Após os filmes de super-heróis terem atingido seu apogeu (de qualidade e sucesso) no fim da década passada, conhecemos desde então uma nova fase que os críticos chamam de “fadiga”, marcada por filmes mal recebidos e fracassos de bilheterias. Este ano, Capitão América – Admirável Mundo Novo e Thunderbolts pareceram manter a ideia de cansaço do gênero, mas Superman e Quarteto Fantástico – Primeiros Passos geraram mais interesse do público e da crítica, foram elogiados e suas bilheterias são esperadas em 600 e 500 milhões de dólares, respectivamente, bem distantes dos tempos áureos em que o Marvel Studios ganhava uns dois filmes por ano batendo a marca de 1 bilhão na arrecadação mundial. Isso confirma o esgotamento da fórmula ou marca o início de um novo ciclo?

Primeiro aos fatos…

Tendo chegado aos cinemas em 10 de julho, ou seja, um mês atrás, Superman atingiu este fim de semana US$ 578 milhões em sua bilheteria global, o que indica que o longa dirigido por James Gunn chegará a algo como 620 ou 640 milhões de arrecadação total, o que é menos do que os 670 milhões de Superman – O Homem de Aço, último filme solo do herói, lançado em 2013, na aurora do findo DCEU.

Chamou a atenção o fato do filme ter feito a expressiva bilheteria de US$ 331,2 milhões nos Estados Unidos, enquanto no restante do mundo fez 247,6 milhões, um resultado que é considerado pela imprensa como modesto. Isso quer dizer que o filme foi bem recebido no mercado doméstico, mas recebido apenas de modo tímido no resto do mundo.

Quarteto Fantástico saiu em 24 de julho (duas semanas depois) e arrecadou até agora US$ 434,2 milhões, de modo que é esperado que chegue ao fim com 490 ou 510 milhões. O resultado é melhor do que seus antecessores do Marvel Studios, pois Capitão América – Admirável Mundo Novo fez 415,3 milhões, e Thunderbolts* fez 382,4 milhões.

O longa da primeira família cumpriu o caminho inverso de seu concorrente homem de aço, se saindo melhor na bilheteria internacional do que na doméstica, com bilheterias de 230,4 milhões e 203,8 milhões, respectivamente.

O que esses números nos dizem?

Enquanto Quarteto Fantástico se saiu significativamente melhor do que seus pares da Marvel, coube a Superman a melhor bilheteria do ano para um filme de super-heróis, e não haverá outro chegando até o ano que vem, quando Marvel e DC irão disputar novamente com Homem-Aranha – Um Novo Dia e Supergirl.

A questão discutida na imprensa especializada é se esses números significam a manutenção da crise dos super-heróis no cinema e a maioria dos veículos tende a pensar que sim. As bilheterias de cinema caíram drasticamente desde a pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2022, e desde e então, pouquíssimos filmes chegaram à marca mágica de 1 bilhão nas bilheterias, um deles (e o único entre os super-heróis) Homem-Aranha – Sem Volta para Casa, de 2021.

Mas é preciso observar que as bilheterias estavam em declínio durante toda a década de 2010, à exceção dos filmes de super-heróis, que via de regra, sustentaram a indústria cinematográfica de Hollywood naquele período. O ciclo fechou com Vingadores – Ultimato (2019) e sua espetacular arrecadação de 2,7 bilhões e se tornando a segunda maior bilheteria de todos os tempos.

Mas a crise que já vinha se desenvolvendo na indústria,  a pandemia e a multiplicação de produções nos streamings (especialmente as séries de TV da Marvel no Disney+) fizeram as bilheterias despencarem, ao mesmo tempo em que as novas produções não agradaram mais como no passado.

Não é um problema dos super-heróis, mas de toda a indústria de cinema. Os heróis apenas demoraram mais tempo a sentir os efeitos da crise. O número de espectadores nos cinemas diminuíram no mundo todo e os filmes que não sejam blockbusters amargam bilheterias que soam como inexpressivas. Isso somado ao excesso de produções, repetições de fórmulas e até à sensação de fim de ciclo deixada por Ultimato, geraram um cansaço em relação aos filmes de heróis e é provável que nos anos vindouros apenas produções pontuais e especiais gerem bilheterias expressivas.

Isto coloca a questão sobre um novo momento quanto às bilheterias desses filmes e, portanto, os resultados devem ser apreciados sob tal perspectiva. Com isso, seria demais esperar que Superman ou Quarteto Fantástico chegassem a arrecadações de 700 milhões ou mais.

Críticos destacaram que Superman arrecadou menos do que O Homem de Aço, lembrando que quando este longa de Zack Snyder saiu, a recepção foi considerada “morna” e o estúdio esperava que ele fizesse mais, algo como 700 ou 800 milhões.

No entanto, o contexto agora é outro. No cenário atual, ambos os filmes chegarem a 600 ou 500 milhões é o melhor resultado possível. O diretor James Gunn, que também é o co-CEO do DC Studios, chegou a afirmar que Superman não precisaria atingir 650 milhões para ser considerado um sucesso.

Enquanto alguns veículos da imprensa destacam que os custos de 250 milhões do filme fora o marketing (de mais 100 milhões!) tornam a bilheteria atual negativa, pois os lucros apenas cobririam os custos com uma margem de folga muito pequena, este parece ser o novo status quo e o rendimento do estúdio deve ser pensado em novos termos, com outros ganhos.

Também é importante dizer que há quem enxergue o pequeno acréscimo de Superman e Quarteto Fantástico em relação aos seus antecessores imediatos do DC Studios e Marvel Studios como um sinal de recuperação do mercado, e que – enquanto alguns se preocupam com o que essas bilheterias “baixas” significam para o tão aguardado lançamento de Vingadores – Doomsday em 2027 (trazendo confusamente Robert Downey Jr. de volta, agora, como o Doutor Destino) – a bilheteria melhor (ainda que mais baixa do que nos tempos idos) e a boa recepção de público e crítica de ambos os longas pode ser um prenúncio de que as coisas estão melhorando, com alguns analistas até arriscando que quando Doomsday chegar, as bilheterias terão regressado aos níveis pré-2020.

Achamos essa última perspectiva otimista demais, mas que pode haver crescimento em relação ao período 2020-2025 é bem provável, ao mesmo tempo em que os estúdios terão que se adaptar a esse “novo normal” de bilheterias mais baixas, críticas modestas e mais esforços deles próprios em acertar e render filmes não apenas bons, mas que agradem ao grande público.

É trabalho dos contabilistas descobrir como equacionar os altos custos com lucros menores.

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