A DC Comics está pegando fogo. Ou pelo menos o DCU, o universo cinematográfico da editora, comandado agora por James Gunn e Peter Safran através do DC Studios. Depois de rumores de que ela tinha caído fora de Mulher-Maravilha 3 (e de Star Wars – Rogue Squadron, também), a diretora Patty Jenkins veio à público (tentar) esclarecer o imbróglio, ao mesmo tempo em que a Variety afirma que o estúdio considera seriamente transformar Robert Pattinson no Batman oficial do DCU no lugar de Ben Affleck. Toda a mobilização ocorre porque, segundo a mesma revista, Gunn e Safran devem entregar esses dias seu plano de 10 anos para o DCU ao CEO da Warner Bros. Discovery, David Zaslev.

Na verdade, o tópico do Batman é o mais complicado de todos eles, por isso, vamos começar com o cavaleiro das trevas. A despeito do azedume de alguns críticos, os fãs adoram o Batman de Ben Affleck e querem ver mais de sua interpretação madura e durona de Bruce Wayne, a despeito das não poucas falhas de filmes como Batman vs. Superman e Liga da Justiça. Mas, não dá para ignorar o sucesso (de público e crítica) de The Batman, dirigido por Matt Reeves e estrelado por uma versão mais jovem e inexperiente do homem-morcego vivido por Robert Pattinson, aparentemente, num universo ficcional à parte do DCU.

O que a Variety afirma, literalmente, (segundo duas fontes seguras) é que Gunn e Safran “estão explorando a possibilidade de incorporar a interação do Batman de Reeves e Pattinson dentro de seu universo maior”. Eles não dizem que uma decisão foi tomada. E o plano, obviamente, não será divulgado tão cedo. Mas existe a possibilidade.

É importante lembrar que, antes da contratação dos dois presidentes do DC Studios, o próprio Zaslav havia afirmado em um encontro de investidores que a Warner não teria “quatro versões do Batman nos cinemas”. Ele exagerou o número, mas não tanto: atualmente, temos nada menos do que três delas. Affleck continua sendo o homem-morcego do DCU, aparecendo nos ainda vindouros The Flash e Aquaman e o Reino Perdido (que estreiam em 2023); o veterano Michael Keaton (de Batman – O Filme, de 1989) reprisa o papel como Bruce Wayne de uma linha de tempo alternativa também em The Flash; e Pattinson, com seu cavaleiro das trevas mais jovem em seu segundo ano de ação.
Provavelmente, a meta de Zaslav – e por conseguinte de Gunn e Safran – é de ter apenas um Batman. E, claro, pensando racionalmente, faria mais sentido estabelecer que The Batman simplesmente mostra a origem do homem-morcego que mais tarde formará a Liga da Justiça. O Comic Book Movie, ao comentar a matéria da Variety, afirma que Reeves nunca se interpôs que sua versão fizesse parte de um universo maior, apenas queria garantido que seus filmes fossem isolados dos demais, sem crossovers.

E, de fato, afora as diferenças estéticas, não há praticamente nada em The Batman que impossibilite o fato narrativo de que aquele Bruce Wayne que enfrenta um serial killer em Gotham City chamado Charada é o mesmo que 20 anos depois, é um vigilante calejado e desiludido que, assustado pela aparição poderosa do Superman pensa em matá-lo e, depois percebendo seu heroísmo, reúne a Liga da Justiça. (O fato do comissário James Gordon ser vivido por um ator negro nas cenas do passado e por outro branco nas do presente não atrapalha em nada essa lógica. Isso não é a vida real, é o cinema, atores são substituídos o tempo todo e os personagens são mais importantes. Então, façamos de conta que Gordon sempre foi negro e pronto. Qual o problema?). O HQRock já mencionou isso antes: os 20 anos de intervalo dariam a Reeves todo o espaço do mundo para brincar em seu universo desde que não contradiga as poucas linhas instituídas pela narrativa geral do DCU.
Num mundo ideal, a Warner poderia até manter os dois atores – Pattinson e Affleck – cada qual em seu canto do universo, um no passado o outro no presente, cada qual com seu estilo e aventuras, e dizendo que eles são o mesmo, saciar as vontades de público, crítica e mercado de que existe apenas um único Batman. Mas claro que isso é muito difícil no mundo corporativo e cheio de egos em que vivemos e a probabilidade maior seria que, uma fez estabelecido esse princípio narrativo, Affleck seria substituído nos filmes futuros por Pattinson, ligeiramente maquiado para parecer ser 20 anos mais velho.

James Gunn é um cara muito participativo nas redes sociais e está o tempo inteiro interagindo com os fãs no Twitter. Questionado se ele gostava do Batman de Ben Affleck, ele respondeu diretamente: “eu gosto”, ontem mesmo.
Mas na terça-feira, ele publicou uma declaração mais detalhada sobre a atual situação, sendo franco, e dizendo que ele e Safran sabiam que, quando assumissem o DCU pegariam um universo ficcional fragmentado em termos narrativos e também pelos fãs, e que teriam pela frente um período transacional, pois o trem está andando, já que o DC Studios irá lançar nada menos do que quatro filmes em 2023, criados e filmados antes que eles assumissem o estúdio: Shazam – A Fúria dos Deuses, em março; The Flash em junho; Besouro Azul em agosto; e Aquaman e o Reino Perdido em dezembro. No intervalo entre a Discovery ter comprado a Warner e David Zaslav ter assumido o comando do DCU enquanto Gunn e Safran não chegavam para refundar o DC Studios (antiga DC Films), já foram feitos adendos significativos em The Flash e Aquaman 2 para se afastar da velha ideia do Snyderverse e se adequar à visão do chefão para a DC nos cinemas, que deve ser mais ou menos condizente com a de Gunn-Safran.

Mas de novo, não há muito o que a dupla possa fazer por esse quarteto de filmes: a mesma Variety informa que a produtora Pam Abdy, co-presidente da Warner Pictures (que fiscalizou a DC interinamente enquanto se contratavam Gunn-Safran), teve que solicitar ao diretor James Wan que reduzisse o orçamento de suas refilmagens de Aquaman 2, porque o longa já tinha batido a marca de 205 milhões de custo. Ou seja, mais modificações adicionadas pelo DC Studios daqui em diante antes dos lançamentos não tão próximos de ambos os filmes não parecem prováveis.
Só que sabemos que mudanças já foram feitas, como dissemos, inclusive, com o acréscimo de cenas de Ben Affleck como Batman ou Bruce Wayne em Aquaman 2. Ou de Henry Cavill como Superman em The Flash. E muito se falou no fato de terem feito mudanças no final de The Flash para substituir a antiga (e insana) ideia de deixar Michael Keaton como o Batman oficial do DCU depois da aventura do corredor escarlate, para a história mais tradicional e simples de deixar o Bataffleck vivo e bem ao fim do longa.
Dito isso, em seu comunicado recente, James Gunn disse que sabe que, atravessando esse período transacional, não vai agradar a todo mundo, mas promete o foco na história e nos personagens serem o melhor possível. Ele diz:
Nós sabemos que não iremos deixar absolutamente todas as pessoas felizes em cada passo do caminho, mas podemos prometer que tudo o que está sendo feito está à serviço da HISTÓRIA e à serviço dos PERSONAGENS da DC que vocês amam e que nós temos amado por toda a nossa vida.
Infelizmente, esse tipo de discurso é muito usado quando personagens têm seus atores substituídos.
Então, é muito possível que Ben Affleck seja substituído por Robert Pattinson SE houver concordância do diretor Matt Reeves em integrar – mesmo que muito de leve – seu Batman ao do DCU. O mesmo vale, sob outras condições, para Henry Cavill e seu Superman. Mas neste caso, em vista dos desdobramentos recentes, é muito provável que o ator inglês se mantenha no papel do homem de aço para novos projetos de seu personagem, especialmente, porque não há a concorrência de um ator mais jovem contra ele.

O que nos leva a Gal Gadot e a Mulher-Maravilha. Se a atriz concordar em trabalhar sem a diretora Patty Jenkins, parece não haver nenhuma antipatia do estúdio a mantê-la como a princesa amazona. Agora, quanto a Jenkins continuar, a história é outra.
Os rumores da semana passada – alimentados por jornais respeitáveis até, como o The Hollywood Reporter – são de que Jenkins teria entregue uma proposta de roteiro para a Warner e o estúdio não teria gostado e pedido que ela refizesse, algo que ela não teria concordado, teria enviado mensagens desaforadas aos executivos e abandonado o projeto para ir trabalhar em Star Wars – Rogue Squadron (seu filme de pilotos de caça do universo da LucasFilm) – que, por sinal, outros veículos diziam que ela também tinha sido afastada!

Jenkins publicou um comunicado oficial sobre o tópico, dizendo que o que foi vinculado pela imprensa em tempos recentes não é verdade. Mas ainda assim, dá a entender que parte é verdade: ela realmente entregou a premissa de roteiro e o estúdio realmente não quis pôr aquilo adiante. Vejamos:
Eu nunca abandonei [o projeto de Mulher-Maravilha 3]. Eu estava aberta a considerar qualquer coisa que eles me demandassem. Era do meu entendimento que não há nada que eu possa fazer para mover qualquer coisa adiante dessa vez. A DC está obviamente soterrada em mudanças que eles têm que fazer, então, eu entendo que essas decisões são difíceis por hora.
Como a mesma Variety percebe, a nota assume tom de despedida e elogia a todos os que trabalharam nos dois filmes de Diana Prince e faz enormes elogios à personagem e à atriz Gal Gadot. O que podemos presumir é que a Warner não quer ir adiante NESTE MOMENTO com MM3, pois precisa organizar o DCU e o DC Studios antes, e a diretora percebe que a história que queria contar não está no horizonte do estúdio, ao mesmo tempo em que não irá esperá-los até tomarem sua decisão.
Ela diz que a LucasFilm tinha concordado em deixar Rogue Squadron em standby enquanto ela se dedicava a MM3 e que foram gentis em pôr as rodas a girarem novamente. Ou seja, livre da agenda da princesa amazona, Jenkins vai se dedicar à galáxia muito, muito distante. Se ela vai voltar quando o projeto da heroína for retomado é algo para se ver, mas a ideia que a nota passa é que não, ela fechou essa porta.
Então, o que será do futuro do DCU? Continuaremos sem saber, por enquanto. Mesmo que o plano de 10 anos do DC Studios seja entregue por Gunn e Safran para Zaslav amanhã, é muito óbvio que eles não irão revelá-lo ao público. E mesmo as linhas gerais desse “novo” universo só serão apresentadas a partir do momento em que as produções dos filmes comandados realmente pela dupla sejam anunciados e cheguem aos cinemas, algo que ainda demorará dois ou três anos no futuro para acontecer.
Ciente disso, o próprio Gunn manera os ânimos em sua nota:
Quanto a mais respostas sobre o futuro do DCU, infelizmente, eu direi a vocês que é preciso esperar. Estamos dando a esses personagens e às histórias o tempo e a atenção que eles merecem, e nós mesmos ainda temos um monte de questões a perguntar e responder.
Em miúdos: nem eles sabem ainda.
É uma fase de transição, demorará um ano ou dois para tudo estar alinhado. E quando isso acontecer, ainda demorará um ou dois anos para eles comunicarem a gente.
A paciência, meu caro padwan, é uma virtude.

