
Morreu hoje, 27 de outubro de 2013, Lou Reed, um dos mais influentes compositores da história do rock, fundador da banda The Velvet Underground e um dos grandes inspiradores do movimento punk. O músico sofria do fígado e havia realizado um transplante em abril deste ano. O anúncio foi feito pela revista Rolling Stone, confirmado pela página oficial do músico no Facebook.
Nascido Lewis Allan Reed, em 1942, no Brooklyn, em Nova York, evolveu-se cedo com a música despertado pelo rock and roll e o R&B dos anos 1950. Adotando seu apelido Lou, envolveu-se com algumas bandas ainda no colégio, entre elas a banda The Jades, que conseguiu tocar em um pequeno circuito de bares. Por ser bissexual, Lou Reed foi submetido a um tratamento de eletrochoque, em 1956, algo que lhe marcou profundamente.
Saindo de casa, entrou na Universidade de Syracuse, onde estudou jornalismo. Depois, em 1964, tornou-se compositor profissional, para a gravadora Pickwick, onde conseguiu um pequeno sucesso com a canção The Ostrich.

Em seguida, Reed conheceu o violinista John Cale e os dois decidiram montar uma banda, chamada The Velvet Underground. O grupo se estruturou rápido, com Reed nos vocais e guitarra, Cale no baixo, Sterling Morrison na guitarra e Maureen Tucker na bateria. A banda começou a aquecer os inferninhos de Nova York com as composições ousadas e radicais de Reed, falando de drogas, homossexualidade, prostituição e sado-masoquismo.
Chamaram a atenção do famoso artista plástico Andy Warhol e, logo, se tornaram parte da Factory do artista, animando com música e performance as exibições e happenings dele. Warhol, por sua vez, insistiu que o grupo adicionasse sua protegida, a ex-modelo e cantora alemã Nico. Relutantemente, a banda aceitou e Warhol “produziu” o primeiro disco deles.

Chamado simplesmente The Velvet Underground & Nico – o que reflete a não inclusão total de Nico na banda – o disco é um clássico absoluto do rock, lançado em 1967. As composições fortes de Reed, a sonoridade esparsa do grupo e a voz fantasmagórica e cheia de sotaque de Nico fazem dele um registro único. Espetacular! Nele estão clássicos imortais como Venus in furs, Heroin, Tomorrow parties, Femme fatale e Sunday morning.
Contudo, em meio ao Verão do Amor psicodélico, as letras pesadas de Reed assustaram o público e o máximo que o disco chegou foi ao 171º lugar das paradas!

Ainda assim, com o passar do tempo, se tornou um dos discos mais influentes da história. A partir dele, se formou uma série de admiradores esparsos e espalhados que nutriam o amor por um rock simples, sem complicação e com letras mais realistas. Esses roqueiros formaram o que conhecemos como movimento punk!
Dispensando Nico rapidamente, o Velvet Underground voltou a ser um quarteto e prosseguiu com a carreira, lançando o experimental White Light/ White Heat, em 1968. Infelizmente, John Cale deixou o grupo depois deste, devido a problemas pessoais com Reed. Foi substituído por Doug Yule, que tocava baixo e órgão nas gravações.

O álbum chamado apenas Velvet Underground foi lançado em 1969, que poderia ser o melhor disco do grupo, com What’s goes on, Pale blues eyes, Candy says, Some kind of love, Jesus, I’m set free.
Em 1970, veio o álbum Loaded, que rendeu um pequeno hit com Sweet Jane.
Lou Reed deixou a banda, que prosseguiu sem seu fundador. Voltando a uma vida mais ou menos normal, trabalhando na empresa do pai, Reed era considerado um herói por todo um seleto grupo de fãs e artistas, o que o motivou a reativar a carreira em 1971, lançando-se a solo.

O primeiro álbum, Lou Reed, foi gravado na Inglaterra, acompanhado por grandes astros britânicos, como os membros do Yes, Stevie Howie e Rick Wakeman. Bem recebido pela crítica, logo, veio o seguinte, em 1972, Transformer, produzido por David Bowie, que já era um astro na Grã-Bretanha.
Finalmente, o artista atingiu as paradas de sucesso e virou um nome mais maciçamente conhecido, ganhando atenção em seus álbuns seguintes, como Berlin, Sally Can’t Dance, Rock and Roll Heart, Street Hassle e The Bells, entre 1973 e 1979.
Suas canções sobre travestis e o submundo de Nova York casavam muito melhor com o clima sombrio dos anos 1970 e a possibilidade de artistas ainda mais ousados e barra-pesada, além de um público na mesma linha.

No início, encontrou seu meio entre o movimento glam rock, cheio de estrelas como David Bowie e The New York Dolls, com artistas andrógenos carregados de adereços femininos. Exatamente como Reed já havia feito anos antes. Quando da eclosão do movimento punk em 1976, Reed foi elevado à categoria de ícone, embora ele mesmo não se sentisse próximo do movimento.
O fato de Lou Reed ter uma carreira fabulosa muito antes de alçar o sucesso nos anos 1970 faz dele o pai espiritual do que chamamos hoje de rock alternativo, que também pode ser aplicado a artistas como David Bowie e Iggy Pop, que também não eram exatamente “populares” nos anos 1970, mesmo que cultuados por um público considerável.

Lou Reed continuou com relevância na música e em 2011 lançou o controverso álbum Lulu, usando o Metallica como banda de apoio, o que causou estranheza. Ele também causou estranheza com sua turnê de 2012-2013 executando as faixas do álbum Metal Machine Music, de 1974, que traz apenas músicas instrumentais no teclado, cheias de experimentalismos.
A turnê foi interrompida em março justamente por causa dos problemas de saúde do músico quanto ao fígado. A cirurgia não trouxe grandes melhoras e sua esposa, a musicista Laurie Anderson, chegou a dizer que ele “estava morrendo” alguns meses atrás. A notícia da morte foi divulgada hoje pelo agente de Reed. Ele tinha 71 anos.

