E eles fizeram de novo! O novo álbum dos Beatles, The Beatles Anthology Vol. 4 estreou no 9º lugar da parada de álbuns do Reino Unido, a UK Official Charts, na semana correspondente aos dias 27 de novembro a 03 de dezembro. O álbum é um compilado de gravações alternativas da banda – os chamados out-takes de estúdio – compreendendo o período entre 1963 e 1969, quando foram ativos, adicionados ao bônus de três novos mixes para as canções Free as a bird, Real love e Now and then.

O Vol. 4 é uma adição à velha coleção Anthology que foi originalmente lançada em três volumes (CDs duplos) em 1995 e 1996 como parte de um evento multimídia que incluiu um documentário autobiográfico, os discos e um livro. Todo esse material foi relançado esta semana, com os discos remasterizados (e adicionados do Vol. 4 como bônus), o livro reeditado pela primeira vez (e agora em capa de papel) e o documentário também remasterizado em som e imagem, dividido em 9 episódios gradualmente disponíveis no streaming do Disney+, trazendo os 8 capítulos originais e um episódio extra, focado na reunião virtual dos Beatles nos anos 1990 que resultou nas gravações de Free as a bird e Real love (que saíram em 1995 e 1996 nos Volumes 1 e 2 do Anthology) e Now and then (que ficou inacabada na época, por causa de problemas técnicos, e só foi finalizada em 2023 e lançada como single promocional do relançamento das coletâneas 1962-1966 e 1967-1970, chegando ao 1º lugar das paradas britânicas).

É importante frisar que o trio Free as a bird, Real love e Now and then consistem em uma reunião “virtual” dos Beatles, pois foram construídas a partir de gravações caseiras (demo) que John Lennon registrou em voz e piano antes de sua morte (assassinado por um fã com distúrbios mentais) em dezembro de 1980. 14 anos depois, sua viúva Yoko Ono deu essas fitas para Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr trabalharem em cima delas, com o trio remanescente gravando suas vozes e instrumentos nas canções que estavam inacabadas e, assim, se transformavam em novas canções dos Beatles. Enquanto Free as a bird e Real love foram lançadas no projeto Anthology, Now and then terminou arquivada, porque havia um problema de distorção e ruído na gravação original que a tornava impossível de usar. Todavia, com o avanço da tecnologia de Inteligência Artificial, a equipe de som do diretor Peter Jackson (que dirigiu o a série documental The Beatles – Get Back, lançada em 2021) desenvolveu uma técnica para separar a voz e o piano de Lennon e ainda limpar o som da distorção, o que possibilitou a McCartney retomar o trabalho na faixa, reaproveitando o trabalho de guitarra de Harrison de 1995 (pois o músico também morreu, vítima do câncer, em 2001) e fazendo novas gravações com Starr, lançando Now and then direto para o 1º lugar das paradas em 2023.

O lançamento do Volume 4 do Anthology gerou alguma polêmica entre os fãs dos Beatles, insatisfeitos com o material apresentado no disco de bônus, pois apenas algumas das 36 faixas do disco são inéditas. Bem mais da metade do material foi anteriormente lançado nas boxes sets dos álbuns clássicos Revolver, Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, The White Album, Abbey Road e Let it Be, lançados entre 2017 e 2022, outra parte havia sido disponibilizada apenas no formato online em 2013 na Apple Store, sobrando apenas um punhado de canções e os novos mixes das três faixas da “reunião”: Free as a bird, Real love e Now and then ganharam “mixes 2025”, que no caso das duas primeiras alteraram bastante o vocal principal de John Lennon, usando a mesma tecnologia da terceira para “limpar” a qualidade da voz ligeiramente distorcida das gravações originais.

A reclamação dos fãs nos fóruns de internet clamava por mais material inédito, especialmente porque muita coisa antiga e perdida dos Beatles veio à tona nos últimos anos e poderia se beneficiar da nova tecnologia que permite recuperar a qualidade de gravações antigas, inclusive, com registros deficientes; mas em vez disso, o espólio da banda preferiu investir em uma série de sobras de estúdio que repetem o mais do mesmo em relação aos três volumes originais do Anthology, inclusive, com um bom mote de versões diferentes das mesmas faixas já exploradas no lançamento dos anos 1990.

O HQRock aposta que isso tudo é uma estratégia de marketing com duas finalidades: 1) apresentar os Beatles para a nova geração “TikTok” (portanto, o relançamento do Anthology e o Volume 4 se destinam ao novo público e não ao “velho” – daí, o pouco investimento em coisa realmente nova); e 2) o espólio da banda está segurando material realmente inédito para outro evento, o lançamento das quatro cinebiografias sobre a banda (pretensamente, uma para cada membro do grupo) que serão lançadas em um megaevento cinematográfico em 2028 sob direção de Sam Mendes (de Beleza Americana, Estrada para a Perdição e 007 – Operação Skyfall). Ali serão lançados pacotes de material inédito, especialmente, de concertos ao vivo que se beneficiam de grande maneira da nova tecnologia de IA. É o que pensamos.

De qualquer modo, mesmo com essa insatisfação geral, o Volume 4 teve força o suficiente para chegar ao 9º lugar das paradas. E isso é interessante porque, de início, a Apple Corps., gravadora da banda, não havia anunciado o lançamento separado do Vol. 4, mas apenas como parte do box set da chamada Anthology Collection, que traz as novas versões remasterizadas dos Volumes 1, 2 e 3 (em versões com 8 CDs e 12 LPs). Os fãs também reclamaram disso e – coincidência ou não – há somente algumas semanas, a equipe da banda anunciou o lançamento separado do Vol. 4, que sai agora e vai direto para o Top10. Nada mal.

Ah, e falando na The Beatles Anthology Collection, que também saiu esta semana, apesar de seu enorme tamanho (8 CDs ou 12 LPs), também foi muito bem nas paradas: ficou em 29º lugar no ranking dos álbuns mais vendidos do Reino Unido, dentro do Top40, referência de sucesso!

Infelizmente, os Beatles têm pouca companhia de rock dentro do Top40… No Top10, estão acompanhados apenas da dobradinha Aerosmith e Yungblud em One More Time, em 1º lugar, que reúne a veterana banda norteamericana ao jovem cantor britânico que é uma sensação dos anos recentes (e tem seu segundo “número 1” deste ano!), mais a coletânea de hits Nothing But Love: the Best of do James, em 6º lugar, cercados de nomes do pop, como Olivia Dean, Taylor Swift, Sabrina Carpenter, Ed Sheeran e Weeknd. No resto do Top20, ainda aparecem o Fleetwood Mac com a coletânea 50 Years: Don’t Stop, no 14º lugar e o Oasis numa dobradinha com a coletânea Times Flies 1994-2009 em 19º lugar (mantendo a mesma posição que teve na semana passada!) e seu segundo álbum de linha, (What’s the Story) Morning Glory? (1995), em 20º lugar (e ganhando três posições em relação à semana passada!), sem esquecer que a banda dos irmãos Gallagher está em evidência esses dias, pois encerrou sua celebrada turnê mundial de retorno após 16 anos de separação, neste último fim de semana, com dois incríveis concertos no Morumbis em São Paulo, nos dias 22 e 23 de novembro.

O restante do Top40 ainda traz alguns punhadinhos de rock ao lado da Anthology Collection, como Elton John e a coletânea Diamonds, em 21º lugar; o Fleetwood Mac de novo com o álbum de linha Rumours (1977), em 22º lugar; o The Stone Roses com seu álbum de estreia homônimo (1989), em 25º lugar; o Linkin’ Park (outra banda que se reuniu há pouco tempo e também passou pelo Brasil) com a coletânea Papercuts: The Singles Collection, em 28º lugar; o Arctic Monkeys (a banda mais “nova” da lista – à exceção do Yungblud) com o álbum AM (2013), em 30º lugar; o Oasis uma terceira vez, com seu álbum de estreia, Definitely Maybe (1994), em 35º lugar; e os Stone Roses de novo, com a coletânea The Very Best of…, que foi relançada, em 37º lugar.

Mas de volta aos Beatles, esse sucesso deve ter animado o espólio da banda: hoje foi anunciado que eles lançarão em vinil um compacto Duplo Lado A com as versões “2025 remix” de Free as a bird e Real love, inclusive, com cada lado da embalagem trazendo as bonitas capas dos singles originais de 1995 e 1996, que chegaram, na época, em 2º e 4º lugares das paradas.