A história do Queen e de seu icônico vocalista, Freddie Mercury, esteve nos cinemas com o sucesso de Bohemian Rhapsody, então, depois de assistir ao longa, que tal conhecer a vida e a obra da banda em mais detalhes? Para isso, o HQRock traz mais um Dossiê Especial da série Discografia Completa.

O Queen se formou em 1970 em Londres e dali traçou uma trajetória longa e bem-sucedida que os levou a ser uma das bandas mais queridas do rock em todos os tempos. E dotada de um dos melhores vocalistas que o rock já gerou.

Arte e Ciência

O Queen nasceu a partir de outra banda anterior, chamada Smile, mas antes, vamos falar um pouco de seus membros.

Freddie Mercury nasceu com o nome de Farrokh Bulsara, em Zanzibar (protetorado governado por um Sultão e sob influência britânica, que foi extinto em 1963 e hoje tem seu antigo território divido entre o Quênia e Tanzânia), na África, em 05 de setembro de 1946, numa família de etnia Parsi, que provinha da Índia. Ele vivia em Stone Town, no protetorado britânico, sua família era da religião Zoroatrista e seu pai trabalhava no Escritório do Governo Colonial Britânico, o que fez ele e sua família serem oficialmente cidadãos britânicos.

Bulsara nasceu com quatro incisos a mais na boca, o que – segundo ele, pois não há um estudo comprovando tal fato – teria aumentado sua cavidade bucal e, portanto, a potência de sua voz, e sua família voltou para a Índia quando ele ainda era criança, indo estudar na St. Peter’s School, uma escola de estilo britânico, em Bombai. Começou a estudar piano aos sete anos e desenvolveu boas habilidades no instrumento e no canto. Aos 12 anos, Bulsara já montou sua primeira banda de rock: The Hectics, que tocava covers de rock and roll e do astro britânico da época, Cliff Richards. Em 1963, sua família retornou para Zanzibar, mas tiveram que fugir no ano seguinte, quando a Revolução levou ao fim do protetorado.

Freddie (centro) adolescente.

Sua família emigrou para a Grã-Bretanha, se fixando em Feltham, em Middlesex, onde começou a mudar seu nome de Farrokh para Freddie, e terminando o Ensino Médio, foi estudar desenho gráfico no Ealing Art College, uma faculdade de Belas Artes e se graduaria em 1969. Nesta época, trabalhava vendendo roupas usadas no Mercado de Kensington e já namorava a grande companheira de sua vida, Mary Austin.

Freddie Mercury mais velho ao lado de Mary Austin.

Desesperado para desenvolver uma carreira musical, Freddie Bulsara viveu temporariamente em Liverpool, no Norte da Inglaterra, a terra dos Beatles. Lá, ele ingressou numa banda chamada primeiro Ibex, e depois, Wreckage, mas o grupo não foi a lugar nenhum, formando outra chamada Sour Milk Sea (o título de uma canção do beatle George Harrison que foi gravada pelo cantor – também de Liverpool – Jackie Lomax) e, curiosamente, morou no apartamento que existia em cima do The Dovedale Tower, um pub que, não sabemos se Freddie sabia, mas tinha sido um dos primeiros palcos dos Beatles na cidade. De qualquer modo, o pub ficava em Penny Lane.

Como a banda também não foi para frente, Freddie retornou a Londres, onde conseguiu um emprego como carregador de malas no Aeroporto de Heathrow e conheceu uma banda nova nos pubs: Smile. O grupo havia sido fundado pelo guitarrista Brian May e o baixista Tim Stafell, em 1968. Ambos eram estudantes do Imperial College e May estudava Astrofísica. Ele também era parte do Comitê de Entretenimento e se encarregou de contratar bandas e artistas para tocarem no hall da universidade, agendando naquele mesmo ano o The Jimi Hendrix Experience. Isso motivou May a ter sua própria banda. Ele e Stafell colocaram um anúncio no quadro de avisos procurando um baterista no estilo de Mitch Mitchell (do Experience) e de Ginger Baker (o baterista do Cream). Roger Taylor, estudante de Odontologia respondeu e a banda nasceu.

A banda Smile.

Nos dois anos seguintes, o Smile tocou no circuito de pubs de Londres e no fim de 1969 até conseguiu gravar um single, com a canção Doing alright, que não fez sucesso algum. Em maio de 1970, Stafell decidiu sair do grupo para ingressar na banda Humpy Bong, que parecia que ia fazer sucesso. Freddie Bulsara era fã da banda e amigo dos membros e se escalou para se tornar o novo vocalista do grupo, mudando o nome deles para Queen e admitindo Mike Grose como novo baixista. A nova banda fez sua estreia em 18 de julho de 1970, no hall do Imperial College onde May agendava bandas. O baixista não ficou muito tempo e, pouco depois, foi substituído por Barry Mitchell, que só ficou até o início de 1971, quando foi substituído por Doug Bogie, que também saiu para a entrada de John Deacon em fevereiro de 1971, quando o Queen finalmente ganhou sua formação definitiva: Freddie Mercury (vocais, piano e guitarra base ocasional), Brian May (guitarra, teclados e vocais), John Deacon (baixo, teclados e vocais) e Roger Taylor (bateria, percussão, guitarra, teclados e vocais); que estreou ao vivo em 02 de julho de 1971, no Surrey College, fora de Londres.

O Queen passou a usar horas não usadas do De Lane Lea Studios, em Londres, para fazer suas gravações demo, mas nenhuma gravadora se interessou até que Norman Sheffield, do Trident Studios, os viu e decidiu empresariá-los pela nova empresa filiada ao estúdio, Neptune Productions. O Trident era um estúdio conhecido por ser bastante tecnológico e foi, provavelmente, o primeiro da Inglaterra a usar a tecnologia de 8 canais, quando a maioria, mesmo o lendário Abbey Road, ainda usavam apenas 4 canais. Os Beatles gravaram algumas de suas canções (Hey Jude, entre elas) no Trident por causa desse diferencial (até que Abbey Road instalou uma mesa de 8 canais no verão de 1968).

Por serem agenciados pelo estúdio, o Queen tinha muita liberdade para gravar e experimentaram bastante em seu primeiro álbum, com Sheffield conseguindo um acordo de distribuição com EMI, a gravadora dos Beatles e do Pink Floyd. Em julho de 1973, o resultado disso veio à tona com Queen, o álbum de estreia da banda, com uma sonoridade mais marcada pelo hard rock e por forte influência do rock progressivo e bastante distinto do som pelo qual o grupo é famoso hoje. O disco recebeu boas críticas, mas não aconteceu nas paradas nem o single Keep ourself alive.

No início de 1974, Queen II, trazendo uma icônica fotografia de Mick Rock, por sua vez não foi tão elogiado, mas vendeu bem mais e chegou ao impressionante 5º lugar das paradas britânicas e rendeu o primeiro hit: Seven seas of rhye, que chegou ao 10º lugar. A experiência lhes permitiu sair em sua primeira turnê nos EUA, em fevereiro daquele ano, abrindo os shows do Mott the People, mas infelizmente, com apenas um mês de giro a banda foi obrigada a voltar para casa, porque Brian May contraiu hepatite. De volta para casa, a banda voltou ao estúdio gravar seu terceiro álbum, com May só aparecendo na fase final para fazer suas partes.

Sheen Heart Attack saiu ainda em 1974 e foi ainda melhor do que o anterior, rendendo sucessos como Killer Queen e Now I’m here, o que gerou a primeira turnê mundial da banda, voltando aos EUA, indo ao Canadá, Europa e Japão, numa estrutura com figurinos e shows de luzes que embalaram as plateias e consolidaram o sucesso internacional do grupo. Porém, a turnê serviu para mostrar que, apesar do sucesso, os membros não estavam ganhando dinheiro, porque a grana passava da EMI para o Trident e só depois pulverizada para Mercury, May, Deacon e Taylor.

Isso gerou o rompimento do Queen com a Trident. O Queen foi cortejado pela Swan Records, do empresário Peter Grant, e que pertencia ao Led Zeppelin, mas preferiram fechar contrato com John Reid, o empresário de Elton John. Embalados no sucesso anterior, o quarto álbum do grupo se tornou uma maratona de seções e se tornaria o disco mais caro já gravado até então: A Night at Opera, saiu em 1975, e foi o maior sucesso do grupo até o momento, emplacando o incrível single Bohemian rhapsody, com mais de 5 minutos de duração. Apesar do ceticismo da EMI, a insistência do grupo valeu à pena e o compacto se tornou o terceiro mais vendido da história da Grã-Bretanha e uma das canções mais poderosas da história do rock. O álbum também rendeu a segunda turnê mundial da banda, um grande sucesso.

O disco rendeu um tipo de sequência com A Day at the Race, que saiu em 1976, repetindo a mesma fórmula do anterior e fazendo tanto sucesso quanto, gerando outra grande turnê, na qual se apresentaram para uma multidão de 150 mil pessoas no Hyde Park, em Londres. Em 1977, o Queen conseguiu concertos esgotados tanto no Madison Square Garden, nos EUA, quanto em Earls Court, na Inglaterra. O grupo repetiu o ciclo de disco de sucesso e grandes turnês com News of the World (1977) e Jazz (1978), o que os motivou a lançar seu primeiro álbum ao vivo, Live Killers (1979), o que de certo modo, encerra o segundo ciclo na carreira da banda.

A virada para os anos 1980 trouxe uma banda mais disposta a experimentar com ritmos fora de seu currículo, como a dance music e o rock’n’roll típico dos anos 1950, que podem ser vistos em The Game (1980), mas isso não abalou o sucesso, ao contrário: três concertos esgotados no Madison Square Garden; e a primeira viagem à América do Sul, onde tocaram um concerto gratuito em Buenos Aires para 300 mil pessoas; 150 mil pessoas no estádio de Monterrey, no México; e dois concertos no Estádio do Morumbi, em São Paulo, o primeiro com 131 mil pessoas, que bateu o recorde de maior público pagante para um concerto de música em todos os tempos. Um dos shows dessa turnê viraria o disco Queen Rocks Montreal, que sairia em 2007.

Tamanha aclamação motivou a gravadora EMI a lançar a primeira coletânea do Queen: Greatest Hits (1981) trazia um resumo da carreira do grupo desde a estreia. Mas o ciclo de sucesso não se encerrou: Hot Space (1982) trouxe o single Under pressure, composto e gravado em parceria com o lendário David Bowie e chegando ao primeiro lugar das paradas do Reino Unido.

David Bowie e Freddie Mercury idealizaram Under pressure, que foi um grande sucesso.

Mas nem tudo eram rosas. Hot Space foi massacrado pela crítica e o álbum não aconteceu nos EUA. A turnê de 1982 naquele país não foi boa e terminou sendo a última que o Queen realizou por lá em sua formação oficial. As relações dentro da banda também estavam péssimas: desde alguns anos, Freddie Mercury tinha um assistente pessoal, Paul Prenter, que começou a isolar o cantor do restante do grupo, dificultando até que tivessem acesso ao amigo.

Como resultado, os membros da banda começaram a investir em projetos paralelos. Roger Taylor foi o primeiro a gravar um álbum solo: Fun in Space (1981) e já um segundo com Strange Frontier (1983). Brian May também lançou um EP em parceria com o guitarrista Eddie Van Halen: Star Fleet Project (1983). Freddie Mercury também gravou seu único álbum solo nesse período, Mr. Bad Guy, embora o lançamento só tenha vindo em 1985, em meio à futura turnê do Queen. O álbum atingiria o 6º lugar das paradas do Reino Unido, e gerou um pequeno sucesso internacional com I was born to love you, mas não aconteceu nos EUA.

O baterista Roger Taylor foi quem teve a carreira solo mais promissora.

Mas a carreira solo que decolou mesmo foi a de Roger Taylor, que inclusive, montou a banda The Cross, que lançaria seu primeiro álbum em 1987, e até conseguiu um pequeno sucesso com Heaven for everyone, canção que trazia participação especial de Freddie Mercury nos backing vocals.

Ainda assim, mesmo com toda a tensão, o Queen foi para a Alemanha e gravou The Works (1984), que trouxe Radio Ga-Ga, I want to break free e Hammer to fall. O álbum fez sucesso na Europa, na América do Sul e vários países, mas não aconteceu nos EUA.

Após três anos longe dos palcos, o Queen embarcou em uma turnê mundial (menos os EUA) logo no início de 1985, tocando no Rock In Rio em janeiro, onde tocaram para 300 mil pessoas em cada uma das duas noites. As duas noites foram resumidas no vídeo Live in Rio, lançado em VHS e exibido pela MTV.

Também em 1985, o Queen se apresentou no Live Aid, em 13 de julho, o maior festival beneficente da história. A banda demorou demais a aceitar o convite e sequer foi anunciada quando da venda dos ingressos para os shows no Wembley Stadium, em Londres, mas terminou sendo o ponto mais alto de um evento que reuniu os grandes nomes da música, como Paul McCartney, DAvid Bowie, Michael Jackson, Bob Dylan, Elton John Phil Collins e muito mais. Duas bandas extintas se reuniram apenas para este concerto: The Who e Led Zeppelin.

Mas o Queen roubou a cena, tocando às 15h com um set que deveria durar 15 minutos (mas se estendeu por cinco a mais) e seis músicas: uma versão curta de Bohemian Rhapsody, as novas Radio Ga-Ga e Hammer to fall (com a brincadeira Ey-Oh entre elas e a nota à capella de Mercury que foi batizada de The Note Heard Round the World), os clássicos Crazy little thing called love, We will rock youe o matador final com We are the champions. A banda teve não somente os 72 mil espectadores de Wembley, mas os 1,9 bilhões de pessoas que assistiram ao vivo pela TV ao redor do mundo.

A banda não parou e já lançou A Kind of Magic (1986) em seguida, que servia como trilha sonora para o filme Highlander e trouxe sucessos como a faixa-título, Friends will be friends, Who want’s to live forever e One vision, que de novo fez sucesso no Reino Unido e grande parte do mundo, mas não foi bem nos EUA. O disco também trazia o início de uma mudança de postura da banda: One vision era apenas a terceira canção da história a ter a assinatura dos quatro membros do Queen, e logo em seguida, o grupo entendeu que essa era uma boa forma de diminuir a tensão interna, distribuindo os créditos entre todos para todas as canções, o que seria praticado no álbum seguinte.

DVD Queen Live at Wembley Stadium 1986: clássico absoluto dos concertos.

Em seguida, veio aquela que seria a última turnê da banda com Freddie Mercury, começando no verão do hemisfério norte de 1986 e que se tornou a mais lucrativa da história do rock até aquela data. Como parte do giro, o Queen retornou ao Wembley Stadium para um concerto solo que foi gravado e lançado como vídeo em VHS, Live at Wembley.

A turnê terminou em 1987 e a banda deu outra pausa em suas atividades, nas quais Freddie Mercury gravou o álbum Barcelona ao lado da tenora Monserrat Caballé, que fez bastante sucesso (ao contrário da empreitada anterior), em canções como Golden boy, How can I go on e a faixa título, chegando à 25ª posição das paradas britânicas, o que é muito para um disco de teor orquestral e operístico. O disco ganharia ainda mais significação apenas alguns anos mais tarde, quando da morte de Mercury e, em seguida, quando a cidade do álbum, Barcelona, foi a sede dos Jogos Olímpicos de 1992, o que motivou um relançamento do disco – fazendo ainda mais sucesso, dessa vez chegando ao 15º lugar das paradas – e motivando Monserrat Caballé apresentar a canção título e How can I go on ao vivo na abertura dos jogos, ao lado de um vídeo num telão com a gravação da voz de Mercury.

O Queen voltou ao estúdio e lançou The Miracle (1989), que foi o último da banda gravado em condições “normais”, mas trazendo pela primeira vez a política de autoria compartilhada em todas as canções. Àquela altura, Freddie Mercury estava bastante doente: tinha sido diagnosticado com AIDs dois anos antes e sua saúde foi deteriorando progressivamente. Por isso, não tinha condições de sair em turnê para promover o novo disco. Isso somado à aparência esquálida do cantor começou a dar origem aos boatos de que tinha a doença, o que ele negou em várias ocasiões.

Mercury fez sua última aparição pública com o Queen em fevereiro de 1990, quando o grupo não tocou, mas foi receber uma premiação especial do Brit Awards por sua grande contribuição à música. Em contrapartida, vendo que não tinha mais muito tempo, o cantor incentivou a banda a voltar ao estúdio e gravar o máximo possível de material para discos futuros. Nas sessões finais de Innuendo (1991), Mercury já comparecia de cadeira de rodas às gravações, mas ainda assim, fez registros vocais impressionantes.

Em outubro de 1991, o Queen lançou Greatest Hit’s II, que foi um enorme sucesso e se tornaria no futuro o 8º álbum mais vendido da história do Reino Unido. Mas o estado de Mercury era irreversível a esta altura.

No dia 23 de novembro, Mercury preparou seu testamento e, aproveitando a ocasião, escreveu um comunicado onde assumia publicamente que tinha AIDS pela primeira vez. Mas era tarde demais: o cantor morreu no dia seguinte, 24 de novembro de 1991.

Sua morte levou Innuendo ao 1º lugar das paradas e o Queen relançou Bohemian Rhapsody em compacto num Duplo Lado A ao lado da nova These are the days of our life, cujo vídeo foi o último trabalho de Mercury com a banda, gravado em abril daquele mesmo ano.

Sua morte gerou comoção no mundo inteiro e uma série de homenagens, enquanto o Queen se tornaria a segunda banda com maior vendagem de discos no Reino Unido, atrás apenas dos Beatles.

O Queen lançou ainda um último álbum com Freddie Mercury nos vocais em 1995, com Made in Heaven, que trazia as últimas gravações do artista, mas depois, Brian May e Roger Taylor (sem John Deacon que se afastou do grupo e se aposentou) começaram a se apresentar ao vivo e fazer algumas gravações sob a alcunha de Queen + trazendo um vocalista convidado, o que gerou apresentações e sessões com gente como Elton John, George Michael, Luciano Pavarotti, Zuchero e Robbie Williams.

Em 2004, Queen + Paul Rodgers (o antigo vocalista do Free e do Bad Company) iniciaram uma exitosa parceria durante cinco anos, e a partir de 2011 começou a se apresentar com Queen + Adam Lambert, cantor que foi vencedor do reallity show X-Factor.

Vamos agora aos discos do Queen. Como todos quatro membros do grupo compõem, iremos sinalizar o autor de cada faixa em parênteses. Os vocais são quase sempre de Mercury, mas ocasionalmente serão sinalizados quando de Brian May ou Roger Taylor.

QUEEN – 1973

A estreia fonográfica do Queen é curiosamente muito diferente da imagem que a maior parte do público tem deles: é um disco calcado no hard rock, com guitarras pesadas e influência forte do rock progressivo, que se revelam em suítes longas e partes instrumentais, e também, em temas que flertam com a fantasia e pegam carona num sentido que o nome da banda evoca: reis, rainhas, histórias de cavalaria e misticismo feudal. Do ponto de vista técnico, o Queen teve bastante atrito com os produtores John Anthony e Roy Thomas Baker e só conseguiu acertar o “tom” com a chegada do engenheiro de som Mike Stone, que produziu mixagens de acordo com o gosto do grupo. As gravações começaram no De Lane Lea Studios, mas logo se concentrou no Trident Studios, cujo proprietário foi o primeiro empresário da banda, embora só pudessem usar os horários vagos ou de madrugada para gravar.

O maior destaque do álbum é Keep yourself alive (May), mas a banda investiu também Liar (Mercury), que ganhou um videoclipe. Os fãs também gostam de Jesus (Mercury). Entre as curiosidades, Modern times rock’n’roll (Taylor) traz a estreia de seu autor, o baterista Roger Taylor, nos vocais solo, sendo a única faixa não cantada por Mercury. Também há uma faixa da versão anterior do Queen, o Smile: Doing alright (May, Tim Staffell); e a bolacha fecha com uma versão instrumental de Seven seas of rhye, canção que regressaria no álbum seguinte.

Queen foi produzido pela empresa do Tridents Studios, mas não tinha uma distribuidora e foram necessários 8 meses para a banda conseguir uma gravadora: a EMI Records (a mesma de Beatles e Pink Floyd), que lançou o disco no Reino Unido; e a Elektra Records (a do The Doors) lançou o disco nos EUA. A banda desgostou de todo esse intervalo e achou que, quando o álbum chegou às lojas, não representava mais a banda. Queen foi bastante elogiado pela crítica, mas não vendeu muito bem, embora, não podemos esquecer que era a estreia de um grupo novo. Então, talvez a 24ª posição no ranking de álbuns do Reino Unido não foi tão mal. Mas nos EUA só alcançou a 83ª posição.

QUEEN II – 1974

Para seu segundo álbum, o Queen pelo menos conseguiu gravar usando os horários normais do Tridents Studios, o que rendeu um som muito melhor. A produção continuou com Roy Thomas Baker (novamente com Mike Stone como engenheiro), embora a banda tenha convidado David Bowie para o serviço, mas o compositor estava gravando Pin-Up e trabalhando em Diamond Dogs. Para a capa, trouxeram o prestigiado Mick Rock, que já havia realizado grandes imagens e capas do movimento Glam Rock de Bowie, Lou Reed e Iggy Pop, da qual o Queen estava de algum modo associado; e o fotógrafo produziu uma das mais icônicas imagens da banda.

Na parte musical, a banda divide o álbum não em Lado A e B, mas em White Side and Black Side, demonstrando perspectivas musicais ligeiramente distintas, com o primeiro mais ligado à guitarra e o segundo mais direcionado ao piano. Mesmo assim, em ambos, ainda há o hard rock típico do disco anterior e toques de progressivo. Brian May escreve quase todo o Lado Branco (com exceção da última, de Roger Taylor) e Freddie Mercury escreve todo o Lado Negro. O destaque maior é Seven seas of rhye (Mercury), agora em sua versão completa – com letra – que foi lançada como compacto e chegou ao 10º lugar das paradas do Reino Unido. Mas o disco também traz Father to son (May), The loser in the end (Taylor), White Queen (as it began) (May) e The march of black queen (Mercury).

A recepção do álbum pela crítica não foi tão boa quanto o primeiro, mas o sucesso foi bem maior: chegou ao 5º lugar das paradas do Reino Unido e na 49ª nos EUA.

SHEER HEART ATTACK – 1974

O terceiro disco do Queen é o primeiro de seus grandes álbuns a vir à tona. A autoconfiança promovida pelos dois anteriores deram frutos, mesmo com os infortúnios iniciais do disco: a primeira turnê nos EUA foi interrompida porque Brian May contraiu hepatite e precisou ficar internado no hospital, o que levou às gravações começarem sem ele, com o guitarrista tendo que gravar suas partes depois, separado do grupo. Novamente com Roy Thomas Baker e Mike Stone, dessa vez, gravaram no Tridents Studio, mas também em outros três, inclusive, o AIR Studios de George Martin.

O grande destaque é Killer Queen (Mercury) que foi lançada como single e chegou ao 2º lugar das paradas da Inglaterra e representou o primeiro sucesso nos EUA, chegando ao 12º lugar da Billboard. Mas há dois outros sucessos, com Now I’m here (May), também lançada em single, e Stone cold crazy (Mercury-May-Deacon-Taylor), que foi a primeira faixa a ter todos os membros da banda como autores. O álbum ainda trouxe todos os membros da banda compondo material individual pela primeira vez, com Tenement funster (Taylor), cantada por seu autor, e Misfire (Deacon), com a estreia do baixista como compositor. She makes me (stormtropper in stilletoes) (May), também é cantada por seu autor.

O álbum mimetizou seu primeiro single e também chegou ao 2º lugar das paradas do Reino Unido e ao 12º lugar nos EUA, além de chegar ao Top 10 de vários países europeus e um pouco acima disso na Austrália e Japão, dando ao Queen seu primeiro sucesso internacional.

A NIGHT AT THE OPERA – 1975

Este é considerado o maior álbum da história do Queen e a grande virada da carreira fonográfica da banda. Novamente com produção e engenharia de Roy Thomas Baker e Mike Stone, respectivamente, desta vez, o Tridents Studios não foi usado (à exceção de God saves the Queen, uma sobra do disco anterior), com o grupo gravando seu material em nada menos do que sete estúdios diferentes! Comumente, é apontado como o álbum mais caro produzido até então (ultrapassando os custos do Sgt. Peppers dos Beatles, de 1967), com suas sessões se estendendo de abril a novembro de 1975 ao custo de 40 mil libras, o que nos valores de hoje seria mais de 300 mil libras!

Gravando pela primeira vez em 24 canais – em troca dos 16 canais dos álbuns anteriores – o Queen extrapolou no uso dos coros vocais e na criação de camadas – vocais e instrumentais – para tornar as canções bastante complexas e intrincadas. O maior destaque, claro, foi Bohemian Rhapsody (Mercury), uma faixa que começa como uma balada de piano, se transforma em uma suíte de ópera no meio e termina numa explosão furiosa de hard rock, num efeito sensacional, o que a transformou não apenas na canção-símbolo do Queen, mas numa das faixas mais importantes do século XX, e no compacto de maior sucesso da história do Reino Unido. O grupo teve que brigar para colocá-la como single – a EMI não queria, por temer que o estilo ousado e os mais de 5 minutos de duração a impedissem de tocar no rádio – e, como resultado, a faixa chegou ao 1º lugar das paradas do Reino Unido, onde permaneceu por 4 semanas não consecutivas. E a canção voltaria ao 1º lugar em 1991, depois da morte de Mercury.

Imagem do videoclipe de Bohemian rhapsody.

Além dela, destaques para You’re my best friend (Deacon), o primeiro clássico e hit escrito pelo baixista, que foi o segundo single; a balada ao piano Love of my life (Mercury), que renderia para sempre os momentos em que o público cantava junto com o autor a canção nos shows; e I’m in love with my car (Taylor), cantada por seu autor, que até chegou a ser cogitada ser lançada também em compacto. 

O álbum também chegou ao 1º lugar das paradas do Reino Unido e ao 4º nos EUA, chegando ao topo também outros países, como Dinamarca, Austrália e Nova Zelândia; e ficou no Top 10 de vários outros, como Áustria, Canadá, Japão etc.

A DAY IN THE RACES – 1976

Este disco segue como uma sequência direta de A Night At Opera e manteve não somente o estilo de vozes combinadas e instrumentação intercalada, no estilo rock-operístico do Queen, mas também na boa recepção de público e critica. Dessa vez, porém, a própria banda produziu inteiramente o trabalho, sem a participação de Roy Thomas Baker, embora mantivesse o engenheiro de som Mike Stone. 

O maior destaque é Somebody to love (Mercury) levada ao piano e no coro de vozes, que foi lançada como compacto e chegou ao 2º lugar das paradas do Reino Unido e ao 13º dos EUA; com Tie your mother down (May) alçando o 31º e 49º lugares, respectivamente; e Good old fashioned lover boy (Mercury) chegando ao 17º lugar no Reino Unido, mas sem chegar às paradas norteamericanas. 

O álbum chegou ao 1º lugar das paradas britânicas e ao dos EUA, novamente conquistando o Top 10 em vários outros países. 

NEWS OF THE WORLD – 1977

Após a aclamação dos dois álbuns anteriores, este saiu em uma época mais complicada, em meio à ascensão do punk rock e de críticas ao “velho” rock superproduzido de bandas como o Queen. Talvez para compensar isso, o disco tem algumas faixas compostas propositadamente para embalar as plateias, em especial, We will rock you (May) e We are the champions (Mercury), que foram lançadas como um compacto com Duplo Lado A, que chegou ao 2º lugar das paradas do Reino Unido e nos EUA. 

Spread your wings (Deacon) foi o segundo compacto e chegou ao 34º lugar das paradas britânicas, mas não aconteceu nos EUA; enquanto o terceiro single, It’s late (May) foi lançado apenas em alguns países, como Austrália, Japão e Nova Zelândia, mas só atingiu as paradas dos EUA, onde chegou apenas ao 74º lugar. Além dessas faixas, o disco ainda destaca canções como Sheer heart attack (Taylor), que curiosamente, é a “faixa-título” do terceiro álbum da banda, mas só veio ao mundo três anos depois. 

Valendo-se do sucesso dos discos anteriores, este foi lançado com uma bela capa dupla com uma ilustração de Frank Kelly Keas, que originalmente ilustrou a capa da revista de ficção científica Astouding Science Fiction, de 1953, que Roger Taylor tinha em casa. O desenhista foi convidado pela banda para realizar uma nova ilustração que trocava o homem morto nas mãos do robô gigante, pelos quatro membros do grupo, o que foi feito. 

Embora com menos entusiasmo do que os dois discos anteriores, este foi bem recebido pela crítica e chegou ao 4º e 3º lugar das paradas do Reino Unido e EUA, respectivamente, chegando ao Top 10 de vários países europeus.

JAZZ – 1978

Após alguns anos de ausência, o produtor Roy Thomas Baker volta a assinar um álbum com o Queen e o disco, dessa vez, dividiu opiniões. Se por um lado a imprensa começava a cansar do panorama operístico-pop do grupo; por outro, parte da negatividade se deu pela divulgação de seu primeiro single. A banda escolheu um compacto com Duplo Lado A, com Bicycle race (Mercury) e Fat bottomed girls (May) e duas coisas incomodaram bastante a crítica: em primeiro lugar, a banda promoveu uma corrida de bicicletas com 65 mulheres nuas no Wembley Stadium para promover o single e uma foto do evento foi usada como poster do álbum e capa do compacto; e em segundo lugar, parte da crítica denunciou uma postura sexista e machista de Fat bottomed girls, inclusive, com a Rolling Stone chamando o Queen de fascistas. 

Refletindo isso, o compacto chegou apenas à 11ª posição no Reino Unido e na 24ª nos EUA, embora tenha chegado ao Top 10 de alguns países escandinavos. 

Além do compacto, o maior destaque do álbum é Dont’ stop me now (Mercury), que foi lançada como o segundo single do disco e foi melhor comercialmente, chegando ao 9º lugar das paradas britânicas, embora nos EUA apenas na 86ª posição, iniciando o distanciamento do Queen do sucesso naquele país, enquanto mantinha a popularidade no resto do mundo. Esse efeito seria tão forte nos anos seguintes, que a banda deixaria de excursionar pelos Estados Unidos. Mas isso seria depois, não agora. 

Já o álbum em si chegou ao 2º lugar no Reino Unido e nos EUA. 

THE GAME – 1980

O fim dos anos 1970 trouxe uma mudança significativa na sonoridade do Queen. Muito embora a banda permanecesse em essência com sua ópera-pop, adicionaram um elemento eletrônico muito mais forte a partir deste disco. The Game também paga dividendos à discoteca, um gênero musical que virou uma febre na época. O álbum também registra a primeira vez que o Queen utiliza o intervalo de dois anos entre um disco e outro, pois o sucesso ininterrupto de seus discos anteriores motivou uma sequência longa de turnês, que adiaram a gravação de novo material. 

O primeiro destaque e primeiro single do álbum foi Crazy little thing called love (Mercury), canção que de modo inusual trazia seu autor tocando violão na gravação e nos concertos. Foi um sucesso esmagador e o primeiro compacto do Queen a chegar ao 1º lugar das paradas dos EUA, enquanto no Reino Unido ficou “apenas” na 2ª posição. O segundo compacto foi Save me (May), outras das canções mais famosas da banda, que chegou ao 11º lugar no Reino Unido, mas não aconteceu nos EUA, na qual seu autor toca a maior parte dos instrumentos, entre teclados e guitarras. O terceiro single foi Play the game (Mercury), que ficou nas posições 14 e 42 das paradas, respectivamente. 

O sucesso do disco foi tão grande que houve um quarto compacto e Another one bites the dust (Deacon) se tornou o single de maior sucesso da história do Queen, vendendo 7 milhões de cópias e chegando ao 1º lugar das paradas dos EUA, enquanto no Reino Unido fez “apenas” a 7ª posição. A canção é a mais disco do álbum. Segundo o que se diz, a banda decidiu lançar esta faixa em compacto por sugestão do cantor Michael Jackson, que assistiu a um concerto do Queen em Los Angeles e era amigo de Mercury. O sucesso foi tanto que The Game ganhou até um quinto (!) compacto, com Need your loving tonite (Deacon), que chegou ao 44º lugar nas paradas americanas. O álbum em si chegou ao 1º lugar das paradas do Reino Unido e EUA. 

FLASH GORDON: ORIGINAL SOUNDTRACK OF THE MOVIE – 1980

O Queen promoveu a trilha sonora do filme de ficção científica Flash Gordon, que adaptava o personagem das histórias em quadrinhos criado por Alex Reynolds em 1934, do qual os membros da banda eram fãs. O disco é majoritariamente instrumental e só tem vocais em duas faixas. A principal delas, Flash Theme, foi lançada como compacto. 

HOT SPACE – 1982

Após o sucesso do disco anterior, Hot Space não foi bem recebido pela crítica e tem uma sonoridade mais eletrônica e disco do que anterior. Parte disso, porém, foi acobertado pelo sucesso do compacto Under pressure (Mercury-May-Deacon-Taylor-Bowie) que trouxe uma explosiva parceria do Queen com David Bowie, que não somente foi coautor e cantou parte da letra. Bowie chegou até a participar de uma segunda faixa, Cool cat (Deacon-Mercury), mas depois, pediu para tirar sua voz e guitarra, porque não gostou do resultado. 

É um disco fraco do Queen, mas ainda tem algum destaque em Las palabras de amor (Words of love) (May) em homenagem aos fãs espanhóis da banda e Calling all girls (Taylor) e Life is real (song for Lennon) (Mercury), uma homenagem ao ex-beatle John Lennon, que fora assassinado dois anos antes do lançamento do disco. 

Mesmo com a recepção fria da crítica, Hot Space chegou ao 4º lugar das paradas britânicas e somente na 22ª nos EUA. Mas na Europa atingiu o Top 10 de vários países, como França, Itália e Alemanha. 

THE WORKS – 1984

Após o ponto baixo anterior, The Works levanta um pouco a moral da banda, trazendo a sonoridade pela qual o Queen ficaria famoso na parte final de sua carreira, um rock pop que usava muitos elementos eletrônicos e resquícios de sua velha ópera pop. O grande destaque foi Radio ga-ga (Taylor), que apesar de creditada apenas ao baterista, contou com uma “reorganização lírica e harmônica” nas mãos de Mercury. Foi o primeiro compacto e atingiu o 2º lugar nas paradas do Reino Unido e ao 16º nos EUA.  A faixa ganhou um famoso videoclipe que reutilizava cenas do clássico filme do cinema mudo Metropolis e uma coreografia na qual um público bate palmas nas “paradinhas” da canção, gesto que passou a ser imitado pela audiência nos shows do grupo, em particular, na célebre apresentação no Live Aid Festival, em 1985. 

O Queen no audacioso clipe de Radio Ga-Ga.

O segundo single foi I want to break free (Deacon), que também teve um videoclipe famoso, no qual o Queen se traveste de mulheres numa paródia da série de TV Coronation Street. Mercury incorporou seu figurino do clipe em alguns shows, o que rendeu alguns problemas, como no caso do Brasil, quando a banda tocou no Rock In Rio, em 1985, e quando surgiu com peruca e peitos falsos foi alvo de objetos lançados pela plateia. O cantor tirou os adereços e ficou bastante chateado com o fato.

O Queen no clipe de I want to break free.

Apesar disso, o single foi um grande sucesso no mundo inteiro (inclusive no Brasil), à exceção dos EUA, onde chegou apenas à 45ª posição. No Reino Unido foi ao 3º lugar e ficou no Top 10 de vários países, como França, Alemanha, Austrália e Japão. 

O terceiro single do disco foi It’s a hard life (Mercury) que chegou ao 6º lugar das paradas do Reino Unido e, geralmente, ficou no Top 20 dos demais países europeus ou da Oceania, mas nos EUA atingiu apenas a 72ª posição. O álbum ainda teve um quarto compacto, com Hammer to fall (May), que chegou ao 13º lugar das paradas britânicas. The Works chegou ao 2º lugar das paradas britânicas e fez sucesso no mundo todo, à exceção (de novo) dos EUA, em chegou apenas 23º lugar. 

A KIND OF MAGIC – 1986

O Queen estava popular como nunca depois da explosiva apresentação no Live Aid e volta às lojas com um disco controverso, que não agradou à crítica, mas manteve o sucesso. Parte da confusão se devia ao fato do álbum servir como trilha sonora não oficial (no sentido de que não foi lançada creditada como tal nem tinha associação com o estúdio de cinema) do filme Highlander, de Russell Mucahy, e estrelado por Christopher Lambert, que fez bastante sucesso na época.

Ao ceder material ao longametragem, o disco foi considerado não muito coeso, pois as faixas são muito distintas entre si. Algumas mantêm exatamente a pegada dos álbuns imediatamente anteriores, com o rock-pop operístico do grupo (como a faixa título), enquanto outras voltam às raízes de hard rock do Queen (One vision e Princes of the universe), ao mesmo tempo em que outras trazem baladas pianísticas, orquestra etc.

O primeiro single foi One vision (Mercury, May, Deacon, Taylor) a segunda canção da carreira do grupo a trazer todos os membros como autores. A faixa não está em Highlander, mas em outro filme da época (Iron Eagle) e chegou ao 7º lugar das paradas britânicas e ficando no Top10 dos outros países da Europa, e de novo, não acontecendo nos EUA. Apesar da autoria coletiva, Roger Taylor tenha reivindicado mais de uma vez que foi o “principal” autor da faixa. Se isso é verdade, o torna o principal compositor do disco, já que há uma única faixa em que Mercury é creditado como único autor: Princes of the universe (Mercury), que é o tema principal de Highlander e toca na abertura do filme.

O segundo compacto foi A kind of magic (Taylor), que tal qual sua outra principal contribuição no álbum anterior, também recebeu uma reconstrução lírica e estrutural por Freddie Mercury, que novamente não foi creditada. A faixa tira seu título de uma frase de Highlander, quando o protagonista explica sua imortalidade, e toca nos créditos finais do filme (numa versão alternativa, mais rock e menos pop do que a do álbum e do single). A faixa ainda traz participação do tecladista Spike Edney, que acompanhava o Queen ao vivo. A faixa chegou ao 3º lugar das paradas do Reino Unido e foi sucesso no mundo inteiro, à exceção dos EUA, onde ficou apenas na 42ª posição. O clipe da canção foi dirigido pelo diretor de Highlander.

O terceiro single foi Friends will be friends (Mercury, Deacon), que é apontada pelos críticos como a última balada de piano (co)composta por Freddie Mercury para a banda, e que em certo sentido (harmônico e performático) é uma releitura de We are the champions. Foi feita para elevar o público nos shows e na turnê do álbum – a última realizada com Mercury – o Queen a tocava entre aquela e We will rock you. A canção chegou ao 14º lugar das paradas britânicas e correu o Top 40 dos outros países europeus, novamente, não acontecendo nos EUA.

O quarto single foi Who want to live forever (May), que foi o tema de amor de Highlander (e, curiosamente, no filme, o verso de introdução é cantado por Freddie Mecury, enquanto em todas as versões lançadas da canção, esta parte do vocal é de Brian May). A faixa, inclusive, traz basicamente apenas Mercury nos vocais e May numa guitarra sintetizada Yamaha DX-7, com Roger Taylor tocando só um pouquinho de bateria eletrônica e John Deacon totalmente ausente; enquanto são acompanhados por uma orquestra completa conduzida por Michael Kamen e um coro de 40 meninos. A faixa fez sucesso apenas na Inglaterra, onde chegou no 24º lugar.

Outras faixas como Pain it’s so close to pleasure (Mercury, Deacon) e One year of love (Deacon) foram lançadas como compactos em alguns países europeus, como Espanha, França ou Alemanha, por causa do filme, mas não tiveram destaque nas paradas; enquanto Princes of the universe (Mercury) também foi lançada em alguns mercados e até foi um sucesso moderado na Austrália, onde chegou ao 28º lugar, e não fez sucesso nos EUA, mas ganhou alguma notoriedade por causa do filme. O álbum foi sucesso no mundo todo, chegando ao 1º lugar no Reino Unido e posições altas na Dinamarca (2º), França (3º) e Áustria (6º), e no Top 10 dos outros países europeus, vendendo mais de 6 milhões de cópias na época.

THE MIRACLE – 1989

Ao contrário do anterior, este álbum foi bem recebido pela crítica e eleito por alguns especialista como o melhor disco do Queen nos anos 1980, ao lado de The Game. E de novo foi um sucesso explosivo. É possível dizer que a banda estava com uma motivação diferente neste disco, pelo diagnóstico de AIDs de Freddie Mercury, que obteve em 1987. Isso ajuda a explicar porque o Queen passou praticamente todo o ano de 1988 em estúdio. Talvez, também refletindo esses novos tempos, a partir deste álbum, todas as canções foram creditadas ao quarteto como autores, embora vamos sinalizar quem é normalmente apontado como o autor principal.

O sucesso motivou o lançamento de cinco compactos do álbum! I want it all, iniciada por May, que chegou ao 3º lugar das paradas do Reino Unido e fez muito sucesso em toda a Europa. Mas isso era o padrão do Queen. O inusitado foram duas coisas: a faixa virou um tipo de hino anti-aparthaid na África do Sul e fez um sucesso enorme por lá; e virou um sucesso radiofônico do Queen nos EUA, algo que não acontecia desde Under pressure, em 1982! Ainda assim, isso não significou um sucesso comercial expressivo nos EUA , ou pelo menos só foi relativamente: a canção até atingiu a 3º posição da parada Maistream Rock da Billboard (que criou esse subcategoria para dar mais destaque às gravações de rock que normalmente “desapareciam” no Top 40 tradicional; e logo se via porque…), enquanto que na parada geral, a canção chegou apenas à 50ª posição.

Breakthru foi o segundo compacto, fruto da combinação de duas canções, uma de Mercury e outra de Taylor, que chegou ao 7º lugar das paradas britânicas, mas não aconteceu nos EUA. The invisible man foi o terceiro compacto e quase batizou o álbum (embora seria no plural), e foi composta principalmente por Taylor, chegando ao 12º lugar no Reino Unido e fazendo sucesso na Europa. O quarto single foi Scandal!, principalmente de May, que constrói uma crítica aos tabloides britânicos, e foi o que menos fez sucesso dos compactos, chegando à 25ª posição britânica.

E, por fim, o quinto single foi The miracle, que chegou à 21ª posição no Reino Unido. O álbum foi um grande sucesso no mundo inteiro, vendendo mais de 5 milhões de cópias na época, e chegando ao 1º lugar das paradas do Reino Unido (e também nas da Alemanha, Áustria e Suíça), além de o Top 10 na maior parte da Europa, indo bem até nos EUA, relativamente, onde chegou à 24ª posição na parada da Billboard.

INNUENDO – 1991

Este foi o último álbum em que o Freddie Mercury trabalhou ao lado de seus companheiros. Na medida em que a saúde do vocalista declinava, a banda decidiu gravar o máximo de material possível, atendendo às condições do cantor, o que explica as gravações terem se estendido por mais de um ano, entre março de 1989 até novembro de 1990.

Tendo em vista que a imprensa perseguia Mercury implacavelmente, questionando se estava doente – sua magreza chamou a atenção da mídia quando o grupo apareceu para receber o prêmio especial no Brit Awards, em 1990 – o Queen decidiu ir gravar no Montain Studios, em Montreaux, na Suíça. Refletindo o clima de camaradagem dos últimos tempos, novamente todas as faixas são assinadas pelos quatro membros do Queen. Uma das faixas do disco, All God’s people, ganha, além do quarteto, a coautoria de Mike Moran, parceiro de Mercury no álbum Barcelona, que gravou ao lado de Montserrat Caballé. A faixa iria para este álbum, mas terminou no repertório do Queen.

Em termos contratuais, este disco marca o início da parceria do Queen com a Hollywood Records, nos EUA, que assumiu o catálogo da banda das mãos da Capitol Records e começou, já em 1991, a relançar os álbuns da banda. No Reino Unido, o Queen permaneceu com a EMI por meio do selo Parlophone, o mesmo que lançou os Beatles.

O sucesso do álbum foi tão grande que rendeu seis compactos! O primeiro foi a faixa título, Innuendo, uma escolha não-ortodoxa para compacto – regressando aos tempos de ousadia de Bohemian rhapsody – e que mesmo assim chegou ao número 1 das paradas britânicas (pela 20ª vez!), embora só tenha permanecido na posição uma única semana. A faixa também ganhou modesto sucesso nos EUA, chegando ao 17º lugar na Mainstream Rock. A canção tem participação do ex-guitarrista do Yes, Steve Howe, que toca a guitarra hispânica na seção do meio.

O segundo compacto foi I’m going slaighly mad e parecia apontar um mal caminho comercial, pois chegou apenas ao 22º lugar das paradas britânicas, mas o resultado melhorou bastante com Headlong, que foi ao 14º lugar e também apareceu na Mainstream Rock, desta vez, em 3º lugar, sendo um pequeno hit radiofônico naquele país. The show must go on foi o quarto compacto e chegou ao 16º lugar das paradas britânicas. Curiosamente, para fins comerciais, este compacto foi considerado como parte promocional da coletânea Greatest Hits II e não do álbum Innuendo do qual faz parte.

A partir daí, o álbum recebeu uma nova lufada de sucesso quando da morte de Freddie Mercury, em 24 de novembro de 1991, e este último single voltou às paradas. Seguindo sua morte, o Queen relançou um single com a velha Bohemian rhapsody (1975), agora, como um Duplo Lado A com a faixa de Innuendo, These are the days of our lifes, e o disquinho chegou ao 1º lugar das paradas no Natal de 1991. Já nos EUA, a clássica canção também foi lançada em um Duplo Lado A, mas com The show must go on, que chegou ao 2º lugar das paradas. Quanto ao álbum Innuendo, as críticas foram bastante elogiosas e o público gostou de ver o Queen retornar ao som mais rock e robusto do que suas últimas obras mais direcionadas ao pop. O disco chegou ao 1ª lugar das paradas no Reino Unido e vários países, como Itália, Alemanha, Holanda e Suíça, mas nos EUA apenas à 30ª posição.

MADE IN HEAVEN – 1995

Enquanto a EMI manufaturava o lançamento de Innuendo, em 1991, Freddie Mercury e o Queen permaneceram em Montreaux, gravando no estúdio, o que seriam as últimas sessões do cantor antes de morrer. Entre janeiro e maio daquele ano, o cantor gastou suas últimas energias para gravar o que podia, inclusive, dessa vez, invertendo o processo criativo, e gravando os vocais finais antes mesmo da banda inserir seus instrumentos, numa urgência justificada, pois o vocalista sabia que tinha pouco tempo.

A última gravação de Mercury são os vocais de Mother’s love, que ele nem conseguiu terminar: precisou Brain May fazer o último verso, pois Mercury havia pedido para descansar um pouco e voltar depois para terminar, o que nunca mais pôde fazer. Com todo esse material na gaveta, o Queen esperou um pouco o tempo passar e o luto assentar até retornar e gravar novas partes instrumentais, entre 1993 e 1995, para finalizar o que seria o último álbum do Queen com Freddie Mercury.

Como resultado, o álbum é irregular e não tem como disfarçar sua cara de colcha de retalhos, mas muitos críticos o elogiaram bastante, com alguns o julgando melhor do que Innuendo, por exemplo, que já foi um disco elogiado. O primeiro grande destaques é Heaven for everyone, uma faixa composta por Roger Taylor e gravada em 1987 por sua banda paralela, The Cross (onde ele era vocalista e guitarrista base, e lançou três álbuns até 1993). Na época que o The Cross gravou seu primeiro disco, Freddie Mercury apareceu no estúdio e deu discas a Taylor de como gravar a canção, terminando por gravar alguns takes com sua própria voz. A faixa foi lançada com a voz de Taylor e Mercury fazendo backing vocals, mas os registros ficaram guardados e foram reutilizados em Made in Heaven. O Queen regravou a parte instrumental, os vocais principais de Mercury foram inseridos e Brian May fez os backings, em vez de Taylor.

A winter’s tale foi a última faixa inteiramente composta por Mercury a ser gravada, uma balada de piano de tema algo natalino e é a única canção em todo o repertório do Queen que foi gravada ao vivo no estúdio em um único take. Too much love will kill you foi composta por Brian May, Frank Musker e Elizabeth Lamers e foi originalmente selecionada para The Miracle, mas não pôde ser lançada por problemas contratuais envolvendo o nome de Musker. Esta faixa traz simplesmente a gravação para aquele disco, sem alterações.

Por fim, I was born to love you, uma canção que Mercury havia lançado em seu primeiro álbum solo, Mr. Bad Guy, de 1985, e que tinha sido um pequeno hit na época, e foi colocado no disco a pedido da gravadora, que queria a garantia de pelo menos um hit-single. O grupo manteve a voz, o piano e um sintetizador gravados por Mercury na faixa original, e adicionaram novas guitarra, baixo e bateria, acelerando ligeiramente a canção, também.

Made in Heaven fez um sucesso enorme e foi o número 1 das paradas no Reino Unido, Alemanha, Itália, Suíça, Suécia, Áustria e Dinamarca, sendo Top 10 em vários outros países, menos nos EUA, onde ficou apenas na 58ª posição. É o álbum de maior sucesso da carreira do Queen e vendeu mais de 20 milhões de cópias. A capa traz uma estátua de Mercury criada por Irena Sedlecka nas margens do Lago Lemán (ou Gênova), em Montreaux, na Suíça, onde a banda tinha seu estúdio.