
Na época de lançamento de Os Vingadores, épico do Marvel Studios,dirigido por Joss Whedon, que reúne nos cinemas pela primeira vez a equipe formada por Capitão América, Thor, Homem de Ferro e Hulk, o escritor e desenhista Jim Starlin andou falando mal da Marvel. Criador do vilão Thanos e responsável pelas principais histórias do personagem, Starlin reclamou que não foi consultado para o uso do personagem no filme – de maneira bem discreta e revelado somente no final, no último quadro – e que sequer ganhou um ingresso de cortesia da Marvel.

O falatório pegou mal. Thanos estava ao mesmo tempo retornando aos quadrinhos depois de um longo sumiço – ele foi revelado como o principal vilão da nova revista Avengers Assemble, que trazia uma equipe de Vingadores com a mesma formação do filme (Capitão América, Thor, Homem de Ferro, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro) com roteiros de Brian Michael Bendis e desenhos de Mark Bagley, lançada na mesma época do filme – e a editora até anunciou uma minissérie chamada Thanos: The Origin, que prometia contar em detalhes a origem do titã louco, porém, sem participação nenhuma de Starlin.
Resultado: a Marvel cancelou a minissérie imediatamente e entrou em contato com o artista, que há anos não produz para a editora.
Agora, o próprio Starlin anunciou em entrevista ao site Comic Book Therapy que está em negociações com a Marvel.
Prometi ao David Bogart [vice-presidente administrativo da Marvel] que, na próxima entrevista que desse, diria que ele [Thanos] é a melhor invenção desde o pão fatiado. As coisas andam bem melhores, mas ainda não terminamos e uma hora vamos terminar [as negociações].
Tipicamente em seu estilo, Starlin não deixou de alfinetar a empresa de novo:

Eu só soube que Thanos ia aparecer no filme [Os Vingadores] umas duas semanas antes da estreia, e tive sentimentos dúbios. Agora, eu e a Marvel voltamos a conversar. No momento não posso dizer mais do que isso. Quanto às histórias em si, parei de ler Thanos quando parei de escrevê-lo, então, não tenho nada a dizer sobre o que outros tenham feito, pois não sei o que foi feito.
Pelo que dão a entender, Starlin deverá ter um papel pelo menos consultivo nos próximos filmes do Marvel Studios, tendo em vista que Thanos terá participação importante em Os Guardiões da Galáxia e Os Vingadores 2.

James “Jim” Starlin faz parte da primeira geração de fãs da Era de Prata dos Quadrinhos que assumiu as revistas que aprendeu a amar. Sua estreia se deu na Marvel Comics, em 1972, fazendo a arte final para o mestre John Romita em duas edições de Amazing Spider-Man (113-114), a principal revista do Homem-Aranha. Em seguida, pôde desenhar suas próprias histórias na revista do Homem de Ferro, numa sequência de histórias nas quais criou o vilão Thanos, em Invencible Iron-Man 55, em 1973.

Em 1973, assumiu a revista Captain Marvel, que contava as aventuras de um alienígena Kree que tomou a Terra como seu lar e termina se tornando o maior Protetor do Universo. O personagem havia sido criado por Stan Lee e Gene Colan, mas fora totalmente reformulado por Roy Thomas e Gil Kane, que lançaram sua revista própria. Starlin inicialmente apenas desenhou as edições, a partir do número 25, mas logo em seguida, se tornou também o roteirista, permanecendo até a edição 34, em 1975. Foi nessa temporada que o artista estabeleceu Thanos como um dos maiores vilões do Universo Marvel.

No mesmo período, Starlin e o escritor Steve Englehart criaram o herói Shang-Chi, o Mestre do Kung-Fu, ampliando as edições da Marvel dedicadas aos heróis das artes marciais (outro grande nome foi o Punho de Ferro). O personagem foi bastante popular em meados dos anos 1970 e chegou até a ter revista própria no Brasil.
Em 1975, Starlin assumiu a revista Warlock, sobre um personagem criado por Stan Lee e Jack Kirby e também reformulado por Roy Thomas e Gil Kane. Novamente ambientado em aventuras cósmicas, o personagem fez certo sucesso e foi outro trampolim para o uso de Thanos. O artista cuidou da revista entre os números 09 e 17, encerrando a saga de Warlock em duas revistas, Avengers Annual 07 (especial dos Vingadores) e Marvel Two-in-One Annual 02, ambas em 1977. Warlock morre na história e a edição dos Vingadores é considerada uma das melhores da equipe em todos os tempos.

No fim dos anos 1970, Starlin começou a trabalhar esporadicamente para a concorrente DC Comics, desenhando o Batman em Detective Comics e a revista da Legião dos Super-Heróis. Junto ao escritor Len Wen, Starlin criou o vilão Mongul, em DC Comics Present 27, em 1980, personagem que teria maior vinculação com o Superman – e que não deixa de ser uma versão de Thanos.
Na Marvel, sua reputação de escritor de histórias bombásticas serviu para que fosse um dos principais encarregados da nova linha de graphics novels que a editora lançou nos anos 1980. A edição de estreia dessas revistas de acabamento luxuoso e maior apuro editorial se deu com The Death of Captain Marvel, em 1982, na qual Starlin escreve e desenha a morte do Capitão Marvel frente a um inimigo que ninguém pode combater: o câncer. Um clássico absoluto da Marvel. Starlin cuidaria de outras graphics novels importantes, como Dreadstar e Incredible Hulk and Thing: The Big Change, em 1987.

Na DC, Starlin assumiu os roteiros da revista Batman, em 1988, contando com desenhos de Jim Aparo. É uma fase bastante clássica do homem-morcego, contendo duas das mais celebradas histórias da época: As 10 Noites da Besta (edições 417-420), que introduziu o vilão KGBesta em um conto eletrizante; e Morte em Família (edições 426-429, em 1989), a chocante história na qual o Coringa tortura o Robin II (Jason Todd) com um pé de cabra, mata o jovem em uma explosão e ainda se torna embaixador do Irã na ONU.

De volta à Marvel, Starlin assumiu a revista Silver Surfer (vol 3), do Surfista Prateado, a partir da edição 34, em 1990, apenas como escritor e com desenhos de Ron Lin. Essa temporada se extendeu até a edição 50 e conduziu à minissérie A Manopla do Infinito, em 1991, que introduziu o conceito do artefato do título, uma luva que agrega as seis Gemas (ou Joias) do Infinito, peças cósmicas de poder incomensurável, que passam ao poder de Thanos. Esta é a grande saga contemporânea do vilão, que fez tanto sucesso que ganhou duas continuações (agora com desenhos de George Perez) – Guerra Infinita e Cruzada Infinita, em 1992 e 1993 – histórias que envolveram Thanos e todo o Universo Marvel.
Starlin ainda fez alguns trabalhos na Marvel relacionados a Thanos, entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000, mas cada vez mais se afastou do mainstream dos quadrinhos.
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Por fim, em outra notícia relacionada aos Vingadores, a editora divulgou um poster que reúne as três primeiras edições da nova revista The Avengers, com roteiros de Jonathan Hickman e desenhos de Jerome Opeña, dentro do evento Marvel Now, que se inicia em outubro. A editora revelou ontem que a nova equipe dos Vingadores terá nada menos do que 18 membros! Como consequência dos eventos de Avengers Vs. X-Men (maxissérie que vem sendo publicada desde o fim do ano passado, escrita por Brian Michael Bendis e desenhada por John Romita Jr.), a nova equipe terá membros do universo mutanteda Marvel.

O Poster revela grande parte dos membros: Míssel, a nova Capitã Marvel (Miss Marvel), uma figura misteriosa, Capitão América, Hulk, Wolverine, Falcão, Viúva Negra, Thor, Mancha Solar, Homem de Ferro, Homem-Aranha, Gavião Arqueiro e Mulher-Aranha. Mas faltam alguns, que estarão na quarta capa e que são segredo por motivo de spoilers à saga anterior.
A mesa de apostas está aberta. Quem serão?
PS: o herói Mancha Solar é um ex-membro dos Novos Mutantes e é um herói brasileiro, chamado Roberto da Costa.
Os Vingadores surgiram em 1963, criados por Stan Lee e Jack Kirby, publicados em The Avengers 01, reunindo personagens já criados previamente. Mais importante supergrupo da Marvel Comics, fazer parte da equipe significa ter um status diferenciado de importância no Universo da editora.

