicas do ex-Anjo, ainda que o demônio N’astirh diga que lhe conferiu imortalidade.

Em meio a essas aventuras, conhecemos uma nova vilã chamada Babá (Nanny, no original) que usa uma armadura redonda e se dedica a sequestrar bebês mutantes, acompanhada de seu assistente, Orphan Maker (Criador de Órfãos), e alguns outros, que estreiam nas edições 30 e 31, respectivamente. Então, X-Factor 35, de dezembro de 1988, traz que, enquanto Fera e Homem de Gelo enfrentam os demônios que invadiram Nova York, Ciclope e Garota Marvel investigam o paradeiro do filho dele, o que o leva ao orfanato em que cresceu, que fica em Omaha, no Nebraska (estão captando?). Ao ingressar no local, Scott relembra de eventos de seu passado, mas também é tomado por lembranças novas, que não sabia que tinha e que são um pouco contraditórias com as mais familiares, inclusive, de que teria despertado seus poderes mutantes um pouco mais cedo do que lembrava.
A dupla termina descobrindo a instalação secreta que há no subterrâneo e são surpreendidos pela chegada da Babá e sua equipe, que vêm coletar bebês mutantes, e a luta fica pior quando os demônios de N’astirh também aparecem. O casal encontra Nathan Christopher em um tipo de casulo e consegue libertá-lo, mas em meio à luta, os demônios conseguem sequestrar o bebê e levá-lo. Em meio a isso tudo, Jean começa a manifestar de novo seus poderes telepáticos, sentido a presença de pessoas, de perigo e até se conectando a uma das crianças presas no orfanato, e ainda descobre que um dos “soldados” da Babá, por dentro da armadura, é ninguém menos do que sua sobrinha, filha de sua irmã Sarah, Gailyn: a Babá estava sequestrando e colocando crianças com mentes dominadas eletronicamente em armaduras! Ao encontrarem Christopher, Jean também cria automaticamente um vínculo telepático com ele.

Na edição 36, a dupla volta à Nova York, com Jean seguindo Nathan pelo vínculo telepático e precisam enfrentar os demônios, no que são ajudados por Warren (que será agora chamado de Anjo Negro), porque N’astirh havia auxiliado Hodge e a Direita. Também descobrimos os planos de Madelyne: ela quer sacrificar Nathan para firmar o domínio do Limbo sobre a Terra, o que serve de passagem para a edição 37, na qual finalmente o X-Factor encontra Madelyne, em sua persona Rainha dos Duendes: eles ficam surpresos, por pensarem que ela estava morta, e ela está completamente louca, querendo matar o grupo e o bebê. Inclusive, N’astirh (que no intercurso dos eventos foi afetado por um vírus tecnorgânico e ficou mais poderoso) interfere para que ela não mate o grupo e a criança cedo demais, antes do sacrifício necessário para conectar definitivamente a Terra ao Limbo, mas ela não lhe dá ouvidos.

No fim, após um disparo de Madelyne gerar muita fumaça, o grupo fica intrigado ao vê-la em roupas civis, murmurando porque Ciclope quer levar o filho deles, e então, Wolverine aparece, toca em Jean para saber se ela é real, e então, lhe dá um beijo à força (!!!), o que é a passagem para a histórica Uncanny X-Men 242, de março de 1989, outra daquelas edições com o dobro de páginas, que traz a primeira vez que X-Men e X-Factor se encontram! (Um detalhe importante é que, para fins editoriais, era a primeira vez que os cinco X-Men originais reapareciam juntos na sua revista em 19 anos!!!!).

Manipulados por Madelyne e ainda achando que o X-Factor são caçadores de mutantes, os X-Men partem para cima de seus velhos companheiros, ainda mais porque estão mentalmente afetados pelo Inferno, particularmente Longshot e Cristal, que agem como dois loucos idiotas completos. Há uma luta acirrada entre os dois grupos, em particular, uma férrea batalha entre Wolverine e Anjo Negro, e outra entre os irmãos Destrutor e Ciclope, com Alex defendendo insanamente sua agora amante e ex-esposa do irmão, ao mesmo tempo em que Madelyne sai “de fininho” e se reúne com N’astirh para levar o bebê Nathan ao topo do Empire State para o sacrifício. Destrutor consegue segui-la, mas é afetado mais ainda pelo clima demoníaco e, com o uniforme em frangalhos, o que o deixa parecido com o visual da Rainha dos Duendes, Madelyne o declara o Príncipe dos Demônios.

A batalha prossegue até Tempestade e Garota Marvel se reencontrarem pela primeira vez desde a morte da Fênix (ou da troca de Jean pela Fênix ainda antes disso) e as duas conversam e conseguem unir os dois times contra os demônios. Após uma dura luta, os esforços combinados conseguem destruir N’astirh, que como é quase um computador vivo, agora, explode, o que ainda gera um debate sobre matar ou não, entre Ciclope e Tempestade, mas a Rainha dos Duendes ataca ambos os grupos.

É importante salientar que, no meio desses eventos, New Mutants 73, ainda por Louise Simonson e Bret Blevins, trouxe os Novos Mutantes enfrentando a horda de demônios e Illyanna se sacrificando para fechar o portal dimensional entre a Terra e o Limbo, no que resulta nela deixando de ser uma adolescente e retrocedendo à infância.
A continuidade da batalha dos grupos mutantes vai para X-Factor 38, no qual a Rainha dos Duendes mantém o Inferno sobre Nova York e consegue aliciar Longshot e Cristal para o seu lado, embora falhe com Anjo Negro. Madelyne e Jean finalmente se confrontam psiquicamente e Jean descobre a verdade: Madelyne é um clone de si mesma feita pelo Senhor Sinistro para que gerasse um filho com Ciclope. E também que, quando a Fênix morreu na Lua, ela enviou uma fração de si mesma (e todas as suas memórias) para Jean no casulo em que se curava no fundo da Baía Jamaica, mas em vista dos feitos malignos da Fênix, Jean a rejeitou, então, essa fração da Força Fênix se alojou em Madelyne.

Como o plano da Rainha dos Duendes era trazer a Garota Marvel para sua mente e se matar, eliminando ambas, Jean percebe que não tem outra alternativa do que aceitar a fração da Força Fênix, e com isso, absorve todas as lembranças da Fênix e de Madelyne no processo, se tornando uma pessoa completa pela primeira vez desde o encontro com a entidade cósmica. O processo, contudo, resulta na morte de Madelyne.
Este é um evento importantíssimo! Mais do que o desenvolvimento da trama, fundir Jean Grey, Fênix e Madelyne em uma só era um enorme retcon elaborado por Claremont e Louise Simonson. Seja qual fosse o plano original do escritor quando criou a agora vilã, o escritor encontrou uma maneira de resolvê-la e, de brinde, ainda “corrigiu” o que sempre considerou um erro na separação de Jean e Fênix como duas personagens distintas. O imbróglio lançado no surgimento do X-Factor, chegava ao fim após três anos!

Finda a batalha, o X-Factor percebe que os X-Men continuam afetados pelo feitiço do Inferno, ou seja, ainda agem de modo egoísta e sombrio, mas não há nada a ser feito. De qualquer modo, Jean estimula para que ambos os grupos se reúnam para caçar o Senhor Sinistro. Uncanny X-Men 243 mostra Jean lutando para estabelecer o equilíbrio entre suas três personalidades (ela mesma, Fênix e Madelyne) ao mesmo tempo em que sofre um ataque psíquico do Senhor Sinistro, mas ela é bem-sucedida e ainda descobre a base atual do vilão: nada menos do que a Mansão X!

Divididos em grupos, X-Men e X-Factor vão até a sua antiga casa e enfrentam alguns membros dos Carrascos (Arrasa-Quarteirão, Dentes de Sabre e Polaris/Malice) até que Sinistro simplesmente explode a mansão (destruída outra vez!) e colhe Jean Grey dos escombros, para X-Factor 39, de abril de 1989, no qual a intervenção de Longshot dá tempo o suficiente para Ciclope despertar e confrontar Sinistro, descobrindo uma memória esquecida do vilão manipulando seus poderes quando ele era bem novo, no que Sinistro revela que está acompanhando seus passos desde o começo e que era o responsável pelo orfanato e lhe implantou memórias falsas. Depois, descobriu que Jean Grey era o par perfeito para ele e que os dois juntos gerariam o mutante mais poderoso de todos os tempos, por isso, a clonou quando ela “morreu”.

A batalha reinicia, mas Sinistro implantou algum tipo de bloqueio mental que impede Ciclope de atacá-lo, mas ao perceber isso, um ataque coordenado via link mental de Psylocke por Tempestade, arma um plano no qual Destrutor dá um carga extra no irmão com seus poderes e quando Sinistro beija Jean, um Ciclope furioso lança um disparo tão poderoso de suas rajadas ópticas que despedaça o corpo do vilão!

Ao fim, Scott e Alex fazem as pazes e os dois grupos mutantes se despedem como amigos, cada qual seguindo seu rumo e sua metodologia própria de manter o sonho de Charles Xavier vivo. Sobre os escombros da Mansão X, o X-Factor, os X-Men originais, refletem sobre a jornada que lhes conduziu até ali e como tudo mudou nos meses recentes, com Ciclope percebendo como agiu mal com sua esposa e seu filho e que vai procurar compensar isso sendo um bom pai para Nathan Christopher dali em diante.
Inferno foi uma boa aventura, conectou de modo lógico e funcional as revistas mutantes, foi um enorme sucesso e serviu, ainda, como um ponto final num subplot que tinha se desenvolvido por tempo demais (seis anos desde a introdução de Madelyne!). Outrossim, também servia para redimir um pouco Ciclope do que fizera em X-Factor 01, algo que corria Chris Claremont desde então. Também vale a nota de que a saga marca o fim da incrível passagem de Walt Simonson como artista do X-Factor.
Por outro lado, é preciso apontar que Inferno foi o último dos bons crossovers liderados por Claremont, pelo menos em termos de qualidade. Ainda viriam alguns, mas de qualidade inferior. E ele não sabia, mas a contagem regressiva do escritor já havia iniciado…
O Portal do Destino e a Mudança de Rumo
Passado Inferno, os X-Men retomam sua “fase australiana” e as coisas continuam seu mote estranho e meio sem rumo. Talvez, as pressões editoriais estivessem cobrando seu preço, talvez, Claremont estivesse sem ideias ou armando algum outro grande evento futuro, mas o fato é que Uncanny X-Men 244, de maio de 1989, ainda com Marc Silvestri na arte, dava início ao ponto mais baixo da longuíssima temporada do escritor no título. Provavelmente, Claremont articulava uma mudança radical no time, mas essa temporada que se iniciava parecia obstinada a desmontar os X-Men peça por peça. Mas isso não rendeu histórias empolgantes…
Um elemento que se somava a isso era o grau de violência e sexualidade que ganhavam cada vez mais força nos quadrinhos da Era Sombria. O leitor deve ter percebido a diminuição ostensiva das peças de roupa durante Inferno, em particular com Tempestade, Madelyne Pryor e Destrutor reduzidos quase à nudez, num movimento de hipersexualização que só cresceria nos anos seguintes.

Por exemplo, naquela revista, há uma cena gratuita de Psylocke tomando banho numa banheira, toda sexy. E ainda ia piorar… Na trama, com as tensões fortes pós-Inferno, e Vampira ainda alternando entre ela própria e Carol Danvers, as garotas dos X-Men decidem sair para espairecer um pouco e vão fazer compras num mall em Los Angeles, onde encontram a garota Jubilation Lee (a Jubileu), que é uma mutante capaz de gerar algo como fogos de artifício, e demonstrava suas habilidades para ganhar um pouco de dinheiro e termina sendo perseguida pelo Esquadrão M, um grupo anti-mutantes, e ao fim, segue os X-Men em seu teleporte de volta à Austrália.

A saída só das garotas ganha o contrapeso da saída dos meninos na edição 245, com Wolverine levando os rapazes para um bar (que tal? As garotas fazendo compras e os rapazes num bar… putz!) e enfrentam uma invasão alienígena em uma história de tom cômico. Um sinal de alerta é que este número é desenhado por Rob Liefeld, alguém a quem falaremos bastante a seguir…
Uma coisa interessante de destacar é que, durante esta fase específica, a participação de Wolverine na revista diminuiu bastante, provavelmente, como resultado do fato de Logan ter sua própria revista solo, àquela altura, ainda escrita pelo mesmo Claremont.

Também não podemos deixar de mencionar que, na trama da edição 245, Logan dá um beijo surpresa (e à força) em Ororo, quando decide sair com os rapazes. Ela fica atordoada e leva na esportiva, mas era a segunda vez em apenas alguns meses que Wolverine forçava uma mulher a beijá-lo, o que não é um comportamento nada heroico. Nem ético. Era uma forma de Claremont explorar uma (nova) tensão sexual entre os dois personagens? Este subplot não evoluiu, pelo menos.

Na edição 246, as coisas começam a mudar e os X-Men vão sendo desmantelados peça a peça… Carol Danvers assume outra vez o controle da mente de Vampira e vai visitar o túmulo do irmão em Nova York, o que a leva a interceptar um ataque do Molde Mestre (aquele mesmo que atacara Ciclope um tempo antes) que se mostra, como da outra vez, um oponente formidável, numa batalha que resulta na esposa do Senador Robert Kelly sendo atingida e morta. O Sentinela do futuro, Nimrod, interrompe a batalha e termina se fundindo com o Molde Mestre e percebendo que não conseguirão vencer o androide, já na edição 247, os X-Men tomam uma medida desesperada e decidem usar o Portal do Destino para se livrar do vilão, mas no momento em que o fazem, Nimrod/Molde Mestre consegue arrastar Vampira com ele e a garota desaparece!
Atravessar o Portal não significava a morte, mas a reinvenção… porém, ninguém sabia o que podia acontecer.
E Kelly, que vinha amainando sua campanha anti-mutante – e a proposta da Lei de Registro Mutante ia deixando de ser citada nas histórias – é, obviamente, renovado de vingança com a morte de sua esposa, e promete, outra vez (como fizera nove anos antes!!!!), a Sebastian Shaw que irá reativar o projeto dos Sentinelas.

Na edição 248, Longshot decide deixar o grupo em busca de sua identidade e parte, enquanto Donald Pierce e os Carniceiros planejam um ataque aos X-Men, mas a Babá e o Criador de Órfãos decidem “salvar” os mutantes antes e os atacam, criando armaduras para Destrutor, Cristal e Psylocke para que combatam seus amigos, mas Alex consegue se soltar e a Babá escapa em sua nave. Destrutor usa seu poder para derrubar a nave, que cai ao chão, mas ele descobre que Tempestade estava à bordo e morreu na queda! Esta edição teve como desenhista substituto Jim Lee, outro de quem falaremos muito a seguir.
Matar a líder e protagonista dos X-Men não era pouca coisa, mas a história é tão sem graça que essa ação não teve impacto nenhum.
Marc Silvestri retorna para a edição 249, na qual após enterrarem Tempestade, os X-Men recebem um pedido de ajuda de Polaris e vão investigar no Chile onde encontram um grupo dos Metamorfos da Terra Selvagem liderados por Zaladane, que no fim, são liberados para ir embora, ainda que Destrutor os siga, disfarçado no meio dos soldados, e a luta é levada para a Terra Selvagem, na Antártica, na qual falham em resgatar Polaris (que está livre do domínio de Malice, mas como?) e voltam à Austrália, ainda que Zaladane permaneça viva.

A mais famosa história dessa fase acontece em Uncanny X-Men 251, de novembro de 1989, quando os Carniceiros de Donald Pierce e Lady Letal atacam ferozmente o grupo em sua base na Austrália e Psylocke, tendo previsto que o grupo iria morrer em breve, convence Colossos, Cristal e Destrutor a atravessarem o Portal do Destino e os quatro desaparecem, enquanto Wolverine é derrotado e crucificado em uma cruz em formato de X, o que gera uma capa icônica de Silvestri. Quase à beira da morte, Logan é auxiliado por Jubileu, que estava escondida na base desde cinco edições antes!

A fuga dos dois é retratada na edição 252 (com arte de Rick Leonardi e capa de Jim Lee), com a garota inexperiente tendo que conduzir e salvar Logan de seus terríveis perseguidores, até que na edição 253 (com Silvestri de volta), a dupla consegue escapar, enquanto vemos que Ororo está viva, mas retrocedeu à idade de uma garotinha, e está no Cairo, precisando de ajuda médica, enquanto Forge faz uma busca mística e a descobre sendo ameaçada pelo Rei das Sombras, o poderosíssimo telepata que Xavier combateu em sua juventude e cujo o corpo foi destruído (veja na Parte 01). Também vemos Banshee (que recuperou os poderes que tinha perdido lá no início dos anos 1980 – veja a Parte 01) resgatar Polaris e levá-la para a Ilha Muir, que está sob a mira do ataque dos Carniceiros. Este número também traz Magneto desistindo de ser o chefe da Escola para Jovens Superdotados do Professor Xavier e deixando os Novos Mutantes na mão.

Na edição 254, com capa de Jim Lee e arte interna de Silvestri, para combater a invasão dos Carniceiros, Moira MacTargett lidera uma “nova” versão dos X-Men, usando uma atualização do uniforme original azul e amarelo, ao lado de Banshee, Forge, Amanda Sefton, Polaris e David Heller, o mutante conhecido como Legião, que é filho de Charles Xavier com Gabrielle Heller (e cuja a existência fora revelada em New Mutants 26, de 1984, e frequentou algumas aventuras daquele grupo, porém, praticamente nunca aparecera em Uncanny). Ao mesmo tempo, Valerie Cooper reúne a Força Federal para eles darem um apoio à Ilha Muir como forma de melhorar a imagem do grupo perante a comunidade mutante.
No número 255, a Força Federal chega à Ilha Muir para ajudar, mas a batalha termina com Avalanche gravemente ferido por Lady Letal, e as mortes de Muralha (nas mãos de Pierce) e Sina, que é morta por Legião, que é um rapaz esquizofrênico e cuja motivação para esse ato não é revelada na história nem nas seguintes (haverá um retcon 12 anos depois para explicar!!!). Mística fica possessa pela morte da “amiga” (pois lembrem que Claremont sempre implicou que as duas eram um casal) e culpa Forge, a quem ela também já responsabilizava pela “morte” de Vampira (n’A Queda dos Mutantes).

Ao fim da batalha, Forge conta sua visão para Moira e sua convicção de que os X-Men estão vivos! Mas Polaris confirma que eles estão vivos, pois os encontrou mais de uma vez após o incidente de Dallas. Ao mesmo tempo, vemos o Rei das Sombras tomar o corpo de um policial para invadir o hospital e matar a juvenil Ororo e, tão importante quanto, Claremont dá início a outro de seus subplots que terão grandes consequências, onde na China vemos vemos um empresário vilanesco chamado Matsu’o Tsurayaba fazendo um acordo com a organização terrorista de ninjas Tentáculo sobre o que fazer com Psylocke, a quem mantém como refém!

Esta edição, que dava um tipo de redirecionamento para o título, marcava o início do fim da frutífera temporada de Marc Silvestri na arte dos mutantes, com seu substituto, o super-estrelado Jim Lee, assumindo um trio de edições a partir de Uncanny X-Men 256, de dezembro de 1989.
Nascido em 1964 (portanto, tinha apenas 25 anos!) em Seul, na Coreia do Sul, Jim Lee era filho de um médico e viveu sua primeira infância no país natal, antes de seus pais decidirem se mudar para os Estados Unidos, onde cresceu em pequenas cidades, como Warren e Youngstown, em Ohio, antes de se estabelecer em St. Louis, no Missouri. Ser um estrangeiro criou nele um senso de deslocamento, o que o mergulhou no desenho e nos quadrinhos, se identificando com os X-Men, porque eles eram párias, com o azarão Peter Parker e com o Superman, que no fundo era um imigrante, também.

Pressionado pelo pai a seguir sua carreira, Lee estudou Medicina na Universidade de Princeton e se formou em Psicologia aos 22 anos, porém, decidiu tirar um ano sabático antes de ingressar na Escola de Medicina para se dedicar à sua carreira de desenhista: caso não conseguisse emplacar em um ano voltaria à universidade. E não voltou!
Lee terminou assumindo a arte de nossa velha conhecida Alpha Flight, a revista da Tropa Alfa, na Marvel, e depois, assumiu a revista Punisher: War Journal, focada no Justiceiro e com uma pegada mais urbana e violenta, que fez muito sucesso na época. Sua chegada aos mutantes iria revolucionar a revista. Também é preciso salientar que, apesar dos exageros de seus colegas de geração, a arte de Lee era realmente fabulosa, cheia de estilo e impressão, com bons quadros de ação e de expressão dos personagens. Isso o ajudou a, de fato, se tornar um dos maiores artistas de seu tempo.

Na edição 256, vemos o destino de Psylocke: submetida à Loja de Corpos de Espiral, Betsy Braddock é transformada de uma garota britânica (de cabelos roxos) em uma garota japonesa (de cabelos roxos) e sofre uma severa lavagem cerebral pelo Tentáculo para se tornar a Lady Mandarim, a assassina pessoal do Mandarim, o vilão do Homem de Ferro. Além dos traços orientais, Jim Lee imprimiu ao visual da garota um corpo mais esguio e sensual, com um uniforme suficientemente diminuto para torná-la muito sexy. E segue ao número 257, na qual a ação dela torna o Mandarim o novo chefão do crime em Honk Kong, para onde vão Wolverine e Jubileu em busca de ajuda (ainda fugindo da batalha dos Carniceiros) e, claro, terminam cruzando o caminho com a nova Psylocke, que os ataca. Também vemos os X-Men da Ilha Muir instalando defesas em sua base e a Ororo pré-adolescente fugindo do Rei das Sombras.
E na edição 258, após ser derrotado e entregue como prêmio a Matsu’o Tsurayaba, Wolverine e Jubileu conseguem livrar Psylocke de seu domínio mental e fogem em um barco, enquanto na Ilha Muir, Legião ataca Polaris e se prepara para confrontar o resto do time.

Naquele tempo, o trio de edições de Jim Lee ainda eram apenas um fill-in para dar férias a Marc Silvestri, que retorna descansado em Uncanny X-Men 259, de março de 1990, na qual vemos o destino de outros dois x-men que cruzaram o Portal do Destino: Peter trabalha como um artista em Nova York e Alison desperta em Los Angeles, ambos sem memórias de seu passado, enquanto os Magistrados de Genosha perseguem pessoas que fugiram do país e Moira e Legião usam o Cérebro para tentar localizar os X-Men, mas encontram apenas o Rei das Sombras!
Na edição 260 (com capa de Lee e arte de Silvestri), Cristal é perseguida por um assassino, Colossos também enfrenta problemas, Forge e Banshee buscam por Ororo, mas vêm Cristal na capa de uma revista e decidem ir atrás dela, e na 261 (repetindo o esquema da arte), Wolverine faz um teste para ver Jubileu e Psylocke agirem juntas, enquanto Forge e Banshee encontram a Garota Marvel nas ruínas da Mansão X, enfrentando uns monstros, que são Morlocks afetados por Masque, como revelado no número 262, no qual o trio os combate, enquanto Colossos é encurralado pelos Morlocks, também, Valerie Cooper tem uma reunião com Magistrados de Genosha que ameaçam uma guerra contra os EUA, e Donald Pierce e seus Carniceiros atacam fábricas pertencentes a Emma Frost, a Rainha Branca. Na 263, desenhada por Bill Jaaska, Forge, Banshee e Garota Marvel são reforçados com Colossos e vencem os Morlocks de Masque, enquanto Val Cooper se reúne com o chefe de segurança nacional soviético Alexei Vazhi, sobre a crescente ameaça mutante e a oposição de Genosha.

Na edição 264, com arte de Mike Collins e capa de Jim Lee, os Magistrados atacam a nave do X-Factor e Garota Marvel e Fera lutam ao lado de Forge, enquanto Vazhi conta a Cooper sobre a ameaça do Rei das Sombras, e ela é mesmo dominada por ele no número 265, com arte de Bill Jaaska, que o manda matar Mística, enquanto Ororo também é perseguida pelo vilão e pela Babá.

Uncanny X-Men 266 mostra mais de Ororo fugindo do Rei das Sombras e de Babá e Criador de Órfãos, enquanto recebe a ajuda de um charmoso ladrão de poderes mutantes (capaz de energizar e explodir pequenos objetos, como cartas de baralho), chamado Remy LeBeau, o Gambit, que se tornaria (em breve) um dos x-man mais populares! A arte da história é de Mike Collins e a capa de Andy Kubert, mas comumente, a criação visual de Gambit é creditada a Jim Lee. E ainda: Val Cooper chega para matar Mística, que já sabe o que vai acontecer, porque foi informada previamente por uma carta de Sina, antes de morrer, mas não reage, e é morta.

Na edição 267, com arte e capa de Jim Lee e Whilce Portacio em parceria, Ororo e Gambit seguem para Nova Orleans, mas são perseguidos pela Babá e, na nave da vilã, Tempestade recorda do que ocorreu meses antes, de como a Babá forjou um corpo dela e a reverteu à infância sem memórias, e recordando tudo sobre quem é, consegue destruir os controles e fazer a nave cair em um pântano para a aparente morte da Babá e do Criador de Órfãos, enquanto ela e Gambit escapam e ela lhe conta sobre os X-Men.

Então, Uncanny X-Men 268, de setembro de 1990, trouxe uma das mais queridas edições do título dessa época, uma história que ficou marcada na memória dos fãs. No bom roteiro de Claremont, com arte de Jim Lee, temos a trama dividida em dois tempos: no presente, Wolverine, Jubileu e Psylocke continuam sua luta contra o Tentáculo e são reforçados pela Viúva Negra, ao passo que somos brindados com um longo flashback no qual Logan recorda de seu passado, atuando em Madripoor em 1941, em plena II Guerra Mundial, na qual encontra o Capitão América (bem no início de sua carreira) e Natasha Romanoff ainda criança (ela é mais velha do que aparenta e tem um envelhecimento lento por causa de um experimento científico).

As cenas bombásticas de luta com ninjas, a participação do Capitão e a arte vigorosa de Lee transformaram essa na melhor das edições dos X-Men daqueles tempos magros.
O número era quase um intervalo dentro da outra trama que Claremont desenvolvia, então, a edição 269 mostrava Vampira sair de dentro do Portal do Destino na base da Austrália, e descobrir que perdeu os poderes que roubou de Carol Danvers e que as instalações estão de volta nas mãos dos Carniceiros. Quando começa a fugir dos vilões, descobre que Carol Danvers (pelo menos a fração que vivia dentro dela) se materializou em um corpo próprio e está lutando contra os Carniceiros, com seu uniforme de Miss Marvel. Vampira suga os poderes de Gateway para fugir, no que traz Carol sem querer. Mas enquanto Vampira vai parar na Terra Selvagem, o simulacro de Miss Marvel cai na Ilha Muir, onde é dominada pelo Rei das Sombras e parte em busca da outra.

Na Terra Selvagem, Vampira busca pelos amigos dos X-Men, mas termina atacada por Carol, cujo corpo começa a se desintegrar (afinal, era apenas a manifestação das memórias e poderes da verdadeira Carol, que continuava a ser a Binária e agir no espaço, naqueles tempos), e no fim das contas, ela é auxiliada por Magneto, que usa a tecnologia dos Metamorfos para reunir as duas mulheres e salvar Vampira, que ganha seus poderes de volta.
Esta edição também foi importante por um fator de bastidores, pois foi a partir dela que o desenhista Jim Lee passou a ter um papel (ainda que não creditado oficialmente) de corroteirista com Chris Claremont, mas numa composição bem distinta daquela que o escritor tivera com John Byrne uma década antes: em vista do sucesso da arte do artista sul-coreano, o editor Bob Harras deu espaço para ouvir suas ideias e meio que impôs a condição de que o desenhista tinha o direito de criar seus plots para dar mais vazão à criação de imagens espetaculares.
Claremont aceitou. Por enquanto,
Expandindo o Universo Mutante
Não sabemos se por causa ou consequência, mas a fase fria dos X-Men em Uncanny naquele momento pós-Inferno terminou ladeada pelo incremento de novos artistas e novas vozes no Universo Mutante, de um modo que, se até então, Chris Claremont era “o sr. mutante” a liderar essa fração do Universo Marvel, isso mudou definitivamente neste momento em que estamos da história, com Claremont perdendo espaço e poder e o editor Bob Harras assumindo uma posição mais agressiva de condução do storytelling, que passava por dar cada vez mais voz e vez aos artistas sensação que trazia para o seu quinhão, como Jim Lee e Rob Liefeld, a quem iremos apresentar daqui há pouco.

A revista X-Factor continuou sob a condução competente da escritora Louise Simonson, mas realmente, o apogeu de sua fase foi aquela entre A Queda dos Mutantes e Inferno, e o que se seguiu foi uma fase mais fraca, tal qual a de seu amigo Claremont em Uncanny. O desenhista Walt Simonson deixou o título imediatamente após a conclusão de Inferno, na edição 39, então, X-Factor 40, de maio de 1989, trouxe curiosamente o artista Rob Liefeld na arte (e na capa), numa trama que amarrava algumas pontas soltas daquela saga, com o time enfrentando a Babá e o Criador de Órfãos, descobrindo a origem deles, derrotando-os e resgatando os sobrinhos de Jean Grey, Gailyn e Joey, que ainda estavam de posse da vilã. As crianças ficam sob a custódia dos avós, pais de Jean, que também conhecem Nathan Christopher na ocasião e o tomam como seu neto natural.

Após duas edições com arte de Arthur Adams (41 e 42), nosso velho conhecido Paul Smith (veja Parte 01) se torna o desenhista regular da revista a partir da edição 43, que embarca em um longo arco no qual o grupo vai ao espaço combater os Escolhidos e interagir com os Celestiais. Por conta dessa longa ausência, os X-Terminadores, os jovens treinados pelo X-Factor, terminam migrando para a revista dos Novos Mutantes, também escrita por Louise Simonson.

Esta saga espacial só se encerra em X-Factor 50, de janeiro de 1990, quando a arte é assumida por Terry Shoemaker (ainda que a capa desta edição tenha sido de Rob Liefeld), e vem um arco no qual o Arcanjo é atacado por Dentes de Sabre, Caliban e um grupo de vampiros, e Scott pede Jean em casamento, na edição 53, mas ela nega, pois não está convicta de seus sentimentos por ele, pois não sabe o que é seu e o que é da Fênix e de Madelyne Pryor quanto a isso.
Outra trama importante foi a de X-Factor Annual 05, publicada no verão de 1990, por Louise Simonson e Jon Bogdanove, como parte do evento Dias do Futuro do Presente, que uniu as edições anuais do Universo Mutante daquele ano e tinha uma trama que fazia conexão com a clássica história de nove anos antes, e mostrava uma versão adulta de Franklin Richards (o poderoso filho mutante de Reed Richards e Susan Storm) chegando ao nosso presente e decidindo remodelar o mundo à sua visão. Em meio aos esforços de combatê-los, o X-Factor atua ao lado da Fênix II (naqueles tempos, parte do Excalibur), alguém que tinha conexões com Franklin, pois em sua linha temporal, os dois foram namorados.

Em meio à interação, Ciclope descobre que Rachel Summers é sua filha de um futuro alternativo, informação que ele não sabia até então, pois os X-Men decidiram esconder isso dele desde que ela apareceu em nosso presente (lá em Uncanny X-Men 184), mesmo quando Scott ainda era oficialmente um membro daquele grupo. A revelação, infelizmente, não estreita os laços entre eles, pois Rachel tem ciúmes do fato de que Scott e Jean criam juntos o pequeno Nathan e Jean não se sente mãe da garota, que não conhecia até então.
Com a arte oscilando para artistas temporários, como Andy Kubert e Jon Bogdanove, essa fase termina em X-Factor 59, de outubro de 1990.
Como vemos, enquanto Uncanny X-Men e X-Factor estavam em declínio criativo (mesmo que continuando com enorme sucesso), a função de inovação (e expansão do Universo Mutante) coube (outra vez) aos Novos Mutantes.

Para ser justo, é preciso dizer que a escritora Louise Simonson continuava a constantemente provocar mudanças no status quo dos Novos Mutantes, explorando o aspecto sombrio que tomou conta do grupo após a morte de Cifra (em New Mutants 60, durante A Queda de Mutantes) e o retorno de Magia à infância (em New Mutants 73, durante Inferno), e após esta última saga, colocou os heróis adolescentes envoltos nas artimanhas de Hella, a deusa da morte, em outra aventura em Asgard, ao mesmo tempo em que – como já mencionamos – os X-Terminadores (Boom-Boom, Rusty Collins, Rictor e Skids) se fundiam com os Novos Mutantes em New Mutants 76, de junho de 1989, ainda com a arte de Bret Blevins (que, convenhamos, não ajudava nada em tornar o título muito atrativo). A saga em Asgard terminou com a saída de Danielle Moonstar do time, pois ela se tornou uma das Valquírias de Asgard, na edição 85 da revista.
Então, chega o desenhista Rob Liefeld, que primeiro desenhou o New Mutants Annual 05, naquele verão de 1989, parte de Dias do Futuro do Presente, e a boa resposta dos leitores, pois Bob Harras vinha atiçando o público com o artista fazendo algumas edições avulsas (tanto de Uncanny X-Men quanto de X-Factor) e, especialmente, capas (em X-Factor), fez com que o artista se tornasse o desenhista de New Mutants a partir da edição 86.
Nascido em Fullerton, em 1967, e crescendo em Anaheim, na California, Rob Liefeld era um desenhista autodidata que começou a enviar amostras de sua arte em 1985 (aos 18 anos) para pequenas editoras e teve seus primeiros materiais publicados pela editora Megaton Comics, e chamou a atenção com sua arte impressiva, de poses altivas, cheia de traços e ranhuras, e que apesar dele sempre afirmar uma influência de George Perez, na verdade, é muito mais próxima daquela de Arthur Adams. Ele até ilustrou algumas histórias curtas (fill-ins) para a Marvel (do Pantera Negra e dos Vingadores), que terminaram não publicadas, mas o tornaram conhecido nos corredores da editora.

Então, após alguns pequenos trabalhos na DC Comics, Liefeld assumiu a arte da minissérie de Hawk & Dove (Columba e Rapina), em 1988, que foi o primeiro trabalho que chamou à atenção dos leitores, então, a Marvel o comissionou na arte de várias revistas especiais, os anuais de verão, de 1988, como do Homem-Aranha, e o já citado de New Mutants, além de desenhar algumas edições avulsas de Uncanny X-Men e X-Factor, o que foi o suficiente para colocá-lo como o artista de New Mutants.
Contudo, como aconteceu com Jim Lee antes dele, Rob Liefeld chegava aos títulos mutantes cheio de ideias e de novos personagens já criados previamente, então, o editor Bob Harras decidiu lhe dar voz e razão e ele foi imposto como corroterista ao lado de Louise Simonson, a quem foi dada a missão de desenvolver os personagens e as tramas idealizadas pelo novato desenhista.
Isso começa de modo bombástico em New Mutants 86, de fevereiro de 1990, que de imediato dá um giro de 180 graus na revista, no qual surge uma nova ameaça chamada Frente de Libertação dos Mutantes (FLM), que sob a fachada de uma organização política que lutava pelos direitos dos mutantes era uma organização terrorista, então, a virada se completa na histórica New Mutants 87, no qual são apresentados o maligno líder da FLM, Conflyto (Stryfe, no original) e seu maior opositor, o misterioso Cable.

Cable não apenas ilustra a capa, mas imediatamente, se torna o protagonista da revista, ao ponto que todo o elenco dos Novos Mutantes é transformado em coadjuvantes dele e de sua história. Na trama, de imediato, Rusty Collins e Skids se encantam pelo ideal da FLM e se filiam ao grupo, deixando os Novos Mutantes com uma formação com Míssil, Mancha Solar, Lupina, Warlock, Boom-Boom e Rictor.
As edições seguintes exploram Cable, representado como um mutante de meia idade, durão, dotado de poderes nunca bem explicados (o olho esquerdo dele brilha por que?) e com o braço biônico, e de passado militar e misterioso: ninguém sabe muito sobre ele, nem de onde veio, nem seu nome verdadeiro, e tal qual Wolverine, possui, portanto, um passado longo e obscuro. Para incrementar, parece que todos os personagens misteriosos que existiam tinham uma “história” com Cable, como é mostrado em seus encontros com Moira MacTaggert e Wolverine, com ambos desgostando dele.

Outro que não gosta de Cable é Rictor, que acha que foi Cable quem matou seu pai (e o motivo disso teria grandes implicações na revista em breve), mas ainda assim, o misterioso anti-herói se torna o novo líder e tutor dos Novos Mutantes na edição 89, o que traz à tona um aspecto cronológico interessante, pois visto em retrospecto, a maneira como os heróis mutantes trataram os adolescentes recrutados por Xavier é irresponsável para dizer o mínimo. Xavier os reuniu e treinou, mas os abandonou para ir ao espaço, deixando-os nas mãos de um recém-convertido Magneto, que muito rapidamente se mostrou inábil para a tarefa de tutelá-los, e terminou por abandoná-los. Também o fizeram os X-Men que decidiram fingir que estavam mortos. Podemos até livrar o X-Factor da responsabilidade, pois não tiveram nenhum envolvimento com eles no início e reuniram seus próprios pupilos para cuidar, com a desculpa de estarem no espaço quando os Novos Mutantes estavam abandonados por Magneto e os X-Terminadores ficaram sem rumo.

Enfim, a produção de New Mutants ia aumentando a tensão entre Simonson e Liefield, ao ponto que o roteirista Fabian Nicieza é creditado como corroteirista nas edições 90 e 91, antes de Simonson retornar para alguns números, que trouxeram o encontro de Cable e Wolverine nas edições 93 e 94. Essas edições consolidaram os Novos Mutantes assumindo uma nova postura, incorporando algo do estilo de Cable (mais agressivo), não sem conflitos com seu novo líder.
Fazia muito e muito tempo que a revista New Mutants não era mais uma campeã de vendas, mas a chegada de Rob Liefeld mudou isso imediatamente e a revista passou a vender até mais do que Uncanny X-Men! Os fãs adoravam a arte suja e exagerada de Liefeld, o que é curioso, pois ele era um artista sofrível, com desenhos feios, de anatomia imperfeita e péssimo storytelling, com movimentos desajeitados e organização de páginas confusas. No fundo, o artista era um amador que não teve suficiente treinamento para se tornar um desenhista de verdade de HQs, mas o público dos anos 1990 estava disposto a ver suas figuras exageradas e desproporcionais, com homens musculosos e másculos ao lado de femme fatales hipersexualizadas e ele fez um sucesso muito grande.
Programa de Extermínio
Era preciso um grande crossover de verão para celebrar o aumento nas vendas proporcionado pelas chegadas dos desenhistas Jim Lee e Rob Liefeld ao Universo Mutante, e esse foi Programa de Extermínio, que, apesar da premissa interessante, nem de longe trazia a grandeza ou a qualidade de Massacre, A Queda dos Mutantes ou Inferno, mas serviu para reunir todos os títulos mutantes em uma única trama, incrementar as vendas e trazer mais mudanças cronológicas e editoriais a este quinhão da Marvel.

Começa em Uncanny X-Men 270, de novembro de 1990, por Chris Claremont e Jim Lee, dando prosseguimento à trama que o escritor havia delineado na última etapa da “fase australiana” do título principal: enquanto Forge examina Ororo e considera a transformação dela em seu novo corpo juvenil como algo permanente, os X-Men são atacados pelos Magistrados de Genosha, com Alex Summers/ Destrutor entre eles! (Depois de sair do Portal do Destino, Alex reapareceu como um deles…). Capturados alguns membros do time e dos Novos Mutantes, e levados a Genosha, eles sofrem lavagem cerebral e se tornam escravos (sem poderes) do regime anti-mutante do país, os mutados, como visto em New Mutants 95, por Lousie Simonson e Rob Liefeld, no qual vemos a morte de Warlock nas mãos dos Magistrados, e descobrimos que o governo da ilha-nação está associado ao agora ciborgue Cameron Hodge, que graças ao pacto com o demônio N’astirh, não pode mais morrer e é um verdadeiro monstro mecânico com apenas a cabeça humana (muito similar ao Mojo, por sinal).

De modo não oficial, o Governo dos EUA auxilia os Novos Mutantes, Cable, X-Factor e os remanescentes dos X-Men a um resgate em Genosha, em X-Factor 60, por Louise Simonson e Jon Bogdanove, no qual há uma batalha de Ciclope contra seu irmão, com a luta dos mutantes contra os agentes de Genosha continuando em Uncanny X-Men 271, New Mutants 96 e em X-Factor 61, alguns mutantes são capturados e tem seus poderes nautralizados pelo Genegenheiro, resultando em Garota Marvel e um muito ferido Wolverine compartilhando uma cela e um momento de paixão entre eles, sendo a primeira vez (desde aquelas histórias de 1976!!!!) em que Jean Grey corresponde aos sentimentos de Logan. Após uma nova luta com Ciclope (que lidera um time que se infiltra na citadela dos vilões), Destrutor recobra sua consciência, mas decide continuar fingindo estar aliado a Cameron Hodge em busca do momento certo de revidar.

Então, Uncanny X-Men 272, os mutantes são postos em julgamento e entre virarem escravos ou serem condenados à morte, preferem a morte, mas Hodge decide “brincar” com eles e, controlando as mentes, coloca Wolverine numa luta sem restrições contra Arcanjo (o que era uma mera desculpa para sequências espetaculares e poses icônicas de Jim Lee) até Psylocke fingir preferir ser escravizada e usar suas (novas) habilidades ninjas para se libertar e iniciar uma reação, o que a permite chegar até Tempestade (sob a lavagem celebrar dos mutados de Genosha) e fazê-la voltar a si, no que ela atinge Ciclope com um raio que (miraculosamente) não apenas devolve a Scott suas rajadas ópticas, como faz Ororo voltar à idade adulta. Simples assim.

Em New Mutants 97, Tempestade repete o processo e devolve os poderes dos outros capturados e os mutantes se dividem em três grupos para combater Hodge e resgatar os demais, e enquanto Lupina é resgatada (mas descobre que está definitivamente presa à sua forma animalesca), Hodge mata o Genegenheiro e fere vários dos heróis. A batalha final ocorre em X-Factor 62, de janeiro de 1991, na qual o corpo ciborgue de Hodge é destruído, mas sua cabeça humana permanece viva, então, Rictor usa seus poderes de terremoto para enterrá-la muito fundo no solo, acabando com a ameaça.
Mas Genosha está em total caos, com o governo em frangalhos, então, Destrutor e Lupina decidem permanecer na ilha-nação e ajudá-la a se reconstruir enquanto um país livre.
Grandes Mudanças
Uma vez que cumpriram o rito do crossover de verão, as ideias de Jim Lee e Rob Liefeld tomaram ainda mais espaço para serem desenvolvidas, sob o aval de Bob Harras, e incluíam devolver os X-Men a uma ambientação mais reconhecível e clássica de um lado, e transformar radicalmente os Novos Mutantes em outra. Harras estava de acordo com isso, ao passo que os roteiristas oficiais, Chris Claremont e Louise Simonson, nem tanto.
Cada caso foi resolvido de uma maneira.
No campo dos X-Men, Jim Lee mobilizou um grande plano (da qual detalharemos em breve), o que o fez precisar de “férias” para dar tempo de desenvolvê-los, então, ele veio com a grande ideia de em Uncanny X-Men 273, de fevereiro de 1991, em vez de ser substituído por um desenhista (menor), fazer uma edição com uma dezena de grandes desenhistas, cada qual com uma ou duas páginas, o que ativaria a nostalgia dos fãs e não deixaria a peteca cair, evitando da arte cair nas mãos de algum artista de menor expressão. Assim, aquela revista teve arte de Jim Lee, Whilce Portacio, Klaus Janson, John Byrne, Rick Leonardi, Marc Silvestri, Michael Golden e Larry Stroman. Apesar do plot ser todo de Lee, Chris Claremont ainda é creditado como roteirista e escreveu os diálogos.
A trama era apenas de acomodação, finda a ameaça da saga anterior, os três grupos, X-Men, X-Factor e Novos Mutantes se reúnem na reconstruída Mansão X para discutir o futuro e como combater as ameaças que correm por aí, sendo mera desculpa para a interação entre personagens de revistas distintas e ver como cada artista trabalhava com personagens que refletiam seus traços, ainda que Claremont ainda conseguiu imprimir algo do seu estilo ao continuar a desenvolver em paralelo o longo subplot da ameaça do Rei das Sombras agindo na Ilha Muir e dominando as mentes de Moira MacTargett, Polaris e Legião (e que, àquela altura, já transcorria há 20 edições!!!!!). No fim, Lila Cheney (a cantora de rock mutante que era coadjuvante das aventuras dos Novos Mutantes dos tempos em que Claremont conduzia aquele título) se teleporta e recruta alguns dos X-Men para uma missão urgente: salvar a vida do professor Charles Xavier no espaço!

Há então, outra edição intervalar, o número 274, na qual reencontramos Vampira e Magneto, ainda na Terra Selvagem aliados a Ka-Zar combatendo as forças de Zaladane, que usa seis torres para alinhar si própria ao polo magnético da Terra e aumentar seu poder. Vampira havia sido restaurada pelo mestre do magnetismo, mas só tem uma fração de seu poder antigo e não está mais absorvendo poderes e memórias das pessoas ao tocá-las, o que a faz iniciar um romance com Magnus. Nick Fury e a SHIELD tentam impedir a ameaça da vilã, mas são derrotados e Magneto fica no dilema entre matar a vilã e não fazer isso para se manter mais em linha com sua jornada de redenção e com seu relacionamento com Vampira. Apenas no fim da edição vemos Lila Cheney teleportar os X-Men para o território S’hiar e irem ao encontro de Rapina (Deathbird), que quer matar o prof. X.

A comemorativa Uncanny X-Men 275, de abril de 1991, celebrava esta alta numeração do título com uma fabulosa capa tripla de Lee e o dobro de páginas, com 48 páginas de história. Na trama, os Piratas Espaciais são liderados por um misterioso líder mascarado e lutam e derrotam a poderosa Guarda Imperial S’hiar para derrubar a usurpadora do trono Rapina e devolver ao poder a majestix Lilandra, libertando os X-Men que estavam prisioneiros e todos unidos na batalha final. Ao fim, descobrimos que o tal líder dos Piratas é ninguém menos do que o professor Charles Xavier, que não aparecia na revista (exceto uma rápida menção no número 205) há 75 edições!!! Ou cinco anos!
Em paralelo, vemos o fim da trama da Terra Selvagem, com Magneto decidindo usar força total contra Zaladane depois de ser torturado por ela, e por fim, matar a vilã. Agindo ao lado de Ka-Zar e Nick Fury, Vampira tenta devolver alguma razão a Magnus, mas ele está furioso, frustrado pelos rumos de sua vida e decide ir embora, inclusive, deixando a base prestes da desabar sobre seus amigos.
A edição 276 revela que, na verdade, aquele Xavier era na verdade um Skrull (os alienígenas transmorfos do Universo Marvel), parte de uma conspiração para controlar o Império S’hiar na guerra com o Império Kree, o que Wolverine percebe e mata o “prof. X” impostor, mas isso gera uma reação dos vilões e Rapina auxilia os mutantes para derrotá-los, e no número 277, o verdadeiro Xavier é encontrado prisioneiro e auxilia o time a vencer os Skrulls, com Rapina indo embora, Lilandra reempossada majestrix e o Professor X decidindo voltar à Terra junto aos X-Men para combater a ameaça do Rei das Sombras.
No caso dos Novos Mutantes, a ideia de “revolucionar” o time sob a égide de Rob Liefeld não encontrou eco na escritora Louise Simonson. Desinteressada dos rumos propostos, ela deixou a revista que comandava a 42 edições e quatro anos, sendo substituída por Fabian Nicieza. Porém, no novo arranjo, era Liefeld quem conduzia o título, criando os desenhos e a trama, ao passo que Nicieza apenas escrevia os diálogos (e contribuía para o storytelling, é verdade).

Nascido em Buenos Aires, na Argentina, em 1961, Fabian Nicieza era, tal qual Jim Lee, um estrangeiro, o que marcava o momento nos comics americanos nos quais artistas não-anglo-saxônicos começavam a ter destaque na indústria (tanto na arte quanto no texto, o que era ainda mais impressionante), ainda que, a bem da verdade, a família dele se mudou para o Estado de Nova Jersey, nos EUA, quando ele tinha apenas 4 anos de idade, o que implicou no fato de Nicieza ter sido alfabetizado em inglês.
Formado em Propaganda na Rutgers University, ele trabalhou na rede de TV ABC, antes de iniciar sua carreira no mercado editorial de livros, o que por fim, o levou ao Departamento de Marketing da Marvel, em 1985. Apaixonado por quadrinhos desde criança (pois aprendeu a ler através das HQs), Nicieza muito rapidamente começou a escrever histórias curtas para editora e edições fill-ins, substituindo um roteirista quando necessário, até ser testado no evento Ataques Atlantes dos especiais de verão da Marvel de 1988, e finalmente se tornar roteirista regular de Psi-Force, um dos títulos do Novo Universo, entre 1988 e 89, o que o levou a ser convidado pelo editor-chefe Tom DeFalco a conduzir a revista própria dos Novos Guerreiros, um grupo de super-heróis adolescentes criados pelo próprio DeFalco na revista do Thor.
New Warriors foi um grande sucesso, a partir de 1990, o que transformou Nicieza em um roteirista do primeiro time e a temporadas em Alpha Flight, Avengers, na minissérie do Nômade e na sua revista mensal subsequente, enquanto assumia também New Mutants ao lado de Liefeld.

Com isso, New Mutants 98, de fevereiro de 1991, mudava tudo (de novo) no título, com uma edição bombástica que introduzia um pacote de novos personagens: a nova ameaça conduzida pelo misterioso Giddeon, que contrata o poderoso e letal assassino de aluguel Deadpool, o que obriga Cable a contar com a ajuda de uma aliada de seu passado, (a também misteriosa) Dominó.
A capa com esses novos personagens e os Novos Mutantes boquiabertos era simbólica da condição daquele time, reduzidos quase a figurantes no que antes era sua revista, na beira de sua centésima edição (e que é importante lembrar: é uma marca difícil para qualquer revista alcançar). Na trama, Rictor decide deixar o time (por causa de seus receios contra o novo líder) e os Novos Mutantes se tornam um grupo com Cable, Míssil, Mancha Solar, Boom-Boom e a nova Dominó.
Mas as mudanças não terminaram… Aliás, apenas começaram. Parte da trama envolve um plot corporativo que resulta na morte de Emanuel da Costa, o empresário brasileiro que é pai de Roberto da Costa, o Mancha Solar, no que o herói termina por deixar o grupo na edição 99, ao mesmo tempo em que chegam três novos membros: James Proudstar, o irmão mais novo de John, o velho Pássaro Trovejante, que morrera lá atrás (em 1975!), e que anteriormente andara com os Hellions de Emma Frost, e que vai adotar o nome de Warpath; e dois novatos, Feral (outra mutante animalesca no mesmo estilo da recém-afastada Lupina) e Shatterstar, um violento guerreiro espadachim vindo do Mojoverso, a mesma dimensão de onde viera Longshot.
New Mutants 100 veio em seguir para fechar o ciclo: enquanto combatem as ameaças do mojoverso e da Frente de Libertação dos Mutantes, em vista da grande mudança do time e do desejo de Cable de se desvencilhar da herança de Xavier que seus novos pupilos ainda traziam, a nova formação é rebatizada de X-Force.

Com isso, a revista New Mutants é cancelada e é substituída por X-Force 01, de agosto de 1991, continuando com Liefeld e Nicieza, que seria o novo título dedicado a Cable, seus pupilos e seu universo. Era uma forma de se livrar do peso dos Novos Mutantes e, sem vergonha, tornar o misterioso anti-herói o protagonista total da revista, com todos os demais lhe servindo de complemento. Também aquela altura, apenas Míssil era um tradicional ex-membro dos Novos Mutantes e Boom-Boom (que foi rebatizada de Boomer) embora tenha atuado com o grupo por um tempo, vinha mesmo era dos X-Terminadores. Então, fazia sentido se livrar da bandeira que conduziu a revista por cem edições.
A mudança ganhou o aval dos leitores e X-Force 01 não foi apenas um sucesso, foi um fenômeno de vendas! A Marvel estava entrando na era das supervendagens, um período em que as HQs atingiram níveis de sucesso ainda maiores do que da década de 1980 e que só encontravam par nos anos 1940. Por isso, a nova revista Spider-Man 01, liderada pelo desenhista-sensação Todd McFarlane, vendeu 2 milhões de cópias em 1990, deixando o mercado em polvorosa. Mas o recorde não durou muito: X-Force 01 vendeu 4 milhões de cópias!!!!! Por um tempo, ela foi a revista mais vendida da história!

Em X-Force, Rob Liefeld construiria (com a ajuda de Nicieza) sua obra mais conhecida, desenvolvendo esse universo, trazendo mais personagens – G.W. Bridge (um agente da SHIELD com um passado em comum com Cable) estreia na primeira edição e Kane (a nova Arma X) na edição 02 – e uma carga alta de violência e hipersexualidade. Deadpool retorna na edição 03 e permanece como uma presença constante nessas aventuras, lentamente desenvolvendo sua característica como um mercenário boca suja e o vilão Tolliver (já mencionado desde New Mutants 98) finalmente aparece na edição 05.

As tramas finalmente mostravam porque Rictor achava que Cable havia matado seu pai, quando descobrimos que Conflyto era, na verdade, um clone de Cable (edição 10), e que Dominó é uma espiã infiltrada na X-force que passa informações a Tolliver até descobrirmos que ela é, na verdade, Copycat, uma transforma que é namorada de Deadpool, e que a verdadeira Dominó está prisioneira, na edição 11.
Contudo, como explicaremos mais abaixo, a edição 12, de julho de 1992, encerrou precocemente a participação de Rob Liefeld na revista, atentando ao fato de que o artista já não desenhou os últimos números, cuja arte foi assumida por Mark Pacella, enquanto Liefeld era responsável apenas pelos plots ao lado de Nicieza. Com a saída do artista, Nicieza assumiria sozinho o roteiro.
Enquanto isso, a revista X-Factor também vivia seu período de mudanças. Ao fim de Programa de Extermínio, o título ganhou um novo desenhista: Whilce Portacio, nascido nas Filipinas, em 1961, e crescido nos EUA, era outro novato que tinha feito o nanquim na minissérie de Longshot anos antes e, como desenhista, ganhara projeção na revista Punisher, do Justiceiro. Tal qual Lee e Liefeld, Portacio chegava sob a condição de produzir plots para a revista, ao passo que Louise Simonson escreveria basicamente apenas os diálogos.
O arranjo duraria pouco. X-Factor 63 e 64, começando em fevereiro de 1991, trouxeram um arco no qual o time enfrenta a Yakuza japonesa por meio da nova namorada do Homem de Gelo, Opal, mas Simonson não estava satisfeita com o material e, tal qual fizera com os Novos Mutantes, se demitiu do título. Portacio seguiu sendo a principal força criativa do título, mas dada sua inexperiência, foi reforçado por Jim Lee e Chris Claremont nos roteiros a partir de X-Factor 65, de abril de 1991, que dá início ao último arco dessa fase do grupo.

Na trama os membros originais dos X-Men enfrentam novamente Apocalipse, agora ladeado por um novo grupo de auxiliares, os Cavaleiros Sombrios, que na edição 66 destroem a Nave Inteligente do X-Factor e levam a batalha até o Lado Escuro da Lua, onde vivem os Inumanos. Apocalipse quer tomar posse de Nathan Christopher, porque ele será um poderoso mutante no futuro, e os heróis são auxiliados por uma mulher chamada Askani, que vem do futuro distante e que veio para salvar o bebê e sua linha temporal.

A batalha se acirra na edição 67 no mesmo local em que a Fênix morreu anos antes, e por fim, toda essa fase do X-Factor se encerra na edição 68, de julho de 1991, quando Apocalipse infecta Nathan com um vírus tecnorgânico que irá matá-lo em instantes, e ao passo que as forças de Ciclope e Garota Marvel conseguem matar o vilão, não há salvatória para o bebê. Askani diz que pode levá-lo ao seu futuro e salvá-lo e, sem escolha, Scott e Jean entregam o filho deles à mulher, que o leva embora por um portal temporal.
É um grande ato de sacrifício que terá enormes consequências cronológicas ao Universo Mutante.

Para finalizar o ciclo de mudanças era necessário fechar algumas pontas soltas, daí veio A Saga da Ilha Muir, o arco no qual os X-Men finalmente combatem o Rei das Sombras, dando uma resolução ao subplot que Claremont vinha arrastando por dois anos até ali! Não é uma grande história, contudo, foi conduzida em Uncanny X-Men 278 a 280, começando em julho de 1991, com Chris Claremont e arte de Paul Smith, Andy Kubert e Steve Butler, e em X-Factor 69 e 70, por Fabian Nicieza, Whilce Portacio e Kirk Jarvinen. Na trama, os X-Men e o X-Factor se reúnem com o time derivado de heróis da Ilha Muir (como Forge, Polaris, Banshee) para combater o Rei das Sombras, que àquela altura dominou os personagens da ilha escocesa e busca regressar ao plano físico (pois seu corpo foi destruído por Xavier em sua juventude), usando o Legião (o filho de Charles) como principal veículo. Isso obriga uma grande batalha no campo psíquico entre Xavier e Psylocke contra o vilão. Também é revelado que Mística não morreu, apenas fingiu sua morte para se livrar do Rei das Sombras.
Como resultado da batalha, o Rei das Sombras consegue “quebrar” o corpo físico do Professor X, de modo que, ao fim, Charles está paralítico de novo (!!!!!). Um retorno ao mais do mesmo como parte da vontade de Jim Lee (e de Bob Harras) de devolveram o time principal a um status mais reconhecível do grande público, desfazendo as grandes mudanças implantadas por Claremont nos últimos cinco ou seis anos. Outra consequência é que Legião fica em coma irreversível após a batalha.

Uncanny X-Men 280, de setembro de 1991, encerra não apenas uma fase, mas uma Era, pois é o fechamento oficial de uma longuíssima temporada de arcos, fechando quase todas as pontas soltas que Claremont havia deixado nos anos recentes. O número seguinte já seria uma fase completamente nova, mas aqui, o grupo termina a edição com 14 membros, pensando em como se reorganizar.
É também a última edição Uncanny escrita por Chris Claremont, o que explicaremos a seguir…
X-Factor 70, do mesmo mês, também encerra em definitivo o primeiro ciclo desta revista e seus personagens. Prosseguindo as consequências da batalha, os mutantes pensam no que fazer e, enquanto isso, finalmente livre do domínio do Rei das Sombras após meses, Val Cooper decide renovar o esforço de colaboração entre mutantes e o Governo dos EUA que ensaiou com a Força Federal, propondo a criação de uma nova equipe chancelada pelo Estado, convidando Polaris, o Homem-Múltiplo e Guido, o segurança fortão de Lila Cheney, que aparecia como figurante nas revistas mutantes desde Massacre de Mutantes.
O número seguinte dessa revista seria dentro de um contexto completamente diferente.
A Revista Mais Vendida da História
A Saga da Ilha Muir era apenas uma forma de ganhar tempo e fechar pontas soltas para o real lance da Marvel: tendo em vista que Uncanny X-Men vendia cerca de 500 mil unidades por mês e que o lançamento de X-Force gerou um incremento de 4 milhões de unidades, a ideia era de finalmente criar um spin-off dos X-Men de verdade, em vez de outros grupos ou associados. Assim, nasceu a ideia de uma segunda revista mensal do time principal dos mutantes. Se o Homem-Aranha podia ter três revistas mensais, por que os X-Men, como um time, não podiam ter duas?
Então, a nova revista X-Men 01 chegou às comic shops com data de capa de outubro de 1991, com roteiro de Chris Claremont e Jim Lee e a arte deste último numa empreitada completamente especial: uma história bombástica, uma mudança de status quo, uma arte impressionante, e não menos importante, uniformes novos para quase todos os membros e, como se tudo isso não fosse o bastante, a revista tinha nada menos do que quatro (!) capas alternativas: a oficial trazia Ciclope e Wolverine em ação e cada qual das outras quatro variações mostrava outra parte da mesma cena, que combinadas, mostravam uma única imagem. Uma edição especial, com cópias limitadas, trazia uma capa quadrupla que reunia a imagem completa.
Cada capa alternativa trazia, ainda, uma imagem pin-up de bônus, trazendo a galeria dos vilões dos X-Men, o grupo descansando na piscina da Mansão X (estas duas em página dupla, cada), o quinteto original com Xavier (e os uniformes de 1969) e uma galeria “com o que vinha a seguir”. Um desbunde!

Quantos aos uniformes, é preciso mencionar: os novos visuais de Jim Lee criaram uma iconografia poderosíssima, com roupas vistosas para os membros, mas sem recair nos maneirismos excessivos da época (como aqueles de seu colega Liefeld). Enquanto Wolverine, Fera, Arcanjo, Colossos e Psylocke mantinham seus visuais (o dela, Lee havia criado há pouco tempo), o mesmo valendo para Magneto, os demais, Ciclope, Jean Grey (oficialmente, ela deixa de usar o nome Garota Marvel daqui em diante), Tempestade e Vampira ganhavam roupagem nova: Ororo com apenas uma releitura de seu uniforme pós fase punk, e o casal Grey-Summers com muitas diferenças: ela com uma nova paleta de cores e máscara aberta (tal qual a do Gambit) e ele com elementos da nova versão da farda azul e amarela usada pelo time da Ilha Muir, mas com uma estreita faixa peitoral carregando o X do time. Gambit manteve seus elementos básicos (o tipo de máscara, o sobretudo, as luvas cobrindo apenas alguns dedos), mas com detalhes diferentes e Vampira adotou a paleta verde e amarela com uma jaqueta. Xavier mantinha seus ternos, mas usava agora uma cadeira do tipo hoover, ou seja, ela flutuava em vez de ter rodas.

Como resultado, X-Men 01 vendeu 8,1 milhões de cópias e se tornou a HQ mais vendida da história! Está até hoje no Guiness Book/ Livro dos Recordes.
Vale lembrar que para termos de registro bibliográfico, o título oficial da nova revista era X-Men (vol. 2), porque devemos lembrar – veja na Parte 01 – que o título dos heróis mutantes se chamava apenas The X-Men quando lançado em 1963 e foi apenas em 1980 que passou a ostentar o adjetivo Uncanny X-Men em seu logo, ainda que oficialmente o título só mudou de nome (para fins bibliográficos) em 1981. Em vista que o nome da revista já tinha sido apenas X-Men e Uncanny X-Men continuava a ser publicada, então, a nova revista era X-Men (vol. 2).
A despeito de ser no fundo um grande golpe de marketing para retornar os X-Men a um status quo mais reconhecível do grande público (livrando-se de muitas das idiossincrasias adicionadas ou alteradas por Claremont em anos recentes), a história da nova publicação não era realmente mal. Na trama, Ciclope propõe a Xavier que os X-Men se dividam em dois grupos para se tornarem mais eficientes, e daí, esta edição inaugura o novo arranjo, nomeados a partir da paleta de cores dos uniformes originais: A Equipe Azul (Ciclope, Wolverine, Vampira, Gambit, Psylocke e Fera (com Jubileu como um tipo de treinee) e a Equipe Dourada (Tempestade, Jean Grey, Colossos, Arcanjo e Homem de Gelo).

Enquanto isso, Magneto decide reativar o Asteroide M como um tipo de refúgio para mutantes de todo o mundo, como uma nação-mutante, e é instigado por um grupo de “fãs” chamado Acólitos, liderados pelo (secretamente inescrupuloso) Fabian Cortez, que viram um tipo de grupo de apoio. As coisas, contudo, ficam muito tensas quando Magneto decide extrair do Leningrado (o submarino que ele submergiu lá atrás em Uncanny X-Men 150) os mísseis nucleares soviéticos e usá-los como forma de defesa contra ataques da Terra, tendo em vista o que aconteceu em Genosha.
Ter uma base espacial armada de bombas atômicas apontadas para nossas cabeças aqui em baixo, claro, não cai bem para nenhuma das grandes nações do mundo e isso gera uma acalorada discussão entre os X-Men e seu (ex-)aliado, o que leva a uma batalha e, oficialmente, à recondução de Magneto como um vilão após sete anos em busca de redenção e cinco anos caminhando com os mocinhos. De volta ao status quo!

X-Men 02 mostra a Equipe Azul indo até o Asteroide M e Magneto (e os leitores) descobrindo que, quando ele foi reduzido à idade de uma criança (nas aventuras dos anos 1970, veja a Parte 01), seu DNA foi manipulado por Moira MacTargert, ficando implícito que foi essa manipulação que fez ele “deixar de ser vilão”. A descoberta dessa violação biológica deixa Magnus furioso e é o tijolo que faltava para descer a escadaria da vilania e considerar os X-Men como seus inimigos. Os heróis são derrotados e capturados, e na edição 03, a Equipe Dourada se une aos esforços, garantindo a vitória e a morte de alguns dos Acólitos, a queda do Asteroide M na atmosfera e a aparente morte de Magneto.
Com a arte deslumbrante de Jim Lee – nunca em nenhuma outra ocasião, o artista sul-coreano desenhou tão bem – este arco foi mesmo um marco e uma boa história. Uma boa forma de começar uma nova fase.
A produção dessa obra, contudo, não foi tranquila, e é possível notar de cara o desequilíbrio entre as Equipes Azul e Dourada, em termos de personagens fortes e populares, pois Jim Lee definiu os personagens com quem queria trabalhar, e ele escolheu, claro, os principais de então, que formam a Equipe Azul. Não é muito claro qual o papel de Claremont nesse trio de histórias. O roteirista, com certeza, escreveu os diálogos, mas não sabemos se o plot é (pelo menos parcialmente) dele ou inteiramente de Lee.

O fato é que ser reduzido a um simples “ajudante” de Jim Lee depois de escrever com sucesso os X-Men por 16 anos foi demais para Claremont e ele pediu demissão da Marvel, oficialmente por discordâncias criativas com Bob Harras, encerrando a sua Era Dourada à frente dos mutantes. Desde a recriação do time (por Len Wein e Dave Crockum) em 1975 até então, Claremont recriou os mutantes e produziu suas histórias mais célebres e transformou esses heróis estranhos e (antes) secundários da Marvel em um produto de primeira linha e no maior sucesso da história da editora.
Mas acabou.
Chris Claremont foi para a DC Comics onde trabalhou por um tempo e também lançou livros de ficção científica e só voltaria para a Marvel na condição de editor sete anos depois.
Dali em diante (ainda que não por muito tempo), os X-Men eram o reino de Jim Lee.
Uma Nova Era
Com o lançamento de X-Men (vol. 2), Uncanny X-Men foi “reduzida” a título secundário dos heróis mutantes (isso mesmo – o outro passou a ser o principal) e o lar da Equipe Dourada.

Uncanny X-Men 281, datada de outubro de 1991, já foi produzida após a saída de Claremont, o que faz com que o argumento seja de Jim Lee, o desenvolvimento da trama seja do desenhista Whilce Portacio e os diálogos sejam assumidos por ninguém menos do que John Byrne, o outro grande herói das revistas mutantes, ex-parceiro de Claremont em sua fase áurea, e que retornava outra vez ao universo mutante.
Na trama, Tempestade, Jean Grey, Colossos, Homem de Gelo, Arcanjo enfrentam uma nova ameaça chamada Trevor Fritzroy vinda do futuro e um grupo avançado de Sentinelas, que se aliciam a Shinobi Shaw, o filho de Sebastian Shaw, e na edição 282, conhecemos três membros dos Agentes de Segurança de Xavier (ASX), os herdeiros dos X-Men daquele futuro, que chegam aqui perseguindo Fritzroy. Dois dos agentes terminarão morrendo, mas um deles, Bishop, se tornará membro oficial do time (sua efetivação se dará na edição 287).

Esse arco se conclui na edição 284, e a 285 já traz uma nova ameaça representada por uma outra dimensão e a vilania de Mikhail Rasputin, o irmão de Colossos (que era referendado como um astronauta morto desde as histórias de 1975), que emerge dessa dimensão chamada Vácuo, junto ao Triunvirato.
Essa curta fase com a participação de John Byrne se encerra na edição 288, de maio de 1992.

Em paralelo, John Byrne também contribuiu à nova X-Men, substituindo seu ex-parceiro e desafeto Chris Claremont. X-Men 04, de janeiro de 1992, com plot e arte de Jim Lee e roteiros/diálogos de Byrne, inicia uma trama focada no passado de Wolverine, algo que o antigo escritor sempre se esquivou de contar. A história mostrava Matsu’o Tsurayaba e o Tentáculo aliados aos irmãos Fenris (Andrea e Andreas von Strucker) para reativar o Ômega Vermelho, um operativo mutante dos tempos da União Soviética e da Guerra Fria, para caçar Logan.
Um detalhe importante é que esse reencontro com o passado motiva Wolverine a voltar a usar seu velho uniforme amarelo e azul, depois de 10 anos usando a versão mais sóbria de marrom e cobre criada justamente por John Byrne. Logan manteria o uso desse visual ou variações dele pelas décadas seguintes.

Segue-se uma batalha acirrada entre os dois e no estado de delírio em que Logan fica – pois os poderes do vilão envolvem um tipo de envenenamento -, nas edições 05, 06 e 07, ele começa a lembrar de seu passado e vemos um trio chamado Equipe X, com Logan, Dentes de Sabre (pela primeira vez tendo seu verdadeiro nome revelado: Creed) e o misterioso Maverick, agindo a serviço da CIA contra o Ômega Vermelho no que parece ser os anos 1960. Portanto, antes de ser um operativo da Arma X no Canadá, Logan teria tido um passado mais longo na espionagem (já explicito naquelas histórias dos anos 1980 com Carol Danvers) e que ele e Dentes de Sabre foram aliados algum dia.
Os eventos da Equipe X eram antes ou depois de Creed matar a Raposa Prateada, como vimos acima? Não fica claro, mas provavelmente, antes.

Infelizmente, a participação de Byrne se encerra aí, e o papel de roteirista para atuar ao lado de Lee é assumido por Scott Lobdell, um jovem escritor nascido em 1960, e que era um novato, tendo escrito apenas algumas histórias de Marvel Comics Present até então. Alguém sem nenhuma bagagem chegar para escrever a principal revista da Marvel Comics só mostra como era esquisita a redação da editora naqueles tempos, totalmente sob o domínio do Departamento de Marketing, e confiando (talvez mais do que deviam) no artista Jim Lee.
Mas o fato é que Lobdell seria o principal escritor dos títulos mutantes durante todo o restante da década de 1990.

Em X-Men 08, de maio de 1992, já por Lobdell e Lee, Bishop é apresentado aos membros da Equipe Azul e o mutante do futuro reconhece Gambit como o homem que vai trair e, com isso, destruir os X-Men em sua linha temporal, algo que o time ignora, mas ele ainda puxa uma briga, até que Bella Donna Bordreaux, a “esposa” de Remy LeBeau aparece, levando ele e o time Azul para uma aventura em Nova Orleans, apresentado o contexto da briga dos clãs dos Assassinos contra os Ladrões que envolve a vida particular de Gambit. Perceba que após um ciclo em Wolverine, o segundo é em Gambit, àquela altura o segundo x-man mais popular. Essa trama faz um crossover com outro popular anti-herói da época, o Motoqueiro Fantasma, e se encerra na edição 09.
As edições 10 e 11, terminando em agosto de 1992, trazem um arco com a volta de Longshot e Cristal – ambos em um relacionamento, ela grávida – e o vilão Mojo, que mais uma vez tenta transformar os X-Men em atração de seus “filmes”. Isso encerrou a participação de Jim Lee nos títulos mutantes.

O fato é que, quando se dá muito poder a alguém, é preciso compensá-lo adequadamente, e isso não estava acontecendo. Quando a Marvel entregou a condução de suas principais revistas nas mãos de desenhistas como Jim Lee, Rob Liefeld e Todd McFarlane (este no Homem-Aranha), não percebeu que não bastava pagar-lhes salários astronômicos. Esses artistas, celebrados por público e imprensa, vivendo uma aclamação de “super-astros” como nunca se vira antes na indústria dos quadrinhos (e lembre-se: eles tinham, cada um, vendido revistas com mais de um milhão de cópias!), começaram a fazer exigências.
Lee, Liefeld e McFarlane não queria apenas desenvolver os personagens consagrados da Marvel: eles tinham suas próprias ideias e queriam lançar personagens novos e garantir os royalties deles. E queriam royalties pelas aquelas revistas que vendiam pelo menos mais de 500 mil unidades. A negociação encontrou um muro por parte da administração da Marvel e o trio de artistas tomou uma decisão ousada e radical: eles se demitiram da Marvel e criaram uma nova editora de quadrinhos para lançar seus personagens, a Image Comics.
Funcionando num esquema de total liberdade criativa e pautada quase que exclusivamente na reputação desses artistas, a Image Comics lançou uma série de novos personagens – Spawn de McFarlane; WildCATS e Wildstorm de Jim Lee; Strike Force de Liefeld e mais Savage Dragon de Eric Larsen – e fez um sucesso enorme. Quase imediatamente, a Image se tornou a terceira maior editora de quadrinhos, atrás apenas de Marvel e DC.
O baque foi forte e demorou anos para que a Marvel se recuperasse. E a despeito do esforço de reunir outros desenhistas “espetaculares” que mantivessem a pegada de seus antecessores, as vendas começaram a decair progressivamente.

Por fim, um detalhe: enquanto X-Men (vol. 2) era lançada, Uncanny X-Men entrava na sua nova fase e X-Force se desenvolvia, a quarta revista mutante passava por uma mudança radical. Com os membros originais dos X-Men de volta ao time principal, dividido nas duas equipes, o que restava ao X-Factor? Uma mudança completa de formação e sentido: X-Factor 71, de outubro de 1991, dava início à trama na qual, como sequência à Saga da Ilha Muir, Charles Xavier se reúne com Valerie Cooper – ainda a Secretária Especial do Governo dos EUA para Assuntos Mutantes – e resolvem criar uma equipe operacional do governo (agentes secretos mutantes), que herdará o nome do X-Factor, com um time reunindo Destrutor (líder), sua (ex?) namorada Polaris, o ex-vingador Mércurio (que após três décadas frequentando as revistas dos Vingadores e do Quarteto Fantástico, regressava ao Universo Mutante propriamente dito) e outros membros “menores”, como Lupina (dos Novos Mutantes), Homem-Múltiplo e Fortão, o nome adotado por Guido, o guarda-costas de Lila Cheney.
Com roteiro de Peter David (escritor que fez fama no Homem-Aranha e Hulk) e desenhos de Larry Stroman, a nova tônica do X-Factor era o humor e foi uma revista surpreendente, que nunca fez o sucesso de suas irmãs mutantes, mas rendeu boas histórias.
Enquanto isso, com Chris Claremont já distante na estrada, e sem Jim Lee ou Rob Liefeld, o Universo Mutante entrava em uma fase nova naquele ano de 1992.








PARABENS PELA MATERIA. SUPER INSTRUTIVA. NOTA 10. EU GOSTARIA Q A PANINI REPUBLICASSE ESSAS REVISTAS POIS SAO ARCOS MUITO IMPORTANTES E OS MELHORES JA FEITOS NO UNIVERSO X-MEN
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Concordo, Biano, seria muito legal alguns arcos como “Inferno” serem republicados, bem como os arcos com John Romita Jr. (anos 1980 e 1990) e aquele em que o X-Factor é obrigado a envar Nathan Summers ao futuro.
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Sr. Irapuan, meus sinceros parabéns pelo seu artigo, muito instrutivo e completo. Adoro os gibis dos X-men, sao os melhores. !!! Por favor, voce poderia indicar algum local ou site para mim comprar números antigos dos X-men, Homem-Aranha? Muito obrigado
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Olá, Edson, tudo bem?
Duas comics shops bacanas e com muito material de gibis antigos são a Comix Book Shop, em São Paulo (Alameda Jaú nº 1998, tel: 11-3088-9116 / 3061-3893) e a Point HQ no Rio de Janeiro (Rua Visconde de Pirajá nº 207 – lj 316, Tel: 21-2521-9803).
Em ambas você pode entrar em contato via internet e conseguir muitas revistas interessantes.
Aqui vão os links:
http://www.pointhq.com.br/
http://www.comix.com.br/distinction.php
Um grande abraço e seja bem-vindo ao HQRock!
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Olá, meu amigo!!! Tudo bele? Por favor, vou abusar de sua sabedoria. Eu coleciono os X-men pequenos (até o numero 141), e então comprei o Fabulosos X-men e o X-men em formato americano. Voce poderia me informar até qual numeração eles foram publicados? O X-men Extra também. Muito obrigado.
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Olá, Edson,
A revista X-Men da Abril (formatinho) foi até o número 141 mesmo (1988-2000) e foi cancelada.
E Fabulosos X-Men (formato americano) foi até o número 55 (1996-2000).
Ambas foram substituídas pela X-Men Premium, também da Abril, que teve 17 números apenas, em acabamento de luxo e 160 páginas.
Em seguida, vem a X-Men da Panini, em publicação até hoje. E a X-Men Extra da mesma editora.
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Olá, Irapuan
Por favor, eu preciso de sua ajuda. Eu gostaria de saber em qual revista aqui do Brasil foi publicada que a Vampira dos X-men ganhou seus filhos. Eu tenho a coleção quase completa dos X-men e X-men Extra (2002). Muito obrigado
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Olá, Doutor
Boa noite. Tudo bem?
Desculpe, vou abusar de sua sabedoria de novo. Eu tenho uma dúvida. Eu comprei alguma revista da Marvel, onde estava sendo publicada uma historia solo da Vampira dos X-men, onde o começo de cada capitulo falava que ela tinha perdido uma criança, e estava andando pela Austrália. Por favor, voce saberia dizer qual era esta revista? (Desculpe, eu tenho centenas de revistas dos X-men, e lembro que esta revista era grande, do tipo que a Panini publica).
Muito obrigado
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Irapuan, parabéns pelo ótimo blog, provoca um delicioso sentimento nostálgico aos amante do bom rock and roll e velhos leitores de quadrinhos como eu. Mas, cadê a última parte da história dos X-men nos quadrinhos?
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Oi, Danilo, obrigado pelo elogio.
Estou mesmo devendo a última parte dos X-Men. Estou meio sem tempo, mas tentarei produzir ainda este mês, ok? Já há outros pedidos similares.
Valeu mesmo!
Abraços!
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OUTRA SUGESTÃO SE VC ME PERMITIR (APESAR D SABER Q O POST É SÓ UM RESUMO) SERIA MENCIONAR O SURGIMENTO DA GERAÇÃO X E A MORTE DOS SATÂNICOS ACHO Q FICARIA LEGAL. LÓGICO Q EM SI O POST ESTÁ MAIS DOQ EXCELENTE.
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