John Romita, o ilustrador que deu visual definitivo ao Homem-Aranha e desenhou algumas de suas melhores histórias faz aniversário hoje e completa 81 anos!

John Romita e uma "intérprete" de Gwen Stacy

Nascido em 1930 em uma família de imigrantes italianos de Nova York, Romita estudou desenho industrial e começou a carreira na publicidade. Sua estréia nos quadrinhos foi em 1949 na editora Marvel, fazendo histórias policiais.

Sua estréia nos super-heróis foi no Capitão América, mas foi apenas uma tentativa, em 1953, de trazer o velho sucesso da editora de volta, pois havia sido cancelado anos antes. Com o declínio dos heróis naquela década, Romita se especializou em revistas de romance e foi para a concorrente DC em 1958.

Por sete anos, cuidou de toda a linha daquele tipo de histórias, mas a DC decidiu parar a produção delas e Romita pensou em se aposentar dos quadrinhos. Ao saber disso, Stan Lee (o editor-chefe da Marvel) convidou-o para ingressar novamente na editora, agora definitivamente no ramo dos super-heróis.

A Marvel tinha há pouco tempo lançado uma linha inteiramente nova de super-heróis criados por Stan Lee, por seu irmão, Larry Lieber, e por desenhistas como Jack Kirby, Don Heck e Steve Ditko.

Ressabiado, Romita só concordou em trabalhar na arte-final – aquele cara que cobre os desenhos originais à lápis com canetas de tinta nanquim – mas logo, logo, Lee o colocou para assumir os desenhos. Romita reestreou na Marvel na revista dos Vingadores, em 1965, fazendo a arte-final para Kirby (nas capas) e Heck (nas histórias). Em seguida, passou ao Demolidor, novamente finalizando a arte de Kirby, mas, na edição de número 14, terminou a assumir os desenhos integrais.

Homem-Aranha by Romita
O Homem-Aranha no traço clássico de John Romita

Desenhando o Homem-Aranha

No início de 1966, Stan Lee percebeu que sua parceria com Steve Ditko no Homem-Aranha não iria durar muito. A dupla havia criado o personagem e produzia sua revista, Amazing Spider-Man, um grande sucesso. Porém, Lee e Ditko tinham uma série de divergências, que ocasionaram na saída do segundo. Lee achou que Romita seria o nome ideal para tomar conta do “cabeça de teia” e o artista foi convidado a mudar-se de revista.

Peter Parker e Norman Osborn by Romita
Peter Parker e Norman Osborn descobrem suas identidades secretas

John Romita estreou no Homem-Aranha na revista Amazing Spider-Man 39, de 1966, uma história bombástica onde, após um suspense de dois anos, o herói finalmente descobria a identidade secreta do Duende Verde, seu maior inimigo, e este também descobre a sua. O vilão era Norman Osborn, um rico empresário, e pai de Harry Osborn, o melhor amigo de Peter Parker, o que adicionou bastante drama. Até hoje, é um dos mais importantes contos do personagem.

Homem-Aranha x Electro by Ditko
Para comparar: o Aranha por Steve Ditko

O Homem-Aranha tinha uma base sólida de fãs e a substituição do desenhista original por outro de estilo diferente causou uma minirrevolta. Uma pena, porque o traço elegante, realístico e especializado em criar rostos bonitos de Romita foi o ideal para o personagem, especialmente porque deu às namoradas de Peter Parker (Gwen Stacy e Mary Jane Watson) todo o charme e beleza que conservaram por anos e que levaram os leitores a se apaixonarem por elas também.

Mary Jane Watson by John Romita
Primeira aparição de Mary Jane Watson por Romita

Gwen Stacy havia sido criada  por Ditko, mas Romita aperfeiçoou seu rosto e silhueta, definindo a combinação de cabelos loiros, pastinha e tiara que passaram a identificá-la. E foi Romita quem criou o visual de Mary Jane Watson, que já tinha sido citada em histórias anteriores, mas nunca mostrada. Muitos leitores a consideram a mais bela mulher dos quadrinhos. Sua estréia foi em Amazing Spider-Man 42.

Romita foi o desenhista principal do Homem-Aranha entre 1966 e 1973, período que marca a fase mais clássica do herói e a maioria de suas melhores aventura, escritas por Stan Lee até 1972 e, depois, por Roy Thomas e Gerry Conway.

Seu visual para o personagem – bastante distinto do de Ditko – tornou-se o “oficial” e é a principal referência para a maioria absoluta dos artistas que até hoje trabalham com o “cabeça de teia”.

MJ, Peter Parker e Gwen Stacy formaram um "ousado" triângulo amoroso em 1967

A partir de 1971, o desenhista Gil Kane passou a revezar com Romita na arte até que, no ano seguinte, Kane passou a fazer o lápis e Romita a arte-final. A combinação dos traços dos dois artistas é um capítulo à parte e pode ser conferida, por exemplo, no clássico arco de histórias de Amazing Spider-Man 121 e 122, de 1973, quando o Duende Verde mata Gwen Stacy e termina morrendo em confronto com o vingativo herói – história que serviu de base para o filme Homem-Aranha, de Sam Raimi, em 2002, embora a garota tenha sido substituída por Mary Jane (Christin Dunst) e não morra no final. Porém, várias cenas foram tiradas diretamente dos quadrinhos, como a briga na ponte e a batalha final entre Parker e Osborn.

Em sua passagem pelo título do Aranha, Romita não somente criou histórias clássicas (ele também contribuía nos roteiros), como apresentou novos personagens, como o Rei do Crime, Shocker, Rhino, Gatuno e Cabeça de Martelo, além de batalhas épicas com o Duende Verde e o Dr. Octopus. O Rei do Crime foi alvo de uma eletrizante sequência de histórias publicadas entre 1967 e 1970 nas quais é mostrada a ascensão e queda do maior dos chefes do crime organizado.

Contra o Dr. Octopus
Contra o Duende Verde

Além do Homem-Aranha, Romita também desenhou histórias de Hulk, Capitão América, Vingadores e Quarteto Fantástico. Em todas essas passagens, continuou brindando os leitores com sua incrível arte e a criação de belas mulheres, como a Agente 13 da Shield, Sharon Carter, a namorada do Capitão América.

John Romita criou o visual de Wolverine

Nos anos 1970, Romita se transformou no Diretor de Arte da Marvel, sendo o responsável por orientar e auxiliar o trabalho dos inúmeros desenhistas da editora, de garantir o “estilo Marvel” em termos visuais e, por isso, não raro, foi o responsável pela criação de personagens importantes. Pouca gente sabe, mas foi ele quem criou o visual de personagens como Wolverine, Justiceiro, Capitã Marvel, Luke Cage etc., além de ter remodelado o aspecto de outros já existentes, como a Viúva Negra, cuja versão “simples e eficaz” de Romita continua utilizada até hoje e foi adaptada fielmente no filme Homem de Ferro 2.

Como Diretor de Arte, Romita também era responsável por fazer as capas de muitas revistas, mesmo que não desenhasse o interior, por isso, depois de deixar o título do Homem-Aranha, em 1973, sua arte continuou aparencendo nas capas do herói até 1978.

A Viúva Negra do filme "Homem de Ferro 2" usa o uniforme criado por John Romita

Entre 1978 e 1982, o artista ainda retomou a parceria com Stan Lee na produção das primeiras tiras de quadrinhos para jornais do Homem-Aranha. Trabalho diferenciado, essa sequência de histórias é pouco conhecida, mas bastante apreciada. Foi publicada no Brasil recentemente em dois volumes, disponíveis nas livrarias.

Romita se aposentou em 1996, mas de vez em quando faz participações especiais, como nas capas alternativas das edições comemorativas 500 e 600 de Amazing Spider-Man (de 2003 e 2009) e Deredevil vol 3 n.º 100 (a revista do Demolidor), em 2007.

Justiceiro by Romita
O Justiceiro foi criado por Romita para uma história do Homem-Aranha e depois ganhou suas próprias aventuras

Sua arte marcante será sempre lembrada e é importante que o artista seja celebrado ainda vivo.

Capitão América (por Romita) junto a Falcão e Sharon Carter

Legado:

Nascido em 1958, John Romita Junior decidiu seguir os passos do pai como desenhista e é um dos maiores nomes da indústria dos quadrinhos da atualidade. Não à toa, iniciou a carreira na Marvel e (vejam só) desenhando uma história do Homem-Aranha em 1975. Apesar do nepotismo, Romita Jr. nunca deixou dúvidas acerca de seu talento e, sabiamente, procurou criar um estilo próprio, diferenciado do de seu pai. Para tanto, em 1978, tornou-se o desenhista oficial do Homem de Ferro e ajudou na criação das melhores histórias do personagem até hoje. Em 1980, assumiu a mesma Amazing Spider-Man que seu pai havia desenhado, e em parceria com o escritor Roger Stern criou uma das melhores fases do teioso, como o confronto com o Fanático e a criação do Duende Macabro.

Duende Macabro
Duende Macabro x Homem-Aranha por Romita Jr.

Em 1984, Romita Jr. mudou-se para a revista dos X-Men e desenhou uma fase importante dos mutantes, particularmente muito querida dos fãs brasileiros porque correspondeu à época em que os personagens ganharam revista própria no Brasil, pela editora Abril. Infelizmente, para o leitor de hoje, que não quer ir atrás de sebos, apenas a participação do artista no início do “Massacre dos Mutantes” está disponível nas livrarias, em um encadernado da editora Panini: Os Maiores Clássicos dos X-Men vol. 3.

Ciclope dos X-Men na passagem de Romita Jr. nos anos 1980

Em 1988, o artista assumiu a revista do Demolidor e ali modificou seu estilo, criando uma arte mais quadrada e caricatural que, além de única e facilmente reconhecível, é bastante admirada. Desse trabalho, destaca-se a minissérie Demolidor: Homem sem Medo, escrita por Frank Miller e disponível nas livrarias. Nos anos 1990, também desenhou uma boa fase de Thor, escrita por Dan Jurgens; voltou aos X-Men brevemente; e desenhou o encontro entre Batman (da DC) e o Justiceiro (da Marvel). Mas foi no Homem-Aranha, a partir de 2000, que Romita Jr. alçou o panteão dos artistas da Marvel, participando das polêmicas histórias escritas pelo editor-chefe da Marvel, Joe Quesada, e do escritor J.M. Stracwinsky.

Spiderman by Romita Jr.
O traço estilizado de Romita Jr.

Também fez histórias memoráveis, como a minissérie The World War Hulk (“Hulk Contra o Mundo”, no Brasil), escrita por Greg Pak; Eternos, releitura da criação de Jack Kirby, escrita pelo aclamado Neil Gaiman; o arco Inimigo de Estado com Wolverine, escrito por Mark Millar (disponível nas livrarias); e Kick-Ass, também escrito por Mark Millar e que virou filme em 2010.