
Um dos mais aclamados escritores de quadrinhos de todos os tempos (autor de obras como 300 de Esparta e Sin City, além de A Saga de Elektra e A Queda de Murdock com o Demolidor, Batman: O Cavaleiro das Trevas e Batman: Ano Um), Frank Miller declarou ao site Reddit que tem interesse em escrever uma história do Capitão América, diz o site brasileiro Omelete.
Miller disse:
O Capitão América se encontra em uma situação anacrônica interessantíssima. Além disso, acho que ele tem virtudes que os Estados Unidos deixaram de lado há muito tempo. Especialmente numa época em que o país está tão ameaçado, um herói como ele é fora de série. Lembro de dizer ao pessoal da Marvel, logo após os ataques de 11 de setembro de 2001, que esperava que eles soubessem o herói que tinham nas mãos. A reação do Capitão ao atentado seria bem direta.
Não é uma boa ideia, contudo. Apesar de sua obra no passado ser recheada de boas críticas sociais – essencialmente nos anos 1980 – Frank Miller vem se mostrando nos últimos anos um autor extremamente conservador, praticamente um fascista! Daí que suas ideias para o Capitão América não devem ser nada bonitas.
Seu posicionamento vem causando algumas polêmicas recentemente. Miller criou uma história para o Batman na DC Comics chamada Holy Terror, na qual o cavaleiro das trevas perseguiria terroristas, mas o roteiro da HQ era tão absurdo que a DC vetou a história. O escritor e desenhista ficou tão revoltado que abandonou outro projeto com o Batman, que desenvolveria com o desenhista Neal Adams.

Miller redesenhou a história, trocando o Batman por uma cópia fajuta, e conseguiu publicar Holy Terror pela editora Legendary, exibindo uma história que deixou os críticos com cabelos em pé pela forma preconceituosa e cheia de ódio com o qual retratou os muçulmanos.
Seu histórico recente parece não atrair também a Marvel. Questionado na rede social Tumblr sobre a “proposta” de Frank Miller, Tom Brevoort, um dos principais editores da Marvel e vice-diretor sênior de publicações, foi direto:
Até onde sei, Frank nunca conversou com ninguém da Marvel sobre seu desejo. Mas não acho que aprovaríamos uma história do Capitão, por exemplo, nos moldes de Holy Terror.

Melhor assim.
Miller vivencia uma decadência criativa há anos e suas posturas políticas não ajudam em nada isso. Além disso, talvez queira um pouco de visibilidade que o Capitão América lhe proporcionaria, já que o personagem está em alta devido ao esmagador sucesso do filme Capitão América – O Soldado Invernal, lançado neste ano.
Ainda assim, o autor já trabalhou com o personagem no passado: notadamente no arco Demolidor: A Queda de Murdock, na qual faz uma participação especial; e em parceria com o escritor Roger Stern em uma história especial publicada em Marvel Fanfare 15, ambas as ocasiões em 1985.
Frank Miller prossegue publicando material original, principalmente da série Sin City, e ajuda a produzir e dirigir o segundo filme baseado nesta história, junto com Robert Rodriguez, que será lançado ainda este ano.
Frank Miller nasceu em Maryland, nos EUA, em 1957, e ganhou notoriedade como desenhista na Marvel Comics no fim dos anos 1970. Sua carreira despontou a partir de 1981, quando assumiu também os roteiros da revista do Demolidor, iniciando uma das mais aclamadas carreiras na história dos quadrinhos.
O Capitão América foi criado por Jack Kirby e Joe Simon em 1941 e foi o maior sucesso dos anos iniciais da Marvel Comics. Após décadas sem ser publicado, foi resgatado para as histórias modernas em Avengers 04, de 1964, por Stan Lee e Jack Kirby, numa história dos Vingadores, grupo que passou a liderar a partir de então.


Respeito muito o trabalho do Miller. Para mim, Daredevil – Born Again é como ouro puro, bem como Batman – Cavaleiro das Trevas e Elektra.
Masssss…. seu discurso é típico daqueles que recorrem a um passado inventado, ‘glorioso’, para justificar seus preconceitos e intolerância com tudo e todos na atualidade. Algo que não é típico só dele ou dos EUA. Europa, África, Ásia… no Brasil tem muita gente assim, que fica tentando convencer que o país era muito bom em tempos muito distantes… tem gente que vai tão a fundo que tem saudade da monarquia…. pois é…
A questão é – bom para quem? No caso do Capitão América – Rogers é o grande clichê americano, que encarna exatamente o imaginário do seu povo… é preciso, portanto, relativizar e MUITO quando um autor diz que o loirão deveria encarnar valores de tempos mais nobres, ou um tempo melhor para os EUA.
Ora, vejamos: as décadas de 30 e 40 americanas foram marcadas por: forte sentimento antissemita, um racismo exaltado contra negros e indígenas ou qualquer outro imigrante. O americano ‘perfeito’ daquela época era o branco, médio, protestante.
A década de 50, bem sabemos, trouxe um Capitão racista e xenofóbico. Stan Lee e Kirby habilmente encontraram a solução para isso nos frenéticos anos 60. Aquele não era Steve Rogers. Ou seja, a década dos diversos movimentos de direitos humanos e lutas por igualdade das minorias seria adaptada às revistas do Capitão América. A introdução do Falcão é prova disso.
Bem, se os ataques de 2001 resultaram na terrível política Bush e em mais uma caça às bruxas (no caso, muçulmanos), o título do bandeiroso tentou mostrar-se mais equilibrado naquele momento. Sendo apresentado como o “verdadeiro” americano, aquele que não se deixa abater, mas pondera e não sai caçando bruxas como seu governo.
Eram tempos em que o governo recebia duras críticas também pelo povo americano. Claro que mais uma vez Rogers encarnaria esse povo e aquilo que eles acreditam como ideal.
Lembro-me da primeira edição de 2002, em que ele salva um iraniano de ser espancado. A forma como Rogers foi ilustrado é bem interessante…. tem um quadro em que ele é visto de baixo para cima, com uma luz do sol em suas costas, sobre sua cabeça. Uma verdadeira imagem de um santo… ou talvez alguém iluminado.
Enfim… é como o americano se vê em sua “essência”. Palavrinha bem interessante que remete àquele passado inventado citado acima. Mas não é culpa deles ou algo ruim… nem é algo típico deles também, como já foi falado… coisa pra se discutir em outro momento.
O caso é que, o personagem desde 2002 vem sendo mostrado (com ressalvas, sobretudo em relação aos mutantes) mais uma vez como a tradução do imaginário de seu povo. Hoje, a despeito de estarem em crise (e crise econômica gera ódio, intolerância, violência, fascismo, nazismo etc), seu governo continuar agindo de forma questionável (espionagens, guerras, etc), o povo dos EUA vem tentando ser mais simpático, mais tolerante com as diferenças. É um aprendizado bastante louvável.
Mas claro que, assim como no Brasil, na Bolívia, no Equador, na França, na Espanha, no Marrocos, Índia, Japão ou qualquer outro lugar do mundo, têm ainda aqueles que permanecem com suas ideias antiquadas e discurso intolerante para justificar a sua frustração diante da clara mudança de comportamento, valores e conquistas sociais das chamadas minorias.
Uma pena, senhor Frank Miller, uma pena…
Grande abraço!
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