O HQRock já tinha dito que não ia durar… Pouco mais de três anos depois de Superman revelar ao mundo que era Clark Kent, a DC Comics encontrou uma forma de reverter a situação e, pronto, o homem de aço tem uma identidade secreta de novo. É o que trouxe a revista Action Comics 1050, lançada nos últimos dias de dezembro.

O HQRock está sempre reclamando da bagunça intransponível da cronologia da DC Comics e este evento é outro bom exemplo. Vai vendo…
Em 2011, a editora lançou um reboot de sua cronologia chamado Os Novos 52, em que, como consequência da saga Flashpoint (Ponto de Ignição, no Brasil), a realidade foi alterada e os heróis da DC ficaram mais jovens, atuando há apenas cinco anos e mais “modernos” às novas audiências. Superman era menos “bonzinho “, mais impulsivo e cabeça quente (afinal, a ideia de “moderno ” da DC é ser raivoso, todo mundo ser como o Batman) e, de brinde, usava uma armadura kryptoniana (sem a cueca vermelha por cima das calças – mas isso concordamos ser bom), não namorava Lois Lane (os dois tinham uma relação fria) e era demitido do Planeta Diário para viver de um blog de notícias.

Como tinha feito com o Superman “antigo” (pré-reboot) a DC o matou e o ressuscitou e, claro, não resistiu a envolvê-lo com Lois Lane e fazê-lo voltar como era antes. Mas antes, apresentou uma história na qual – tal qual na cronologia antiga – a intrépida repórter descobria a identidade secreta do homem do amanhã e os dois viviam plenamente seu amor.
Então, quando o Superman foi chantageado por um vilão acerca de seu segredo, Lois tomou a ousada iniciativa de revelar ao mundo inteiro que Clark Kent era o Superman.

Mas não era só isso: descobrimos que o “antigo” Superman ainda está vivo. Ele é mais velho e maduro (e bonzinho) e está casado com Lois e os dois têm um filho bebê, chamado Jonathan Samuel Kent, ou Jon para os íntimos. Um evento bombástico termina por fundir os dois Clarks e as duas Lois em um só personagem cada e um “mini”-reboot acontece (Rebirth, Renascimento no Brasil) na qual a realidade pré-reboot é meio reestabelecida, meio fundida e a história dos dois homens do amanhã se torna uma só.

Então, um vilão decide se passar por Clark Kent e o mundo o vê ao lado do Superman e começam a achar que a “revelação” da identidade foi uma farsa e ele meio que volta a ter uma identidade secreta. E o pequeno Jon é enviado ao futuro e volta como um pré-adolescente e o novo Superboy.
Então, uma longa saga envolvendo sua herança kryptoniana faz o Superman rever seu papel e ele decide anunciar (de novo?) ao mundo que é Clark Kent.

Mas Lex Luthor não gosta disso (não vamos nem tentar explicar por quê…) e usa os poderes de um vilão chamado Manchester Black para enviar uma onda psiônica (fruto de poderosa telepatia) no mundo todo, que faz todos esquecerem que Clark é o Superman. E caso alguém descubra, termina sofrendo um grave colapso, pois sua mente se recusa a aceitar a verdade, como é o caso de Perry White, que flagra o herói e sofre um ataque cardíaco e quase morre.
E de modo muito conveniente, a Fazenda Kent é protegida por uma barreira psíquica e os membros da Liga da Justiça e dos Novos Titãs possuem defesas psíquicas em suas mentes instaladas pelo Caçador de Marte, e todos esses, portanto, lembram da identidade secreta. Não é legal?
Depois perguntam por que ninguém mais quer ler os quadrinhos da DC nos dias de hoje…

O regresso da identidade secreta do Superman foi mostrado em Action Comics 1050, com roteiro de Phillip Kennedy Johnson, Tom Taylor e Joshua Williamson e arte de Mike Perkins, Clayton Henry e Nick Dragotta.
Como a imprensa dos quadrinhos já percebeu de cara, a trama traz tenebrosas lembranças da saga Um Novo Dia (Brand New Day) do Homem-Aranha, da concorrente Marvel Comics, de 10 anos atrás, na qual a identidade secreta de Peter Parker foi devolvida magicamente e os efeitos na cronologia, nos fãs e no mercado foram nefastos.
O problema da DC Comics é muito pior, pois sua obsessão por reboots e variantes de personagens, torna sua cronologia obsoleta, inútil e ininteligível, mas principalmente, transforma a leitura contínua de suas revistas simplesmente impossível. É um verdadeiro suicídio mercadológico.
Mas a editora não aprendeu nada com seus muitos erros nas décadas recentes.
Quando o HQRock noticiou, em 2019, o Superman anunciando sua identidade secreta ao mundo, prevíamos que o feito duraria dois anos e seria revertido. Durou três.


E a gente que achava Brand New Day ruim… a capa do Alex Ross é muito bacana mas esse roteiro infelizmente é de doer, pelo visto. Mas é como vc disse, Irapuan, a DC está eternamente aprisionada nesse labirinto de crises e reboots que são solução fácil a curto prazo mas uma lenta destruição criativa de seu legado ao longo do tempo, como lamentavelmente testemunhamos – ainda que apareça de vez em quando um ou outro bom arco de estórias pelo caminho. Um abraço!
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Jorge, você falou tudo, meu amigo. Um abraço!
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