Roger Waters afirma-se arrependido de processar o Pink Floyd e anuncia novo álbum solo

O cantor e compositor britânico Roger Waters ficou mundialmente famoso como o líder do Pink Floyd, uma das bandas mais importantes da história do rock. Contudo, seu capítulo final com o grupo não foi um “final feliz” e ele se arrepende disso. Em entrevista à BBC, reproduzida no site da revista Rolling Stone hoje, o músico afirma:

Eu estava errado. Claro que eu estava. Quem se importa?

Após o sucesso estrondoso do álbum The Wall, em 1979, as relações internas da banda ficaram totalmente estremecidas, particularmente entre Roger Waters (o criador do conceito do álbum e das canções) e o guitarrista David Gilmour, que até então também cumpria a função de principal vocalista da banda. As gravações foram tão tensas que resultaram na demissão do tecladista Richard Wright, que havia fundado o Pink Floyd com Waters 14 anos antes.

Apesar da banda fazer uma turnê para divulgar o disco, entre 1980 e 1981, e ainda lançarem mais um álbum, The Final Cut, em 1983, o grupo só funcionou precariamente nesse período, com seus membros investindo em lançamentos solo. Por isso, em 1985, Roger Waters enviou uma carta à gravadora EMI para informar que o Pink Floyd estava encerrando suas atividades. Em resposta, David Gilmour e o baterista Nick Mason divulgaram que iriam continuar com a banda e lançar um novo álbum sem Waters.

O resultado foi um ruidoso processo judicial que ganhou as manchetes do mundo e trouxe uma série constrangedora de farpas e xingamentos via imprensa entre Waters e Gilmour. Porém, em 1987, foi realizado um acordo extrajudicial na qual Gilmour e Mason foram autorizados a usar o nome Pink Floyd, enquanto Waters mantinha controle sobre os direitos de The Wall.

Na entrevista à BBC, Waters rememora a ocasião, reconhecendo seu equívoco e se arrependendo de tudo:

Foi uma das poucas vezes em que o Direito me ensinou alguma coisa. Porque quando eu cheguei com essas afirmações e disse “Escutem, nós rompemos, isto [Gilmour e Mason] não é mais o Pink Floyd” e eles vieram: “O que você quer dizer? Isto é irrelevante! Isto é um selo [musical] e é comercialmente válido. Você não pode dizer que isto tem que deixar de existir… Você obviamente não conhece a jurisprudência britânica”.

O “novo” Pink Floyd trouxe Richard Wright de volta e lançou o álbum A Momentary Lapse of Reason, ainda em 1987, que fez um grande sucesso e rendeu uma gigantesca turnê mundial, O trio Gilmour, Mason e Wright ainda lançaria um segundo álbum em 1994, The Division Bell, seguido de outra grande turnê, antes de encerrar definitivamente as atividades.

As relações de Roger Waters com seus ex-companheiros permaneceram estremecidas pelo período, mas o grupo conseguiu deixar de lado as suas diferenças e o quarteto Waters, Gilmour, Wright e Mason se reuniu pela primeira e única vez em 2005 para participar do concerto beneficente Live 8. Desde então, as relações estão mais cordiais. Apesar de Richard Wright falecer de câncer em 2008 – o que tornou o retorno do Pink Floyd clássico outra vez impossível – Waters e Gilmour já tocaram juntos em algumas ocasiões especiais e o trio Waters, Gilmour e Mason chegou a tocar a faixa Confortably Numb no primeiro concerto da The Wall Tour de Roger Waters, em Londres.

A nova turnê de Waters trazia a execução do álbum na íntegra e a reprodução de todos os efeitos especiais e cênicos que viraram lenda na turnê de 1980 e rondou o mundo, foi muito elogiada e passou no Brasil em março de 2012.

Com o sucesso e a notoriedade trazidas pela turnê mundial do The Wall, Roger Waters agora quer produzir um novo álbum solo.

Eu tive uma ideia muito, muito forte e iriei perseguir isso. Farei pelo menos mais um álbum e estou realmente ansioso para cravar meus dentes nisso.

Será o primeiro álbum inédito de Waters desde a ópera rock Iça Ira!, que também virou espetáculo teatral e veio ao Brasil. O último álbum inédito de rock de Waters foi o distante Amused to Death, de 1992. Desde então, o compositor lançou alguns discos ao vivo, como In the Flesh, que traz interpretações individuais de seus velhos sucessos no Pink Floyd, gravadas ao vivo em suas turnês solo.

Cerca de um ano atrás – leia aqui – Roger Waters já havia anunciado que seu próximo álbum solo teria como tema a religião e que seu título seria Heartland.

George Roger Waters nasceu em Surrey na Inglaterra, em 1943, mas viveu toda a infância e juventude em Cambridge, onde conheceu o guitarrista e cantor Syd Barrett. Após ambos mudarem para Londres – onde Barrett estudou arte e Waters arquitetura – se reencontraram e fundaram o Pink Floyd em 1965. A banda se consolidou com a dupla mais Nick Mason na bateria e Richard Wright nos teclados e, após dois anos, se tornou a febre do movimento alternativode Londres e marco maior do movimento psicodélico. A estreia fonográfica veio em 1967 com sucesso, mas Syd Barrett foi afastado da banda por sérios problemas mentais relacionados ao abuso no uso de drogas. Foi substituído por David Gilmour, em 1968, amigo dele e de Waters também de Cambridge. Permanecendo no circuito alternativo por alguns anos, o Pink Floyd se tornou uma das bandas de maior sucesso do mundo em 1973, com o lançamento do álbum Darkside of the Moon.