Thor: outro acerto da Marvel.
Thor: outro acerto da Marvel.

Mais uma vez, o Marvel Studios apresenta uma superprodução destinada a agradar o grande público e ser uma bilheteria estrondosa. Thor – O Mundo Sombrio, sequência com as aventuras do deus do trovão da mitologia nórdica, adaptado como um super-herói dos quadrinhos pela Marvel Comics e levado aos cinemas pelo Marvel Studios, traz a marca que consagrou o estúdio: drama, humor, bons personagens e muita ação. Ação mirabolante. Some-se isso à interconectividade espantosa das várias franquias da Marvel – sob o guarda-chuva dos Vingadores – e você terá outro grande ponto alto dos filmes sobre quadrinhos.

Malekith é a grande ameaça da vez.
Malekith é a grande ameaça da vez.

Para começar, bem diferente do primeiro Thor, de 2011, este parece mesmo uma história em quadrinhos. Ligeiramente baseado nas histórias de Walter Simonson à frente do deus do trovão – publicadas originalmente nos meados dos anos 1980 – a trama de fato aprofunda os elementos da mitologia nórdica e dos Nove Reinos que compõem o universo ficcional do herói. Com isso, o longametragem faz jus ao material que vem sendo desenvolvido desde 1962, por Stan Lee, Jack Kirby, Roy Thomas, John Buscema, Walt Simonson, Sal Buscema e tantos outros.

A trama é bem simples: antes de haver luz no universo, os Elfos Negros reinavam absolutos. Mas depois, com o surgimento do nosso universo e a ascensão do reino de Asgard, tiveram que batalhar com os Nove Reinos e perderam sua hegemonia. Há milhares de anos atrás, o avô de Thor, Bor, liderou a batalha final contra os Elfos Negros liderados por Malekith, que detinham como principal arma o éter: uma força misteriosa que poderia trazer de volta a escuridão ao universo. Agora, quando o mundo se encontra novamente à beira de um nivelamento cósmico, os Elfos Negros e Malekith ressurgem de seu exílio para alçar seu objetivo.

A relação com Jane Foster é mais bem explorada desta vez.
A relação com Jane Foster é mais bem explorada desta vez.

Na Terra, a astrofísica Jane Foster pesquisa as anomalias físicas relacionadas aos portais interdimensionais e termina encontrando o éter, escondido numa dimensão perdida por Bor. Agora, Thor precisa deter a destruição do universo como o conhecemos ao mesmo tempo em que precisa proteger Jane e recorrer ao seu meio-irmão Lóki, que é o único em Asgard que pode ajudá-lo.

Claro, o grande trunfo de O Mundo Sombrio está calcado, novamente, na exploração da personalidade de Lóki, que já dominou não apenas Thor, mas também Os Vingadores. Não à toa, O Mundo Sombrio é, de todos os filmes da Fase 2 do Marvel Studios, aquele que mais se aproxima, de verdade, de uma sequência de Os Vingadores, porque a relação Thor-Lóki é o centro de ambos.

A personalidade de Loki é um dos destaques do filme.
A personalidade de Loki é um dos destaques do filme.

Porém, como o Marvel Studios consegue fugir de pelo menos algumas obviedades de Hollywood, a dinâmica agora é diferente. De novo. Em Thor, Lóki é um vilão relutante, alguém amargurado que cresceu à sombra do irmão mais bonito e talentoso. E a amargura vira ódio quando descobre que é adotado: filho do rei dos Gigantes de Gelo! Em Os Vingadores, Lóki está no auge de sua loucura, agindo desesperadamente para ganhar mais poder e atingir aquele que é o seu grande objetivo: tomar o trono de Asgard de seu pai adotivo, Odin.

Em O Mundo Sombrio, Lóki está preso, condenado à prisão perpétua por causa de seus crimes (em ambos os filmes anteriores). Mas de volta ao seu lar, tem que se confrontar com seus laços familiares, mesmo que não sejam de sangue. Este aspecto é mostrado de maneira espetacular em sua relação com sua mãe (adotiva) Frigga, o que serve para demonstrar a profundidade do personagem.

Os Elfos Negros.
Os Elfos Negros.

Após uma tragédia, Lóki precisa repensar seu papel em sua família adotiva e, quando seu irmão Thor vem lhe pedir ajuda, se estabelece a grande tensão do filme: Thor pode confiar nele ou não? Essa confiança será testada em uma batalha dos irmãos contra Malekith e Kurse, o mais forte dos Elfos Negros, e o resultado final irá surpreender os telespectadores.

Os fãs da Marvel também são premiados com as várias referências ao filme dos Vingadores e até a rapidíssima (mas ótima) participação de um dos outros membros da equipe. Como a Marvel é esperta demais, ela não ocorre como o espectador poderia esperar, mas é ainda melhor.

Asgard em Thor 2.
Asgard em Thor 2.

Também vale ressaltar a Direção de Arte do filme, que é muito mais caprichosa e bonita na tela do que o filme de 2011. Embora os efeitos especiais em CGI dominem o terço final do longa, pelo menos nos dois primeiros atos temos uma Direção de Arte primorosa, que explora não apenas as cenas palacianas de Asgard, mas suas ruas, janelas e tavernas; bem como os figurinos dos personagens e os maravilhosos cenários. Talvez, valesse até um Oscar de Direção de Arte para a Marvel. Seria merecido.

Também é bonita a fotografia, especialmente na fria e chuvosa Londres, que enche a tela do cinema com sua beleza e suas panorâmicas.

Thor luta ao lado de Lady Sif. Muita ação.
Thor luta ao lado de Lady Sif. Muita ação.

A ação do filme também é muito maior do que o anterior e mais bem resolvida. As batalhas aparecem diversas vezes ao longo da trama, de modo que não cansam o espectador com uma sobrecarga de ação – com é a impressão geral em relação, por exemplo, a Superman – O Homem de Aço, da concorrente DC Comics.

A relação entre Thor e Jane Foster é mais bem resolvida desta vez; além de delicadamente ficar explícito um pequeno triângulo amoroso com Lady Sif. Esta personagem, inclusive, tem uma participação menor do que o esperado, mas é possível que seja por causa do grave acidente que a atriz teve durante as filmagens, que lhe deixou semanas hospitalizada.

Quanto a Jane Foster, vale ressaltar o destaque que o Marvel Studios dá às suas personagens femininas. Apesar de não ter emplacado ainda um filme-solo de uma heroína – Viúva Negra e Miss Marvel são o topo do desejo do estúdio e dos fãs, mas Hollywood é temerosa com esse tipo de filme, por causa dos fracassos retubantes de Mulher-Gato, Elektra e Laura Croft – a Marvel compensa isso deixando uma marca muito forte nas mulheres de seus filmes. Qualquer um pode ver como eles rompem severamente com a ideia da “donzela em perigo“, construindo um arquétipo de mulheres fortes e essenciais à trama.

Não esqueça: uma das primeiras cenas de Peggy Carter em Capitão América – O Primeiro Vingador é estourar os miolos de um terrorista, com um único disparo de pistola há 80 metros de distância em um carro em movimento! E Pepper Potts literalmente salva o dia em Homem de Ferro 3. Papel similar é dado a Jane Foster em O Mundo Sombrio, com sua atuação decisiva para a resolução da trama.

Thor conversa com Heimdall. Ótimos coadjuvantes.
Thor conversa com Heimdall. Ótimos coadjuvantes.

Apesar de ter muitos personagens – o que diminui o tempo de tela de vários deles, como Sif e os três guerreiros (que têm sua importância na trama, mas poderiam ter fazer mais, claro) – a trama consegue equilibrá-los dentro do possível e lhes dar o destaque devido em cenas-chave. O trio Thor, Lóki e Jane Foster domina, mas encontramos boas cenas (e atuações) da já citada Frigga, de Heimdall (sempre ótimo) e, claro, do todo poderoso Odin.

O alívio cômico continua sendo o forte da personagem Darcy – com mais tempo de tela desta vez – e ela até ganha um reforço do Dr. Selvig, afetado pelos eventos de Os Vingadores.

Thor e Odin. Anthony Hopkins brilha de novo.
Thor e Odin. Anthony Hopkins brilha de novo.

O Mundo Sombrio, então, é superior a Thor enquanto filme e, ainda, muito melhor do que Homem de Ferro 3, cheio de pequenas decepções. Portanto, o novo Thor detém o título de melhor filme da Fase 2 até agora. Terá que enfrentar Capitão América e Guadiões da Galáxia no ano que vem. Veremos.

Falando nisso: não se esqueça das cenas pós-créditos. Isso mesmo, no plural!

Na verdade, temos uma cena no meio dos créditos que cria um vínculo com Guardiões da Galáxia (e talvez, além…). E outra, depois do fim, para dar um toque de romance e comédia no final do filme.

Resumindo, Thor – O Mundo Sombrio é mais um acerto do Marvel Studios, recupera-se da pequena baixa de Homem de Ferro 3, e continua mostrando que, efetivamente, a Marvel produz os melhores blockbusters da atualidade, com sua mistura de bons personagens, muita ação e doses homeopáticas de humor. Tudo isso resulta em filmes que divertem (a família toda) e não ofendem a inteligência do espectador, trazendo histórias inteligentes e personagens com várias dimensões. Filmes que até sobrevivem à sobrecarga de efeitos visuais.

O elenco reunido na premiere em Londres.
O elenco reunido na premiere em Londres.

Não é à toa que o estúdio consegue reunir nomes como Anthony Hopkins, Natalie Portman e Rene Russo com tanta facilidade. (E quer uma dica? Olhe os créditos de Guardiões da Galáxia e veja a constelação de astros consagrados que toparam estrelar um filme de um obscuro supergrupo de heróis intergaláticos!).

Bom para o cinema. Bom para os fãs das HQS, que vêm seus personagens favoritos adaptados responsavelmente às telonas.

Thor – The Dark World traz o elenco com Chris Hemsworth (Thor), Tom Hiddleston (Loki), Anthony Hopkins (Odin), Natalie Portman (Jane Foster), Jaime Alexander (Sif), Stellan Skarsgards (Dr. Selvig), Kat Denning (Darcy), Idris Elba (Heimdall), Zacharel Levy (Fandral), Ray Stevenson (Volstagg), Tadanobu Asano (Hogun); Christopher Eccleston (Malekith), Alice Krige (Alflyse), Adewale Akinnuoye-Agbaje (Algrim/ Kurse), Richard Brake (o capitão do Einherjar) e Clive Russell (Bor, o avô de Thor) . O diretor é Alan Taylor (de Games of Thrones), a história de Don Payne (de Thor) e Robert Rodat (de O Resgate do Soldado Ryan) e o roteiro de Christopher Yost, Christopher Markus e Stephen McFeely. A estreia nos EUA está marcada para 08 de novembro de 2013, mas estreou no Brasil, antes, em 1º de novembro. O filme também funciona como uma sequência de Os Vingadores e é parte da Fase 02 do Marvel Studios que conduzirá a Os Vingadores 2.

Baseado nas lendas da mitologia nórdica, onde é o deus do trovão, Thor surgiu nos quadrinhos em 1962, nas mãos de Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby, estreando em Journey Into Mystery 83. Os quadrinhos mantiveram sua origem mítica, mas colocando-o em um contexto de super-heróis do presente. Ele seria um dos membros fundadores dos Vingadores em 1963 e continua até hoje sendo publicado pela Marvel Comics.