Esta é a terceira (e última!) parte da História do Homem-Aranha nos quadrinhos, um levantamento editorial e cronológico de toda a trajetória de Peter Parker nas HQs.
Se você não leu as partes anteriores, siga os links da Parte 01 e da Parte 02.
O terceiro capítulo de nossa jornada segue de 1987 até os dias atuais, na qual temos o casamento com Mary Jane, sua fase de maior sucesso comercial, a explosiva fase de David Michellinie e Todd McFarlane (com a estreia de Venom), os retornos de Gerry Conway e Sal Buscema, as histórias sombrias de J.M. DeMatteis, a expansão das revistas do personagem, a grave crise criativa em meados dos anos 1990 da qual A Saga do Clone é o exemplo supremo, um período de reinvenção que não deu muito certo, a virada para o século XXI com suas tentativas de inovação que resultaram na bizarra fase de J.M. Straczynski (que parece se esforçar em destruir todos os conceitos do herói); na revelação da identidade secreta de Peter Parker por Mark Millar, as polêmicas decisões editoriais que resultaram no confuso e odiado reboot de Brand New Day, e o que veio depois, que varia entre a repetição e a má qualidade. Vamos lá!
Juntando os Cacos e Arrumando a Casa
Estamos em 1987 e o Homem-Aranha viveu uma espécie de “guerra civil” em termos editoriais, que resultou na controversa revelação da identidade secreta do vilão Duende Macabro e na dança das cadeiras do time criativo principal do personagem e seus editores. Jim Saliscup era o novo editor das três revistas mensais do Homem-Aranha – Amazing spider-Man, Peter Parker: the Spectacular Spider-Man e Web of Spider-Man – e teve de arrumar a casa. Para Amazing (a principal revista) deslocou o escritor David Michellinie, um veterano da Marvel com passagens marcantes no Homem de Ferro e nos Vingadores; mas estava bastante insatisfeito com o material de Peter David em Spectacular e lhe deu um ultimato para fechar suas histórias que iria demiti-lo; e manteve Web como uma revista “especial” dedicada a arcos por vários autores enquanto pensava em alguém para ocupá-la em definitivo como uma revista de linha.
Porém, Saliscup não teve muito tempo de folga, pois seu patrão, o editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, logo lhe jogou uma bomba no colo: ele precisava organizar o casamento de Peter Parker e Mary Jane. E para amanhã!
O Casamento
Num mundo ideal, o casamento entre Peter Parker e Mary Jane Watson seria um belo conto de amor fruto do desenvolvimento dos personagens. Mas não foi bem assim. De fato, é preciso dizer que havia precedentes, mas a história de como ocorreu é um pouco mais complexa.

Você que está acompanhando essa saga já viu isso (nas Partes 1 e 2 desse Dossiê), mas vale à pena uma rápida recapitulação: MJ foi introduzida por Stan Lee e John Romita em 1967 como a gatíssima garota ruiva cujas tias May e Anna queriam unir com Peter, uma menina “para frente”, sempre animada e que não gostava de enrolação. Mas o temperamento volátil dela ajudou com que Peter terminasse preferindo namorar com Gwen Stacy, que terminou morta pelo Duende Verde, em 1973. Daí, começa uma lenta (re)aproximação com MJ (nas histórias de Gerry Conway) até que os dois terminam assumindo um namoro (em 1975) que terminará quando ele decide pedir a mão dela em casamento (em 1978), numa história de Marv Wolfman. Após um tempo de aparições apenas ocasionais, Roger Stern a trouxe de volta para perto de Peter (em 1984), o que culminou na história de Tom DeFalco em que ela revela saber que o rapaz é o Homem-Aranha (em 1985), o que os torna cúmplices de uma nova maneira.
Ou seja, havia um desenvolvimento de personagem e uma recente reaproximação entre os dois personagens, mas não foi isso que determinou a trama do casamento. Mas de certo modo uma disputa de egos.
O fato é: lembra que desde 1977 Stan Lee escrevia a tirinha de jornal do Homem-Aranha? Essas aventuras em preto e branco (coloridas nos domingos) contadas em poucos quadros diários nos principais jornais em circulação dos EUA (e em vários países do mundo) mostravam um universo à parte do canônico. Então, como uma forma de mexer um pouco as coisas, para celebrar o 10º aniversário da empreitada, Lee decidiu criar uma história com o casamento de Peter e MJ, a ser desenhada por Larry Lieber, seu irmão.

Contudo, quando Jim Shooter ouviu do próprio Lee – que tecnicamente era seu chefe, pois o The Man era o publisher da Marvel – sobre a história, achou que um evento importante desses, que tivesse essa magnitude, teria que ser publicado primeiro nas revistas canônicas e, só depois, na tira de jornal. Lee entendeu o ponto de vista e concordou.
Mas isso colocava um grande problema: Shooter (e seu subordinado, Salicrup) tinham apenas poucos meses para fazer isso, pois a publicação da tira era diária e não mensal. Realizar isso fazia necessário modificar todas as tramas planejadas para o ano nas mãos dos roteiristas do Homem-Aranha. E daí? Shooter era o tipo de editor que não hesitava em impor histórias. Passando por cima de Salicrup, demandou missões específicas aos escritores: cabia a David Michellinie criar uma história em três partes que resultasse no pedido e no aceite para o casamento; já Peter David tinha três edições para encerrar definitivamente o namoro com a Gata Negra (já que oficialmente, Felicia Hardy era a namorada de Peter na época); e como o casamento iria mudar todas as histórias dali em diante, para dar tempo aos escritores se aclimatarem, comissionou J.M. DeMatteis (que escrevera uma temporada de Marvel Team-Up) a criar uma história em seis partes que ocupasse as revistas mensais por dois meses para que todos os leitores pudessem ler a história do casamento (a sair no especial anual de verão) antes das revistas seguirem com as histórias de Peter casado. Era uma operação de guerra.

Então, David Michelinie se uniu a John Romita Jr. (que voltava à revista depois de três anos desenhando os X-Men e o Demolidor), e apresentaram o arco em Amazing Spider-Man 290 a 292, na qual cansado e desiludido, Peter Parker decide pedir Mary Jane Watson em casamento mais uma vez. Ela novamente negou, afirmando que eram somente amigos, mas depois de uma visita ao seu pai (com quem sempre teve problemas) e ter sua vida salva, mais uma vez, pelo Homem-Aranha (contra o filho de Smythe, dos Esmaga-Aranha), a ruiva decidiu aceitar.

Em paralelo, após ter sido afastado da revista Spectacular após o número 123 (o que levou a vários escritores produzirem as edições 124 a 127), Peter David foi trazido de volta para encerrar o romance entre Peter e Felicia, já que era nas suas mãos em que essa história era contada, pois as aparições da Gata Negra em Amazing eram apenas pontuais ou decorativas. Então, com o desenhista Allan Kupperberg, Peter Parker: the Spectacular Spider-Man 128 e 129, de julho e agosto de 1987, mostram a estranha história em na qual o Homem-Aranha descobre que a Gata Negra se mancomunou com o misterioso Estrangeiro para pegar uma peça nele.
No fim, a trama também mostra que Felicia não só havia se envolvido romanticamente com o vilão como o enganou também, deixando os dois para trás. Foi uma ação “sacana” de Felicia para (mais uma vez) provar a Peter de que era capaz e autônoma, mas não era algo esperado da personagem da forma como fora escrita em anos passados. E mais: como se toda a estranheza não fosse o suficiente, ficamos sabendo que por um motivo qualquer, o Estrangeiro matou Kris Keating e ocupou seu lugar como capitão da polícia. Isso explicava o comportamento estranho de Keating nas histórias mais recentes, quando se aliou à conspiração em torno do Duende Macabro, por exemplo. Nunca ficou explicitado em que momento ocorreu a substituição do verdadeiro policial pelo vilão.

Então, Peter e MJ se casaram em Amazing Spider-Man Annual 21, com data de capa do verão de 1987, com roteiro creditado a Jim Shooter (o editor) e David Michelinie (escritor) e desenhada por Paul Ryan. A revista foi feita tão às pressas que não foi possível trazer um desenhista-estrela para fazê-la (algo que seria impossível de imaginar nos dias de hoje!!!!), como era a intenção, apenas Ryan, um artista de pouca expressão. Apenas a capa foi desenhada pelo lendário John Romita em duas versões, uma com Peter de terno e outra com o uniforme.
A trama é absolutamente simples, mostrando que apesar de concordarem em casar (nas histórias da revista mensal), na medida em que o dia se aproxima, tanto Peter quanto MJ têm dúvidas se devem ou não realmente levar aquilo adiante. Enquanto a noiva tem uma explosiva despedida de solteira junto a seus amigos do mundo da moda, nosso herói tem uma modesta reunião regada a refrigerantes com Harry Osborn e Flash Thompson. Para não deixar de ter ação, há uma aparição gratuita do Electro, mas a maior parte da história é simplesmente sobre o casal e suas inquietações. No caso de Mary Jane há uma ousada, até atrevida, abordagem… As histórias anteriores já haviam mostrado que ela tinha um “amigo” (namorado/ficante) rico e isso é explorado na HQ do casamento, com o tal amigo, um milionário misterioso chamado Bruce, cujo o rosto jamais é mostrado, telefonando para ela e ela aceitando sair com ele na noite da véspera porque precisa desesperadamente conversar com alguém, e para apimentar a mente dos maldosos, no dia seguinte, quando MJ aparece deslumbrante em seu vestido de noiva exclusivo e elegantemente atrasada para a cerimônia nas escadarias da Biblioteca Pública de Nova York, é o carro de Bruce quem a deixa lá.

Esse elemento da história fez os fãs mais adultos ficarem questionando, especialmente quando a internet se popularizou anos e anos à frente, sobre se isso implicava que MJ passou a noite com Bruce na véspera de seu casamento. Muitos fãs (e artistas) preferem pensar que sim! Anos mais tarde, o desenhista Joe Quesada (editor-chefe da Marvel no próximo século – chegaremos lá, aguarde um pouco) explicou que ele acreditava nisso, e mais: que o tal Bruce era, na verdade, ninguém mais, ninguém menos do que Bruce Wayne, o Batman! Claro, Quesada não esteve envolvido na criação dessa HQ de nenhum modo, mas em plenos finais dos anos 1980, o editor-chefe da Marvel criar um história na qual aparece um misterioso milionário (sem rosto) chamado Bruce, é óbvio que isso era uma piada não tão velada com o personagem da Distinta Concorrente.

E antes que venham as reclamações moralistas sobre uma mulher solteira transar com outro homem na véspera de seu casamento, é preciso pensar que aqueles eram os anos 1980, uma época de maior liberdade moral do que nos dias (mais caretas) de hoje (bom, pelo menos no discurso [hipócrita] das redes sociais), e é preciso pensar que, do modo como as coisas aconteceram, Peter e MJ nem sequer eram namorados oficialmente “dias” antes da cerimônia, com Peter ficando com MJ e Felicia Hardy ao mesmo tempo nas recentes HQs da Guerra de Gangues, por exemplo, enquanto ela era uma mulher independente, libertária, modelo bem sucedida… Enfim, nada demais, apenas um fechamento de ciclo para iniciar uma nova vida.

E é Peter, claro, quem se atrasa mais ainda, chegando ao local depois da noiva. Mas tudo dá certo e com Harry e Flash como padrinhos, o herói e sua ruiva favorita sob a vista do enxuto elenco de coadjuvantes que inclui May, Anna, Jonah, Robbie, Betty e até um ou outro personagem não claramente identificado. A mesma cena do “sim” é repetida na HQ e, mais tarde, na tira de jornal, com pequenas diferenças. Curiosamente, nenhuma história mostra se houve uma festa depois da cerimônia.
Como parte da estratégia, o vestido usado por MJ foi criado por um estilista famoso da vida real: Willi Smith, e foi seu último trabalho importante, antes de morrer.

Mas uma enorme campanha de marketing foi promovida para divulgar o grande evento que, num caso raro em se tratando de HQs da época, chegou a ser veiculada pela grande mídia, e que contou inclusive com uma encenação do casamento com atores no meio do Shea Stadium, em Nova York, ocasião ao qual Stan Lee serviu como “reverendo”.
Com bem menos alarde, Peter Parker: the Spectacular Spider-Man Annual 07 trouxe a lua de mel do casal Watson-Parker, com roteiro de Jim Owsley/Christopher Priest e arte de Allan Kupperberg, na qual os pombinhos vão ao sul da França, mas a tranquilidade é interrompida pelo Puma, que engaja o Homem-Aranha em uma missão especial.
A Queda de Jim Shooter
Ironicamente, o casamento do Homem-Aranha terminou sendo o último grande ato de Jim Shooter na Marvel. Nos nove anos em que comandou a editora, o ex-menino prodígio construiu uma reputação e tanto, mas nem sempre sob viés positivo. O início de sua gestão no fim dos anos 1970 e início dos 80, ele incentivou artistas criativos e ousados a criarem histórias revolucionárias – como Frank Miller no Demolidor, Chris Claremont e John Byrne nos X-Men; John Byrne de novo no Quarteto Fantástico; Walt Simonson em Thor; Roger Stern no Homem-Aranha… Firmou parcerias com licenciadores, como Star Wars e a Mattel (que gerou Transformers e G.I. Joe). As vendas aumentaram muito de modo que Shooter não apenas se manteve como editor-chefe, como também foi promovido a vice-presidente da Marvel, em 1982.

A partir desse ponto, é importante acrescentar, o papel de Stan Lee como publisher – que anos antes equivalia a praticamente a ser o presidente da empresa – foi gradualmente se tornando apenas figurativo, com ele mais envolvido no desenvolvimento de material licenciado pela Marvel Production em Hollywood (desenhos animados e séries de TV).
Contudo, na medida em que os anos passavam, Shooter começou a se tornar um editor mais impositivo e a interferir de maneira incisiva no material dos escritores até chegar ao ponto, a partir de Guerra Secreta, em que começou a querer conduzir toda a linha editorial a partir de sua trama geral. E tudo ainda piorou: em 1986 dois eventos terminaram por minar sua gestão. Primeiro, era o momento em que a editora completava 25 anos (contados a partir do lançamento de Fantastic Four 01, de 1961) era necessária uma grande celebração. Shooter queria um reboot do Universo Marvel, mas a diretoria da empresa não aceitou, então, o plano B era o Novo Universo, toda uma linha nova de revistas e personagens. Isso foi aceito e um grande orçamento foi disponibilizado.

O outro evento veio a estragar o primeiro: a Cadence Inc., que era dona da Marvel, vendeu a empresa, que foi comprada pela New World Co., e os novos donos cortaram o orçamento do Novo Universo. As revistas não venderam e foi um fracasso, o que complicou a situação de Shooter na empresa, e ele terminou demitido. As revistas de julho de 1987 foram as últimas a trazerem seu nome nos créditos e Tom DeFalco se tornou o novo editor-chefe.
Tendo sido um grande escritor aracnídeo no passado recente, DeFalco daria bastante atenção ao cabeça de teia.
Vida de Casado
Apesar da história do casamento ter sido apenas um pouco menos conturbada do que a revelação da identidade do Duende Macabro, no fim das contas, (ao contrário do outro caso) teve como consequência uma série de boas histórias. Colocados em um novo cenário, os escritores terminaram se esforçando mais e criaram grandes histórias que marcariam bastante o Homem-Aranha e davam, sem saber ainda, início ao período de maior sucesso comercial que o amigão da vizinhança vivenciou em toda a sua existência.
No verão de 1987, enquanto a edição do casamento estava nas bancas, para que todos lessem as aventuras pós-matrimônio apenas depois, a Marvel ocupou todas as três revistas do Homem-Aranha com a publicação de dois arcos seriados. O primeiro foi chamado Terrível Simetria, escrito por J.M. DeMatteis e desenhado por Mike Zeck, alternando-se entre Web of Spider-Man 31 e 32, Peter Parker: The Spectacular Spider-Man 131 e 132 e Amazing Spider-Man 293 e 294, publicadas em julho e agosto de 1987.
A trama mais tarde conhecida como A Última Caçada de Kraven era um thriller adulto, violento e sombrio no qual Kraven, o caçador, luta para destruir a imagem do Homem-Aranha. O herói é baleado e enterrado vivo, luta contra Ratus (personagem trágico criado pela mesma dupla nas histórias do Capitão América) e termina com Kraven cometendo suicídio. DeMatteis estava em ascensão como um dos principais escritores dos quadrinhos. Relativamente novato, começou na Marvel, já nos anos 1980, escrevendo as aventuras dos Novos Defensores, mas logo emplacou uma famosa (e polêmica ) temporada no Capitão América (Leia mais aqui). Curiosamente, apesar da violência e seriedade da história, depois do arco com o Homem-Aranha, o escritor mudou-se para a concorrente DC Comics e criou um sucesso enorme com a versão cômica da Liga da Justiça, entre 1988 e 91.
O segundo arco que ocupou as três revistas foi mais curto, mas igualmente sombrio e adulto, foi Mad Dog Ward, escrito pela roteirista Ann Nocenti e com arte da desenhista Cindy Martin, ocorreu em Web of Spider-Man 33, Amazing Spider-Man 295 e Peter Parker: the Spectacular Spider-Man 133, contando a história da esposa de um “tenente” do Rei do Crime que é levada à loucura pelos crimes do marido e é enviada para um hospício controlado pelo chefão.

Após os dois ciclos de arcos das três revistas, cada uma delas se acomodou em sua nova fase. David Michelinie se reuniu ao desenhista Alex Saviuk e contaram uma história na qual o Doutor Octopus finalmente se recupera do trauma que sentia em relação ao Homem-Aranha (desde Spectacular 79, de 1984) e faz um retorno triunfal em Amazing Spider-Man 296 e 297.

Já a revista Peter Parker perdeu o “nome real” do personagem do título e foi oficialmente rebatizada apenas The Spectacular Spider-Man. Nome polêmico nos corredores da Marvel (e um pouco “queimado” por causa da revelação da identidade do Duende Macabro) Peter David já tinha sido afastado da condução da revista meses antes, mas em parte em tributo por seu ótimo desempenho nas vendas de The Incredible Hulk na mesma época (salvando o título de um possível cancelamento) foi lhe dada a oportunidade de escrever seu último arco e finalizar as pontas soltas que deixara na trama.
Assim, inaugurou a nova fase do título com a história que trouxe o retorno e a morte do Devorador de Pecados, o vilão que criara em sua primeira história. Nas edições 134 a 136, o ex-policial Stanley Carter sai do hospício e decide escrever um livro de memórias sobre sua carreira criminosa, mas tem que lidar com o fardo de seus atos. Ao mesmo tempo, o Homem-Aranha se sente absolutamente culpado porque a surra que deu em Carter (em Spectacular 110, de 1985) o transformou em uma pessoa fisicamente debilitada, quase um aleijado: com dificuldade de andar e surdo de um ouvido. O medo de machucar alguém da mesma forma termina levando o aracnídeo a se conter demais e ser derrotado por Electro e Parker tem que vencer os próprios medos e traumas para impedir a volta de Electro e do Devorador de Pecados.

Além de sua despedida da revista após três anos, a história de conteúdo excelente foi o marco do retorno do desenhista Sal Buscema às revistas do Homem-Aranha (leia a Parte 02), após suas passagens por Marvel Team-Up e Spectacular nos anos 1970. Seu traço expressivo de linhas retas e quadradas voltou a abrilhantar o universo do cabeça de teia. Mas o editor Jim Salicrup era irredutível contra o clima muito dark e mundano das histórias de David e o escritor realmente não retornou depois disso. Continuou escrevendo a revista do Incrível Hulk de maneira absolutamente genial e ficou com o monstro por mais de 10 anos e, pouco depois, também assumiria a revista do X-Factor, grupo ligado aos X-Men, antes de ir para a DC Comics e trabalhar com Aquaman e Supergirl.

Já a revista Web of Spider-Man se transformou em mais uma revista “de linha” do Homem-Aranha e não mais um casa de “histórias especiais”. Quem foi convidado para inaugurar essa nova fase da revista, a partir da edição 35, de fevereiro de 1988, foi o veterano Gerry Conway, um dos mais bem-sucedidos escritores do personagem em todos os tempos (leia a Parte 02). Os desenhos ficaram com Alex Saviuk, vindo de Amazing, pois o posto naquela revista seria ocupado pela nova estrela em ascensão na Marvel.
Venom e a Chegada de Todd McFarlane
Há anos, quando ainda escrevia Web of Spider-Man, David Michelinie planejava criar um novo vilão baseado no uniforme negro e no alienígena simbionte. Agora no comando de Amazing Spider-Man, e passado o turbilhão do casamento, o escritor decidiu por em prática suas ideias. O arco em que desenvolveu isso, entre os números 298 e 300, de 1988, também trouxeram um novo desenhista: Todd McFarlane.
Nascido em Calgary, no Canadá, e abandonando uma carreira profissional no baseball por causa de uma contusão no tornozelo, McFarlane era um artista relativamente novato. Após anos de treinamento autodidata e de enviar portfolios a editores diversos, começara sua carreira apenas em 1984, fazendo a arte da revista Coyote, do escritor Steve Englehart, dentro do selo Epic Comics da Marvel, dedicado a obras autorais. Ele foi indicado pelos editores para assumir a revista G.I. Joe (Comandos em Ação), que a Marvel publicava com muito sucesso, mas o escritor Larry Hama recusou, pois o achou “verde” demais (faltava-lhe storytelling, ou seja, a capacidade de contar a história de modo sucessivo pelos quadros), o que levou o artista à DC Comics, onde assumiu a revista Infinity Inc. por um ano, trabalhando também na minissérie Invasão, um superevento) e a desenhar os três últimos capítulos do arco Batman: Ano Dois (cuja primeira parte fora feita por Alan Davis). Então, voltou para a Marvel e assumiu a arte da revista The Incredible Hulk escrita por Peter David, em 1987.

O desenho exagerado, expressivo e cheios de traços e ranhuras de McFarlane caiu como uma luva no gosto dos leitores da época e fez tanto sucesso que começou a fazer capas e posters para outros personagens. Suas ilustrações do Homem-Aranha chamaram a atenção e, logo, foi transferido para as revistas do escalador de paredes, já chegando como uma sensação. Contudo, apesar do efeito visual de seus maneirismos e a paciência de criar detalhes (em particular ficou famosa a sua versão da teia, desenhada como um emaranhado de fios depois de 26 anos retratada apenas como uma série de letras X entre duas linhas paralelas, o que fez a sua versão ser conhecida como “teia espaguete”), de fato, McFarlane não era bom com movimento e suas figuras – à exceção das poses bombásticas – tendiam a ser estáticas; e suas páginas eram tão poluídas de informação (linhas, ranhuras) que ficam escuras e difíceis de ler.
Por outro lado, o exagero, a expressão e os músculos ressaltados além do possível configuravam uma mudança visual algo radical dentro de uma mídia que valorizava o estilo mais clássico de John Romita ou John Buscema, ainda que desse espaço para alguns outros estilos.
O sucesso explosivo de McFarlane no Homem-Aranha chamou a atenção do mercado para o fato de que havia uma nova leva de artistas com essas artes mais rasuradas, imperfeitas anatomicamente e rompendo com a linha de “beleza” da arte clássica, e logo, esses artistas explodiram para todos os lados (como Jim Lee nos X-Men, Marc Silvestri em Wolverine, Rob Liefeld nos Novos Mutantes etc.) dando origem ao que os historiadores chama de Efeito Muscular, que se transformou em uma praga nas HQs dos anos 1990 como veremos em breve.
Mas estamos adiantando as coisas. Voltemos: em Amazing 298 a 300, Michelinie e McFarlane criaram uma história em que um repórter do Globo Diário chamado Eddie Brock encontrava o uniforme simbionte (que todos pensavam ter sido destruído em Web 01) e se tornava um monstro chamado Venom. O alienígena queria se vingar de Peter Parker por tê-lo abandonado e Brock também nutria ódio pelo Homem-Aranha. Seu motivo era uma “história retroativa” que Michelinie criou situado nos eventos do famoso arco A Morte de Jean DeWolff: em sua investigação, Brock pensava ter descoberto a identidade secreta do Devorador de Pecados, mas quando o Homem-Aranha prendeu Stanley Carter (e provou que o outro era um impostor) arruinou a carreira do jornalista.

De posse do alienígena simbionte, Brock se transformou em um monstro com a mesma aparência do uniforme negro, só que com uma enorme boca, chamando a si mesmo de Venom. Sabendo da identidade de Peter Parker, ele invade seu apartamento e assusta Mary Jane. O Homem-Aranha consegue derrotá-lo (novamente com a arma de raios sônicos do Quarteto Fantástico) e decide não usar mais o uniforme negro para não ser confundido com o novo vilão. Este arco fez um grande sucesso e tornou Venom o principal vilão do Homem-Aranha nos anos 1990.

Claro, há uma história editorial por trás do retorno do uniforme azul e vermelho. Quando a Marvel adotou o uniforme negro em 1985, os fãs antigos reclamaram muito e isso ficou anotado na diretoria da empresa. Com o passar do tempo, os leitores se acostumaram com o visual, que rendia retratos muito interessantes do personagem e era mais simples de ser desenhado pelos artistas, economizando horas de trabalho em cima das teias da velha roupa. Contudo, o editor-chefe Tom DeFalco e o editor das revistas aracnídeas Jim Salicrup pensaram que a arte de McFarlane casava muito melhor com o estilo antigo e o artista também preferia a velha roupa colorida.
Aproveitando o interesse de David Michellinie de fazer do simbionte alienígena um vilão, foi decretado o fim da Era do Uniforme Negro.
Não custa mencionar que a 300ª edição de Amazing, claro, era comemorativa, também trouxe a mudança do casal do apartamento da rua Chelsea para um condomínio de luxo chamado Bedford Towers (MJ ganhava um bom dinheiro como modelo), depois de 12 anos. Era o fim de uma era.

O visual de Todd McFarlane para o uniforme clássico do Homem-Aranha mudou bastante o estilo do personagem: muitas linhas, traços grossos, olhos enormes, poses dinâmicas e uma teia muito mais detalhada. Era um visual mais sujo do que o padrão de John Romita, resgatando algo de Steve Ditko. Logo, esse visual se tornaria a principal referência para todos os demais artistas do universo do aracnídeo. Mesmo o veterano Sal Buscema aderiu a alguns desses elementos estéticos. E Mary Jane também foi afetada, deixando de ter cabelos lisos para um penteado mais volumoso e com cachos.
Michelinie e McFarlane transformaram Amazing em um fenômeno de vendas como não era há muito tempo. Além da arte chamativa de McFarlane, Michelinie também se destacava criando bons roteiros, recheados de ação e humor. As histórias mostravam o desenvolvimento de Peter e Mary Jane como casados, não só sentimentalmente, mas profissionalmente, também. A carreira de modelo de Mary Jane ia entrando em ascensão, enquanto Peter lançava um livro com as fotos que tirou do Homem-Aranha, chamado Webs (Teias), o que lhe fez viver seus “15 minutos de fama”, num pequeno arco a partir de Amazing 304.
Michelline e McFarlane construíam arcos de histórias específicos, como um longo arco ao lado da mercenária Silver Sable e do Homem-Areia (na época tentando viver do lado da lei), O Rapto de Mary Jane (ASM 308 e 309), uma aliança com o Capitão América contra o Caveira Vermelha, e confrontos com Escorpião, Camaleão e, claro, Venom.
Gerry Conway e Alex Saviuk criavam histórias muito boas em Web e a saída de Peter David de Spectacular fez com que Conway também assumisse essa revista, repetindo a parceria com Sal Buscema que haviam realizado nos primeiros números do título, lá no distante 1976. O primeiro arco foi uma história em que o Aranha se junta ao novo Capitão América (John Walker, que substituiu Steve Rogers por pouco tempo) contra o Tarântula, inclusive repetindo elementos referentes às minorias étnicas que tinham desenvolvido nos velhos tempos.
A Era dos Crossovers
Tom DeFalco era um bom escritor e editor, mas a entrada nos anos 1990 marcava uma alta na vendagem de HQs que não se via desde os anos 1960. Ávidos por lucros, os novos donos da Marvel – comandados pelo investidor Ike Perlmutter – mudaram a rotina e o editor-chefe vivia sob constante pressão do Departamento de Marketing para criar estratégias que aumentassem ainda mais as vendas. A principal solução foi a lógica dos crossovers, que havia sido testada nos dois eventos-chave de Jim Shooter anos antes, Guerras Secretas I e II: a interconexão total entre todos os títulos da editora ou pelo menos em extensos blocos deles.
Embora a estratégia já viesse sendo testada de diversas formas – o arco Massacre de Mutantes dos X-Men, por exemplo, irradiou para a revista do Thor – o grande marco inicial dos crossovers como os conhecemos foi a saga Inferno dos X-Men, na qual a Terra é alvo da invasão de uma horda de demônios. Por causa disso, todos os títulos da Marvel tiveram que lidar com os seres infernais e uma série de fenômenos paranormais e surreais que vieram junto. A lógica da intensa conexão se transmitia ainda aos títulos temáticos, assim, um personagem com múltiplas revistas, como o Homem-Aranha, via cada vez mais as tramas migrarem ou cruzarem de uma revista para outra, obrigando uma série de artistas a trabalharem em conjunto.

Exemplo disso tudo se dá com a trama que se inicia em Web of Spider-Man 47, de fevereiro de 1989, por Gerry Conway e Alex Saviuk, onde temos o retorno do segundo Duende Macabro (Jason Phillip Macendale, o antigo Halloween) pela primeira vez em dois anos. Macendale não é uma ameaça como seu antecessor – então, presumivelmente morto – porque não tem superpoderes. Por isso, vai atrás de Harry Osborn, como o Macabro original fizera, para conseguir uma cópia do diários de Norman Osborn e descobrir a Fórmula Osborn que lhe daria superforça. Ameaçando o filho bebê, Normie, de Harry, o Macabro/Macendale diz que vai voltar.
Então, migramos para Amazing Spider-Man 312, publicada no mesmo mês, por Michellinie e McFarlane, na qual, afetado pelo clima demoníaco da saga Inferno, Harry Osborn relembra seu passado como Duende Verde (mas não a identidade de Peter) e usa o velho uniforme para dar um troco no Duende Macabro, tendo assim, um pequeno (e breve) brinde aos leitores com o primeiro encontro entre os dois Duendes (ainda que substitutos, ambos).
Mas não termina aí: também no mesmo mês, Spectacular Spider-Man 147, por Gerry Conway e Sal Buscema, mostra como Macendale, após derrotado pelo Homem-Aranha e sem sucesso em obter a fórmula Osborn faz um pacto com o demônio N’astirth e ganha superpoderes. Porém, como todos os pactos demoníacos, tem um preço embutido: Macendale passa a ter a aparência demoníaca de sua própria máscara, fazendo surgir a entidade que mais tarde seria batizada de Demogoblin (Duende Demônio).
Tal trama significava que o leitor não apenas tinha que comprar as três revistas do Homem-Aranha todo o mês, como também precisava lê-las na ordem correta para poder entender o que estava acontecendo. Isso sem falar que só entenderia o que diabos (piada inclusa) estava acontecendo com aquele monte de demônio voando por aí se lesse as outras quatro (!) revistas do Universo Mutante em que se originara a trama. Ninguém notava ainda, mas uma luz amarela começou a piscar…

Tal estratégia significava muita intervenção editorial, o que atrapalhava os roteiristas a criarem boas histórias, mas ainda assim, eles conseguiam. Além das boas histórias de Michellinie, Gerry Conway também desenvolveu arcos mais longos e independentes de grande qualidade. Em Spectacular, ele e Buscema criaram uma história repleta de teor psicológico em que Joe “Robbie” Robertson é perseguido por um equivoco do passado transfigurado no novo vilão Lápide, um albino que foi seu amigo na infância e se tornou um temível assassino de aluguel. Já em Web, Conway e Saviuk criaram uma nova guerra de gangues capitaneada pelos Irmãos Lobo, dois gêmeos mafiosos de origem latina e que se transformavam em lobisomens.
Em Amazing, Michellinie criou uma sequência de histórias nas quais desfilaram a maior parte do elenco clássico dos vilões do Homem-Aranha, como Camaleão, Escorpião, Lagarto, Mysterio, Gatuno, Homem-Areia (do lado dos mocinhos), Duende Verde, Duende Macabro, Rhino, Whiplash e até o Homem-Hídrico. Hoje, sabemos que a estratégia era um mandatório editorial para que McFarlane desenhasse esses personagens com sua arte exuberante e criasse capas arrebatadoras que aumentassem as vendagens, o que deu certo. Quase todos esses inimigos apareciam em uma única edição, o que obrigava o escritor a produzir histórias com ação contida, mas ao mesmo tempo, dava certo protagonismo à vida pessoal de Peter e Mary Jane, pois eram suas tramas quem passavam de uma edição a outra como fio condutor, com os desafios da vida de recém-casados, como adaptações, brigas, ciúmes, conflitos de interesses, de carreiras e de moradia.

Uma exceção das aventuras tópicas foi o arco de duas partes com o retorno de Venom, em ASM 316 e 317, de junho e julho de 1989, consolidando o vilão como o preferido dos fãs nessa época. A história define que, apesar que querer matar Peter Parker, Eddie Brock não é exatamente um vilão maligno e não tem interesse em machucar outras pessoas. Um detalhe importante: McFarlane redesenhou ligeiramente o visual de Venom para lhe uma boca ainda maior e dentes mais pontudos e ameaçadores, o que virou a principal marca do personagem.

Outra exceção foi o arco Nação Assassina, entre Amazing 320 e 325, até novembro de 1989, na qual temos o retorno de Silver Sable e a participação especial do Capitão América e do Paladino, numa trama de conspiração internacional envolvendo o Caveira Vermelha (e o Dentes de Sabre), encerrando a fase de Todd McFarlane no título. Após o intervalo de algumas edições, a estrela canadense desenhou seu último número de Amazing na edição 328, num confronto contra o Hulk. Neste ponto, a revista fazia tanto sucesso que a Marvel experimentou transformar a periodicidade do título em quinzenal, ou seja, pela primeira vez em sua história, saíam duas Amazings por mês! A empreitada durou pouco tempo, mas era uma mostra do poder de fogo das vendas.

Mais Sucesso Ainda
Como o desenhista sensação saiu de Amazing , seu lugar foi ocupado por Erik Larsen, artista tinha desenhado um dos capítulos da Guerra de Gangues de Jim Owsley (veja Parte 02) e agora voltava com um novo traço diretamente inspirado em McFarlane. Michellinie continuava com suas histórias tópicas, trazendo atrações como Magneto, Conde Nefária e o Justiceiro (então, um personagem também de grande sucesso em sua própria revista), e o precoce retorno de Venom em ASM 332 e 333.

Mas o principal arco da dupla Michellinie e Larsen foi a volta do Sexteto Sinistro (agora com Doutor Octopus, Mysterio, Abutre, Homem-Areia, Electro e a substituição do falecido Kraven pelo Segundo Duende Macabro, agora em sua versão demoníaca), que começou em Amazing 334, de junho de 1990, e foi até a edição 339, e contou ainda com participações de Chance e Shocker. Por incrível que possa parecer nos dias atuais, era apenas a segunda vez que o grupo de vilões se reunia, após a estreia em 1964!
A saída de Todd McFarlane de Amazing se deu tanto por conflitos criativos com Jim Salicrup, quanto à dificuldade em manter os prazos e a vontade do artista em ter mais liberdade criativa e escrever seus próprios roteiros. Apesar das reservas de Salicrup (e de Tom DeFalco), o nome McFarlane era a marca mais vendável da Marvel na época e isso não podia ser ignorado.
Então, a solução editorial – por pressão do Departamento de Marketing – foi dar-lhe de presente uma revista do Homem-Aranha para ele escrever e desenhar. Essa publicação teria apenas o nome do herói sem adjetivos (a primeira a fazer isso) e traria histórias sem grande influência cronológica.
Por isso, em agosto de 1990, o escalador de paredes passou a ter quatro revistas mensais: Amazing Spider-Man, com Michelinie e Larsen; Spectacular Spider-Man, com Conway e Buscema; Web of Spider-Man, com Conway e Saviuk; e Spider-Man, com Todd McFarlane.
Ainda assim, o número 01 de Spider-Man de McFarlane vendeu duas milhões de cópias, um recorde absoluto para a época. McFarlane desenvolveu a saga Tormento, evolvendo a viúva de Kraven (Calipso), que usa feitiçaria voodoo para controlar a mente do Lagarto, transformando o tradicional vilão em uma máquina sanguinária e assassina. Apesar de um texto ralo, Tormento trazia painéis bombásticos (especialidade do artista), nudez gratuita (em Calipso) e muita violência e sangue, além de estar repleta de roupas rasgadas por todos os lados. A crítica não gostou, mas foi um sucesso enorme, mostrando que os leitores da Era Sombria estavam ávidos pelo Efeito Muscular.
Mas se o primeiro arco já era violento, o segundo foi ainda mais longe, com uma história reunindo Wolverine e o Wendigo sob crimes envolvendo assassinatos e estupro de crianças. Depois, um combate com o Duende Macabro demoníaco, juntamente ao Motoqueiro Fantasma numa trama de seitas demoníacos e fieis fanáticos; uma história contra Morbius, na qual o Homem-Aranha usava o uniforme negro uma vez mais; e um novo confronto contra o Fanático em um crossover com a X-Force de outro artífice do Efeito Muscular, Rob Liedfeld.
Esse período que durou 16 edições foi bastante turbulento, com a saída do editor Jim Salicrup e o retorno de Danny Fingeroth (que ocupara o cargo entre 1984 e 86), e Fingeroth e McFarlane travando tórridos embates sobre o tom da revista, que os editores achavam ser muito violenta para um personagem geralmente tratado com mais leveza, como era o Homem-Aranha. Outros autores já tinham pesado a mão em relação ao tom sombrio, como Bill Mantlo, Peter David e J.M. DeMatteis; mas McFarlane queria exibir nudez, mutilação, sangue e vísceras. O artista também hipersexualizou a figura de Mary Jane, mostrada não apenas como uma “esposa boazuda”, mas encontrando desculpas para exibi-la seminua a todo momento.

A crítica aos roteiros supérfluos de McFarlane também não ajudaram no clima e o artista também começou a perder prazos de modo endêmico, o que levou à edição 15 de Spider-Man precisar de uma história tampa-buraco com outro artista, antes da estrela encerrar sua temporada com o personagem no número 16, de novembro de 1991. A gota d’água, ao que consta, foi a cena em que o personagem Shatterstar da X-Force usa sua espada contra o olho do Fanático na edição 16, uma cena que DeFalco e Fingeroth exigiram que fosse alterada e se tornasse menos gráfica.
Zangado com as interferências e querendo desenvolver seus próprios personagens e ganhar maiores royalties, McFarlane pediu demissão da Marvel e nunca mais voltou.
Todd McFarlane teve então a ideia genial de criar uma nova editora com os desenhistas mais famosos da Casa de Ideias: Jim Lee, Marc Silvestri, Rob Liefeld e, pouco depois, Erik Larsen. Os desertores fundaram a editora Image Comics, onde cada um administrava um selo independente e criava o que quisesse. McFarlane criou o Spawn, que se transformou em um dos maiores sucessos dos quadrinhos da época. A Image chegou a ameaçar o domínio de Marvel e DC Comics por um tempo e virou a terceira editora de maior vendagem.

Sem McFarlane, Spider-Man foi ocupada por Erik Larsen, que também passou a escrevê-la e desenhá-la, mas por pouco tempo, pois ele também foi para a Image (onde criou o Savage Dragon). Spider-Man virou, então, uma revista para artistas convidados escreverem suas próprias histórias do Aranha, como havia sido Web of Spider-Man antes dela.
Em Spectacular, Gerry Conway finalizou seu longo arco com o Lápide e Robbie Robertson, e criou uma trama em que Thomas Fireheart, o Puma, compra o Clarim Diário para reestabelecer a honra do Homem-Aranha (na edição 156), mas depois, termina vendendo-o de volta para Jameson (na edição 171). Ainda ao lado do desenhista Sal Buscema, iniciou um arco de histórias focado no Doutor Octopus, mas o deixou no meio após um desentendimento com o editor Danny Fingeroth, abandonando a revista. Após edições tapa-buraco com Michellinie e Kurt Busiek, a revista passa ao comando de J.M. DeMatteis, o escritor de A Última Caçada de Kraven.

J.M. DeMatteis e Sal Buscema abriram a nova fase com a bombástica história A criança interior, que se desenrolou entre as edições 178 e 184, de julho de 1991 a janeiro de 1992, no qual através de tramas de grande peso psicológico, teor adulto e tom sombrio faz um paralelo entre as mentes conturbadas de Ratus e de Harry Osborn. Este precisava lidar com o fardo dos crimes do Duende Verde e os sentimentos ambíguos em relação ao pai, Norman Osborn. Para piorar, desde a edição 135, ele também sabia novamente a identidade secreta de Peter. Atormentado, volta a usar o uniforme do Duende Verde e ataca o Homem-Aranha para se vingar da morte do pai. Adepto de temas polêmicos, mas tratados de maneira elegante e muito bem feita, DeMatteis revela que o principal problema de Ratus é ele ter sido abusado sexualmente pelo pai. Esta história é, sem sombras de dúvidas, uma das melhores do Homem-Aranha.
O drama de Harry Osborn continuou a ser desenvolvido pelo escritor (sempre com os desenhos de Sal Buscema) resultando na edição comemorativa de Spectacular Spider-Man 200, de 1993. Nesse número especial, com o dobro de páginas, Harry sai da cadeia e volta a atacar Peter, embora revele que não quer nenhum mal a Mary Jane. Dessa vez, Harry consegue o acesso à fórmula que deu superpoderes ao seu pai e fica mais perigoso, mas como efeito de uma superdosagem, o rapaz termina morrendo, não antes de tentar se redimir e salvar a vida de Peter, MJ e de sua esposa, Liz allen e do filho Normie.
Nas histórias seguintes, a morte de Harry traz a tona que ele era o Duende Verde para o grande público. Numa minissérie chamada O Legado do Mal, escrita por Kurt Busiek e com arte de Mark Texera, o repórter do Clarim Diário, Ben Urich, publicaria um livro chamado A Dinastia do Mal na qual revela em uma reportagem bombástica que o falecido Norman Osborn era o Duende Verde original e que seu filho seguiu seus passos até a morte.
Um Pequeno Declínio
Entre 1992 e 1994, o Homem-Aranha vive um período de declínio criativo. Curiosamente, após a saída de McFarlane, os roteiros de Michellinie começaram a perder força e depois da partida de Erik Larsen mais ainda. Talvez e provavelmente, isso se deve (pelo menos em parte) às constantes intervenções editorais (sob as ordens do Departamento de Marketing) que impunham tramas e participações.
Erik Larsen ficou um pequeno período à frente de Amazing Spider-Man substituindo McFarlane e quando o artista-sensação canadense também saiu de Spider-Man, Larsen também o substituiu por lá, no finzinho de 1991. Para assumir Amazing veio Mark Bagley, que se tornaria um dos mais expressivos e constantes artistas a representar o Homem-Aranha dali em diante.
Bagley havia vencido o concurso de novos desenhistas promovido pela Marvel em 1986 e, desde então, fizera uma série de trabalhos de menor expressão na editora, e mais recentemente, tinha sido o artista de Os Novos Guerreiros, um grupo de jovens super-heróis que fez algum sucesso na época. Ele estreou em Amazing 351, de 1991 com uma arte bonita e expressiva, que não replicava o estilo clássico, mas também não era um adendo visceral ao Efeito Muscular.

Infelizmente, as histórias em que Bagley esteve envolvido nesse período pós-1992 são lembradas como algumas das piores coisas já escritas sobre o cabeça de teia. Um primeiro destaque foi o arco entre ASM 361 e 363, de abril a junho de 1992, que introduziu o vilão Carnificina: o companheiro de cela de Eddie Brock na prisão é Cletus Kasady, um serial killer totalmente louco; mas quando o simbionte alienígena resgata Brock da prisão, deixa para trás uma “partícula” de si que se une a Kasady e forma um novo simbionte, mais letal e violento.
Dentro do gosto do Efeito Muscular, com os efeitos exagerados de Carnificina, o personagem fez bastante sucesso, o que motivou um retorno em grande estilo no mega-arco Maximum Carnage, na qual Clatus Kasady foge da prisão e alicia um grupo de vilões, como Shriek, Demogoblin (a versão demoníaca do Duende Macabro), Carniça e Dopplerganger, obrigando o Homem-Aranha a se unir a Venom, Justiceiro, Capitão América, Deathlock, Gata Negra, Manto & Adaga, Punho de Ferro, Flama, Nightwatch e Morbius. O longuíssimo arco reforçou o estratagema de fazer com que as histórias migrassem diretamente de uma revista aracnídea para outra, como já havia sido realizado em algumas ocasiões, tal qual em A Última Caçada de Kraven (neste caso, com uma única equipe criativa) e na saga Inferno.
Mas Maximum Carnage era um exagero: foi uma história em 14 partes, publicada alternadamente em Web of Spider-Man 101 a 103, Amazing Spider-Man 378 a 380, Spider-Man 35 a 37 e Spectacular Spider-Man 201 a 203; adicionando ainda a nova revista (a quinta!) Spider-Man Unlimited 01 e 02, que tinha periodicidade trimestral e abriu e fechou o evento. A história sem pé nem cabeça desagradou os leitores veteranos e mais ainda à crítica, embora a nova geração de leitores advinda do Efeito Muscular tenha adorado.
Porém, o ponto mais baixo dessa fase foi a história maluca em que os pais de Peter Parker reaparecem vivos e se inicia em ASM 365, de agosto de 1992, e que celebrava os 30 anos de publicação do Homem-Aranha e trazia uma capa especial com um efeito de holograma. Michellinie e Bagley retomam a velha história de Stan Lee e Larry Lieber, no Annual de 1967, em que Richard e Mary Parker eram espiões da CIA mortos em um acidente de avião. Mas termina “revelando” que estão vivos. Os dois reaparecem e se envolvem em grandes confusões. No fim das contas, tudo termina em Amazing Spider-Man 388, de 1994, e o Homem-Aranha descobre que tudo não passa de uma farsa levada a cabo pelo Camaleão e que seus pais são, na verdade, dois robôs assassinos (isso mesmo!). Peter também fica sabendo que o plano todo foi uma criação de Harry Osborn antes de morrer e executado pelo Camaleão.
Este arco foi o último trabalho de David Michelline à frente do título, após sete anos (1987-1994) no comando de Amazing Spider-Man. Com isso, ele detém o título de escritor mais longevo da revista depois de Stan Lee, que permaneceu de 1963 a 1972. O lugar do escritor no título foi ocupado por J.M. DeMatteis que foi “promovido” da Spectacular para Amazing, num trajeto raro, repetido apenas por Roger Stern dez anos antes. Entretanto, o escritor não conseguiu repetir o êxito anterior na revista, especialmente, por causa da intervenção editorial constante. Spectacular passou ao comando de Steven Grant, ainda com Sal Buscema nos desenhos.

Em Amazing, o único marco da fase de DeMatteis e Bagley foi a edição comemorativa número 400, em que a Tia May morre após décadas de doenças.

Em paralelo, em Web of Spider-Man, Gerry Conway encerrou sua longa contribuição com o desenhista Alex Saviuk. O artista permaneceu, mas os roteiros passaram para Howard Mackie, a partir do número 85, de 1992, um escritor que chamava a atenção na época por sua nova versão do Motoqueiro Fantasma, e deu partida a um arco que retomava a história de Richard Fisk e seu papel como o Rosa (um tema abandonado desde a guerra civil editorial do fim dos anos 1980). Porém, Mackie permaneceu pouco mais de um ano, sendo substituído por Terry Kavanagh, em 1993. Mackie se transferiu para a Spider-Man, que estava sem uma equipe fixa há vários meses. Com a chegada de Mackie, a partir do número 45 , o título foi rebatizado para Peter Parker: Spider-Man.
Enquanto isso, em Web of Spider-Man, Saviuk continou nos desenhos até 1994, totalizando mais de 80 edições, sendo um dos recordistas em trabalhos com o Homem-Aranha. Foi substituído por Steven Butler.
Foi justamente nas páginas de Web por Kavanagh e Butler que se plantaram as ideias que levaram a um dos mais importantes eventos editoriais do Homem-Aranha, a segunda Saga do Clone, que ocupou as várias revistas do personagem durante os anos de 1995 e 1996, aumentou as vendas, irritou os fãs, produziu histórias idiotas e se transformou na mais controversa (e odiada) das fases do amigão da vizinhança e obrigou a Marvel a realizar uma série de mudanças.
A Saga do Clone

Em 1995, a Marvel vivenciava um momento crucial em sua história. A fase de vendas altíssimas que havia turbinado o mercado de quadrinhos dos Estados Unidos, iniciada em 1990, sofreu um rápido declínio, que os historiadores chamam de “estouro da bolha”. Grande parte das vendas era de colecionadores que compravam mais de um exemplar da mesma edição para depois revendê-la em preços maiores no mercado informal. O mercado especulativo levou as vendas ao patamar dos milhões de unidades – algo não visto desde os anos 1940 – mas pagou seu preço, pois não era um público real. Quando a prática esgotou, as vendas caíram. E caíram muito!
Primeiro, o boom editorial motivou a venda parcial da Marvel pela sua proprietária, a New World Co., em 1993, o que levou à aquisição pela ToyBiz, uma empresa de brinquedos comandada pelo financiador Ike Perlmutter e o executivo Avi Arad. Mas a euforia passou rápido: as finanças da Marvel emitiram um alerta em 1995, que levou ao início de um processo de recuperação judicial. Uma saída para recapitalizar a empresa foi a venda generalizada dos direitos cinematográficos dos personagens da Marvel por preços módicos, o que gerou lucros imediatos e a confusão dos heróis distribuídos por vários estúdios de cinema diferentes. Foi para administrar isso que Arad fundou o Marvel Studios, em 1996, em substituição à velha Marvel Productions, que produziu uma série de desenhos animados bem-sucedidos nos anos 1980, como G.I. Joe, Transformers, Pequeno Pónei e Caverna do Dragão.
O reflexo disso tudo no campo editorial foi que, seriamente preocupada com a queda violenta das vendas, a diretoria da Marvel promoveu uma mudança radical: acabou com o cargo de Editor-Chefe e o substituiu por um colegiado de editores formado por, entre outros, o ex-editor Tom DeFalco (responsável pelas histórias do Homem-Aranha), Bob Harras (X-Men), Ralph Machio (Vingadores) e outros; todos submetidos ao Departamento de Marketing, que se responsabilizou por criar estratégias de aumentar as vendas. O resultado foi que o esquema de crossovers foi expandido à máxima potência e a liberdade criativa foi diminuída. A Saga do Clone é fruto direto dessa política e pagou por isso.
Terry Kavanagh havia criado uma trama em que envolvia consequências da velha Saga do Clone publicada em 1975 por Gerry Conway e Ross Andru (veja Parte 02). No presente, Peter Parker era acusado de um crime e preso; então, descobria que o clone de si mesmo que julgava morto (e tinha jogado dentro de uma chaminé industrial na história original. Como ele sobreviveu? Tom DeFalco sabe) estava vivo e tinha vindo ajudá-lo. O clone havia mudado para Nova York quando soube da morte da Tia May. A partir daí, a história foi “esticada” para se transformar em um grande crossover que tomaria todas as histórias do Homem-Aranha.
O clone, que passara a se chamar Ben Reilly (em homenagem ao Tio Ben e ao sobrenome de solteira da Tia May) assume a identidade de Aranha Escarlate e passa a ocupar inteiramente a revista Web of Spider-Man, escrita por Todd DeZago e desenhada por Steven Butler, que após a edição 129, de 1995, passa a se chamar Web of Scarlet Spider. A nova revista durou apenas duas edições porque um exame de DNA termina mostrando que Ben Reilly era o verdadeiro “Peter Parker” e o Peter Parker que encantou gerações de leitores nos 20 anos anteriores era, na verdade, apenas um clone. O resultado enfureceu os fãs, especialmente os da velha guarda.
Com isso, J.M. DeMatteis saiu de Amazing e foi substituído por Tom DeFalco, de volta à revista após dez anos, assumindo a partir da edição 407, de janeiro de 1996. Nas histórias, Mary Jane descobre que está grávida e Peter aproveita isso e o fato de que é “apenas um clone” para se afastar de Nova York e viver uma vida mais tranquila, enquanto Ben Reilly pinta os cabelos de loiro (um disfarce tão eficaz quanto o de Clark Kent) para ninguém pensar que ele é Peter Parker e se torna (volta a ser?) o Homem-Aranha, usando um uniforme ligeiramente diferente, criado por Dan Jurgens.
Jurgens tinha sido o principal escritor e desenhista da famosa saga A Morte do Superman, na rival DC, era um dos grandes nomes dos quadrinhos de então e foi convidado pela Marvel para assumir uma nova revista inteiramente para si: The Sensasional Spider-Man, que substituía Web of Spider-Man (Scarlet Spider). O artista escrevia e desenhava a revista, mas permaneceu apenas por sete edições, entre os números zero e 06, de 1996, porque o plano original era de que, após o primeiro arco, Peter Parker seria revelado como o verdadeiro Homem-Aranha e Ben Reilly, o clone, mas o Departamento de Marketing gostou das vendas e mandou se “esticar” a história e adiar a revelação final. Sem concordar com isso, Jurgens deixou o título.
Seu lugar foi ocupado por Todd DeZago e Mike Wieringo, que permaneceriam na revista até seu cancelamento, em 1998. DeZago também escrevia Spectacular Spider-Man, ainda desenhada por Sal Buscema, que permaneceu no título até aquele momento em 1996. O desenhista completou, com isso, um recorde histórico de mais de 100 edições (não consecutivas) numa mesma revista (contando entre 1976 e 1996). Seu lugar foi ocupado pelo desenhista brasileiro Luke Ross, que apesar de inicialmente imitar a arte de Todd McFarlane, logo, encontrou seu próprio traço e fez um bom trabalho.
Outro desenhista recordista, Mark Bagley, também se afastou das revistas em 1996, após cinco anos e meio. Foi substituído por pouco tempo pelo ótimo Ron Garney, mas foi Steve Skroce quem se firmou em Amazing Spider-Man, embora o desenhista brasileiro Joe Bennett também tenha feito alguns números.
O que irrita os fãs em relação à Saga do Clone é que tudo foi exagerado no longo arco. Os clones surgiram de todos os lados: além de Peter e Ben Reilly, foi revelado que o vilão Kaine também era um clone do Homem-Aranha; o responsável original pelos clones, o prof. Miles Warren, o vilão Chacal, também foi clonado e, por isso, ainda estava vivo, e também tinha um segundo clone, o Carniça (vilão da fase Bill Mantlo, Al Migrom e Frank Miller lá na distante Spectacular do fim dos anos 1970). O Mestre dos Robôs, o prof. Mendell Stromm – isso mesmo, aquele que criou a fórmula que deu poderes a Norman Osborn – também estava vivo, agora usando uma armadura e, pretensamente, também era um clone. O Dr. Octopus morreu e voltou dos mortos, talvez, também clonado!
Assim como a identidade secreta do Duende Macabro anos antes, a Saga do Clone se tornou uma coisa embaraçosa que precisava ser consertada rapidamente. Além disso, é preciso dizer que a crise nos quadrinhos era tão grande que a poderosa Marvel pediu concordata (uma antecipação de falência) em 1997! Em vias de quebrar, o grupo da ToyBiz (Ike Perlmutter e Avi Arad) tomou o controle da maioria das ações e se tornaram donos majoritários da empresa e convenceram a Justiça dos EUA que poderiam recuperar o grupo e não fechá-lo ou vendê-lo.
O anúncio da produção de filmes de grande orçamento capitaneado pelo Marvel Studios junto a 20th Century Fox (X-Men) e a Columbia Pictures (Homem-Aranha) também foram capazes de atrair investidores e o Marvel Entertainment Group começou lentamente a se recuperar.
As mudanças vieram também no campo editorial: em 1996, acabou-se o colegiado de editores e Bob Harras foi nomeado novo Editor-Chefe para coordenar a “volta por cima” da editora. O investimento foi simples: histórias melhores.
Então, ao fim de 1996, começou-se a articular-se o fim da Saga do Clone e para isso se articularam algumas mudanças. Criou-se o arco Revelações, que foi publicado seguidamente em Spectacular Spider-Man 240 por Todd DezZago e Luke Ross; Sensational Spider-Man 11 por DeZago e Mike Wieringo; Amazing Spider-Man 418 por Tom DeFalco e Steve Skroce; e termina bombasticamente em Peter Parker: Spider-Man 76 por Howard Mackie e John Romita Jr., mais uma vez de volta às histórias do Homem-Aranha, dessa vez após nove anos.
Na trama, Mary Jane e Peter voltam a Nova York para terem seu bebê, que é uma menina e se chamará May em homenagem à tia falecida; enquanto Ben Reilly seria o padrinho. Mas Ben e Peter se envolvem em uma briga com o Mestre dos Robôs, enquanto ficamos sabendo que há uma “mente criminosa” por trás de todas as desventuras da dupla nos últimos tempos. Peter não está no hospital quando Mary Jane tem o bebê, que é sequestrado por uma enfermeira e entregue a Kaine. Ben Reilly enfrenta um inimigo que se revela ser Norman Osborn, o Duende Verde original (pai de Harry e assassino de Gwen Stacy), a mente por trás de tudo.
Osborn mata Ben Reilly e Peter é forçado a usar o uniforme do Homem-Aranha mais uma vez, para derrotar o seu velho inimigo. Ao mesmo tempo, Osborn sequestrou todo o elenco de coadjuvantes do Homem-Aranha (J.J. Jameson, Robbie Roberton, Ben Urich, Betty Brant, Flash Thompson, Liz Allen etc.) e os prendeu numa sala do Clarim Diário. No processo, Peter descobre que Ben Reilly era o clone e ele o verdadeiro Homem-Aranha. O Duende Verde e o herói têm uma luta violenta – magnificamente desenhada por John Romita Jr. – e o vilão desaparece ao final.
Para explicar a volta de Norman Osborn dos mortos, ficou estabelecido que o Duende Verde tinha um novo poder: fator de cura. Com isso, ele não morreu empalado em Amazing Spider-Man 122, de 1973 (veja Parte 02), acordando no necrotério, colocando um mendigo no seu lugar no caixão (e ninguém notou?); mudando-se para Europa e se tornando uma grande mente criminosa dedicada a atrapalhar a vida de Peter Parker das sombras. O motivo de sua volta após cinco anos (o tempo cronológico, pois editorial foram 23 anos!) foi a morte de seu filho Harry, que o teria levado a criar toda a confusão dos clones.
Uma Fase de Transição
Embora a tática do “volta dos mortos” tenha sido algo banalizado nos quadrinhos desde o fim da Saga do Clone, embora trazer Norman Osborn de volta talvez não tenha sido a melhor das soluções, ela serviu para seu objetivo imediato: melhorar as histórias do Homem-Aranha. Inicia-se uma fase de transição que lida com as consequências da Saga da Clone, ou mais objetivamente, da volta de Osborn. Na verdade, os escritores e editores decidiram fazer o mínimo possível de referências àquela saga e algumas tramas ficaram inconclusas e nunca foram retomadas, como é o caso da filha de Peter e Mary Jane, May, que não ficou esclarecido se foi morta ou raptada, mas foi gentilmente “apagada” da cronologia.

As revistas continuaram mais ou menos com as mesmas equipes de Revelações, mas focadas no fato de que Norman Osborn estava vivo e sabia a identidade de Peter. O que isso significava? Nas histórias dessa fase, Norman Osborn reaparece para as autoridades e é preso, acusado de ser o Duende Verde, mas o vilão consegue convencer todo mundo de que, na verdade, havia sido vítima de uma “conspiração” armada pelo Homem-Aranha e pelo “verdadeiro” Duende Verde. Como era inocente, o empresário havia fingindo sua morte anos atrás para fugir. Enquanto o processo anda na Justiça, em liberdade, Osborn ameaça de morte o velho amigo J. Jonah Jameson (bem como sua família) e compra o Clarim Diário, o que aterroriza seus funcionários, que sabem muito bem quem ele é. E também lança um livro de sucesso com sua versão da história, rebatendo aquilo que Ben Urich havia revelado em A Dinastia do Mal.
A Verdadeira Identidade do Duende Macabro
Em meio a essa fase um evento histórico e curioso ocorreu em termos editorais quanto ao Homem-Aranha. O escritor Roger Stern, que tinha estado na DC escrevendo as histórias do Superman, voltou à Marvel e conseguiu convencer o Editor-Chefe Bob Harras a contar a sua versão da identidade secreta do Duende Macabro. Apesar de fazer 11 anos (!) que a identidade tinha sido revelada como sendo o falecido repórter Ned Leeds, Harras concordou em publicar uma nova versão e, ainda, incluí-la dentro da cronologia padrão do universo do teioso.

Infelizmente, 11 anos era tempo demais e ninguém se importou muito com a “bombástica revelação”. Ainda assim, a minissérie em três capítulos Hobgoblin Lives é uma boa história trazendo, além de Stern nos roteiros, desenhos de George Perez e Ron Frenz. A trama tentou partir de uma constatação muito óbvia: como um vilão poderoso como o Duende Macabro, que saiu no braço com o Homem-Aranha, foi morto tão facilmente pelos agentes comuns do Estrangeiro, conforme Peter David, Alan Kupperberg e Tom Morgan mostraram em Amazing Spider-Man 289? A pergunta é feita por Mary Jane a Peter e o rapaz, após uma reflexão rápida, responde: “não podia”!
O motivo disso vir à tona também foi interessante: Stern mostrava Jason Macendale, o Segundo Duende Macabro (já curado de sua versão demoníaca, mas agora numa versão cibernética), vai a julgamento e é condenado pelos crimes do Macabro original – afinal quase ninguém sabia que haviam tido dois. Após a condenação, o repórter Jacob Conover – personagem da fase de Stern que não aparecia desde então – pergunta a Macendale se era verdade que ele não era o Macabro original. Para surpresa de todos, Macendale responde que é verdade e que tinha matado o primeiro Duende Macabro e que ele era Ned Leeds, o marido de Betty Brant, que agora também era repórter do Clarim e que estava presente junto a Peter Parker cobrindo o julgamento. A revelação pública de que Ned Leeds era o Duende Macabro causa uma grande confusão, porque o repórter era famoso e sua morte tinha sido misteriosa. O Homem-Aranha se une a Betty Brant para fazer uma investigação sobre o caso, que envolve também Mary Jane e Flash Thompson (ex-caso de Betty quando ela ainda era casada com Leeds, lembram?).
Ao mesmo tempo, se revela uma grande trama conspiratória envolvendo a compra de um leilão de ações da Indústrias Osborn, que estão meio à deriva desde a morte de Harry Osborn e cuidadas pela viúva Liz Allen. Entre os envolvidos na trama estão velhos personagens criados na época das histórias originais de Stern, como o executivo da Osborn, Donald Mecken; o empresário da Rochem George Vandergill; o corrupto Senador Martin; e Roderick Kingsley, que teve envolvimento com o Duende Macabro e, em Web of Spider-Man 29 e 30, escrita por Jim Owsley, foi revelado como o produtor das armas do vilão.
Jason Macendale é morto na prisão pelo Duende Macabro original e o Homem-Aranha termina descobrindo que o vilão original é, na verdade, Roderick Kingsley e que aquele que “contracenava” com o vilão era seu irmão gêmeo Daniel Kingsley. Embora o clichê do “irmão gêmeo malvado” seja algo incômodo, de um modo geral, a versão de Stern para a história do Duende Macabro faz muito mais sentido do que Ned Leeds.

Os impactos da revelação nas histórias do Homem-Aranha foram bem pequenos, mas renderam pelo menos uma das melhores histórias do herói naqueles tempos: Globingate, publicada em Spectacular Spider-Man 259 a 261, em 1998, escrita por Roger Stern e Glenn Greenberg e desenhada por Luke Ross, que mostra o primeiro (e único) encontro de Norman Osborn e Roderick Kingsley, ou seja, o Duende Verde e o Duende Macabro, em suas versões originais. Osborn liberta Kingsley porque este teria provas de que ele seria o Duende Verde e isso arruinaria sua farsa, mas Kingsley havia perdido os diários de Osborn lá atrás em Amazing Spider-Man 251, de 1984. Assim, após uma briga, que envolveu o Homem-Aranha no meio, é claro, Kingsley foge do país e vai se refugiar no Caribe, ficando sem aparecer por um longo tempo.
Este arco também introduziu um novo Duende Verde, que é chamado de “jovem” por Osborn. Seria Harry?
Um Leve Reboot

Embora as histórias tenham melhorado desde o fim da Saga do Clone, as vendas ainda não tinham atingido os patamares que a Marvel desejava, então, foi planejado um reboot do Homem-Aranha, uma espécie de reinício. Isso envolvia criar uma saga chamada The Final Chapter que encerraria parte da história do personagem e abriria espaço para uma “nova”. O principal intuito era zerar a numeração de todas as revistas do Aranha para tentar atrair novos leitores. Isso resultou no fim de duas revistas do herói: The Spectacular Spider-Man foi cancelada em seu número 263, em fins de 1998, após 22 anos de publicação; bem como The Sensasional Spider-Man em seu número 33.

Em Amazing e Peter Parker: Spider-Man se delineou o arco Capítulo Final, escrito por Howard Mackie e com desenhos de John Romita Jr. (de volta outra vez) e John Byrne, respectivamente. Byrne tinha sido uma das maiores estrelas dos quadrinhos dos anos 1980 (leia um post sobre a carreira dele aqui), mas apesar de ter realizado uma temporada em Marvel Team-Up (junto ao escritor Chris Claremont) nos anos 1970 e feito várias capas para Amazing ou desenhado histórias ocasionais nela e em Spectacular Spider-Man ao longo dos anos, nunca tinha trabalhado com o Homem-Aranha de maneira contínua dentro de seus títulos tradicionais. Foi muito bom ver o velho Byrne e sua bela arte trabalhando o cotidiano do escalador de paredes.
Em Capítulo Final, Norman Osborn arma um plano para se livrar de Peter Parker de vez. No meio do conflito, o Homem-Aranha fica sabendo que sua Tia May está viva e que tinha sido mantida em cativeiro por Osborn durante esse tempo todo. Quem morrera em Amazing Spider-Man 400 havia sido uma atriz (!) que substituiu a idosa gentil – reminescências das ideias bizarras da Saga do Clone? Um processo místico deixa Osborn totalmente maluco e um confronto selvagem entre o Aranha e o Duende resulta na destruição do prédio do Clarim Diário, da quase morte do herói e da prisão de Osborn.
Ao mesmo tempo, é publicada uma maxissérie em 12 capítulos chamada oportunamente Chapter One, na qual John Byrne (escrevendo e desenhando) reconta as 20 primeiras edições de Amazing Spider-Man, originalmente produzidas por Stan Lee e Steve Ditko, mas agora repaginadas para os tempos modernos. No geral, a obra de Byrne é bastante fiel ao material original (talvez até demais), mas inclui Norman Osborn como um agente das sombras manipulando a vida do Homem-Aranha sem ele saber. O arco é rejeitado pelos fãs por causa de algumas ideias estranhas, como o fato da existência de um parentesco entre Osborn e o Homem-Areia (simplesmente porque os dois têm o mesmo corte cabelo, pois ambos foram criados por Ditko); um novo visual para Elektro; e o fato de que o acidente com a aranha radioativa que deu origem aos poderes de Peter passa a ser o mesmo acidente que transforma o Dr. Octopus em um louco.

Em janeiro de 1999, as duas revistas restantes do Aranha são zeradas e Amazing e Peter Parker: Spider-Man voltam ao número 01, começando uma nova fase, nas mãos de Mackie, Romita Jr. e Byrne. A Amazing original é encerrada no número 441. No início da nova fase, vemos Peter tendo abandonado a identidade de Homem-Aranha, por quase ter morrido no conflito com o Duende Verde; trabalhando num laboratório de ciências e vivendo em um novo apartamento com Mary Jane e a Tia May (de penteado novo). Mas um novo Homem-Aranha está nas ruas combatendo o crime. Peter vai atrás e descobre que o novo herói é na verdade uma mulher, que se torna uma nova Mulher-Aranha, e Peter termina voltando à sua velha identidade.
Essa nova fase durou 29 edições de Amazing, com algumas boas histórias, mas alguns eventos estranhos. Primeiramente, o Homem-Areia se tornou um criminoso de novo (após mais de uma década “do lado do bem”, tendo inclusive atuado como um membro reserva dos Vingadores); depois, o novo visual do Elektro foi incorporado às histórias temporariamente; o novo Duende Verde foi revelado como um ser artificial, criado por meio de engenharia genética (!?); e Mary Jane foi aparentemente morta em um acidente de avião.
Na época, na Marvel, começava a circular a sensação incômoda do fato do Homem-Aranha ser um homem casado e a maneira como isso, de algum modo, atrapalharia as histórias. Por isso, Howard Mackie afastou Mary Jane da maneira que pôde. Ninguém acreditou que a modelo ruiva havia mesmo morrido, mas quando o Homem-Aranha a encontra após meses desaparecida, ela estranhamente decide se separar de Peter, como vemos em Amazing Spider-Man Annual 2001, que encerra a fase de Mackie.
Um Grande Reboot
Durante o comando de Bob Harras como Editor-Chefe da Marvel, entre 1997 e 2000, foi criado o selo Marvel Knights, dedicado a histórias de cunho mais adulto e sério. A coordenação do selo coube ao desenhista Joe Quesada e a empreitada foi um sucesso, devolvendo uma áurea cult a muitos personagens, como o Demolidor escrito por Kevin Smith (e desenhado por Quesada) ou o Justiceiro de Garth Ennis e Steve Dilllon. A sensação foi tanta que Quesada emergiu como o nome natural para se tornar o novo Editor-Chefe da editora, numa gestão que duraria 10 anos até 2010.
Uma das grandes atenções de Quesada foi quanto ao Homem-Aranha. O editor era do time que pensava que o casamento só atrapalhou suas histórias e durante anos falou publicamente que, se pudesse, removeria esse evento da cronologia do personagem, algo que realmente faria. Para isso, engendrou uma grande mudança no status quo do escalador de paredes, o que envolveu uma completa mudança de direcionamento.
Assim, em 2001, o escritor J. M. Straczynski – vindo da TV onde criou Babylon 5 – assumiu a revista Amazing Spider-Man (vol. 2) a partir do número 30 com a missão de causar grandes mudanças. E neste quesito, ele não decepcionou. Trabalhando inicialmente ao lado do desenhista John Romita Jr., o autor criou, logo de imediato, uma trama em que uma espécie de vampiro energético chamado Morlun caça impiedosamente o Homem-Aranha. Ao longo da ação, Peter Parker desvenda uma série de segredos acerca de sua origem, como o fato de que a picada da aranha radioativa foi apenas o agente de um processo místico antiquíssimo que faz com que exista uma linhagem de homens-aranha desde os primórdios do tempo. A aranha seria uma espécie de totem místico e sua missão seria combater outros totens místicos, o que explicaria o fato da maioria de seus inimigos estar relacionado ao nome de animais, porque eles também seriam agentes totêmicos, mesmo sem saber, como Abutre, Dr. Octopus (polvo), Rhino etc. Entendeu? É, eu também não.
O Homem-Aranha encontra outro “homem-aranha totêmico” na figura de Ezekiel e descobre que a única maneira de deter Morlun é sua própria morte, porque ele existe para o equilíbrio. O herói injeta em si um veneno radioativo e deixa-se ser pego por Morlun que, aparentemente, morre ao “sugá-lo”. (Ele voltaria depois). Muito debilitado, Peter volta para casa e tenta descansar. Enquanto dorme, sua Tia May entra no apartamento e vê o sobrinho todo quebrado, ensanguentado e dormindo com a roupa do Homem-Aranha em frangalhos. Isso mesmo: Tia May descobre sua identidade secreta.
Segue-se uma edição inteira em que Peter e May têm uma longa conversa e a tia critica severamente o sobrinho por nunca ter contado o segredo. Ele defende-se dizendo que queria protegê-la e poupá-la, mas a velha senhora informa ser mais forte do que o sobrinho pensava. A partir de então, May se torna uma das maiores defensoras do aracnídeo. Uma curiosidade: em uma passagem humorística, May diz que chegou a pensar que o sobrinho fosse gay, porque era visível que havia um “segredo” dentro do “armário”. É, a Tia May é uma mulher moderna mesmo!
Outra grande mudança de status quo: Peter assume seu lado “ciências” e vai trabalhar com professor na mesma escola onde estudou, a Middletown High School, a mesma onde Stan Lee e Steve Ditko situaram suas primeiras histórias, mas agora, uma típica escola de periferia, com paredes grafitadas, gangues juvenis, drogas, violência, bullying e minorias étnicas.
Mas isso foi apenas o começo de um turbilhão de mudanças impostas pela dupla Quesada e Straczynski. Mais a seguir.
Ao mesmo tempo, quando a Marvel reformulou os Vingadores, na virada de 2004 para 2005, o escritor Brian Michael Bendis criou os Novos Vingadores, uma equipe que reunia membros tradicionais da equipe, como Capitão América e Homem de Ferro, juntos com outros que nunca foram membros oficiais, como Homem-Aranha, Wolverine, Luke Cage e a Mulher-Aranha original. A revista New Avengers se tornou rapidamente o maior sucesso da Marvel, desenhada por David Finch.
Por volta dessa época, a revista Amazing Spider-Man teve sua numeração revertida para o sistema antigo, de modo que o número 58 equivalia ao 499. Assim, em dezembro de 2003, a Marvel comemorou o lançamento de Amazing Spider-Man 500, com várias capas, a mais famosa por Scott Campbell (o herói com MJ nos braços cercado por seus inimigos clássicos). A história em si, envolvia uma viagem temporal na qual Peter podia ver o seu início como o Homem-Aranha e o seu fim, também, quando já velho é assassinado pela polícia.
No final, o herói ganha de presente do Dr. Estranho um encontro espiritual com o Tio Ben por cinco minutos. Os desenhos foram de John Romita Jr. O “filho do mestre” encerrou mais essa passagem pela revista e foi substituído pelo desenhista brasileiro Mike Deodato Jr. como o titular da revista Amazing, na época um dos artistas mais quentes da Marvel.
Infelizmente, trabalhando ao lado de Straczynski, nunca o Homem-Aranha viveu uma fase tão polêmica! Entre as mudanças, uma das mais chocantes foi a revisão da personalidade da falecida Gwen Stacy, a mais querida “namoradinha” do personagem. Numa história revisionista, chamada Pecados do Passado, por Straczynki e Deodato Jr., publicada em Amazing Spider-Man 509 a 514, Peter Parker fica sabendo que, ainda no início de seu relacionamento, a garota teria sido seduzida por Norman Osborn, transado com ele, engravidado e dado a luz a um casal de gêmeos, Gabriel e Sarah, e foi a descoberta disso que teria motivado ela se mudar para Londres (o que aconteceu entre ASM 94 e 98, lá atrás em 1971), onde tinha parentes e lá teria dado à luz secretamente. Seu tio Arthur Stacy teria ficado com as crianças e Gwen voltou aos EUA para reencontrar Peter. Mary Jane sabia do fato e teria escondido isso do marido desde então. Mas, no presente, as “crianças” já eram adultas, porque os superpoderes de Osborn as afetaram com crescimento acelerado e outras habilidades especiais.
Assim, a dupla ataca o Homem-Aranha. Sarah se redime, mas Gabriel se torna o Duende Cinza. E, segundo uma piada corrente entre os fãs, Gwen Stacy se tornou “a maior vadia dos quadrinhos”. Straczynski justificou-se afirmando estar criando um motivo para que o Duende Verde matasse Gwen na clássica história de 1973. Nem é preciso dizer que esse arco de histórias revoltou os leitores veteranos.
Num outro arco de histórias, Straczynski decidiu incorporar os elementos dos filmes do Homem-Aranha que faziam sucesso nos cinemas, fazendo Peter renascer de uma aranha gigante (isso mesmo!) e passar a ter alguns novos poderes, dentre eles, a habilidade de gerar a sua própria teia, sem necessitar mais dos lançadores mecânicos que usava desde o início da carreira.
Em outra decisão polêmica da Marvel, durante o arco de histórias Guerra Civil, uma minissérie dos Vingadores, Peter Parker anuncia ao mundo inteiro que é o Homem-Aranha, ou seja, tem sua identidade secreta revelada.
Em Guerra Civil, escrita por Mark Millar (de O Procurado e Kick-Ass) e desenhada por Steve McNiven, os heróis de terceira categoria Novos Guerreiros terminam causando sem querer uma explosão que mata 600 pessoas, a maioria crianças. Daí, o Secretário de Defesa dos EUA, Tony Stark (o Homem de Ferro) em pessoa, é obrigado a defender o projeto de Ato de Registro de Superhumanos, na qual os superseres são obrigados a se inscrever, revelar nomes e endereços ao Governo e serem treinados em suas habilidades. Parte da comunidade superhumana apoia, mas outra facção, liderada pelo Capitão América, entende isso como uma afronta aos direitos civis e vai contra. Os “a favor” são obrigados a perseguir os “contra”, porque estes se tornam foras da lei.

Peter Parker fica do lado de Tony Stark e apoia o registro. Ele revela sua identidade, mas é tão perseguido que passa a usar uma armadura produzida pelo inventor. Porém, durante os conflitos, o Aranha começa a se questionar das decisões éticas de Stark e seu grupo, que envolvem criar uma prisão em outra dimensão (cortesia de Reed Richards, do Quarteto Fantástico) ou tentar clonar Thor (cortesia de Hank Pym, dos Vingadores), e por fim, termina mudando de lado e se juntando ao Capitão América, Wolverine e outros.
Como resultado, além de virar um foragido da Lei e todos saberem seu segredo, Peter vê o Rei do Crime contratar um atirador de elite para matar a Tia May e a velhinha é atingida, ficando à beira da morte. Peter fica de luto e volta a usar o uniforme negro, enquanto caça os responsáveis pela situação de sua tia, mas como ela está à beira da morte, não tem mais salvação.
Entra em jogo a cartada final de Quesada e Straczynski: aproveitam a situação para criar uma desculpa para apagar o casamento de Peter e Mary Jane da cronologia do personagem. Vem então Um Dia a Mais ou One More Day, uma trama maluca em que Mefisto (a versão do Diabo no Universo Marvel. Lembram dele?) oferece a Peter a oportunidade de salvar sua tia e, de brinde, salvar sua identidade secreta. Mas como em todos os contratos com o demônio há um preço: o amor por Mary Jane. O casal conversa e chega à conclusão que isso é o melhor a fazer, então, Mefisto usa seu poder para realizar o que prometeu. Isso ocorre principalmente em Amazing Spider-Man 544 e 545, de novembro e dezembro de 2007, escritas por Straczynksi e desenhadas por Quesada.
Curiosamente, Um Dia a Mais também representou o fim da longa fase de Straczynski à frente do Homem-Aranha após mais de seis anos e foi da pior maneira possível. Além da polêmica trama, que irritou mais ainda os leitores antigos, o escritor ainda iniciou uma briga pública com o Editor-Chefe Joe Quesada, acusando-o de modificar o final de sua história. Chamuscado na Marvel, Straczynski ainda desenvolveu um arco de 12 partes com a volta de Thor (fase que inspirou o filme), mas saiu da editora depois disso e foi para DC fazer Superman e Mulher-Maravilha.
A Marvel aproveitou o reboot do Homem-Aranha – ou seja o fim de seu casamento e o apagamento cronológico da identidade pública – para promover uma completa mudança no universo ficional do cabeça de teia, num arco de histórias chamado Brand New Day ou Um Novo Dia, que começou em Amazinng Spider-Man 546. Agora, Peter Parker era novamente solteiro e vivia divindindo um apartamento em Nova York com um amigo policial chamado Vin Gonzales. Mary Jane estava “sumida do mapa”. Nem May, nem Norman Osborn, nem ninguém mais sabe que ele é o Homem-Aranha. E não pára por aí: Harry Osborn está novamente vivo.
Não fica claro até que ponto Peter sabe das mudanças, mas fica evidente que ele percebe que algumas coisas mudaram, particularmente no que se refere à sua identidade secreta. Mas a dúvida permanece quanto ao fato dele saber se já tinha sido casado com Mary Jane.
As dúvidas sobre isso perseguiram os leitores por muito tempo, mas o que ficou claro é que Quesada e seus artistas também não tinham muita certeza do que valia do passado ou não. Afinal, os eventos foram transformados (a realidade alterada) ou as pessoas apenas esqueceram dela? Somente após alguns anos, Quesada finalmente deu uma resposta definitiva ao o quê Mefisto alterou: todos os eventos transcorridos desde 1987 realmente aconteceram, à única exceção da cerimônia de casamento entre Peter e MJ. Assim, o casal foi morar junto tal qual nas histórias de 1988, mas apenas como namorados amancebados. Tudo isso só torna o reboot mais cretino.

Várias mudanças menores também ocorrem: J.J. Jameson perde o controle do Clarim Diário para um empresário inescrupuloso, que muda seu nome para CD. A maior parte do staff do jornal – à exceção de Betty Brant – se demite e funda um novo periódico chamado Linha de Frente comandado por Ben Urich, para o qual Peter também passa a trabalhar. Harry vive como um adicto em recuperação e administra o Grão de Café, o velho café que ele, Peter, Gwen e MJ frequentavam nas histórias dos anos 1960. E também vive à sombra do pai, já que Norman Osborn emerge como um dos homens mais poderosos dos EUA após a Guerra Civil, já que passa a comandar os Thunderbolts, um projeto do Governo que usa criminosos condenados em missões suicidas. A nova revista Thunderbolts, por Warren Ellis e o desenhista brasileiro Mike Deodato Jr. é um dos maiores sucessos da Marvel na época.
E Norman Osborn se torna ainda mais poderoso em seguida, quando os alienígenas Skrulls invadem a Terra na saga Invasão Secreta, dos Vingadores, por Brian Michael Bendis e Leinil Francis Yu, e Stark é considerado culpado pelo incidente ou pelo planeta não estar bem preparado para defender-se. Assim, Stark cai, a SHIELD é extinta e substituída pelo MARTELO que é comandado justamente por Osborn, que se torna a maior autoridade do país depois do presidente. E, claro, o vilão usa seu poder para se vingar sistematicamente do Homem-Aranha e de seus outros inimigos, como os Novos Vingadores, ainda fugitivos da Lei.

De volta às histórias do Homem-Aranha, as revistas The Sensasional Spider-Man e Friendly Neighborhood Spider-Man foram canceladas, nas edições 41 e 24, respectivamente, e Amazing Spider-Man se tornou o único título a trazer histórias solo do Homem-Aranha dentro de sua continuidade regular, virando, então, uma revista com três edições mensais.
Para dar conta do recado, um verdadeiro time de escritores e desenhistas passou ao comando da revista, se alternando em arcos seguidos: a equipe de roteiristas é formada por Dan Slott, Bob Gale, Marc Guggenheim, Fred Van Lente e Zeb Wells. Já os desenhistas eram Chris Bachalo, Phil Jimenez, Mike McKone, John Romita Jr. e Marcos Martin. Algum tempo depois, outros escritores passaram a fazer algumas contribuições, como o veterano escritor Roger Stern (de volta outra vez) e o desenhista Barry Kitson, famoso por seu trabalho na DC nos anos 1990. A maior periodicidade logo disparou a numeração da revista, que chegou à edição 600 em 2009.
Quanto ao conteúdo, muito embora os leitores – especialmente os mais antigos – tenham reclamado das mudanças e da maneira como foram realizadas, todos concordam que a qualidade da revista melhorou muito, com histórias mais concisas, autocentradas e resgatando o velho humor do personagem, tão caro à fase de Stan Lee no passado. Novos inimigos, novos coadjuvantes e novas situações – Osborn no poder – também foram campo fértil para boas histórias e Dan Slott & Cia. O resultado foi claro: de imediato após a mudança, Amazing voltou a ser a revista de maior sucesso da Marvel, competindo mês a mês com New Avengers, também estrelada pelo amigão da vizinhança.
Há dois arcos de destaque nesse período que são realmente histórias muito boas. O primeiro é Novas formas de morrer, publicado entre Amazing Spider–Man 568 e 573, escrito por Dan Slott e desenhado por John Romita Jr. É o primeiro confronto entre o Homem-Aranha e Norman Osborn e os seus Thunderbolts (que incluem o novo Venom [o ex-Escorpião] e o Mercenário, arquiinimigo do Demolidor), bem como as consequências disso para a vida particular de Peter Parker, especialmente para Harry Osborn.
O outro é o arco chamado Assassinato de um personagem, publicado em Amazing Spider-Man 584 a 587, escrito por Marc Guggenheim e também desenhado por John Romita Jr., em que o Homem-Aranha combate o novo vilão Ameaça até descobrir a identidade secreta do criminoso. O mistério em torno da identidade do Ameaça (que vinha se arrastando desde o início de Um Novo Dia) e o fato dele usar os equipamentos do Duende Verde prestam uma óbvia homenagem às histórias originais do Duende Macabro escritas por Roger Stern nos anos 1980. Porém, o arco passa longe da paródia e traz uma daquelas histórias simples, mas eficazes. O fato de trazer o mesmo desenhista da homenageada, John Romita Jr., ajuda a dar crédito.
Por fim, há uma terceira história muito boa dessa fase: aquela em que o Homem-Aranha se une aos Novos Vingadores para dar um golpe final em Norman Osborn e expor o líder do MARTELO como um criminoso antiético, que foi publicada na série de especiais chamada Norman Osborn: A Lista, com cada edição dedicada a um personagem diferente, como membros dos Novos Vingadores (Ronin), X-Men (Namor e Ciclope) e o Justiceiro. O capítulo do Aranha foi escrito por Dan Slott e desenhado por Adam Kubert.
Em janeiro de 2011, a partir de Amazing Spider-Man 648, a revista passou a ser publicada “apenas” duas vezes ao mês, mantendo Dan Slott como o escritor fixo. O autor vem fazendo vários arcos, como Big Times, desenhado pelo mexicano Humberto Ramos, que traz um novo Duende Macabro na figura de Phil Urich, sobrinho de Ben Urich, que passa a agir como mercenário para o Rei do Crime. Nesse arco, o Homem-Aranha usa vários uniformes diferentes, de cores reluzentes.
Depois, ocorre a saga Spider Island, onde todos os habitantes de Manhattan ganham poderes idênticos aos do Homem-Aranha.
Enquanto isso, na sala ao lado…
Este post foi sobre a cronologia oficial do Homem-Aranha, mas não podíamos deixar de pelo menos citar que, desde 2000, há uma versão paralela do herói no Universo Ultimate da Marvel. Este universo foi criado para contar histórias mais modernas dos velhos personagens, sem o peso da cronologia. Rendeu alguns bons momentos, como The Ultimates o arco de histórias dos Vingadores, com uma versão mais durona, cínica e realista da equipe e que é a principal influência para o filme que virá em 2012.
A estreia do Universo Ultimate se deu justamente com o Homem-Aranha, por meio do escritor Brian Michael Bendis (na época, um novato na Marvel) e o veterano desenhista do personagem Mark Bagley. Primeiramente, a dupla transformou as oito páginas do conto de Stan Lee e Steve Ditko sobre a origem do personagem em um arco de oito capítulos e 180 páginas, criando um novo universo com um Peter Parker mais jovem, no colegial, trabalhando como web designer (e não fotógrafo), já tendo as teias embutidas em seu corpo (e não artificiais), sendo vizinho de Mary Jane Watson desde a infância e tendo o acidente com a aranha (não mais radioativa, mas) modificada geneticamente na Oscorp, ou seja, por meio de experimentos comandados por Norman Osborn. Além disso, May e Ben Parker estão mais modernos, inclusive com ele tendo morado em um acampamento hippie na juventude (!) e usando rabo de cavalo (!).
Mas a essência do personagem era a mesma e Bendis e Bagley realmente contaram boas histórias, apesar de algumas decisões estranhas, como transformar o Duende Verde em um monstro no estilo do Hulk. A revista fez bastante sucesso em seus primeiros anos, mas depois decaiu. Ainda assim, Bendis e Bagley bateram o recorde de 100 edições ininterruptas à frente de The Ultimate Spider-Man. Isso deve servir para tornar Bagley o mais longevo desenhista do personagem em todos os tempos, pois soma-se aos mais de seis anos em que desenhou Amazing Spider-Man nos anos 1990.
Para recuperar os bons tempos, Bendis, que prossegue escrevendo as histórias há 11 anos, causou uma grande reformulação após o arco Ultimatum que resultou na morte de Peter Parker e sua substituição por Miles Morales, que é afrodescendente e latino. Esse evento chegou até ser divulgado na imprensa mundial com destaque.
Veja aqui a Parte 01 deste Dossiê.
E aqui a Parte 02.












































Cara, parabéns por mais esse capítulo, em especial por ter conseguido narrar c/ coerência essa fase tão conturbada editorialmente do aracnídeo nos anos 90 e começo dos 00, mas confesso que p/ mim segue tudo muito confuso nesse samba da aranha doida que se tornou a narrativa do personagem. Na verdade li muito pouco o Aranha após o #150 aprox (me dou conta que li apenas as estórias do Parker verdadeiro, segundo a primeira parte da Guerra dos Clones, certo? Estranhamente isso me dá algum conforto 🙂 Lembro de ter gostado da fase Michelinie/McFarlane e ter curtido o casamento do Peter&MJ, mas só… tentei seguir a Guerra dos Clones uma época mas foi muito penoso, e ali a Marvel perdeu um fã do personagem. Nem cheguei perto da fase do Straczynski por conta do que lia na imprensa especializada, o affair Osborn/Stacy p/ mim é igual à fase Teen Tony do Homem de Ferro: assunto proibido aqui em casa! hehe. E comprei Brand New Day no original na esperança de uma boa grande mudança, mas apesar da bela arte a estória é tão “Deus Ex” que desisti de novo. Vou tentar esse reboot do Aranha Ultimate, parece promissor e quem saiba eu volte a ser um Spider-Fan como antigamente… obrigado pelas excelentes matérias, Irapuan, um verdadeiro compêndio do Aranha que mereceria uma publicação analógica no bom e velho papel!
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Olá, Jorge, obrigado mesmo pelos elogios.
De fato, o reboot do Homem-Aranha pós-Brand New Day é muito confuso e a verdade é que nem os escritores nem Joe Quesada sabem realmente o que vale e o que não vale.
Mas afora isso, se puder abstrair o contexto, os dois arcos citados na matéria são bem interessantes: Novas Formas de Morrer e Assassinato de um Personagem, ambos publicados na revista da Panini entre os números 92-94 e 97-99, respectivamente. Isoladamente, sem arroubos de cronologia, servem como boas histórias do personagem.
Quanto à fase de Straczynski, apesar dos pesares, a história com Morlun e a subsequente revelação para a Tia May também funcionam. Procure-a naquela bela coleção Desafios que a Panini publicou, no volume 06 O Segredo de Peter Parker. O longo diálogo de Peter e May é ótimo! Straczynski (assim como Bendis) é ótimo em diálogo, o problema é que ele tem ideias muito estranhas e a abordagem do Homem-Aranha que escolheu é totalmente aversa àquela que nós, leitores antigos, preferimos. Mas dá para ler esta história específica numa boa.
Um grande abraço!
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rapaz,beleza de encerramento.
durante muito tempo o Aranha foi meu heroi favorito,hoje tenho autores preferidos e o Aranha meio que caiu em desgraça.
pra mim a partir de 1990 quase nada do Aranha vale a pena ser lido,tirando alguma coisa de DeMatteis e Kurt busiek o resto foi tudo perda de tempo.Tinha muita esperança com o joe -sopa-de-letrinhas mas o cara conseguiu acabar com o mito de forma vergonhosa.
fazer o que,né?
quem sabe alguém ainda volte a escrever estórias decentes do Aranha algum dia,só espero estar vivo até lá.
parabéns pelo artigo,um único senão:deu uma saudade dos anos de 1980.
abraços
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Valeu pelas dicas, Irapuan, vou procurar ler esses arcos que vc recomendou e quem sabe o Aranha volte a me enredar na sua teia, hehe… []s!
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Muito bom mesmo,agora compreendi muito mais sobre a História do spider-man.
Mais o que você acha desse novo homem-aranha para o universo Ultimate em que o Peter Parker e morto em Irapuan Peixoto?
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Olá, Jonathan, obrigado pelo elogio!
Quanto ao novo Homem-Aranha Ultimate, eu acho interessante que os quadrinhos ampliem sua cota étnica inclusive em grandes personagens – não só nos secundários – mas, honestamente, eu sempre achei o Universo Ultimate uma redundância. Embora as histórias sejam boas – e The Ultimates é uma das melhores coisas feitas na década passada – acho que se a Marvel quer melhorar suas histórias, então, invista em seu próprio universo. Se for preciso diminuir o peso da cronologia para contar boas histórias, que assim seja.
Mas ainda é cedo. Vamos ver como serão as histórias de Miles Morales…
É uma pena matar Peter Parker para isso (mesmo o Peter Parker Ultimate), mas não dá para levar a morte a sério nos quadrinhos – nem no Ultimate – e aculpa disso é só deles mesmos.
Um grande abraço!
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Prezado Irapuan. Entrei aqui por acaso impressionado com os seus comentários sobre o novo filme do Batman e com o seu conhecimento sobre o personagem e, de quebra, acabei de descobrir que além de doutor em sociologia vocês é doutor em Homem-Aranha. Esse artigo em três partes é sensacional e deveria ser traduzido para o inglês e ser publicado pela Marvel em alguma Graphic Novel. Nem no site Spiderfan (para o qual vocês deveria se tornar colaborador) eu aprendi tanto e olha que aquele site é foda.
Apenas aponto uma correção: a lua de mel entre Peter e MJ não ocorreu após a Última Caçada de Kraven, mas localiza-se imediatamente antes dela em Spectacular Spider-Man Annual 1987. O interessante é que essa coisa do adiantamento do casamento e relativa independência da saga do Kraven, fez com que a Abril modificasse alguns detalhes da tradução e mostrasse a MJ e o Peter morando juntos como namorados e não como marido e mulher, como efetivamente ocorreu, um casal que se tornou “avançadinho” para a época, hehe. Mas ainda assim, em tradução e qualidade de impressão, principalmente nesse último aspecto, a série da abril supera e muito a da Panini, a meu ver, mesmo com papel inferior.
Sobre o Reebot, eu realmente gostei muito de algumas histórias, mas concordo com os fãs que chama essa nova fase de “Refurbished New Day”: conceitos reciclados, recordatórios nos antigos moldes do Stan Lee e a velha falta de criatividade que Alan Moore diz que vai acabar com os quadrinhos de Super-Heróis.
Para quem, como eu, nasceu no início dos anos 80 e teve o prazer de ler toda essa fase do Duende Macabro e ainda de quebra pegar toda a fase de Gwen e da MJ na Teia do Aranha publicada pela Abril, sabe que a história de amor entre os personagens Peter e MJ (que por sinal é o nome da minha mãe) é das mais bonitas e duradoras das histórias em quadrinhos e não pode simplesmente ser apagada com uma desculpa muito da furrequinha por causa da antipatia de Joe Quesada pela situação. E o mais interessante é que, diferente dos filmes de Raimi, quem sempre lutou pela atenção do Peter e sempre trouxe um amor secreto contido pelo amigo, inclusive saindo de NY por não conseguir conviver com seu segredo super-heroico, foi a MJ e não o contrário, o que a torna ainda mais carismática, pois ela sempre esteve lá do lado dele.
Desde a época que Gwen habitava o pedaço sempre torci pela MJ. Acho completamente desnecessário reciclar um personagem agora nos filmes, que desde 73 já se foi.
Mas já me alonguei demais. Parabéns pelo trabalho, grande abraço!
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Olá, Marco Antonio,
Muito obrigado mesmo pelos elogios. E valeu pela correção, vou reescrever assim que voltar de viagem, motivo pelo qual não tenho atualizado nos últimos dias.
Concordo com a sua opinião: acho que a DC precisa ter muito cuidado nesse reboot e não me parece que os caras refletem o suficiente sobre o momento crucial que estão vivendo. Mas só nos resta torcer para que acertem a mão e atraiam leitores novos.
Um grande abraço e volte sempre!
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Irapuan comecei a ver as historias do Spider-Man de novo,ultimamente tenho procurado a amazing + ñ tenho conseguido achar,enquanto isso eu baixei os episódios dele de 1994,pena q essa serie foi curta de mais
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Oi, Jonathan! A série animada de 1994 teve quatro temporadas, se não me engano, e foi a mais longa que o Homem-Aranha teve.Eu não gosto muito dela porque exagera nos elementos “anos 90” do herói. E também porque insistia em ter aquela versão Lagarto Duas Caras que era totalmente fora de propósito.
E também nunca perdoei terem colocado o Duende Macabro como pioneiro e o Duende Verde como “imitador”. Isso é muito injusto. Sem contar que o Duende Macabro era o Jason Philip Macendale…
Mas a série teve seus bons momentos, especialmente em investir bastante espaço no Rei do Crime e em desenvolver longamente a história do Norman Osborn.
Acho a série de 2004 a melhor. Mesmo com o estilo Ben10, ainda assim foi melhor sucedida em adaptar os personagens dos anos 1960 para os dias de hoje e em adaptar as tramas clássicas com estilo.
Um abração!
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vlw,me ajudou bastante,dps q eu acabar de ver essa de 94 vou ver essa de 2004
UM abração para vc também.
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Queria saber oque aconteceu com a MJ nessa serie pq depois que ela some ela reaparece + na verdade ñ era ela e sim um clone isso me deixou muito com fuso vc conseguiria me explicar oq aconteceu e onde ela foi parar?
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Jonathan, você está falando da revista ou do desenho animado?
Nas revistas, a MJ desapareceu em um acidente de avião e passou um tempão sumida.E quando voltou ainda quis se separar do Peter. Precisou de outro tempo para eles se reaproximarem.
Nos quadrinhos, quem foi clonada foi a Gwen Stacy. Ela morreu nas mãos do Duende Verde, mas o vilão Chacal era apaixonado por ela, então, a clonou. O clone chegou até a reencontrar Peter – que já tava namorando a MJ – e depois sumiu de vista para nunca mais aparecer. O Peter também foi clonado e isso deu a maior confusão, como você pôde ver no post.
Um abração!
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E eu percebi,na verdade era nessa história de 94,mais vlw assim mesmo,estou procurando as HQ do AMAZING mais só tenho conseguido achar Espetacular Homen – Aranha e a ultimate,mesmo assim abrigado,quando tiver mais duvidas eu volto!!
abração
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Na verdade o clone da Gwen não desapareceu. Gerry Conway trouxe-o de volta na saga do alto revolucionário, em Peter Parker The Spectacular Spider-Man annual 1988. Na verdade ele havia voltado algumas histórias antes, no arco em que o Robbie é ferido pelo Lápide, mas a conclusão da saga só acontece nessa edição anual. Aqui descobrimos que o clone da Gwen na verdade não era um clone, era uma moça com características semelhantes a da loira, que o Chacal manipulou com um “vírus genético” (putz) e transformou em Gwen Stacy. Após uma longa batalha, a Daydreamer, retira o vírus genético do clone e a moça vítima do Chacal retorna a sua identidade. Daí o Peter volta pra casa e diz que gosta da MJ mesmo. Essa bagaça toda foi publicada aqui em Superalmanaque Marvel 7, pra quem quiser conferir.
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Putz, o Gerry Conway fez isso?! Considero o Conway um roteirista excepcional, basta o arco da morte da Gwen para merecer figurar no panteão dos gigantes das HQs. O arco original do clone é uma boa estória, especialmente a primeira metade onde o suspense e o choque pelo reaparecimento da Gwen são construídos, e o final é digno e autocontido. Se foi ele que abriu essa caixa de Pandora clônica tempos depois, merece ter algumas medalhas arrancadas do peito. Mas permanece no panteão, apesar disso…
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Opa, dei uma mancada, Alto-Evolucionário
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Marco, um alto-revolucionário seria bem divertido, tipo fidel de capa e sunga…:)
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huashuashusa, é verdade. Cara, eu sinceramente não gosto do Gerry Conway. A morte da Gwen é realmente uma baita história, mas não foi idéia dele. Eu considero aliás, aquela fase do Ross Andru, com a tia May casando com Octopus de tentáculos uma das piores coisas já feitas com o Aranha. Pra mim, o Aranha bom vai até a morte da Gwen e depois só melhora como série regular com a saga do Duende Macabro.
Tem duas histórias do Conway que eu curto muito: uma é o ASM 143, onde o Peter e a MJ dão o primeiro beijo e ela explica porque sempre o chama de “Tiger”. Outras duas histórias dele que valem a pena conferir: Parallel Lives e a história What If vol. 01, 24, com a mesma equipe da morte da Gwen: O que teria acontecido se Peter tivesse resgatado Gwen Stacy. Não sei se foram publicadas aqui. Talvez na Mile High Comics pra se achar. Mas são muito boas.
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Puxa, vc não gostou então do Spider-buggy ou coisa parecida, um grande sucesso até parar no fundo do rio? hehe… ASM 143 tem esse ótimo momento mesmo, qdo uma hq atinge algo que talvez só o cinema mesmo seja capaz… vou atrás dessa What If que vc falou que nunca havia lido, obrigado pela dica!
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Apenas pra finalizar: tem muita coisa curiosa do Aranha que eu nunca imaginei que existisse, mas existe. Algum de vocês já ouviu falar de Cissy Ironwood? Eu descobri que foi uma namorado do Aranha numa das Marvel Team Up, que infelizmente ainda não consegui ler.
Mas mais maluco que isso é conferir o ASM Annual 23, em que podemos conferir o Mark Bagley (sim, o do Ultimate) redesenhando toda a primeira história do Aranha, Amazing fantasy 15, quadrinho por quadrinho, incluindo diálogos, só substituindo os painéis de narração por uma narrativa em primeira pessoa do projeto de ciências do Peter, com a conclusão de que com grandes poderes… mas a história é a mesmíssima. Esse vale muito a pena conferir.
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Olá, rapazes! Posso me intrometer um pouco na conversa? 🙂
É verdade, Marco Antônio, me lembro dessa história do clone da Gwen publicado no Brasil em Superalmanaque Marvel 07, que ainda tenho guardado aqui na minha coleção. Mas, salvo engano, essa história foi “desautorizada” pela Saga do Clone dos anos 1990.
Aparentemente, o Gerry Conway escreveu essa história com o Alto-Evolucionário para encerrar de vez a história dos clones. Mas a Marvel fez foi retomar tudo, algum tempo depois.
Na Saga do Clone de Tom DeFalco, Todd DeZaggo e Howard Mackie o Peter ganhou clones de verdade e não outras pessoas infectadas por um vírus transgenético.
Se o Chacal não pôde clonar Gwen, como teria feito com Peter?
Mas no fim das contas tudo isso é inútil, pois a Saga do Clone é ruim demais e não deve nem ser relembrada…
Um abração a vocês!
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Irapuan, ela chegou a aparecer na saga do clone na época? Eu não cheguei a ler esse negócio completo, só próximo do final. Lembro que eu tava há muiiiiiito tempo sem ler o aranha, peguei um exemplar do meu primo e pensei: poxa, detonaram meu herói favorito. Aliás, essa própria inconsistência fica evidente já na história do Conway pq o Evolucionário diz que um professor de ciências não poderia ter criado um clone sozinho, mas não fala patavinas sobre como ficava a situação do Peter. Dá a impressão de que a história (também desenhada pelo Mark Bagley) foi feita meio: tá vamos terminar essa m… de uma vez.
Ahhh, eu gostaria de saber se sou eu que sou chato mesmo ou se as outras pessoas também notam isso: você percebeu que nessas histórias clássicas do Aranha as únicas que foram publicadas sem páginas e diálogos limados foram as da Ebal e as excelentes publicadas pela PANINI? A Teia do Aranha, mesmo quando era formatão e tinha muito espaço para isso, excluía as vezes três balões de diálogos inteiros dos quadrinhos. E isso no formatinho se intensificou. Os recordatórios do STAN sumiam e os diálogos eram super reduzidos. Eu acho que essas simplificações nos diálogos e extirpações de páginas prejudicam a integridade da obra. O que a Block fazia então, nem é digno de comentário.
Mas parece que infelizmente a Panini não quer saber de seguir com o Biblioteca Histórica Marvel, disparado a melhor publicação de Aranha já feita por aqui. O jeito é gastar os tubos na Marvel Masterworks ou no novo calhamaço OMNIBUS, de 1088 páginas cada, que tão lançando por lá.
Abraços meu velho!
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Marco,
Eu também não li absolutamente tudo da Saga do Clone porque… bem, acho que você entende porquê. Mas falando de memória, não me lembro do clone da Gwen Stacy aparecer, não.
Parece a estratégia típica da Marvel da época: quando uma história causava muita controvérsia cronológica – como era o caso daquele anual do Gerry Conway, o clone da Gwen e o Alto-Evolucionário – a editora simplesmente “se esquecia dela” e evitava reminiscências.
O mesmo aconteceu com o engodo da revelação da “identidade secreta” do Duende Macabro em ASM 289.
Além do mais, temos que lembrar que a história do Gerry Conway em questão era apenas um tipo de “tapa buraco” ou “vamos surfar na onda” de uma saga bem maior que foi A Guerra do Alto-Evolucionário, cuja única importância foi fazer uma história (isolada até legal) do Hulk Cinza “Sr. Tira-Teima” agindo ao lado dos Vingadores, com desenhos – salvo engano de memória, vou ter que consultar meus arquivos – por Mark D. Bright.
Quanto aos cortes, você está certo. As editoras brasileiras sempre primaram pelos cortes e a Panini é uma das poucas que tem absoluto respeito pela obra original, pelo menos em termos de mantê-la íntegra. E o caso é ainda mais grave, pois o Gonçalo Júnior diz em seu livro “A Guerra dos Gibis” que muitas vezes os tradutores das revistas não sabiam inglês! Então, tinham que inventar uma história a partir das imagens. Ou tinham apenas uma direção do editor que sabia inglês e preenchiam o resto como podiam!!!!
Por isso, neste ponto, o mercado nacional melhorou muito.
É uma pena que um material tão bacana, como A Teia do Aranha, tenha sofrido tanto. Eu mesmo já tive gratas surpresas ao ler algumas histórias na versão Panini e compará-las com as versões Abril e pensar: “meu deus! Isso não existia antes! Agora, tudo faz sentido!”.
Ah, mas tem uma outra versão das histórias antigas do Homem-Aranha que acho que também mantém o texto original (ou a sua maior parte): é uma edição paupérrima em papel jornal e preto e branco lançada como “brinde” com os vídeos do desenho animado dos anos 1990 em fita VHS! Foram 16 volumes, eu acho, e tem toda a fase Lee-Ditko e a maior parte de Lee-Romita.
Eu adoro a Biblioteca Histórica Marvel, mas ela é muito cara e, num mercado como o brasileiro, é impraticável em médio e longo prazo. Acho que se a Panini desse continuidade em um acabamento mais simples, como o da série Os Maiores Clássicos de… seria possível publicar tudo até a morte da Gwen pelo menos. Mas por algum motivo, eles não fazem isso.
Seriam precisos um 10 volumes ou mais, mas acho que valeria a pena.
Um abração!
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Oi, gente.
Tudo bem?
Em primeiro lugar, parabéns pelo blog. Excelente trabalho.
Sobre o comentário do Marco Antônio, a história com Cissy Ironwood saiu no Brasil, quando o Aranha era publicado pela RGE (atual Editora Globo). Se não me falha a memória, saiu em algum SuperAlmanaque do Aranha, onde o cabeça de teia duplava com o Hulk enfrentando a Guarda Invernal (super-time da então União Soviética, formado pelo Dínamo Escarlate, Estrela Negra e Vanguard), que havia raptado a moça. Acho que a história não teve mais desdobramentos.
Quanto a Saga do Clone (anos 90), eu fui um dos masoquistas que acompanhou tudo, ainda imbuído de uma fé inabalável de que aquilo era realidade alternativa. O clone da Gwen reaparece na história de modo ridículo. Ela é encontrada morando numa cidade do interior dos EUA, levando uma pacata vidinha e casada com (agora que é de lascar)… um clone do Professor Warren!!!!
Mas o que esperar de Terry Kavanagh? Foi o mesmo delinquente que inventou a baboseira de tornar Tony Stark um vilão e trazer a versão mais jovem do personagem de uma realidade alternativa na “saga” Avengers – The Crossing. Outa pérola da década de 90.
Mas numa humilde opinião, a pior fase do Aranha foi nas mãos do Straczynski mesmo. Perto de “Pecados do Passado”, “O Outro” e demais besteiras “totêmicas”, a Saga do Clone é uma obra-prima”.
Grande abraço e continue com o ótimo trabalho.
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Valeu mesmo pelas respostas, Mauro!
Não sei quem é mais coitada, a Cissy Ironwood ou o clone da Gwen.
Essa de casar com o clone do prof. Warren é de lascar mesmo…
E quanto a The Crossing… essa palavra é proibida de pronunciar aqui em casa. rsrsrsrs.
Argh! Isso me causa arrepios…
Um abração!
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Clone e Crossing são obras do mesmo Terry ‘Agh!’ Kavanagh?Agora tá tudo explicado, realmente faz todo sentido. E concordo Mauro, perto do que fez o Straczynski uma década depois, to quase deixando o sujeito sair do inferno e descansar um pouco no purgatório… mas só um pouco…
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Eu já não gostava do trabalho do Straczynski na época do He-Man, quando eu era criança.
Pior que não contente em transformar o amigão da vizinhança em corno ele foi meter suas mãozinhas felizes no Super-Homem. E adivinhem! Saiu a pérola Terra 1, que consegue superar a história “Clark Kent Assassino” (publicada pela Ebal em 69), em ruindade.
Fora que ele tem aqueles “insights” de quem aprendeu alguma bobagem sobre tecnologia e se acha gênio escrevendo sobre elas: é só lembrar aquele episódio de Sins Past (ASM 510) em que o Lammont diz: “você tem um cérebro de 128k num mundo de 64 megabyte”. E o outro interlocutor, apontando na história como burro, acredita que isso é um elogio. Nossa, que sacada genial! Deviam contratar ele pra Nasa!
Depois lendo a história do Morlun é que podemos ver o quão “culto” é esse escritor, quando somos apresentados ao “incrível” monólogo de Ezekiel, que, ao mostrar a Peter o quartel general que construiu para protegê-lo, nos diz: “for the same amount of money, I could’ve bought a small Latin American Country”. Essa foram suas palavras. Na tradução brasileira usaram “país do terceiro mundo”, para não nos ofender tanto. Ta aí o cara que descobre coisas como Bits e Bytes, mostrando seus conhecimentos sobre o globo.
Eu ultimamente tenho uma meta: adquirir todos os volumes da Marvel Masterworks. Acho que o teioso já deu o que tinha que dar e pra mim é maravilhoso poder ver todas as histórias da época do Stan em formato luxuoso. Estou tentando ver aqui com a importadora, porque pelo jeito que a Panini anda regulando os encadernados a coisa tá difícil!
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Pois, é, Jorge. A diferença é que Terry Kavanagh escreveu uma história ruim (no caso do Homem-Aranha), enquanto Straczynski se dedicou a destruir conceitos. Conceitos que “fizeram” o Homem-Aranha.
Mas acho que o pior mesmo é o Joe Quesada, que deixou aquilo ser publicado. Que um escritor (ou qualquer outra pessoa) tenha uma ideia idiota é totalmente aceitável, mas um editor-chefe permitir que essa ideia seja publicada como cânone principal do personagem… aí…
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Pois pensei tb nisso, Irapuan… a gente nunca lembra dos editores mas boa parte do destino do arco/fase cabe a eles. Ai ao ler seu comentário resolvi deixar a preguiça de lado e fui pesquisar: The Crossing foi editado por Nel Yomtov de quem eu gostava pois editou toda a fase Kaminski/Hopgoog, então para mim foi uma decepção que ele tenha pisado tanto na bola mas para vc já deve ter sido bem menos inesperado, hehe… e o editor da Saga do Clone, era o Tom deFalco? Eles não reescreveram algo recentemente, tipo ‘a Saga como deveria ter sido’? Alguém leu esse material?
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Oi, gente!
Tudo bem?
Jorge, eu também li “A Saga do Clone” pelo deFalco, que reduziu a história para seis edições e (opinião estritamente pessoal) conseguiu melhorá-la, sem estender demais nem envolver tantos personagens. Segundo entrevista do próprio, foi “a história como deveria ter saído na época”. Mesmo assim, não me convenceu. Parece um roteiro feito nos dias atuais, eliminando quase tudo de ruim que houve no original. Saiu numa Teia do Aranha da Panini no ano passado. Se tiver dinheiro sobrando e por razões puramente movidas por curiosidade, vale ler. Se não, deixa quieto. Obviamente, já tem em scans por aí.
Mas o que mais me desagradou na saga original além de sua extensão, foi o desfecho ridículo de trazer Norman Osborn de volta e o modo como foi feito. Se era pra voltar com um Duende Verde manipulador, acho que o ideal seria o antigo psquiatra do Harry, Bart Hamilton. Na época de sua criação (final dos 70), achei uma solução excelente. O Aranha teria um novo arqui-inimigo ciente de seus segredos e capaz de infernizar sua vida psicologicamente. O legado seria passado da família Osborn e cairia em “mãos capazes”, liberando Harry para ser aproveitado em outras sub-tramas. E o personagem seria perfeito para finalizar a saga do Clone, visto que o plano contra Peter seria fruto de paciência e engenhosidade. Não sei o que acham, mas Norman Osborn (pelo menos como era escrito nos primórdios) nunca foi do tipo paciente. Ele tinha um colapso, lembrava que era o Duende, montava no planador e já saía jogando abóbora pra cima do Aranha sem pensar muito. Queria resolver no braço. A inserção dele no final da Saga do Clone, além de ser forçadíssima, a meu ver, foi uma tentativa da Marvel de ter um “Lex Luthor” em seu universo. No mínimo, deve ter sido idéia do Kavanagh também, hehehe!
Bom, já me estendi demais.
Obrigado e abraço a todos.
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Olá, Mauro e Jorge! Eu li a versão do Tom DeFalco da Saga do Clone e, apesar do problema de origem da saga, ele realmente melhorou o resultado final. Mas é como o Mauro diz: é o olhar de hoje sobre a história e não como ela foi pensada. Hoje já se sabe o que funcionou o que não funcionou e se dá destaque a essas coisas.
Também concordo que a Marvel queria ter um Lex Luthor para chamar de seu, além de morrer de arrempedimento por ter matado Norman Osborn tão cedo, sem aproveitá-lo como personagem.
Verdade seja dita: Stan Lee nunca soube usá-lo. O Duende Verde antigo era muito interessante, tentando reunir o crime organizado sob o seu controle (algo que o Rei do Crime faria mais tarde), mas quando se revelou que o vilão era o Norman Osborn, a rixa com o Homem-Aranha ficou pessoal. E Lee não sabia como conduzir um vilão que sabia a identidade secreta do herói, então, criou aquele vai e vem de lembra-esquece que foi muito ruim para Osborn como personagem.
E é uma pena a Marvel querer usar Osborn como Luthor – embora as histórias de Brian Michael Bendis nesse sentido sejam boas – quando a Marvel já tinha Luthor. Lembrem-se que a versão John Byrne (e Marv Wolfman, o editor da coisa toda) de Lex Luthor nada mais era do que o velho Rei do Crime, criado pelo mesmo Stan Lee.
Então, a Marvel podia ter usado Wilson Fisk para ser o seu Lex Luthor e não trazer Norman Osborn de volta da morte 23 anos depois do fato.
Algumas histórias escritas com Osborn nos últimos anos são muito boas (o que NÃO é o caso do Straczynski, é claro), mas temos que admitir que esse Norman Osborn é um NOVO PERSONAGEM e não aquele velho vilão do Homem-Aranha que só foi escrito por Stan Lee e Gerry Conway e nada mais (aliás, podemos incluir Steve Ditko e John Romita, que contribuíam efetivamente com os textos e as histórias).
Mas a versão DeFalco-Stern-Straczynski-Bendis-Ellis-etc. de Norman Osborn é um novo personagem. Pode até funcionar, mas para quê vinculá-lo ao velho?
Um abraço, pessoal!
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Só pra manter vivo esse post, que eu adoro! Achei outra raridade do Aranha, mas acho que essa só garimpando na Net: Marvel team-up 128: uma capa tosquérrima do Homem aranha e do Capitão América meio atores meio desenhos, mas no recheio temos a famosa história referida na Última Caçada de Kraven, em que o Rattus é derrotado pelo Homem-Aranha com ajuda do Capitão América. A história é escrita pelo próprio Dematteis.
Pra quem quiser conferir a malfadada aventura pode procurar o Almanaque do Capitão América n° 75, publicado pela Abril em 1985, onde de quebra, ainda temos uma historinha do Indiana Jones!
A da Cissy parece que não foi publicada aqui, a primeira menção a ela foi feita no Marvel Team Up 79, publicada aqui no Marvel Especial 06, Homem Aranha, com desenhos do Byrne, mas a tradução omitiu o seu nome da história!
Abraços!
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Marco Antonio,
Tudo bem?
Só pra ajudar e mantendo o post “vivo”: a história com a Cissy saiu no Brasil sim, pela RGE em 1981 – SuperAlmanaque do Aranha número 3, com o título de “Morte no Canyon da Catedral”. Como escrevi antes, ela é raptada pelos Super-Soldados Soviéticos (e não Guarda Invernal, confundi os times). Na época, a RGE publicava pelo menos 4 títulos do Aranha (Homem-Aranha, Super-Heróis Marvel – que apresentava histórias da Marvel Team-Up, Almanaque do Aranha e SuperAlmanaque do Aranha. Originalmente saiu no Marvel Team-Up Annual 2. Roteiro de Claremont e desenhos do Sal Buscema.
Ela volta a ser mencionada no SuperAlmaque do Aranha 7, já em 82, também RGE. Talvez o Marvel Especial que vc citou tenha sido republicação e com mudanças de texto que a Abril adorava fazer, especialmente cortando alusões a personagens secundários.
Opinião pessoal: a RGE fazia uma salada com cronologia e traduções, mas os gibis eram umas pérolas. Apresentavam um gama enorme de personagens que no período pré-internet, era nossa única chance de conhecer. Saudades boas. E para a molecada da época, ter um gibi com 132 páginas e capinha cartonada, era o mais próximo que tínhamos de “album de luxo”. Claro que as edições especiais da EBAL (Super-Homem versus Homem-Aranha – tamanho gigante) eram um caso à parte.
Espero ter ajudado e abraço a todos.
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Puxa, Mauro, são ótimas informações!
Valeu mesmo!
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Parabéns pelo conteúdo!
E hoje em 2012, nas revista do peter, o que é que está acontecendo? Você sabe me dizer?
Peter e MJ estão juntos?
Ele ainda é o homem-aranha?
A cronologia oficial é tão cheia de retalhos, idas e vindas… acho que sou mais um fã que parou de ler depois da saga do clone com o aranha escarlate. Hj, eu fico puto porque por exemplo, vejo nos jogos do aranha eles explorarem muito a questão de dimensões, eventos cósmicos e de toda a realidade, metafisicas e etc… quando a gente, pelo menos eu, acho que a idéia original do cabeça de teia era em cima dos dramas pessoais, como com qual garota ficar? ter o cuidado pra não faltar a faculdade, o emprego.. e etc…
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Oi, Amadeu, tudo bem?
Sim, Peter Parker ainda é o Homem-Aranha, mas suas histórias não estão tão boas ultimamente. Como eu disse no post, alguns arcos após One More Day foram realmente bons, mas depois houve um desgaste e algumas escolhas equivocadas, como a saga Spider Island.
Peter não é mais o Homem-Aranha no Universo Ultimate, pois foi morto em uma batalha e substituído por um novo herói.
Inclusive, na cronologia padrão, houve até um encontro entre os dois Aranhas.
Um abração!
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caraaaaa esse site e muito bom
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Obrigado, Cadu.
Seja bem-vindo!
Um abraço!
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Essa retrospectiva é sensacional. NUnca encontrei algo tão detalhado sobre a histórias editorial do Aranha na internet (pelo menos não em português).
Meus parabéns!!!!
Tenho 32 anos e enquanto lia, eu ia relembrando nostalgicamente de todas as fases do Aranha que acompanhei durante mais de 20 anos (leio desde os 5 anos). Comecei bem na fase em que Aranha e Gata Negra começavam seu namoro enfrentando OCtopus e Coruja. Até hoje sou inconformado com a separação do casal na história onde o Aranha enfrenta o Rei do Crime no braço enquanto a Gata descobre que os poderes dela são uma maldição para o Peter.
Nenhum outro escritor voltou a tocar nesse assunto, pois a Gata estava deixando o Peter por temer que os poderes dela matassem ele. Daí o Rei revela ao Aranha que deu os poderes da Gata e por conta disso o herói decide injustamente acabar com o relacionamento.
Pobre Felícia…
Daí, depois de décadas resolvem juntar o casal de novo. E o que acontece? Mudam completamente a personalidade da Felícia fazendo ela ser uma cabeça de vento. Anos e anos de cronologia jogados fora.
Gostaria de saber quais as razões editoriais para acabar com o namoro dos dois na época, pois com a sua matéria finalmente entendi o lance Gata Negra e Estrangeiro, algo que nunca me desceu.
Outra coisa: O arco com Mystério e Cabelo de Prata é uma das melhores histórias do Aranha. Incrívelmente bem escrito por Dan Sllot (que também tem péssimas idéias para o personagem).
A história com a morte de Marla e suas consequencias é muito boa.
A pequena história entre Betty e Peter escrita pelo Mark Waid é uma verdadeira pérola.
O retorno do Kraven foi até bem feito (apesar da ridícula filha dele).
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Olá, Christhian,
Obrigado pelos elogios. Que bom que gostou da matéria.
Quanto à Gata Negra, a única explicação para o que aconteceu em relação ao seu envolvimento com o Estrangeiro é editorial: Felícia Hardy precisva sair de cena para que Peter se casasse com Mary Jane. Então, David Michelline reaproveitou o plot do Estrangeiro, já usado por Peter David pouco tempo antes, para fazer isso. O fim do relacionamento tinha que ser algo duro, para que Peter se voltasse totalmente para MJ.
O curioso dessa história é que Peter DAvid não era uma pessoa bem vista nos corredores da Marvel daquela época. E ele escrevia Spectacular Spider-Man, a revista que era coprotagonizada pela Gata Negra. Tanto que quando David escreveu Amazing Spider-Man 289 para desvendar o segredo do Duende Macabro, quem é a figura de destaque é a Gata Negra e não MJ.
Mas o casamento veio logo em seguida. E também houve uma puxada de tapete para que David saísse das revistas do Aranha, pouco tempo depois.
Nenhum outro escritor viu utilidade na Gata Negra sem poder envolvê-la com o Homem-Aranha, então, ela só voltou muito tempo depois.
Um grande abraço!
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Interessante… Nas edições nacionais o casal veio a se separar na edição 80 da editora abril. Já o casamento só ocorreu na edição 100, quase dois anos depois. Sei que a cronologia da editora abril era uma bagunça na época, mas eu jamais pensei que as histórias da edição 80 ocorriam na mesma época das histórias próximas da edição 100.
Isso explica muita coisa. Depois vou rever minha coleção de quadrinhos me atentando as datas.
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Olá! Sua matéria ficou excelente!
Tem pouco tempo que eu leio as historias do personagem, mas o suficiente pra me tornar fã das histórias, principalmente as mais antigas. Ainda não tive a oportunidade de ler tudo mas a gente sabe que certas coisas mudaram nas hqs e minha duvida é a seguinte: Com o reboot a história em que Norman descobre a identidade do Homem Aranha na clássica ASM#39 não foi apagada ne? Tipo, o duende descobriu a identidade do Peter, mas se esqueceu, o Peter tem consciência de que o duende ja soube sua identidade?
Parabéns pela matéria e abraço!
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Oi, Vinícus, obrigado mesmo pelos elogios. Que bom que está lendo as histórias do Homem-Aranha, pois vai encontrar coisas muito legais.
O reboot de Brand New Day não apagou as histórias do passado, apenas fez todo mundo esquecer delas. Ou seja, Norman Osborn realmente descobriu a identidade secreta de Peter em ASM 39, mas como todo mundo, esqueceu.
Quanto à percepção de Peter, vou ter que ser sincero: não lembro bem. Não sou mesmo fã de Brand New Day e li a fase já há algum tempo, então, não recordo direito. Mas acho que sim: Peter sabe que Norman já soube sua identidade e a esqueceu. Acho que é isso.
Peter sabe que houve uma mudança cronológica em sua vida, embora não saiba precisamente como. E o casamento com Mary Jane foi esquecido, embora os dois tenham tido um relacionamento sério e terminaram em meio a um grande problema.
Um grande abraço!
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pra mim o homem aranha faz sucesso porque os roteiristas sempre exploram o lado dinamico do cabeça de teia deixando as historias repletas de acao.. ah e uq voce achou do homem aranha de pele negra???abracos
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Olá, Iago. É importante ter diversidade étnica dentro das HQs e a estratégia de criação do Miles Morales é interessante. Contudo, mais do que ser uma cópia do Homem-Aranha, seria mais interessante ainda a Marvel criar novos heróis multiétnicos que ganhem destaque e espaço próprio sem serem versões de outros já existentes, como a nova Miss Marvel ou mesmo aquele novo Lanterna Verde, da DC Comics.
Um abraço!
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Parabéns pela matéria, verdadeira aula sobre o Aranha. 🙂
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Obrigado, Giovanni. Que legal que gostou. Se quiser mais dossiês desse tipo é só ir na Categoria Dossiês de Personagens e verá vários, alguns menores e outros tão grandes quanto. Um abração!
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