No dia de hoje, 25 de julho de 2023, sir Mick Jagger, o líder dos Rolling Stones, completa 80 anos! É um grande feito de um homem que esteve à frente de uma banda que representou como poucas a ideia de “sexo, drogas e rock’n’roll” nos anos 1960 e foi um rebelde símbolo sexual que afrontou as fronteiras de gênero.

O hoje respeitável sir Mick Jagger foi condecorado Cavaleiro do Império Britânico em 2003, ainda que a falecida Rainha Elizabeth II tenha “pulado a vez” para condecorá-lo, deixando a tarefa (inglória?) para seu filho, o hoje Rei Charles III. Ele também circula pela elite britânica e come em restaurantes caros.

Mas nem sempre foi assim… Nos anos 1960, Jagger escandalizou parte da população britânica com seu visual desleixado, sua música barulhenta, mas principalmente, seus libidinosos lábios vermelhos emoldurando sua bocarra a entoar canções sobre sexo. Não amor, mas sexo.
Depois, vieram as drogas… O movimento flower power e psicodélico revelou que os roqueiros usavam mais do que álcool para estimular suas mentes e drogas ilegais como maconha, cocaína, LSD, heroína começaram a ser noticiadas vinculadas aos ídolos de então. Muitos pagaram um preço por isso e Jagger foi um deles: ele e seu parceiro de banda e composições originais, Keith Richards, foram presos após uma festa na casa do segundo, em fevereiro de 1967 e processados por porte, uso e facilitar o uso de drogas.
Dois dos músicos mais famosos do mundo foram algemados e dormiram em prisões comuns. Primários, foram libertados depois de uns dias, mas encararam um julgamento que poderia tê-los condenado a penas muito severas. Mas os processos foram anulados por irregularidades cometidos pela polícia.

Depois disso, Jagger abraçou a androgenia típica dos movimentos underground da época e começou a brincar com sua sexualidade: usou batons, maquiagem… e criou a sua persona de palco tal qual a conhecemos hoje. Os vídeos das apresentações dos Rolling Stones no início da carreira, entre 1964 e 1966, mostram Jagger se mexendo muito no palco, batendo palmas, pulando, arregalando os olhos, abrindo bem a boca, fazendo “caras e bocas”, exagerando… mas não era aquele “move like Jagger” que conhecemos hoje.

Algo diferente aparece no vídeo de The Rock and Roll Circus, de dezembro de 1968, o show para a TV que a banda preparou para marcar uma volta aos palcos (os concertos pararam por causa dos problemas com a justiça e as drogas – e não foi depois desse especial que voltaram, pois o guitarrista Brian Jones continuou com problemas com as drogas e demorou sete meses para o grupo enfim voltar ao palco. E sem Jones).

É possível ver esse novo Jagger sendo gestado nos shows de 1969 (veja o filme Gimme Shelter, com a turnê daquele ano e o fatídico Festival de Altmont, no qual um membro do público foi morto a facadas) porém, é a partir da vitoriosa turnê de 1972 (veja o filme Ladies and Gentlemen… The Rolling Stones) que nosso Jagger emerge em toda a sua glória, com roupas estrambóticas e maquiagem, movimentos sensuais e sexuais, tudo o que ele fazia antes, agora, amplificado, sexualizado, refinado. Se movendo como Jagger.

E ele estava confortável… àquela altura, a banda já havia lançado 70% de sua obra mais importante… discos essenciais como Aftermath (1966), Beggars Banquett (1968), Let it Bleed (1969), Sticky Fingers (1971) e Exile on Mainstream (1972), que traziam canções como Satisfaction, Lady Jane, Paint in black, Jumpin’ Jack flash, Street fitgher men, Sympathy for the devil, Honky tonky women, Gimme shelter, Brown sugar, Rock off, Tumbling dice… TODAS de autoria de Jagger & Richards.
Mas continuou depois… vieram outros discos, outras canções de sucesso (Angie, It’s only rock’n’roll but I like it, Start me up…) anos 1970 adentro… anos 80 em frente… E Jagger continuou se movendo. Como nunca.

Se costuma dizer que nos anos 1970 os Stones deixaram de ser perigosos para serem divertidos. A vida parecia uma festa. “É apenas rock’n’roll, mas eu gosto”. Talvez… A década de 1960 parecia ter mais gravidade, inclusive, na música dos Rolling Stones, depois… Novos tempos. Por que não?
Jagger é um dos homens que escreveu a história da música do século XX. E forjou nisso a do século XXI. Administrou a carreira da sua banda como poucos seriam capazes. A partir de 1975 teve a ideia safada de alternar os álbuns lançados com discos ao vivo, investiu em filmes de concerto como ninguém. Dos 80 em diante, foram as grandes turnês. Cada qual maior. Cada qual mais lucrativa.

Do ponto de vista do grande público, os Rolling Stones deixaram de fazer sucesso há muito tempo… O último número 1 da parada da Billboard nos Estados Unidos data de 1981. Houve alguns outros sucessos depois, mas não mais o número 1. Os álbuns continuaram a vender bem. Sempre muito bem. Mas eles também rarearam. Bridges to Babylon encerrou o fluxo normal em 1998. Depois veio A Bigger Bang, em 2005. E pronto! Este foi o último álbum de canções originais da banda. Eles lançaram o disco Blue & Lonesome em 2016, mas eram covers de blues. Maravilhosos, mas não mais canções de Jagger & Richards.
Teve alguns singles… Doom and gloom saiu em 2012 e causou alguma sensação… terminou na trilha sonora de Vingadores – Ultimato, em 2019! Em 2020 lançaram Living in a ghost town como maneira de se posicionar diante do lockdown e da pandemia de Covid-19. Está presente a promessa de um álbum novo para este ano. Será?

Por outro lado, os Stones estiveram muito ocupados fazendo shows. Muitos shows! Celebraram seus 50 anos de carreira em 2012 com uma grande turnê mundial que durou anos. Rodaram de novo em 2015 e 16. Retomaram em 2019 e pararam por causa da pandemia. Voltaram em 2021, embora, aí, já sem o baterista Charlie Watts, que faleceu naquele mesmo ano.
Mas a banda fez a turnê mais lucrativa do mundo em 2021. E foram a sexta mais lucrativa de 2022, perdendo para nomes do momento (Bad Bunny, Harry Stiles e Ed Sheeran), o clássico Elton John (em segundo lugar – mas cuja a carreira é posterior à banda) e os mais recentes Coldplay.
Então, os Stones continuam na crista da onda.

O tempo tem seu preço, claro. Brian Jones, fundador dos Stones, morreu afogado na própria piscina em julho de 1969, depois de já ter sido expulso da banda três meses antes. As drogas tiveram um papel decisivo na tragédia. Seu substituto foi Mick Taylor, bem mais jovem que o restante do grupo. A vida de “sexo, drogas e rock’n’roll” lhe pagou um preço pessoal altíssimo e ele decidiu largar o barco em 1975. Foi substituído Ron Wood, que tocou em várias outras bandas antes (como The Jeff Beck Group e The Faces) e se mantém na banda até hoje, como um irmão de guitarras de Keith Richards.
O baixista Bill Wyman também se cansou da roda viva (ou de aço?) da banda e a largou em 1993. Não foi substituído e passaram a usar o músico de apoio Darryl Jones. E o já citado Charlie Watts, outro do quinteto original, faleceu em 2021 e não foi substituído. Steve Jordan segura as baquetas nos shows.

Jagger, Richards e Woods seguem em frente. “Pedras que rolam não criam musgo”. Por enquanto.
Wood já batalhou o câncer. Richards quase morreu em um acidente doméstico (caiu de um coqueiro na praia).
E Jagger passou por uma cirurgia cardíaca em 2019.
80 anos não são 80 dias…
Os Stones não estarão aqui para sempre. Mas estarão… em suas gravações e vídeos.
Por enquanto, podemos celebrar as oito décadas de Mick Jagger e seu enorme legado musical e cultural. E vê-lo se movendo no palco como se tivesse cinquenta anos menos. E de novo no Brasil em 2024. Com ou sem disco.

