A história do rock mostra que nem sempre ser o número 1 é o melhor. Embora chegar ao topo das paradas possa render fama e fortuna imediata, tal condição nem sempre é longeva, ao contrário do que pode ser a influência de um artista sobre aqueles que vieram depois. O legado é algo que fica. E o rock dos anos 1960 criou um mercado tão grande que foi permitido que existisse todo um movimento de rock para além do Top 10 que gerou grupos que, apesar de desconhecidos ou ignorados pelo grande público, terminaram por deixar uma marca duradoura na história da música e nos artistas que os seguiram.

Chris Hillman, David Crosby, Michael Clarke, Jim McGuinn e Gene Clark: The Byrds.

Este definitivamente é o caso de The Byrds.

Se você não é um grande fã do rock clássico talvez nunca tenha ouvido falar deles. Mas veja, esta é a banda responsável por criar um dos mais importantes subgêneros do rock, o folk rock, tendo papel crucial na criação de mais um, o rock psicodélico, e sendo o grande difusor de mais outro, o country rock. Não, eles não estavam seguindo moda. Estavam criando moda! Esta é a banda que trocou sonoridades com Beatles, Rolling Stones e Jimi Hendrix; que fez a trilha sonora para o filme Easy Rider – Sem Destino; que influenciou de maneira determinante bandas como The Band, R.E.M., The Eagles, The Allman Brothers Band, Lynyrd Skynyrd; que abriu as portas para Neil Young e grupos como Crosby, Stills, Nash & Young; e como se tudo isso não fosse o bastante, foram os responsáveis por Bob Dylan deixar de ser um cantor folk para virar uma estrela do rock.

Se já conhece e quer lembrar, se conhece só um pouco e quer aprofundar ou se não sabe nada e quer saber, pegue sua guitarra Rickenbaker de 12 cordas e embarque nessa aventura pela quinta dimensão à 10 quilômetros de altura, seguindo o cara do pandeiro pela estrada tranquila rumo a se tornar uma estrela do rock and roll.  😉

Os The Byrds criaram o folk rock. Foram músicos criados na cena folk da California (não tão forte ou famosa quanto aquela de Nova York, que gerou Joan Baez e Bob Dylan), mas que se apaixonaram pela música dos Beatles, quando o quarteto de Liverpool liderou a Invasão Britânica no início de 1964. Ao combinar as letras críticas e existencialistas da tradição folk com a sonoridade enérgica de rock, os Byrds criaram um som único que é a base da maior parte do rock mais calmo criado desde então.

TUDO O QUE EU QUERO DE VERDADE

Tudo começou no início do ano de 1964, quando os cantores folk Gene Clark e Jim (mais tarde Roger) McGuinn se conheceram em Los Angeles, nos EUA, no Troubadour Club, um dos clubes de música mais importantes da cidade, onde ambos se apresentavam separadamente. O que os uniu foi o fato de ambos serem grandes fãs dos Beatles. Numa entrevista a revista Uproxx, McGuinn disse que o público não estava dando muita bola para o que ele apresentava na época e Clark o convenceu a comporem canções originais e incrementarem o set list.

Clark e McGuinn começaram, então, a se apresentar em dueto, com violões e gaita, e interpretando canções dos Beatles em estilo folk e, ao mesmo tempo, transformando algumas das velhas canções folk em uma roupagem beatle; juntamente com as composições próprias da dupla. A combinação das três coisas não agradou tanto aos fãs de música folk (um grupo tradicional, que não gostava de rock nem das invencionices do cenário popular), mas começou a causar um efeito no público jovem mais aberto.

Crosby, Clark e McGuinn ainda na era folk, em 1964.

Certo dia, o duo estava ensaiando embaixo da escada e David Crosby (que também se apresentava por lá de vez em quando) os viu e começou a cantar com eles, sem conhecê-los. A combinação das vozes dos três foi incrível! Eles perceberam na hora! A partir daí, passaram a se apresentar como um trio, chamado The Jet Set, porque McGuinn era fascinado por aviação e passava uma imagem moderna, porque os aviões a jato ainda eram uma novidade naqueles tempos.

Crosby também tinha um punhado de composições próprias e estava naquela época tentando emplacar umas gravações de suas músicas, e essa iniciativa prévia terminou por abrir algumas pequenas portas ao novo grupo.

Mas é importante frisar que os três já tinham considerável experiência musical nos clubes, apesar da pouca idade. Cada qual vinha de um background diferente, mas tinham em comum o amor pelos Beatles e a vinculação com a música folk.

Os Beatles ao vivo em 1964.

Vale lembrar que, em 1963, o rock estava “morto” nos EUA, pois a geração inicial do gênero (Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee Lewis e Buddy Holly – que tinha explodido na década de 1950) a muito tinha desaparecido dos holofotes e perdido a relevância. O rock terminou por encontrar abrigo na Grã-Bretanha, na qual se reformulou e deu origem à Invasão Britânica, com Beatles, Rolling Stones, The Animals, The Who, The Yardbirds, The Hollies etc. produzindo um rock novo, cheio de energia, instrumental forte e vocais a várias vozes. Esse movimento só chegou aos EUA a partir de fevereiro de 1964, quando os Beatles explodiram nas paradas e trouxeram seus conterrâneos a reboque.

Portanto, aquela juventude que chegava ao fim da adolescência no início dos anos 1960 até gostava do rock and roll, mas não tinha ídolos ou referenciais musicais fortes em seu próprio tempo, o que os direcionou aos gêneros musicais mais tradicionais da América, como a folk song e a country music para o público branco.

Discos da Invasão…

A chegada dos Beatles e da Invasão Britânica veio não somente como uma novidade, mas uma verdadeira revolução! Isso permitiu que toda aquela geração – que incluía os músicos que dariam origem aos The Byrds, mas também a The Mamas and the Papas, Simon & Garfunkel, Sonny & Cher, Grateful Dead, The Jefferson Airplane etc. – que já tinha um background de música folk se permitisse mergulhar no rock também.

Jim McGuinn tocando banjo bem jovem.

Jim McGuinn nasceu em 1942, em Chicago, uma cidade muito musical, terra do blues elétrico. Seu pais eram jornalistas e até escreveram um livro de sucesso – The Parents Can’t Win – e seu avô materno era um respeitado engenheiro de som. Estudando em escolas católicas, aprendeu a tocar o banjo aos 15 anos de idade, migrando para o violão e o violão de 12 cordas em seguida. Depois da escola, começou a se apresentar em festas e clubes, o que o levou a acompanhar o The Chad Mitchell Trio e os cantores Bob Darin e Jude Collins e a cantora e compositora sul-africana de jazz, Miriam Makeba.

Com isso, McGuinn migrou para os estúdios: em 1963, ele foi contratado por um selo no Brill Building, de Nova York, o coração da música profissional pré-rock, e trabalhou como compositor contratado (para artistas pop – os teen idols da época) e, também, músico de estúdio, especialmente do cenário folk, como Simon & Garfunkel e Jude Collins, com quem tocava principalmente o violão de 12 cordas. Mas como o cenário musical mais quente da época migrava para Los Angeles, se mudou para lá no início de 1964 e foi parar no Troubadour, onde encontrou Clark e Crosby.

Gene Clark era dois anos mais novo, nascido em 1944, no Missouri, e aprendeu a tocar violão e gaita através do próprio pai, o que o fez se envolver na música muito cedo, já compondo suas primeiros canções aos 11 anos de idade, e formando suas primeiras bandas ainda no Ensino Fundamental até que formou uma banda de música folk aos 18 anos, o que lhe valeu um convite para uma banda mais profissional, The Surf Riders, o que por sua vez, lhe valeu o convite para um grupo de sucesso local, The New Christy Ministrel, que entrou em 1963 e com quem gravou dois álbuns. Mas ele saiu da banda e foi para Los Angeles no início de 1964.

David Crosby nasceu em 1941 em Los Angeles, Califórnia, e era o mais velho dos três. Vinha de uma família de alta classe: seu pai, Floyd Crosby, trabalhava em Wall Street, em Nova York, antes de se tornar um famoso diretor de fotografia em Hollywood (que inclusive ganhou um Oscar em 1934); e sua mãe trabalhava com vendas na Marcy, ambos frequentando as colunas sociais antes mesmo do casamento. Esse background fez o jovem David até estudar cinema e interpretação, mas deixou tudo de lado em prol da carreira musical.

Tocando sozinho ou em duplas folks no início dos anos 1960, não conseguiu emplacar nenhum sucesso, mas ingressou no grupo Les Baxter’s Balladeers, em 1962, mas largou o grupo em busca de gravar suas próprias composições. Foi ele quem conseguiu um contrato inicial com o empresário e produtor Jim Dickson, que o levou à gravação de uma demo com suas músicas, mas que não lhe valeu um contrato de gravação. Pelo menos até se unir com McGuinn e Clark e formar o Jet Set.

Por meio de Crosby e Dickson, o trio conseguiu ensaiar e gravar algumas demos no World’s Pacific Studios, em Los Angeles, o que os levou a conseguir um contrato de um single com a Elektra Records (gravadora independente que ficaria famosa por revelar o The Doors): o compacto com Please let me love you e Don’t belong (duas composições da dupla Clark-McGuinn) foi lançado em outubro de 1964, mas a gravadora os convenceu a trocar de nome para The Beefeaders, porque soava mais britânico e parecido com Beatles. Essas canções (gravadas com o auxílio de Ray Pohlman no baixo e Earl Palmer na bateria, dois dos músicos “de elite” do circuito musical de L.A. – o chamado The Wrecking Crew) já tinham o germe da união entre folk e rock, mas não aconteceram nas paradas.

Ao mesmo tempo, o trio começou a evoluir para uma banda, convidando Michael Clarke (nenhum parentesco com Gene) para tocar bateria, embora o convite tenha vindo muito mais porque ele tinha uma aparência similar a de Brian Jones, dos Rolling Stones.

George e 12 cordas
George Harrison dos Beatles, com sua guitarra de 12 cordas.

Claro, os futuros Byrds não criavam do nada. Apesar do movimento folk detestar a música pop em geral, achando-a não-autêntica, Bob Dylan gostava de rock, embora não se aventurasse no gênero. Contudo, a música de Dylan fazia tanto sucesso na Grã-Bretanha quanto nos EUA (ou até mais) e isso influenciou bastante o rock inglês. O grande hit The house of rising sun (uma velha canção tradicional sem autor conhecido) foi gravado como um rock pelos Animals, porque estava no primeiro álbum de Dylan. E os tão amados Beatles foram muito impactados pela música de Dylan, o que levou John Lennon a gravar dois números de folk rock (I’m a loser e I don’t want to spoil the party) no álbum Beatles For Sale, lançado em dezembro de 1964. O uso da guitarra de 12 cordas da Rickenbaker, iniciado por George Harrison no álbum anterior (A Hard Day’s Night, de junho de 1964) combinado ao violão Gibson Jumbo de Lennon criava uma atmosfera muito particular.

Os Byrds e Bob Dylan à frente.

Em agosto de 1964, o empresário dos Jet Set/ Beefeaters, Jim Dickson, conseguiu uma cópia da gravação (então inédita) de Mr. tambourine man de Bob Dylan, pensando que seria uma ótima oportunidade para o grupo. Em entrevista à Uproxx, David Crosby se dá o crédito de adaptá-la, mudando o compasso da canção de 2/2 para 4/4, selecionando o melhor verso e mantendo-o somente ele embalado pelo refrão duas vezes e uma roupagem rock que combinou perfeitamente.

McGuinn e a Rickenbaker de 12 cordas: marca do som do grupo.

Quando a banda pensou ter finalizado o arranjo para a faixa, Dickson levou o próprio Dylan para ouvir a banda interpretá-la e o compositor gostou muito, ficando entusiasmado com o resultado. Esta foi a semente para Dylan começar a pensar que podia transformar sua própria música em rock, o que faria pouco depois.

Com a autoestima aumentada, a banda decidiu investir em instrumentos novos iguais aos dos Beatles: McGuinn já usava a Rickenbaker de 12 cordas e Gene Clark uma Gretsh Tennesean, ambas modelos usados por George Harrison na banda. Crosby usava um violão Gibson e Clarke comprou um kit de bateria Ludwing, o mesmo modelo de Ringo Starr. Claro que faltava um baixista! Dickson convidou Chris Hillman, um tocador de mandolim que, ao contrário dos colegas, vinha do country e bluegrass, e não folk, e de San Francisco e não de L.A. Mas ele se encaixou bem dentro da dinâmica do grupo.

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A formação básica da banda no palco: Crosby, Hillman, Clark, Clarke e McGuinn.

Com o quinteto formado e uma recomendação do jazzman Miles Davis, a banda conseguiu um contrato com a Columbia Records, a mesma gravadora de Dylan. O selo não punha muita fé na banda e via o rock com desconfiança – lembrem, naquele momento, rock era coisa de britânicos, não de americanos – mas em vista do entusiasmo de Dylan, aceitou contratar o grupo, mas apenas para um compacto. Caso fizesse sucesso, iriam renegociar depois. Não era muita coisa, mas era um grande passo.

Em comemoração, mudaram o nome para The Byrds, porque ainda evocava o tema do voo e soava britânico com a troca do “i” por “y” tal qual Beatles trocava o duplo “e” com a inclusão de um “a”. Outra mudança foi que, por algum motivo, Crosby assumiu a guitarra Gretsh, enquanto Clark passou a tocar apenas o pandeiro. Isso é curioso, pois Clark era um guitarrista mais habilidoso do que Crosby. Talvez, fosse uma maneira de compensar o fato de Clark ser aquele que compunha mais canções e dar um papel um pouco maior a Crosby. De qualquer modo, estava formado lineup original do grupo: Gene Clark (vocais e pandeiro), Jim McGuinn (vocais e guitarras), David Crosby (vocais e guitarra), Chris Hillman (baixo) e Michael Clarke (bateria). Porém, apesar dessa formação de palco, é importante frisar que Clark contribuía constantemente com guitarras e gaita nas gravações.

Os Byrds então consolidaram a grande marca de sua primeira fase, que era a combinação das vozes de Clark, McGuinn e Crosby. Clark tinha um vocal mais grave, de tenor, cantado para dentro, num timbre que poderíamos chamar de “confortável de ouvir” e talvez fosse o melhor cantor do grupo; mas a gravadora parecia preferir a voz meio-grave de McGuinn, talvez porque seu timbre era ligeiramente similar ao de Bob Dylan; já Crosby tinha uma voz com duas impressões distintas, pois quando cantava em solo, podia imprimir um grau de agressividade que os outros dois não tinham, mas por outro lado, atingida notas muito agudas em seu falsete, de modo que contribuía para harmonizar a voz dos outros dois quando os três cantavam juntos, dando aquele tom cristalino típico dos Byrds: Clark e McGuinn cantando em uníssono e Crosby nas notas altas.

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Crosby, Hillman, McGuinn, Clarke e Clark.

ENTÃO VOCÊ QUER SER UMA ESTRELA DO ROCK’N’ROLL?

Em janeiro de 1965, os Byrds entraram nos estúdios da Columbia, em Hollywood, para gravar seu single, com o produtor Terry Melcher. Ele gostou do arranjo de Mr. Tambourine man (que àquela altura tinha incorporado uma introdução que copiava o riff de What you doing dos Beatles, lançada em Beatles For Sale, no mês anterior), mas não se impressionou com a banda. Crosby não era um grande guitarrista rítmico, Clarke basicamente ainda estava aprendendo a tocar bateria e Hillman tinha entrado a pouco tempo, ainda se entrosando.

Infelizmente, no típico arranjo da indústria musical de Los Angeles, Melcher preferiu usar seus músicos de estúdio “de elite” para fazer o registro, chamando membros do famoso Wrecking Crew. Assim, apesar de copiar à risca o arranjo da banda para Mr. tambourine man, Melcher pôs outra banda para executá-la: Jerry Cole (guitarra), Larry Knechtell (baixo), Leon Russell (piano) e Hal Blaine (bateria). Dos cinco músicos dos Byrds, apenas Jim McGuinn foi permitido tocar no estúdio, porque ele tinha experiência com gravações em Nova York. Ele tocou a guitarra de 12 cordas principal.

Os Byrds e seus equipamentos bem no início. Note que é Clark quem empunha a Grestch.

O mesmo processo foi adotado com o Lado B: I’d knew I want you (de autoria de Clark). Profissionais e estudados, o Wrecking Crew gastou apenas 3 horas para gravar o instrumental das duas faixas, o que é muito rápido. Depois disso, McGuinn, Clark e Crosby gravaram seus vocais em cima dessa base instrumental.

A prática de substituir os membros verdadeiros de bandas de rock por músicos profissionais seria uma marca da cena de Los Angeles, especialmente nos anos 1960. Embora esse seja um fato estranho para os dias de hoje e até condenável eticamente, esta era uma prática muito comum no mercado musical dos EUA: armados de músicos de estúdio de primeira linha, as gravadoras preferiam pôs estes nos discos, enquanto os membros “reais” das bandas apenas se apresentavam ao vivo. Grupos como Beach Boys e The Monkees também gravavam apenas suas vozes em suas obras.

Gravado o disquinho, surgiu uma disputa dentro da Columbia, que achava a letra de Mr. Tambourine man muito ousada para um Lado A de uma banda de rock, pois a mentalidade dos executivos ainda estava presa ao conteúdo adocicado dos teen idols (e não havia artista de rock americano nas paradas naqueles tempos, continuem lembrando – à exceção isolada dos Beach Boys e suas músicas suaves de garotas, praia e surf). Por isso, a gravadora queria que a romântica (e mais lenta) I’d knew I want you fosse o Lado A, algo pelo qual Terry Melcher teve que brigar para não acontecer.

Mas temos que reconhecer: o trecho selecionado pelos Byrds (dentro da letra bem mais vasta do original de Dylan) era de arrepiar:

Hey, Sr. tocador de pandeiro, toque uma canção pra mim/ Não estou dormindo e não há um lugar para onde ir/ Hey, Sr. tocador de pandeiro, toque uma canção pra mim/ Nessa trepidante manhã, eu vou te seguir
Me leve para uma viagem em seu mágico barco balançante/ Meus sentidos foram desnudados/ Minhas mãos estão dormentes demais para agarrar/ Meus pés, entorpecidos demais pra andar/ Esperando só pelos saltos de minhas botas para sair vagando por aí
Estou pronto pra ir para qualquer lugar/ Estou pronto para desaparecer/ Dentro de minha própria parada/ Pegar meu caminho em sua dança enfeitiçada/ Eu prometo mantê-la em frente

Os Byrds e Bob Dylan tocam juntos no Ciro’s, em 1965.

Refletindo a pouca empolgação da gravadora e a disputa pelo Lado A, Mr. Tambourine man/ I’d knew I want you só foi lançado em abril de 1965 (um atraso de pelo menos dois meses). Para promover o compacto, a Columbia conseguiu uma sequência de apresentações dos Byrds no Ciro’s Le Disc, a mais badalada das boates da Sunset Strip (a rua do agito em L.A.) naqueles tempos. Os concertos da banda foram um sucesso absoluto e viraram um fenômeno incrível, com hordas de jovens, proto-hippies, intelectuais e músicos fazendo filas quilométricas para entrar no clube. Ficou famosa uma noite de março (ou seja, ainda antes do lançamento do compacto) na qual o próprio Bob Dylan subiu ao palco com os Byrds e eles tocaram Baby what you want me to do, uma composição do bluesman Jimmy Reed.

Mais do que o sucesso do compacto – que só saiu em abril – parece que a boa recepção dos shows e a boa circulação de Mr. Tambourine man nas rádios de L.A. antes do lançamento motivaram a Columbia, que assinou o contrato para um álbum completo.

Os Byrds gravam vocais no estúdio.

As apresentações também melhoraram a performance da banda, de modo que, quando iniciaram as gravações de seu primeiro álbum, em março, o produtor Terry Melcher dispensou os músicos de estúdio e os próprios Byrds passaram a tocar em suas músicas a partir de então. Essa versão da banda nunca foi um grande grupo instrumental, mas conseguiu desenvolver uma sonoridade interessante com a combinação singular de seus elementos.

Quando Mr. tambourine man (o single) foi lançada em abril, claro, se tornou um fenômeno de vendas: atingindo o primeiro lugar das paradas dos EUA e também as do Reino Unido! De repente, os EUA tinham pela primeira vez um grupo que podia rivalizar com os Beatles nas paradas. Por isso, eles foram chamados de “A resposta americana aos Beatles” e a expressão terminou batizando o movimento que os Byrds dariam origem, A Resposta Americana: o surgimento de várias bandas de folk rock a estourar nas paradas entre o fim de 1965 e o início de 1966.

Além da típica sonoridade da guitarra de 12 cordas, a forte impressão vocal da banda – com McGuinn e Clark cantando em uníssono e Crosby nas notas altas – produzindo um som cristalino e cheio de sentimento, geraram uma influência enorme. Não à toa, surgiram inúmeras bandas de folk rock da noite para o dia, como Lovin’ Spoonful e The Mamas and the Papas; e artistas já existentes adotaram o som, como a dupla Sonny & Cher. Influenciado pelos Byrds, o produtor Tom Wilson pegou uma gravação acústica da dupla Simon & Garfunkel, cujo álbum fracassara no ano anterior, e colocou uma roupagem de instrumentos elétricos ao estilo dos Byrds em cima da gravação original, gerando o megahit The sound of silence.

E mais importante de tudo: influenciado pela leitura dos Byrds de sua própria música, Bob Dylan usou gravações elétricas em seu álbum Bring in it All Back Home, em 1965, e no mesmo ano, se eletrificou totalmente com Highway 61 Revisited, que insultou os tradicionais do folk, mas foi um grande sucesso, inclusive com o hit Like a rollin’ stone.

Com o seu primeiro álbum finalizado, a Columbia decidiu lançar um segundo compacto para promovê-lo e, como é típico das gravadoras, preferiu manter uma fórmula: escolheu uma faixa de Bob Dylan para o Lado A, All I really want to do, e uma de Gene Clark para o Lado B, I’ll feel a whole lot better.

Foi uma escolha equivocada: por um enorme azar e coincidência, a dupla Sonny & Cher lançou um compacto justamente com All I really want to do, e o apelo mais pop e exótico do duo garantiu o maior sucesso a esta versão. O single dos Byrds, portanto, terminou no 40º lugar da da parada da revista Billboard. O que ainda não era tão mal, pois mantinha-se dentro do mais celebrado e importante Top 40. Mas o público menos populesco do Reino Unido se manteve mais interessado e a faixa dos Byrds chegou ao incrível 4º lugar na Inglaterra.

A faixa ainda trazia embutida a semente de um problema: fora David Crosby quem conseguira o empresário do grupo e era quem tinha uma demo gravada com composições próprias, mas a banda e, principalmente, o produtor Melcher, não guardavam especial apreço por aquelas composições e nenhuma delas foi selecionada para entrar no primeiro álbum da banda. E mais, enquanto McGuinn assumia os vocais dos covers de Dylan e Clark fazia a voz principal de suas próprias composições, no fim das contas, Crosby não cantou solo nenhuma das faixas do primeiro álbum, o que lhe trouxe frustração.

Seu maior destaque é justamente um vocal solo na ponte de All really want to do. Mas só isso.

Gene Clark emerge como o principal compositor.

Com o revés do Lado A nas paradas, a gravadora ainda tentou lançar os holofotes para I’ll feel a whole lot better, que realmente era uma canção melhor: uma ótima faixa animada de Clark, e o grupo chegou a apresentá-la ao vivo em programas de TV, mas como não era a “cabeça” do single, não foi tão adiante nas paradas.

Mas o movimento não passou desapercebido de todos, com a prova da força das composições de Clark e seu potencial para o sucesso, algo que não era acompanhado por McGuinn (que não tinha o mesmo ímpeto de compor) e Crosby (que não conseguia emplacar suas próprias canções).

O primeiro álbum dos Byrds, também chamado Mr. Tambourine Man, foi lançado em junho de 1965, e chegou ao 6º e 7º lugar das paradas dos EUA e da Inglaterra, respectivamente. O disco é um clássico dos anos 1960 e um dos melhores da banda. Além da faixa título, tem outras três composições de Bob Dylan: a já citada All I really want to do, Spanish Harlem incident e Chimes of freedom; e uma interpretação de material tipicamente folk em formato de rock, com The bells of rhymney (de Pete Seeger e Idris Davies), que ganha uma belíssima versão da banda. Mas também há material autoral, com I’ll feel a whole lot better, I’d knew I want you e Here without you (todas de autoria de Gene Clark) mais You won’t have to cry (de Gene Clark e Jim McGuinn).

À esta altura, a banda era um fenômeno de popularidade. Além da música, a banda chamava a atenção por seu visual: o grupo usava roupas muito particulares, com jaquetas e colarinho alto, ao contrário da maioria dos grupos que ainda usavam ternos; enquanto Jim McGuinn usava um óculos de lentes azuis e armações quadradas e David Crosby uma manta de estilo medieval. Também eram interessantes pelo fato de nunca sorrirem nas fotos e terem áurea de banda “séria”.

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E a imagem combinava com a atitude: as letras de Dylan conferiam poesia ao rock e iam muito além das questões românticas, abordando questões sociais, reflexões filosóficas e existencialismo, trazendo um baque de maturidade ao rock. Mas com uma diferença: tudo isso embalado em uma sonoridade enérgica e cheia de singularidades, com a guitarra de 12 cordas titilando para todos os lados.

HÁ DEZ QUILÔMETROS DE ALTURA!

Para capitanear o sucesso, a banda contratou Derek Taylor como publicitário, um jornalista que havia trabalhado para os Beatles no ano anterior (e voltaria depois). Usando seus contatos na Inglaterra, Taylor conseguiu uma turnê dos Byrds para o Reino Unido no mês de agosto de 1965. Era um movimento lógico, com os altos resultados da banda nas paradas britânicas.

Houve uma grande promoção em torno da excursão e os próprios Beatles falaram bastante sobre como os Byrds eram “sua banda favorita dos EUA” e Taylor criou a frase “A resposta americana para os Beatles”, o que de algum modo irritou bastante a imprensa britânica, que de repente, se tornou hostil. As grandes quantidades de maconha fumada pela banda, junto à sua falta de presença no palco, equipamento de som de baixa qualidade e a grande expectativa criada pela promoção, resultou que a turnê foi um grande fiasco, com o grupo sendo massacrado pelos jornais. Este primeiro ponto baixo alterou bastante a dinâmica interna da banda, aumentando a tensão entre os membros. Pelo menos, os Byrds travaram amizade com a cena musical britânica, socializando com Beatles e Rolling Stones.

De volta para casa, os Byrds foram trabalhar em novo material ao mesmo tempo em que os Beatles vinham aos EUA fazer mais outra turnê e os convidaram para passar alguns dias em sua casa alugada em Los Angeles (onde tomaram LSD juntos) e Paul McCartney e George Harrison visitaram os amigos nos estúdios da Columbia enquanto gravavam.

Novamente, a Columbia queria que o grupo gravasse um cover de Dylan para seu terceiro single, com It’s all over now, baby blue, mas embora a canção tenha sido gravada e tocada nas rádios, o grupo conseguiu persuadir a gravadora a mudar a fórmula e investir em Turn! Turn! Turn!, uma adaptação do Livro de Eclesiastes da Bíblia, musicada por Pete Seeger. A incrível performance da banda resultou em outro Nº 1 nas paradas quando lançada em outubro.

McGuinn era um grande fã dessa canção: ele assistira shows de Seeger em Chicago onde ele tocava a faixa, em 1959; e em seus tempos de músico de estúdio, ele fora diretor musical do terceiro álbum de Jude Collins e a canção fora gravada lá, em 1963; bem como ele tocou ao lado dos The Limeliters, que também tocavam essa faixa.

No Reino Unido, dessa vez, a incursão bíblica da banda – ainda que com toques de “paz e amor” – não impressionou tanto e ficou apenas na 26ª posição. O Lado B foi outra composição de Gene Clark, She don’t care about time, outra ótima canção, mas que não sairia no álbum.

O compacto também batizou o segundo álbum dos Byrds, que saiu em dezembro de 1965 e foi novamente aclamado pela crítica e fez sucesso, chegando ao 17º lugar das paradas dos EUA e ao 11º do Reino Unido. Este disco ainda traz duas composições de Dylan (The times they are a-changin’ e a totalmente inédita Lay down you weary tune), mas investe muito mais no material original da banda, com novamente Gene Clark contribuindo com o melhor, em faixas como Set you free this time, The world turns all around her e If you’re gone.

O álbum também traz It’s won’t be wrong (de Jim McGuinn e Harvey Gerst) e Wait and see (de McGuinn e David Crosby, com este recebendo seu primeiro crédito autoral). Contudo, Crosby ainda não realizou nenhum solo vocal no álbum – ao contrário de Clark e McGuinn – e mesmo Wait and see é cantada em dueto com McGuinn, ainda que (sejamos justos) a voz de Crosby se sobressaia na mixagem.

Outra composição de Clark, The day walk (never before) ficou de fora do álbum e só seria lançada no Boxset dedicado ao grupo de 1990, desde então, também aclamada como uma das melhores gravações do conjunto. 

Novamente, o som dos Byrds causou uma grande repercussão no mundo musical, influenciando bastante os roqueiros de então. Inclusive, o álbum dos Beatles Rubber Soul, também lançado em dezembro de 1965, trazia uma clara (e assumida) influência dos Byrds em faixas como Nowhere man (de John Lennon) e If I needed someone (de George Harrison), com esta última inclusive, se utilizando da guitarra de 12 cordas (cujo uso foi difundido por este músico) para emular o som da banda americana.

Como uma forma de consagração, os Byrds se apresentaram no programa Ed Sullivan Show, a maior audiência da TV dos EUA (o programa que lançou os Beatles para o público americano), em 12 de dezembro de 1965, onde tocaram Mr. tambourine man e a nova Turn! Turn! Turn!.

A banda virou o ano na crista da onda, ao ponto da Columbia liberar um quarto compacto, com Set you free this time (de Clark) no Lado A e It won’t be wrong (de McGuinn) no Lado B, o primeiro single totalmente autoral do grupo, mas as duas canções de pegada mais lenta não impressionaram o grande público, ficando na 79ª posição na Billboard. Depois, a gravadora inverteu os lados e apostou no Lado B e o compacto foi um pouco melhor, na 63ª posição.

O CARA DO PANDEIRO

Apesar do sucesso, as relações dentro do grupo iam ficando cada vez mais tensas, nascendo um tipo de oposição entre os membros contra Gene Clark, porque suas composições o deixavam bem mais rico do que os outros. Também havia uma clara disputa de poder entre o empresário Jim Dickson e o produtor Terry Melcher pelo controle da banda. De qualquer modo, pouco após o lançamento de Turn! Turn! Turn!, Melcher foi demitido da função e substituído por Allan Staton, que ficou responsável por supervisionar o aspecto musical do grupo por parte da gravadora.

Ainda em dezembro de 1965, a composição original de Gene Clark, Eight miles high (que trata sobre seu medo de voar e a traumática experiência na Inglaterra) ganhou um arranjo ousado por Jim McGuinn e David Crosby (o que levou os dois a ganharem créditos de co-autores) na qual incluem a influência do free jazz (de John Coltrane) e da música indiana (de Ravi Shankar, que Crosby era grande apreciador), fazendo os Byrds  contribuírem de modo decisivo para o nascimento do Acid rock e da psicodelia. A banda gravou a faixa nos estúdios da RCA em Hollywood, mas a Columbia se recusou a lançar uma canção que não fosse gravada em seu próprio estúdio, de modo que ela foi regravada em janeiro de 1966 e lançada como single em março de 1966.

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O tempo dos Byrds como quinteto estava acabando.

Eight miles high causou um grande impacto no circuito musical, pois o modo errático como a guitarra de McGuinn toca ao longo da faixa, imitando a música indiana, impressionou roqueiros ao longo do mundo, de modo que nasceu a expressão raga rock para explicar o novo som. A adesão a este som psicodélico seria reforçado naquele mesmo ano por álbuns como Pet Sounds dos Beach Boys, Aftermath dos Rolling Stones e Revolver dos Beatles.

O compacto tinha no Lado B Why, uma composição de Jim McGuinn e David Crosby, que mantinha o clima psicodélico, mas ambas as canções sofreram boicote de inúmeras rádios e lojas de discos, por causa do conteúdo de suas letras, associado ao uso de drogas. Isto deve ter ajudado na posição modesta do compacto nas paradas, chegando ao 14º e ao 24º lugar nos EUA e Reino Unido, respectivamente. Felizmente, isto não influenciou o impacto das faixas entre outros músicos importantes.

Mas seria a última vez que os Byrds frequentariam o Top 20 das paradas dos EUA.

Praticamente junto com o lançamento do compacto, veio o anúncio de que Gene Clark estava saindo da banda. Além das tensões já citadas, Clark tinha pavor de voar, pois presenciara um acidente aéreo quando criança. No mês de fevereiro, o compositor teve um ataque de pânico dentro do avião que levaria a banda de Nova York para a Califórnia e terminou por desembarcar. Além disso, o uso de drogas também o tornava susceptível à paranoia, o que o deixou isolado dentro do grupo.

Em resultado, os outros membros (especialmente McGuinn e Crosby) decidiram que ele não poderia mais seguir com o grupo, pois a insistência em não voar era um grande empecilho à carreira. Demitido, seu lugar não foi ocupado e os Byrds viraram um quarteto dali em diante. Mas é fato que tinham perdido o seu principal compositor, e agora, McGuinn e Crosby precisariam se virar para manter o aspecto autoral da banda.

Clark seria contratado como artista solo pela Columbia e produziria um trabalho aclamado pela crítica, embora nunca popular. Seu envolvimento com a banda continuaria no futuro, no entanto.

A QUINTA DIMENSÃO

Sem Clark e mantendo uma intensa agenda de shows, os Byrds optaram por iniciar imediatamente as gravações de seu terceiro álbum, agora bem mais calcado no material original de McGuinn e Crosby, enquanto o baixista Chris Hillman dava um passo à frente no palco, passando a também contribuir com as harmonias vocais. Hillman tinha um vocal bonito e grave, o que serviu para manter exatamente a mesma dinâmica que a banda já tinha.

O álbum Fifth Dimension foi lançado em julho de 1966 e abraçou por completo a sonoridade psicodélica sugerida por Eight miles high, que está no disco. Com destaque às faixas escritas por Jim McGuinn, como 5D (Fifth dimension) e Mr. spaceman; que se tornariam duas das faixas mais conhecidas da banda; e à sensacional composição solo de David Crosby, What’s happening???; além de I see you, assinada por McGuinn-Crosby. Esta última, à exemplo daquela primeira, tem grande influência do free-jazz e um andamento bem diferente e a bela voz de Crosby no vocal principal. I see you seria alguns anos depois regravada pela banda de rock progressivo Yes em seu álbum de estreia.

Também há a boa interpretação da tradicional John Riley e o cover de Hey Joe, canção lançada pela “banda de garagem” de Los Angeles, The Leaves, que é cantada a solo por Crosby no arranjo mais pesado que a banda criara até ali. Esta composição virou célebre na cena musical de L.A. e seria também gravada por Jimi Hendrix em seu primeiro álbum, lançado no ano posterior. Apesar de demitido, Gene Clark ainda participa do álbum, cantando na faixa do compacto e tocando gaita em Captain soul.

Sua ausência, contudo, abriu espaço para Crosby, que aparece pela primeira vez não somente como compositor solo, mas também, como solista vocal depois de ter feito apenas backings nos primeiros dois álbuns. Sua adesão é fundamental para a qualidade do álbum.

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The Byrds como quarteto: Crosyby, Hillman, Clarke e McGuinn.

A recepção ao álbum, porém, dessa vez não foi tão bem sucedida como os dois anteriores, com muitas reações negativas da imprensa. O boicote as suas principais faixas também prejudicou as vendagens, atingindo apenas a 24ª e a 27ª posição das paradas dos EUA e da Inglaterra. A partir dali, os Byrds sairiam do mainstream do rock dos anos 1960 e passariam a habitar o nascente mercado alternativo, com artistas que mantinham suas carreiras ativas apesar de estarem longe do topo das paradas. Ainda assim, a influência da banda continuaria a ser sentida na efervescente cena musical da Califórnia, em grupos como The Jefferson Airplane, The Grateful Dead e The Buffalo Springfield (que revelaria Stephen Stills e Neil Young).

Mas verdade seja dita, elas ocupavam um estrato intermediário muito importante dentro do mercado. O álbum rendeu outros dois compactos, 5D (fifth dimension) e Mr. Spaceman, que chegaram às posições 44 e 36 nas paradas da Billboard, que são números bastante respeitáveis.

Enquanto mantinham uma ativa e bem sucedida carreira de apresentações ao vivo, a banda entrou de novo em estúdio ainda antes do fim do ano de 1966 para gravar seu quarto álbum, dessa vez com o produtor Gary Usher, que incentivou ainda mais os músicos a buscarem experimentações.

O álbum Younger Than Yesterday saiu em fevereiro de 1967 e é um álbum emblemático na carreira da banda, listado pela crítica como um dos melhores. Apesar de sua capa sem graça, o disco traz uma grande coleção de faixas que exploram temáticas mais ousadas nas letras, ampliam ainda mais a produção autoral do grupo e enchem de psicodelismo os resquícios de sua musicalidade folk rock. Além disso, influenciados pelo baixista Chris Hillman, que passa a ter um papel maior na banda, revelando-se um compositor sensacional, começam a flertar com a country music, num direcionamento que teria grandes implicações em breve.

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Younger than Yesterday, 1967.

O álbum é uma grande compilação de grandes canções dos Byrds em sua fase “alternativa”, abrindo com a ácida e irônica So you want to be a rock and roll star? (McGuinn-Hillman), que critica as bandas “de laboratório” lançadas pela indústria fonográfica dos EUA, como The Monkees, que virou uma febre no ano anterior com um grupo de atores-cantores que imitavam os Beatles em uma série de TV e lançavam discos nas quais não tocavam.

McGuinn se inspirou em um link de guitarra de jazz de Millard Thomas – que tocava com a cantora Miriam Makeba – para criar o riff de abertura da faixa e, para reforçar o toque jazzístico, convidaram o trompetista sul-africano Hugh Masekela para tocar na canção.

Esta faixa foi lançada em single um mês antes do álbum, e chegou a 29ª posição da Billboard, o que não é mal. Em seguida vem Have you seen her face? (Hillman), primeira composição solo do baixista a integrar um disco dos Byrds e também a primeira vez que ele faz o vocal principal. A faixa é animada e possuí um solo de guitarra que rompe com o padrão guitarra de 12 cordas pelo qual o grupo era famoso. Outro destaque é Renaissance fair (Crosby-McGuinn) bela canção de toque folk psicodélico. Time between (Hillman) flerta diretamente com o country e é uma das melhores canções do disco, com a voz do baixista agora ainda mais em destaque. Esta faixa também contou com a participação especial do guitarrista de estúdio Clarence White para dar os toques necessários à sonoridade country e seria alguém com grande envolvimento com a banda no futuro. O Lado A fechava com Everybody’s been burned (Crosyby) uma canção madura e emocionante, também lançada no Lado B do primeiro single do álbum.

Após Words and thoughs (Hillman) e Mind gardens (Crosby), o álbum encontra a canção de onde tirou seu título: My back pages (Bob Dylan), única faixa não-autoral do disco inteiro e que foi lançada como segundo compacto (com Renaissance fair no Lado B) e chegou ao 30º lugar das paradas, permanecendo nos dias de hoje como uma conhecida faixa do repertório da banda. A letra de Dylan fala sobre “ser mais jovem hoje do que ontem” e isso inspirou o título do álbum. O destaque final cabe a The girl with no name (Hillman), uma elaborada composição de toques country e de novo com participação de Clarence White.

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Os Byrds psicodélicos de 1967: Hillman, Crosby, Clarke e McGuinn.

Younger Than Yesterday foi aclamado pela crítica e chegou ao 24º lugar das paradas dos EUA e ao 37º do Reino Unido, ainda dentro do Top 40 (o que é considerado sucesso pela indústria fonográfica), mas já demonstrando que os Byrds agora ocupavam outra faixa de mercado, menos voltada aos hitmakers (e muitas vezes mais interessante). Houve ainda um terceiro compacto para promover o disco: Have your seen her face?, com a inédita Don’t make wave (Hillman-McGuinn) no Lado B, e o interessante caso de um single com o novo compositor ocupando os dois lados; mas infelizmente, chegou apenas ao 74º lugar.

Enquanto faziam a promoção do novo disco, McGuinn aprofundou o envolvimento que tinha com a religião Subud, da Indonésia, e adotou o novo nome de Roger. Os praticantes dessa religião adotam novos nomes como símbolo do renascimento espiritual e dali em diante, o guitarrista passou a ser conhecido como Roger McGuinn, nome artístico que usa desde então.

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David Crosby começou a querer mais controle na banda.

Ainda em busca do sucesso perdido, os Byrds entraram de novo em estúdio e gravaram um novo single – que não apareceria em nenhum álbum – para tentar movimentar o mercado de verão enquanto um novo álbum não vinha: Lady friend era uma composição de David Crosby e tinha musicalidade bem elaborada, tendo Old John Robertson (Hillman-McGuinn) no Lado B. O compacto, no entanto, chegou apenas a posição 82 da Billboard, o que criou tensões dentro da banda (que culpou a mixagem) e a gravadora (que queria um hit).

Mas é fato que, após Younger Than Yesterday, os Byrds migraram do entorno do Top 40 para a segunda metade do estrato do Top 100, de fato ficando bem distantes dos hitmakers, mas ainda numa posição segura o suficiente para tornar uma carreira viável, especialmente com concertos, ainda que fora dos holofotes e sem glamour.

Em contrapartida ao “fracasso” daquele compacto, em agosto de 1967, a Columbia lançou a coletânea The Byrds’ Greatest Hits que foi um grande sucesso, chegando ao 6º lugar das paradas e ganhando Disco de Ouro. Além de colocar a banda de novo nos holofotes – o que era ótimo para sua carreira de shows – serviu também para tornar mais conhecidas faixas recentes como So you want to be a rock’n’roll star e My back pages. O lançamento da coletânea parece ter mostrado que a banda ainda tinha potencial comercial a ser explorado, o que só aumentou a insatisfação com seu staff particular, de modo que foi encerrada a parceria com o empresário Jim Dickson e Larry Spector ocupou o seu lugar.

O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Em meio a isso, os Byrds voltaram outra vez ao estúdio no segundo semestre do ano, para produzir seu próximo álbum, mas as coisas andavam mal como nunca. David Crosby se tornou um ponto de tensão dentro do grupo. Por um lado, o guitarrista se sentia sabotado pelo fracasso de Lady friend (talvez as altas doses de maconha e LSD tornassem sua relação com os outros mais difícil) e é provável que se sentisse enciumado com o crescimento de Chris Hillman dentro da banda, ocupando um lugar – como cantor e compositor – que poderia ter sido dele. Embora é de se considerar que Crosby continuava contribuindo ativamente como compositor à banda. Mas o estresse era bilateral: McGuinn e Hillman também tinham grandes problemas com Crosby, que era um sujeito temperamental e de difícil convívio.

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Jimi Hendrix incendeia a guitarra em Montorrey.

“Pegou mal” para os outros dois a ativa participação de Crosby no Monterrey Pop Festival, em agosto de 1967 e que foi o primeiro dos grandes festivais dos anos 1960, ocorrendo perto de San Francisco. Foi lá que Jimi Hendrix (que já fazia grande sucesso na Inglaterra) e Janis Joplin (ainda liderando o grupo Big Brother and the Holding Company) foram “apresentados” ao grande público dos EUA e houve também incendiárias apresentações de The Who e The Mamas and the Papas, publicizando toda a cena flower power da Califórnia.

Os Byrds se apresentaram no evento, embalados em suas novas canções psicodélicas, mas Crosby circulou como um tipo de embaixador do festival (assim como Brian Jones dos Rolling Stones) e fez vários discursos ao microfone (defendendo o LSD, por exemplo), enquanto apresentava as novas apresentações dos shows. Além disso, como Neil Young se demitiu da banda Buffalo Springfield, que era um grande sucesso na época, Crosby o substituiu na apresentação desta banda em Monterrey, iniciando de modo mais próximo a parceria com Stephen Stills. A visibilidade de Crosby enciumou McGuinn e Hillman.

Assim, as gravações do novo álbum dos Byrds foram marcadas por tensão e brigas. A primeira vítima foi o baterista Michael Clarke, que terminou demitido da banda por insatisfação dos membros com sua performance. Na maior parte das gravações, coube a bateristas profissionais de estúdio tomar o seu lugar, como Jim Gordon e Hal Blaine, membros do Wracking Crew.

A segunda vítima foi Crosby. Após gravar quatro composições suas para o álbum, o guitarrista entrou em choque direto com McGuinn e Hillman por dois motivos diretos. Em primeiro lugar, a relutância da dupla em colocar a canção de Crosby, Triad, no disco, porque era uma letra que tratava de ménage à tróis. Em segundo, porque a dupla queria gravar Goin’ back (da dupla de compositores profissionais Gerry Goffin e Carole King) como faixa de trabalho do álbum, mantendo o afago à gravadora de sempre terem como carro-chefe dos discos um hit “garantido” por meio de um cover. Crosby não concordava com isso, pois julgava um retrocesso investir em covers com uma banda repleta de compositores. No fim, Crosby foi demitido da banda e Triad foi excluída do disco, mas chegou a ver a luz no álbum seguinte do Jefferson Airplane.

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Crosby, Stills and Nash: sucesso enorme.

David Crosby seguiria seu rumo e construiria uma carreira musical de sucesso e aclamação. Livre dos Byrds, ele se uniu a Stephen Stills (do Buffalo Springfield) e a Graham Nash (do britânico The Hollies) e formaram o “supergrupo” Crosby, Stills and Nash, cujo primeiro álbum, lançado em 1969, foi um sucesso estrondoso. Em seguida, o trio ganhou a adesão de Neil Young (também ex-Buffalo Springfield) e virou Crosby, Stills, Nash & Young, se apresentando em Woodstock e lançando dois álbuns (um de estúdio, outro ao vivo) de sucesso colossal. Depois de 1971, a banda se separou – e Crosby investiu em carreira solo – mas continuou retornando de vez em quando (a primeira vez em 1974 para uma grande turnê pelos EUA) às vezes como o trio original, outras como quarteto.

Reduzido à dupla McGuinn-Hillman, no fim de 1967, os Byrds tiveram que fazer um arranjo para continuar ativos. Quanto aos shows que precisavam realizar, o grupo contratou o recém-demitido Michael Clarke apenas temporariamente para fechar o calendário de apresentações pendentes, o que deve ter sido uma situação muito desconfortável. E convidou o ex-membro Gene Clark para retornar à banda.

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Gene Clark toca de novo com os Byrds, no programa de TV dos Smothers Brothers.

Após ter saído da banda, Clark gastou um ano sabático antes de regressar em carreira solo, gravando um belo disco, que foi aclamado pela crítica, mas não fez sucesso algum. Então, tinha abandonado o mundo da música e se dedicava a outras coisas. O compositor aceitou o convite, mas passou apenas três semanas na banda novamente, antes de ser novamente despedido, pois continuava com os problemas de paranoia e medo de voar. Ainda assim, Clark se apresentou com os Byrds em vários shows pelo Meio-Oeste dos EUA e fez uma famosa apresentação com a banda na TV, no The Smothers Brothers Shows; assim como contribuiu um pouco com as gravações do novo álbum. Aparentemente, Clark faz vocais em Goin’ back e Space Odyssey (de McGuinn e Robert Hippard), além de contribuir com uma composição ao lado de McGuinn, em Get to you.

A finalização do disco, no entanto, foi feita apenas por McGuinn e Hillman como membros, contando com o apoio de vários músicos de estúdio, entre eles, novamente o guitarrista Clarence White.

The Notorious Byrds Brothers foi lançado em janeiro de 1968 com uma capa na qual ainda traz o baterista Clarke, mas não Crosby e tampouco Clark. Também foi aclamado pela crítica e ficou na razoável posição Nº 47 das paradas da Billboard. É o disco mais experimental dos Byrds, repleto de efeitos sonoros construídos pelo produtor Gary Usher. Dentre as faixas, destaque para Goin’ back (Goffin-King), que também foi lançada em compacto (mas chegou apenas ao 89º lugar); e também para Wasn’t born to follow (também de Goffin-King) na qual novamente evidenciam o country e possui uma marcação distinta criada pelo baterista Jim Gordon. Pouco mais de um ano depois, essa faixa se tornaria bastante famosa por entrar na trilha sonora do filme Easy Rider – Sem Destino.

O MOTORISTA DO CAMINHÃO DA FARMÁCIA

Em meio a essa implosão, os Byrds entram em uma fase completamente nova de sua carreira, ficando para trás o período “clássico” do quinteto/quarteto original e um novo período de novos membros e sonoridade. E menos popularidade. Alguns poderiam dizer que isso é decadência, mas os Byrds continuaram sendo influentes e até realizaram pelo menos mais uma pequena revolução no mundo musical.

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Gram Parsons, o criador do country rock.

Desligados Clark e Clarke, McGuinn e Hillman procuraram reestruturar a banda e o primo do baixista, Kevin Kelley, foi admitido como novo baterista. Os Byrds se apresentaram como trio algumas vezes, mas isso empobrecia os arranjos da banda, especialmente aqueles mais psicodélicos que tinham adotado recentemente. Era preciso um quarto membro, um outro guitarrista!

Segundo a lenda, Chris Hillman encontrou Gram Parsons em um banco em Beverly Hills, os dois ficaram conversando e o baixista o convidou para o estúdio onde os Byrds estavam ensaiando. McGuinn perguntou se ele podia tocar piano como McCoy Tyner (que acompanhava Coltrane), e Parsons disse que não, mas que podia tocar como Floyd Kramer (pianista country de Nashville que tocara com Elvis Presley) e mostrou. Como era alguém que podia tocar guitarra e piano muito bem, Parsons foi imediatamente admitido nos Byrds.

Assim, Parsons ganhou endosso do empresário Larry Spector, porque vinha da experiência de uma banda prévia, a The International Submarine Band, que não fizera sucesso, mas causou uma grande impressão na crítica musical do sul do país.

Renovação nos Byrds: Kelley, Parsons, McGuinn e Hillman.

Gram Parsons era um músico country que tinha como missão pessoal tornar aquele gênero atrativo para a juventude. Por isso, há certa unanimidade entre os historiadores que ele foi o criador do country rock, um subgênero do rock que se tornaria em breve bastante popular nos EUA. Os Byrds já vinham flertando com o country, especialmente nas composições de Chris Hillman, então, Parsons parecia uma boa adesão; e a paixão de Parsons pelo estilo contaminou McGuinn, que reencontrou a música de sua infância, enquanto Hillman já tinha mais envolvimento direto desde sempre.

E coincidência ou não, a partir da entrada de Parsons, os Byrds adotaram um visual mais “limpo”, de cabelos curtos e roupas simples – rompendo com os cabelos grandes e as roupas coloridas da fase psicodélica – o que, sem dúvidas, ajudava na nova empreitada da banda: de circular pela fortíssima cena de country music do sul dos EUA, que era mais conservadora.

Após uma rodada de apresentações para azeitar a nova formação (Roger McGuinn na guitarra e vocais, Gram Parsons na guitarra, piano e vocais, Chris Hillman no baixo e vocais e Kevin Kelley na bateria) os Byrds entraram em estúdio no início de março de 1968, dessa vez não em Los Angeles como sempre fizeram, mas nos estúdios da Columbia em Nashville. Era um movimento calculado: gravar um disco inteiro baseado na sonoridade country na meca desse gênero musical.

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Os Byrds (com Gram Parsons ao centro) se apresentam no Grand Ole Oprey.

Iniciaram as gravações com a banda e um time de músicos de apoio com mais experiência no country, incluindo o já veterano colaborador Clarence White na guitarra solo e Lloyd Green, JayDee Maness e Sneaky Pete Kleinow no steel guitar. O discurso mais recente de McGuinn é que as gravações ocorreram sem percalços, num clima agradável bem diferente da era-Crosby, mas os biógrafos – e uma entrevista de Parsons para a Rolling Stone em 1973 – contam outra história, com Parsons indo com “muita sede ao pote” e tentando dominar a banda que acabara de entrar.

Uma das coisas que os biógrafos contam é que Parsons fez insistentes campanhas para que JayDee Maness fosse admitido como quinto membro dos Byrds, trazendo o steel guitar como componente fixo das apresentações, e como não foi atendido, depois insistiu em Sneaky Pete Kleynow. Ele não foi atendido, mas Maness realmente tocou com os Byrds como músico acompanhante em alguns shows após a gravação do disco, na área de Los Angeles.

Enquanto transcorriam as gravações a banda fez dois movimentos para se apresentar à cena country, o que foi um grande erro. Quando os Byrds inventaram o folk rock não enfrentaram a comunidade folk tradicional, que não ligava para a música popular, pois seu público eram os jovens que gostavam de rock e Beatles. Mas o country não era uma música de nicho de mercado tal qual o folk: era a expressão máxima da típica sociedade branca, cristã e conservadora do sul do país. Assim, quando os Byrds se apresentaram no Grand Ole Oprey, o mais tradicional festival de música country, mesmo em um set acústico, foram massacrados pela plateia. Era a primeira vez que uma banda de jovens cabeludos tocava no evento e foram recebidos com vaias e insultos, do mesmo modo que Bob Dylan quando tocou com uma banda de rock no tradicional Newport Folk Festival, três anos antes.

O passo errado seguinte foi ir ao tradicional programa de rádio de DJ Ralph Emery, onde apresentaram uma versão prévia do que seria a principal canção de trabalho do futuro álbum: uma versão de You ain’t goin’ nowhere (de Bob Dylan) em roupagem country rock, na qual foram desdenhados pelo apresentador, que criticou abertamente a “aventura” daqueles hippies. Chateados pelo ocorrido, McGuinn e Parsons compuseram a canção Drug store truck drivin’ man “homenageando” Emery e relatando o caso do embate entre os jovens “paz e amor” e a “grande geração” conservadora e amante da guerra.

Em abril de 1968, com as gravações ainda transcorrendo, o single You ain’t goin’ nowhere foi lançado e chegou ao respeitável 45º lugar das paradas.

Os Byrds voltaram para a Califórnia para trabalhar na pós-produção do disco no mês de maio e outros problemas aconteceram: o ex-empresário de Parsons apareceu e ameaçou processar a banda porque ainda estaria preso por contrato. McGuinn e o produtor Gary Usher usaram isso como desculpa para diminuir o “peso” de Parsons no disco, pegando três canções nas quais fazia os vocais principais e regravando vocais de McGuinn e Hillman nelas. O guitarrista ficou bastante chateado por isso, mas terminou aceitando. No fim, Parsons ainda canta outras três canções na versão final do disco: You’re still on my mind (Luke McDonald), Hickory wind (Parsons, Bob Buchanan) e Life in prison (Merle Haggard, Jelly Sanders), enquanto McGuinn faz a voz em cinco (incluindo o lead single) e Hillman em duas, com a dupla cantando outra em dueto.

Isso reforça a ideia de que realmente Parsons forçou muito a bola para ter mais espaço (do que o devido?) dentro da banda, o que ajudou a azedar as relações bem rápido.

Após alguns concertos pelos EUA, a banda seguiu para a Inglaterra no mês de julho para uma pequena turnê no país, com uma apresentação no Royal Albert Hall e uma sequência pelos clubes de Londres, como o Middle Earth. No primeiro concerto, a banda se encontrou com Mick Jagger e Keith Richards e este último desenvolveu uma imediata vinculação com Parsons e os dois se tornando muito amigos. A dupla dos Rolling Stones até levou os Byrds para visitar Stonehenge e tomar um pouco de ácido.

O passo seguinte da agenda da banda era uma turnê na África do Sul, país que vivia sob o regime do Aparthaid, a total segregação entre brancos e negros e que duraria até 1994. Era um movimento arriscado, pois existia um boicote a esse tipo de empreendimento naquele país. Jagger aconselhou o grupo a não ir, e Richards chegou a dizer que eles seriam expulsos do Sindicato dos Músicos se fizessem a turnê.

Mas McGuinn pensava que seria uma forma de protestar contra aquilo. Em uma entrevista a Uproxxy, ele entrou em detalhes sobre o tema:

O que aconteceu foi que eu estava com o The Chad Mitchell Trio [em 1963] e fizemos uma turnê com a [cantora sul-africana de jazz] Miriam Makeba no Sul. E foi um ambiente muito hostil, porque éramos quatro caras brancos com uma mulher negra em um carro, e eles nos chamavam de nomes e todo o tipo de coisa. E eu pedi desculpas a ela pela América. Ela disse: “você precisa ver o meu país. Se você tiver uma chance, vá para a África do Sul”.

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Gram Parsons e Keith Richards: inseparáveis.

Então, os Byrds decidiram ir para a turnê na África do Sul, ainda que tivessem exigido via contrato não tocar para plateias segregadas, mas Gram Parsons comunicou que não iria e estava fora da banda. Para McGuinn, menos um protesto, o ato era simplesmente uma desculpa para o guitarrista ficar farreando por Londres com Keith Richards, o que pode ser verdade. Reduzido a um trio, (e usando o roadie da banda, Carlos Bernal, como substituto na segunda guitarra) os Byrds seguiram para sua excursão à terra do Aparthaid, mas isso teve um custo.

Foi um desastre. Foi horrível! Nós recebemos ameaças de morte! Nós não tocamos para plateias misturadas como eles prometeram, exceto no Zimbague. Tivemos uma plateia misturada em um concerto a céu aberto. Mas o resto foi em lugares fechados e eu peguei gripe. E então, não fomos pagos.

Não somente isso, a reputação dos Byrds foi seriamente manchada por terem ido tocar na África do Sul e a imprensa caiu em cima deles. Foi um momento de muita tensão e agressividade. E, claro, chegou agosto de 1968, o álbum Sweetheart of the Rodeo chegou às lojas e os Byrds tinham perdido Gram Parsons e a nova formação do grupo, com uma nova proposta musical, durou apenas cinco meses!

Sweetheart of the Rodeo foi até bem recebido pela crítica, mas chegou somente à 77ª colocação, tornando-se o disco menos vendido da carreira dos Byrds. Os grandes destaques do álbum são o compacto You ain’t goin’ nowhere e You’re still on my mind, esta última cantada por Gram Parsons. Apesar das vendas baixas, o disco causou um grande impacto na cena musical de rock, pois era a primeira vez que um grupo internacionalmente famoso gravava um disco daquele jeito.

A empreitada dos Byrds foi a ponta de lança de todo um movimento de músicos norteamericanos procurando reencontrar suas raízes country, o que resultou no sucesso de bandas como The Band e Creedence Clearwater Revival, além da adesão de Bob Dylan com Nashville Skyline, todos lançados naquele mesmo ano. Muito em breve, o country rock se transformaria num firme subgênero do rock, revelando grupos como The Eagles, The Allman Brothers Band e Lynyrd Skynyrd. E todo eles foram tributários aos Byrds.

JÁ VIU O ROSTO DELE?

De volta a Los Angeles na época do lançamento do álbum, a banda precisava de um novo guitarrista, mas sem saber embarcaria numa montanha russa que mudaria completamente a cara da banda.

Clarence White: novo guitarrista.

Primeiramente, Chris Hillman sugeriu que seguissem o óbvio e contratassem Clarence White, o músico de estúdio que tinha tocado nos últimos três álbuns da banda. White era extremamente talentoso, quieto e tinha um estilo inovador de guitarra, fazendo blends com os dedos que simulavam o som tanto do slide quanto do steel guitar, sem usar dedais de metal. Isso fornecia uma instrumentação dinâmica que podia transitar pela abordagem tradicional quanto pelos licks típicos do country.

Essa técnica impressionou bastante Jimi Hendrix, que sempre ia conversar com White nos shows que assistia dos Byrds.

Gene Parsons: baterista e multi-instrumentista.

Rapidamente integrado à banda, White solicitou que mudassem de baterista, pois considerava Kevin Kelley fraco, algo que os outros tiveram que concordar. White indicou o amigo Gene Parsons (nenhum parentesco com Gram), um baterista com quem havia tocado numa banda country de curta duração chamada Nashville West, e que tinha a vantagem de ser um multi-instrumentista, que além de bateria, tocava guitarra, violão, banjo, bandolim e piano. E ainda compunha e cantava com um vozeirão grave de tenor.

Com a dupla McGuinn e Hillman à frente e dois novos músicos habilidosos por trás, tudo parecia que os Byrds iam decolar voo de novo após o fiasco de Gram Parsons e da África do Sul. Mas não seria assim: havia outros problemas infectando as relações do grupo.

Chris Hillman estava profundamente infeliz com os Byrds, machucado do fracasso no continente africano, chateado pelo clima de decadência em torno da banda (e sua distância cada vez maior do Top 40) e ainda irritado com a gestão financeira do empresário Larry Spector, que inclusive, não conseguiu receber o pagamento dos shows na África.

White, McGuinn, Hillman e Parsons: a formação perdida que durou apenas dois meses.

Ao mesmo tempo, ele reencontrou Gram Parsons em Los Angeles e os dois se reconciliaram, apostando no amor que ambos compartilhavam pelo country, e Parsons tentando convencê-lo de que podiam montar uma banda nova de sucesso.

A gota d’água para Hillman chegou em setembro de 1968, após um concerto em Pasadena, na qual teve uma briga de socos com Larry Spector, quebrou seu baixo no chão e se demitiu.

A formação McGuinn-Hillman-White-Gene Parsons não durou sequer dois meses e não gravou nada.

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Michael Clarke, Chris Hillman e Gram Parsons (os três da esquerda): três ex-Byrds no The Flying Burrito’s brothers.

Curiosamente, Hillman e Parsons montaram o The Flying Burrito’s Brothers, uma banda que nunca fez muito sucesso, mas foi bastante apreciada no circuito musical. Após o lançamento do primeiro álbum The Gilded Palace of Sin, em 1969, o grupo ainda adicionou outro ex-byrd: o baterista Michael Clarke. Como curiosidade, na nova banda, Hillman deixou de tocar o baixo e passou à guitarra.

O The Flying Burrito’s Brothers lançou apenas dois álbuns, mas foi uma banda muito influente no circuito musical, servindo para dar ainda mais holofotes ao talento de Gram Parsons.

McGuinn (abaixo à direita) permanece como único membro original dos Byrds, junto a John York, Clarence White (em cima) e Gene Parsons (abaixo).

Sem Hillman, Roger McGuinn se tornou o último dos membros originais dos Byrds a permanecer na banda e contratou o baixista de estúdio John York (que vinha trabalhando com The Mamas and the Papas). Assim ficou a nova formação do grupo: Roger McGuinn e Clarence White (guitarra e vocais), John York (baixo e vocais) e Gene Parsons (bateria e vocais); que entrou em estúdio imediatamente, em outubro, para gravação do álbum seguinte.

McGuinn dispensou Gary Usher como produtor e contratou o experiente Bob Johnson, que trabalhara com Bob Dylan, Simon & Garfunkel e Johnny Cash. Apesar do pouquíssimo tempo para se entrosarem antes das gravações, as gravações fluíram muito bem, porque White, York e Parsons eram experientes músicos de estúdio. Além disso, todos eram capazes de cantar muito bem. York também tocava piano e Gene Parsons podia facilmente contribuir com piano, guitarra, bandolim ou banjo às gravações. Isso contribuiu para a sonoridade do disco fosse muito bem resolvida, apesar da opção do grupo em mesclar a nova sonoridade country rock com o psicodelismo de sua fase anterior. A técnica de White transborda no disco e moldou a fase final da banda.

Na parte vocal, McGuinn decidiu assumir todos os vocais principais do álbum, porque todos os outros membros eram recém-ingressos. Assim, os outros fizeram apenas backing vocals, sendo este o único álbum da carreira dos Byrds na qual McGuinn faz todos os vocais principais.

Com uma capa horrenda, Dr. Byrds and Mr. Hyde foi lançado em março de 1969. Com a sólida instrumentação de White-York-Parsons, um tom psicodélico-country e algumas boas faixas, os grandes destaques são This wheel’s on fire (Bob Dylan, Rick Danko), Drug store truck drivin’ man (McGuinn, Gram Parsons – que não tinha sido gravada ainda), King Apathy III (McGuinn) e Candy (McGuinn, York).

Novamente, o disco foi bem recebido pela crítica, mas dessa vez, teve uma posição nas paradas ainda pior, chegando apenas ao 153º lugar nos EUA, embora o disco tenha sido – curiosamente – muito admirado na Inglaterra, chegando ao 15º lugar por lá e virando um hit.

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White, York, Parsons e McGuinn.

Como curiosidade, um concerto dos Byrds poucos dias antes do lançamento do álbum – onde tocam várias faixas do disco e do anterior – seria lançado em CD em 1999: The Byrds Live at Filmore West, February 1969, que é um registro sensacional. Algumas faixas – como Drug store truck drivin’ man e King Apathy III são ainda melhores ao vivo do que em estúdio. Também há algumas faixas inéditas, como a ótima Close up the honky tonks.

Mas a banda ganhou uma boa dor de cabeça com seus produtores. Primeiro, a gravadora Columbia tentou resgatar a velha tática de lançar um cover de Dylan para ganahar algumas posições nas paradas. Então, a banda retornou ao estúdio com Bob Johnson trabalhar numa versão para Lay lady lay (que seu compositor tinha lançado há pouco tempo), o que foi feito – mas Johnson acrescentou um forte coro de vozes femininas na gravação sem que a banda soubesse, o que só descobriram depois do lançamento do single (em maio), e isso os deixou muito chateados e romperam com o produtor.

Refletindo o mal estar da banda, o compacto só chegou ao 132º lugar das paradas, causando para sempre a impressão de que a versão original dos Byrds poderia ter se saído melhor. (A versão original seria lançada nos anos 1990 na reedição em CD dos discos e realmente é melhor).

E veio a segunda dor de cabeça: enquanto os Byrds corriam os EUA promovendo o disco novo, o ex-produtor da banda, Gary Usher comprou (do ex-empresário Jim Dickson) a série de demos da banda gravada no Pacific World’s Studios em 1964, antes do contrato com a Columbia, e os lançou como o álbum Preflyte, por sua gravadora Together, em julho de 1969. A capa trazia uma infame imagem da cabeça dos cinco membros originais dos Byrds em meio a um ninho de pássaros e trazia o grupo bem em seu início executando prioritariamente suas primeiras composições, trazendo assim, sete faixas totalmente inéditas, das quais cinco eram de autoria de Gene Clark. Também havia uma versão prévia de Mr. tambourine man.

Mostrando que a banda original ainda tinha algum apelo, Preflyte teve um desempenho nas paradas ainda melhor do que Dr. Byrds and Mr. Hyde, chegando ao 84º lugar e ainda rendendo um hit quando a faixa You showed me (de Jim McGuinn e Gene Clark) foi regravada pela banda californiana The Turtles e chegou ao 6º lugar das paradas dos EUA. Tudo criando uma situação embaraçosa com a versão corrente do grupo.

Talvez, esse sucesso tenha motivado a gravadora a demandar que a banda retornasse ao estúdio e gravasse outro álbum rápido, e McGuinn decidiu trazer de volta o produtor Terry Melcher – que tinha feito os dois primeiros da banda – e este aceitou com a condição de também empresariar o grupo para evitar com Larry Spector os problemas que teve com Jim Dickson quatro anos antes. Ainda com a boca amarga da saída de Chris Hillman, McGuinn aceitou e Melcher virou também o novo empresário dos Byrds.

Enquanto a banda passava os meses de junho e agosto de 1969 no estúdio fazendo novo material, um golpe de sorte os atingiu. Naquele verão, o ator Peter Fonda havia se unido ao ator-diretor Dennis Hopper e a estrela em ascensão Jack Nicholson e produziram o filme-símbolo da contracultura: Easy Rider – Sem Destino. Fonda queria que a trilha sonora fosse um real retrato do rock da época e foi a Nova York exibi-lo para Bob Dylan criar a trilha. Dylan rabiscou num guardanapo um pedaço de letra, mas não conseguiu chegar a uma canção satisfatória, então, entregou o papel a Fonda e lhe instruiu a dar para Roger McGuinn.

Em sua casa em Los Angeles, McGuinn recebeu o ator e o guardanapo e criou a canção Ballad of easy rider musicando aqueles versos de Dylan, ainda que este, depois, pediu que seu nome fosse tirado dos créditos. A nova faixa virou a grande atração da trilha sonora de Easy Rider e também batizou o novo álbum dos Byrds.

Ballad of Easy Rider foi lançado em novembro de 1969, chamando a atenção pela faixa-título que foi usada no filme. (Sem Destino também trouxe a canção Wasn’t born to follow, de Notorious Byrds Brothers). A vinculação com o filme, que fez bastante sucesso, e talvez a exposição de Preflyte, ajudaram nas vendas e o novo álbum chegou ao ótimo 36º lugar das paradas dos EUA e ao 41º no Reino Unido. O single com a faixa-título chegou ao 65º lugar e o segundo compacto, com Jesus is just all right (de Arthur Reynolds – esta canção seria anos mais tarde regravada pelos The Doobie Brothers com grande sucesso), ficou em 97º. Estas duas canções terminam sendo o grande destaque do álbum, pois a maior parte do repertório foi formada por covers de canções tradicionais, embora as canções reforçaram a sonoridade country rock da banda.

McGuinn só assina a faixa-título, enquanto John York contribui com Fido e Gene Parsons com Gunga din, cada um fazendo o vocal principal nelas. Há ainda uma versão de It’s all over now baby blue (Bob Dylan), mas o andamento excessivamente lento a deixou estranha. Voltando à tradição, nesse álbum não apenas McGuinn faz os vocais, mas todos os outros membros assumem alguma faixa como cantor principal.

Foi um bom momento para a banda, que ganhou mais visibilidade e incrementou seus shows, mas na realidade, a despeito do sucesso, Ballad of Easy Rider, como álbum, era muitíssimo inferior a Dr. Byrds and Mr. Hyde, Sweetheart of the Rodeo ou The Notourious Byrds Brothers, refletindo o menor empenho de McGuinn na composição de faixas originais e a falta de compositores como Clark, Crosby ou Hillman para lhe dar suporte, ainda que York e Parsons tenham se esforçado com suas composições originais.

Todavia, quando o álbum chegou às lojas, o baixista John York já tinha sido demitido da banda há dois meses. York parecia não estar muito feliz com seu papel no grupo e era sempre relutante em tocar o (farto) material do grupo anterior à sua entrada. De comum acordo, os demais membros acharam que era melhor que ele saísse. Assim como no caso do próprio demitido, novamente foram White e Parsons quem indicaram o substituto: Skip Battin, um músico que tocava ao vivo com vários artistas.

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A mais longeva formação: Gene Parsons, Skip Battin, Roger McGuinn (embaixo) e Clarence White.

Assim, a nova formação dos Byrds ficou a seguinte: Roger McGuinn e Clarence White (guitarras e vocais), Skip Battin (baixo e vocais) e Gene Parsons (bateria e vocais); e por incrível que pareça, essa seria a formação mais duradoura da banda em toda a sua história, tocando ao vivo por três anos!

A banda iniciou o ano de 1970 fazendo mais shows e, apesar do ingresso recente de Battin, todos concordavam que estavam suficientemente azeitados para finalmente realizar uma gravação ao vivo. De fato, diferente dos tempos do inícios, agora, os Byrds eram formados apenas por músicos de alto calibre em termos de execução, o que fazia com que os concertos do grupo fossem muito apreciados. Isso ajuda a explicar, também, porque apesar de ter uma carreira fonográfica apenas mediana em termos de sucesso, os Byrds se mantiveram vivos e ativos aquele tempo todo, pois eram um dos grupos com maior sucesso em uma carreira de apresentações pelo país.

Então, a banda gravou dois shows em Nova York, em fevereiro e março de 1970 (um no Queens College e outro no Felt Forum), com produção de Terry Melcher para transformar em um álbum. O produtor, inclusive, convidou o ex-empresário da banda, Jim Dickson, para ajudar na mixagem dos tapes. Os Byrds passaram a maior parte do ano excursionando pelos EUA, aproveitando o surto de popularidade causado pelo álbum anterior, parando apenas um pouco em maio e junho para gravar novas canções. Roger McGuinn tinha trabalhado em um projeto de musical para a Broadway com o letrista Jacques Levy, mas como o projeto não foi adiante, decidiu usar algumas das canções para compor o novo disco. Como as faixas foram consideradas boas, a banda decidiu – à moda do que tinha feito o Cream dois anos antes – lançar um disco que misturasse faixas ao vivo e em estúdio, embora num formato duplo.

(Untitled) foi lançado em setembro de 1970 e causou uma ótima impressão aos críticos (como de costume), mas também atingiu o gosto popular, chegando ao 40º lugar das paradas dos EUA e, melhor ainda, ao 11º lugar no Reino Unido. Outro sucesso! Com isso, a popularidade alcançada com os discos anteriores aumentou mais ainda e a banda se aproximou novamente do mainstream depois de muito tempo. O single extraído do disco foi Chesnut mare (McGuinn-Levy), que chegou ao 121º lugar das paradas dos EUA, mas se deu bem melhor no Reino Unido, onde ficou na posição 19 do ranking. A canção seria um grande hit no rádio nos EUA ao longo dos anos 1970.

No álbum duplo, o primeiro disco era de material ao vivo, com novas rendições de So you want to be a rock’n’roll star, Mr. tambourine man e Mr. spaceman, além de Lover of the bayou (de Ballad of Easy Rider) e Nashville west (de Dr. Byrds and Mr. Hyde) e a inédita versão de Possibility 4th street (de Bob Dylan). Todo o Lado B do disco ao vivo era ocupado por uma impressionante versão de 16 minutos de Eight miles high. O palco mostra uma banda mais agressiva e afiada, tocando exemplarmente as faixas antigas em arranjos bastante novos.

No disco de estúdio, além de Chesnut mare, merece destaque Yesterday’s train (de Gene Parsons e Skip Battin). O baixista, inclusive, assina um grande número de faixas, como Hungry planet (Battin, Kim Fowley e Roger McGuinn), You all look alike (Battin-Fowley) e Well come back home (Battin).

Os Byrds aproveitaram o boom de popularidade e conseguiram agendar outra turnê pela Europa e Reino Unido no mês de maio de 1971. A excursão foi um grande sucesso, com ingressos esgotados e a crítica europeia rendida ao talento da banda ao vivo. Em 2008, um dos concertos na Inglaterra foi lançado como disco em The Byrds Live at Royal Albert Hall 1971, que é um ótimo exemplo do que foi aquele momento.

VOCÊ NÃO VAI A LUGAR NENHUM

Infelizmente, a banda cometeu um erro de cálculo: em vez de se dedicar para produzir um disco ainda melhor, realizou uma série de gravações avulsas intermediadas por concertos. Assim, do mesmo modo que Bob Johnson antes dele, o produtor Terry Melcher pegou as canções gravadas e acrescentou sequências de orquestra e coro feminino à revelia da banda. Quando os Byrds viram o material, solicitaram à gravadora que as adições fossem retiradas, mas a Columbia não aceitou, alegando que isso aumentaria os custos do álbum.

Byrdmaniax (título que fazia alusão ao inesperado sucesso do grupo) foi lançado meio às pressas em junho de 1971 e embora tenha se beneficiado da popularidade da banda, foi massacrado pela crítica dos EUA, que até então elogiara quase todos os álbuns do grupo. A banda foi cruelmente declarada “morta” pela revista Rolling Stone. Em contrapartida, a imprensa do Reino Unido foi mais condescendente. Ainda assim, atingiu o 46º lugar das paradas dos EUA (um resultado extremamente respeitável e bom), mas não apareceu na Inglaterra de jeito nenhum.

O compacto com I trust (McGuinn-Levy) também não apareceu em nenhuma das duas paradas. Um segundo compacto com Glory, glory (outro gospel de Arthur Reynolds) foi lançado e chegou ao 110º lugar nos EUA. Novamente, Skip Battin e Gene Parsons contribuíram com composições, mas os poucos destaques cabem a I wanna grow up to be a polititian e Katheen’s song (ambas de McGuinn-Levy), a primeira (apesar de ser um pastiche) porque saiu em algumas coletâneas posteriores da banda; a segunda porque era uma canção que vinha “bolando” pelos últimos discos do grupo e finalmente viu a luz do dia. Durante as sessões, a banda ainda gravou uma versão para Just like a woman (de Bob Dylan), mas ela não saiu no disco, sendo lançada mais tarde nas versões bônus dos anos 2000.

NÃO NASCI PARA SEGUIR

O grupo ficou tão chateado com o resultado de Byrdmaniax que decidiu não só produzir o próximo álbum sozinhos, como também, fazê-lo imediatamente. Já que iam para a Inglaterra fazer novas apresentações no fim de julho de 1971, os Byrds aproveitaram para gravar nos estúdios londrinos da Columbia, longe de seu staff tradicional. Além disso, a banda também decidiu gravar um disco majoritariamente de seu próprio material autoral.

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A icônica imagem usada em várias coletâneas.

A despeito da fraqueza do disco anterior, as boas vendas e o bom resultado das paradas foram suficientes para a subsidiária britânica da Columbia aproveitar a passagem do grupo pelo país e preparar uma coletânea chamada The Byrds’ Greatest Hits Vol. II (um tipo de sequência daquela coletânea de quatro anos antes), em outubro de 1971. O disco trazia um set-list de 12 faixas entre as principais lançadas desde a versão anterior, mas ao contrário de seu predecessor, simplesmente não aconteceu nas paradas.

O disco ganharia uma versão nos EUA em 1972, com o título de The Best of The Byrds: Greatest Hits Vol. 2 (e chegaria ao 114º lugar). Este disco traria a famosa fotografia do quarteto McGuinn, White, Battin e Parsons em perfil, que se transformaria em uma das imagens mais famosas da banda, repetida em vários outros lançamentos posteriores.

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Farther Along, 1971.

A empreitada britânica dos Byrds chegou às lojas em novembro de 1971: Farther Along recebeu críticas melhores do que o anterior, embora também não tenham sido entusiasmadas. A imprensa dos EUA achou que o disco foi gravado rápido demais e poderia ter sido melhor trabalhado, enquanto a do Reino Unido apreciou o tipo de produção mais simples. O disco chegou apenas ao 152º lugar das paradas dos EUA e não aconteceu no Reino Unido. O compacto America’s great national pastime (Battin-Fowley) também não aconteceu em nenhuma das duas paradas. O disco apresenta uma sonoridade agradável, que começa a se distanciar do country rock rumo a um som que mescla várias das influências da banda para uma sonoridade mais rock e tem alguns destaques, como Get down on line (de Gene Parsons – que canta maravilhosamente bem), a faixa título (uma canção tradicional, cantada com emoção por Clarence White) e Bugled (de Larry Murray), também cantada por White. Há ainda Precious Kate (Battin-Fowley), que apesar da autoria, é cantada por McGuinn, talvez revelando a ausência de material próprio do líder da banda.

Visto em retrospecto, fica muito evidente o esgotamento autoral de McGuinn (talvez, um cansaço inconsciente de tudo aquilo) ao mesmo tempo em que Battin e Parsons levavam o grupo nas costas no sentido autoral, já que White – a despeito de seu ótimo trabalho nas guitarras – não compunha. Mas no todo, é um bom disco, com os destaques sendo marcantes, embora distantes do sentimento de qualidade clássica de outrora.

ENERGIA ARTIFICIAL

A má recepção em geral do álbum só serviu para diminuir a moral da banda, criando a clara impressão de que o fim da linha estava próximo. Embora o grupo tenha se apresentado ostensivamente no primeiro semestre de 1972, a tensão estava intensa dentro do grupo. Como resultado, em junho, o baterista Gene Parsons foi demitido por Roger McGuinn, dando fim à estabilidade que o grupo tivera por três anos mantendo a mesma formação. Os Byrds nunca mais tiveram um baterista oficial, mas contrataram o baterista de estúdio John Guerin como um músico de apoio. A formação McGuinn, White, Battin e Guerin gravou versões ao vivo de Mr. tambourine man e Roll over Beethoven (de Chuck Berry) que aparecem no filme Banjoman e em sua trilha sonora, em 1972.

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White, Parsons, McGuinn e Battin: fim de era.

Curiosamente, o que estava acontecendo nos bastidores era a inesperada proposta de uma reunião dos cinco membros originais dos Byrds! O que aconteceu foi que, naqueles tempos, David Crosby se tornara um dos roqueiros mais famosos do mundo como parte do fenômeno Crosby, Stills, Nash & Young, um dos maiores símbolos da Era Woodstock. Mas em 1971, o quarteto se separou para se dedicar às carreiras individuais e Crosby lançou um bem recebido álbum solo. Sua popularidade gerava curiosidade sobre a velha formação dos Byrds e a lembrança de que Gene Clark também era um grande compositor.

Crosby, Young e Stills nos concertos de 1974: em estádios pela primeira vez.

Então, em julho de 1972, o produtor David Geffen, da Asylum Records (gravadora que produzia muita da nova folk song pós-CSNY), ofereceu a Crosby uma enorme quantidade de dinheiro para o quinteto para assinar com seu selo. Crosby partiu na missão de recrutar os velhos companheiros.

Ele teve uma reunião com McGuinn na casa deste, em L.A. onde falaram sobre a banda, e Crosby lhe disse que, apesar de algumas boas canções, a versão contemporânea dos Byrds não estava apresentando um material à altura do legado da banda, o que McGuinn teve que admitir. A ladainha encontrou ouvidos receptivos – provavelmente, alimentados pelo desânimo e a terrível sensação de decadência e iminência do fim que devia sentir – e Crosby o convenceu de que os verdadeiros Byrds eram o quinteto original e se eles não estavam juntos, não devia existir The Byrds. McGuinn concordou.

Foi traçado um plano em que, enquanto os Byrds “oficiais” (McGuinn, White e Battin, mais Guerin) faziam seus shows pelo país, cumprindo a agenda já firmada de compromissos; o quinteto original (Roger McGuinn, Gene Clark, David Crosby, Chris Hillman e Michael Clarke) se reuniria para ensaiar faixas novas em outubro daquele ano e seguiria para um estúdio em Los Angeles, onde gravaram o material em pouco mais de um mês.

Crosby, McGuinn, Clark e Hillman trabalhando juntos de novo em estúdio.

Tudo ocorreu mais ou menos bem: cada qual dos membros (à exceção do baterista Clarke) trouxe um par de composições próprias para serem trabalhadas pelo grupo e os arranjos começaram a se montar. Contudo, havia alguns desafios: agora, Crosby era o mais famoso e, portanto, ocupou o papel de chefe, líder, coordenador e produtor – e ele era caótico demais para esse papel. De maneira menos agressiva e mais natural, Clark se impôs como destaque, por sua voz e por suas composições. E McGuinn, que não vinha numa fase prolífica da carreira, estava ocupado gravando o disco e fazendo shows com a outra versão dos Byrds, o que lhe dava menos tempo para ficar no estúdio e gerou nele a sensação de ficar meio alheio e por fora do trabalho.

Mas o quinteto chegou ao final e aprontou o novo álbum, e ficou a promessa de que se reuniriam novamente quando o álbum fosse lançado na primavera.

White, McGuinn e Battin.

Enquanto isso, McGuinn permaneceu tocando ao vivo com os “outros” Byrds (White e Battin), mas talvez o guitarrista já soubesse que o fim estava próximo. Em janeiro de 1973, o baterista contratado John Guerin decidiu voltar para o mais rentável trabalho nos estúdios e outros músicos itinerantes tocaram com a banda no mês seguinte.

Então, veio o último suspiro: no início de fevereiro, McGuinn demitiu o baixista Skip Battin, após um show em Ithaca, em Nova York, e para fechar os dois compromissos restantes, convidou Chris Hillman para ocupar o posto momentaneamente para dois concertos em Nova Jersey nos dias 23 e 24 de fevereiro.

Hillman concordou desde que pudesse levar o baterista Joe Lala, seu parceiro de composições e membro da banda Manassas, na qual Hillman também tocava naqueles tempos. Foi essa formação temporária, com Roger McGuinn, Clarence White, Chris Hillman e Joe Lala que fez o último concerto dos Byrds, no dia 24 fevereiro de 1973, encerrando na prática a carreira do grupo.

VINDO DE VOLTA

McGuinn cancelou todos os shows seguintes dos Byrds, preparando o terreno para o lançamento do disco da reunião do quinteto original e os concertos que viriam em seguida.

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Clark, Hillman, Clarke, Crosby e McGuinn: a velha turma.

O álbum Byrds foi lançado em março de 1973, trazendo a formação original da banda, com Roger McGuinn (guitarra e vocais), Gene Clark (guitarra, gaita e vocais), David Crosby (guitarra e vocais), Chris Hillman (baixo, bandolim e vocais) e Michael Clarke (bateria). A intenção do disco era capitanear no nome que a banda ainda tinha (especialmente em sua incarnação inicial) e na ideia de um “supergrupo“, seguindo o sucesso de David Crosby no Crosby, Stills, Nash & Young e de Chris Hillman no The Flying Burrito Brothers (ao lado de Gram Parsons) e do Manassas (ao lado de Stephen Stills). Por isso, o disco tem o nome de todos os integrantes na capa.

Byrds tem uma sonoridade agradável, mais calcada no folk do que no country que acompanhou as últimas encarnações do grupo e canções interessantes, mas não agradou a crítica. O disco foi incrivelmente bom nas paradas, atingindo o 20º lugar das paradas dos EUA e o 31º do Reino Unido (as melhores posições desde que o quinteto estivera reunido), mas a crítica parece ter criado uma expectativa diferente do trabalho. Talvez todos pensavam que iriam ver de novo a guitarra de 12 cordas estridente e os covers de Bob Dylan do início. Ao contrário, o disco traz uma sonoridade mais calma, pontuada muito mais em timbres acústicos e um acento folk, embora permanecessem as harmonias vocais cristalinas de outrora. Ao invés de olharem para o passado, os Byrds preferiram investir no ponto em que estavam em suas carreiras, o que faz o disco soar mais parecido com Crosby, Stills, Nash & Young do que com Mr. tambourine man. E isso é ótimo!

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Byrds, 1973.

Curiosamente, o resultado final do álbum também parece um certo acerto de contas dos demais com Roger McGuinn, o único que permaneceu levando o nome da banda adiante. Em primeiro lugar, o cargo de produtor do álbum coube a David Crosby, de todos, o que teve a carreira mais exitosa até ali.

Para evitar conflitos e disputas, o combinado foi que cada membro compositor teria direito a duas faixas do disco e depois veriam o que fazer com o espaço sobrante. Assim, cada um cumpriu sua meta, mas o fato de McGuinn também estar ocupado fazendo shows com os “outros” Byrds na época das gravações, o deixou ausente de muitas sessões, então, além do par combinado, Crosby canta um cover de Joni Mitchel e Clark dois covers de Neil Young. Este último ponto também foi alvo de críticas, porque a imprensa esperava canções de Dylan e não de Young, mas Crosby foi eloquente e certeiro em uma resposta que ficou famosa: se Dylan tinha sido o maior compositor dos anos 1960, Young era o maior dos 1970. Outra vez olhando para frente. McGuinn só faz o vocal principal em duas faixas.

Byrds abre com Full circle – que quase foi o título do álbum – uma composição de Gene Clark e talvez a melhor faixa do disco. Ela foi lançada em compacto, mas chegou apenas ao 109º lugar. Depois, vem Sweet Mary (McGuinn-Levy), em contrapartida, a pior faixa do disco. O álbum levanta de novo com Changin’ heart (Clark) e continua com For free (Mitchel), cantada por Crosby. O primeiro lado fechava com Born to rock’n’roll (McGuinn), uma boa composição do ex-líder, mais agitada.

O Lado B começa com Things will be better (Hillman, Dallas Taylor), primeiro vocal principal do baixista no disco e uma ótima faixa. Segue Cowgirl in the sand (Young) numa ótima versão cantada por Clark; Long live the king (Crosby); Borrowing time (Hillman, Joe Lala); Laughing (Crosby), outra ótima faixa e um dos grandes destaques; e (See the sky) About to rain (Young), também cantada por Clark. Além da dominância de Clark ao longo do álbum, nota-se curiosamente que a participação vocal de destaque de McGuinn se encerra já no Lado A.

ESTÁ TUDO ACABADO, NEGRO AMOR

Infelizmente, a má recepção da crítica ao disco encerrou qualquer possibilidade dos Byrds originais seguirem em turnê ou manter outras reuniões como planejado. Os próprios membros também acharam o disco “morno” e sem destaques e não se sentiram animados para continuar o trabalho. Assim, o lançamento do disco marca, também, o fim oficial da banda, fechando seu círculo com a mesma formação que começou após tantos anos, em meados de 1973.

Clarence White.

Seguindo-se ao fim do grupo, os ex-membros seguiram suas carreiras, mas nem tudo foram rosas. Clarence White morreu em 14 de julho de 1973, aos 26 anos, atropelado por um motorista de caminhão bêbado, enquanto descarregava seu equipamento de uma van. No funeral do guitarrista, o também ex-Byrds Gram Parsons cantou (ao lado do membro do Eagles, Bernie Leadon) a canção Farther along, que White havia cantado no álbum homônimo dos Byrds.

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Gram Parsons: lenda e fim.

Gram Parsons tinha sido expulso do The Flying Burrito Brothers no início de 1971, por causa de seu abuso de drogas (e de novo por preferir acompanhar as farras de Keith Richards do que se manter com sua banda), e passou um tempo inativo (quando se mudou para a França e viveu com os Rolling Stones numa roda viva de farras), mas tinha reencontrado o caminho ao lançar, no início de 1973, o álbum G.P., que não fez sucesso, mas foi aclamadíssimo pela crítica. Antes do lançamento do seu segundo disco solo (Gravies Angel), Parsons terminou morrendo de overdose de morfina e álcool em 19 de setembro de 1973, também aos 26 anos, e apenas dois meses após o falecimento de White.

Enquanto isso, os ex-membros originais experimentaram doses variáveis de sucesso. Roger McGuinn lançou seu primeiro álbum solo, autointitulado logo em julho de 1973, o que reforça a ideia que se criou ao redor do último álbum da banda de que os membros-compositores pouparam seu melhor material para seus próprios lançamentos, à exceção de Gene Clark.

Falando nele, Gene Clark retomou sua carreira solo e lançou aquele que muitos consideram seu melhor trabalho individual: No Other, em 1974; seguindo-o de Two Sides of Every Stories (1977). Como sempre, Clark encontrou aclamação da crítica e nenhum sucesso. Chris Hillman também se lançou em carreira solo, mas continuou a trabalhar com suas bandas, como Manassas e Souther-Hillman-Furay Band.

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O CSN em ação nos anos 1980.

David Crosby se reuniu ao CSN&Y para uma grande turnê por estádios, em 1974; gravou um disco como Crosby & Nash e retomou o Crosby, Stills and Nash com o álbum CSN, em 1977, e um enorme sucesso.

Até o baterista Michael Clarke encontrou o sucesso, ingressou na banda Firefall, em 1974, com ex-membros do Flying Burritos, que prosseguiu emplacando pequenos sucessos ao longo da década seguinte.

VOCÊ AINDA ESTÁ EM MINHA MENTE

Ainda assim, ocorreram algumas pequenas semi-reuniões dos Byrds nos anos seguintes, de algum modo demonstrando que a chama do grupo poderia ter sido acessa depois. Inspirados no amigo Crosby, em 1977, McGuinn, Clark e Hillman se reuniram como um tipo de supergrupo que lançou dois discos: McGuinn, Clark & Hillman (1978) e City (1979), ainda rendendo o hit Did you write her off?, que chegou ao Top 40. Em seguida, Clark se desligou dos companheiros, mas McGuinn-Hillman continuou unido, lançou um álbum em 1980 e encerrou as atividades em 1981.

McGuinn, Clark e Hillman: reunião.

Em 1985, Gene Clark propôs aos demais membros originais da banda que fizessem uma turnê de comemoração dos 20 anos de Mr. Tambourine Man, mas o baterista Michael Clarke foi o único que se interessou, então, a dupla reuniu uma banda-tributo (que incluiu até o baixista John York, além de ex-membros de The Band e Beach Boys) para lucrar no mercado de covers, o que enfureceu os fãs mais hardcores e os outros membros. Mas ainda assim, o grupo – às vezes apenas com Clarke – prosseguiu fazendo shows até 1987.

Em 1988, na reabertura do lendário clube de música folk Ash Grove, em Los Angeles, McGuinn, Crosby e Hillman terminaram aparecendo para se apresentarem e se uniram de improviso no palco, tocando velhos sucessos dos Byrds. Isso gerou bastante espaço na imprensa e Michael Clarke aproveitou isso e reativou a banda cover (recrutando Skip Battin, dessa vez), aproveitando a ocasião para registrar o nome The Byrds como sua propriedade.

Dylan, McGuinn, Crosby e Hillman em 1990.

Isso gerou um processo judicial de McGuinn, Crosby e Hillman contra Clarke e Clark (por causa de sua iniciativa de 1985), mas em maio de 1989, a Justiça deu ganho de causa ao baterista e ele permaneceu com a propriedade do nome. Em retaliação, o trio McGuinn, Crosby e Hillman apareceu com o nome The Original Byrds em um concerto tributo ao cantor Roy Orbison, em 1990, e ainda tocaram Mr. tambourine man ao lado de Bob Dylan.

As gravadoras pareciam estar do lado do trio, pois a Columbia decidiu lançar um box set reunindo sucessos e material inédito dos Byrds, bem ao gosto da moda da época, então, McGuinn, Crosby e Hillman gravaram quatro novas canções que foram incluídas na coleção como uma “reunião” dos Byrds, com Path of victory e From the distance, na The Byrds Box Set em 1990.

MINHAS VELHAS IMPRESSÕES 

Apesar dos problemas, os cinco membros originais (McGuinn, Clark, Crosby, Hillman e Clarke) puseram as rusgas de lado em janeiro de 1991 quando os Byrds foram introduzidos no Hall da Fama do Rock and Roll. O quinteto compareceu à cerimônia e tocou três canções: Turn! Turn! Turn!, Mr. tambourine man e I’ll feel a whole lot better, sendo a primeira vez que tocavam juntos desde 1973. E infelizmente, a última!

Former members of the Byrds assembled onstage (L-R) Mike Clarke, David Crosby, Roger McGuinn, Chris Hillman & Gene Clark; Rock & Roll Hall of Fame dinner. (Photo by Robin Platzer/Getty Images)

Os demais membros dos Byrds – incluindo músicos célebres como Gram Parsons e Clarence White – foram ignorados pela premiação.

Logo depois da cerimônia, em 24 de maio de 1991, Gene Clark morreu pela hemorragia de uma úlcera, causada por anos de abuso de álcool. Não tão depois, foi a vez de Michael Clarke, que morreu em 19 de dezembro de 1993, vítima de uma doença no fígado, também fruto de excesso de álcool.

Com a morte dele, alguns dos músicos de sua banda cover decidiram retomar a ação – recrutando Skip Battin e Gene Parsons – e prosseguiram em ação até a década seguinte, embora usando outro nome.

Os Byrds tiveram uma última reunião informal em agosto de 2000, em um concerto beneficente em que David Crosby e Chris Hillman iriam tocar separadamente, mas a aparição de Roger McGuinn os incentivou a se reunirem de improviso no palco e tocarem Turn! Turn! Turn! e Mr. tambourine man.

Crosby comprou os diretos do nome The Byrds.

Em 2002, Crosby conseguiu comprar os direitos do nome da banda da família de Michael Clarke e passou a ser o proprietário do espólio. Crosby e Hillman manifestaram interesse em retormar a banda, mas McGuinn sempre se mostrou contrário à ideia, então, nada mais aconteceu.

Em 2002 e 2003 outros dois ex-membros da banda faleceram: o baterista Kevin Kelley morreu de causas naturais e Skip Battin morreu vítima de Alzheimer.

Crosby e McGuinn tiveram um pequeno debate público pelas homenagens de 2018.

O último movimento na seara dos Byrds foi em 2018, quando McGuinn decidiu realizar um turnê em homenagem aos 50 anos do aclamado e lendário disco Sweetheart of the Rodeo, recrutando Hillman (que também tocou no álbum) para a empreitada. Eles não usaram o nome The Byrds, mas tocaram o álbum na íntegra e outras faixas da fase mais famosa do grupo.

Crosby ficou um pouco irritado por não ter participado, mas McGuinn esclareceu em entrevistas que não era uma volta dos Byrds, mas apenas uma celebração pontual daquele álbum.

A banda se foi e o legado ficou. A sonoridade folk do grupo teve grande influência em todo o movimento pós-punk, especialmente naquilo que viria a ser chamado de indie rock, com sua sonoridade refletida em bandas como U2, R.E.M., The Smiths, Stone Roses e muitas outras.

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Clarke, Hillman, McGuinn, Crosby e Clark.