O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na segunda-feira, dia 29 de setembro (via Reuters) em sua rede privada Truth Social que irá taxar em 100% os filmes de Hollywood que forem produzidos em países estrangeiros. A notícia deixou a indústria cinematográfica em choque e preocupada com uma grande crise com implicações diretas aos filmes de super-heróis, por exemplo.

O anúncio está inserido no contexto de tarifas que os EUA estão impondo ao mundo, inclusive ao Brasil, como medidas protetivas ao seu mercado, bem como instrumento de retaliação a questões políticas. No caso cinematográfico, Trump tentou justificar a medida por meio do fato de que seu país estaria em desvantagem econômica contra outras países e que os empregos de trabalhadores americanos estaria em risco, mas também ressaltou os riscos de que esse fluxo para países estrangeiros pudesse trazer riscos à “segurança nacional” e que, por outro lado, abrir as portas a profissionais estrangeiros de cinema traria o pretenso risco de entrada de ideologias indesejadas ao país, tudo isso, denotando a lógica xenofóbica que o governo Trump mantém desde o início na busca de criar uma histeria coletiva e a construção da típica imagem do “inimigo oculto”, uma ferramenta muito usada por governos autoritários para justificar políticas de perseguições a minorias ou estrangeiros, como Trump vem propagando contra os latinos, por exemplo, e sua ação de deportação de estrangeiros.

Montagem de uma imagem do Caveira Vermelha (por Jack Kirby) com uma frase de Donald Trump com uma ameaça de bombardear a Coreia do Norte de 2019.

Não há toa, mesmo em sua gestão presidencial anterior já havia muita controvérsia, para dizer o mínimo, ao ponto que até uma conta no antigo Twitter pegava frases escritas por Trump naquela rede social e as colocava em imagens de quadrinhos do vilão Caveira Vermelha, o arqui-inimigo do Capitão América e soavam tão “bem” àquela figura vilanesca que, nas HQs é simplesmente o mal encarnado, que as pessoas pensavam que o presidente estava realmente citando o vilão, como noticiou o The Guardian lá em 2019.

A ação de Trump dessa semana não gerou surpresa, pois o presidente já havia mencionado algo nesse sentido no mês de maio, mas deixou a indústria cinematográfica e a imprensa bastante preocupados.

No caso dos filmes de super-heróis, a medida teria enormes implicações. Os filmes recentes da Marvel Studios, por exemplo, foram filmados praticamente inteiramente na Inglaterra, como o recente Quarteto Fantástico – Primeiros Passos, e aqueles que estão em produção neste momento, como Spider-Man – Brand New Day, Avengers – Doomsday e Avengers – Secret Wars. Na concorrência DC Studios, filmes recentes como Batman e o novinho Superman tiveram partes consideráveis de suas filmagens realizadas em países estrangeiros. E isso nem se restringe apenas a esse nicho: o aclamado diretor Christopher Nolan acabou de filmar uma versão de A Odisseia de Homero que, pela natureza de sua história (passada na Antiguidade grega) foi filmado inteiramente em países como Itália e Grécia. Isso ocorre não somente por decisões artísticas ou pela necessidade de determinados cenários, mas também, por causa de políticas de incentivos fiscais que tornam essas produções, por vezes, até 25% mais baratas, o que em orçamentos de centenas de milhões de dólares faz muita diferença.

Taxar os filmes dessa natureza em 100% resultaria em quebrar empresas e estúdios e inviabilizar a indústria, dizem algumas vozes na imprensa, mas ao mesmo tempo, há uma grande incompreensão de como essas tarifas seriam aplicadas na prática e quem as pagaria… Estúdios? Produtoras? Distribuidoras? Essa indefinição também gera certo ceticismo de que tudo isso seria apenas mais uma jogada de blefe de Trump, que usa o recurso recorrentemente para desestabilizar o mercado ou vozes críticas de suas ações.

É algo que ainda irá se desdobrar no futuro próximo e podemos acompanhar, mas caso seja mesmo implantado, pode simplesmente inviabilizar a produção de filmes de grande orçamento como aqueles de super-heróis.