Segundo foi noticiado por alguns sites de notícia, como o World of Reel e o JoBlo, Batman Eternamente terá a exibição de uma “versão do diretor” no dia 29 de maio próximo, em um cinema de Los Angeles. Todavia, não se trata de um evento oficial, mas apenas a articulação de um grupo de fãs. O longa dirigido por Joel Schumacher foi lançado originalmente em 1995, completa 30 anos de idade este ano, e foi uma ruptura dentro da franquia do homem-morcego, após dois filmes dirigidos por Tim Burton e estrelados por Michael Keaton, ambos se desligaram do projeto de uma sequência, que terminou nas mãos de Schumacher e foi protagonizado pelo recentemente falecido Val Kilmer, deixando de lado o tom sombrio e gótico dos anteriores e adotando uma estética mais iluminada e colorida, com uma pegada mais cafona e brega, remetendo à velha série de TV dos anos 1960.

Ainda que tenha feito bastante sucesso na época de seu lançamento, Eternamente envelheceu mal na memória dos fãs e sua sequência, Batman e Robin, lançado dois anos depois (e já sem Kilmer, que foi substituído por George Clooney) foi tão ruim e problemático que enterrou de vez a velha franquia.
Bruce Wayne teve uma vida renovada nos cinemas alguns anos depois, quando o diretor Christopher Nolan iniciou sua Trilogia Cavaleiro das Trevas em 2005, com Batman Begins, agora com Christian Bale como o homem-morcego e filmes sérios, adultos, densos e de pegada mais realista e menos fantasiosa, e já voltou às telas outras vezes, na versão do DCEU com Ben Affleck ao lado da Liga da Justiça, a versão “nova” com Robert Pattinson em outra abordagem mais realista, e até ao retorno de Keaton como uma versão madura e alternativa de Bruce Wayne com combalido The Flash, de 2023.

Tudo isso nos faz questionar a necessidade de um regresso ao mal fadado universo do homem-morcego de Joel Schumacher, mas existe uma parcela de fãs que gostaria de ver uma “versão do diretor” do longa de 1995, e essa versão realmente existe: após rondar como uma lenda ao longo dos anos, a tal versão foi confirmada pelo roteirista original Akiva Goldsman, em 2020, e de algum modo, uma cópia chegou a ser exibida de modo privado para um grupo seleto de fãs em 2023, e depois, o cineasta Kevin Smith também promoveu outra exibição naquele mesmo ano.
Os que assistiram ao corte, disseram que é muito melhor do que a versão dos cinemas, e tem um clima mais sério e contundente. O movimento dos fãs certamente espera que o falecimento recente de Kilmer, que comoveu Hollywood – pois o ator perdera a voz após um câncer de garganta – a boa recepção dessa versão entre iniciados poderia motivar a Warner Bros. Discovery a lançar o filme, de modo similar ao que foi feito com Liga da Justiça – A Versão de Zack Snyder, que trouxe em 2021 um corte mais sério do longa originalmente lançado em 2017.

Batman Eternamente teve uma produção bastante conturbada, pois após o imenso sucesso de Batman – O Filme, em 1989, sua sequência, Batman – O Retorno, de 1992, trouxe Tim Burton abusando de toda a sua estética gótica e seu gosto por bizarrices. Assim, apesar das interpretações (e representações) marcantes e icônicas de Michelle Pfeiffer como Mulher-Gato e Danny DeVitto como Pinguim, e o elogio da crítica – que em sua maioria o achou melhor do que o primeiro – O Retorno não fez um sucesso tão grande e ficou aquém do esperado pelo estúdio, recebendo publicidade negativa de patrocinadores, que queriam uma produção mais “família”. Como resultado, os embates entre Burton e a Warner levaram o diretor a se demitir e a contratação de Joel Schumacher (curiosamente, vindo de filmes de pegada mais sombria e dark) em seu lugar, e o desinteresse de Michael Keaton em reprisar o papel sem Burton, que levou à contratação de Val Kilmer, um astro “menor” de Hollywood, mas com um trabalho consistente.
Ainda assim, as filmagens foram um pesadelo, com pretensos ataques de estrelismo de Kilmer e de Tommy Lee Jones, que faz o vilão Harvey Dent/ Duas Caras, e o embate aberto que travou contra o espetaculoso e exagerado Jim Carrey, que fez Edward Nigma/ Charada. O roteirista Akiva Goldsman garante que Schumacher criou um filme mais sério que, ainda que rompesse com o tom sombrio de Burton, ainda mantinha o interesse em desenvolver os personagens e de criar uma trama interessante de conflitos e traumas psicológicos, porém, pressionado pelo estúdio, terminou entregando uma versão cheia de piadinhas, de tom cafona e de personagens histriônicos sem profundidade.
Mas parte significativa da velha ideia teria ficado no chão da sala de edição…

Então, qual a diferença entre a versão lançada nos cinemas e a versão do diretor de Batman Eternamente?
Segundo aqueles que assistiram, via CBR, aqui vão:
- A versão do diretor tem 50 minutos a mais do que a original, chegando a 2h e 38 minutos, o que promove um desenvolvimento mais lento e bem resolvido da trama. Deixa o filme mais “devagar” e menos frenético, também, o que pode ser um problema para as audiências atuais.
- O corte do diretor inicia com uma cena inédita que mostra a fuga de Harvey Dent do Asilo de Arkham, o que possibilita que jornais de TV comentem sobre sua origem e até de alguns dos aspectos de seus confrontos prévios com o Batman (que no longa original estão todos off screem, ou seja, são mencionados, mas não mostrados). Também há uma narração mais detalhada e dramática de sua origem, ampliando uma cena presente na versão final.
- A cena de Bruce Wayne conhecendo Edward Nigma na Wayne Enterprises vem mais cedo, antes dele virar o Batman para ir ao confronto do Duas Caras que está roubando um banco, o que é a cena de abertura da versão dos cinemas. O maior aporte de tempo para o personagem de Tommy Lee Jones faz do Duas Caras mais importante ao filme do que a outra versão, e ele é o grande destaque em cena pela primeira metade do longa, antes do desenvolvimento do arco do Charada de Jim Carrey.
- Há mais cenas entre Bruce Wayne e sua namorada psicóloga Chase Meridian, vivida por Nichole Kidman, o que torna o personagem de Val Kilmer mais dramático e atormentado, precisando lidar com o trauma de sua infância: a queda no poço que o levou a descobrir a Batcaverna e a ser atacado por o que parece um morcego gigante, e o fato disso servir de motivo para que seus pais o levem ao cinema na fatídica noite em que são assassinados, o que lhe enche de culpa, também.
- Não há menções no CBR sobre o arco do Robin de Chris O’Donnell, então, provavelmente, não há mudanças significativas. Apenas é dito que a cena na qual o jovem lava roupa exibindo suas habilidades físicas não está no filme.
- Na cena em que Charada e Duas Caras atacam a Mansão Wayne, a manipulação da máquina mental de Nigma faz com que Bruce Wayne esqueça que é o Batman e ele precisa lidar com seus traumas encarando a figura de um morcego gigante monstruoso, muito similar ao Man-Bat, o Morcego-Humano dos quadrinhos.
- Na cena da batalha final, a base do Charada possuí mais perigos (o chão é apenas um ilusão, por exemplo) e não há o momento em que o Duas Caras pega sua moeda após cair de cima da estrutura, que faz do fim do vilão algo mais duro e brutal. O filme se encerra com um diálogo mais amplo entre Chase e Alfred, de modo similar àquele entre ele e Vicki Vale (Kim Bassinger) de Batman – O Filme.
- Dentre o que não está na versão do diretor, o CBR diz que muitos dos diálogos cômicos são retirados, inclusive, aquele final entre Batman e Charada, com o vilão com a mente destruída por sua própria máquina.
Como o HQRock já comentou no Dossiê Especial sobre todos os filmes do Batman (não viu? Clique aqui!), Batman Forever teve potencial de entregar uma história interessante, mas desperdiçou tudo em uma execução banal. Haverá a possibilidade de uma “versão do diretor” torná-lo um filme melhor? Uma obra-prima?

É difícil saber e a história pregressa pesa contra. Ademais, o corte que está sendo exibido da “versão do diretor”, na verdade, é o Preview Cut: One, um corte inicial do longa, com cenas não finalizadas, e embora Goldsman pense que seriam necessários pelo menos 1 milhão de dólares para finalizar efeitos especiais e trilha sonora das cenas não utilizadas, o World of Reel calcula serem necessários 5 milhões, o que é uma soma de dinheiro mais substancial.
A boa receptividade da versão de Zack Snyder de Liga da Justiça (lançado como um filme de 4 horas no streaming) pode ser um ponto a favor, mas a recepção calorosa da exibição de Michael Keaton como Batman em The Flash nas exibições prévias do longa (inclusive, para celebridades de Hollywood) e o desastre completo de sua bilheteria como uma das piores da história do estúdio, pode pesar contra.

Não podemos deixar de notar que o ator George Clooney também já disse em entrevistas que assistiu, na época das filmagens, um corte de Batman e Robin no qual tudo era mais sério e sombrio (totalmente da paródia que chegou aos cinemas), o que abriria as portas para uma pretensa versão do diretor do matador de franquias Batman e Robin também num futuro próximo, caso o de Eternamente for realmente lançado e bem-sucedido. Será?
Por fim, vale lembrar que, por mais que 2025 traga o aniversário de 30 anos de Batman Eternamente, será que realmente vale à pena revisitar tal desastre? Há salvação para um filme daqueles? Não seria melhor investir na celebração do vitorioso e maravilhoso Batman Begins, que celebra 20 anos de lançamento neste mesmo ano?

De qualquer modo, o debate em torno do lançamento (ou não) do longa de 1995 servirá para esquentar a temática do Batman nos cinemas, ao mesmo tempo em que o prometido Batman – Parte II de Matt Reeves com Robert Pattinson segue prometido para 2027, enquanto os rumores correm de que a produção está com problemas, que Reeves está doente ou afastado do projeto, ou que este projeto irá se fundir com o paralelo The Brave and the Bold, que traria uma outra versão do Batman, agora vinculada ao DCU (ao contrário do Battinson), ainda oficialmente vinculado ao diretor Andy Muschietti (de The Flash – sério?), que num futuro breve compartilharia as telonas com o Superman de David Corenswet que estreia este ano.
Santa confusão, Batman!

