Três notícias com sentimentos opostos circularam essa semana envolvendo o braço cinematográfico da DC Comics, o DCU, comandado pelo diretor James Gunn e o executivo Peter Safran: por um lado, o filme Superman, lançado este ano e ato inaugural do DCU nos cinemas, ficou em segundo lugar do ranking de streamings, uma posição excepcional, enquanto a empresa mãe da companhia, a Warner Bros. Discovery iniciou uma campanha do tipo “For Your Consideration” candidatando o longa para indicações ao Oscar em uma lista extensa de categorias. Contudo, o bom momento inicial da empreitada tem uma sombra à frente: após meses de especulação e algumas notícias concretas em semanas recentes, a Warner anunciou oficialmente que está à venda, e como sempre acontece nesse tipo de situação, o futuro da empresa é bastante incerto, a depender de quem irá comprar o conglomerado.

Vamos começar pelas boas notícias… A Nielsen’s é uma empresa que mede a audiência de programas de TV nos EUA, e hoje em dia, abarca também a categoria de streamings. E a medida desta semana, entre todos os filmes disponíveis em canais de streaming, Superman, escrito e dirigido por James Gunn, ficou em 2º lugar!!! Com 569 milhões de minutos (pois este é o indicador usado), atrás apenas de KPop Demon Hunters, que teve 746 milhões de minutos, ambos bem à frente do terceiro lugar, Elio, com 350.
No Top10, 7 posições são de filmes novos, estrados em 2025, mas há alguns medalhões mais antigos, com San Andreas (em 6º) e Shrek 2 (em 10º).
O HQRock já havia noticiado que Superman estreara com um estouro: foram 13 milhões de espectadores em apenas 10 dias, o maior lançamento do HBO Max (o streaming da Warner) desde Barbie, em 2023. E mais: o sucesso continua crescendo, pois a Nielsen’s mostrou Superman em 4º lugar na semana passada, passando ao 2º lugar nesta semana.
É uma ótima notícia para Superman, Gunn e o DCU, que tem a árdua missão de recuperar a imagem da DC nos cinemas, após uma sucessiva onda de fracassos, que vem desde Liga da Justiça, passando por Black Adam e The Flash. Zerando tudo e iniciando um novo universo ficcional com um bom filme do homem de aço e fazendo sucesso é uma ótima largada. Tanto que o estúdio já anunciou uma sequência (definida como “não direta”) com Man of Tomorrow (O Homem do Amanhã), na qual o Superman será obrigado a unir forças com seu inimigo Lex Luthor, provavelmente contra o vilão Brainiac (dizem os rumores), e que chega aos cinemas em 2027, com as filmagens agendadas já para abril próximo.

Em meio a esse bom momento, a Warner lançou uma campanha de indicações de Superman ao Oscar, mirando principalmente, claro, as categorias técnicas, como efeitos especiais, som, edição, design de arte, mas também tentando as categorias nobres, incluindo Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Ator para David Corenswet, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Ator Coadjuvante para o elenco de apoio. Claro, pedir não ofende, mas é pouco provável que o filme receba qualquer menção no Oscar nas categorias principais, mas sempre pode render algumas indicações e até vitórias nas categorias técnicas.

Infelizmente, essas boas notícias enfrentam um desafio imenso à frente: a venda da Warner Bros. Discovery.
Na verdade, a Warner enquanto conglomerado multimídia enfrenta uma crise de mais de uma década, com dívidas crescentes, mesmo sendo proprietária de marcas como DC Comics e Harry Potter. Não à toa, em décadas recentes, a companhia foi vendida à AT&T e depois à Discovery. Nesta última aquisição, David Zaslav, o antigo CEO da Discovery, se tornou o CEO da nova Warner Bros. Discovery, mas as dívidas persistem, e no início deste ano já foi anunciada uma mudança de estratégia para separar os dois braços da empresa, com um mais voltado ao cinema (Warner) e outro mais direcionado à TV e streaming (Discovery).
No entanto, isso não pareceu ser o suficiente. Há alguns meses começaram os rumores de que o passe da WBD estava disponível e que o grupo Paramount Skydance estava interessado na compra e até deu uma oferta, que teria sido recusado por ter sido julgada muito baixa. Houve notícias de uma segunda proposta, também recusada, e as notícias continuavam informando que Comcast e Netflix seriam outros companhias interessadas na compra.

Esta semana, Zaslav decidiu acabar com os rumores e oficializou que o grupo está à venda, com um valor avaliado entre 70 e 80 bilhões de dólares. Por incrível que pareça, a notícia da venda foi positiva para as ações da empresa: quando começaram os rumores, as ações da WBD aumentaram 12% e com a confirmação da venda, mais 11%.
Existem muitas propostas circulando e se fala tanto numa venda casada quanto nas partes Warner e Discovery separadas, com competidores como a Comcast interessadas no todo e a Netflix interessada apenas na parte de streaming (o HBO Max), por exemplo.

Também há implicações políticas: Zaslav mantém uma postura liberal e crítica em sua gestão da WBD, o que criou atritos com a administração conservadora de Donald Trump na presidência dos EUA, e a Comcast é a produtora do Saturday’s Night Live, uma atração que não apenas critica, mas ridiculariza Trump todas as semanas. Em contrapartida, a Paramount Skydance é controlada por David Ellison, cujo pai, Larry Ellison é um dos fundadores da Oracle, um bilionário que não apenas é um ferrenho apoiador de Trump, mas seu amigo pessoal. E como essas coisas não são exclusividade do Brasil, publicações como a Bloomberg e o The New York Post garantem que a Federal Comission of Communications (FCC), órgão controlador das comunicações nos EUA, estaria disposta a impedir a venda da WBD à Comcast, por exemplo, alegando cartel e a Lei Anti-Truste, ao passo que permitiria a venda à Paramount Skydance, por causa da aliança Ellison-Trump.
Independente de quem compre a WBD e divida ou não a empresa, isso terá grandes implicações para o DC Studios, uma subsidiária da DC Entertainment, empresa pertencente à Warner Bros. Foi Zaslav quem criou e estruturou o DC Studios, que tem James Gunn e Peter Safran como co-CEOs, em substituição ao velho DC Films, que não fora bem sucedido. A permanência de Zaslav não é garantida em nenhum dos cenários, ainda que possível caso o comprador não seja a Paramount Skydance, e em consequência, também não é nada garantida a permanência de Gunn e Safran, ou mesmo da existência do DC Studios, que poderia ser reformatado pelo novo proprietário ao sabor de seus interesses. No caso da aquisição pela Paramount, a dissolução do DC Studios e a demissão de Gunn e Safran é quase certa, pois eles também têm postura crítica à gestão de Trump.

Ou seja, não é apenas a existência do DC Studios que está ameaçada, mas a própria continuidade do DCU que mal começou. E Gunn já reconheceu isso: falando ao BobaTalks (via CBM), o diretor já se manifestou ligeiramente descrente ao afirmar que os planos do DCU vão além de The Man of Tomorrow, e se vai ser ele ou outra pessoa quem vai realizar tais planos “depende de um monte coisas da vida”.
Se você acompanhou o declínio do antigo DCEU iniciado por Zack Snyder e Superman – O Homem de Aço, Batman vs. Superman – A Origem da Justiça, Mulher-Maravilha etc., saiba que parte dos descaminhos foi alimentado pela série de mudanças corporativas na Warner que influenciaram, claro, mudanças na DC Entertainment, com trocas de gestores, de visões, a criação do DC Films, a mudança de seus dirigentes e uma série de disputas de bastidores.
Veremos tudo isso de novo agora?

