DCU terá reboot do zero? Henry Cavill não será mais o Superman? O que está acontecendo com a nova direção da DC Comics nos cinemas?

Nesta semana que passou os fãs da DC Comics foram aturdidos com uma série de notícias desoladoras sobre o futuro do DCU, o universo cinematográfico dos personagens da editora de Superman, Batman e Cia. O que podemos dizer sobre essas notícias? Haverá um reboot do zero? Henry Cavill não será mais o Superman? A participação de Ben Affleck em Aquaman 2 foi apagada? Vamos refletir sobre isso com base nos reportes da imprensa…

Tudo começou com uma bombástica matéria do The Hollywood Reporter: segundo suas fontes, a nova direção do DCU, o diretor James Gunn e o produtor Peter Safran, iriam promover um reboot do zero, ou seja, reiniciar totalmente o universo cinematográfico da DC, o que significaria que o recém anunciado de volta Henry Cavill não seria mais o Superman, apesar de ter acabado de estrelar a cena pós-créditos de Adão Negro, prometendo um embate com o anti-herói de Dwayne “the Rock” Johnson.

E a notícia ainda veio acompanhada de outras em outras mídias, que diziam, por exemplo, que a proposta de roteiro (em inglês, eles chamam de pitch) de Mulher-Maravilha 3 entregue pela diretora Patty Jenkins não teria sido aceita. E que outros pitchs de O Homem de Aço 2 também não. E que houve exibições testes de Aquaman e o Reino Perdido e que a participação do Batman de Ben Affleck – outro retorno anunciado há pouco tempo – também não estava mais presente…

O que está acontecendo?

Honestamente, se a matéria original não tivesse sido publicada pelo THR nem estaríamos aqui comentando, porque parece muito o tipo de notícia sensacionalista e sem grande fundamento que a mídia especializada adora jogar na rede para gerar engajamento. O chamado click-baite. Há algo de estranho nessa história, e me surpreende de verdade que um veículo responsável como o THR, que tem uma ótima reputação tenha entregue uma história dessas. A menos que seja verdade…

Mas é preciso pensar que outros veículos, como a Variety ou a Forbes não se pronunciaram sobre isso dessa forma, e é importante salientar que, apesar do THR (e outros como o Deadline) gozarem de veículos muito responsáveis em suas notícias, também é importante notar que ambos noticiam rumores com alguma frequência, mesmo que tenham uma maior preocupação de checarem as fontes do que a maioria de seus concorrentes menos importantes. Por outro lado, veículos como os citados Variety e Forbes não costumam noticiar rumores e só trazem notícias com fontes credenciadas por meio de canais oficiais, o que aumenta muito o índice de confiança.

Dito isso, algumas coisas complicam a notícia do THR. Entre elas a revelação recente do Deadline de que o anúncio do retorno oficial de Henry Cavill ao papel de Superman, feito pelo próprio ator no Twitter teria sido feito a partir de um acordo com a Warner, já que surgiram boatos recentes de que ele teria feito isso à revelia do estúdio. Isso não é verdade, de acordo com o Deadline. Mas o anúncio ocorreu no dia anterior à revelação de Gunn e Safran como novos líderes do DCU e ficou a dúvida se o acordo anterior ainda está valendo.

Para completar o caldo, em dias recentes foi revelado que o produtor e roteirista Charles Roven teria apresentado um pitch de O Homem de Aço 2 para os presidentes da Warner Pictures, Michael De Luca e Pam Abdy, que cuidavam do DCU enquanto Gunn e Safran não chegavam, e a dupla recusou a proposta, dizendo que não estavam interessados naquele direcionamento. Roven não foi o único: Steven Knight, aclamado roteirista da série Peaky Blinders também fez um picth que foi recusado.

Também chovem rumores de que tanto Andy Muschietti (de The Flash) quanto James Mangold (de Logan e do próximo Indiana Jones) também estariam altamente interessados em comandar O Homem de Aço 2, além de que Christopher McQuarrie já foi o diretor favorito da DC para a missão, embora ele esteja comprometido com os próximos Missão Impossível de Tom Cruise e não tem tempo para isso.

Mas a recusa dessas propostas para o próximo Superman não estão automaticamente associadas a Henry Cavill não permanecer no cargo, exceto se Gunn e Safran realmente não quiserem seguir com essa linha narrativa ou com o ator. Mas isso ainda não foi confirmado. Há de se pensar, ainda, que a dupla está sob a liderança de David Zaslav, o CEO da Warner Discovery e que parecia ser a mente por trás das recentes recontratações de Ben Affleck como Batman (aparecendo em Aquaman e o Reino Perdido) e Cavill com sua participação em Adão Negro. Tudo abrindo caminho para uma nova produção da Liga da Justiça no futuro não tão distante.

Será que Gunn e Safran mudaram os planos do chefe?

É muito tentador a esses executivos começarem do zero e limparem a casa para dar sua cara 100% ao que vem por aí, mas por outro lado, há muitos projetos da DC em andamento – The Flash, Aquaman e o Reino Perdido, Besouro Azul… – e, convenhamos, um bom punhado de atores já escalados em papeis chaves das quais o público gosta: Cavill, Affleck, Momoa, Gadot. Para quê mudar isso?

Gunn e Safran podem esquecer o Snyderverse e dar um direcionamento totalmente novo ao DCU sem precisar fazer um reboot. Hollywood é obcecada por reboots, mas isso atende a um lógica meramente de mercado, não a uma questão lógica, narrativa ou artística. Afinal, qual é o grande prejuízo de aceitar que os eventos dos filmes anteriores ocorreram e partir para frente com novas aventuras, novos desafios numa roupagem nova, com nova estética. Qual o grande problema de manter Cavill e fazer um Superman mais iluminado, com outro uniforme e ambientação e o que quer que aquela dupla queira? Se acham que vai haver resistência – e não vai, pois o público adora Cavill como o homem de aço e sabe que ele não teve um bom material para trabalhar e espera ansiosamente para que ele tenha uma oportunidade de ouro de mostrar todo o seu potencial – basta um único trailer sensacional que todo mundo se rende à nova DCU. Mesmo com os mesmo atores.

Bom, claro, tudo depende de Gunn e Safran seguirem o bom senso, o clamor dos fãs e evitar um grande desperdício.

Por outro lado, Gunn já confirmou no Twitter que o Superman é uma das maiores prioridades do novo DCU, quiçá a maior prioridade.

Se isso envolve ou não Henry Cavill continuar no papel ainda iremos ver, mas o fato de que algumas propostas de diretores avulsos terem sido recusadas pelo estúdio por não estarem de acordo com seus planos não quer dizer que Cavill foi descartado e muito menos que O Homem de Aço 2 não irá acontecer. Significa, por enquanto, que o estúdio quer alguma coisa, algum direcionamento, do qual os postulantes ainda não acertaram ou atingiram. Outros virão com outras propostas.

O caso de Mulher-Maravilha 3 é um pouco mais complexo… Segundo relatos que vieram à tona esta semana, a diretora Patty Jenkins apresentou um pitch para o terceiro filme, como dissemos, e o estúdio – ainda nos tempos de De Luca e Abdy – recusou, dizendo que não estava interessado naquela história ou abordagem. Isso gerou uma reação furiosa da diretora que teria, inclusive, enviado um link da Wikipedia explicando o que é um arco de história e outras coisas do tipo. A Warner lhe deu a prorrogativa de reformular a proposta e apresentá-la novamente, mas a diretora declinou, dizendo que a história que queria contar era aquela primeira e se o estúdio não estava interessado, ela partiria para outros rumos.

E mais: quando Gunn e Safra subiram no barco teriam entrado em contato com Jenkins para que ela voltasse e reapresentasse suas ideias, e a diretora recusou de novo. Isso significa que Jenkins está fora do DCU e põe em risco a existência de Mulher-Maravilha 3, já que não é sabido ainda: 1) se Gal Gadot tem interesse em seguir com a personagem sem a diretora que foi sua parceira por dois filmes; 2) se a Warner Discovery tem MM3 em seus novos planos. Mas pelo menos para a primeira pergunta, no dia anterior à revelação de Gunn e Safran, Gadot escreveu no Twitter que espera continuar a jornada da princesa amazona.

Há de se lembrar que, apesar de Mulher-Maravilha ter sido um dos filmes da primeira fase do DCU com maior aprovação popular e de crítica, sua sequência Mulher-Maravilha 1984 foi defenestrada por todo mundo. É um filme muito ruim em todos os aspectos. Isso com certeza mexeu nos brios da Warner.

Para Jenkins, por outro lado, as coisas não andam bem: seu próximo filme seria Rogue Squad, um longa dentro da franquia Star Wars baseado nos pilotos de X-Wing, mas segundo vários meios, o longa foi tirado do cronograma da LucasFilm porque o estúdio não entrou em acordo com a premissa do projeto de Jenkins e é pouco provável que ela permaneça à frente do projeto.

De volta ao DCU: e quanto às exibições-testes de Aquaman 2 não trazerem Affleck, isso pode significar que ele caiu fora, sim, mas também pode – e isso parece mais provável em vista do contexto atual – pode ser apenas o estúdio guardando o ouro para o lançamento e evitar revelações precoces. O mesmo vale para The Flash, que também traz Affleck e deve ter uma pequena participação de Cavill. E de Momoa e Gadot também.

Devemos esperar respostas mais concretas nessa virada de ano.