Já faz uns 25 anos que desenhistas brasileiros tomaram os quadrinhos de super-heróis de assalto. Nesse período, muitos dos artistas de maior destaque da nona arte na Marvel Comics e na DC Comics nasceram em terras tupiniquins, como Mike Deodato Jr., Roger Cruz, Ed Benes, Al Rio, Ivan Reis, Eddy Barrows… a lista é longa mesmo. Mas algo que não tinha acontecido ainda era um artista ESCREVER uma HQ importante nas duas majors dos quadrinhos norteameircanos, e agora, esse pioneiro é alçado pelo artista gaúcho Rafael Grampá, que escreve e desenha uma minissérie do Batman em quatro volumes pela DC Comics, Gargoyle of Gotham, inclusive, com lançamento concomitante no Brasil e nos EUA.

Com sua arte exuberante, Grampá já vem conquistando leitores nos EUA há algum tempo, e já tinha desenhado algumas histórias secundárias do Batman, trazendo o seu estilo com muitas linhas e detalhes nos uniformes. Mas agora, ele assume também o roteiro: Batman: Gárgula de Gotham mostra o homem-morcego em início de carreira enfrentando uma série de novos vilões enquanto tenta se firmar em sua missão de combater o crime.

Isso é importante porque até pouquíssimo tempo, as editoras americanas, como Marvel e DC, tinham uma política protecionista contra escritores de língua não-inglesa. Assim, embora desenhistas de todas as nações – México, Argentina, Uruguai, Filipinas, Espanha, Coreia etc. – invadissem as páginas das HQs nas últimas décadas, a escrita, o roteiro das histórias estava até agora concentrado em estadunidenses, canadenses e britânicos, praticamente sem exceção. Mas a internacionalização do mercado, a emergência de grandes autores independentes e as altas bilheterias dos filmes de super-heróis começaram a mudar as coisas e as editoras começaram a experimentar escritores não anglo-saxônicos.

Abertura que permite que um talento como Grampá possa ter a oportunidade de escrever uma história do Batman e dotar sua Gotham City de elementos visuais muito próximos de São Paulo, por exemplo. Segundo o release, a trama mostra Batman disposto a “matar” a identidade de Bruce Wayne para se dedicar integralmente à sua missão e enfrenta vilões como a Virgem e Moth-Er que aparecerão nas próximas edições, enquanto o Volume 1 lançado agora traz o bizarro Crytoon, que chora quando faz mal às vítimas e usa martelos como armas.

Rafael Grampá nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 1978, e trabalhou com arte, design e TV antes de se dedicar integralmente aos quadrinhos. Após chamar a atenção, em 2005, com uma história na coletânea independente Gunned Down da editora Terra Major, lançou a coletânea 5 ao lado dos também brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, à americana Becky Cloonan e o grego Vasilis Lolo, que foi premiada com um Eisner Awards, o Oscar dos quadrinhos, o que valeu a publicação de sua obra solo Mesmo Delivery, em 2008, que fez bastante sucesso de crítica e foi reeditada pela Dark Horse Comics, uma das quatro maiores editoras dos EUA.

Depois disso, começou a fazer trabalhos pontuais para a Marvel (onde criou a história Dear Logan, que foi muito elogiada) e HQs do Batman na série Black and White, com abordagens do cavaleiro das trevas em preto e branco. Ele também colaborou com Frank Miller em The Golden Child, uma das sequências de O Cavaleiro das Trevas, maior criação do quadrinista americano.

O Batman foi criado pelo cartunista Bob Kane com o roteirista Bill Finger e estreou na revista Detective Comics 27, de 1939, sendo até hoje publicado pela DC Comics.

Batman: A Gárgula de Gotham é publicada no Brasil pela Panini Comics e está à venda no site da editora e em outras livrarias a partir de R$ 24,90.