Exatamente no momento em que o Pink Floyd volta às notícias com a celebração dos 50 anos de sua obra-prima, o álbum Dark Side of The Moon, o lendário grupo de rock progressivo precisa dividir as manchetes com temas bem menos nobres. Infelizmente, a banda tem um histórico de brigas homéricas horrorosas via imprensa e enquanto os fãs sonhavam com uma fase mais tranquila na velhice de seus membros (quem sabe até motivando uma reunião), seus líderes decidem retomar o feudo de batalha que os separou.

De ontem para hoje, os fãs da banda e a imprensa internacional ficaram aturdidos com as trocas de acusações que envolvem particularmente Roger Waters e David Gilmour, líderes da banda em momentos distintos e maiores forças motrizes do grupo em seus tempos áureos. E o motivo nem é a música, nem mesmo os negócios, que já arruinaram relações de incontáveis bandas. O motivo da briga é a Guerra na Ucrânia!

Daí, precisamos de uma longa contextualização. Em tempos recentes, Roger Waters (baixista e principal compositor da fase áurea do Pink Floyd), e que sempre foi um homem muito ativo politicamente, abraçou a causa dos palestinos, denunciando o genocídio que esse grupo sofre no eterno conflito interno da região de Israel. A fervorosa defesa dos palestinos e a denúncia dos israelitas, por sua vez, tem gerado a pecha de antissemita para Waters, o que parece uma crítica injusta e até certo ponto infantil.

Waters também é muito crítico à postura belicista dos Estados Unidos e vê em Israel um ardoroso aliado (e “capacho”, ele diria) dos EUA no Oriente Médio.

O problema se agrava porque, em meio à Guerra na Ucrânia, Waters vem minimizando o conflito e as atrocidades aparentemente realizadas pela Rússia, a agressora do conflito que pode levar o mundo a uma guerra bem pior. O compositor chegou a equiparar a imagem de Valdmir Putin a de Joe Biden e a buscar justificar a ação da Rússia contra o outro país.

Waters chegou a dizer:

O principal motivo para o fornecimento de armas à Ucrânia é certamente o lucro para a indústria de armas. E eu me pergunto: Putin é um gangster maior do que Joe Biden e todos os encarregados da política americana desde a Segunda Guerra Mundial? Eu não tenho tanta certeza. Putin não invadiu o Vietnã ou o Iraque? Ele fez isso?

A VERDADE NOS LIBERTARÁ

Contra a campanha ultrajante e desprezível dos lobistas de Israel para me denunciar como ANTISSEMITA, O QUE EU NÃO SOU E NUNCA SEREI.

Tais declarações entraram em rota de colisão com a postura contrária de seu ex-colega David Gilmour, que se uniu à maioria da imprensa e dos artistas internacionais em uma voz contrária ao conflito e em oposição à Rússia, que afinal, é a agressora.

David Gilmour.

A guerra tem até conotações pessoais para o guitarrista e principal vocalista do Pink Floyd, pois uma de suas noras é ucraniana.

Em resposta ao conflito, inclusive, Gilmour reuniu o Pink Floyd – que estava oficialmente encerrado desde 1996 – gravando ao lado do baterista Nick Mason a canção Hey, hey rise up, ao lado de um cantor ucraniano e com toda a arrecadação do single revertida para a ajuda humanitária à Ucrânia, o que rendeu milhões de dólares de auxílio.

Não sabemos ainda dos bastidores, mas o fato é que a esposa de David Gilmour, a jornalista, escritora best-seller e fotógrafa Polly Samson escreveu um agressivo post contra Waters no Twitter.

Infelizmente, Roger Waters, lá no fundo você é um antissemita. Também é um apologista de Putin, e um mentiroso, ladrão, hipócrita, sonegador de impostos, faz playback,é misógino, invejoso, megalomaníaco. Estou farta de seu nonsense.

Uau! Isso foi duro.

Gilmour se meteu na conversa e disse, também via Twitter:

Cada palavra é comprovadamente verdadeira.

Emogi com mão na testa…

Existe um passado aí… Waters é ressentido do Pink Floyd ter seguido em frente quando ele saiu da banda em 1985, e ele era o único letrista do grupo ao longo de toda a fase áurea. Quando Gilmour compunha uma canção e/ou a cantava era sobre uma letra de Waters. Com a partida do baixista, Gilmour (mais o tecladista Richard Wright e o baterista Nick Mason) passaram a recorrer a letristas profissionais em suas canções do álbum A Momentary Lapse of Reason (1987), mas no seguinte, The Division Bell (1994), foi Polly Samson quem assumiu a maior parte das letras.

No passado, Waters já criticou o fato do Pink Floyd recorrer à esposa de Gilmour para fazer suas letras.

Waters respondeu às acusações, também via Twitter:

Roger Waters está ciente das incendiárias e horrivelmente inacuradas escritas no Twitter por Polly Samson, o que ele refuta inteiramente. Ele está neste momento tomando conselhos sobre sua posição.

É, parece que teremos outra batalha judicial pela frente. Quando da cisão de Waters e Gilmour, em 1985, houve uma ruidosa disputa na Justiça pelo direito de uso do nome Pink Floyd, que foi ganha por Gilmour e companhia.

Desde então, Waters conseguiu reconhecimento em sua carreira solo, embora nunca com o sucesso da banda, que viveu anos de glória em grandes turnês com Gilmour, Wright e Mason. Depois do fim, o quarteto clássico ainda se reuniu uma única vez no concerto do Live 8 a favor do perdão da dívida dos países pobres, em 2005. Wright morreu em 2008 e o Pink Floyd lançou o álbum The Endless River, com gravações antigas com Wright. Ano passado, Gilmour e Mason reuniram o Pink Floyd de verdade pela primeira vez em quase 30 anos para ajudar o povo ucraniano.

Agora, é aguardar os desdobramentos.