Os Vingadores são hoje a equipe mais famosa de heróis da Marvel Comics. Ou talvez dentre todos! Reunindo heróis clássicos como Capitão América, Homem de Ferro e Thor, os “maiores heróis da Terra” reuniram também uma penca de heróis menos conhecidos que mostraram que o conjunto do todo é sempre maior do que a soma das partes. Na última década, os filmes do Marvel Studios extrapolaram tudo e tornaram os Vingadores uma marca global conhecida por todos e mantendo algumas das maiores bilheterias da história dos cinemas. Que incrível! Pois apesar de ser o principal grupo de heróis da Marvel ao longo de alguns períodos da história, terminou não sendo tão popular entre o grande público não-leitor de quadrinhos, como o foram os X-Men ou a Liga da Justiça da Distinta Concorrente.
Mesmo nos quadrinhos essa popularidade variou ao longo do tempo: nos anos 1960, os criadores Stan Lee e Jack Kirby preferiram priorizar o Quarteto Fantástico, que era mais popular; nos anos 1970, autores como Roy Thomas, Steve Englehart e Jim Shooter conseguiram deixar os Vingadores na crista da onda como uma das revistas mais quentes da Marvel; mas os anos 1980 começaram com um período em baixa antes da fase clássica de Roger Stern; e os bons momentos do início da longa fase de Bob Harras, na virada para os anos 1990, que trouxe também o grande momento de Kurt Busiek e George Perez; antes de outra baixa na virada do século XXI. Todavia, os Vingadores realmente só assumiram a centralidade do Universo Marvel (que anteriormente fora ocupada pelo Homem-Aranha e pelos X-Men nas décadas anteriores) a partir da longa temporada liderada pelo escritor Brian Michael Bendis nos anos 2000 e 2010.
Essa importância da equipe nas HQs migrou para o grande público, no entanto, apenas com o cinema, e definitivamente, por causa dele, hoje em dia e todo mundo sabe quem os Vingadores são.
Este post foi originalmente escrito aproveitando o embalo do início das gravações do filme Os Vingadores, em 2011, mas sofreu algumas atualizações depois disso. O HQRock traz, então, um Dossiê Especial sobre a história da principal equipe da Marvel Comics nos quadrinhos. Aproveite!
Novos e Ilustres Heróis
Tudo começou, na verdade, com a Liga da Justiça da DC Comics. Após dar início à Era de Prata dos quadrinhos com a criação das novas versões de velhos personagens; a Distinta Concorrente decidiu reunir seus principais personagens (Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Aquaman e o Caçador de Marte) em uma equipe de super-heróis. Assim, em 1960, surgiu a Liga e foi um enorme sucesso.

Na época, a Marvel Comics era uma pequena editora que fora grande no passado, mas passara a década de 1950 toda sob crise, se segurando para não fechar e publicando histórias de monstros, ficção científica, faroeste e romance. Entretanto, ao saber do estrondoso sucesso da Liga da DC, o dono da empresa (e também publisher), Martin Goodman, encarregou o Editor-Chefe, Stan Lee, de criar uma equipe de super-heróis.
Como não tinha como reunir “heróis famosos”, já que não publicava nenhum, Lee se uniu a Jack Kirby e criaram uma equipe totalmente original: o Quarteto Fantástico, em 1961, que deu início ao Universo Marvel que conhecemos! O sucesso imediato logo trouxe uma série de outros personagem: Hulk, Thor, Homem-Aranha, Dr. Estranho, Homem de Ferro etc.

Nascido com o nome de Stanley Lieber, em Manhattan, em 1922, filho de uma família judia cujo pai era alfaiate, Stan Lee era o rosto público e o principal nome da Marvel. Tinha entrado na empresa em 1939, quando tinha apenas 17 anos de idade e a editora ainda se chamava Timely Comics. O garoto havia demonstrado talento para escrever e precisava de um emprego, então, foi feito um arranjo familiar: Martin Goodman era casado com uma prima do rapaz e um tio dele também trabalhava lá e o levou para ser um office boy e faz-tudo. O jovem Stanley terminou como assistente do então editor-chefe Joe Simon e trabalhou na editoria do Capitão América, que foi criado por Simon e Jack Kirby (que era o diretor de arte), e terminou estreando como escritor num conto em prosa em Captain America Comics 03, de 1941, assinando como Stan Lee, pseudônimo que seguiu sua vida.
Quando Simon e Kirby terminaram demitidos da Timely, Goodman botou o rapaz de 19 anos de idade no lugar dos dois, como editor-chefe e diretor de arte, na base do “fica aí enquanto encontramos alguém melhor”, mas no fim das contas, à exceção do curto período em que o garoto foi convocado pelo exército (entre 1943 e 1946) por causa da II Guerra Mundial, Stan Lee prosseguiu em ambos os cargos por 30 anos até 1972! A época áurea passou com os anos 1940 (quando a editora foi uma das grandes do mercado) e na década de 1950 viveu momentos difíceis, inclusive, mudando de nome para Atlas Comics.

As coisas ficaram tão ruins que a Atlas/Marvel quase foi à falência em 1957, e Stan Lee foi obrigado a demitir todos os artistas e escritores. Como forma de sobrevivência, a editora passou a contratar por meio de contratos freelancers e, como maneira de economizar, Goodman colocava Lee para ser o escritor da maioria das histórias, lhe pagando abaixo da média de mercado, pois ele já era funcionário. E mais: num arranjo leonino, como era uma escrita free-lancer, Lee não podia escrever na hora do expediente (quando cuidava da redação), mas em suas horas de folga, à noite e nos fins de semana. Para dar conta desse regime, Lee criou o que depois foi chamado de Método Marvel: ele criava uma sinopse curta da história, passava para o desenhista desenvolvê-la a partir dos desenhos (o que tecnicamente os colocava como coautores) e depois criava os diálogos e recordatórios a partir da arte.
A partir de 1958, a Marvel começou a se recuperar lentamente e foi agregando novos e velhos artistas até que Lee e Kirby criassem o Quarteto Fantástico e tudo mudasse de figura.

Nascido Jacob Kurtzberg, no Brooklyn, em 1917, também de uma família judia, um pouco mais pobre do que a Lieber, Jack Kirby se mostrou um ás do desenho desde cedo o que lhe valeu até convites para estudar arte de modo formal, mas ele preferiu trabalhar e ganhar dinheiro na indústria de desenhos animados (nos estúdios Fleisher), antes de migrar para o então nascente mercado de revistas em quadrinhos. Sua ascensão foi rápida e após trabalhar de maneira quase anônima como free lancer em algumas editoras, terminou contratado como diretor de arte para a Timely de Martin Goodman, ao lado de seu parceiro criativo Joe Simon, em 1939. A dupla criou vários personagens e cuidou do comando da editora e criaram o Capitão América, que estreou em março de 1941 e se tornou a revista de maior sucesso da editora e uma das maiores da indústria.

Mas como achavam que Goodman pagava muito mal, Simon e Kirby começaram a a vender secretamente material para outras editoras – e fazendo sucesso – até o esquema ser descoberto e serem sumariamente demitidos, em 1942. Mas a dupla prosseguiu, publicando na DC Comics e fazendo sucesso pelo restante da década de 1940, mesmo com a interrupção da convocação para o exército que atingiu a ambos e Kirby foi enviado à guerra de verdade, lutando como soldado. A década de 1950 foi um período mais difícil e viu o fim da parceria, mas Kirby continuou na indústria, ainda que numa temporada de baixa.

Ele regressou à agora Atlas em 1958, fazendo histórias de western e terror ao lado de Stan Lee, que tinha sido seu office boy no começo da carreira. Mas o Método Marvel criado por Lee dava a Kirby a oportunidade de, na prática, criar suas próprias histórias e a parceria floresceu, culminando na criação de Quarteto Fantástico, Hulk, Homem-Formiga, Thor, Homem de Ferro, X-Men… e Os Vingadores.
Os Maiores Heróis da Terra
Dois anos após o início do Universo Marvel, a editora já tinha um bom punhado de personagens e Stan Lee decidiu fazer uma nova equipe reunindo heróis já existentes. Em setembro daquele ano, Lee e Kirby lançaram a revista The Avengers 01, em setembro de 1963, que trazia uma chamada de capa anunciando a união de Thor, Homem de Ferro, Hulk, Homem-Formiga e Vespa contra o deus da trapaça, Loki.

Cada um dos personagens tinha seu próprio sucesso e suas aventuras, embora fossem relativamente “jovens” em termos editoriais. Hulk era o mais antigo, publicado pouco depois da estreia do Quarteto Fantástico, onde estreou sua própria revista The Incredible Hulk 01, de 1962, por Stan Lee e Jack Kirby. A revista fez algum sucesso, mas só teve seis edições bimestrais publicadas, porque a Marvel era uma empresa pequena e só podia publicar um número restrito de revistas por mês, então, Stan Lee decidiu cancelá-la para publicar em seu lugar The Amazing Spider-Man 01, a revista do Homem-Aranha, em março de 1963, mas o gigante verde continuou aparecendo nas histórias de outros personagens, como Quarteto Fantástico.

As tramas mostravam que o brilhante físico nuclear Dr. Bruce Banner inventa a poderosa bomba de raios gama para empoderar os Estados Unidos na Guerra Fria contra a União Soviética, mas no dia do teste da arma, o adolescente Rick Jones invade sem querer a área segura, e Banner vai tirá-lo de lá; porém, um espião soviético não para a contagem para que o cientista morresse. Atingindo pela radiação gama, Banner não morre, mas se transforma em um brutal monstro de força incalculável, que passa a ser sumariamente perseguido pelo exército, apesar de nunca ter feito mal nenhum. Naqueles primeiros tempos, ele ainda gozava de uma “identidade secreta” e ninguém sabia que Banner era o Hulk.
Thor estreou num conto na revista Journey Into Mystery 83, de 1962, por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby, numa coleção de histórias variáveis de mistério e fantasia. Seu sucesso o tornou uma atração fixa na revista – que continuou com histórias de outros personagens também publicadas por um tempo – até que em 1965, a revista mudou de nome para The Mighty Thor, mantendo a numeração original.

Naquelas tramas, o médico americano Donald Blake é um grande profissional, mas sofre por ser coxo (tem uma perna atrofiada) e usar uma bengala; e numa viagem de férias à Noruega termina testemunhando uma invasão alienígena e, tentando se esconder, encontra em uma caverna o Martelo Mjolnir que traz a inscrição: “aquele que empunhar este martelo, se for digno, receberá o poder de Thor”; e ao pegá-lo, se transforma no Poderoso Thor, o deus do trovão da mitologia nórdica. Nas primeiras aventuras, Lee, Lieber e Kirby mostravam que Blake apenas pensava que tinha herdado os poderes de Thor; porém, na medida em que começou a encontrar outros seres da mítica cidade de Asgard, como seu pai Odin, o meio-irmão e maior vilão Loki, o deus da mentira ou da trapaça etc., termina por perceber que ele é Thor e que a identidade de Blake era apenas um embuste criado por Odin para lhe ensinar uma lição sobre humildade.

Esquema editorial similar foi o do Homem de Ferro, que estreou como um conto na revista Tales of Suspense 39, de 1963, criado por Stan Lee (conceito), Larry Lieber (texto), Jack Kirby (visual) e Don Heck (ilustrou a história); e continuou sendo publicado nas edições seguintes junto a outros personagens. Em 1965, conforme se verá adiante, a revista passou a ser dividida meio a meio entre ele o Capitão América.
Na trama, Tony Stark é um bilionário fabricante de armas que termina ferido na explosão de um de seus próprios armamentos no Sudeste Asiático (eram os tempos da Guerra do Vietnã), e é salvo por um cientista chinês que criou um tipo de dínamo que mantém os estilhaços do ferimento distantes de seu coração; e os dois criam uma armadura especial (grande, desengonçada e cinza) para escapar dali, nascendo o Homem de Ferro. De volta aos EUA, Stark cria o embuste de que o Homem de Ferro é um funcionário misterioso da Stark Industries, criando uma identidade secreta, e passa a usar sua nova arma para combater o mal, na medida que vai aperfeiçoando a armadura e muda sua cor para dourado.

Por fim, os menos conhecidos eram a dupla Homem-Formiga e Vespa. O primeiro era o cientista Hank Pym que criou um soro que lhe permitia diminuir de tamanho. Ele foi criado por Stan Lee e Jack Kirby num conto da revista Tales to Astonish 27, de 1962. Em edições futuras, Pym se converteu no herói Homem-Formiga, usando suas habilidades científicas para criar um uniforme com um comunicador que lhe fazia conversar (e comandar) as formigas. Depois, Tales to Astonish 44 apresentou a socialite e estilista Janet Van Dyne, que se enamora de Pym e termina virando a heroína Vespa, a partir das partículas especiais do cientista e da implantação de asas de vespa em seu corpo, que só apareciam quando ela diminuía de tamanho. Ela também era capaz de lançar um disparo eletromagnético que feria os oponentes, chamado de ferrão da vespa.
Surge a Lenda
O conto de origem dos Vingadores é bem simples: em The Avengers 01, de setembro de 1963, por Lee e Kirby, Loki espaca de sua prisão em Asgard e decide usar o Hulk como ferramenta para tentar destruir Thor, mas os outros heróis terminam se envolvendo na batalha.

Loki usa seus poderes para criar uma série de embustes que incriminam o Hulk, causando uma onda de revolta contra o golias verde e a intensiva busca pelo exército. Desconfiando que há algo errado (o Hulk não é mal), o adolescente Rick Jones encaminha uma mensagem de rádio pedindo ajuda para deter o gigante verde que é manipulada pelo deus da trapaça e direcionada até o deus do trovão, chegando aos ouvidos de Donald Blake.

Jones fazia parte da Brigada Juvenil, um grupo de pirralhos que apareciam nas aventuras do Hulk e que usavam um equipamento de rádio amador para pedir ajuda e se comunicar com outros heróis. A partir de então, Rick Jones seria um coadjuvante frequente nas aventuras dos Vingadores, como o “elemento humano” ao lado da equipe, tal qual o também adolescente Snapp Carr era para a concorrente Liga da Justiça.
Pensando que a mensagem era para ele, o deus do trovão sai no encalço do Hulk; porém, como eram ondas de rádio, outros heróis ouvem a mensagem: o Homem de Ferro e a dupla Homem-Formiga e Vespa, que também respondem. O Hulk está escondido no interior dos EUA e é encontrado por Thor, que inicia uma batalha, que logo é incrementada pela aparição dos outros três. Mas o deus do trovão percebe que há algo errado e vai a Asgard atrás de respostas, descobrindo o plano louco de Loki, que é levado à Terra. Os heróis se unem e derrotam o deus da trapaça com alguma facilidade.

Ao final, o quinteto decide permanecer unido para combater grandes ameaças que nenhum poderia fazer sozinho. E cabe à Vespa batizar o grupo de The Avengers.
Assim, de maneira simples e eficaz, Lee e Kirby criaram uma lenda.
A Fase de Lee e Kirby
A dupla criadora publicou inicialmente apenas os oito primeiros números de Avengers, (retornando pouco tempo depois para mais três edições até o número 16) mas foi o suficiente para lançar a base das aventuras da equipe. Inicialmente bimestral (a Marvel era uma empresa pequena), a revista se tornou mensal a partir da 7ª edição, em agosto de 1964.

Lee e Kirby não tinham nenhuma pretensão de que os Vingadores fossem uma equipe estável e amigável como os concorrentes da Liga da Justiça. Ao contrário, a tônica do time sempre foi o conflito interno entre seus membros. Afinal, o que aconteceria se reunissem cinco seres superpoderosos em uma mesma sala?

Assim já em Avengers 02, os Vingadores viram o Hulk se revoltar contra a própria equipe e ir embora. Os heróis combatem o Fantasma do Espaço, um ser alienígena que troca de lugar com outras pessoas (que são enviadas a outra dimensão) e mimetiza sua aparência e poderes. O vilão usa o Hulk como artimanha e o golias verde fica furioso com a facilidade com que a equipe julgou que ele era uma ameaça. Ressentido, resolve deixar o grupo, que fica como um quarteto.

Uma curiosidade da batalha é que o Fantasma do Espaço (desenhado à moda antiga de Kirby, quase como uma caricatura ambulante) informa que observa os Vingadores “há meses”, embora essa fosse apenas a segunda aventura do grupo. Também o Homem de Ferro diz que “mesmo quando não há missões, precisamos nos reunir para nos conhecer melhor”, quase como um indicativo de que houve outras aventuras que não vimos. Esses elementos levaram vários escritores posteriores a criar “contos perdidos” dos Vingadores originais, como se realmente tivessem tido aventuras não contadas entre a edição 01 e a 02.
Avengers 02 também é o ponto em que Hank Pym já deixa de ser o Homem-Formiga e passa a ser o Gigante (Giant-Man), invertendo o seu poder e passando a crescer em tamanho e aumentar sua força (refletindo as aventuras solo que tinha na revista Tales to Astonish). Nesse início, esse crescimento era limitado a uma altura entre 5 e 9 metros apenas.

A edição 02 também traz logo em sua primeira página a informação de que o empresário Tony Stark, que os outros heróis não sabiam ser o Homem de Ferro, havia doado sua mansão em Nova York (poucos números depois, estabelecida na 5ª Avenida) para que o grupo se reunisse, surgindo assim, o QG do grupo: a Mansão dos Vingadores. Bem mais tarde, seria esclarecido que os Vingadores eram financiados pela Fundação Maria Stark, organização filantrópica que o empresário criou com o nome de sua mãe.

Ah, aproveitando o ensejo: nesses primeiros tempos, as HQs levavam muito a sério a ideia de identidade secreta, daí, nesse início, nenhum dos outros membros sabia das reais identidades dos demais. Ou seja, não sabiam que Stark era o Homem de Ferro, nem que Banner se transformava no Hulk, nem que Thor andava pela Terra como o médico Donald Blake. Apenas Hank Pym e Janet Van Dyne teriam suas identidades reveladas aos colegas logo no início, pois ela não usava máscara.
Por mais estranho que isso possa soar aos leitores atuais – ainda mais porque os filmes do Marvel Studios aboliram a ideia de uma “identidade secreta” – demoraria 20 anos para que os Vingadores descobrissem que Stark (seu financiador) e o Homem de Ferro eram a mesma pessoa.

Sempre em mente com a ideia de reviravoltas surpreendentes, Lee e Kirby fizeram Avengers 03, onde o Hulk se une a Namor, o Príncipe Submarino (um personagem da Marvel criado em 1939 e que foi trazido de volta na revista do Quarteto Fantástico como um inimigo da humanidade) contra a equipe. Outrora um dos heróis mais populares da Marvel (no fim da década de 1930 e início de 40), agora, Namor era retratado como um autêntico vilão, embora não maligno, porém, mobilizado pelo ódio contra a civilização da superfície, porque o reino submerso de Atlântida tinha sido destruído pelos homens em testes nucleares (eram os tempos da Guerra Fria, lembram?), conforme mostrado em Fantastic Four 03, de 1962.
Aventuras posteriores mostraram Namor reencontrando seu povo, os Atlantes (da qual era Rei!) e, com isso, usando-os como exército contra o Quarteto Fantástico. Gladiar-se com os Vingadores aumentava o escopo de ação do Príncipe Submarino, criando um vínculo duradouro com a equipe em várias instâncias.
(A abordagem de Namor se tornou mais branda com o passar dos anos, na medida em que o personagem voltou a ter histórias solo dentro da revista Tales to Astonish (ironicamente, substituindo as aventuras de Gigante e Vespa, a partir de 1965), com ele sendo transformado em um anti-herói trágico, inclusive, com seu reino sendo usurpado e seu povo se voltando contra ele. Cada vez mais heroico, Namor terminaria como aliado e membro dos Vingadores no futuro distante, conforme será visto mais abaixo).

Avengers 03 mostra os Vingadores remanescentes indo atrás do Hulk, com medo que sozinho se transforme em uma ameaça. Novamente o golias verde sai em batalha com seus companheiros, mas consegue fugir e vai para o mar, onde se refugia em uma ilha isolada. Mas é contatado por Namor, que propõe uma aliança contra os Vingadores. A dupla emite uma mensagem desafiadora e confronta a equipe em Gibraltar, na Europa, mas inesperadamente, o Hulk converte de volta ao Dr. Bruce Banner e foge sem ser visto.
Mas claro, grande parte da graça da edição 03 é ver batalhas como Hulk versus Thor (pela primeira vez, se descontarmos o rápido lance do número anterior) – na qual descobrimos que o deus do trovão é o único que pode erguer o martelo Mjolnir (e não é uma questão de força, mas de honradez).
Por fim, outra curiosidade é que Avengers 03 trouxe pela primeira vez o Homem de Ferro usando sua versão esguia (e vermelho e dourado) de armadura, depois de duas edições vestindo o desajeitado segundo modelo da armadura do personagem.

A batalha fica inconclusa e, enquanto Hulk parte em sua jornada solitária, os Vingadores continuam no encalce de Namor, o que nos leva à superclássica Avengers 04, de março de 1964, em que vemos a equipe usando um submarino para caçar o príncipe submarino, e um enfurecido Namor chegar ao Ártico e encontrar uma tribo de esquimós adorando uma figura humana presa dentro de num bloco de gelo, que o atlante arranca da geleira e a arremessa no oceano. Pouco depois, o bloco é levado pela maré a águas mais quentes e começa a derreter. Seguindo a trilha de Namor, os Vingadores avistam o bloco e recolhem o homem que estava preso dentro dele.
Para a surpresa de todos, descobrem que o homem está vivo e é ninguém menos do que o lendário Capitão América, o grande herói da II Guerra Mundial, evento que, na época em que a revista fora publicada já estava há duas décadas no passado.

A reintrodução do Capitão América foi um dos eventos mais importantes da Marvel em seus primeiros anos. O personagem havia sido o maior sucesso da editora nos anos 1940, mas permanecia como uma lembrança distante. Trazê-lo de volta era uma estratégia comercial de manter a propriedade do personagem, mas também deu a Lee e Kirby a oportunidade de aperfeiçoar um herói que tinha grande apelo a ambos: Kirby era o cocriador do Capitão América (junto a Joe Simon); e Lee escreveu a maioria das histórias do personagem entre os anos de 1942 e 1949, bem como a tentativa frustrada de trazê-lo de volta entre 1953 e 1954 (que não foi adiante por vendas baixas).

A Marvel havia criado uma nova versão do Tocha Humana (como parte do Quarteto Fantástico) e Namor tinha sido reintroduzido, portanto, dos principais personagens dos anos 1940 faltava apenas o Capitão América. E o melhor de tudo foi que Lee e Kirby fizeram isso de uma maneira original e muito criativa.
Em Avengers 04, Lee e Kirby definiram que o Capitão América havia desaparecido no final da II Guerra Mundial, em 1945, imediatamente antes da rendição alemã. Em uma cena de flashback vemos o Capitão América e seu jovem ajudante Bucky se agarrando a um avião experimental para impedi-lo de explodir sobre Londres, mas o avião termina explodindo antes, no Mar do Norte, Bucky morre na explosão e o Capitão é arremessado nas águas gélidas e termina congelado, ficando em animação suspensa, um conceito criado por Lee e Kirby para explicar que, por causa disso, Steve Rogers não envelheceu nem um dia desde a década de 1940.

O restante de Avengers 04 traz a aparição de um alienígena perdido na Terra e a retomada da batalha dos Vingadores contra Namor e os Atlantes, num frenesi de informações.
De maneira rápida e concisa, Lee e Kirby exploram o Capitão América como um “homem fora do tempo“, já que perdera décadas de história ao ficar congelado, despertando em um mundo estranho. Esta seria a principal característica do personagem dali em diante.
Desde o início, Stan Lee sabia que a função do Hulk no time era apenas causar discórdia, então, ele precisaria ser substituído. Não está claro se o escritor já tinha em mente desde o princípio que este substituto deveria ser o Capitão América, mas a aparição de Namor em Fantastic Four 03, de 1962, sugere isso.
Entretanto, o texto original de Avengers 04 sugere que Capitão e Namor não se conheciam, mesmo que os personagens tenham se encontrado em um par de aventuras da década de 1940. A história mostra apenas Namor dizendo que era uma atitude estapafúrdia dos Vingadores colocarem um falso Capitão América no meio da batalha. Ou seja, ele sabe quem o herói é, mas não é dito explicitamente que eles se conheciam. Isso mostra que Stan Lee ainda estava incerto em como iria tratar o passado da Marvel, histórias posteriores, porém, ignoraram este deslize e passaram a considerar que os dois não apenas se conheciam, mas tinham lutado lado a lado na II Guerra Mundial, conforme será explorado adiante.
Tal atitude também era uma forma de Jack Kirby não se comprometer com nenhuma das histórias do Capitão América depois que foi forçado a abandonar o personagem, em 1942. Ou seja, Lee e Kirby começaram desde aqui a criar uma cronologia totalmente nova para o herói, praticamente descolada de suas aventuras originais da década de 1940 e mantendo intacta praticamente apenas sua origem.

Curiosamente, a estreia oficial do Capitão América como membro dos Vingadores (depois da introdução na edição 04) se deu em outra revista: Fantastic Four 26, de 1964. Nesta revista, o Hulk descobre – via imprensa – que os Vingadores o substituíram pelo Capitão América, e furioso e enciumado decide deixar o deserto do Novo México e voltar a Nova York para se vingar deles, mas é interceptado antes pelo Quarteto Fantástico (com quem já havia lutado em Fantastic Four 12, de mais ou menos um ano antes). Por isso, há uma nova batalha furiosa entre o golias verde e o Coisa.

Mas, uma vez que vence o grupo, o gigante de jade segue até a Mansão dos Vingadores e enfrenta o time com o Capitão América em uma batalha colossal lindamente e cinematograficamente ilustrada por Kirby. De novo, a luta fica inconclusa porque o jovem Rick Jones (que era o único que sabia que o monstro era Bruce Banner) joga uma pílula de radiação gama na boca do Hulk, que termina revertendo para o cientista e escapa sem que os outros percebam.
A história também era uma safada maneira de Lee e Kirby “apresentarem” o Capitão América aqueles incautos leitores que porventura ainda não o tivessem visto, pois FF naqueles tempos ainda era a revista mais vendida da Marvel.

Avengers 05 é uma sequência direta de FF 25, começando com os Vingadores reparando os estragos causados na Mansão, mas os oponentes são os Homens-Lava (criaturas que haviam aparecido nas histórias de Thor) e, novamente, contando com a participação especial do Hulk. Novamente, há uma rápida batalha com o golias verde, mas os Homens-Lava têm bem mais espaço.
O ciclo do Hulk se encerra ali e o monstro verde não apareceria mais na revista por algum tempo, então, Avengers 06 dá origem a uma nova fase, mais preocupada em introduzir ameaças mais significativas para combater os Vingadores. Afinal, após os já conhecidos Loki e Namor, o insignificante Fantasma do Espaço e um alienígena genérico, até então, os Vingadores não tinham enfrentando nenhuma nova ameaça que justificasse sua existência.
Nessa aventura da edição 06, a equipe enfrenta o supergrupo de vilões chamados de Mestres do Terror (Masters of Evil, no original), liderados por um personagem novo: o Barão Zemo (revelado como o chefe nazista responsável pelo desaparecimento do Capitão América e a morte de Bucky) que liderava o Cavaleiro Negro (inimigo de Gigante e Vespa), o Homem-Radioativo (inimigo de Thor) e o Derretedor (inimigo do Homem de Ferro), reunindo tal qual os heróis um conjunto de personagens pré-existentes.
Lee e Kirby queriam usar o Caveira Vermelha – maior inimigo do Capitão América nos anos 1940 – como o responsável por seu desaparecimento e pela reunião dos vilões, contudo, o órgão de autocensura dos quadrinhos (o Comics Code Authority) não permitiu o uso do personagem, por causa de sua aparência horrenda. Então, Kirby decidiu criar um vilão novo em vez de revisitar qualquer outro que tenha aparecido nas aventuras de 20 anos antes.

Na trama, o Barão Zemo é um líder nazista que combateu o Capitão América na II Guerra e sobreviveu ao conflito, fugiu da Alemanha e vivia então exilado na Floresta Amazônica, na América do Sul, onde tinha um pequeno reino informal. Brilhante cientista, Helmut Zemo é apresentado como alguém que nutre um ódio mortal pelo Capitão América, cuja ação, décadas antes, fizera sua máscara ficar eternamente colada a seu rosto por causa de um superadesivo que ele mesmo criara, o Adesivo X. Outra invenção histórica de Zemo foi o Raio da Morte, que apareceria nessas histórias e em outras futuras. Por sua vez, o Capitão América também odeia Zemo por causa da morte de Bucky, deixando o personagem irreconhecivelmente vingativo. Sedento de vingança, um anormalmente raivoso Capitão América sai com tudo na batalha, mas os vilões conseguem fugir.
Na edição 07, Barão Zemo está de volta, agora com uma nova formação dos Mestres do Terror: a dupla Encantor e Executor, dois poderosos asgardianos e inimigos de Thor. Ela uma feiticeira superpoderosa, ele um guerreiro de força bruta.
Essas duas edições mudaram totalmente a dinâmica da revista Avengers. Afinal, Homem de Ferro, Thor, Gigante e Vespa tinham suas próprias aventuras, enquanto o Capitão América não. A revista do grupo não era conhecida, então, por aprofundar seus personagens, porque não havia tempo para isso. Assim, o que se via eram os heróis discutindo entre si e se unindo contra vilões, não raro, trocando chistes uns com os outros. Por isso, a partir da entrada do Capitão América, o grupo começa a ser visto pela ótica dele e seu deslocamento diante os “novos tempos” passam a ser o fio condutor da parte dramática das histórias. Ou seja, Steve Rogers se torna o protagonista do título automaticamente.
Seguindo a tradição que ele próprio criou, Stan Lee também tratou de divulgar a equipe em outras revistas, de modo que os Vingadores fizeram participação especial em X-Men 09, na qual as duas equipes ensaiam um confronto. Na verdade, o encontro é quase um embuste: enquanto os heróis mutantes estão no encalço de um vilão chamado Lúcifer, literalmente as duas equipes cruzam o caminho uma da outra e – no melhor “estilo Marvel” – saem brigando logo de cara. A batalha é bastante rápida, pois Charles Xavier se comunica telepaticamente com Thor e resolve a situação.
O último número consecutivo produzido por Lee e Kirby foi Avengers 08, de setembro de 1964, que introduz o viajante no tempo chamado Kang, o Conquistador, que quer tomar o controle do século XX e se transformaria em um dos mais recorrentes e importantes oponentes da equipe. É uma grande aventura que exige toda a habilidade do grupo para derrotar um vilão tão poderoso. Também há uma ajuda essencial da Brigada Juvenil.
Na trama complexa criada por Lee e Kirby, Kang é revelado como um homem do século 30, que usou uma máquina do tempo para viajar ao passado e se tornar um Faraó no Egito Antigo, onde se chamou Rama-Tut. Este personagem, na verdade, já tinha aparecido nas aventuras do Quarteto Fantástico (em Fantastic Four 19, de 1963, e em Fantastic Four Annual 02 – onde foi revelado como um descendente do Doutor Destino), de modo que a revelação fundia os dois personagens. Segundo a narração do próprio vilão, cansado daquela vida, tentou retornar ao seu tempo e terminou por um acidente parando no século 40, numa era de selvageria, em que a humanidade usava a tecnologia criada anteriormente para estar constantemente em guerra. Com esta tecnologia, decide vir ao nosso tempo e dominar o glorioso século 20.

O armamento avançado de Kang é o suficiente para derrotar os Vingadores (capturando todos os membros, à exceção da Vespa) e a trama mostra ele colocando o planeta num tipo de domínio e a ONU promovendo uma paz global temporária para buscar meios de derrotá-lo; mas é a ação da Vespa em conjunto com a Brigada Juvenil de Rick Jones quem conseguem realmente abrir um flanco na defesa do vilão, após se infiltrarem sua nave fingindo que iriam lhe obedecer.
Apenas a ação hábil e coordenada da equipe é capaz de ferir o vilão, com o Gigante usando uma arma especial que derrete os circuitos da roupa-armadura do viajante no tempo. Kang foge e retornaria muitas e muitas vezes, mas esta primeira aventura já o mostrava definitivamente como um de seus maiores inimigos.
Infelizmente, depois dessa edição, Jack Kirby começou a se afastar da revista.

Àquela altura, Jack Kirby era o principal ilustrador da Marvel Comics e cuidava de inúmeras revistas ao mesmo tempo, como as histórias de Quarteto Fantástico, Thor, X-Men, Gigante & Vespa, Nick Fury e Capitão América (que passaria a ter em breve suas próprias aventuras paralelas publicadas na revista Tales of Suspense), além de fazer a maioria das capas da editora, inclusive de personagens que não desenhava, como Homem de Ferro e Demolidor. O tempo escarço o impedia de se dedicar a uma revista com tantos personagens e detalhes. Querendo mais tempo para se dedicar às histórias que realmente gostava – especialmente do Quarteto, de Thor e do Capitão América – Kirby terminou se afastando de Avengers, embora tenha continuado a fazer suas capas por bastante tempo. Kirby ainda voltaria à arte interna da revista brevemente, nos números 14, 15 e 16, num momento crucial, como veremos.

Só um parêntese importante: as aventuras solo do Capitão América começaram a ser publicadas (por Lee e Kirby) em Tales of Suspense 58, de 1965, a mesma revista que trazia as aventuras solo do Homem de Ferro. Os dois vingadores dividiriam a revista por três anos até que, em 1968, quando a Marvel já era uma empresa maior e passou a distribuir as próprias revistas, ampliou seu leque de publicações, surgindo as revistas Captain America e The Invencible Iron-Man.

A Entrada de Don Heck
Quem substituiu Kirby em Avengers foi Don Heck, um veterano ilustrador que também era o responsável pelas aventuras do Homem de Ferro. Enquanto a arte de Kirby era cheia de ação e fúria, o traço de Heck era mais elegante e clássico, com o talento para figuras bastante bonitas, embora, também, poderia ser mais irregular em algumas circunstâncias (como prazos apertados). Stan Lee manteve a pegada de novas surpresas a cada edição, mas o alto grau de repetição de vilões parecia indicar que o escritor andava meio sem ideias ou muito ocupado (Lee escrevia praticamente todos personagens Marvel da época!).

A estreia de Don Heck foi em Avengers 09, com mais uma investida dos Mestres do Terror: novamente com Barão Zemo, Encantor e Executor. Dessa vez, o trio convencia o empresário corrupto Simon Williams a se submeter a um experimento a partir dos “raios iônicos” que o transformavam em alguém muito poderoso chamado Wonder-Man ou Magnum, como ficou conhecido no Brasil, alguém com super-força, invulnerabilidade e que voava a partir de mini-jatos embutidos no cinto.
A história mostrava o típico conto de traição: o plano de Zemo consistia em infiltrar Magnum nos Vingadores e destruí-los. O vilão garantia a obediência de Simon Williams por meio de uma chantagem mortal: os raios iônicos lhe davam força, mas também o matariam em uma semana e só Zemo podia lhe dar o antídoto. Os Mestres do Terror simulavam um assalto que era impedido pelos Vingadores e recebiam a ajuda de Magnum, que pedia para ingressar no grupo.

Homem de Ferro e Capitão América ficam bastante desconfiados da história toda, mas lhe dão um voto de confiança, que, claro, será quebrado: Magnum sequestra a Vespa e a leva para a base de Zemo na Floresta Amazônica, enquanto os Vingadores vão resgatá-la e mesmo com o reforço dos vilões, conseguem derrotá-los. Claro que, no final, Magnum vê a honradez dos Vingadores, se arrepende e ajuda o grupo a vencer, ganhando a morte como prêmio.
A capa de Avengers 09 dá grande destaque ao surgimento de Magnum e, aparentemente, Stan Lee tinha grandes planos para ele, pois décadas depois, manifestou ressentimento sobre um processo movido pela DC Comics para que o personagem fosse descontinuado, por causa de seu nome: uma versão masculina da Mulher-Maravilha no original. De qualquer modo, Magnum seria um personagem com grande envolvimento com os Vingadores no futuro distante, apesar dessa “morte”.

Avenger 10 traz a investida de Immortus (outro viajante no tempo, com similaridades com Kang, que acabara de estrear!). É uma história confusa, pois Immortus é apresentado como um ser místico, o senhor do Limbo, uma dimensão em que não há tempo nem espaço (e que tinha aparecido na edição 02). Senhor do Tempo, Immortus convence os Mestres do Terror (Zemo, Encantor e Executor) de que pode matar os Vingadores, e o faz usando figuras “históricas” que ele pode capturar na linha temporal e usar a seu favor, como o gigante Golias (morto por Davi na Bíblia); Átila, o Huno; o mago Merlin (dos tempos do Rei Artur) e o semideus grego Hércules.
Esta é uma edição ruim, como foi o número 02, com uma trama meio sem propósito, o que é evidenciado no final, quando desiludida pela derrota, Encantor usa magia para fazer o tempo retroceder e fazer com que os eventos mostrados na aventura simplesmente não se repitam, de modo que nada valeu. Para piorar, Heck parecia estar muito ocupado fazendo as histórias do Homem de Ferro, pois seu desenho está irregular e sem criatividade, com o visual de alguns personagens beirando o risível, como o caso de Hércules, que é retratado simplesmente como um homem de cabelo grande e uma tanga felpuda.
Kang, o conquistador já está de volta na edição 11, dessa vez enviando um robô imitando o Homem-Aranha (de modo a envolver pelo menos de modo casual esse personagem tão popular, cujas aventuras eram produzidas por Stan Lee e Steve Ditko). Ao contrário de sua estreia bombástica, esta aventura não é grande coisa: Kang envia do futuro o robô-aranha fingindo que quer entrar para o grupo e os levando até um templo asteca no México para uma cilada, e o Homem-Aranha fake quase derrota o grupo, atacando seus membros separadamente. Toda ação é basicamente uma propaganda do amigão da vizinhança e de como ele seria páreo para todo o time.

No fim das contas, de modo algo inexplicável, o verdadeiro escalador de paredes aparece para ajudar e confronta o impostor mecânico e o derrota. Esses elementos transformam, de modo algo bizarro, a aventura em muito mais uma história do Homem-Aranha do que dos Vingadores, o que era realmente muito estranho, em vista que o grupo de heróis era uma atração relativamente nova dentro da Marvel. Parecia que a revista já estava cansada depois de apenas começar.
Dois aspectos curiosos deste número: 1) a arte é realizada por Bill Everrett, artista que criou Namor (em 1939) e que criou o Demolidor ao lado de Stan Lee, em 1964, e que faria alguns trabalhos pontuais na Marvel no período e, logo mais assumiria histórias do Hulk, Doutor Estranho e retornaria ao Príncipe Submarino; 2) apesar de aparecer na capa, o Homem de Ferro não participa da aventura contra Kang e o Homem-Aranha, porque estava desaparecido em consequência de suas histórias próprias a partir de Tales of Suspense 61, de modo que os Vingadores estão desfalcados.
A edição 11 termina por ser importante por ser a primeira participação do cabeça de teia na revista e o herói teria interações pontuais com o time nas décadas seguintes.
O número 12 estabiliza Don Heck como o novo artista fixo do título, mas mantém a fase em baixa da revista, com o grupo enfrentando dois vilões do Quarteto Fantástico: Topeira e o Fantasma Vermelho.

Avengers 13 traz o Conde Nefária, já em fevereiro de 1965. Este personagem também teria grande envolvimento com o grupo no futuro e vinha acompanhado da primeira aparição da organização criminosa Maggia, um tipo de versão Marvel da Máfia dos Estados Unidos. A história é interessante porque coloca os Vingadores combatendo o crime comum no início da trama, algo raro em suas revistas, logo cedendo ao aspecto fantasioso de Nefária, que usa um artifício para fazer o mundo pensar que os Vingadores se voltaram contra lei. Mas o grupo vence e prende o vilão.
A Vespa termina aquela edição mortalmente ferida por uma bala e os Vingadores precisam encontrar o único médico capaz de ajudá-la, em Avengers 14, uma jornada que termina levando-os ao contato com uma raça alienígena escondida. Esta edição é claramente um “número de férias”, ou seja, feito às pressas enquanto os artistas tiram seu merecido descanso. Talvez por isso, os créditos são inusitados: Stan Lee (argumento), Paul Laiken e Larry Lieber (textos), Jack Kirby (esboços/layouts) e Don Heck (desenhos).
A Quadrilha do Capitão
Jack Kirby volta de verdade para a revista em Avengers 15, de abril de 1965, onde se encerra o primeiro ciclo de aventuras dos Vingadores, com o confronto final com os Mestres do Terror, culminando na morte do Barão Zemo.

Na trama, o Barão Zemo ativa mais um plano para eliminar a equipe, que envolve libertar da cadeia o Cavaleiro Negro e o Derretedor, os velhos membros dos Mestres do Terror. Contudo, o Capitão América (e Rick Jones) vão à Floresta Amazônica pegar o vilão, enquanto os Vingadores combatem os outros membros do time de vilões em Nova York.
Capitão América e Zemo têm sua batalha derradeira e o vilão é morto ao usar um raio desintegrador que causa uma avalanche de pedras sobre si.
No outro front de batalha, Gigante (estreando um novo uniforme), Vespa, Homem de Ferro e Thor saem em confronto com Encantor, Executor, Cavaleiro Negro e Derretedor e após uma esganiçada batalha são vencedores.
A edição 15 também tem outra pequena importância: é a primeira aparição do mordomo Edwin Jarvis na revista, personagem que iria acompanhar a equipe dali em diante como cuidador da Mansão. O mordomo de Tony Stark tinha sido introduzido não muito tempo antes nas aventuras do Homem de Ferro (especificamente em Tales of Suspense 59, de novembro de 1964 – numa aventura interligada aos Vingadores), mas agora migrava para a revista da equipe e se tornava o assistente especial do time e cuidador da Mansão. Tendo em vista que Rick Jones voltava a ocupar um papel central nas aventuras solo do Hulk (em Tales to Atonish), Jarvis ocupou o papel de “figura humana” nas tramas domésticas dos Vingadores.

A primeira grande mudança na revista ocorreu em Avengers 16, de maio de 1965 (novamente por Lee e Kirby): os quatro membros originais da equipe (Homem de Ferro, Thor, Gigante e Vespa) decidem sair do time e deixar o Capitão América para treinar uma nova formação, composta por três ex-criminosos: Gavião Arqueiro (que lutou contra o Homem de Ferro) e os irmãos gêmeos Feiticeira Escarlate e Mercúrio (ex-membros da Irmandade de Mutantes de Magneto, inimigos dos X-Men).
Os antigos membros estavam cansados de tantas batalhas na equipe, enquanto ainda tinham que lidar com suas próprias aventuras solo. Assim, numa reunião sem o Capitão América – que ainda estava tentando retornar da América do Sul após a batalha com Zemo – decidem todos darem um tempo. Mas ao mesmo tempo, o Gavião Arqueiro entra na Mansão e solicita ser integrado ao grupo. Isso dá ao Homem de Ferro a ideia de fazer uma nova formação dos Vingadores. Eles convidam Namor para compor o time, uma forma de fazê-lo abandonar o ódio contra a humanidade, mas o monarca da Atlântida nega. Quem se aproveita da oportunidade quando as notícias de que os Vingadores estão em busca de novos membros é a dupla Mercúrio e Feiticeira Escarlate. Quando o Capitão América finalmente chega, já é incumbido de liderar o novo time, o que aceita relutantemente.
O Gavião Arqueiro era Clint Barton tinha aparecido numa sequência de histórias do Homem de Ferro (começando em Tales of Suspense 57, de setembro de1964, por Stan Lee e Don Heck) no qual, após viver como artista de circo por um tempo, se inspira no vingador dourado para se tornar um herói, explorando suas habilidades no arco e flecha, mas termina enganado pela (então vilã) Viúva Negra (Natasha Romanoff) e se vê em meio a um plano de matar o herói e seu alter-ego secreto, Tony Stark, na sequência de aventuras de Tales of Suspense 60 e 64.

Contudo, a paixão entre Clint Barton e Natasha Romanoff contribui para que a Viúva Negra repense seus atos e termine se arrependendo de seus crimes e se convertendo em heroína num futuro breve. Ao mesmo tempo, o Gavião Arqueiro é perdoado de seus pequenos crimes e insiste para entrar nos Vingadores… e termina aceito!

Já Feiticeira Escarlate e Mercúrio são Wanda e Pietro Maximoff, irmãos gêmeos criados por ciganos na Europa Oriental, que apareceram pela primeira vez na revista X-Men 04, de março de 1964 por Stan Lee e Jack Kirby, como membros da Irmandade de Mutantes liderada pelo vilão Magneto. Aquela história deixava claro que a dupla tinha uma dívida de sangue com Magneto (que os salvou de serem mortos por seu próprio povo, que atribuíam seus poderes mutantes à bruxaria), mas não concordavam com as atitudes extremas deles (inclusive, secretamente salvando os X-Men no fim). Mesmo assim, ainda fizeram outras aparições ao lado do grupo de vilões (em X-Men 05, 06 e 11) e até enfrentaram Thor em sua revista.
Contudo, em X-Men 11, com o desaparecimento de Magneto – sequestrado do Planeta Terra pelo Estranho -, Wanda e Pietro tomaram fugiram, conseguindo exílio político nos Estados Unidos e um convite para ingressarem nos Vingadores.

Desse modo, Avengers 16 traz a primeira mudança radical de formação da equipe, marcando o início dessa outra tradição. Ao mesmo tempo, ao introduzir personagens como Gavião Arqueiro, Feiticeira Escarlate e Mercúrio ao hall dos Vingadores também criava parte significativa do núcleo central de seus membros dali para todo o sempre. Não menos importante, deixar o Capitão América (recém-descongelado depois de décadas em animação suspensa) consolidava este como a peça central da equipe e o maior de todos os seus líderes.
Claro que a mudança da equipe era também uma jogada de Stan Lee para dar mais profundidade à revista. Se por um lado era espetacular ter membros como Homem de Ferro e Thor no time; por outro, não era possível ter uma abordagem mais dedicada a eles, pois isso era resguardado para suas próprias aventuras individuais. Sem contar no constante choque (e potenciais contradições) entre os eventos das histórias solo e as do time. Desse modo, Avengers 16 trazia a formação de uma equipe que, em grande parte, só tinha espaço nessa coleção, sem o atrapalho de aventuras paralelas, que eram muito difíceis de conciliar.

O Capitão América já tinha começado a ter suas próprias aventuras em Tales of Suspense, mas naquele período, a maior parte delas narrava suas aventuras na II Guerra Mundial e demoraria alguns meses para que fossem abordadas aventuras no presente. A ausência de uma vida particular, inclusive, é um tema explorado nas edições 15 e 16, com o Capitão se queixando de ser a âncora de um grupo e não ter sua própria vida pessoal – ele não tinha emprego nem namorada, ao contrário de todos os outros heróis da Marvel, que sempre tinham vidas pessoais bem desenvolvidas.
Também é possível ver em retrospecto que, apesar de algumas boas edições (os números 03, 04, 06, 08, 15) até ali, a revista parecia patinar, com Lee, Kirby e Heck meio sem saber muito bem o que fazer com eles. É somente a partir do momento da fundação da “Quadrilha do Capitão” que os Vingadores encontraram realmente seu rumo e suas histórias prosseguiram num fluxo de tramas interessantes e real desenvolvimento de personagens, além das grandiosas batalhas que viriam.

Após este evento especial, Don Heck retorna em definitivo como artista da revista, onde ficaria bastante tempo ao lado de Stan Lee. Nascido em 1929 no Queens, em Nova York, numa família de ascendência germânica, Heck aprendeu a desenhar por um curso por correspondência e iniciou a carreira aos 20 anos de idade na Harvey Comics. Ele chegou à Marvel-Atlas em 1954 fazendo histórias de guerra e, a partir de 1959, se tornou o principal artista de Tales of Suspense, com histórias de ficção científica até ser um dos fundadores do Universo Marvel, com suas contribuições à criação de Homem de Ferro e da Vespa.
Apesar da nova formação dos Vingadores ser um quarteto menos poderoso – Gavião Arqueiro nem tinha superpoderes – Lee e Heck souberam dosar a nova equipe, colocá-los contra inimigos formidáveis e, mais importante, trabalhar à exaustão a caracterização, enchendo o time de conflitos internos: o Gavião Arqueiro questiona a autoridade do Capitão o tempo todo e dá em cima descaradamente da Feiticeira Escarlate, o que o coloca em rivalidade com o ciumento Mercúrio. Lee e Heck também exploraram, nas tramas, certa rejeição do público à nova equipe, apelidada de A Quadrilha do Capitão.
O batismo de fogo da nova formação é em Avengers 17, de junho de 1965, com outra batalha contra o Toupeira, que agora mobiliza um monstro chamado Minotauro. A ideia da história é responder à pergunta: a nova formação é menos eficiente do que a antiga? O Hulk faz uma participação especial, mas mal tem contato com o do grupo. Esta seria a última participação do Hulk na revista em um longo tempo. A partir de então, os caminhos do grupo e do golias verde iriam se cruzar cada vez menos.

Mas as coisas começam a funcionar mesmo a partir de Avengers 19, de agosto de 1965, na qual estreia o Espadachim (Jacques Duquesne), um vilão que tem ligações com as origens do Gavião Arqueiro: quando trabalhava num Circo, Clint Barton aprendeu suas habilidades com Duquesne, porém, descobriu que o chefe estava roubando dinheiro da atração e o denunciou, o que resultou na prisão de Duquesne, que agora, descobrira a identidade secreta do antigo pupilo e vinha se vingar, por meio de um plano que mimetiza a mesma trama já usada com o Magnum: de se fingir ser um herói e ganhar a confiança do grupo. Uma adesão posterior exploraria o fato de Duquesne genuinamente querer ser um membro do time, apesar de ser uma pessoa mal orientada.

Bastante habilidoso, o Espadachim consegue assustar o antigo pupilo e até derrotar (temporariamente) o Capitão América. Na edição 20, a batalha continua, agora, com o vilão Mandarim – o arquiinimigo do Homem de Ferro – auxiliando o Espadachim e lhe fornecendo uma espada especial, cheia de grandes artifícios, como disparar raios. Apesar de derrotado, o Espadachim escapa e teria uma grande vinculação com o time nos anos seguintes.
Essas duas edições também retomam o plot do Capitão buscando um sentido em sua vida além dos Vingadores, criando uma conexão com Nick Fury que seria explorada nas aventuras solo deste personagem (publicadas na revista Strange Tales) e que desembocariam também nas próprias aventuras solo do Capitão, que passariam a ser situadas no presente a partir de Tales of Suspense 72, de 1966.
Em sua longa temporada conjunta, Lee e Heck pavimentaram bastante o cânone dos Vingadores. Criaram diversos novos inimigos e consolidaram a ideia de um grupo que está em rotatividade constante de membros, com muita tensão interna, também, em tramas que quase sempre se dividiam em duas edições seguidas.
Avengers 21 trouxe a estreia do vilão chamado Poderoso (Power-Man, no original), um personagem com longo futuro na Marvel, pois adotaria o nome de Golias (quando Hank Pym deixou de usá-lo) e virou um dos membros dos Thunderbolts nos anos 1990. Na trama, Erik Josten era apresentado como o antigo segurança do falecido Barão Zemo e é convocado por Encantor para ajudá-la a derrotar os Vingadores. A vilã usa a mesma máquina de raios iônicos que conferiu poderes ao Magnum em Josten, e ele assume a identidade de Poderoso (com superforça).

A edição 23, de dezembro de 1965, trazia outra volta de Kang, o conquistador, mas dessa vez, os Vingadores iam ao futuro enfrentar o vilão e conheciam Ravonna, a bela mulher por quem o inimigo é apaixonado e quer casar. Contudo, no fim da batalha, no número 24, ela é baleada e fica à beira da morte enquanto os heróis retornam a nosso tempo.
O grupo cruza o caminho do Dr. Destino (o clássico vilão do Quarteto Fantástico) na edição 25 e, em seguida, engata uma batalha contra Attuma e os Atlantes em Avengers 26, que conta com a participação do vilão Besouro (que combateu o Demolidor). Na trama, enquanto fazem uma pesquisa científica no fundo do oceano, Hank Pym e Janet Van Dyne veem os Atlantes se dirigindo ao ataque e a Vespa vai avisar os Vingadores, em sua primeira atuação com a equipe desde sua saída dez números antes.

Era um sinal para que a dupla Gigante e Vespa voltasse à equipe, pois exatamente naquele momento, deixavam de ter suas aventuras solo em Tales to Astonish, que a partir da edição 70 os substituía pelas aventuras de Namor, o Príncipe Submarino. Assim, Avengers 28, de maio de 1966, traz Hank Pym de volta à equipe, agora com um novo (e mais bonito) uniforme (mudando o esquema de cores de vermelho e azul para azul e amarelo) e trocando a alcunha de Gigante por Golias. Tipicamente Marvel, o Gavião Arqueiro desde logo se mostra arredio à figura de Pym e o roteiro também explora as dificuldades do cientista em voltar a usar seus poderes, pois aumentar de tamanho lhe causa problemas de saúde.

O grupo enfrenta o Colecionador, um dos Anciões do Universo, a raça mais antiga do cosmos, um vilão que tinha como hobby capturar exemplares inusitados de seres vivos para sua coleção particular em sua nave, como um tipo de zoológico ou museu cósmico. O Colecionador seria um dos principais oponentes da equipe ao longo dos anos e um personagem de destaque no panorama cósmico da Marvel.

Em Avengers 29, de junho de 1966, a Viúva Negra (que tinha se arrependido de seus crimes nas aventuras do Homem de Ferro e era apaixonada pelo Gavião Arqueiro) sofre uma lavagem cerebral do Regime Soviético e volta a ser uma vilã, recrutando o Espadachim e o Poderoso para atacarem os Vingadores. Contudo, em meio à batalha, Natasha Romanoff se lembra de sua paixão e termina recobrando a consciência. A partir de então, a Viúva Negra passaria os números imediatamente seguintes da revista como uma personagem coadjuvante, embora não fosse oficialmente admitida na equipe.
Isso é curioso, pois nos dias de hoje todos associam a Viúva Negra com os Vingadores, mas embora Natasha Romanoff aparecesse em várias aventuras da equipe ao longo do restante da década de 1960, não seria efetivada como membra até muitos e muitos anos depois. E ainda assim, seu vínculo real com o grupo só se daria de verdade na década de 1990. Trinta anos à frente. Chegaremos lá…

Uma trama mais relevante tem início em Avengers 32, de outubro de 1966, com o surgimento do grupo de vilões Filhos da Serpente, um grupo racista. Foi uma maneira de Stan Lee trazer a questão do preconceito racial e os direitos civis à tona num momento em que o tema estava incendiando nos EUA. Não há toa, a edição introduz o cientista Bill Foster, um afrodescedente que se torna assistente de Hank Pym e um personagem coadjuvante recorrente por um tempo. No futuro, Foster se tornaria um herói com os mesmos poderes de Pym e chamado Golias Negro.
Essa trama também traz Nick Fury e a SHIELD pela primeira vez para a revista dos Vingadores. O personagem vinha fazendo bastante sucesso em suas aventuras solo em Strange Tales e logo ganharia revista própria, mas também era constantemente um coadjuvante nas novas aventuras solo do Capitão América, então publicadas por Lee e Jack Kirby em Tales of Suspense.

Stan Lee se despede da revista Avengers no número 34, de novembro de 1966, onde introduz o vilão Laser Vivo. Até então, ele escrevia a maioria das revistas da Marvel, mas seu trabalho como Editor-Chefe numa editora que crescia a cada dia começava a tornar isso impossível. Assim, começou a treinar uma nova geração de escritores e desenhistas para substituí-lo e o principal deles era Roy Thomas.
O Início da Era Roy Thomas
Em 1966, Stan Lee começou a se afastar de vários títulos da Marvel. Após testado em alguns títulos menores (inclusive, nos X-Men), o roteirista Roy Thomas “ganhou” a revista dos Vingadores, estreando no número 35.

Nascido em 1940, em Jackson, Missouri, (portanto, tendo apenas 26 anos naquele momento!), Thomas estudara História e Sociologia e se tornou um membro ativo do fandom – a comunidade organizada de fãs – que passou a se mobilizar nos anos 1960 e a criar fanzines de grande circulação, organizar clubes com redes de correspondência (sim, por carta, não havia internet naqueles tempos) e a promover as primeiras convenções de quadrinhos.
Por causa disso, Thomas foi convidado por Mort Weisinger (editor das revistas do Superman) a trabalhar como seu assistente na DC Comics em 1965, e Thomas deixou seu emprego de professor de inglês para embarcar no sonho de trabalhar com HQs, mas ficou apenas alguns dias no novo trabalho, por causa do temperamento de Weisinger, um homem conhecido por abusar psicologicamente de seus empregados. Então, o jovem de 25 anos telefonou para Stan Lee, que o convidou a uma reunião e o contratou como assistente.
Logo, logo, Thomas estava assumindo os roteiros de revistas secundárias da Marvel (o que incluía os X-Men e Millie, a Modelo) e, passado no teste, foi designado para o primeiro de seus títulos importantes: os Vingadores. Treinado pelo mestre, absorveu o que ele tinha de melhor (drama e viradas inesperadas de trama) e também adicionou jovialidade ao Universo Marvel, casando-o ainda mais com os tempos fervilhantes que eram os anos 1960, e uma bagagem mais intelectualizada, que o fez pontuar fortemente aspectos políticos e sociais daqueles tempos como parte da trama da equipe.

Então, em Avengers 36, de janeiro de 1967, Mercúrio é capturado e os Vingadores chamam todos para saírem ao resgate. Chamado no meio de um encontro, o Gavião Arqueiro termina levando a namorada, a Viúva Negra, e aproveita a ocasião para candidatá-la a membro fixo do grupo. O Golias se apressa em ser contra – ainda magoado por ela ter atacado o grupo na edição 29 – porém, para a admissão, seria necessária a convocação de todos os membros e uma eleição e não há tempo para isso. A novela se estende por vários meses.

De início, Thomas apenas continuou a inércia do movimento anterior, dando prosseguimento às tramas e ao estilo de seu antecessor. No típico conto da época, Avengers 38 dava início à história em que o semideus grego Hércules (e não aquele embuste que aparecera na edição 10) – que já tinha estreado na revista do Thor como um aliado – é enfeitiçado por Encantor e se atira contra a equipe. O mal é desfeito e ele se une ao grupo, bem como a Viúva Negra (como membros reservas) e vão derrotar os vilões.
Infelizmente para os fãs, a Viúva Negra aceita a proposta de Nick Fury de ser uma agente dupla da SHIELD e se infiltrar na União Soviética, em vez de se tornar uma vingadora. Mas Hércules ficaria um tempo agindo ao lado do grupo, servindo como um tipo de substituto de Thor.

Mas a bem da verdade, a Viúva Negra, mesmo não sendo membro oficial do time, não tardaria a retornar ao título.
Mas antes disso, precisamos falar da outra mudança na revista: a saída do desenhista Don Heck. O veterano artista se despede em grande estilo na revista especial The Avengers King-Size Special 01, publicada em setembro de 1967 (por Lee e Heck), a revista que nos anos seguintes passaria a ser chamada de Annual. Tinha o dobro de páginas e uma grande aventura com os membros oficiais (Capitão América, Feiticeira Escarlate, Mercúrio, Golias, Vespa, Gavião Arqueiro), o convidado Hércules e duo original Homem de Ferro e Thor, e se unem para enfrentar um combo de vilões: Mandarim, Poderoso, Laser Vivo, Espadachim, Encantor e Executor.
A equipe se divide em duplas para combater as ameaças e termina no espaço, onde o Mandarim tem uma base espacial. O vilão usa um “raio do ódio” que faz os heróis lutarem entre si – claro, uma tradição Marvel – mas os heróis são vitoriosos quando uma explosão lança o chinês ao espaço. A edição também trazia uma série de extras, como pin-ups dos personagens, fichas descritivas e até o mapa da Mansão dos Vingadores. Era também um reconhecimento a Heck e às 25 edições em que realizou a revista. Foi seu último número de Avengers até a longínqua edição 108, de 1973, quando regressou.
O que os fãs não sabiam é que tudo aquilo era apenas uma fase de transição. Como editor, Stan Lee estava tramando a troca total da equipe criativa por trás dos Vingadores. Ele aprendera duramente com o Homem-Aranha (a troca do desenhista Steve Ditko por John Romita mais cedo naquele mesmo ano tinha causado a fúria dos leitores) a fazer transições brandas. Assim, pôs Thomas na revista primeiro (na edição 34), enquanto mantinha a arte clássica de Don Heck e seu ritmo que os fãs conheciam e gostavam. Após algumas poucas edições para o novo escritor se sentir confortável na cadeira, tirou Heck (que continuou trabalhando em outras revistas da Marvel) e pôs o novato John Buscema em seu lugar na edição 40.
A Fase Roy Thomas e John Buscema

O fantástico John Buscema, estreou na edição 40, de maio de 1967. Filho de imigrantes italianos e trabalhando com desenhos desde os anos 1950, era dono de uma arte mais dinâmica, muito bonita. Ele sabia manusear os traços surreais criados por Kirby, por exemplo, mas acrescentava realismo, especialmente de anatomia humana. Tanto que Lee o chamava de Michelangelo dos quadrinhos.
Buscema teria uma longuíssima vinculação com os Vingadores, sendo seu desenhista oficial pelos próximos três anos e, em seguida, indo e voltando à revista até o início dos anos 1970; para regressar para outra longa temporada na década de 1980. Além disso, desenhou alguns dos principais personagens da Marvel, sempre de modo sensacional, como Quarteto Fantástico, Thor, Surfista Prateado, Conan e Wolverine.

Thomas e Buscema davam origem à segunda geração de autores da Marvel e sua fase foi muito profícua. Aliás, é importante dizer que foi Roy Thomas quem realmente estabeleceu os Vingadores como nós os conhecemos. Vista em retrospectiva, embora importante, toda a fase de Stan Lee (1963-1966) parece um ensaio, enquanto a longa fase de Thomas (1967-1973) é o show para valer! Algumas das mais importantes adesões ao cânone do grupo – e o próprio estabelecimento do cânone – se deu nos textos mais modernos, psicologizados e cheios de referências políticas de Thomas.

Após algumas edições de aclimação, as coisas engrenam a partir de Avengers 43, de agosto de 1967, que traz o início de um arco em que o Gavião Arqueiro descobre o paradeiro da Viúva Negra e decide ir atrás dela numa missão na China. Levando Hércules consigo, encontram a espiã em uma instalação secreta em uma caverna e em confronto com o Coronel Ling e sua nova arma: O Guardião Vermelho, a contraparte soviética do Capitão América, que derrota o Gavião, enquanto Hércules é detido pela arma de Ling, o Psychotron, um poderoso raio. Mas tudo não antes do trio de heróis descobrir que o Guardião Vermelho é ninguém menos do que Alexis Shostakov, o “falecido” marido de Natasha!


A edição 44 traz o restante dos Vingadores indo resgatar seus companheiros e a batalha se torna ainda mais acirrada. Capitão América e Guardião Vermelho saem em combate, mas a luta não é justa: Ling eletrocuta a grade de aço sobre a qual o Capitão está e ele cai inconsciente, algo que irrita profundamente o Guardião. No fim das contas, quando o soviético percebe que Ling vai matar o Capitão que jaz indefeso, não acha isso justo e se lança contra o tiro, ficando mortalmente ferido. No fim, Shostacov termina sendo heroico ao destruir o Psychotron, fazendo a caverna desabar sobre si. Os Vingadores voltam aos EUA e levam a Viúva Negra ao hospital, onde ela conta a história de seu casamento com Alexis (ele era um piloto de testes e tinha sido dado como morto).

Vem em seguida a história contra o Super-Adaptóide (um ser artificial capaz de imitar as habilidades dos heróis), surgido nas aventuras do Capitão América (em Tales of Suspense 84, de alguns meses antes).
A partir dali, Roy Thomas desenvolveu um estilo mais próprio, marcado por referências psicológicas e políticas, e um estilo de narrativa que desenvolve subtramas lentamente, lançando pistas a cada edição, só que só farão sentido mais à frente. Em certo sentido, Thomas cria os Vingadores tal qual conhecemos.
Thomas e Buscema acrescentaram vários detalhes, por exemplo, dando mais vida ao mordomo Jarvis, que já havia aparecido, mas agora se tornava peça fundamental da dinâmica da equipe e da Mansão.
A dupla também seguiu a tradição de sempre colocar novos membros, sobre ao qual iremos falar adiante, como Pantera Negra e o Visão. Ao mesmo tempo, Capitão América, Thor e Homem de Ferro (então, já os “três grandes” dos Vingadores) são afastados do título, só aparecendo ocasionalmente. Era uma determinação do Editor-Chefe Stan Lee que passou a proibir a aparição de um dos “três grandes” por mais do que três edições consecutivas. Isso abriu espaço para o desenvolvimento dos personagens novos.

Após um confronto com o “novo” vilão Tufão em Avengers 46 (na verdade, era o velho inimigo da dupla Gigante e Vespa, Human Top, agora, com novo uniforme e habilidade), as coisas começam a esquentar de verdade na edição 47, de dezembro de 1967, quando o Capitão América decide deixar o time (respondendo àquela determinação editorial acima mencionada). Era a jogada de Stan Lee e Roy Thomas para o time de heróis se tornar mais independente de seus principais membros, que ademais tinham suas próprias aventuras solo, o que dificultava bastante as amarrações cronológicas, ainda mais que, agora, não era mais Lee quem escrevia todos os títulos.
Por outro lado, também era uma aposta de que os outros personagens poderiam segurar a revista por si só. E estavam certos! Avengers 47 é importante porque traz o primeiro confronto dos Vingadores contra Magneto, o mestre do magnetismo, maior inimigo dos X-Men e com ligações bastante próximas com os irmãos Feiticeira Escarlate e Mercúrio. Na trama, aparece pela primeira vez o cientista Danny Whitman, cujo experimento “acidentalmente” (seu assistente o sabotou) traz o mestre do magnetismo de volta à Terra (após ser deixado o espaço em uma aventura dos X-Men). Magneto exige que os irmãos Maximoff retornem para sua Irmandade de Mutantes, mas eles negam e o confrontam com a ajuda da equipe.
É importante lembrar que Thomas também escrevia a revista dos mutantes, então, era uma forma de desenvolver alguns plots da outra revista.

Então, é revelado que Danny Whitman é ninguém menos do que o novo Cavaleiro Negro. O antigo era o vilão que fez parte da primeira formação dos Mestres do Terror, mas acabou morrendo em decorrência de um confronto com o Homem de Ferro na revista Tales of Suspense 73, de 1966. A edição 48 revela que o cientista é um sobrinho do vilão, que decide retomar ao manto do Cavaleiro Negro – que pertence à sua família desde os tempos do Rei Arthur – e limpar a honra do título, pois ele é um dos mocinhos. Whitman também empunha a Espada de Ébano que pertenceu ao seu primeiro antepassado, artefato místico que possuí também uma maldição. O Cavaleiro Negro se torna um aliado dos Vingadores e no futuro distante teria bastante importância. (Só uma curiosidade: nesta edição o desenhista é George Tuska).
Como Roy Thomas também escrevia a revista dos X-Men, promoveu um crossover com o time de mutantes nesta trama, que continua em Avengers 49, que traz mais um elemento político interessante que teria muita influência nas HQs dos heróis mutantes no futuro: avaliando a condição da batalha, Pietro Maximoff, o Mercúrio, decide dar um “voto de confiança” a Magneto e vai com ele à ONU, onde exigem que seja criado um país apenas para acolher os mutantes. Mas em vista dos crimes do mestre do magnetismo, tudo vira uma grande confusão e os Vingadores chegam para a batalha. No fim, Wanda é baleada, Magneto à salva (retirando a bala) e Mercúrio parte com ela atrás de ajuda, com os irmão implicitamente se reunindo à Irmandade dos Mutantes. Com isso, os irmãos Maximoff deixam a revista dos Vingadores pela primeira vez, desde que nela foram introduzidos, lá atrás na edição 16. Mas em consequência do ferimento, Wanda perde seus poderes temporariamente.

Hércules deixa a equipe após uma batalha contra um inimigo do Olímpio na edição 50 (e não irá retornar à revista até a longínqua Avengers 98). Embora, por um motivo qualquer não tenha sido um membro oficial do time, foi um ano de aventuras ao lado dos Vingadores. A equipe conta com o reforço momentâneo de Thor e Homem de Ferro para combater a volta do Colecionador em Avengers 51.
Uma grande adesão ao time vem na edição 52, de maio de 1968: o Pantera Negra. Rei da nação africana de Wakanda, T’Challa fora criado em Fantastic Four 52, de 1966, por Stan Lee e Jack Kirby, que mostra que sua nação escondida era a mais avançada tecnologicamente do mundo. Era um personagem muito importante, porque foi o primeiro super-herói negro dos quadrinhos. T’Challa viveu algumas aventuras ao lado do Quarteto Fantástico e, em seguida, se tornou um grande aliado do Capitão América em Captain America 100, de 1968 (também por Lee e Kirby).

Lee era o editor-chefe da Marvel, então, no fim daquela aventura, o Capitão sugere o nome de T’Challa para os Vingadores e ele aceita o convite. Ele chega, portanto, em Avengers 52, justamente quando surgiu o vilão Ceifador, que era Eric Williams, irmão do falecido Magnum (Wonder-Man). Embora o Magnum tivesse morrido pela ação do Barão Zemo – lá em Avengers 09 – seu irmão culpava os Vingadores e queria vingança. O Ceifador seria um vilão importante nos anos seguintes. Nessa aventura, ele invade a Mansão dos Vingadores e derrota o grupo, que é salvo por T’Challa. Era o interessante momento em que os maiores heróis da Terra ganhavam seu primeiro membro negro, depois de terem garantida sua diversidade com um par de ciganos.

Esse ciclo de histórias (e fase) se encerra por fim em Avengers 53, quando a trama com Mercúrio e Feiticeira Escarlate chega ao fim: Magneto arma um plano que faz os Vingadores pensarem que os X-Men (particularmente, Anjo e Ciclope, que entram em confronto com o time) também aderiram à Irmandade de Mutantes; para em seguida usar um artefato de “estímulo mental” que faz os X-Men atacarem os Vingadores sem pudores. Mas os Vingadores vencem e Magneto então se revela, furioso, partindo contra os maiores heróis da Terra, e também derrotado. Mas Pietro e Wanda Maximoff continuariam afastados dos Vingadores por algum tempo.
A Fase Áurea dos Vingadores

Em certo sentido, Avengers 54, de julho de 1968, dá início à melhor fase dos Vingadores nas mãos de Thomas e Buscema. Neste ponto, Buscema já estava totalmente liberado de algum modo seguir a estética de Jack Kirby ou Don Heck e pode encontrar seu próprio estilo. O resultado é arrebatador, com sua arte plástica, realística e muito bonita, mostrando porque é um dos maiores desenhistas de todos os tempos. Junto a isso, Thomas também aprofundava seus talentos, contextualizando cada vez mais as histórias com os problemas políticos e sociais de seu tempo.

Começa com o robô Ultron, indestrutível e inteligente. Na trama, um vilão misterioso chamado Manto Rubro reúne uma nova encarnação dos Mestres do Terror, para destruir os Vingadores, formada por Garra Sônica, Homem-Radioativo, Derretedor, Tufão e o Cavaleiro Negro.
Só que o vilão não sabe que o Cavaleiro Negro em questão é Dane Whitman, um herói, que só atende ao chamado de Manto Rubro com a intenção de traí-lo e avisar aos Vingadores.

Os novos Mestres do Terror conseguem cooptar o mordomo Edwin Jarvis, que ajuda os vilões a invadirem a Mansão dos Vingadores. Os vilões estranham porque o Manto Rubro não mata Jarvis, mas o final da edição “explicava”: um segundo Manto Rubro aparecia e desmascarava o outro que era apenas um robô, revelando ele mesmo como sendo o próprio Jarvis.
Claro, que era um embuste. A edição seguinte revela que Jarvis foi só cooptado mesmo e que o tal robô, que se apresenta como Ultron-5 é o verdadeiro Manto Rubro e a mente por trás de tudo. Não fica claro, porém, quem é o robô e porque quer se vingar dos Vingadores.

Em Avengers 57, a Vespa é atacada por outro robô: o Visão. Derrotado, este é levado à Mansão dos Vingadores, mas mostra-se arrependido e criando uma consciência própria contra seu criador: Ultron. Na edição seguinte, contudo, o Visão descobre que foi criado como um ser humano artificial (com todos os órgãos artificiais), algo que Hank Pym, o Golias, chama de sintozoide, e que sua inteligência artificial foi incrementada com os padrões cerebrais de Simon Williams, o então finado Magnum. Pym guardava os padrões cerebrais de Williams em seu laboratório. Por causa disso, o Visão termina se voltando contra seu criador e se torna um aliado dos Vingadores, sendo admitido no grupo logo de imediato.
O Visão se une aos Vingadores para derrotar Ultron, enquanto o Hank Pym descobre que foi ele próprio quem criou Ultron, que o chama de “pai”, mas depois, tornou-se maligno, se voltou contra ele e apagou o feito da mente de seu criador. Embora tenha um corpo robótico, para os padrões de hoje, Ultron seria uma Inteligência Artificial, pois é sua mente quem guia tudo. Inclusive, já nesse primeiro arco de histórias o vilão muda de corpo, pois quando criado por Pym não tinha forma humanoide, e mais parecia um aspirador de pó, contudo, quando ficou maligno e traçou seu plano, refez seu próprio corpo, com a forma que conhecemos até hoje. Ultron se transformaria em um dos maiores vilões dos Vingadores e desde o início suas histórias renderam bastante.

Contudo, uma coisa intrigou os leitores da Marvel desde o início, pois Ultron é forte, dispara uns raios e pode dominar mentes, mas cria o Visão, que é um ser superpoderoso: além de superforça, pode alterar a massa de seu corpo artificial, ficando intangível ao ponto de atravessar paredes e flutuar ou voar, ou então, ficar duro como diamante e, portanto, invulnerável; tudo alimentado por uma joia em sua testa que acumula energia solar. Como toque final, a joia pode, esporadicamente soltar rajadas de energia. Pois bem: como Ultron criou um sintozoide tão poderoso e por que não replicou em si essas habilidades?

Roy Thomas não estava preocupado com essas coisas naquele momento, pois ele criara o Visão baseado em um velho personagem da Marvel de mesmo nome, criado nos anos 1940, que era um tipo de “assombração” – pois é esse sentido que o termo em inglês the vision passa, uma visão no sentido de “visagem”, como se diz no Brasil, uma imagem espectral, fantasmagórica (expressa no fato dele atravessar as coisas). Mas aquela dúvida continuaria a perturbar os leitores e renderia muitas histórias no futuro.

Além disso, Roy Thomas passa a dar bastante importância ao Visão que, provavelmente, se torna seu personagem favorito na equipe. E já a edição 58, em que é aceito no grupo, já é explorada sua real capacidade de sentir emoções, como se fosse um ser humano verdadeiro. Ficou famosa a frase dita pelo Gavião Arqueiro: “os Vingadores originais tinham um deus imortal e um monstro de pele verde” para falar sobre humanidade. Ao fim, o Visão pede licença e chora de emoção. O título da história era Até um Androide pode chorar. Um clássico!

O seu arco de introdução também teve uma consequência interessante: o surgimento do Jaqueta Amarela, a nova identidade de Hank Pym. Na verdade, o Jaqueta Amarela aparece em Avengers 59 como se fosse um herói autônomo, que ataca os Vingadores e diz que matou Hank Pym. Depois, manda a equipe aceitá-lo como membro e sequestra a Vespa. De repente, a heroína “apaixona-se” pelo captor e marca o casamento com ele.
Toda a comunidade super-heróica fica surpreendida com o anúncio do casamento da Vespa com o desconhecido (e assassino?) Jaqueta Amarela, mas só os Vingadores sabem sobre o “destino” de Hank Pym. Com toda a pompa, a cerimônia ocorre em Avengers 60, de janeiro de 1969, inclusive, com vários convidados especiais, como os X-Men, o Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Nick Fury, Dr. Estranho, Demolidor etc.

O casamento, claro, é alvo de vilões – no caso o Picadeiro do Crime – e, no final, na iminência de ver a Vespa ser ferida, as roupas do Jaqueta Amarela são rasgadas para dar lugar ao Golias: Hank Pym, crescendo e vencendo os vilões, para surpresa de todos. A Vespa depois explica que percebeu que o Jaqueta Amarela era Hank Pym depois de beijá-lo (à força) pela primeira vez; enquanto Pym explica que sofreu um distúrbio psíquico por causa de gases experimentais que estava usando em seu laboratório.
Resolvido o problema, tudo fica paz. Hank Pym e Janet Van Dyne estão casados e ele decide manter a nova identidade de Jaqueta Amarela. Repare, já era a quarta identidade heroica adotada por Pym (depois de Homem-Formiga, Gigante e Golias) e um número ainda maior de uniformes. A nova roupa trazia um visual mais bacana do que os anteriores, com uma não tão comum combinação de amarelo e azul escuro.
A transformação dava continuidade à trama das velhas histórias que mostravam que crescer de tamanho estava minando a saúde de Pym, ao ponto que ele não poderia mais aumentar, sob o risco de morrer. Então, o Jaqueta Amarela apenas encolhe – tal qual o Homem-Formiga – mas com um uniforme melhor e adotando para si a tecnologia de voo que ele criou para a parceira Vespa. O velho casal volta a ser um par diminuto como nos velhos tempos.

Mas o Golias (enquanto identidade) permaneceria existindo: a partir de Avengers 63, Clint Barton desiste de ser o Gavião Arqueiro e assume a identidade de Golias, usando a fórmula de crescimento criada por Pym, embora um novo uniforme.
Mas calma, vamos por partes… A edição 62 é um importante número para o Pantera Negra, na qual o herói retorna a Wakanda e enfrenta a ameaça de um de seus maiores vilões pessoais, o Man-Ape ou Homem-Gorila. A história monta uma série de questões sobre a nação africana – inclusive, o questionamento (muito lógico) de o que o seu rei está fazendo nos Estados Unidos agindo ao lado dos Vingadores – e é praticamente uma aventura solo de T’Challa.

Aquele seria o último número desenhado por John Buscema por um tempo: o artista se afasta da revista Avengers para assumir as aventuras solo do Surfista Prateado, que ganhou sua própria revista. Mas Buscema permaneceria fazendo as capas. As histórias da equipe passaram por algumas edições às mãos do talentoso Gene Colan (que fazia a revista do Demolidor). É Colan quem desenha Avengers 63 com a estreia do novo Golias, numa trama que dava sequência a uma aventura da Viúva Negra que se espalhou por várias revistas da Marvel (como do Capitão Marvel e de Namor) como forma de chamar à atenção para as história solo da heroína que estavam prestes a estrear.
É na tentativa de salvar a vida da amada Natasha Romanoff que Clint Barton resolve usar o soro com as Partículas Pym, crescer de tamanho e assumir a identidade de Golias.

Depois de uma aventura contra o vilão Egghead (velho inimigo de Pym) e da volta do Espadachim (numa trama que explora as origens de Clint Barton), a revista migra para as mãos do desenhista britânico Barry Windsor-Smith, que na época, tinha um traço bastante similar a Jack Kirby. É ele quem desenha o retorno de Ultron em Avengers 67, de agosto de 1969, numa história em que Roy Thomas explora elementos da psicanálise: Ultron revela-se obcecado pela Vespa, que ele considera sua “mãe”, já que Hank Pym é seu “pai”. Um robô movido por um complexo de édipo! E Ultron consegue um novo corpo, com o metal Adamantium, o mais resistente metal do universo, passando a se chamar Ultron-6.
O Adamantium, criado por Thomas, todos hoje associam às garras de Wolverine, mas o mutante canadense só seria criado dali há cinco anos no futuro.

A Passagem de Sal Buscema
O herdeiro de John Buscema em Avengers não seria outro senão seu irmão caçula: Sal Buscema. Apesar do nepotismo, Sal Buscema era um desenhista por seus próprios méritos: de estilo distinto do irmão, Sal apostava mais em linhas retas e uma arte que até flerta com o caricatural em alguns momentos, porém, ainda assim, muito eficiente para os quadrinhos e, principalmente, com uma dinâmica de movimento incrível. Não à toa, o caçula Buscema se tornaria um dos mais profícuos desenhistas da Marvel, com longuíssimas passagens em personagens fundamentais, como Homem-Aranha, Hulk e Capitão América. Sua passagem nos Vingadores não seria longa, mas ainda assim, foi marcante.

Sal Buscema estreou em Avengers 68, de setembro de 1969, finalizando com Thomas o segundo arco de Ultron, que é aparentemente destruído pelos Vingadores, mas logo em seguida, na edição 69, dá início ao primeiro arco celebrado da dupla: a guerra entre Kang, o Conquistador e o Grão-Mestre, um ser cósmico de enorme poder, um dos Anciões do Universo, e uma criatura cuja ocupação é elaborar intricados jogos cósmicos para seu deleite. A jogada do vilão é uma aposta: se Kang matar os Vingadores, ele curaria sua amada, Ravonna, à beira da morte desde os eventos do número 24.

No caso, a ação dos vilões obriga aos Vingadores a uma intensa aventura, que culmina com eles viajando a uma outra dimensão, na edição 70, onde precisam enfrentar o maligno Esquadrão Sinistro, uma equipe de superseres que na verdade era uma “homenagem” à Liga da Justiça da DC, trazendo membros que refletiam os heróis da concorrente: Hyperion (Superman), Nighthawk (Batman), Dr. Spectrum (Lanterna Verde) e Whizzer (Flash). É uma ameaça tão grande que Thomas até trouxe os “três grandes” de volta, com Capitão América, Homem de Ferro e Thor participando da aventura.

Esta aventura também rendeu outra criação importante para o Universo Marvel como um todo: na edição 71, é citado pela primeira vez os Invasores, grupo de heróis da época da II Guerra Mundial, que incluía o Capitão América, Tocha Humana e Namor. Roy Thomas era obcecado pelos heróis dos anos 1940 (os heróis de sua infância) e essa criação, que era para ser “alternativa”, terminou se consolidando rapidamente como canônica, e uma das criações favoritas de Thomas, que continuaria a desenvolver o conceito nos anos seguintes.
Como já comentamos, quando o Capitão América foi reintroduzido lá atrás em Avengers 04, o texto dava a entender que ele não conhecia Namor, embora os dois personagens adviessem do mesmo período: as revistas da Marvel dos anos 1940. Inclusive, uma história de 1946 mostrava Capitão, Namor e Tocha Humana unindo as forças como um supergrupo chamado Esquadrão Vitorioso. Inclusive, nos anos 1970, o escritor produziria uma revista própria dos Invasores para contar suas histórias.

Outra adesão importante ao cânone dos Vingadores por Roy Thomas e Sal Buscema foi a criação do supergrupo de vilões Zodíaco, que surgiu em Avengers 72, de janeiro de 1970, uma equipe de criminosos na qual cada um dos 12 membros têm personalidades e poderes condizentes com os signos do zodíaco, um conceito bem interessante que, infelizmente, não foi bem utilizado depois.
Novas Ideias
Em Avengers 73 se inicia outro arco focado no Pantera Negra, desta vez, com este número excepcionalmente desenhado por Frank Giacoia e Herb Trimpe, na qual vemos o retorno da organização racista Filhos da Serpente (que aparecera nas histórias de Lee e Heck), que continua no número 74, na qual John Buscema retorna à função de desenhista.
Então, Avengers 75, de abril de 1970, traz o retorno de Feiticeira Escarlate e Mercúrio à revista, após uma ausência de mais de quinze edições, ao mesmo tempo em que Jaqueta Amarela e Vespa decidem sair do time para se dedicarem de novo às pesquisas científicas. A trama traz o surgimento do poderoso Arkrom, o Magnífico, um ser de uma outra dimensão que veio buscar Wanda Maximoff para se sua esposa, e representa um duro oponente ao grupo também pelo número 76, noutra ocasião com a participação dos “três grandes”.

Outro supergrupo de vilões surge em Avengers 78 e 79, a partir de julho de 1970: reunindo inimigos já existentes, a Legião Letal era liderada pelo Ceifador e com Laser Vivo, Poderoso, Espadachim, Derretedor e Man-Ape. Em seguida, vem um relativamente longo arco com o Zodíaco atuando nos bastidores até a batalha final em Avengers 82, que conta com a participação especial do Demolidor. Esse arco também mostra a redenção do Espadachim (Jacques Duquesne), que é apresentado não como um homem mal, mas apenas alguém mal orientado, e que termina ajudando a equipe e se tornando um aliado daqui em diante.

Roy Thomas e John Buscema criam um grupo inteiramente feminino chamado Damas Libertadoras (Lady Liberators), reunindo Vespa, Feiticeira Escarlate, Viúva Negra, Medusa (dos Inumanos) e a nova personagem Valquíria, a lendária guerreira asgardiana. O time ajuda no combate à nova encarnação dos Mestres do Terror: Garra Sônica (inimigo do Pantera Negra) e os velhos conhecidos Derretedor, Tufão e Homem-Radioativo. Mas no fim, tudo se revela um ardil de Encantor, que era quem se passava pela Valquíria.

Esta personagem (com visual e nome) seria reaproveitada por Thomas em aventuras futuras, primeiro na revista do Hulk, depois, na revista dos Defensores.
A batalha com Encantor migra para a edição 84, que a vilã faz Arkrom combater o time de novo; e o passeio nas dimensões levam a um segundo confronto com o Esquadrão Sinistro na edição 85. Só que dessa vez é uma versão “do bem” do time, que é chamada Esquadrão Supremo, e termina ajudando o grupo contra o Brain-Child no número 86, que encerra esse segundo ciclo de John Buscema na revista.
Avengers 87, de abril de 1971, traz a volta de Sal Buscema e o dramático momento em que o Pantera Negra decide deixar os Vingadores para voltar a se dedicar à sua nação, culminando a subtrama que vinha se desenvolvendo há vinte e cinco edições, e é uma oportunidade de recontar a origem de T’Challa.

A edição 88 é uma estranha ocasião na qual a aventura só serve de aperitivo para uma trama em outra revista, no caso do Hulk (que reaparece depois de muito tempo). Era uma ocasião especial porque Roy Thomas convidou o aclamado escritor de ficção científica Harlan Ellison para desenvolver um plot para o gigante verde e ele incluiu os Vingadores. Na parte que cabe à revista Avengers, o alienígena Pskylop sequestra o Hulk e os Vingadores tentam salvá-lo, mas o monstro os derrota e os manda de volta para Nova York sem memória do que aconteceu, enquanto o Hulk é encolhido e vai parar num mundo subatômico em The Incredible Hulk 140.
Era só um intervalo para o maior momento da equipe até então.
A Guerra Kree-Skrull
A mais clássica das aventuras dos Vingadores veio a seguir: A Guerra Kree-Skrull, que elevou o nível de ameaça e o empenho dos heróis a outros níveis e na qual Thomas conseguiu reunir um trio matador de desenhistas: Sal Buscema, seu irmão John e, principalmente, Neal Adams.

Adams se tornou um dos maiores desenhistas de todos os tempos, um artista que cobria de ouro tudo o que tocava e que criou algumas das imagens mais marcantes da história das HQs. Ele ganhou projeção na DC Comics, a partir de 1968, desenhando especialmente o Batman, e se tornando o capista oficial do Superman; mas teve uma breve e marcante passagem pela Marvel, onde ilustrou os X-Men (ao lado de Thomas, em 1969 e 1970), e passagens por Thor e Inumanos.
Segundo o próprio Thomas contou numa introdução ao encadernado da saga, ele criou a ideia de uma guerra entre as duas principais raças alienígenas do Universo Marvel, inspirado no livro This Island Earth, de Raymond Jones, sobre os efeitos da II Guerra Mundial em uma pequena ilha do Oceano Pacífico. Seria uma boa analogia à Terra pegue no fogo cruzado entre dois impérios galácticos dos Skrulls e Krees, ambas raças surgidas nas histórias do Quarteto Fantástico (respectivamente, em Fantastic Four 02, de 1961; e FF 64 e 65, de 1967 – sempre por Stan Lee e Jack Kirby).

Thomas se apropriou desse universo, porque criara o Capitão Marvel em 1967: Mar-Vell, um alienígena Kree enviado para espionar a Terra e que termina se encantando pelo nosso planeta e decidindo protegê-lo. Thomas cuidou da revista Captain Marvel em seus primeiros anos, primeiro ao lado do desenhista Gene Colan e, depois, com Gil Kane, e nessas aventuras surgiram a personagem coadjuvante Carol Danvers, uma pilota da Força Aérea e a responsável pela segurança da base de mísseis de Cabo Canaveral onde se passavam aquelas histórias. Alguém que veremos bastante no futuro.
E para envolver os Kree, Thomas e Sal Buscema partem do Capitão Marvel para iniciar a saga, em Avengers 89, em julho de 1971, na qual após semanas preso na Zona Negativa, Mar-Vell (que dividia o corpo com Rick Jones na época, de um modo que enquanto um estava na Terra o outro era transportado à Zona Negativa e vice-versa) invade o Edifício Baxter (QG do Quarteto Fantástico) em busca de uma tecnologia que permita tirar Rick de lá (pois Reed Richards tinha conseguido sair pouco tempo antes), e a invasão leva os Vingadores até lá. Mar-Vell consegue libertar Rick e pôr um fim à maldição que os prendia um no outro, mas estava carregado de radiação, o que obriga os Vingadores a capturá-lo para livrá-lo do envenenamento; e o Aniquilador (vilão da Zona Negativa) também acessa nossa dimensão.

Ao mesmo tempo, vemos uma trama se desenrolar, com os Kree prestes a mover uma ação mais afirmativa na guerra contra os Skrulls, e de vingança ao “traidor” Mar-Vell, passando à edição 90, o que envolve enviar o Sentinela (um robô super-avançado) e Ronan, o Acusador (supremo juiz dos Krees), o que traz de volta à ação os “três grandes” Capitão América, Homem de Ferro e Thor (lembrando que eles só apareciam em ocasiões especiais); enquanto o time “oficial” dos Vingadores (Golias, Visão, Feiticeira Escarlate, Mercúrio) parte para combater uma ameaça no Ártico (que também é um plano dos Krees) e os fazem unir as forças com a Vespa cujo marido Jaqueta Amarela desapareceu.

Mas ficamos sabendo, na virada para a edição 91, que o plano Kree é de-evoluir o Ártico, fazendo surgir animais bestiais antigos e que o Jaqueta Amarela foi atingido pelo raio e virou uma besta irracional, mas os heróis salvam o dia. Porém, quando voltam para a Mansão, a equipe é surpreendida pelos eventos do Senador H.W. Craddock ter conseguido jogar a opinião pública contra o time (acusando-os de estarem mancomunados com os Krees) e o desastre publicitário da ação com o Capitão Marvel, e os três grandes estarem ali para “demiti-los” do time e dissolver os Vingadores.

Outro elemento interessantíssimo é que na edição 91, Roy Thomas apresentou explicitamente a subtrama (bastante ousada) que reverberaria bastante no início dos anos 1970: a curiosa e improvável relação amorosa entre a Feiticeira Escarlate (uma mutante) e o Visão (um androide). Na trama, a dupla é feita prisioneira por Ronan e quase trocam um beijo, mas o Visão se segura e vira o rosto, preocupado com as implicações racionais da natureza de ambos. Ronan testemunha o momento e tira sarro deles.
Aquela revista já trouxe uma capa desenhada por Neal Adams e já era uma amostra do ingresso do artista na trama. Na verdade, Adams atuou como corroteirista da saga, pois por seu pedido, Thomas trabalhou com ele no Método Marvel, uma coisa que não era o comum com o roteirista. Daí, a saga avança, com Adams assumindo a arte em Avengers 92 (enquanto Sal Buscema migrou para a revista The Defenders, com as aventuras dos Defensores).

O Visão chega quase morto à Mansão dos Vingadores e cabe ao Capitão América, Homem de Ferro e Thor descobrirem uma maneira de salvá-lo, mas para a sorte deles, Hank Pym aparece por lá e, deixando de lado a identidade de Jaqueta Amarela, volta a usar o uniforme do Homem-Formiga para a sensacional aventura em que mergulha dentro do corpo do sintozoide a fim de salvá-lo, num daqueles que é um dos momentos mais lembrados dos fãs da era clássica.
Sem dúvidas, a aventura de Pym no corpo do Visão é um deleite aos olhos do início ao fim, com Adams explorando a estranheza e o absurdo do interior de um corpo robótico que imita um corpo humano e do tempo em que Pym era realmente visto como um herói – algo que mudaria bastante no futuro distante. Uma obra de arte!

Com o Visão desperto, os três grandes descobrem o tal evento em que teriam demitido os seus colegas de equipe, algo que não tinham feito: alguém armara para eles. Quem? O número 93 ainda mostra Golias e Rick Jones invadindo o QG dos Skrulls e ajudando a soltar o Capitão Marvel, que está prisioneiro ao lado de sua amiga Carol Danvers – que Mar-Vell logo irá perceber que também é uma Skrull infiltrada e não a verdadeira chefe de segurança de Cabo Canavial. Mesmo com a união do trio ao trio Capitão, Homem de Ferro e Thor, os heróis são derrotados pelo Super-Skrull (um Skrull incrementado com os poderes de todo o Quarteto Fantástico) e os aliens fogem levando consigo capturados Mercúrio, Feiticeira Escarlate, Capitão Marvel e Carol Danvers.
Na edição 94, (que tem seções desenhadas por Neal Adams intercaladas com outras por John Buscema) os Skrulls tentam destruir Attilan, a cidade escondida dos Inumanos no Himalaia – porque os Inumanos foram criados pelos Krees – mas não conseguem, e no meio disso, o Visão se infiltra na nave deles para descobrir seus planos, mas foge ao perceber que não poderá vencer o Super-Skrull e retorna para avisar aos Vingadores, mas o time é atacado por uma força governamental liderada pelo Senador Craddock e um grupo de poderosas armaduras conhecidas como Mandroides.

Passamos à edição 95 (totalmente desenhada por Adams), na qual os Vingadores conseguem vencer os Mandroides – porque as armaduras foram criadas por Tony Stark que ninguém sabia era o Homem de Ferro – mas precisam ir até Attilan ajudar os Inumanos numa batalha contra o vilão Maximus (Adams também desenhara as aventuras solo dos Inumanos e era uma forma de fechar pontas daquelas narrativas).

No número 96, os Vingadores contam com a ajuda de Nick Fury que fornece a eles a tecnologia necessária e vão ao espaço para levar a guerra Kree-Skrull ao seu ambiente natural e, numa bela sequência desenhada por Adams, confrontam uma frota Skrull. Com a batalha levada ao território do Império Kree, em especial perante a Consciência Suprema que os governa, e os Vingadores precisam confrontar também os Skrulls. E Rick Jones termina no meio da Consciência Suprema e de Ronan, o Acusador, dando sua contribuição e termina enviado de volta para a Zona Negativa.

O capítulo final vem em Avengers 97, de março de 1972 (infelizmente, sem a arte de Adams – oficialmente por causa do estouro do prazo para a publicação -, mas muito bem compensada pelo traço magistral de John Buscema), com várias frentes de batalha: Capitão América, Thor e Homem de Ferro no espaço; Capitão Marvel na Galáxia de Andrômeda; Feiticeira Escarlate e Mercúrio contra os Skrulls; o Golias sozinho…

Ao mesmo tempo, Rick Jones percebeu estar de posse de poderes mentais (por causa da interação com a Consciência Suprema), então, inspirado no mito grego de que Atena (a deusa da sabedoria e da guerra) brotou da cabeça de seu pai (Zeus), Roy Thomas criou a batalha final, em que Rick Jones consegue materializar versões dos heróis da Marvel da Era de Ouro (os anos 1940): os conhecidos Capitão América e Namor (em suas versões de décadas passadas), o Tocha Humana original (que era um androide e não Johnny Storm), Patriota, o Visão original, Caveira Flamejante e o Anjo (que não é o membro dos X-Men), que conseguem ganhar tempo até os Vingadores conseguirem vencer os inimigos.

No fim, a ação da Consciência Suprema termina por atingir até a Terra e revelar que o Senador Craddock é, na verdade, ele mesmo um Skrull infiltrado, o que revela o plano dos aliens e inocenta os Vingadores. Os Vingadores voltam à Terra e Nick Fury conserta os últimos pontos e os heróis terminam percebendo que a Consciência Suprema armou a participação dos Vingadores para ajudar os Krees a derrotarem os Skrulls.
O Fim da Era Roy Thomas
Infelizmente, tudo tem um fim e se aproximava o fim da hiper-clássica fase de Roy Thomas. Passado o épico momento de auge da revista na Guerra Kree-Skrull, os Vingadores entram em um pequeno momento de transição, sem grandes feitos e sem um desenhista realmente fixo por muito tempo, com artistas se alternando a cada punhado de edições.

Avengers 98 dá início a um pequeno arco em que Thomas trabalha com o desenhista Barry Windsor-Smith e traz o deus da guerra Ares, articulando algumas ameaças, como os Warhawks, e uma aventura em que Clint Barton abandona a identidade de Golias e volta a ser o Gavião Arqueiro, mas com um uniforme novo, sem máscara, peito aberto e saia (!) – uma loriga, a saia dos guerreiros – ; e segue-se um confronto com o mitológico Kratos, que conta com a participação especial de Hércules (edição 99), culminando na celebrativa The Avengers 100, de junho de 1972, na qual a incrível ameaça obriga à reunião dos membros correntes do grupo a quase todos os heróis que já passaram pelas fileiras do time, como o já citado Hércules, Cavaleiro Negro, Pantera Negra, Homem-Formiga, Vespa e até o Hulk em sua primeira ação como membro desde a longínqua edição 02, mais o ex-vilão Espadachim, que se torna de fato um membro honorário da equipe.

Em seguida, o desenhista Rick Buckler assume a arte da revista na edição 101, na qual Thomas trabalha outra vez com um plot criado pelo celebrado Harlan Ellison; e vem o arco dos Sentinelas, os gigantescos robôs caçadores de mutantes advindos da revista dos X-Men, que àquela altura tinha sido cancelada e o roteirista procurava fechar algumas pontas deixadas soltas por lá. Começa na edição 102, na qual Chris Claremont (futuro escritor-sensação dos mutantes) é creditado como coautor, e vemos o Ceifador retornar querendo vingança e faz uma oferta ao Visão: transferir sua mente computadorizada para o corpo do seu irmão Simon Williams, o Magnum, e com isso, o Visão se transformar em um humano. Ainda que superhumano. O Visão recusa de início, mas realmente fica tentado a aceitar.
Mas a trama de verdade se desenvolvia no subplot, no qual os Sentinelas – que tinham sido lançados ao sol nas aventuras dos mutantes – regressam do espaço mais poderosos para continuar a caçar os mutantes (como Feiticeira Escarlate e Mercúrio) e precisam ser detidos pelos Vingadores.
No número 103, os Vingadores descobrem que os Sentinelas construíram uma nova base num gigantesco formigueiro artificial no deserto da Austrália, e vão para lá tentar impedi-los, enquanto em paralelo, Mercúrio vai atrás de Larry Trask, o filho do cientista Bolivar Trask que criou os Sentinelas. Fora Larry quem reativara os robôs caçadores de mutantes na aventura prévia dos X-Men, porém, no fim, viu o mal que tinha causado e se arrependera, descobrindo que ele próprio era mutante no processo, capaz de ver o futuro. Pietro encontra Larry e o leva à Austrália para ajudar aos Vingadores na batalha final.
Na edição 104, os Vingadores têm uma severa batalha com os Sentinelas, onde se destaca a Feiticeira Escarlate, e uma curiosidade acontece: quando os robôs escaneiam o Visão dizem que ele foi feito com tecnologia de 30 anos antes. Como assim? Roy Thomas tinha um ás guardado na manga para responder algumas das indagações dos fãs sobre as origens do sintozoide e essa informação era um pista forte – mas que só seria explicitada um pouco mais adiante.

Enquanto ocorre a batalha com os robôs, Mercúrio e Trask entram na base na busca de salvar Wanda, mas são subjugados por um dos robôs. Mercúrio termina bastante ferido no chão e vê uma luz misteriosa antes da cena seguir adiante. O Visão liberta Wanda e Larry Trask consegue mostrar que o líder dos Sentinelas, o N.º 2, é um “mutante”, o que o leva a ser destruído pelos outros. Mas sem o líder, as máquinas são desativadas. Um dos robôs cai em cima de Larry e ele morre esmagado.
Os Vingadores vão embora sem saber que Mercúrio esteve na base e foi deixado para trás. É o fim da participação de Pietro Maximoff na equipe em sua fase mais clássica e durante quase uma década.
Avengers 104, de outubro de 1972, é o fim da dourada temporada de Roy Thomas à frente da revista, o período mais clássico dentre todos os que a equipe teve e a base fundamental sobre qual se ergue o cânone e o legado dos “maiores heróis da Terra”, a grande inspiração para tudo o que veio depois.

O próprio Thomas explicou o motivo de sua saída na seção de cartas da revista: ele foi promovido a Editor-Chefe da Marvel, substituindo Stan Lee, que foi promovido a Publisher (e vice-presidente da Marvel) e tinha ocupado aquele cargo por nada menos do que 30 anos! Com isso, Thomas teve que deixar várias das revistas em que estava escrevendo para se dedicar ao comando da redação e à liderança criativa da Casa das Ideias.
Como vice-presidente e publisher, Lee continuaria a dar alguns pitacos na produção da Marvel pelo restante da década de 1970, mas nos dois anos seguintes, quem comandaria a criação da editora seria mesmo Thomas e ele fez um trabalho excepcional.
Mas tudo bem, seu substituto nos Vingadores não deixaria a peteca cair. Não mesmo!
Steve Englehart

Steve Englehart se tornou o escritor dos Vingadores e isso o tornou um dos maiores escritores dos quadrinhos nos anos 1970. Com apenas 25 anos, o escritor já vinha se destacando em histórias menores da Marvel. Assim como Roy Thomas antes dele, Englehart gostava de incluir referências psicológicas, filosóficas e políticas em suas histórias, porém, era muito mais ousado e radical. Por isso, era o nome ideal e foi escolhido pelo próprio Thomas, já como Editor-Chefe, para substituí-lo na revista dos Vingadores.

O sucesso foi tanto que Englehart, em poucos anos, escreveria a maioria das principais revistas da Marvel, como Capitão América, Hulk, Thor e os Defensores. Este último era mais um supergrupo de heróis criado por Roy Thomas e Ross Andru, reunindo Dr. Estranho, Hulk e Namor; mas foi Englehart quem os lançou em revista própria e fez bastante sucesso, incluindo ainda membros como o Surfista Prateado e Valquíria, com desenhos de Sal Buscema.
Englehart assumiu os Vingadores com uma equipe mais variável de desenhistas – John e principalmente Sal Buscema, Neal Adams, Don Heck, Rick Buckler, Bob Brown e outros se revezando – mas apesar da instabilidade em termos de arte na parte inicial, a fase do autor é uma das melhores da equipe, senão a melhor!

Começa em Avengers 105, de novembro de 1972, que traz John Buscema brevemente de volta à arte, e curiosamente é uma história que dá continuidade a outro dos plots de Thomas nos X-Men, com os Vingadores (Homem de Ferro, Thor, Gavião Arqueiro, Feiticeira Escarlate, Visão e com o retorno do Pantera Negra), mais a participação especial da asgardiana Lady Sif, procurando por Mercúrio, que está desaparecido e terminando enfrentando os Mutantes da Terra Selvagem, uma série de seres bestiais criados por Magneto. Seguiu-se a edição 106 (desenhada por Rick Buckler e George Tuska) que assiste ao retorno do Fantasma do Espaço (o vilão da edição 02!) e uma participação do Ceifador, passando ao número 107 (agora com arte de Jim Starlin e Tuska), e culminando na edição 108, que traz o retorno de Don Heck como artista da revista depois de seis anos.
Este arco tem uma importância porque trata também da aproximação definitiva da Feiticeira Escarlate e Visão. Os dois tinham percebido que tinham sentimentos um pelo outro lá no meio da Guerra Kree-Skrull (lembram?), mas assustado pela irracionalidade do afeto entre um ser artificial e uma mutante, o Visão mudou de atitude depois disso e passou a fingir um comportamento frio para com Wanda. Mas o desaparecimento de Pietro deixou a garota abalada e vulnerável, e a compaixão do sintozoide terminou por fazê-los finalmente se beijarem e se assumirem como um casal.

Em Avengers 109 temos um dramático momento em que o Gavião Arqueiro deixa o grupo, após ter sido um membro fixo desde 1965. Essa é a primeira de uma série de rupturas cíclicas do personagem com os Vingadores e demoraria um bom tempo até ele voltar a ser um membro realmente constante na equipe, ainda que voltasse para breves interações.
Então, na edição 110, Mercúrio reaparece diante de seus ex-colegas e ficamos sabendo que a luz que ele presenciou lá atrás no arco dos Sentinelas era fruto do teleporte de Dentinho dos Inumanos. Acolhido por eles, Pietro terminou estabelecendo um relacionamento com Crystallis, mas estava zangado e rancoroso de ter sido “abandonado” pelos Vingadores (que nem sabiam que ele tinha chegado até a base da Austrália).

E não ajuda a tentativa de Wanda de alegrá-lo dizendo que estava namorando com o Visão e que os dois pensavam até em se casar: Pietro respondeu isso com fúria e indignação, não achando digno que a irmã se envolvesse com um robô.
Mas os Vingadores recebem um pedido de ajuda do Professor Charles Xavier e vão à Escola X ajudar os X-Men a enfrentar Magneto – lembrando que os mutantes continuavam sem aventuras próprias.

A história se conecta com a aventura de Daredevil 99, onde o Demolidor e a Viúva Negra agiam como parceiros no combate ao crime na cidade de San Francisco, o que resulta nos dois se unirem aos Vingadores em Avengers 111, de maio de 1973, para ajudar na luta contra Magneto. Os heróis vencem e a disputa amorosa-ciumenta entre seu ex-namorado Gavião Arqueiro (que participara da aventura numa breve volta) e o atual Demolidor, mostram para Natasha que ela não estava feliz naquela situação. Portanto, rompe seu relacionamento com o Demolidor e decide entrar nos Vingadores.
É um momento importante, porque apesar de gravitar em torno da revista Avengers desde 1966, é somente neste momento, pela primeira vez, que a Viúva Negra se torna membra oficial dos Vingadores. Ainda assim, será uma admissão muito breve, pois ela deixará o time já na edição seguinte (infelizmente), mas de qualquer modo, isso era parte do esforço consciente de Englehart em aumentar a presença feminina na equipe para além de uma só, como era a tradição desde sempre – exceto breves ocasiões nas quais Vespa e Feiticeira Escarlate estiveram no time ao mesmo tempo. Sob o comando de Englehart, o número de mulheres na equipe iria se diversificar e aumentar.

Na Avengers 112, na qual combatem o Deus Leão e seu culto, chega às histórias do time a nova heroína Mantis. Ela seria uma personagem central na fase de Englehart e o escritor, inclusive, criaria uma tensão sexual entre ela e o Visão (uma admiração de ambos um pelo outro), enquanto este namorava a Feiticeira Escarlate e o Espadachim passasse a namorar Mantis. E a garota era vietnamita, o que aumentava a diversidade e mandava um recado político interessante numa época em que a Guerra do Vietnã dava seus últimos passos. Esta edição encerrou o pequeno ciclo de cinco números desenhados por Don Heck.

Ainda desenvolvendo temas políticos – como Thomas fizera antes dele – Englehart explora, na edição 113, a reação raivosa da mídia e preconceituosa da população pelo fato do romance entre Feiticeira Escarlate e Visão se tornar público, o que mirava um discurso de tolerância às miscigenações da vida real, tema sensível nos Estados Unidos. O texto do autor também referenda o caso John Lennon – Yoko Ono, que sofreu bastante ataque da imprensa e do povo, na época, por ele ser um ídolo da juventude divorciado e ela uma garota japonesa. E para ter ação: o clima de revolta leva ao surgimento de um grupo extremista chamado Bombas Vivas.
Esta edição também marcou a estreia do desenhista Bob Brown na revista.

Na edição 114, o misterioso observador que vinha espionando a equipe há duas edições é revelado: o Espadachim (Jacques Duquesne), que vem com a melhor das intenções e termina oficialmente admitido na equipe ao lado de Mantis. E os dois logo formarão um casal, ainda que a garota-vegetal não esconda uma fascinação latente pelo Visão. A edição encerra o arco contra o Deus Leão.
Adiantando um pouco, mas mantendo o tópico, podemos dizer que Englehart continuou ingressando personagens não-ortodoxos ao Vingadores.
Como se percebe, esse primeiro ciclo de histórias de Englehart já mudara substancialmente a composição dos Vingadores com os tradicionais Capitão América, Homem de Ferro, Thor, o casal sensação Feiticeira Escarlate e Visão, o não tão constante Pantera Negra e o neo-casal Mantis e Espadachim. Claro, era preciso fazer as coisas gradativamente, e a mudança iria se tornar ainda maior com o passar do tempo, como veremos.
A Guerra Vingadores-Defensores
1973 era o primeiro ano completo de Roy Thomas como editor-chefe da Marvel e ele e o publisher Stan Lee tomaram a decisão de cancelar as revistas do tipo anual que a editora lançava no verão, porque elas não estavam vendendo bem. Mas Englehart gostava dessas revistas, porque era a oportunidade de fazer grandes eventos. Privado de poder criar um Avengers Annual como pensara, o escritor decidiu fazer um grande evento na revista regular mesmo, mas fazendo um cruzamento com outro título de sucesso que também escrevia em paralalelo: os Defensores!

Era um grupo meio incomum reunindo primeiro Doutor Estranho, Hulk e Namor; ganhando o Surfista Prateado em seguida (ainda que brevemente), depois a Valquíria (o que estabelece o core principal do time) e vários outros membros posteriormente; criado inicialmente por Roy Thomas com arte de Ross Andru, em Marvel Feature 01, de dezembro de 1971, numa história desenhada por Ross Andru e uma bela capa de Neal Adams. A resposta dos leitores foi calorosa e Thomas e Lee decidiram criar uma revista própria para aquele novo grupo, estreando The Defenders 01, menos de um ano depois, em setembro de 1972, porém, com roteiros de Steve Englehart e arte de Sal Buscema.

Disponível no Brasil em Os Maiores Clássicos dos Vingadores 04, da editora Panini. A saga foi publicada entre Avengers 115 e 118 e Defenders 08 a 11, em 1973, e traz a mais memorável das batalhas entre Thor e Hulk. Na trama, as duas equipes são manipuladas pelo demônio Dormammu, o que leva a um feroz confronto, que ainda é piorado pela intervenção de Loki, que atua como oponente do grupo pela primeira vez desde o conto de origem.

Em seguida, Englehart – ainda com Brown na arte – segue um ciclo de histórias com oponentes tradicionais da equipe, como o Colecionador (edição 119) e um ótimo arco contra o Zodíaco (números 120 a 122), que tem um desdobramento importante na edição 123, de maio de 1974, que revela que Libra (um dos mais perigosos membros do Zodíaco) é, na verdade, o pai de Mantis e a origem da heroína é contada pela primeira vez. Curiosamente, como Libra é o responsável pelo equilíbrio, se descobre que ele não é verdadeiramente mal e ele vira um aliado dos Vingadores por um tempo.
Uma questão que é desenvolvida nessas tramas é que o Visão começa a expressar seu interesse por Mantis, por ela ter uma mente excepcional, o que começa a tensionar os dois relacionamentos que têm Feiticeira Escarlate e Espadachim nas outras pontas.
Ah, vale destacar que Bob Brown encerrou sua relativamente longa (para aqueles tempos de instabilidade artística) passagem pela revista na edição 123 (foram dez edições!) e o grandíssimo John Buscema regressou a partir do número seguinte.
Capitão Marvel, Warlock e Thanos
Enquanto Englehart produzia sua fantástica fase nos Vingadores, outro artista genial também balançava as estruturas da Marvel: o escritor e desenhista Jim Starlin. A partir de histórias esparsas e secundárias, Starlin começou a construir um arco coeso e impressionante baseado no vilão Thanos, o titã louco. É importante mencioná-lo porque ele terá fortíssimas implicações aos Vingadores no futuro breve e distante.

Starlin começou sua saga na revista do Homem de Ferro, onde em The Invencible Iron-Man 55, em 1973, fez surgir Thanos pela primeira vez: um alienígena de Titã, uma das luas de Saturno, que tem grandes planos de conquista. A edição também introduz um grande adversário do vilão: Drax, o Destruidor, criado especialmente por Mentor (também o pai de Thanos) unicamente para destruir o vilão.

Em seguida, Starlin assumiu a revista Captain Marvel, com as aventuras do Capitão Marvel, onde reformulou os poderes e motivações do personagem (um alienígena Kree que se encantou pela Terra e passou a defendê-la), tornando-o um protetor universal do cosmos. Por isso mesmo, a ele é dada a missão fundamental de deter Thanos.

Mais tarde, em 1975, Starlin também assumiria a revista de Adam Warlock, um aventureiro espacial em aventuras repletas de referências místicas, cujo o destino também o lançou contra Thanos; aliado a Gamora, uma alienígena que fora criada como filha pelo titã louco, mas voltara-se contra ele em busca de redenção.
As histórias de Jim Starlin construíram toda a mitologia básica do lado cósmico da Marvel e são algumas das mais ousadas, surpreendentes, loucas e psicodélicas aventuras que a editora já publicou. E, como não poderia deixar de ser, conforme veremos a seguir, Capitão Marvel e Warlock precisaram de ajudas constantes dos Vingadores em suas batalhas contra Thanos.

Como desdobramento da saga do titã louco na revista do Capitão Marvel, Steve Englehart colocou os Vingadores diretamente contra Thanos pela primeira vez. Na época, Thanos se tornava a maior ameaça do cosmos, após adquirir o Cubo Cósmico (sim, o mesmo artefato das histórias do Capitão América) e Englehart fez uma parceria com Jim Starlin para mostrar uma grande aventura dos maiores heróis da Terra contra o Titã Louco! O confronto ocorre em Avengers 125, de julho de 1974, em sequência aos eventos de Captain Marvel 32 e 33 de Starlin.

A história mostra, na verdade, os Vingadores indo ao espaço combater uma enorme frota estrelar comandada por Thanos, que é apenas mencionada nas revistas daquele outro herói. Tributária daquela outra batalha espacial da Guerra Kree-Skrull, não deixa de ser um momento sensacional assistir Thor e Homem de Ferro usarem todos os seus poderes destroçando naves alienígenas na bela arte de John Buscema. Não há um confronto direto da equipe com o titã louco, algo que só acontece na própria revista Captain Marvel 33 (especialmente com o Homem de Ferro) por Jim Starlin.

Além do Capitão Marvel, a equipe é auxiliada por Gamora e pela Serpente da Lua (duas coadjuvantes de Mar-Vell), esta última uma heroína que teria grandes vínculos com os maiores heróis da Terra em breve.
Em seguida, Avengers 126 traz uma batalha contra o Garra Sônica e resulta no Capitão América e Pantera Negra (este após outra temporada de vinte edições) deixando o time e Bob Brown de volta à arte para uma única edição. A saída dos dois heróis tinha fundo editorial: Englehart queria deixar Steve Rogers mais livre para explorar suas aventuras individuais em uma grande saga que iria começar em sua revista solo; e o Pantera Negra estava iniciando suas primeiras histórias solo, que o colocavam de volta à Wakanda e longe da ambientação dos Vingadores.
A Saga da Madona Celestial
No mesmo período, o sucesso das histórias de Englehart motivou a Marvel a criar uma segunda revista para os Vingadores, nascendo Giant-Size Avengers, de periodicidade trimestral funcionando como uma publicação de “histórias especiais” e um novo formato com tamanho maior (o chamado magazine), servindo como uma ampliação experimental do modelo dos anuais.

Giant-Size Avengers 01, de agosto de 1974, teve roteiro de Roy Thomas e desenhos de Rich Buckler e trouxe como grande destaque a revelação de que a dupla de heróis Ciclone (Whizzer) e Miss America – que na cronologia da Marvel atuaram ao lado do Capitão América e do grupo de heróis chamados Invasores durante os eventos da II Guerra Mundial e, após o conflito, permaneceram juntos como o Esquadrão Vitorioso – eram os pais dos gêmeos Feiticeira Escarlate e Mercúrio.
Na trama, alguém invade a Mansão dos Vingadores e os heróis descobrem que é o idoso herói velocista Ciclone (Whizzer). Após uma breve batalha, o mal entendido é desfeito: Robert Frank está em busca de um artefato cromado que aprisiona o seu perigoso filho, um louco vilão radioativo chamado Nuklo. Claro, o vilão se liberta, vence os heróis e foge. Enquanto o time dos Vingadores vai atrás de Nuklo, Feiticeira Escarlate é tocada de uma intuição e fica para trás, para levar Frank ao hospital.
Então, Whizzer conta a Wanda suas aventuras com o Esquadrão Vitorioso, o grupo que prosseguiu com o legado dos Invasores após a Guerra, e conta que em uma das últimas aventuras da equipe, ele e a esposa, a também heroína Miss América (Madelyne Joyce), terminaram contaminados por uma alta dose de radiação, de modo que o filho deles, Robert Frank Jr. se transformou no vilão Nuklo, que terminou aprisionado na capsula especial e foi parar no porão da Mansão dos Vingadores.

Mas aí vem a surpresa! Robert e Madelyne passaram por outra gravidez anos depois. Temerosos de que o filho pudesse ter problemas como o primeiro, foram ao Leste Europeu, no país chamado Trânsia em busca da Montanha de Wundagore, onde estava escondida a instalação científica do Alto Evolucionário, que tinha aparecido nas histórias do Thor. O Alto Evolucionário fazia experimentos com o DNA humano para tentar acelerar a evolução da humanidade. Madelyne dá à luz a um par de gêmeos e morre no processo, após solicitar que eles fossem batizados de Wanda e Pietro!
O que aconteceu é que Robert Frank ficou tão abalado pela morte da esposa que terminou indo embora sem os filhos, e o Alto Evolucionário, então, entregou as crianças aos Maximoff, que moravam em um acampamento cigano ali próximo. A história é fundamental para estabelecer que a Transia é o país natal de Wanda e Pietro, embora tinha um componente lamentável: os gêmeos não seriam ciganos, mas filhos de heróis americanos, o que eliminava o caráter de diversidade étnica que representavam.
A trama da filiação da dupla, contudo, não estava encerrada ainda, e seria recorrente e importante pela década seguinte de histórias.
Giant-Size Avengers 01 também trouxe a republicação de uma aventura conjunta do Tocha Humana original e do Capitão América nos anos 1940, em Human Torch 33.

Voltando à revista mensal e a Steve Englehart, em outra sequência de histórias, promove a maior de todas as batalhas clássicas contra Ultron, quando este ataca o casamento do ex-vingador Mercúrio com a membro dos Inumanos, Crystallis, em Avengers 127, com arte de Sal Buscema, que volta a ser o artista da revista pelos números seguintes (e uma história que continuaria em Fantastic Four 150). Na trama, Ultron após ter sido destruído na ocasião anterior, constrói um corpo novo de tamanho ampliado, tal qual seu “pai” Hank Pym em suas identidades heroicas pretéritas, o que lhe fez usar a denominação Ultron-7.

Steve Englehart desenvolveu a partir daí um dos mais famosos e melhores arcos de histórias dos Vingadores: A Busca da Madona Celestial, na qual os Vingadores se envolvem em uma disputa entre Kang e Immortus na busca pela “Madona Celestial”, uma lendária mulher cuja antiga profecia dizia que seria a geradora de uma criança que salvaria o universo. Inicia em Avengers 128, de outubro de 1974, na qual a Feiticeira Escarlate conhece Agatha Harkness, uma maga que já havia aparecido nas histórias do Quarteto Fantástico, que lhe diz que ela tem grandes poderes místicos (além dos mutantes) e que precisa treiná-la; ao mesmo tempo em que os Vingadores precisam confrontar Kang na edição 129, que está em busca de descobrir quem é a Madona Celestial, que entre as suspeitas, incluíam a Feiticeira Escarlate e a Serpente da Lua.
Vem então Giant-Size Avengers 02, por Steve Englehart e arte de Dave Crockum, uma épica aventura em que os Vingadores foram derrotados por Kang, então, o Faraó Rama-Tut (um faraó de verdade do Egito Antigo que é um viajante no tempo e que, como revelado lá atrás em Avengers 08 é a versão mais jovem e menos ambiciosa do próprio Kang), recruta o Espadachim e o Gavião Arqueiro (que regressa de novo brevemente ao time) para ajudá-lo a salvar os Vingadores. O trio vai ao passado, mas quando Kang e Rama-Tut se encontram, o tempo entra em colapso e os dois terminam perdidos fora do tempo após sua batalha. E esse processo revela que Mantis é a Madona Celestial.

Infelizmente, na batalha final, Kang direciona um raio de energia fatal contra os Vingadores e o Espadachim se sacrifica para salvá-los e morre. O grupo fica abaladíssimo, pois apesar de todo o tempo de lutas, era a primeira vez que um membro dos Vingadores morria em ação.
O Espadachim é enterrado no Templo de Pama no Vietnã, em Avengers 130, e Englehart e Sal Buscema (que continua desenhando a revista mensal) trazem à tona estertores da já finda Guerra do Vietnã, na qual o governo local, aliado à União Soviética, reúne três vilões soviéticos em um novo grupo: Os Três Titânicos, com o Homem de Titânio, o Dínamo Escarlate (dois inimigos do Homem de Ferro) e o Homem-Radioativo (o ex-membro dos Mestres do Terror, que surgiu como vilão do Thor).

A trama de Kang em busca da Madona Celestial é retomada na edição 131, quando Immortus reaparece e resgata Kang e Rama-Tut que estavam perdidos fora do tempo, levando-os ao seu reino: a dimensão conhecida como Limbo, onde o tempo não existe. Porém, Kang o trai e aprisiona os outros dois, usando a tecnologia de Immortus para reunir a Legião dos Não-Vivos, resgatando figuras de vários períodos de tempo distintos instantes antes de suas mortes e sob controle mental: o Barão Zemo, Magnum, o Tocha Humana original (personagem dos anos 1940), Meia-Noite, Fantasma e o Monstro de Frankstein. Era uma réplica da estratégia que Immortus usara em Avengers 11. Os Vingadores ainda estão no Vietnã quando veem uma imagem espectral do Espadachim, mas antes que possam entender o que está acontecendo também são transportados para o Limbo.
E na edição 132, de fevereiro de 1975, mostra-se a acirrada batalha, com o Homem de Ferro e o Visão mortalmente feridos, enquanto na Terra, o Espadachim-Espectral luta contra um grupo de ladrões. Como assim?
Saltamos, então, à Giant-Size Avengers 03, novamente por Englehart e Crockum, na qual a grande batalha continua e, lutando por suas vidas, os Vingadores conseguem libertar Immortus e Rama-Tut e Kang resolve fugir quando percebe que será derrotado por Thor. No meio disso, alguns dos membros da Legião dos Não-Vivos começam gradativamente a se libertar do controle mental, como o Barão Zemo e o Tocha Humana, que salva a vida do Visão, que ainda está bastante ferido. O Sintozoide é salvo por Mantis e vemos que há mesmo uma tensão sexual forte entre os dois.

Como o próprio Tocha é um androide, procura desmontar e consertar o Visão e, para sua própria surpresa, percebe que os componentes do sintozoide são idênticos aos seus! No fim, Immortus devolve os Não-Vivos de volta às suas linhas temporais respectivas e restaura as condições de vida do Visão e do Homem de Ferro.
Assim, em Avengers 133 e 134, começando em abril de 1975 (que encerram a boa temporada de Sal Buscema de sete edições), Immortus envia o Visão para o passado, onde ele descobre que, na verdade, ele é o Tocha Humana original: o androide construído pelo cientista Dr. Phineas T. Horton que acidentalmente se incendiava no contato com o ar e terminou se transformando num grande herói nos tempos da II Guerra Mundial, lutou ao lado do Capitão América nos Invasores, depois no Esquadrão Vitorioso, e terminou aprisionado em uma piscina por um vilão chamado Sardo, até que após presenciar a explosão de uma bomba atômica, terminou perdendo o controle de seus poderes e suas próprias chamas o destruíram em 1953, caindo sozinho num deserto e ficando esquecido por lá.

Anos mais tarde, seu corpo foi encontrado pelo vilão Pensador Louco que o usou contra o jovem Tocha Humana do Quarteto Fantástico e que, após ser derrotado, terminou abandonado no laboratório do vilão. Seu corpo foi encontrado por Ultron, que o modificou e o transformou no Visão para derrotar os Vingadores, substituindo a mente bondosa do herói original pelos padrões cerebrais de Simon Williams, o Magnum. Essa trama finalmente revelava porque Ultron usara os padrões mentais de Magnum (para neutralizar a bondade do Tocha), como o Visão era tão poderoso e porque Ultron não incorporara em si os poderes de sua criação.
Paralelamente, Immortus viaja no tempo com o restante dos Vingadores para mostrar as origens reais de Mantis: ela é descendente de uma raça alienígena chamada Cotati, seres meio planta, meio humanoides, que partilharam o planeta Hala com os Kree e cujo conflito e traição levou à Guerra Kree-Skrull. Os Cotati foram quase totalmente eliminados, mas alguns conseguiram escapar salvos por Kree pacíficos, que criaram o Culto de Pama e espalharam os Cotati por vários planetas, inclusive, a Terra. Por ter sido enterrado no templo daquele culto, o corpo do Espadachim foi possuído por um Cotati, sendo isso a versão espectral do herói que já aparecia há algumas edições.
Ainda em paralelo, a Serpente da Lua chega à Terra atendendo a um chamado do Capitão Marvel e vai em busca da ajuda dos Vingadores e descobrimos que, esse tempo todo, a Feiticeira Escarlate ainda está realizando seu treinamento com Agatha Harkness, fechando esse conto já na edição 135, que traz o novo desenhista George Tuska, e Immortus revelando que Mantis precisa provar o seu valor para ser mesmo a Madona Celestial e que a Serpente da Lua é a reserva para caso a primeira fracasse naquilo.
Chega, então, o fim da saga em Giant-Size Avengers 04, de junho de 1975, agora por Englehart com arte de Don Heck, na qual a viagem no tempo do Visão termina com o sintozoide na Dimensão Negra de Dormammu, onde o demônio fez a Feiticeira Escarlate como refém e domina sua mente, o que leva o casal a unir forças contra o vilão e Wanda usar pela primeira vez suas recém-treinadas habilidades místicas; ao mesmo tempo em que o restante dos Vingadores vai ao Vietnã para o casamento de Mantis com o Espadachim-Espectral-Cotati, que é celebrado por Immortus.
Mas o enlace não é realizado, pois Kang ataca novamente na tentativa de se apossar da Madona Celestial, e há outra grande batalha. No fim, Kang vai embora vitorioso e levando Mantis, mas Immortus revela que aquela heroína era um embuste: seu capanga, o Fantasma do Espaço (lembram dele?) se passando por ela.

Com tudo resolvido, Immortus celebra o casamento duplo de Visão e Feiticeira Escarlate e Mantis e Espadachim-Cotati. Isso confirma Mantis como a Madona Celestial e ela e o Cotati partem da Terra como um feixe de energia para o espaço, onde cumprirão seu destino.
A Busca da Madona Celestial ficou como uma das melhores histórias dos Vingadores, um apogeu no nível da Guerra Kree-Skrul ou da ainda vindoura A Saga de Korvac. Muitos críticos, inclusive, consideram (isoladamente) o Giant-Size Avengers 02 como a melhor história já publicada do grupo.
Falando nisso, não foram publicadas outras histórias inéditas no formato Giant-Size depois do fim da saga. Em setembro de 1975, chegou a ser lançada Giant-Size Avengers 05, mas trazendo apenas a republicação da épica história do Avengers Annual 01, de 1966. Mesmo que ainda existisse uma história inédita produzida para aquela edição.
O Capitão América de Englehart
Steve Englehart foi um dos escritores mais importantes da Marvel nos anos 1970. Por isso, escreveu várias revistas da editora, além de Avengers, como Captain America, Dr. Strange, The Defenders, Hulk etc. Vale destacar, aqui, sua passagem pelo Capitão América, que foi uma das fases mais importantes desse personagem em todos os tempos.

Escrevendo entre 1972 e 1975, Englehart criou grandes sagas, como Herói ou Ameaça? (que introduziu o conceito do Capitão América dos anos 1950) e A Saga do Império Secreto (na qual o herói combate uma grande conspiração). Veja mais detalhes no dossiê próprio do personagem. A participação nesta última foi o que afastou o personagem das aventuras dos Vingadores durante boa parte d‘A Saga da Madona Celestial.
A Saga da Coroa da Serpente
Ter escrito a grande saga d’A Madona Celestial fez Steve Englehart perder os prazos ou precisar de umas férias… mas o caso é que se chegou ao ponto de simplesmente não haver uma história da equipe para Avengers 136, daí que o então editor-chefe Len Wein tonou a inusual decisão de fazer uma republicação naquela edição de uma aventura solo do Fera (ex-membro dos X-Men) [publicada originalmente em Amazing Adventures 12], escrita pelo próprio Englehart e desenhada por Tom Sutton, na qual ele luta contra o Homem de Ferro.
As coisas voltam à normalidade editorial em Avengers 137, de julho de 1975, por Steve Englehart e George Tuska, que dá início a um ciclo totalmente novo de histórias, onde os Vingadores chamam um recrutamento, após ficarem desfalcados com os dois casamentos e a partida do Gavião Arqueiro, que preferiu permanecer afastado do time. Porém, dos velhos membros, apenas o casal Hank Pym e Janet Van Dyne (Vespa) aceitam voltar, com ele retornando à persona de Jaqueta Amarela (após ter tido uma série de aventuras solo novamente como Homem-Formiga). Mas dois novatos se apresentam: a Serpente da Lua e o Fera; ela advinda das histórias cósmicas de Jim Starlin. Os novatos são admitidos como “membros em teste”, não totalmente oficiais.

A Serpente da Lua (Heather Douglas) tinha uma complicada história de origem: conforme ilustrado em Daredevil 105 (de dois anos antes, por Steve Gerber, Don Heck e Jim Starlin), sua família fora morta quando Thanos invadiu a Terra pela primeira vez, e ela, ainda criança, foi salva por Mentor, o líder dos Titãs (que habitavam a lua de Saturno de mesmo nome) e treinada e incrementada com a tecnologia alienígena para desenvolver habilidades sobrehumanas, como força e agilidade, mas principalmente, um grande poder psiônico, ou seja, mental. Mentor também usou a alma (ou essência) do pai dela para desenvolver Drax, o Destruidor.

Após sua estreia e de aparecer em quatro edições de Daredevil (num arco que envolvia Thanos e os Titãs), migrou para a revista do Capitão Marvel justamente naquele arco que envolveu os Vingadores contra o titã louco, antes de aparecer como coadjuvante ao longo de toda a Saga da Madona Celestial. Era quase uma preparação para, enfim, assumir seu posto como vingadora. A Serpente da Lua era uma personagem interessante, porque apesar de andar quase nua (e ser descrita como uma mulher belíssima mesmo não tendo cabelos), era fria e distante (como resultado de sua criação alienígena) e extremamente arrogante, o que era algo peculiar, com ela se considerando uma deusa, e sendo mesmo muito poderosa e eficiente.
Já Hank McCoy, o Fera, era um dos membros originais dos X-Men (e foi o primeiro dos membros do time mutante a se tornar um vingador), dotado de poderes físicos, como força e agilidade. Sua aparência era humana até ganhar sua rodada de aventuras solo na revista Amazing Adventures três anos antes (também escritas por Englehart) onde um composto químico o deixou com sua mais característica forma bestial de pelos acinzentados ou azuis (ele era pintado de cinza no início, mas depois, os coloristas optaram pelo azul). McCoy disfarçava seu gênio científico com um humor antiquado que o colocava como um tipo de alívio cômico.
De volta a Avengers 137, com a estreia dessa dupla no time, o antagonista da vez é o Estranho (embora não seja realmente o poderoso vilão, mas apenas o Groxo – da Irmandade dos Mutantes – se fazendo passar por ele) e a batalha resulta na Vespa sendo ferida e enviada ao hospital até que o restante da equipe derrote a ameaça na edição 138.

Então, o Tufão (velho inimigo do casal Pym-Dyne) tenta matar a heroína no hospital na edição 139. Para derrotá-lo e salvar a esposa, Pym volta a crescer de tamanho (algo que não fazia há anos porque prejudicava sua saúde), mas simplesmente não consegue parar de crescer, atingindo até 50 pés (15 metros), passando mal e desmaiando.

Então, em Avengers 140, o Visão (retornando de sua lua de mel) retribui o favor de Pym (que entrou em seu corpo e salvou sua vida na edição 93) e o sintozoide usa seus poderes de se tornar intangível e entra no corpo do crescido Jaqueta Amarela para ministrar uma fórmula que pode salvar sua vida diretamente em sua corrente sanguínea.
Avengers 141, de novembro de 1975, marca duplamente a história por dar início propriamente dito à Saga da Coroa da Serpente de Steve Englehart, e por trazer a estreia de George Perez como desenhista dos Vingadores, aquele que seria um dos mais clássicos e mais associados artistas à imagem do grupo.

Nascido no Bronx, em Nova York, em 1954, filho de imigrantes de Porto Rico, Perez era um artista novato na Marvel e tinha se destacado nas histórias dos Filhos do Dragão na revista The Deadly Hands of Kung Fu, da linha de artes marciais da editora, onde criou o personagem Tigre Branco, que depois migrou para as aventuras do Homem-Aranha e foi o primeiro super-herói latino da Marvel. Os Vingadores eram o primeiro grande trabalho do artista e ele faria uma execução sensacional, com seu traço sólido e bonito, na linha de John Buscema, mas com uma incrível habilidade de criar quadros cheios de personagens ficarem funcionais, o que era muito vantajoso em uma história de super-grupos.
Perez seria, assim, um dos principais artistas dos Vingadores pelos 25 anos seguintes.
Na edição 141, Englehart e Perez mostram o Capitão América se reunindo ao time para avisá-los do perigo da Coroa da Serpente (um artefato místico de grande poder que tem origem nos Lemurianos, parentes dos Atlantes de Namor), que ele descobrira – em suas aventuras solo recentes (também escritas por Englehart) – estar de posse de Hugh Jones, um dos executivos da corrupta Roxxon Oil, um conglomerado empresarial de petróleo que também era dona da Corporação Brand, outra dessas empresas “más” da Marvel, esta a qual o Fera era ex-funcionário.

Ao mesmo tempo, enquanto Vespa e Jaqueta Amarela ainda estão no hospital, Thor e Serpente da Lua se unem a Immortus para buscar o Gavião Arqueiro, que ficou perdido no tempo como fruto das ações de Kang na saga anterior, o que leva a um breve confronto com o Conquistador, e o trio encontrando seu amigo no ano de 1873, em pleno velho oeste.
Ao mesmo tempo, os Vingadores restantes partem para uma invasão à Roxxon e contam com a “ajuda” de Patsy Walker. Era um movimento ousado de Englehart, que queria mais uma personagem feminina forte na revista: ela era uma antiga personagem da Marvel, advinda ainda da linha de HQs de temática feminina e de romance das décadas de 1940 e 50 (da qual Millie, a Modelo era mais conhecida). A estreia de Patsy é tão antiga quanto se pode imaginar: ele apareceu em Miss America Magazine 02, (sim, a revista da heroína que viraria esposa doo Ciclone e suposta mãe da Feiticeira Escarlate), de novembro de 1944 (!), criada pelo escritor Stuart Little e pela cartunista Ruth Atkinson, como uma ruiva colegial em aventuras de humor e romance. Mas a menina fez tanto sucesso que ganhou uma revista própria, Patsy Walker, em 1945, que continuou a ser publicada nas décadas seguintes até o número 124, de 1964! Ela também estrelou a revista Patsy and Hedy (sobre ela e sua “rival”), que foi publicada entre 1952 e 1967. Patsy terminou migrando para a linha principal de super-heróis da Marvel nas aventuras solo do Fera (também escritas por Englehart), que a mostravam casada com o namorado Robert “Buzz” Baxter.
Naquelas aventuras, o ex-X-Men Hank McCoy lhe havia prometido lhe ajudar a se tornar uma heroína, e ela vinha agora à revista dos Vingadores cobrar a promessa. Mas como ela trabalhara na Roxxon, era útil em ajudar o time a entrar lá. Um elemento interessante é que Englehart a tratou aqui como uma mulher adulta e divorciada, o que era algo inédito nos quadrinhos mainstream, que não traziam esse tipo de arranjo civil.

Ao invadirem a Roxxon, os Vingadores são surpreendidos pelo ataque do Esquadrão Supremo (seus aliados de outra dimensão), com a divisão das duas tramas (Serpente da Lua e Thor em busca de Kang de um lado e o resto da equipe com a Roxxon no outro) correndo algumas edições; e na edição 142, enquanto o time é aprisionado em uma cela especial na Roxxon; os heróis do passado encontram uma série de personagens da Marvel das velhas histórias de faroeste, com Two-Gun Kid, Rawhide Kid, Kid Colt, Ringo Kid e Night Rider – que fizeram sucesso nos anos 1950, antes da Era da Marvel; onde todos se unem para combater Kang, o Conquistador, que está por lá para tentar dominar o século XIX.

No número 143, os heróis conseguem se libertar de sua cela; enquanto no passado Thor, Serpente da Lua e Gavião Arqueiro conseguem finalmente derrotar Kang, que morre vítima de sua própria arma de dissolução. Então, Immortus aparece diante deles e diz que ele, Kang e o faraó Rama-Tut são todos a mesma pessoa (Immortus seria a versão mais velha, sábia e bondosa de Kang) e, com sua morte, seu ciclo se encerrou e o senhor do Limbo desaparece, deixando de existir.

Em Avengers 144, de fevereiro de 1976, inicia-se um curioso ciclo no qual o veterano Jack Kirby desenharia as capas da revista por praticamente um ano. Kirby tinha saído da Marvel seis anos antes e passou um tempo na DC Comics, e voltava agora para comandar algumas revistas de criações suas, como Capitão América e Pantera Negra. Ele não desenharia nenhuma aventura dos Vingadores, mas faria suas capas por um tempo, como nos velhos tempos.

Na história, os Vingadores no presente continuam tentando escapar do prédio da Roxxon e terminam se escondendo num tipo de depósito onde encontram o uniforme da The Cat (A Gata/ Greer Nelson), uma heroína da Marvel que tivera vida curta publicada no ano anterior. É a oportunidade para Patsy Walker vestir a roupa e assumir a sua própria identidade heroica: Hellcat (Felina, no Brasil).

No fim, Hugh Jones envia os Vingadores e o Esquadrão Supremo para a dimensão deste grupo. O interessante é que desta vez Englehart, Perez e a Marvel não têm pudor nenhum em “disfarçar” que o Esquadrão Supremo é uma versão da Liga da Justiça da DC, tratando a trama como se fosse mesmo um bombástico crossover entre os dois times. O roteiro, inclusive, utiliza termos normalmente associados aos heróis da Distinta Concorrente, com os títulos das histórias trazendo nomes como Crise na Outra Terra e 20 Mil Ligas de Justiça (numa brincadeira com 20 Mil Léguas Submarinas).
No campo editorial, aparentemente, Englehart estava com outro problema de prazos, porque outra ação totalmente incomum foi tomada pelo editor-chefe Marv Wolfman, criando não uma, mas duas edições de “intervalo” na saga, com uma história que não tinha absolutamente nada a ver com a trama corrente. Avengers 145 e 146, começando em março de 1976, trazem uma história escrita por Tony Isabella e Scott Edelman com arte de Don Heck que estava programada para aparecer na Giant-Size Avengers 05, quase dois anos antes. Porém, a Marvel decidira descontinuar aquela revista e a história foi totalmente arquivada, para ser “resgatada” e divida em duas partes para preencher essa lacuna.
Na trama um vilão chamado apenas Assassino – o maior matador de aluguel da história – aceita a encomenda de um grupo de inimigos dos Vingadores para matar os membros da equipe, o que ele tenta fazer, com um plano de atacá-los separadamente.
A Saga da Coroa da Serpente retorna na edição 147, na qual os Vingadores estão na terra do Esquadrão Supremo e precisam lutar contra a equipe e tomar o artefato místico e destruí-lo no número 148, quando conseguem retornar para a nossa Terra. Os heróis que estavam no passado também regressam, trazendo o Two-Gun Kid consigo.
Após o fim do arco, em Avengers 148, Steve Englehart escreveu um arco menor comemorando o 150º número da revista. Inclusive, Avengers 150, de agosto de 1976, trouxe uma grande retrospectiva da carreira da equipe, mostrando sua fundação e evolução, como parte de uma trama na qual a imprensa rememora a história dos heróis enquanto esses buscam uma renovação da equipe, após Thor, Felina e Serpente da Lua decidirem deixar o time.
A renovação, claro, é puro marketing: Thor (que era o líder de então) decide sair; Felina aceita ser membra, mas decide sair para dar um jeito em sua vida pessoal; a Serpente da Lua também sai em busca de autoconhecimento; de modo que a equipe prossegue com Homem de Ferro (como novo líder – e o será pelo resto da década), Capitão América, Fera, Feiticeira Escarlate, Visão, Jaqueta Amarela e Vespa. Em Avengers 151, quando o time anuncia a “nova” formação, é atacada por Magnum (Wonder-Man), que estava “morto” desde Avengers 09, lá atrás em 1964.
É o fim da longa e riquíssima fase de Steve Englehart à frente dos Vingadores. Cansado do ritmo alucinante de escrever várias revistas em quadrinhos ao mesmo tempo, Englehart decidiu abandonar a indústria, se aposentar e sair da Marvel. Contudo, a concorrente DC Comics lhe fez uma proposta irrecusável financeiramente, e ele passou mais um ano escrevendo histórias de Batman, Superman, Lanterna Verde e Liga da Justiça. E, novamente, não fez feio. Para muitos fãs e críticos, as histórias do homem-morcego que escreveu são as melhores entre todas àquelas existentes do personagem.
Englehart voltaria à Marvel apenas nos meados dos anos 1980.
Uma Pausa para Respirar
O lugar de Englehart nos Vingadores foi ocupado de modo breve por Gerry Conway (famoso escritor do Homem-Aranha). Infelizmente, a passagem de cerca de um ano de Conway pelos Vingadores não foi marcante. Em grande parte, o feito mais notável foi a introdução de Magnum como um membro da equipe, desenvolvendo a trama que criara em parceria (creditada) com Englehart em Avengers 151.
Na trama, o Magnum é revivido porque seu corpo foi transformado em pura energia iônica por causa do experimento científico ao qual fora submetido pelo Barão Zemo lá naquelas aventuras antigas. Como seu corpo estava “guardado” no porão da Mansão dos Vingadores, Simon Williams desperta e ataca o grupo e acusa o Visão de ter roubado a sua mente – afinal, o Visão foi construído pelo vilão Ultron para destruir os Vingadores e teve sua inteligência artificial incrementada com os padrões cerebrais do Magnum.
Apesar desse conflito inicial, Magnum continuava arrependido de seus crimes (ele morrera ao ajudar os Vingadores) e queria uma segunda chance para se redimir. Percebendo que sua intenção é genuína, ele é aceito como membro na equipe, e os Vingadores passam à formação com Homem de Ferro, Capitão América, Fera, Feiticeira Escarlate, Visão, Jaqueta Amarela, Vespa e Magnum.
Outro personagem que ganha espaço é o velho herói Ciclone (Whizzer), que pensa ser o pai da Feiticeira Escarlate e de Mercúrio. O idoso não é membro dos Vingadores, mas aparece várias vezes e chega a ajudá-los.
A temporada de Conway culmina em uma batalha contra o Dr. Destino. O interessante é que George Perez esteve ausente a maior parte da temporada, com Conway preferindo trabalhar com desenhistas mais veteranos, como John Buscema e Don Heck que desenham cerca de duas edições cada um. As capas continuavam na arte maravilhosa de Jack Kirby, que encerra o ciclo na edição 158, a primeira edição escrita pelo novo comandante da revista.
Por fim, um detalhe: Avengers 157 trouxe capa de Kirby com desenhos internos de Heck, como eram os Vingadores de 1965 e 1966!
A Fase de Jim Shooter

Em Avengers 158, de abril de 1977, dá-se início à cultuada fase de Jim Shooter à frente dos maiores heróis da Terra. De fato, após a “pausa” de Conway, a temporada de Shooter é uma fase dourada, uma das melhores, mais lembradas e importantes da equipe, um período de histórias clássicas e grandes eventos, o que coloca sua temporada num patamar similar às de Roy Thomas e Steve Englehart.

Nascido em 1951, Shooter tinha apenas 25 anos naquela época, mas era um jovem bastante experiente que começou a vender roteiros para a DC Comics aos 13 anos de idade, fazendo da Legião dos Super-Heróis um dos maiores sucessos do fim dos anos 1960 (a editora não sabia sua idade, pois recebia os textos pelo correio). Após passar a adolescência como um dos maiores escritores de quadrinhos de seu tempo, o rapaz chegou a abandonar a indústria para cursar a universidade, mas terminou retornando, fazendo mais alguns trabalhos na DC antes de ir para a Marvel, onde trabalhara mais como editor do que como roteirista até assumir The Avengers.
Shooter produziu uma série de clássicos com os Vingadores, como os arcos A Noiva de Ultron (que apresentou a personagem Jocasta); A Trilogia de Nefária, na qual o velho vilão se torna tão poderoso quanto Thor; e A Saga de Korvac, para muitos, a melhor história dos Vingadores em todos os tempos, uma grande aventura contra um inimigo de poderes quase infinitos e, portanto, invencível.
Shooter também trouxe a introdução de novos membros, como o ressuscitado Magnum; o parceiro do Capitão América Falcão (outro afrodescendente) e a Miss Marvel Carol Danvers, além de trazer de volta o Gavião Arqueiro, sumido há muitos anos. Também introduziu o irascível Henry Peter Gyrich, o contato entre os Vingadores e o Governo dos EUA, personagem que se mostra quase um vilão.
A temporada começa em Avengers 158 e 159 com a introdução de um vilão menor, Graviton, contando com desenhos de Sal Buscema. A aventura serviu para trazer o Pantera Negra de volta à equipe, tornando-se um membro efetivo depois de três anos afastado.
Em Avengers 160, George Perez está de volta aos desenhos (e fazendo as capas desta vez) e o melhor da festa pode começar. Primeiramente, Shooter transformou o Magnum em um personagem de verdade e um protagonista da série a partir de então. Ao saber da volta de seu irmão, o vilão Ceifador (Eric Williams) invade a Mansão dos Vingadores e derrota a equipe para promover um julgamento na qual o Pantera Negra terá que decidir quem é o verdadeiro Simon Williams: Magnum ou o Visão, enquanto o falso deve ser morto.
A revista aproveita para recontar detalhadamente as origens de cada um deles, mas o Visão é categórico em afirmar que, apesar de ter sua mente construída a partir da de Magnum, é um indivíduo à parte. No fim, o Pantera Negra concorda e o Ceifador tenta matar o Visão, no que é impedido pelo irmão Magnum. Esta história, porém, faz o Magnum refletir sobre a possibilidade da morte e, a partir de então, desenvolve um tipo de fobia pela morte, o que o torna um tipo de herói “covarde“, algo que Shooter vai explorar bastante nas próximas edições.
A seguir, veio o arco A Noiva de Ultron, entre Avengers 161 e 163, começando em julho de 1977, na qual o robô assassino está de volta, domina a mente de seu “pai” Hank Pym, lançando-o contra os Vingadores na identidade de Homem-Formiga. Ao mesmo tempo, Ultron repete o processo que o criou e constrói uma companheira para si, outra robô com Inteligência artificial chamada de Jocasta em homenagem à personagem da mitologia grega que se apaixona pelo próprio filho, no Mito de Édipo. Mas no caso, Jocasta tem os padrões cerebrais de Janet Van Dyne, a Vespa, que é “mãe” de Ultron.
Contudo, repetindo a própria história do Visão, Jocasta termina se voltando contra Ultron e se alia aos Vingadores. Em breve, ela seria um membro temporário da equipe.

Sem deixar o leitor respirar, Shooter emenda a Trilogia Nefaria, na qual o velho vilão Conde Nefária – surgido em Avengers 13 e desde então mais útil a personagens como X-Men e Homem de Ferro – reúne uma nova encarnação da Legião Letal, com Poderoso, Tufão e Laser Vivo. O trio quase vence os Vingadores, mas na verdade, é enganado por Nefária, que descobre uma maneira de roubar os poderes deles e injetá-los em si. Assim, Nefária emerge como um ser de poder quase absoluto: superforte, rápido e capaz de voar. Alguém capaz de vencer Thor (que retorna à equipe para ajudá-los) e Magnum facilmente.
Novamente, Shooter explora a temática Vingadores versus Superman (como Englehart fizera com Hyperion), mas desta vez com um personagem 100% Marvel. A equipe só vence o oponente mediante um ataque bem articulado explorando as habilidades da equipe (ou do Visão, da Feiticeira Escarlate e Thor, mais precisamente). A Trilogia Nefária, além de um grande quebra-pau como só os Vingadores dos anos 1970 eram capazes de fazer, é belamente ilustrada por John Byrne, que já então emergia como um dos principais desenhistas da Marvel e que teria um bom futuro relacionado ao time.
Thanos e Adam Warlock
Enquanto saía este arco também chegou às bancas outra das mais famosas e melhores aventuras dos Vingadores: o arco A Morte de Adam Warlock, pelas habilidosas mãos do escritor e roteirista Jim Starlin, publicadas em Avengers Annual 07 e Marvel Two-in-One Annual 2, as duas em sequência, no verão de 1977 (esta última era uma revista na qual o Coisa do Quarteto Fantástico recebia convidados especiais). Tendo em vista o cancelamento da revista solo de Adam Warlock – super-herói cósmico de aventuras alucinantes que não caiu no gosto do público – a Marvel (consciente da qualidade do material) deu considerável espaço para Starlin encerrar a história do personagem.
E Starlin merecia. Na história, o supervilão Thanos armou-se de um verdadeiro exército para cumprir a mais sórdida das missões: matar o maior número de seres vivos possíveis para agradar sua amada, a entidade Morte em pessoa!
Para isso, Thanos comanda uma frota interestelar a bordo de uma nave gigantesca (o Santuário) e sai de sistema solar em sistema solar explodindo os sóis e destruindo os planetas à sua volta. No caminho, Thanos encurrala os aliados de Adam Warlock – então, seu maior oponente – e mata Gamora e Pip, o troll. Ciente das ameaças, o Capitão Marvel consegue convocar a ajuda dos Vingadores, trazendo consigo a vingadora Serpente da Lua, com todos somando os esforços para enfrentar Thanos e seus exército.
É uma grande batalha que se estende pelas duas revistas especiais e na qual o nível de ameaça é muito maior do que as histórias da época traziam. Starlin se mostra um escritor ágil e criativo e um desenhista habilidoso, capaz de mostrar grandes cenas de ação com vários personagens, dando grandiosidade à ferrenha luta dos “maiores heróis da Terra” contra uma frota estrelar no espaço (com Thor, Homem de Ferro e Capitão Marvel) e um exército alienígena dentro do Santuário. Sem falar no confronto físico com o próprio Thanos, que tem suficiente força para derrubar Thor e o Coisa com facilidade, em cenas que inspirariam o cinema quase 40 anos depois.

No ataque a Thanos, Warlock é morto pelo vilão e os Vingadores são capturados. A equipe vai precisar de uma forcinha cósmica que leva à ajuda do Homem-Aranha e do Coisa; e, com o reforço, conseguem finalmente deter Thanos, que é morto e transformado em pedra. Um clássico atemporal!

Starlin ainda brinca com questões morais, como o que fazer com os prisioneiros alienígenas e esta é uma grande história. As duas revistas terminam por encerrar a grande saga cósmica que o escritor criara naqueles maravilhosos anos 1970 e que teria apenas mais um epílogo alguns anos depois, com A Morte do Capitão Marvel.
Mas não era o fim ainda. Menos de 15 anos no futuro, Jim Starlin regressaria para criar um capítulo totalmente novo de sua saga cósmica com grandes implicações. Siga em frente e verá…
A Saga de Korvac
De volta à revista de linha dos Vingadores, Jim Shooter começa a desenvolver uma trama bastante detalhada naquele estilo consagrado por Roy Thomas e Steve Englehart em que pequenas ações vão se somando e se conectando para formar uma tessitura mais complexa à frente. Em Avengers 167, de janeiro de 1978, Shooter (e George Perez) dão início à Saga de Korvac, para muitos a melhor de todas as aventuras dos Vingadores!

Na trama, os Vingadores encontram os Guardiões da Galáxia, um grupo cósmico de heróis advindos do século 31 e que voltaram ao passado em busca do vilão Korvac, um humano que foi transformado em máquina pelos alienígenas Baldoon. O grupo de heróis cósmicos não era ainda a versão do time que todos hoje conhecem nos cinemas, mas uma formação prévia, com Starhawk, Charlie 27, Martinex, Vance Astro, Yondu e Nikki, e fora criada originalmente por Arnold Drake e Gene Colan em uma história secundária da Marvel, e sua batalha contra os Baldoon e Korvac já tinha ocupado alguns lugares de destaque, na revista Marvel Premiere e depois em histórias dos Defensores e do Thor (estas três nas mãos de Steve Gerber).
Mas Starlin aproveita o mote para desenvolver uma trama muito maior: o que os Guardiões da Galáxia e os Vingadores não sabem (e o texto entrega logo para o leitor) é que Korvac invadiu uma nave pertencente a Galactus (o poderosíssimo devorador de planetas) e ao se conectar nela terminou bombardeado de puro poder cósmico. Isso transformou Korvac em um ser tão poderoso quanto… Deus!
Os planos de Korvac, na verdade, nunca ficam inteiramente claros, (os Guardiões pensam que ele quer matar Vance Astro, que é uma criança em nossa linha temporal) mas ele vem à Terra e adota a identidade de alguém chamado Michael, passando a morar em uma bela mansão em Forrest Hills, subúrbio de Nova York, e até arranja uma esposa na figura da bela Carina, uma ex-modelo.
Enquanto isso, Ultron faz um breve retorno – em Avengers 171 – tentando reaver Jocasta, que andava com os Vingadores, mas desta vez, o robô é uma ameaça menor porque seu criador, o Jaqueta Amarela, encontrou uma maneira de deixar os Vingadores imunes à energia do vilão. Ainda assim, a equipe conta com o reforço da Miss Marvel, que passa a integrar a equipe informalmente.

Criada inicialmente apenas como Carol Danvers, uma coadjuvante das histórias do Capitão Marvel (por Roy Thomas e Gene Colan), a personagem (chefe de segurança de uma base militar de mísseis) até já tinha aparecido nas aventuras dos Vingadores com aquele herói, mas numa boa jogada editorial da Marvel, foi transformada em uma heroína de subtexto feminista naqueles tempos: a Miss Marvel (por Gerry Conway e John Romita) e que hoje todos conhecem como a Capitã Marvel (pois ela herdou – primeiro nos quadrinhos, depois nos cinemas) o título daquele outro herói, Mar-Vell. Ela virou a heroína em uma série de aventuras em sua própria revista a partir de 1977, mas quando as vendas não iam bem, a Marvel decidiu associá-la aos Vingadores.
A Miss Marvel foi colocada nos Vingadores como uma estratégia (bem ao estilo antigo de Stan Lee) para apresentá-la a um número maior de leitores, mas Carol Danvers tinha seus próprios méritos e iniciava aqui uma longeva e importante vinculação com o o time, que começa naquela edição 171.

É interessante como Jim Shooter encontrou uma forma de reunir a equipe mais numerosa de Vingadores em todos os tempos para atuar nessa saga, fazendo isso ser parte da trama. Percebendo que algo grandioso se aproxima, vários membros reservas vão surgindo e se agregando: o Pantera Negra retorna; Viúva Negra e Hércules haviam acabado de deixar os Campeões e retornam (ambos após muito tempo); o Gavião Arqueiro também retorna após um longo período.
Assim, a partir de Avengers 173, em 1978, os Vingadores contam o seguinte supertime: Homem de Ferro (ainda o líder), Capitão América, Thor, Hércules, Mercúrio, Jocasta, Visão, Feiticeira Escarlate, Miss Marvel, Serpente da Lua, Magnum, Vespa, Jaqueta Amarela, Pantera Negra e Gavião Arqueiro, contando ainda com a ajuda temporária de Two-Gun (aquele advindo do passado) e Capitão Marvel. Mais alguém?

Os Vingadores localizam e confrontam o Colecionador, o velho vilão da Marvel, surgido lá atrás em Avengers 28, e um alienígena parte dos Anciões do Universo, a raça mais antiga do cosmos. Ele estava capturando vários heróis para sua coleção de espécimes formidáveis no cosmos. Após uma batalha, a equipe termina descobrindo que o Colecionador estava, na verdade, tentando ajudar os Vingadores a combater uma ameaça que podia rasgar o próprio tecido do cosmos e destruir a realidade. Porém, Korvac descobre que Carina é na verdade a filha do Colecionador e destrói o vilão à distância apenas com um pensamento, antes que ele possa contar aos Vingadores quem é a ameaça.
Apesar de ver o pai morto pelo marido, Carina está apaixonada por Korvac e não consegue traí-lo, permanecendo ao seu lado.

Outro ponto interessante sobre Avengers 173 é que é a primeira edição na qual Jim Shooter também assina como Editor-Chefe da Marvel, ocupando o mais alto cargo da redação da editora. Sua gestão duraria quase 10 anos e seria marcada pela polêmica, mas ainda assim, corresponde a uma das melhores fases da Marvel em sua história. A editoria da revista dos Vingadores é assumida por Roger Stern (que mais tarde seria um importante escritor também) e Shooter passou a ter menos tempo para se dedicar aos roteiros, de modo que passa a assinar em colaboração com outros escribas, como Bill Mantlo e, principalmente, David Michelinie, o roteirista da revista solo do Homem de Ferro, que se torna o seu grande parceiro.
Ao mesmo tempo, o desenhista George Perez começa a se desligar dos Vingadores – ele estava de mudança para a DC Comics, onde desenharia a Liga da Justiça e os Novos Titãs – e os desenhos começam a intercalar outros artistas, como Sal Buscema e David Wenzel. Ainda assim, todas as capas da Saga de Korvac são de autoria de Perez.

Rastreando o traço de energia que matou o Colecionador, os Vingadores terminam encontrando a casa de Michael e Carina em Forrest Hills. Mas eles parecem um casal normal. Ainda assim, 16 vingadores se deslocam ao endereço ladeados pelos Guardiões da Galáxia, na climática Avengers 176, de outubro de 1978, por Shooter, Michelinie e Wenzel. Os heróis são quase enganados até o guardião Starhawk perceber que não enxerga o tal Michael – porque o havia encontrado antes e o vilão bloqueou sua mente de percebê-lo.

Tem início uma feroz batalha, mas Korvac é um deus e não pode ser detido. Todos os Guardiões da Galáxia são mortos, bem como alguns vingadores, como Mercúrio, Jaqueta Amarela, Capitão Marvel, Pantera Negra, Vespa, Jocasta, Capitão América e Magnum. Isso mesmo: todo mundo morre!
Em meio a um ataque (poderoso e desesperado) de Serpente da Lua, Starhawk, Homem de Ferro e Thor, Korvac simplesmente desiste de lutar – ao perceber o mal que estava fazendo – e se deixa matar. Carina fica enlouquecida e ainda mata Starhawk, Visão e o Homem de Ferro, antes de ser detida por Thor e Serpente da Lua, os dois únicos a ficarem de pé.
No fim, tudo acaba muito abruptamente e fica implícito de que, ao morrerem, Korvac e Carina devolveram a vida aos heróis mortos – todos voltam – mas A Saga de Korvac termina com Thor voltando à identidade do médico Donald Blake para salvar os companheiros que jazem no chão. Parece suspense, mas a trama simplesmente não é mais retomada.
Ao longo da Saga de Korvac, o texto de Shooter deixava claro alguns elementos messiânicos, e o final reforça isso, quando a Serpente da Lua percebe que Korvac poderia ter “salvo o universo”, o que faz Thor se questionar que Korvac era o mocinho e os Vingadores eram os vilões! Uma profunda questão moral.
Infelizmente, esse é o maior defeito da Saga de Korvac: a história acaba “de uma vez”, abruptamente, sem desenvolver bem suas consequências e implicações. Uma pena!
Em Avengers 178 estão todos recuperados e bem; e se inicia um pequeno ciclo no qual vários escritores e desenhistas (Steve Gerber e Carmine Infantino, entre eles) desenham histórias “tapa-buracos” com os Vingadores antes da revista voltar de verdade. O que aconteceu, fica parecendo algum tipo de decisão editorial de bastidores: provavelmente, na pressa de Shooter assumir seu novo cargo, não encontrou um escritor disponível para tocar adiante as histórias do grupo de maior sucesso da casa.
Noites de Wundagore
Após Jim Shooter deixar a revista para ser o Editor-Chefe da Marvel, os Vingadores perdem um pouco o pique frenético que trouxeram nos últimos anos. Embora possa ser tomada como um tipo de fase de transição, ainda assim, a temporada de David Michelinie como escritor da equipe tem momentos muito bons.
Aparentemente escrevendo sob a supervisão atenta de Shooter, Michelinie inicia com uma “limpeza” da equipe. Afinal, para deter Korvac, os Vingadores reuniram um time de 16 membros! Henry Peter Gyrich – o contato dos Vingadores com o Governo dos EUA – entra em cena e diz que, para os Vingadores retomarem suas credenciais especiais do Governo dos EUA, precisam se submeter a algumas regras: mais segurança na Mansão dos Vingadores e um time mais enxuto de heróis, com sete membros fixos, podendo-se recorrer a extras caso alguma missão exija.
Assim, Avengers 181, de março de 1978, novamente com desenhos do mestre John Byrne, Gyrich impõe até os nomes para a nova equipe oficial: Homem de Ferro (continuando como líder), Visão, Capitão América, Feiticeira Escarlate, Fera, Vespa e o Falcão. Este último era a grande novidade: Gyrich o colocava na equipe explicitamente como “cota étnica“, pois o Pantera Negra não estava disponível.
Apesar de o Homem de Ferro e o Capitão América questionarem a decisão – argumentando que os Vingadores já estavam cheios de minorias: mutantes, androides e superhumanos – terminam cedendo para manter boas relaçoes com o governo e não serem considerados foras da lei. Quem não aceita de jeito nenhum é o Gavião Arqueiro, que queria estar na equipe de qualquer jeito e arruma alguma confusão.
Ainda assim, vai demorar algum tempo para o Falcão chegar ao grupo, de modo que o Gavião Arqueiro e Mercúrio se envolvem na aventura seguinte, que traz o feiticeiro Django Maximoff sequestrando a alma de Mercúrio e de sua irmã Feiticeira Escarlate. É o início do arco Noites de Wundagore, que vai explorar as origens da dupla de heróis.
Na trama, Django Maximoff ataca a equipe, mas não se mostra maligno, apenas alguém desesperado para retomar o contato com os filhos. Mas Wanda e Pietro até então pensavam que Django lhes era apenas o pai adotivo (que lhes criaram em sua comunidade cigana intinerante) e que eram, na verdade, filhos dos heróis da II Guerra Mundial Ciclone (Whizzer) e Miss America (já falecida), como revelado lá na história de Giant-Size Avengers 01. Intrigados com a “revelação”, os dois irmãos decidem ir à Europa Oriental, para a Transia (país fictício), onde fica a lendária montanha de Wundagore, junto com Django para averiguar sua história.
Há uma pequena pausa em Avengers 183 e 184, na qual os Vingadores confrontam o Homem-Absorvente (um tradicional vilão de Thor, capaz de absorver as propriedades dos materiais que toca), contando com a ajuda de Miss Marvel e do Gavião Arqueiro, juntamente com a entrada oficial do Falcão.
A saga Noites de Wundagore prossegue em Avengers 185, quando vemos Feiticeira Escarlate e Mercúrio chegando à Trânsia e indo em direção à Wundagore, onde fica a base do vilão Alto Evolucionário, velho personagem opositor ao Thor, um cientista que faz experimentos com a evolução humana. Mas a dupla é atacada pelo mago Mordred e pela entidade Chton, que se apossa da Feiticeira Escarlate, obrigando Mercúrio a chamar os Vingadores para ajudá-los.
Enquanto isso, Bova – uma vaca com inteligência, evoluída pelo Alto Evolucionário – conta a Pietro sua história: anos antes, uma mulher chamada Magda chegou à montanha, grávida de dois filhos gêmeos. Ela estava aterrorizada porque seu marido ganhara grandes poderes e assumira uma postura de dominação global. Após o parto, a mulher foge e vai embora.
Coincidentemente, pouco tempo depois, Robert e Madeline Frank, os heróis Ciclone e Miss Marvel, chegaram a Wundagore, com ela grávida, mas o bebê nasceu morto e Miss America morreu no parto, tal qual a história que Wanda escutou em Giant-Size Avengers 01. Então, Bova apresentou os filhos de Magda para Robert Frank, mas ao saber da morte da esposa, Ciclone não suportou a notícia e fugiu (para sempre pensando que os gêmeos eram deles). Bova, então, entregou as crianças a Django e Maria Maximoff, que viviam em um acampamento nômade de ciganos ali perto.
Não é revelado explicitamente quem é Magda e, muito menos, que Feiticeira Escarlate e Mercúrio são filhos do vilão Magneto, dos X-Men, mas os conhecedores do Universo Marvel puderam ligar os pontos, pois a origem do vilão já havia sido revelada em histórias recentes, em particular Uncanny X-Men 150. A revelação oficial se daria mais tarde.

Os Vingadores vão até Wundagore resgatar os irmãos Maximoff, e engajam uma grande batalha contra a Feiticeira Escarlate, mentalmente dominada pelo demônio Chton (entidade baseada no trabalho literário de H.P. Lovecraft), o Lorde maior da Magia do Caos, articulado pelo mago Mordred, encerrando este bom arco em Avengers 189, de novembro de 1979.

O fim dessa saga é traumático para Pietro e Wanda Maximoff: tanto pelo aspecto da paternidade (que migra de Ciclone e Miss América para Django Maximoff e de novo para a misteriosa Magda, que os heróis ainda não sabem ser a ex-esposa de Magneto), e ficam de novo às escuras sobre de onde vêm; tanto quanto pelos eventos relacionados à possessão. Em consequência os irmãos Maximoff ficariam afastados do time por um tempo significativo.
Tendo sido coadjuvante das aventuras do Quarteto Fantástico e dos Inumanos no passado recente, Mercúrio ficaria um bom tempo por fora das histórias dos Vingadores; enquanto a Feiticeira Escarlate decide deixar o time para viver uma vida mais comum no interior do estado de Nova York.
O Visão permanece no time que se estrutura com uma formação que inclui também Capitão América, Vespa, Falcão, Homem de Ferro, Fera e a Miss Marvel, com uma pequena mudança logo em seguida, com o Falcão sendo substituído por Magnum.
Outra Fase de Transição
Noites de Wundagore encerrou toda uma fase na carreira dos Vingadores, terminando o principal ciclo clássico iniciado com Thomas e prosseguindo com Englehart e Shooter-Michelinie. A partir de Avengers 190, de dezembro de 1979, tem-se início uma longa fase de transição da equipe: por praticamente dois anos, os Vingadores não tiveram um time criativo verdadeiramente fixo, o que impactou severamente na qualidade das histórias.

Não é sabido exatamente por quê Shooter, tornando-se editor-chefe da Marvel no momento em que escrevia a revista, não conseguiu um nome para assumir o time. Talvez, Avengers fosse um título muito difícil de produzir, em vista da necessidade de articular as carreiras individuais dos membros com as tramas da equipe. Ou então, fosse um experimento de Shooter de manter um título sem equipe criativa fixa. Não sabemos. Assim, depois de dois anos de aventuras excepcionais ininterruptas por Jim Shooter e David Michelinie, a bola caiu por outros dois anos, mesmo que ambos ainda estivessem envolvidos.
Vários roteiristas passaram pela revista, como Steve Grant, Bill Mantlo, J.M. DeMatteis e Bob Layton, e até o desenhista George Perez contribuiu com textos. Entre os desenhistas, também um batalhão de nomes passou pela revista nos próximos meses, como John Byrne, Arwell Jones, Carmine Infantino, Sal Buscema, Bob Hall, o próprio George Perez, embora tenha sido o talentosíssimo Gene Colan quem fez uma passagem mais duradoura.

Uma adesão relativamente importante nesse período de inconstância foi a do vilão Treinador (Taskmaster) criado por David Michelinie e George Perez, um mutante que tem a habilidade de copiar e aprender as habilidades físicas de qualquer pessoa que ele observe, que estreia em Avengers 196.
Polêmicas e Desgastes
A falta de comando da revista Avengers não gerou nenhum efeito positivo: a revista desidratou e perdeu importância e a equipe dos quadrinhos ficou sem rumo. O único evento que gerou atenção, no fim das contas, foi uma enorme polêmica que manchou a reputação da revista e da Marvel e ainda gerou homéricas brigas entre criadores de quadrinhos.

O feito começou em Avengers 197, de julho de 1980, na qual David Michelinie e Carmine Infantino mostram “um dia de folga” dos Vingadores. Enquanto Fera e Magnum vão tentar namorar em um “encontro às cegas”, Miss Marvel/ Carol Danvers – mais uma vez mostrada como um forte elemento humano na equipe – faz uma visita de cortesia a Wanda Maximoff, no interior de Nova York. As duas caminhando no bosque até aparecem na capa da revista, feita por George Perez.

Mas durante o passeio, Carol passa mal e é levada ao hospital por Wanda, e lá as duas descobrem que Carol está grávida de três meses! O problema é que não houve um pai (e há de lembrar que abordar relações sexuais de maneira direta nas HQs daquele tempo ainda era um tabu muito forte). Na edição 198, ela não aparece, enquanto os Vingadores combatem o Ronin Vermelho, um robô gigante provavelmente criado para afanar os fãs de seriados japoneses. Então, em Avengers 199, após a equipe derrotar o gigante, chegam à Mansão dos Vingadores e encontram Carol Danvers com uma gravidez completa, sendo atendida pelo Dr. Donald Blake – a identidade secreta de Thor – e está prestes a dar à luz! Ela teve uma gravidez completa em apenas dois dias!

Vem a nefasta Avengers 200, de outubro de 1980, que tem uma capa comemorativa da numeração alta. Como se ninguém quisesse levar a culpa, o roteiro da edição é creditado a Jim Shooter, George Perez, Bob Layton (arte-finalista que também escrevia e fora parceiro de Michelinie em uma famosa passagem pelo Homem de Ferro) e David Michelinie, que era o escritor mais corrente do time naquela época. A arte é de Perez.

O Título ”O Filho que Pai Era…” já dá maus indícios: na trama, Carol Danvers dá à luz a um bebê, um menino. Naquela época, os Vingadores ainda mantinham as identidades secretas um para os outros, e é só nessa ocasião em que a equipe descobre que a Miss Marvel é Carol Danvers. Como esperado, a heroína rejeita o filho, porque ele não foi gerado – no sentido de que não houve um pai e ela não sabe a origem daquela rápida e fantasmagórica gestação! Há, inclusive, uma cena terrível em que o Magnum dá um fora horrível, dando-lhe os parabéns pelo bebê e convidando-a a conhecer a criança.
E tudo piora: a criança cresce e vira um adulto em apenas algumas horas, começando a construir uma enorme máquina no subsolo da Mansão dos Vingadores. Temendo ser uma ameaça, o time destrói a máquina e, então, o misterioso “filho” revela sua história: ele é Marcus, filho de Immortus. Ele diz que, como o Limbo é um lugar onde não há tempo, precisava fugir e vir à Terra, por isso, usou o corpo da Miss Marvel para “nascer”. Mas com a máquina destruída, ele será automaticamente tragado de volta ao Limbo.
E tudo piora duplamente: Carol revela ter sentimentos fortes por Marcus – e eles não parecem de maternidade – então, decide acompanhar o jovem em sua viagem ao Limbo e simplesmente vai embora.
A publicação de Avengers 200 causou uma imediata grande comoção no mercado dos quadrinhos e chegou até à mídia, com muita gente incomodada com as questões que a revista levantava: uma mulher é estuprada e depois se enamora do próprio filho. Haja Mitologia Grega! E o pior, os Vingadores não fizeram nada: quando soube que estava grávida – sem ter se deitado com um “pai” – ouve “parabéns!” dos colegas!
Estupro e incesto não são coisas que edificam a carreira de uma super-heroína.
Muitas artistas da Marvel se ergueram contra isso, colocando uma questão delicada no colo de Jim Shooter, o editor-chefe, afinal, ele era um dos autores creditados. A culpa no fim das contas caiu sobre George Perez – e não sabemos se justa ou não – e o desenhista terminou se desligando definitivamente da Marvel e indo para a DC Comics, fazer a Liga da Justiça e, depois, os Novos Titãs, Crise nas Infinitas Terras e Mulher-Maravilha, onde teria uma longeva e aclamada carreira, demorando uma década para regressar à Casa das Ideias.
Uma das vozes mais ativas na crítica ferrenha a tudo isso foi Chris Claremont, que havia sido o principal escritor da revista Ms. Marvel, mas então, não era mais um escritor secundário, mas um dos mais destacados artistas da Marvel, tendo tornado os X-Men um fenômeno de vendas de igual para com o Homem-Aranha.
Por isso, foi dada Claremont a chance de reverter a polêmica história: Avengers Annual 10, que seria publicada mais tarde no verão de 1982 (ou seja, dois anos depois), com textos dele e desenhos de Michael Golden, que iria esclarecer que Miss Marvel foi hipnotizada por Marcus e que não queria ir para o Limbo, ficando ainda bastante chateada porque os Vingadores simplesmente a deixaram ir e não lhe deram suficiente amparo após ficar grávida e dar a luz em poucos dias! Esta mesma aventura também introduziu a vilã Vampira (Rogue), que rouba os poderes da Miss Marvel. Como resultado, Danvers se transformaria em uma personagem coadjuvante da revista dos X-Men, que Claremont escrevia há época, e ganharia novos poderes cósmicos, passando a se chamar Binária. Anos depois, Vampira mudaria de lado e viraria uma das mais famosas membros dos X-Men.
Mas antes daquela “retratação” ser publicada, a saga continuava: Avengers 201 e 202, de novembro e dezembro de 1980, trazem Jim Shooter e George Perez brevemente de volta à revista com mais uma batalha contra Ultron, mas sem o brilho das anteriores. Mas este arco encerra a longa colaboração de Perez com os Vingadores até a década seguinte. A trama também amarra as pontas soltas advindas de A Noiva de Ultron, servindo como um tipo de epílogo, inclusive para a participação de Jocasta. Este seria também o último dos confrontos “clássicos” com o robô e demoraria muito tempo (uns 15 anos) até que o vilão voltasse a ter real relevância.
A Queda de Hank Pym
Shooter retornaria de novo, agora com desenhos de Gene Colan, para um pequeno arco que se inicia em Avengers 211, de setembro de 1981, e traz a queda de Hank Pym/ Jaqueta Amarela. Membro fundador dos Vingadores (como Homem-Formiga), Pym vinha continuamente participando das aventuras, embora sem grande destaque desde meados dos anos 1970.
Naquela primeira edição, temos uma reformulação da equipe. Decidido a reformar o time, o Capitão América convoca novos integrantes, mas a Serpente da Lua resolve dominar a mente de vários heróis e colocá-los uns contra os outros na Mansão dos Vingadores, para “ajudar” na escolha. Essa ação abala a confiança nela. De qualquer modo, Cristal, Hércules, Viúva Negra, Cavaleiro da Lua, Tigresa (Greer Nelson, que fora a heroína The Cat e agora tinha uma aparência realmente felina) e o ex-X-Men (e ex-Campeões) Anjo se apresentam. Já Magnum, Fera, Visão, Feiticeira Escarlate e Jocasta decidem se afastar, encerrando temporariamente seus vínculos com a equipe depois de muitos anos.
No caso específico de Visão e Feiticeira Escarlate, o casal vai definitivamente viver no interior do Estado de Nova York, afastados da vida heroica por um tempo. No fim das contas, a (não tão) nova equipe emerge com Capitão América, Thor, Homem de Ferro, Vespa, Jaqueta Amarela e Tigresa.
Em Avengers 212, por Shooter e o desenhista Bob Hall, a equipe enfrenta a Elfqueen, uma feiticeira. No meio da batalha, o Capitão América percebe que ela não é uma vilã, apenas está mal orientada, e consegue acalmá-la. Contudo, o Jaqueta Amarela, aparentemente sem motivos, ataca a feiticeira e a batalha recomeça. Com tudo resolvido, depois, a edição seguinte traz os Vingadores realizando uma Corte-Marcial para julgar o comportamento de Hank Pym.

O herói se descontrola e ataca a equipe, sendo expulso. Nas edições seguintes, vemos o Jaqueta Amarela construindo um novo robô para atacar os Vingadores, de modo que só ele pudesse derrotá-lo e ganhar a simpatia da equipe. Vespa se nega a fazer parte disso e é agredida pelo marido. Com isso, o casamento dos dois chega ao fim!

Em Avengers 217, de março de 1982, o Jaqueta Amarela termina se aliando ao seu velho vilão, o Cabeça de Ovo (Egghead) e ataca novamente a equipe, terminando com Hank Pym preso por roubo! Para superar os acontecimentos, a Vespa se propõe como a nova líder da equipe e é aceita.
Na edição 221, de julho de 1982, o grupo sofre outra renovação com a saída de vários membros e uma nova formação com Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Vespa, Gavião Arqueiro e Mulher-Hulk. Um curiosidade é que vários outros personagens da Marvel são convidados na história, mas negam, como o Homem-Aranha e a mutante Cristal.
A Mulher-Hulk era uma personagem relativamente nova: fora criada por Stan Lee e John Buscema, que produziram a revista The Savage She-Hulk 01, de novembro de 1979. A personagem fora criada apenas por medo que a emissora de TV CBS criasse uma versão feminina do Hulk, que então tinha uma série de TV de sucesso, tal qual a emissora fizera ao criar A Mulher-Biônica como spin-off de O Homem de Seis Milhões de Dólares. A partir da edição 02, a Mulher-Hulk passou a ser produzida por David Anthony Craft e Mike Vosburg, mas na verdade, sua revista nunca emplacou, sendo cancelada no número 25, em 1982. Ela apareceu em várias revistas da Marvel, como do Homem-Aranha, antes de ser admitida nos Vingadores.

Continuavam a ter várias participações especiais na revista, é claro, e por exemplo, o Homem-Formiga Scott Lang participa da edição 223 num movimento que ficaria bastante famoso para a posteridade: com o Gavião Arqueiro disparando uma flecha com o diminuto herói na ponta.
Algumas edições à frente, o Cavaleiro Negro reforça o time por um tempinho. As tramas, continuam a explorar a queda de Hank Pym, numa trama muito interessante que explora as constantes mudanças de nome e uniforme de Hank Pym (Homem-Formiga, Gigante, Golias, Jaqueta Amarela). Fica evidente o problema de identidade de Pym, que se revela esquizofrênico.
Ao mesmo tempo, a Marvel publicava a minissérie The Vision & The Scarlet Witch, em quatro capítulos escritos por Bill Mantlo e desenhados por Rick Leonardi, entre o fim de 1982 e o início de 1983. É no último capítulo desta história que finalmente Wanda e seu irmão Pietro descobrem que o vilão Magneto é seu verdadeiro pai. Magneto aparece para os filhos (por causa do nascimento de Luna, a filha de Mercúrio com a inumana Crystalis) e revela a verdade, citando o mistério acerca de Magda, a mãe deles conforme descobriram algum tempo antes, que era a primeira esposa do vilão.
Aos leitores já haviam sido dadas suficientes pistas para que presumissem tal paternidade, mas é esta história que oficializa a ligação e faz os personagens conhecerem suas origens, ainda que criando uma relação bem tensa, pois Magneto ainda era um dos maiores vilões da Marvel.
A Morte do Capitão Marvel
Vale aqui uma rápida nota sobre a morte do Capitão Marvel (Mar-Vell), um personagem coadjuvante importante e membro reserva dos Vingadores desde o fim da década de 1960. Com a saída do escritor-desenhista Jim Starlin de sua revista própria e o fim da saga de Thanos (como já vimos), Mar-Vell não conseguiu mais se firmar no Universo Marvel e sua revista terminou cancelada por baixas vendas em 1979. Dali em diante, o herói fez apenas algumas aparições esporádicas em outros títulos.
Então, no verão de 1982, a Marvel decidiu dar início a uma nova empreitada editorial com o lançamento de uma série de graphic novels, ou seja, revistas em quadrinhos com o tamanho maior (formato magazine) e mais páginas, quase sempre com roteiros e artes diferenciadas, mirando a melhor qualidade, como uma maneira de espelhar os belos álbuns europeus de quadrinhos que se tornavam populares na mesma época.

O título inaugural do projeto foi justamente A Morte do Capitão Marvel, onde é dada a oportunidade para Jim Starlin fechar a história do personagem. A trama é incrivelmente mundana: Mar-Vell descobre que contraiu câncer ao ser exposto a um gás radioativo em uma de suas aventuras pretéritas e que seus braceletes quânticos impediam a doença de avançar, mas também, não possibilitavam o tratamento. Quando ele para de usar os braceletes, sua saúde se deteriora a um nível irremediável e o alienígena Kree que jurou defender a Terra morre em um hospital como um homem comum, cercado pelos heróis que lhe fizeram amizade, como Coisa, Homem-Aranha e, claro, os Vingadores.
O legado de Mar-Vel, contudo, seria muito duradouro na Marvel, como veremos a seguir.
A Fase de Roger Stern
Em 1982, a revista passou ao comando de Roger Stern, que produziu uma longa (e memorável) passagem pela equipe, a mais importante daquela década. Coube a ele renovar e trazer de volta o brilho que a equipe perdera nos últimos anos. E fez isso de maneira espetacular. O único “senão” do início de sua temporada é o fato de trabalhar com o desenhista Al Migron, que tinha uma arte generalizada e sem graça.

Nascido em Noblesville, em Indiana, em 1950 (tinha, portanto, 32 anos), Roger Stern começou a carreira na comunidade do fandom como muitos dos artistas da Era de Bronze, e ganhou alguma notoriedade no mercado de fanzines antes de migrar para a grande indústria dos quadrinhos na Marvel, onde iniciou a trabalhar na segunda metade da década de 1970 na parte editorial. Ele ocupou o cargo de editor assistente em várias revistas, como a própria Avengers, além de The Incredible Hulk e X-Men, antes de se firmar como um escritor de sucesso na revista do Hulk, a partir de 1977.
Dali, ele produziu uma lendária passagem por Captain America, em 1980, ao lado do desenhista John Byrne, e passou a escrever a revista secundária do Homem-Aranha (Peter Parker: The Spectacular Spider-Man), onde em determinado momento, fez tanto sucesso que seu trabalho começou a ser mais apreciado do que o da revista principal (Amazing Spider-Man). Como resultado, Stern migrou para Amazing em 1982 e produziu uma das melhores e mais clássicas sequências de histórias do aracnídeo. Foi nesse ótimo momento que aportou nos “maiores heróis da Terra”.

Em primeiro lugar, o escritor criou uma trama para redimir um pouco Hank Pym, que enfrenta seu julgamento, entre Avengers 228 e 230, começando em fevereiro de 1982, mas termina salvando toda a equipe de um ataque de um de seus velhos vilões Egghead (Cabeça de Ovo, no Brasil), que reúne uma nova versão dos Mestres do Terror, com Rocha Lunar, Homem-Radioativo, Tubarão Tigre e Besouro. Pym se redime, se livra da prisão, mas não é mais aceito entre seus pares, e portanto, desiste da carreira heroica e deixa a identidade de Jaqueta Amarela para trás – ele passaria mais de uma década sem usar um uniforme, ainda que permanecesse gravitando na revista da equipe.
Stern também aproveitou o momento para incluir uma nova membra: a Capitã Marvel, Monica Rambeau, uma afrodescendente capaz de se transformar em luz e manipular luz, disparando rajadas energéticas. A personagem havia sido criada por ele mesmo pouco tempo antes numa aventura do Homem-Aranha, em Amazing Spider-Man Annual 16, no verão de 1982, com arte de John Romita Jr. Na trama, ela é uma guarda costeira de Nova Orleans, que termina bombardeada por uma máquina de energia extradimensional em uma de suas missões. Batizada de Capitã Marvel pela imprensa, ela adota o nome e com a ajuda do Homem-Aranha e do Homem de Ferro, aprende a controlar os seus poderes e o ferroso a leva até os Vingadores.

Monica é aceita como membra em treinamento em Avengers 227 (logo a primeira edição de Stern no título) e fica sob a supervisão do Capitão América e da Vespa até ser efetivada como membra regular na edição 231. Ela seria uma importante integrante dos Vingadores pelo restante da década de 1980 e, em termos editoriais, era uma maneira de manter o copyright sobre o nome Captain Marvel, já que Mar-Vell havia morrido naquela história de 1980. Com isso, ela se tornaria a primeira a herdar o codinome do original, algo que vários outros personagens fariam depois.

Um outro membro viria logo em seguida: Starfox, o meio irmão de Thanos, que ingressa no time na edição 232, e que tinha o poder de afetar os sentimentos das pessoas, além de voar e ser superforte. Chamado Eros, ele estreara em The Invencible Iron-Man 55, de 1973, criado pelo desenhista e escritor Jim Starlin, sendo parte do elenco coadjuvante de sua saga contra o Titã louco, abrigado especialmente na revista Captain Marvel, entre os números 27 e 61, sendo parte, por exemplo da grande batalha contra Thanos ao lado dos Vingadores em Avengers 125. Após a morte de Mar-Vell, Eros ficou um tempo vagando pelo espaço até vir à Terra em Avengers 230 e decidir ingressar no time na edição 232.
Como a Capitã Marvel números antes, Eros foi aceito pela Vespa como um membro em treinamento e ganhou o codinome de Starfox.
As edições seguintes trazem o Visão e a Feiticeira Escarlate de volta à equipe, mas o sintozóide fica “em coma” após o ataque do Aniquilador na edição 234, e só sua esposa permanece ativa. Inclusive, toda a biografia de Wanda Maximoff é contada à Capitã Marvel na edição 234, incluindo a revelação de que ela e seu irmão, Mercúrio, são filhos de Magneto, que era a maneira de trazer tais informações à revista corrente da equipe após a publicação da minissérie, pouco tempo antes.
A semente para o primeiro grande arco de Roger Stern se inicia em Avengers 238, com Vision Unlimited, na qual o sintozoide sai parcialmente de seu coma, quando Starfox usa o supercomputador ISAAC (uma inteligência artificial que ajudava a governar Titã) para recuperar a mente do herói, enquanto ainda se trabalha no restauro de seu corpo. O Visão passa a se projetar como um holograma, fazendo jus ao significado de seu nome (uma visagem). Contudo, o processo resulta num tipo de fusão da mente do Visão com ISAAC, o que terá sérias consequências em breve.
Este também é o momento em que o Gavião Arqueiro apresenta à equipe sua noiva, Harpia (uma ex-agente da SHIELD), que havia estrelado com ele a minissérie Hawkeye, algum tempo antes. Imediatamente, Harpia passa a agir ao lado do grupo, embora não como uma membro regular.
O Alcoolismo de Tony Stark
Neste ponto, o Homem de Ferro regressa ao time, mas o que os Vingadores não sabem é que, por baixo da armadura, está o ex-tenente coronel James Rhodes. Na verdade, naquele ponto das histórias, o grupo de heróis ainda não conhecia a identidade secreta do vingador dourado e não sabia que ele era Tony Stark, mas tampouco sabia que ele tinha sido substituído.

O fato é que desde o arco O Demônio na Garrafa, (publicada na revista The Invencible Iron-Man 120 a 128) de 1979, os escritores David Michelinie e Bob Layton e o desenhista John Romita Jr. trabalhavam as consequências do fato de Stark ser um alcóolatra. No primeiro ciclo de histórias, heroicamente, Stark percebe sua situação e consegue se controlar; mas na medida que os anos 1980 avançavam, Michelinie e outros escritores, como Dennis O’Neil, começaram a colocar uma situação de vida tão sórdida para Stark que ele sucumbe miseravelmente ao vício e tem sua vida destruída, perdendo inclusive sua fortuna e ficando na sarjeta.

Esse corajoso arco de histórias, escrito por Dennis O’Neil e desenhado por Luke McDonnell, mostra Rhodes assumindo a armadura e a identidade do Homem de Ferro em Invencible Iron-Man 169, de abril de 1983, enquanto Stark vai viver seu inferno particular e precisará de algum tempo para recuperar seu controle e sua vida. Rhodes seria o Homem de Ferro por um tempo considerável até Stark retornar à armadura em Invencible Iron-Man 200, por O’Neil e Mark D. Bright, de novembro de 1985.
O alcoolismo de Stark não foi abordado dentro da revista Avengers de modo apropriado, apenas em seu título solo, mas as consequências apareceriam, inclusive, com Stark só voltando a ser um membro regular da equipe principal na década seguinte!
Guerras Secretas
Em Avengers 242, de abril de 1984, o Visão sai totalmente do coma e volta a andar e a equipe estranha seu comportamento agressivo e autoritário, mas é neste ponto em que os Vingadores vão investigar uma grande fonte de energia que apareceu no Central Park e terminam desaparecendo.
É o gancho para Guerras Secretas, a maxissérie em 12 capítulos escrita por Jim Shooter (ainda o editor-chefe da Marvel) e desenhada por Mike Zeck, publicada entre 1984 e 1985, na qual os principais heróis e vilões do Universo Marvel são levados para outro planeta para lutarem uns contra os outros. A série já estava sendo publicada na época e apenas o seu fim foi sincronizado com as revistas de linha. A história em si não teve impacto imediato para os Vingadores e sim para outros: o Homem-Aranha adotou o uniforme negro e o Coisa deixou o Quarteto Fantástico, por exemplo. A série também introduziu o vilão Beyonder, um ser cósmico de poder incomensurável que estava por trás de tudo.
Em certo sentido, era uma releitura de Korvac (embora ainda mais sem limites) e também de outra história que Shooter já havia publicado dois anos antes, The Contest of the Champions. A grande narrativa das Guerras Secretas – a bem dizer – era uma mera desculpa para quebra-paus homéricos entre heróis e vilões da Marvel e seu maior propósito, na verdade, era a venda de uma série de bonecos (action figures, em português) produzidos pela Mattel, como parte do acordo de licenciamento entre ambas empresas.
Ainda assim, na trama, podemos ver algumas coisas interessantes, como os Vingadores agindo ao lado do Hulk no momento em que Bruce Banner tinha o controle mental do corpo do monstro (a partir de suas histórias solo por Bill Mantlo e Sal Buscema) e James Rhodes como o Homem de Ferro, além de interagirem com membros do Quarteto Fantástico e X-Men e o Homem-Aranha.

Na trama geral, Beyonder divide os personagens entre heróis e vilões (nomes como Doutor Destino, Homem-Absorvente, a Gangue da Demolição e outros) e os colocam em guerra uns contra os outros, ao mesmo tempo em que o planeta em que estão, chamado de Mundo Bélico, é ameaçado de ser devorado por Galactus, o que leva ao ardiloso Doutor Destino conseguir roubar os poderes do Beyonder e tentar manipular os heróis, antes de finalmente ser derrotado e o Beyonder mandar todos de volta para casa.
Apesar das 12 edições de Guerras Secretas, os eventos da saga se passam apenas no intervalo entre duas edições de Avengers (os números 241 e 242), que mostram que o time principal (Capitão América, Vespa, Thor, Homem de Ferro, Gavião Arqueiro e Capitã Marvel) é sequestrado para participarem da trama, deixando os Vingadores apenas com Visão, Feiticeira Escarlate e Starfox.
Os Vingadores ausentes já retornam em Avengers 243, de maio de 1984, mas surpreendentemente, a Vespa acata a autoproclamação do Visão como líder da equipe e lhe transmite oficialmente o cargo. (O motivo é que ela havia sido morta em Guerras Secretas e estava relutante de sua carreira de heroína).
As edições 242 e 243 também mostram que o Visão (incrementado pela tecnologia de ISAAC) se torna capaz se conectar com todos os computadores da Terra (um grande feito, pois não existia internet naqueles tempos). Tal ação causaria mal-estar do Governo dos EUA e teria sérias implicações futuras. A Mulher-Hulk deixa a equipe para substituir o Coisa no Quarteto Fantástico; enquanto o Visão sugere a criação de uma nova equipe de Vingadores, baseada na Costa Oeste, para combater a ameaça alienígena de Dire Wraiths (traduzidos no Brasil como Espectros).
Nascem assim os Vingadores da Costa Oeste (The West Coast Avengers), que em seguida estrearão em uma minissérie em quatro edições, publicada a partir de setembro de 1984, com textos de Roger Stern e desenhos de Bob Hall. O grupo é formado por Gavião Arqueiro (como líder), sua esposa Harpia, Tigresa, Magnum e o Homem de Ferro/James Rhodes.

A minissérie mostrava Gavião Arqueiro e Harpia se mudando para a Califórnia e se instalando em uma mansão de Tony Stark no topo de uma falésia, adaptada agora como um novo QG dos Vingadores. Em seguida, se abrigam os demais membros e o time enfrenta o Graviton, um vilão menor da Marvel. West Coast Avengers 01 a 04 aparentemente, não teve boas vendas, pois o grupo ficou meio num limbo depois disso.
Ao mesmo tempo, Avengers 246 a 248 mostra uma aventura dos Vingadores ao lado dos Eternos, grupo de seres superpoderosos criados por Jack Kirby nos anos 1970 e, desde então, meio esquecidos dentro do Universo Marvel. A feiticeira Sersi é o destaque da aventura, criando aqui um grande laço com a equipe, o que teria implicações futuras. Essa aventura também coloca o semideus Hércules retornando à equipe, para uma estadia mais longa, após breves passagens nos anos 1960 e 1970.

Em seguida, a celebrativa Avengers 250, de dezembro de 1984, traz o primeiro encontro entre a equipe principal e os Vingadores da Costa Oeste, contra o vilão Maelstrom, numa grande aventura com o dobro de páginas do normal, ainda nas mãos de Stern e Migrom.
A semente plantada lá atrás em Avengers 238 se desenvolve entre Avengers 251 e 254, o Arco Absolute Vision, por Roger Stern e tendo a estreia de Bob Hall como desenhista da revista, que mostra o Visão articulando com ISAAC para tomar o controle de todos os computadores da Terra e construir um paraíso como fora Titã no passado (antes de Thanos). Para tanto, ele envia os Vingadores para uma missão em busca de uma das velhas naves de Thanos (o Santuário), enquanto avança seu plano.
O estopim para sua ação é quando sua casa no interior do estado de Nova York é incendiada por causa de odiadores dos mutantes, a raça de sua esposa Wanda. Contudo, Dane Whittman, o Cavaleiro Negro, chega à Mansão dos Vingadores e descobre os planos do sintozoide, avisando seus colegas, que invadem a base e derrotam o seu líder. O Visão remove a anomalia que causou seus distúrbios (a influência de ISAAC), mas ciente da gravidade de suas ações decide sair da equipe, ao passo que sua esposa o acompanha na edição seguinte.
John Buscema de Volta
Avengers 255, de maio de 1985, dá início à longa temporada em que Roger Stern é acompanhado pelo célebre desenhista John Buscema, de volta à equipe mais uma vez. Dessa vez, Buscema ficaria outra temporada tão longa quanto àquela superclássica dos anos 1960. Coincidência ou não, esta edição dá início a uma fase mais “espacial” para equipe. A trama se divide em duas: enquanto a Capitã Marvel ainda está no espaço investigando a velha nave de Thanos, o Santuário – ver lá atrás em Avengers Annual 07 – e se depara com um grupo de mercenários espaciais; o restante da equipe está na Terra lidando com as consequências das ações do Visão e se reconfigura ligeiramente com uma formação com Capitão América, Vespa (de volta e de novo a líder), Hércules, Cavaleiro Negro e Starfox, além da Capitã Marvel.
Esse novo time estreia enfrentando o gigantesco Terminus na Terra Selvagem, em Avengers 256 e 257.

Avengers 257 também traz a primeira aparição da vilã Nebula, que se revela a líder dos piratas espaciais espionados pela Capitã Marvel. Nebula afirma ser neta de Thanos (na época, considerado morto) e se tornaria uma das maiores vilãs cósmicas da Marvel, ainda que o grande pública a conheça hoje em dia como uma heroína redimida nos filmes dos Guardiões da Galáxia. Em seguida, os Vingadores presenciam o Homem-Aranha derrotar o Senhor do Fogo (ex-arauto de Galactus).
Tem início, então, em Avengers 259, de setembro de 1985, uma interessante aventura em que os Vingadores, novamente reunidos com a Capitã Marvel, precisam se aliar aos Skrulls para confrontar Nebula, numa história que prossegue na edição 260 e conclui em Avengers Annual 14, uma edição especial, com o dobro de páginas, roteiro de Roger Stern e a maravilhosa arte de John Byrne. E ainda com a participação especial do Quarteto Fantástico. Em meio à batalha, os Skrulls perdem a capacidade de alterar suas formas. A história encerra a participação de Starfox na equipe, que fica no espaço para acompanhar o Senhor do Fogo na busca de lidar com as consequências das ações de Nebula.
Os Vingadores da Costa Oeste Decolam
Apesar de terem estreado na minissérie de 1984, a “segunda unidade” dos Vingadores só ganhou novas histórias cerca de um ano depois. Em outubro de 1985 estreava a revista mensal The West Coast Avengers com as aventuras do time. A grande novidade do projeto era o retorno do celebrado escritor Steve Englehart à Marvel após quase uma década de ausência.
Na verdade, após passar dez anos afastado dos quadrinhos, Englehart retornou à Marvel por meio do selo Epic Comics, destinado a obras autorais, como Coyote. Contudo, logo, ele foi “aliciado” para a linha mainstream, e como queria trabalhar com os Vingadores (que já estavam nas ótimas mãos de Roger Stern), decidiu-se por lhe entregar a unidade da Costa Oeste.
Contudo, esta segunda fase de Englehart na Marvel, na segunda metade da década de 1980, não foi tão promissora quanto a anterior. No futuro próximo, além da segunda unidade, Englehart escreveria histórias do Quarteto Fantástico, Thor e Surfista Prateado, mas sem o mesmo glamour de eras passadas.
Além disso, The West Coast Avengers simplesmente não cativou os leitores. A revista começou a ser publicada – com desenhos de Al Migrom (vindo da revista principal) – mas não emplacou, embora curiosamente, tenha continuado a ser publicada até o início dos anos 1990. Aparentemente, a Marvel também não se esforçou muito para divulgá-la ou promovê-la e o título ficou muito tempo isolado do resto do Universo da editora, inclusive, em relação à equipe principal, talvez até uma exigência de Englehart, que terminou por escrever uma obra insular, com pouquíssima interação (e também consequência) para com o Universo Marvel. Por isso mesmo, quase nada desse material chegou às bancas brasileiras pela editora Abril naquele período e permanece inédito até hoje.
West Coast Avengers vol. 2 01 (a revista mensal é considerada o volume 2 para fins de catálogo para diferenciá-la da minissérie de mesmo título) dá início com praticamente a mesma equipe da minissérie – Gavião Arqueiro, Harpia, Magnum, Tigresa e Homem de Ferro – com a diferença de que este último, ao contrário da mini, tem Tony Stark no lugar de James Rhodes sob o capacete, e usando sua novíssima armadura prateada, conhecida como Centurião Prateado.
Vale ressaltar que as aventuras pretéritas do vingador dourado publicadas antes do lançamento da nova revista haviam mostrado Tony Stark revelar sua identidade secreta para o Gavião Arqueiro e Harpia (em Iron-Man 194) e revelando também que James Rhodes era o Homem de Ferro que estava com eles. Quando do lançamento da revista mensal do time da Costa Oeste, Stark já estava de volta com sua nova armadura (após os eventos de Iron-Man 200), Rhodes voltou a ser um coadjuvante e assistente de Stark e a trama seguiu em frente.

Os Vingadores da Costa Oeste enfrentam primeiro uma nova versão da Legião Letal reunindo Ceifador, Ultron, Man-Ape e o vilão Golias (Erik Josten, o antigo Poderoso). Logo, essas primeiras aventuras colocam Hank Pym se oferecendo para trabalhar como um tipo de auxiliar do time – uma espécie de assessor científico, mas que também, no fundo, cumpria as funções que Jarvis realizava na Costa Leste – numa tentativa de se redimir depois de seu colapso nas aventuras de dois anos antes. Essa iniciativa deixa seus antigos companheiros Homem de Ferro e Gavião Arqueiro algo chocados, pensando que era uma forma de se rebaixar demais, mas, no fim das contas, aceitam.
O arrependimento, frustração e rancor de Pym por suas próprias ações passadas seriam tópicos bastante explorados por Englehart nessas aventuras, como um tipo de subtrama paralela às aventuras da equipe, que Pym não chega a integrar de forma oficial, continuando como um auxiliar. Englehart era do time de escritores da velha guarda que não aceitavam a (quase) transformação de Pym em vilão (por Shooter) e tratou de construir um longo e profundo arco de redenção.
Dali em diante, Englehart manteve em grande parte a equipe em contato com o universo clássico dos Vingadores, colocando os da Costa Oeste contra velhos inimigos, como Ultron, o Zodíaco e Ceifador. Com o passar do tempo, aprofundou a trama para redimir mais ainda Hank Pym e acrescentou o Cavaleiro da Lua ao time – um típico herói secundário da Marvel – e trouxe até Mantis de volta.
O primeiro ponto de destaque de Englehart nos Vingadores da Costa Oeste foi a história Um dos Nossos, publicada no The West Coast Avengers Annual 01, de 1986, com desenhos de Mark D. Bright, que à época era o artista das revistas do Homem de Ferro. Esta aventura é uma sequência de Avengers Annual 15, na qual os Vingadores são atacados pela Força Federal (nada mais do que a velha Irmandade de Mutantes, vilões comandados por Mística) à mando do governo dos EUA. Ao fim desta, descobrem que foi um dos Vingadores quem traiu a equipe.
Assim, em Um dos Nossos, os Vingadores estão foragidos e se reúnem para discutir quem pode ser o traidor. Após combaterem uma nova versão do Zodíaco, o grupo termina descobrindo que o traidor é Mercúrio, maculando a reputação de um de seus membros mais antigos. Essa história gerou revolta de muitos fãs e também de escritores da própria Marvel, que não aceitavam a transformação de Mercúrio em um vilão. (O que é irônico, tendo em vista o esforço de Englehart em redimir Pym e fazer aquilo que criticou com Mercúrio). Essa situação seria resolvida dentro de alguns anos. De qualquer modo, apesar disso, é uma boa história, que recapitula a história dos Vingadores e seus principais membros.
O grande destaque da longa temporada de Steve Englehart e Al Migron à frente dos Vingadores da Costa Oeste foi o arco Perdidos no Tempo e no Espaço, publicado em The West Coast Avengers 17 a 24, começando em fevereiro de 1987, na qual a equipe é lançada em vários períodos de tempo diferentes e precisam, mesmo à distância (temporal) elaborar um plano de derrotarem o vilão Dominus e regressarem à época certa.

É nesta aventura em que Flama impede Hank Pym de cometer suicídio – ainda atormentado por suas ações passadas – o que o envolve de novo com a equipe e acende uma fagulha numa relação com essa heroína.
Outro ponto muito polêmico da trama é o fato de Harpia ir parar no Velho Oeste e terminar sendo estuprada pelo Cavaleiro Fantasma – um velho personagem da Marvel, que inspirou o Motoqueiro Fantasma – e depois, em vingança, simplesmente deixá-lo morrer ao cair de um desfiladeiro. É realmente uma das melhores histórias escritas por Englehart – e olha que em se tratando dele, tem muita coisa boa aí – mas é um clássico perdido, esquecido e polêmico.
Esse “assassinato” terminaria com o casamento do Gavião Arqueiro e faria Harpia sair da equipe, juntamente ao Cavaleiro da Lua e Tigresa. Era um momento de mudança total, com o Homem de Ferro também expulso da equipe em consequência de suas ações questionáveis no arco Guerra das Armaduras (veja mais abaixo), publicado em sua própria revista. Assim, Vespa, Visão e Feiticeira Escarlate entram para a equipe, juntamente com Mantis, além do auxílio de Hank Pym não como um herói uniformizado, mas um tipo de “ajudante científico”. Essa manobra, claro, tirou a especificidade desta equipe e os deixou muito parecidos com o time dos anos 1970, o que não fez bem ao título.
Feiticeira Escarlate e Visão
Pouco antes do casal mais polêmico dos Vingadores adentrar na equipe dos Vingadores da Costa Oeste, eles ganharam uma segunda série, também chamada The Vision and the Scarlet Witch. Dessa vez, foi uma maxissérie com 12 capítulos, publicada entre outubro de 1985 e setembro de 1986, também escrita por Steve Englehart e desenhada por Richard Howell, na qual a Feiticeira Escarlate usa seus poderes de alterar as probabilidades para criar uma gravidez com o Visão, que não custa lembrar, era um sintozoide, um ser artificial. Ainda assim, o casal terá um par de gêmeos, chamados de Tommy e Billy, que terá grandes implicações para o futuro dos Vingadores.
O Apogeu de Roger Stern
De volta à revista principal, a partir do final de 1985 temos o início do apogeu da fase do escritor Roger Stern à frente do título, ainda acompanhado pelo mestre John Buscema na arte.
Primeiro, temos o envolvimento da equipe com a saga Guerras Secretas II, na qual o Beyonder, a criatura de poder sem limites responsável pelo evento anterior, vem à Terra (Avengers 261, de dezembro de 1985); a entrada de Namor, o príncipe submarino para a equipe (Avengers 262), lembrando que ele foi um opositor do grupo em suas primeiras aventuras (e criando uma divertida rivalidade com o outro fortão, Hércules); os Vingadores encontrando Jean Grey, a Fênix (das aventuras dos X-Men), ainda viva no fundo da Baia Jamaica em Nova York (Avengers 263), um fato usado para dar sequência aos eventos das revistas dos X-Men e dar início ao lançamento da revista X-Factor; e a conclusão de Guerras Secretas II (Avengers 265 e 266) com o bombástico suicídio do Beyonder; e o arco O Tempo e o Tempo de Novo, na qual confrontam Kang, o conquistador (Avengers 267 a 269), quando combatem de volta seu clássico inimigo dos anos 1970.
A mais célebre história de Roger Stern e John Buscema com os Vingadores vem em seguida: Sob Cerco (Under Siege), que transcorre entre Avengers 270 a 277, começando em agosto de 1986, no qual os Vingadores vivem um momento difícil com a opinião pública se voltando contra eles, por causa dos feitos pretéritos de Namor; e uma nova encarnação dos Mestres do Terror (que envolvem praticamente todos os vilões que já fizeram parte dessa equipe, como: Rocha Lunar, Tubarão-Tigre, Tufão, Poderoso, Homem-Absorvente, Titânia, Mister Hyde, Jaqueta Amarela (a vilã que usurpou o nome de Pym) e até a Gangue da Demolição inteira), liderados pelo filho do Barão Zemo, que em um plano genial, surpreendem os Vingadores em um ataque surpresa, com embates separados, derrotando os membros um a um; e culminando com um ataque fatal no qual destroem a Mansão dos Vingadores (o QG da equipe desde os anos 1960) e terminam por quase matar vários membros, inclusive o poderoso Hércules.

O ataque dos Mestres do Terror consistem em uma das mais encarniçadas batalhas que a equipe já se envolveu e a vitória só foi possível com os sobreviventes Capitão América, Cavaleiro Negro e Capitã Marvel se reunindo a Thor e Doutor Druida para um revide brutal.
Enquanto a equipe ainda procura se reestruturar, com os membros que não ficaram muito feridos, vem War on Olympus (Guerra no Olímpio), no qual os deuses gregos querem se vingar dos Vingadores pelo o que aconteceu a Hércules.

No meio do caminho, uma equipe diferente de Vingadores tomou forma, com as adesões do Dr. Druida, a volta de Thor e a manutenção de Capitão América, Capitã Marvel, Namor e Cavaleiro Negro. Essas aventuras também trazem a transferência da base da equipe para a Hidrobase, uma ilha artificial que flutuava na Baía de Manhattan. A Mansão ficaria destruída e abandonada por um bom período de tempo.
Steve Rogers Deixa de Ser o Capitão América
Pouco depois dessa aventura, o Capitão América já se afastou do time por causa de um evento particular de sua revista individual: a partir de Captain America 332, de 1987, Mark Gruenwald e Tom Palmer contam uma história na qual a Comissão de Atividades Superhumanas do Congresso dos EUA (aquela mesma a qual é responsável pelas ações dos Vingadores desde Avengers 180) decide que o Capitão América é tanto uma criação quanto um funcionário do Governo dos EUA e exige que Steve Rogers se apresente para se submeter às suas ordens. Percebendo que será usado como arma contra repúblicas sul-americanas ou coisas do tipo, Rogers decide recusar a oferta e, então, devolve o uniforme e o escudo, que eram propriedade do governo e deixa de ser o Capitão América.

Sem pestanejar, a Comissão decide colocar outra pessoa sob o uniforme, selecionando o ex-militar John Walker, que agia como o vigilante chamado Super-Patriota para ser o novo Capitão América. Privado de sua identidade, Rogers passou a usar um uniforme negro e se chamando apenas de Capitão.
Seria uma longa fase na qual Rogers continuaria sua ação enquanto Walker iria se mostrar cada vez mais descontrolado e violento até o embate dos dois em Captain America 350, mais para frente, em fevereiro de 1989, na qual se descobre que o Caveira Vermelha estava secretamente liderando a Comissão e o Governo percebe seu erro, devolvendo os “direitos” a Rogers. Walker terminaria aparentemente morto em um comício logo na edição seguinte, mas seria apenas um embuste: o governo lhe deu uma nova identidade, o Agente Americano, ironicamente, usando o uniforme negro de Rogers e sob a identidade civil de Jack Daniels.
Mas antes desse desfecho, essa saga teria algumas implicações na revista dos Vingadores.
A Guerra das Armaduras
Aproveitando o intervalo, de modo concomitante, outro arco de histórias solo teria boas implicações nas aventuras dos Vingadores no futuro: a já citada A Guerra das Armaduras do Homem de Ferro. Publicada entre Iron-Man 225 a 232, de 1987, a trama é fundamental para, em muitos aspectos, fundar o Tony Stark que conhecemos nos dias de hoje.

Na história, escrita por David Michelinie e Bob Layton (a mesma dupla do fim dos anos 1970) e desenhada por Mark D. Bright (no início) e Jackson Guice (no fim), Stark descobre que a armadura de um ex-vilão chamado Força – que tinha se regenerado e ficado seu amigo – era construída, na verdade, com a tecnologia que ele criara para o Homem de Ferro. Exasperado por sua invenção estar sendo usada para matar pessoas, Stark percebe que um vilão chamado Espião Mestre roubou sua tecnologia e a vendeu a muitos outros vilões com armaduras, e portanto, desenvolve um dispositivo capaz de neutralizar sua própria tecnologia e parte atrás de qualquer um que pode estar usando sua criação sem autorização.
Isso coloca o Homem de Ferro contra uma série de vilões, como o Metaloide, Controlador, Besouro, os Caçadores… e suas ações resultam na morte do Homem de Titânio, seu tradicional inimigo. Mas Stark não para por aí: sob a justificativa de que, mesmo legalizadas, projetos similares às suas armaduras podem ser copiados por criminosos, também parte para neutralizar o vingador reserva Arraia (o responsável pela Hidrobase que os Vingadores àquela altura usavam!), os Mandroides da SHIELD e até os Guardiões da Gruta, a prisão para supercriminosos da Marvel.

Um evento importante no meio disso tudo ocorre no fim de Iron-Man 227: Steve Rogers aparece na Stark Enterprises em Los Angeles e explica sua situação (não é mais o Capitão América) e lhe pede para desenvolver um novo escudo. Mesmo preocupado com as implicações morais de seus atos e do que o velho amigo pensaria deles, Stark atende ao favor e cria um escudo novo, que o Capitão estreia na Iron-Man 228, justamente a edição em que o Homem de Ferro ataca os Guardiões da Gruta. Horrorizado, o Capitão descobre o plano e intervém, mas no afã de salvar a vida de um Guardião, é derrotado por Stark.

Os dois se olham expressando no olhar o fim da amizade de ambos. De fato, as relações entre os dois não irá se recompor totalmente em muito tempo, e antes mesmo disso acontecer, haverá outro episódio de ruptura entre os dois. Siga em frente…

Ah, mas antes: para não dizer que não explicamos a saga… Na época, o governo e a opinião pública não sabiam que Stark era o Homem de Ferro e o vingador prateado é considerado um criminoso por suas ações; e o Governo financia o projeto Poder de Fogo, com uma superarmadura que quase mata o Homem de Ferro. Stark declara que o herói foi morto em ação e cria uma nova armadura, de novo vermelha e dourada, dizendo que há um novo homem debaixo do capacete. E tudo fica por isso mesmo.
Mas os Vingadores sabem… E Stark não é mais alguém bem-vindo depois disso.
O Capitão Ergue Mjolnir
Enquanto as relações entre Capitão (América) e Homem de Ferro ficam estremecidas, o contrário se dá em relação ao primeiro e o terceiro vértice dos “três grandes” dos Vingadores: Thor. Em The Mighty Thor 390, de 1988, por Tom DeFalco e Ron Frenz, Rogers e o deus do trovão unem as forças contra um inimigo e, no meio da batalha, pela primeira vez, o Capitão ergue Mjolnir – o martelo encantado do qual só se consegue segurar quem “é digno”.

O filho de Odin confessa que havia ficado desconfiado de Rogers depois que ele perdeu o título de Capitão América, mas tal feito demonstra que, sim, o herói é um dos mais dignos que existem. Isso mostra para Thor toda a honradez de seu companheiro de batalhas e forja um novo vínculo empático entre os dois heróis. Algo que terá grandes implicações no cenário pós-Guerra Civil de 20 anos depois.
Uma Estranha Transição
A brilhante temporada de Roger Stern nos Vingadores se encerrou no meio do arco Heavy Metal, no qual um novo Super-Adaptóide quase consegue derrotar a equipe após imitar todos os seus poderes, o que levaria à união de vários outros vilões; mas uma série de mudanças editoriais na Marvel terminaram por fazer com que o escritor se despedisse no meio do arco, em Avengers 287, de fevereiro de 1988. Ele foi para a DC Comics ser um dos escritores do Superman e um dos autores de A Morte do Superman, anos mais tarde. Stern se tornou o escritor recordista na condução contínua da revista Avengers, com seis anos de duração, entre 1982 e 1988, uma época dourada para o time.
O editor Ralph Macchio assumiu os roteiros a partir de Avengers 287, ainda com John Buscema na arte, finalizando Heavy Metal. A partir de Avengers 291, de maio de 1988, tem-se início o arco do Conselhos de Kangs, agora com roteiros de Walt Simonson (famoso por seu trabalho em Thor) e ainda com John Buscema na arte. A trama mostra uma confusa saga na qual os Vingadores descobrem a existência de um Conselho de Kangs, com várias versões diferentes de Kang, alguns malignos outros não. Nem o próprio Kang, segundo a trama, sabia da existência disso!

No meio disso tudo, Marrina, a prima de Namor (e ex-membra da Tropa Alfa), se transforma em um poderosíssimo monstro destruidor chamado Leviatã, o que leva a uma batalha épica. Para matar o monstro (e sacrificar sua prima), o Príncipe Submarino é obrigado a usar a Espada de Ébano do Cavaleiro Negro, mas esta era imbuída de uma maldição: se vertesse sangue, condenaria seu usuário e, em resultado, Danny Whitman iria ficar paralisado e incapacitado de se mexer ou andar, lhe obrigando a usar um exoesqueleto especial para ter seus movimentos.

De volta à trama dos vários Kangs, entre os membros do Conselho há uma versão feminina dele, a Kang-Nebula (uma variante da “neta” de Thanos), que se alia aos Vingadores. Mas tudo se mostra parte de um plano para destruí-los, ainda mais com a colaboração do traidor Dr. Druida, que se apaixonou pela vilã e termina a história com ela, ambos em um limbo, perdidos no espaço-tempo.
Infelizmente, essa saga encerra a longeva vinculação de John Buscema com a revista, com o artista migrando para outras aventuras (como as histórias de Wolverine).

Em seguida, desiludidos com as perdas recentes, Mulher-Hulk, Namor e Thor deixam os Vingadores, de modo que o único membro que sobra é o mordomo Jarvis. Isso mesmo! A partir de Avengers 298, Walt Simonson (acumulando textos e arte) começa uma saga, que conclui na edição comemorativa n.º 300, de fevereiro de 1989, com uma formação totalmente inusitada de Vingadores: Capitão (o ex-Capitão América), Thor, Sr. Fantástico e Mulher-Invisível (ambos do Quarteto Fantástico) e Gilgamesh, personagem mítico que aparece até na Bíblia e nas lendas dos povos sumérios/babilônios e que era um coadjuvante das histórias dos Eternos. O novo grupo é reunido de improviso para deter a invasão de demônios que ocorre por causa do crossover Inferno, uma saga dos X-Men que se irradiou por todas as revistas da Marvel.
Após o número 300, vem uma curta fase de transição na qual há um revezamento de escritores, como Mark Gruenwald, Ralph Macchio e Danny Fingeroth para fechar as pontas e deixar espaço à fase seguinte. Nesse meio tempo, Steve Rogers voltou a ser o Capitão América em suas aventuras, mas a ausência de um escritor fixo fez a revista ficar à deriva.
O Fim de Um Ciclo para os Vingadores da Costa Oeste
Já adiantamos bastante os rumos da equipe secundária, os Vingadores da Costa Oeste, e vamos agora encerrar o primeiro ciclo desses heróis. Em setembro de 1988, West Coast Avengers 36, ainda por Steve Englehart e Al Migrom, encerrava um arco focado no Dr. Henry Pym, recontando alguns elementos de sua origem, mesmo que, estranhamente, àquela altura, ele continuava a não ser um membro formal do time, mas um assistente científico (ainda que usava até um tipo de uniforme, num macacão vermelho). O time oficialmente era formado então por Gavião Arqueiro, Harpia, Magnum, Tigresa, Cavaleiro da Lua, mais a participação temporária da Vespa.

Então, o último número consecutivo e regular da dupla de criadores veio com a edição 37, com Dissassembled (a negativa do grito de guerra “assemble”, que embora traduzido como “avante” no Brasil, significa algo como “unidos”, e portanto, “desunidos” ou “desmantelados”), na qual o Gavião Arqueiro descobre que Harpia deixou o Cavaleiro Fantasma morrer naquela aventura de viagem do tempo, o que traz à tona o embate sobre se os Vingadores podem ou não matar. Como resultado, o casamento entre Clint Barton e Bobbi Morse é desfeito e ela é expulsa do time. Em solidariedade, o Cavaleiro da Lua e Tigresa também saem da equipe e o trio forma um conjunto paralelo, que continuará a ser mostrado nas edições seguintes da revista.
A edição 38 é um prenúncio do fim ou um número de férias, pois traz D.G. Chichester e Margareth Clark nos roteiros e Tom Morgan na arte para que Englehart e Migrom encerrem definitivamente sua longuíssima temporada no número 39, de janeiro de 1989, com uma trama que traz o breve retorno de Mantis e do Espadachim-Cotati, duas marcas que o roteirista deixou nos anos 1970. Foram quatro anos e 39 edições com essa equipe secundária nas mãos da dupla, embora, como já dissemos, eles nunca tenham feito sucesso entre os leitores e suas aventuras quase sempre permaneceram insulares dentro do Universo Marvel.

Mas calma, não terminou ainda… Uma grande mudança chegaria para os Vingadores da Costa Oeste, porém, era preciso fechar algumas pontas soltas antes de iniciar a nova fase, daí que vieram dois números para isso, com o primeiro (edição 40) escrita pelo editor Mark Gruenwald (e ainda com a arte de Migrom) no qual o grupo ganha a adesão da dupla Visão e Feiticeira Escarlate, e a edição 41, escrita pelos editores Tom DeFalco e Ralph Macchio e desenhada por Tom Morgan, com o foco no trio dissidente Harpia, Tigresa e Cavaleiro da Lua para dar-lhes uma destinação ao fim daquele ciclo. Harpia e Cavaleiro da Lua seguem rumos ignorados, mas a Tigresa termina voltando aos Vingadores da Costa Oeste.
Agora, a casa estava arrumada para uma nova fase nas mãos do roteirista e desenhista John Byrne, uma das maiores estrelas dos quadrinhos de todos os tempos.
A Fase de John Byrne
Nascido em 1950 na Inglaterra, John Byrne se mudou para o Canadá aos 8 anos de idade e, depois, se naturalizou norte-americano. Introduzido nos quadrinhos pelo material da DC Comics, ele foi profundamente impactado pelo lançamento do Universo Marvel, ao qual descobriu aos 12 anos de idade, o que o levou a se tornar um desenhista, combinando a força e o visual arrojado de Jack Kirby com a beleza plástica e realista de Neal Adams, o que aperfeiçoou numa faculdade de artes que não concluiu em Calgary.

Ativo no Fandoon, Byrne se destacou em fanzines como CPL (criado por Roger Stern e David Layton), publicando histórias na Charlton Comics, antes de migrar para Marvel, onde começou fazendo a arte das histórias de Punho de Ferro, da linha de artes marciais da editora na revista Marvel Premiere, onde trabalhou ao lado do escritor Chris Claremont, em 1976, antes dos dois migrarem para o título Iron Fist. Depois, Byrne assumiu The Champions, a estranha equipe de heróis, entre 1977 e 1978, antes de desenhar Marvel Team-Up (com histórias do Homem-Aranha ao lado de convidados especiais), de novo com Claremont.

A parceria se mostrou acertada e Byrne passou à revista dos X-Men de Claremont, e os dois transformaram os mutantes no título “mais quente” da Marvel, um sucesso incrível de vendas, em sagas como A Saga da Fênix Negra e Dias de Um Futuro Esquecido, entre 1977 e 1981; enquanto Byrne também fez passagens marcantes nos Vingadores (como já vimos), no Capitão América (ao lado de Roger Stern, em 1980) antes assumir a arte e os roteiros do Quarteto Fantástico (1980-86), no que é considerada a melhor fase da primeira família desde os tempos de Lee e Kirby. Byrne brigou com a editoria da Marvel e foi para a DC Comics, onde reescreveu a origem do Superman no cenário pós-Crise nas Infinitas Terras e fez um enorme sucesso conduzindo o universo do homem de aço entre 1986 e 1988.
Assim, era como o maior nome dos quadrinhos da época que John Byrne retornou à Marvel em 1989 para comandar nada menos do que as duas revistas dos Vingadores (Leste e Oeste). Sua fase em que escreveu e desenhou os Vingadores da Costa Oeste é a fase mais relevante da equipe; enquanto na principal Avengers fez uma passagem menos marcante, com desenhos de Paul Ryan.

Byrne estreia nos roteiros e arte em West Coast Avengers 42, de fevereiro de 1989, com o arco Vision Quest (A Busca do Visão): enquanto são atacados por uma réplica fraca de Ultron, os Vingadores da Costa Oeste se dão conta de que o Visão despareceu. Enquanto armam missões para encontrá-lo e investigam, são ajudados pela Harpia, que regressa e parece saber o que aconteceu. Na edição 43, com a ajuda da Harpia (que é uma ex-agente da SHIELD, lembrem), Wanda encontra o marido: desmontado e dissecado por um grupo de cientistas do Governo dos EUA, que mandara desabilitar o Visão como uma reprimenda por suas ações no arco Visão Ilimitado de Roger Stern, de alguns anos antes. Na edição 44, Hank Pym começa a remontar o Visão.
E mais: ao começar a remontar o Visão na edição 44, Pym tem uma certeza: o Visão não é o Tocha Humana original. Na sua avaliação, a tecnologia do Visão era muito mais “jovem” e os Vingadores até encontram o Dr. Phinneas T. Horton, o cientista que havia criado o Tocha Humana em 1939, e ele confirma: aquele não é seu projeto. Assim, fica presumido que Ultron criou o Visão do zero, no máximo utilizando algumas peças sobressalentes do Tocha. O próprio Visão descobrira que era uma “atualização” do Tocha lá atrás em Giant-Size Avengers 02, quando isto lhe é revelado por Immortus. Fica implícito que Immortus mentiu e, de fato, era um vilão conhecido por ser manipulador e uma aventura futura mostrará exatamente isso.

Na edição 45, a remontagem do Visão é finalizada, mas Pym falha em restaurar suas emoções após ter sua mente apagada pelo Governo. Com o auxílio dos computadores avançados dos Vingadores, o cientista conseguiu recuperar a maior parte dos arquivos de memória do Visão, mas suas emoções não existem mais. Pym explica para Wanda – e para o leitor – de modo bastante didático, que as emoções que compunham o Visão desde sempre eram oriundas dos padrões cerebrais de Simon Williams, o Magnum, que Ultron usou quando criou o Visão para estruturar a mente computacional do sintozoide.
Sem esses padrões, o Visão até tinha as memórias de suas aventuras passadas, mas nenhuma emoção sobre elas. Ele era uma máquina fria e calculista. Para refletir essa nova versão, o Visão escolhe não recompor a cor laranja que tinha antes e se mantém em um branco pálido, que faz mais jus ao seu nome (visagem). Ele também não vê a necessidade racional de usar roupas, mas reconhecendo o valor moral das vestimentas, adota um uniforme mínimo para si mesmo.
O Visão que todos conheciam estava, na prática, morto. Era uma mudança radical. e na verdade, aquele Visão dos anos 1970 jamais retornaria depois deste evento.

Enquanto isso, em vista do risco do Visão, o Governo dos EUA impõe o Agente Americano (sim, aquele mesmo, só que após John Walker ser dado como “morto”, ele usava o nome Jack Daniels, usando o uniforme negro que fora de Steve Rogers) como membro e novo líder da equipe, destituindo a função que o Gavião Arqueiro desempenhava desde o início da equipe lá minissérie de 1984.
Por causa disso, Clint Barton deixa o time secundário pela primeira vez e leva consigo a ex-esposa Harpia, que oficialmente já estava fora há algum tempo, mas vinha participando das últimas edições.
Paralelamente, Pym estuda os poderes da Feiticeira Escarlate e começa a perceber que todos – inclusive ela própria – haviam interpretado mal o que seus poderes eram. Pym suspeita que ela é capaz não apenas de afetar as probabilidades como se pensava, mas sim, de alterar a própria realidade. E isso o assusta! E a informação vem quando, nas edições anteriores, presenciamos Tommy e Billy apresentarem desaparecimentos misteriosos quando são deixados sozinhos com suas babás, enquanto Wanda está em perigo com os Vingadores.
Vem então o Segundo Ato de Byrne, cujo primeiro ciclo de aventuras foi tão bem-sucedido que a Marvel até permitiu que ele alterasse o nome da revista: Avengers West Coast 47 (nome a inversão de West Coast Avengers para Avengers West Coast), chega em agosto de 1989, e dá início ao arco Mais Sombrio que Escarlate (Dark than Scarlet), no qual Byrne continua a explorar o efeito do trauma de perder o marido em Wanda. Ela guarda esperança de fazer “renascer” os sentimentos que o Visão nutria por ela, mas o sintozoide continua sendo uma máquina fria. Enquanto uma estranha organização de cientistas tenta comprovar em Wanda uma teoria de que um elemento maligno acompanha os seres vivos desde tempos imemoriais na Terra, ela tem a mente dominada e precisa ser detida pelo Capitão América e a Mulher-Hulk (membros do time principal – numa pontual participação especial).

Wanda é restituída, mas parece que algo mudou dentro dela… A heroína parece mais nervosa, mais impaciente, mais raivosa. Quando os Vingadores vão ao túmulo do Tocha Humana – que “morreu” em 1954, na cronologia da Marvel – para investigar se o Visão realmente não é o velho androide membro dos Invasores e do Esquadrão Vitorioso, Wanda se impacienta e simplesmente usa seus poderes para ressuscitar o Tocha Humana, que volta à vida, conhece seu “irmão” e se torna um membro honorário dos Vingadores da Costa Oeste pelas próximas edições!
Byrne era um apaixonado pela cronologia da Marvel dos tempos da II Guerra e o Tocha era uma parte importante disso, daí, que desvincular o velho personagem do Visão o possibilitou trazê-lo de volta e usá-los nas aventuras no presente, algo que o artista fez mesmo e não apenas nas aventuras dos Vingadores.

Na edição 51, enquanto o Homem de Ferro regressa aos Vingadores da Costa Oeste após mais de três anos (e pela segunda vez desde A Guerra das Armaduras – pois fizera uma breve participação especial no número 38), os Vingadores são levados a confrontar o Mestre Pandemônio, que traz uma verdade terrível: a edição 52 revela que Tommy e Billy Maximoff não existem! Eles são fragmentos da alma de Mefisto – o diabo do Universo Marvel – que foram captados (sem querer) pelas habilidades feiticeiras de Wanda e “construídas” como se existissem, mas tratam-se apenas de manifestação de uma ilusão poderosa por parte dela. Por isso que os pequenos vinham “desaparecendo”: quando estava em perigo imediato, Wanda deixava de pensar nos filhos e eles deixavam de existir.
À princípio, os Vingadores se recusam a acreditar, mas Agatha Harkness – a antiga mestra de magia de Wanda – confirma a dolorosa verdade. É outro golpe duro para a heroína.

Após os Vingadores gastarem algumas edições dentro da saga Atos de Vingança (na qual Loki mobiliza os vilões da Marvel para lutarem contra inimigos que não estavam acostumados, como forma de garantir efeito surpresa), todo o trauma de Wanda paga um preço em Avengers West Coast 56, de março de 1990, quando ela incorpora uma versão maligna de si mesma, se voltando contra os seus amigos. É nesta história que é confirmado que os poderes dela alteram a realidade e a Feiticeira Escarlate aprisiona os Vingadores e tortura Magnum física e psicologicamente, por saber que ele é apaixonado por ela.

Inclusive, a cena da tortura desenhada por Byrne dava a entender que Wanda fazia sexo oral forçado em Simon, como um tipo de estupro, mas a Marvel achou a cena pesada demais e um desenhista assistente desenhou a traseira da cabeça de Wanda para afirmar que ela não se abaixou. Mas ainda assim, o abuso ficou totalmente claro no restante da cena. Algo incrível, ousado e perturbador.
Para piorar tudo, na edição 57, Magneto aparece e se une ao recentemente convertido em vilão Mercúrio para acolherem a maligna Wanda e promoverem a primeira reunião de sua família desde que souberam o incrível segredo que os envolvia. Porém, a história mostra que Mercúrio estava apenas fingindo como parte de uma artimanha para reestabelecer sua irmã ao normal. No fim, ele ajuda os Vingadores a derrotarem a irmã e Agatha Harkness dá o toque final, criando um feitiço que faz com que Wanda esqueça a existência dos filhos, para que parasse de sofrer.
Isso, claro, era um maneira de John Byrne corrigir a história Um dos Nossos, de algum tempo antes, que colocava o velocista como um traidor da equipe; assim como desfazer o engodo Visão-Tocha (ficava difícil para os leitores dos anos 1990 aceitarem que um androide tão avançado fosse criado na década de 1930 e os motivos de Tocha e Visão terem poderes completamente diferentes).
Como se vê, nesses dois arcos bombásticos, Byrne mudou completamente o status de alguns heróis e criou uma história duradoura dos personagens, resultando num dos melhores momentos da equipe em todos os tempos. E isso na revista pretensamente “secundária” dos maiores heróis da Terra. Ah, e sua passagem também introduziu de modo cômico os Vingadores Centrais (Great Lake Avengers), um grupo independente de heróis estranhos com poderes mais estranhos ainda.
Byrne encerrou ali sua passagem pela Costa Oeste e a equipe voltou a ser secundária e desimportante em uma fase com roteiros de Fabian Nicieza e arte de Tom Palmer, a partir de Avengers West Coast 58, de maio de 1990.
Em paralelo a tudo aquilo, John Byrne também escreveu a revista principal, Avengers, começando a partir da edição 305, de março de 1989 (um mês após a estreia na Costa Oeste), embora tenha legado a arte ao desenhista Paul Ryan, um artista da mesma linha de traço sólido de John Buscema. A dupla abriu um novo modus operandi em que o Capitão América era o único membro fixo, reunindo aliados na medida da necessidade de cada missão, embora cada missão durasse algumas edições. Mas isso foi um bom motivo para reunir praticamente todos os membros que já haviam passado pelos Vingadores (exceto aqueles que já estavam na Costa Oeste) por um breve momento, quando o Capitão América convoca todos os membros reservas para anunciar a nova fase naquela edição.

Infelizmente, Byrne não conseguiu dar ao título principal o mesmo peso que deu à Costa Oeste, sendo uma temporada bem menos importante. Inicia com um confronto contra os tradicionais Homens-Lava, que tem o mérito de reunir um time interessante, com Capitão América, Namor, Pantera Negra, Mulher-Hulk, Gilgamesh, Thor e Quasar (que estreia como membro – um herói que vinha mais ou menos ocupar o lugar do antigo Capitão Marvel), numa trama que se estende por três edições e na qual o Eterno Gilgamesh termina gravemente ferido e ninguém consegue curá-lo; então, os Vingadores pedem ajuda aos Eternos na edição 308, e eles vão a Olímpia – o lar dos deuses gregos – para curá-lo, mas o lugar havia sido transferido para a Zona Negativa, o que resulta no time, mais Sersi (uma das líderes dos Eternos, dona de vastos poderes cósmicos), envolvidos numa batalha contra Blastaar, clássico inimigo do Quarteto Fantástico, na edição 309, que também conta com breves participações dos Vingadores Centrais, que são “adotados” por Gavião Arqueiro e Harpia, que se afastaram do time da Costa Oeste por causa da imposição do Agente Americano. Essa aventura termina por oficiar Sersi como membra dos Vingadores.

A batalha cósmica prossegue e, na edição 311, temos um pequeno interlúdio no qual – já dentro da saga Atos de Vingança – a Hidrobase é atacada e naufraga na Baía de Manhattan, apesar dos esforços de Quasar e do Arraia (um herói esquecido dos anos 1970). Esta edição também dá partida no arco de Nebula, que retorna novamente tentando dar prosseguimento aos planos de Thanos e será a linha principal da ameaça deste ciclo das histórias de Byrne e Ryan.

No número 312, Capitão América, Falcão, Feiticeira Escarlate, Visão, Vespa e Hank Pym se unem contra a Força Federal (a antiga Irmandade de Mutantes de Mística, Blob e Pyro), dentro de Atos de Vingança, e o capítulo final dessa saga se dá na edição 313, numa batalha acirrada contra o Mandarim, que contou com a participação da Felina (que não atuava com o grupo desde a década de 1970) e da Viúva Negra.

Em Avengers 314, de fevereiro de 1990, se reúne o grupo de Capitão América, Homem de Ferro, Thor (os três grandes reunidos pela primeira vez desde o início dos anos 1980!!!!), Visão (que se transferia da Costa Oeste para a principal) e os dois novos membros Sersi (dos Eternos) e o espetacular Homem-Aranha, agindo de verdade com os Vingadores pela primeira vez desde que conheceu o grupo nos anos 1960, unidos contra os planos de destruição cósmica de Nebula. Essa aventura também dá início à reconstrução da Mansão dos Vingadores, cujo novo design foi criado por Byrne, mas ele não ficaria na revista por tempo suficiente para que a nova base fosse inaugurada.

A batalha contra Nebula prossegue nas edições seguintes e o número 316 traz o poderosíssimo Estranho se unindo aos Vingadores, preocupado com as ações da pirata espacial. Esta edição foi a última a trazer Byrne que, embora tenha encerrado seu glorioso arco na Costa Oeste, deixou a equipe principal no meio da trama, por causa de uma desavença editorial. Por isso, o roteirista Fabian Nicieza, uma força em ascensão na Marvel naqueles tempos, coassina este número ao lado do mestre e assume a revista dali em diante, encerrando (de modo meio abrupto) o confronto com Nebula na edição 318, de junho de 1990.
Apesar de não ser tão sensacional quanto aquele da Costa Oeste, a temporada de Byrne na equipe principal deixou algumas boas sementes, como a importância de Nebula e a inclusão de membros realmente novos nos Vingadores, como Quasar e Sersi que, não por coincidência, seriam alguns dos membros mais importantes do grupo pela primeira parte da década de 1990.
A Costa Oeste Prossegue
Com a saída de John Byrne da revista do time da Costa Oeste, algumas pontas soltas precisavam ser fechadas. Após duas edições “tapa-buraco” escritas por Fabian Nicieza e Danny Fingeroth, o grupo entra em uma nova fase a partir de Avengers West Coast 60, de julho de 1990, com a volta do superclássico escritor Roy Thomas após um intervalo de quase vinte anos (!), assinando ao lado da esposa, Dann Thomas e, inicialmente, com a arte de Paul Ryan (por um tempo, acumulando os desenhos de ambas as revistas de Vingadores).

Essas tramas trouxeram os Vingadores da Costa Oeste contra Magneto, querendo reaver sua filha após aqueles eventos anteriores, mas servindo para redimir Wanda Maximoff, como se ela tivesse sofrido um surto psicótico por causa das mudanças radicais (a perda do Visão e de seus filhos) recentes. A trama logo mostrou as manipulações de bastidores de Immortus, estando por trás de tudo aquilo e reunindo uma nova versão da Legião dos Não-Vivos e culminando na batalha final em Avengers West Coast 62, de setembro de 1990.
O título passa por alguns números transitórios dali em diante, e no primeiro deles, na edição 63, introduz o Relâmpago Vivo (Miguel Santos), um herói latino que fará parte do grupo em breve.
Período de Mudanças
Após a saída de John Byrne dos títulos, os Vingadores principais entram em uma longa fase em que são marcados por alguns experimentos quanto à sua formação, com escritores privilegiando membros menos conhecidos (o que diminui a participação de Capitão América, Thor e Homem de Ferro), enquanto os desenhistas buscam novos visuais para os heróis.
Iniciados na fase de Byrne, esses elementos se desenvolvem para valer a partir de Avengers 319, de julho de 1990, onde começa para valer a pequena temporada do escritor Fabian Nicieza (que escrevia na época vários títulos do universo dos X-Men), agora com desenhos de Rik Levins, embora Paul Ryan continuasse a partir do número seguinte.
Esquecido nos dias de hoje, Nicieza fez alguns bons trabalhos e, em Avengers, se preocupou em conectar o time com os novos tempos políticos que emergiam com o fim da Guerra Fria a partir da Queda do Muro de Berlim (1989), a reunificação da Alemanha (1990) e a dissolução da União Soviética (1991). Dessa forma, coloca esse novo time de Vingadores – Capitão América, Quasar, Visão, Sersi e Arraia (pois era uma missão aquática) – se aliando ao Protetorado do Povo (a nova versão dos Super-Soldados Soviéticos – pois não existia mais a URSS) contra uma organização terrorista russa e lidando também com as consequências da destruição da Atlântida em Atos de Vingança.
Uma história secundária de Mark Gruenwald também estabiliza a compreensão de que existe uma equipe de apoio oficial aos Vingadores (organizando ideias lançadas ainda por John Byrne e pelo próprio Gruenwald na revista solo do Capitão América), formada pelo mordomo Jarvis, os agentes Fabian Stankowics, Michael O’Brian e Peggy Carter (retratada como uma senhora idosa) e o piloto John Jameson (filho de J.J. Jameson, do Clarim Diário).

A saga de Nicieza, com arte de Ryan e Levins se alternando, prossegue até a edição 324, de setembro de 1990, trazendo também participação dos Atlantes liderados por Attuma e da Tropa Alfa. Segue-se uma edição “tapa-buraco” escrita por Mark Gruenwald, no número 325, que serve de conclusão às histórias secundárias que estava escrevendo nos números mais recentes.
Os Vingadores entram nos anos 1990 propriamente ditos com a fase de Larry Hama, que se inicia em Avengers 326, em novembro de 1990 e ainda com desenhos de Paul Ryan. A trama mostra a inauguração do Complexo dos Vingadores (o termo “Mansão” é abandonado) e apresenta um novo herói urbano chamado Rage, um afroamericano com superforça e invulnerável, que se apresenta na porta da base e exige ser incluído nos Vingadores, reclamando (com razão) que o grupo não tem nenhum membro afrodescendente. Apesar do bom argumento, pelo fato de ser alguém totalmente desconhecido, o Capitão América recusa a oferta. A ameaça da vez é um dos membros do Protetorado do Povo desenvolvendo poderes por causa da exposição radioativa da aventura anterior. O novo time tem Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Sersi, Visão e Mulher-Hulk.

A batalha contra o ex-herói radioativo migra para uma outra dimensão nas edições 327 e 328, nas quais Rage continua aparecendo, tentando entrar nos Vingadores e até agindo ao lado deles. Todavia, o grande feito da aventura é institucional, em vistas das mudanças políticas do mundo: zangados com a aliança dos Vingadores com os heróis russos, o Governo dos EUA revoca a afiliação dos heróis ao Comitê de Atividades Superhumanas, o que torna os “maiores heróis da Terra” basicamente em uma organização fora da lei.
O Capitão América convoca uma reunião de emergência, mas os resultados só vêm na edição seguinte: Avengers 329, de fevereiro de 1991, ainda por Hama e Ryan, evoca o espírito do número 16 com uma reformulação e também o da edição 180 com uma reorganização institucional na qual a ONU assume a responsabilidade pelos Vingadores, o que tecnicamente transforma a equipe em uma força global e não americana.

Também são instituídas novas regras de composição de membros e liderança. Então, os Vingadores passam a ter um time principal na ativa – Capitão América, Viúva Negra (pela primeira vez fazendo parte do time de maneira realmente efetiva e continuada a despeito das décadas de associação com eles), Quasar, Sersi, Thor, Mulher-Hulk e Visão.
Por causa da demanda das missões e da própria dinâmica do grupo, é instituído um grande grupo de Vingadores Reservas que podem ser convocados a qualquer momento: Agente Americano, Capitã Marvel, Cavaleiro Negro, Falcão, Feiticeira Escarlate, Gavião Arqueiro, Harpia, Hank Pym (ainda sem identidade heroica), Homem-Aranha, Homem-Areia (a grande surpresa da ocasião, o ex-vilão do Homem-Aranha que, naqueles tempos, vivia como um herói em busca de redenção – e não muito tempo depois disso, os roteiristas saudosistas o transformaram em vilão de novo), Homem de Ferro, Mercúrio, Magnum, Namor, Rage (sim, ele também!), Tigra, Vespa, e sem esquecer da equipe de apoio – Edwin Jarvis, John Jameson, Peggy Carter e Michael O’Brien.
Mas perceba que, apesar da promessa de uma nova da equipe, na verdade, se mantém simplesmente o mesmo grupo que já vinha atuando nas edições anteriores com o acréscimo da Viúva Negra. Mas no fim das contas, a aventura coloca os Vingadores em outra dimensão contra demônios e Rage participa de toda a ação que transcorre às edições 330 e 331.

E ele também está lá nas edições 332 e 333, nas quais os Vingadores oferecem uma noite de gala pela inauguração de seu Complexo e são atacados pelo Doutor Destino, que quer saber sobre qual tecnologia foi usada nas viagens dimensionais da aventura anterior e ao descobrir que foi por causa de Mjolnir, o martelo de Thor, vai embora.
Isso encerra o arco de Larry Hama e também a temporada de Paul Ryan na revista, em maio de 1991.
Thanos e a Manopla do Infinito
O escritor e desenhista Jim Starlin passou boa parte da década de 1980 na DC Comics, escrevendo histórias do Batman, mas voltou à Marvel e assumiu a revista do Surfista Prateado, a partir de Silver Surfer (vol. 2) 34, de fevereiro de 1990.
Ele atendia ao convite do editor-chefe da Marvel, Tom DeFalco, a partir do desenvolvimento de uma série de eventos editoriais: naquela época, Steve Englehart havia assumido a revista do Quarteto Fantástico, em qual o Surfista Prateado finalmente conseguia vencer a barreira que o prendia à Terra, criada por Galactus, desde a história de sua estreia, em 1966. Isso resultou em uma revista solo para o herói cósmico que foi conduzida por Englehart em suas primeiras 33 edições e na qual desenvolveu um plot com a Madame Morte e a busca pelas Joias do Infinito. Numa reunião de planejamento anual do título, Englehart sugeriu adicionar Thanos à trama e criar um grande evento, mas DeFalco não conhecia o vilão – que, afinal, estava morto desde aquela história de 1977 – mas ao se inteirar dos fatos, gostou bastante da ideia, mas achou melhor trazer Jim Starlin para escrevê-la.

Starlin assumiu os roteiros de Silver Surfer e criou a trama na qual a Madame Morte revive seu “amado” Thanos para reunir as Joias do Infinito e pôr de novo em prática o plano de matar metade da população do universo que o Titã louco já havia tentado naquela que é hoje chamada A Primeira Guerra de Thanos, nas histórias dos anos 1970. A arte ficou com Ron Lim, que também desenhava a revista do Capitão América e as capas de Avengers. Starlin recriou toda uma mitologia sobre as Joias do Infinito, reunindo e reorganizando uma série de joias místicas poderosas que tinham aparecido nas histórias cósmicas da Marvel desde a década de 1970 e que mobilizavam os poderes de vários personagens, como o então falecido Adam Warlock ou o cósmico vilão chamado Jardineiro. A trama se desenvolveu por 10 edições de Silver Surfer e culminou em uma minissérie em duas edições A Busca de Thanos, por Starlin e Lim, publicada em setembro e outubro de 1990.
O vilão já adquire as seis Joias do Infinito nessa aventura, mas não toma nenhuma ação imediata por pura decisão editorial: esperar o verão do ano seguinte para lançar um grande evento. Então, Starlin e Lim “cozinham” por mais um punhado de edições, reintroduzindo Adam Warlock (que também tinha morrido na história de 1977) no número 46 de Silver Surfer, e reúne um time que inclui Pip, Gamora e Drax, o destruidor para ajudar ao Surfista contra o Titã louco; seguindo até a edição 50, de junho de 1991.
Daí, a trama migra para a minissérie em seis edições A Manopla do Infinito, publicada a partir de junho de 1991 (Republicações também a batizaram de Desafio Infinito). A arte ficou a cargo de George Perez, que voltava a trabalhar na Marvel depois de quase dez anos na DC. Contudo, ainda trabalhando na Distinta Concorrente (inclusive, como roteirista) e muito ocupado, Perez não conseguiu cumprir os prazos de entrega e desenhou apenas as quatro primeiras edições da mini; enquanto Ron Lim assumiu as duas finais (o que levou a abandonar a revista do Capitão América). A saga foi um enorme sucesso e causou uma grande sensação nos leitores.

Na trama, quando o Surfista Prateado descobre que Thanos já tem a Manopla e tenta impedi-lo é quase morto, então, num ato de desespero, ruma para a Terra em busca da ajuda dos Vingadores para parar o Titã louco. No fim das contas, apesar de Warlock e do próprio Thanos atuarem como protagonistas da saga, os Vingadores têm um papel destacado, ao lado do Homem-Aranha, do Hulk e de alguns outros personagens da Marvel. A minissérie também lida com o legado de Thanos no Universo Marvel, colocando-o, por exemplo, contra Nebula, que alegava ser sua neta.
Um fato interessante na trama é que Thanos é bem-sucedido em seu plano e, de fato, apaga da existência metade da população do universo – o que num incrível ato de coordenação editorial faz metade dos personagens da Marvel desaparecer no meio de suas revistas específicas – e a luta dos Vingadores, Warlock e o restante dos heróis Marvel é tomar a Manopla do vilão e desfazer o estrago de algum maneira.
No fim do arco, a reunião dos heróis é bem-sucedida e eles conseguem privar Thanos das Joias do Infinito e Adam Warlock termina como depositário da Manopla. A ideia original de Starlin era que essa fosse a “última história” de Thanos – que termina a mini como um fazendeiro em um planeta isolado – mas claro, o enorme sucesso fez a Marvel obrigá-lo a criar sequências.
A mini gerou uma nova revista mensal, Adam Warlock and the Infinity Watch, reunindo os personagens cósmicos, como Gamora, Pip, Drax e Starfox; e Starlin estruturou a Trilogia do Infinito, com duas sequências ligeiramente menos interessantes: Guerra Infinita, publicada entre junho e dezembro de 1992; e Cruzada Infinita, de junho a dezembro de 1993, ambas com arte Ron Lim, de novo reunindo um enorme conjunto de heróis, mas sem grandes impactos no Universo Marvel em geral, de algum modo, repetindo sempre a mesma trama de alguém se apossar da Manopla do Infinito e os heróis precisarem se unir (às vezes com Thanos!) para retomá-la.

Em Guerra Infinita, Adam Warlock decide expurgar todo o bem e o mal que existe dentro de si para se tornar um ser neutro e digno da Manopla do Infinito e, como resultado, ressurge sua versão maligna, Magus, que foi um de seus grandes inimigos nas histórias dos anos 1970. Magus promove uma série de artimanhas, que envolvem usar uma combinação de Cubos Cósmicos, para derrotar Warlock e realmente consegue se apossar da Manopla, mas termina sendo derrotado por Thanos, que mostra aos heróis da Terra que a Joia do Poder da Manopla de Magus era falsa porque ele, Thanos, era quem a detinha. Cansado daquela guerra louca, Thanos abdica da Manopla também e a entidade cósmica conhecida como Eternidade (a mais poderosa entidade do Universo Marvel) determina que as seis Joias do Infinito não podem mais ser reunidas, o que, basicamente, as elimina da existência.
E na Cruzada Infinita conhecemos a Deusa, que seria a contraparte boa de Warlock, oposta a Magus. Pensando que está agindo pelo bem, a Deusa meio que tenta repetir o plano de Thanos de criar um universo perfeito e já que não pode usar as Joias do Infinito, vai em busca dos 30 Cubos Cósmicos que existem, mas termina derrotada em uma trama que envolve Warlock, Thanos, Galactus e Mefisto.
As duas segundas minisséries foram meio “mais do mesmo”, mas de qualquer modo, a Trilogia do Infinito serviu para consolidar o papel de Thanos como o maior de todos os vilões cósmicos da Marvel.
Fase de Bob Harras
Enquanto o primeiro braço da Trilogia do Infinito era publicada, na revista de linha dos Vingadores se iniciava a longuíssima passagem do escritor Bob Harras. Nascido em 1959, Harras ingressou na Marvel em 1984 como assistente do editor Ralph Machio na linha de revistas de licenciamento, como Cristal, Rom e Micronautas. Como era muito comum naquele tempo, ele começou a vender alguns roteiros e teve seu primeiro grande trabalho na aclamada minissérie Nick Fury vs. SHIELD, de 1988.

Após ganhar mais importância dentro da Marvel, assumindo a poderosa editoria dos títulos dos X-Men, Harras concomitantemente assumiu o roteiro de Avengers e, depois também escreveu uma elogiada temporada na revista Namor, the Submariner. Nos maiores heróis da Terra, ele teria uma longuíssima temporada de quase cinco anos.

Apesar da primeira edição ser desenhada por Andy Kubert, logo em seguida, os desenhos passariam a Steve Epting, que seria o companheiro do escritor por muito tempo na revista, praticamente três anos. A dupla manteve a abordagem de uma formação não-usual dos Vingadores, com Cavaleiro Negro, Viúva Negra, Crystalis, Sersi, Hércules, diminuindo a participação de membro mais tradicionais como o Capitão América e Thor e se esforçando para que velhas ameaças tivessem a aparência de coisas totalmente novas, o que eles foram bem sucedidos no início.

Começa em Avengers 334, de julho de 1991, excepcionalmente desenhada por Andy Kubert, e prossegue nas edições seguintes até o número 339 (todos com arte de Steve Epting e as capas feitas por Ron Lim), o arco The Collection Obsession, na qual os Vingadores lutam ferrenhamente contra inimigos novos: uma raça de pele azul chamada Brethren, lideradas por Thane Ector e sua parceira Sybil Dorn, se mostrando inimigos formidáveis, que vão derrotando os Vingadores a cada confronto, obrigando ao time a buscar reforços como Hércules e o Cavaleiro Negro (usando uma espada laser em vez de uma lâmina). E como os Inumanos estão envolvidos na batalha, Crystallis vem dar um reforço ao grupo, aproveitando que a garota de poderes elementares estava se divorciando de Mercúrio, que aparece no primeiro capítulo do arco.

Os Vingadores são obrigados a buscar ajuda no Colecionador e usam os artifícios científicos do Pantera Negra e do Fera para descobrir que os Brethren são uma raça criada pelos Celestiais, tal qual os Inumanos e os Eternos; mas nas edições 337 e 338, eles se revelam como um tipo de bactéria superevoluída para destruir mundos, finalmente, percebendo que é o próprio Colecionador quem está por trás de tudo, querendo vingança contra o nosso planeta. O Ancião do Universo revela sua verdadeira forma – bem menos humana do que o velhinho que conhecíamos desde os anos 1960 – e transforma os Brethren literalmente em bactérias macroscópicas mortíferas, até que Crystallis e Sersi conseguem fazer com que eles se configurem em uma Unimente (a união de todas as mentes em uma coisa só, tal qual os Eternos), o que lhes leva à derrota e à morte do Colecionador no número 339.
Em seguida, a edição 340 traz um número de férias, com roteiro de David Michelinie e Scott Lobdell e arte de Paul Abrams, com uma aventura mais mundana do Capitão América e Vespa contra um grupo paramilitar. Depois, as edições 341 e 342 trazem um pequeno arco, escrito por Fabian Nicieza, mas mantendo a arte de Steve Epting, em que o grupo racista Filhos da Serpente ataca novamente mobilizando uma crescente tensão racial em Nova York, o que envolve os jovens heróis dos Novos Guerreiros na ação, mas os Vingadores percebem que o vilão Animus, o Monge do Ódio, está usando seus poderes para inflamar os sentimentos de todos e se alimentando disso.

Usando o bom senso para controlar os sentimentos, e contando com a ajuda do Falcão, o Capitão América lidera a derrocada do vilão. Infelizmente, a ação revela que Rage tem apenas 14 anos de idade, apesar de aparentar ser um homem adulto, e por causa disso, ele não pode participar dos Vingadores, por ser menor de idade, encerrando sua ligação com o grupo depois de dezesseis edições.
Após o intervalo de três números, Bob Harras retorna aos roteiros, mantendo Epting na arte, para dar início ao seu mais célebre arco: The Gatherers (Os Coletores), nos números 343 e 344, começando em janeiro de 1992, no qual os Vingadores dão as boas-vindas a dois novos membros oficiais: Crystallis (que é oficializada) e o novo Thor, Eric Masterson, um humano comum que foi imbuído do poder do deus do trovão (nas aventuras solo do herói), o que servia para dar uma abordagem mais inexperiente e juvenil ao poderoso filho de Odin.

Enquanto isso acontece, os heróis são atacados pelo o que parece ser o Espadachim ressuscitado (mas não é, é outra pessoa) e um conluio de misteriosos vilões chamados Proctor e Magdalene. Mas isso foi apenas a introdução do problema, pois o fluxo da saga foi atropelado pelo megaevento Operação Tempestade Galáctica.
A Cisão dos Vingadores
A Marvel e a indústria de quadrinhos viviam um momento bastante singular naqueles primeiros anos da década de 1990. O megassucesso dos X-Men levou ao melhor momento comercial que as HQs viviam desde os tempos da II Guerra Mundial (!), com a revista Spider-Man 01 de Todd McFarlane vendendo 2 milhões de cópias em 1990 e X-Men 01 de Jim Lee atingindo a incrível marca de 8 milhões de unidades (recorde absoluto de todos os tempos).
Como um efeito para turbinar as vendas, além de capas alternativas e outros penduricalhos, a maior estratégia foram os megaeventos: grandes sagas que se estendiam por alguns meses atravessando uma dúzia de revistas diferentes, obrigando os leitores a comprarem revistas e personagens que normalmente não leriam apenas para poder ter a saga completa e entender os eventos confusos e labirínticos das tramas feitas por vários escritores diferentes e artistas distintos.
Os Vingadores estavam em um canto bem mais modesto desse processo, pois não vendiam nem de perto as mesmas somas de X-Men ou Homem-Aranha naqueles tempos, mas tiveram a sua cota de megaevento na saga Operação Tempestade Galáctica, que apesar de muita enchenção de linguiça e incluir revistas bem além da conta para dar volume à trama, não foi um produto inteiramente mal, pois pelo menos trouxe bons elementos de trama para o grupo e seu futuro.

Na revista principal dos Vingadores, Operação Tempestade Galáctica ocorre apenas nas edições 345, 346 e 347, começando em março de 1992, mas a história envolveu outras dezenas de revistas, como Avengers West Coast, Captain America, The Invicible Iron-Man, Quasar, Wonder-Man e The Mighty Thor, tendo ao final 19 capítulos, e serve como um tipo de sequência (espiritual) da superclássica Guerra Kree-Skrull. A ideia original surgiu de Mark Gruenwald, que era o escritor da revista do Capitão América e editor-executivo da Marvel (o mais alto na redação após o editor-chefe Tom DeFalco) como uma história para Quasar – cuja revista solo ele também produzia. Mas ao ser interpelado por DeFalco para um crossover dos Vingadores, Gruenwald, Bob Harras e Fabian Nicieza desenvolveram o plot geral.
Como além de escrever os Vingadores, Harras era o editor das revistas dos X-Men, ele teve a ideia de trazer os aliens S’hiar, que apareciam nas revistas mutantes desde o final dos anos 1970, mas raríssimas vezes haviam interagido com outra classe de personagens da Marvel, o que dava um tom de frescor. O megaevento se inicia, portanto, em Captain America 398, no qual Rick Jones é sequestrado pelos S’hiar, que estão em busca dos braceletes quânticos que ele usou ao dividir o corpo com o Capitão Marvel na década de 1970, para construírem uma arma superpoderosa. O Capitão então descobre que está ocorrendo uma guerra entre os impérios S’hiar e Kree e que os Vingadores precisam intervir sob a pena da Terra ser destruída no meio do processo.

Liderados pelo Capitão América, os Vingadores organizam um grande número de membros para combatê-los, organizando três frentes de batalha: um time para impedir os Kree (liderado pelo Capitão América – e sendo basicamente o time principal dos Vingadores então corrente, com Cavaleiro Negro, Sersi, Hércules e Crystallis); outro para lidar com os S’hiar (tendo o Homem de Ferro à frente – e sendo basicamente os Vingadores da Costa Oeste); e um terceiro para salvaguardar a Terra (liderado pela Vespa e sendo basicamente um grupo de reservas, como Mulher-Hulk, Starfox, Harpia, Falcão, Gilgamesh e outros).

Na edição 346, vemos o Capitão América ir ao encontro dos Kree, que recebem o ataque de Rapina (Deathbird), o que leva os aliens de pele azul a organizarem a Starforce: reunindo Capitão Atlas, Doutora Minerva, Supremo, Ultimus, Shatterax e Korath. Mas Rapina é bem sucedida em matar os dois governantes do Império Kree, o que coloca a Inteligência Suprema de volta ao poder do império, decretando que os Vingadores e os S’hiar devem morrer.
A guerra se acirra e quando o ciclo de histórias retorna para Avengers 347, os S’hiar dispararam a sua superarma: a negabomba, que dizima a maior parte do Império Kree. Os Vingadores conseguem escapar e voltam a Hala em busca de ajudar como podem, lá descobrem que toda a guerra foi tramada pela Inteligência Suprema, que acreditava que os efeitos radioativos da bomba iriam turbinar a evolução dos Kree e torná-los mais fortes. O líder da Starforce, Capitão Atlas, fica horrorizado com a informação e descobre que Minerva, sua amante, sabia do plano desde o começo. Desesperado, Atlas comete suicídio e Minerva morre junto com ele.

A informação também indigna os Vingadores e o Cavaleiro Negro propõe que eles deveriam matar a Inteligência Suprema por causa disso. Como líder da equipe, o Capitão América se opõe, invocando a regra do time de nunca matar, e propõe uma votação. A maioria vota ao seu favor, mas o Homem de Ferro não aceita a decisão, reclama sua condição de membro-sênior e fundador e revoca a decisão, dizendo que irá matar a liderança alienígena, e recebe o apoio de Cavaleiro Negro, Sersi, Hércules, Thor, Visão e Magnum.

O grupo dissidente segue em frente e ao atacar a Inteligência Suprema, percebem que ela não é exatamente um computador, como pensavam, mas um tipo de organismo vivo (talvez cibernético) – o que faz o Thor-Eric Masterson desistir da empreitada – mas os demais seguem em frente e eliminam a liderança do Império Kree. (Embora o fechamento da história mostre que ela sobreviveu).
Este ponto é importante porque planta mais sementes criativas que irão germinar em outras discordâncias entre Capitão América e Homem de Ferro, como a saga Guerra Civil, dos anos 2000, que iremos abordar à frente. Ao fim da saga, os Vingadores estão cindidos e o Capitão América afirma: “nada mais será o mesmo”, depois do que foi feito. Já estremecidas por causa dos eventos da Guerra das Armaduras, a relação daqueles dois heróis ficaria cada vez mais tensa.
A Costa Oeste de Roy Thomas
Em paralelo à fase de Bob Harras na revista principal, Roy Thomas continuou desenvolvendo a filial da Costa Oeste. Infelizmente, tal qual Steve Englehart antes dele, este derivado dos maiores heróis da Terra não conseguiu emplacar nas vendas nem causar grandes impressões no público ou na crítica, ainda que Thomas tenha defendido sua fase por mais de três anos!
Depois da batalha contra Immortus que já mencionamos, Roy Thomas e a esposa Dann Thomas, ainda acompanhados pelo desenhista Paul Ryan, continuaram com a união entre o falecido Ceifador e Ultron-13, entre Avengers West Coast 65 a 68, a partir de setembro de 1990, numa trama que incrementa a rivalidade entre o ex-líder Gavião Arqueiro e o Agente Americano, o líder oficial imposto pelo Governo dos EUA.

Como resultado, Clint Barton se arma para enfrentar o colega Jack Daniels, porém, o Agente Americano tinha superforça, podia erguer 10 toneladas, enquanto o Gavião não tinha nenhum superpoder. Os dois têm uma briga homérica em Avengers West Coast 69, e claro, Barton é derrotado, humilhado e sai do time por um tempo.

Daí para frente, o interesse momentâneo do público que a fase pretérita de John Byrne havia gerado na filial dos Vingadores se dispersa totalmente, e a revista vai se tornando cada vez mais obscura, o que não está diretamente relacionado à qualidade do material, necessariamente, mas a uma combinação de fatores. De qualquer modo, o casal Thomas, agora associado ao desenhista David Ross, fez um grande esforço e incluiu alguns novos membros ao time, como a Mulher-Aranha II (Julia Carpenter – a partir da edição 70) e o Relâmpago Vivo (edição 74).

A revista viveu seu último momento de ribalta entre os números 80 e 82, a partir de março de 1992, quando os Vingadores da Costa Oeste participaram da Operação Tempestade Galáctica, que deu bastante destaque ao Homem de Ferro, por exemplo. O casal Thomas e Ross aproveitaram a oportunidade para criar outro grande confronto com Ultron, que cria outra companheira na figura de Alkhema, entre Avengers West Coast 89 a 91, terminando em fevereiro de 1993.
Novos membros continuaram chegando, com o ex-membro dos Novos Guerreiros, Falcão Negro (Darkhawk – na edição 93) e, principalmente, James Rhodes, o Máquina de Combate, na edição 94. Isso é importante, porque Rhodes era, na verdade, um dos membros originais dos Vingadores da Costa Oeste, pois era ele quem vestia a armadura do Homem de Ferro naquelas histórias de 1984.

O fato é que, depois de ser um coadjuvante das histórias de Tony Stark por uma década e meia, uma grave desavença entre ambos levou Rhodes a “sequestrar” uma armadura alternativa do Homem de Ferro e usá-la, o que fez nascer a identidade de Máquina de Combate (War Machine), e o novo herói não apenas ingressou nas fileiras dos Vingadores da Costa Oeste como também ganhou suas próprias aventuras, se firmando como um herói por méritos próprios.
The Gatherers: Os Coletores
Depois da Operação Tempestade Galáctica, a saga mais importante da fase de Bob Harras na equipe principal nesse período foi The Gatherers/ Os Coletores, mas diferente daquela outra (contada diretamente em três edições – e outras tantas de outras revistas), esta se desenvolveu lentamente em três ciclos de histórias separadas por outros arcos. A introdução já havia ocorrido antes da aventura espacial, com a apresentação de Proctor, Magdalene e o falso Espadachim, e prossegue num segundo ciclo a partir de Avengers 348, de junho de 1990, (continuando a arte de Steve Epting) com uma história tocante: o Visão é procurado por Laura Lipton, a nora de Miles Lipton, homem cujo filho foi usado para recompor os padrões cerebrais do sintozoide quando foi remontado por Hank Pym.
O Visão se questiona se é capaz de expressar emoções, mas por fim, sob o olhar de compaixão de Crystallis, finge ter emoções e incorpora o filho de Lipton para que o velho morra em paz. Mas ele fingiu mesmo? Quando confrontado por Crystallis, Visão deixa escorrer uma lágrima tal qual naquelas suas primeiras aventuras.
Mas havia ação também: querendo desopilar dos eventos da Tempestade Galáctica, Dane Whitman e Hércules vão a um bar, mas terminam avistando a vilã Magdalene! Mas ela parece uma mulher comum… Os dois Vingadores decidem segui-la até seu apartamento e testemunham a mulher ser morta por Proctor. O que está acontecendo?
A história também mostra Binária – sim, Carol Danvers, a antiga Miss Marvel – fazendo uma passagem pela Terra.

Em Avengers 349, os deuses gregos Hera (da família) e Ares (da guerra) se unem para se vingar de Hércules e usam seus poderes para fazerem Thor/Eric Masterson se voltar contra o amigo, mas tudo se resolve no fim. Em seguida, na comemorativa Avengers 350, de agosto de 1992, Binária está aqui de novo, dessa vez, acompanhada pelos Piratas Siderais (o grupo espacial misto coadjuvante das histórias dos X-Men), cujo membro Raza quer se vingar dos Vingadores pelo o que aconteceu com o Império Kree. Mas Raza se excede e confronta os heróis, o que faz os Piratas se voltarem contra ele.
No fim, eles vão embora (na edição 352, que tem arte de Kevin West) e Binária decide ficar na Terra. Mas não será dessa vez que Carol Danvers reata os laços com os Vingadores.
Essas histórias também exploram Dane Whitman e Sersi se aproximando cada vez mais, enquanto Crystallis aparece como um terceiro vértice de um quase triângulo amoroso.
Seguem-se três edições de “intervalo“, na qual Len Kaminski (que escrevia a revista do Homem de Ferro) e o desenhista M.C. Wyman produzem uma história que traz o regresso (de novo) do Ceifador e uma nova versão da Legião dos Não-Vivos (que tinham acabado de aparecer na Avengers West Coast), como vemos nas edições 352 a 354.

A saga dos Gatherers, então, avança de verdade a partir de Avengers 355, de outubro de 1992, voltando Bob Harras e Steve Epting, na qual vemos o grupo dos Coletores completo, com Proctor, Magdalene, Espadachim, Sloth, Cassandra e o Coal Tiger, que é resgatado pelos vilões de uma outra dimensão e vêm à nossa, com uma missão de matar o Pantera Negra, caso contrário, por algum motivo misterioso, o Coal Tiger irá morrer. Enquanto isso, vemos o Cavaleiro Negro e Sersi efetivamente iniciarem um romance, ao passo que isso deprime Crystallis.
Na edição 356, os Coletores vão a Wakanda matar o Pantera Negra e conseguem subjugá-lo, mas o reforço dos Vingadores impede o pior, e o Coal Tiger morre, enquanto o Espadachim é capturado, revelando no número 257, que os vilões advêm de uma outra dimensão e ele não é Jacques Duquesne, mas outro homem que assumiu a identidade do Espadachim em outra versão da Terra, chamado Phillip Javert.
O número 358 traz a volta de Arkom (lembram dele?) que está em batalha contra o rival Askam, um feiticeiro que quer sacrificar uma mulher para reverter uma instabilidade nos anéis que circundam o planeta no qual vivem em outra dimensão, no que resulta os Vingadores viajarem a esta dimensão e resolver o problema usando os poderes cósmicos de Sersi e os elementais de Crystallis, no número 359. Mas ao pensar que se deve agradecer aos deuses, Askam sacrifica a tal mulher e é morto por Sersi em um ato de fúria.

Avengers 360, de março de 1993, dá início ao ciclo de comemoração dos 30 anos de publicação dos Vingadores!!! Na trama, conhecemos outro membro dos Coletores: o Anti-Visão, uma versão maligna e colorida do sintozoide vindo de outra dimensão, que usando seus poderes de intangibilidade se “funde” ao nosso Visão e ataca os Vingadores justamente no momento em que o Capitão América regressa às fileiras do time, preocupado com as ações violentas do grupo. Na edição 361, o eterno Ikaris aparece e explica que a instabilidade e agressividade de Sersi se devem ao fato dela ter momentaneamente se unido à Unimente dos Brethren (mais de vinte números antes) e, para ajudá-la, cria um vínculo mental entre ela e o Cavaleiro Negro, o que os aproxima ainda mais.

No número 362, o Anti-Visão tenta matar o Espadachim, ainda prisioneiro dos Vingadores, mas é derrotado por Sersi. Os Vingadores decidem partir atrás dos Coletores e descobrem que a base deles fica no topo dos Andes, na América do Sul, e vão até lá na edição 363, e recebem a ajuda de Magdalene, quando ela perceber que Proctor iria matar o Espadachim. Em reação, Proctor mata o Anti-Visão e foge. O Visão verdadeiro é liberto por esse ato, mas guarda para si, dali em diante, algo das emoções de sua contraparte extradimensional, bem como seu visual laranja, amarelo e verde.
Este ainda não é o fim da saga dos Gatherers, mas encerra o segundo ciclo de suas histórias.

Avengers 364 dá início ao pequeno arco comemorativo dos 30 anos da revista, na qual os Vingadores estão no frio dos picos nevados dos Andes e são atacados por uma comitiva Kree liderada por Galen Kor, chamada de Legião Lunática, que culpam os heróis pelo extermínio do Império Kree na Tempestade Galáctica, e os heróis da Terra recebem a ajuda da renegada Deathcry – que será uma membra do grupo no futuro – mas é feito prisioneiro (no número 365) e precisa desesperadamente impedir que uma nova versão da negabomba destrua nosso sistema solar (edição 366); o que é conseguido quando Sersi consegue alterar as moléculas da bomba, tornando-a menos destrutiva: ela apenas vaporiza a pequena ilha do Pacífico em que estavam, mas sem maiores danos.
Repare que Avengers 366, de setembro de 1993, marca exatamente o 30º aniversário da revista.

Em seguida, as edições 367 a 369 trazem a saga Bloodtie, um crossover com os títulos dos X-Men (que eram editados por Harras, não custa lembrar), na qual Fabian Cortez, o líder dos Acólitos (um grupo mutante terrorista), procura atingir a família de Magneto, atacando Feiticeira Escarlate, Mercúrio e a filha dele e Crystallis, Luna, neta do mestre do magnetismo.
A dupla de criadores descansa um pouquinho – e as edições 370 e 371 trazem um intervalo por Glenn Herdling e Mike Gustovich – para a volta de Harras e Epting e finalmente termos o encerramento da saga dos Gatherers, em seu terceiro clico de histórias, começando em Avengers 372, de março de 1994, na qual Proctor organiza seu ataque final e, em consequência das histórias anteriores, Mercúrio regressa ao time. É importante lembrar que neste ponto, Mercúrio tinha passado alguns anos como membro da equipe X-Factor, um dos derivados dos X-Men, num conjunto de histórias que reestabeleceu totalmente seu status heroico (posto em dúvida naquelas histórias dos anos 1980 de Steve Englehart, mas resgatado já na fase de John Byrne na Costa Oeste).

Na edição 373 Proctor dominar a mente de Sersi e fazê-la atacar os Vingadores, e no número 374, finalmente descobrirmos a identidade de Proctor: ele é a versão de Dane Whitman em outra dimensão, incrementado com os poderes da própria Sersi e do Vigia. Quando há alguma calmaria, Mercúrio pede que o Cavaleiro Negro não invista em Crystallis, como ele vinha fazendo apesar de sua relação com Sersi, para que o velocista tenha alguma chance com a ex-esposa.


A batalha final se dá em Avengers 375, de junho de 1994, em que o time padrão (Capitão América, Cavaleiro Negro, Sersi, Hércules, Crystallis, Viúva Negra) ganha o reforço de Mercúrio e de Hank Pym retomando a identidade heroica de Gigante (pela primeira vez usando um uniforme em 12 anos!) com a morte do vilão nas mãos do Cavaleiro Negro.
No pós-batalha, Bob Harras encerra toda uma fase, com Dane Whitman e Sersi deixando os Vingadores, para que a eterna possa “tratar” de seu desequilíbrio e Dane possa ficar com ela, ao mesmo tempo em que abre espaço para Mercúrio e Crystallis. A edição termina a longuíssima contribuição de Steve Epting aos maiores heróis da Terra, após quase quatro anos.

Como que para reforçar que uma fase se encerrava, segue-se um conjunto de histórias tapa-buraco ou de férias, com Avengers 376 e 377 escritas por Joey Cavallieri e desenhadas por Grant Myehm; e as edições 378 e 379 escritas por Bob Harras, mas com arte de Stewart Johnson, na qual vemos uma aventura com Deathcry sendo perseguida novamente por aquele mesmo grupo Kree, a Legião Lunática, e a participação do Espadachim.
Logo mais uma fase totalmente nova começaria.
O Fim dos Vingadores da Costa Oeste e a Força Tarefa
As vendas baixas motivaram a Marvel a descontinuar a revista dos Vingadores da Costa Oeste. O último arco de Roy e Dann Thomas e David Ross começa em Avengers West Coast 98, na qual o grupo combate uma nova versão da Legião Letal, com novos vilões, e culmina numa batalha contra Mefisto (o diabo da Marvel) na edição 100, de novembro de 1993, na qual há morte da Harpia, que fora membra da equipe durante a maior parte de sua existência.
A última história de sua longa temporada foi a edição 101, com um crossover com a saga Bloodties dos X-Men.

Tudo vai pelos ares em Avengers West Coast 102, janeiro de 1994, na qual assumem os roteiristas Dan Abnett e Andy Lanning, mantendo o desenhista David Ross, e que transformam os problemas de vendas do grupo em um tipo de sensação de fracasso (mobilizado pela morte de Harpia) e o Capitão América propõe a extinção dos Vingadores da Costa Oeste, mas põe para que os membros do grupo votem.
E surpreendendo a todos, o Homem de Ferro – o líder moral do grupo – vota pelo fim também, o que leva realmente ao encerramento da filial. Em seguida, Stark faz uma proposta “melhor”: formarem um grupo próprio, independente, nascendo a Força-Tarefa. E sendo o gancho para uma outra empreitada.

Com roteiro de Dan Abnett e Andy Lanning e arte de Tom Tenney, a nova revista Force Works 01 estreou em julho de 1994, com uma proposta mais agressiva, com histórias mais violentas, desenhos mais exuberantes e temas mais ligados à magia, misticismo e terror, dentro da pegada que se convencionou chamar de Estilo Muscular, uma estética popularizada pela editora Image Comics, que emergiu como a principal concorrente da Marvel e da DC Comics.
A grande herança narrativa que a Força Tarefa deixou para o futuro foi que Simon Williams, o Magnum, que terminou por morrer na primeira missão do novo grupo na edição 01. Embora sem causar grande impressão, Force Works durou 22 edições até ser cancelada em abril de 1996.
O Efeito Muscular
Uma fase totalmente nova começa em Avengers 380, de novembro de 1994, com a última pernada de Bob Harras, agora, com desenhos do brasileiro Mike Deodato Jr., que na época se tornava um dos maiores desenhistas da Marvel. O primeiro arco envolve um interessante confronto contra o Alto Evolucionário, mas infelizmente, logo em seguida, a qualidade dos roteiros começa a cair, em contraposição aos belos desenhos do brasileiro.

Falando nisso, esse momento marca toda uma mudança estética não apenas para os Vingadores, mas para a indústria dos quadrinhos como um todo com desenvolvimento expresso do Efeito Muscular – com hipersexualização das personagens femininas (que não raras vezes apareciam em poses provocantes e trajes sumários), do exagero anatômico para alcançar efeito, do recurso de roupas esvoaçantes e cheias de detalhes em alto relevo (como ombreiras, joelheiras, jaquetas etc.) – e da difusão da pintura por computador (substituindo a pintura manual que existia desde o início das HQs na década de 1930, o que permitia cores mais vivas, mais detalhes, nuances, degradês e efeitos diversos).
No caso dos Vingadores isso veio com um novo layout de capa e uma nova logo, que estreou logo naquele número 380, e num expressivo redesign dos personagens, que adotaram novos uniformes mais chamativos. No campo narrativo, os roteiros tiveram que acompanhar o exagero exigido por campanhas de marketing agressivas, a necessidade de eventos bombásticos e o cumprimento dos crossovers anuais, o que em conjunto não fez bem às HQs como um todo. O time de Vingadores dessa época não era tão diferente do que a revista vinha desenvolvendo antes, apenas voltou a evitar os “três grandes”, destacando Viúva Negra, Crystallis, Hércules, Mercúrio, Deathcry e Thunderstrike (o mesmo Eric Masterson, mas agora, com apenas um fração do poder de Thor e separado do deus do trovão).

Em termos de histórias, Harras e Deodato Jr. criaram uma grande saga envolvendo os Vingadores contra o Caveira Vermelha, que começou em Avengers 388, de julho de 1995, mas nesse ponto, o exagero começou a cobrar seu preço e as vendas começaram a cair drasticamente. E não apenas dos “maiores heróis da Terra”, mas de toda a indústria das HQs.
Os estudiosos perceberam que as altíssimas vendagens do início da década criaram um movimento especulativo similar à bolsa de valores: colecionadores compravam um grande número de exemplares da mesma revista para depois revendê-la por um preço mais alto; ainda mais porque as editoras apostaram em uma série de penduricalhos para as capas: versões alternativas, cores alteradas, efeitos laminados, 3D, cromados, alto-relevo etc., o que tornava determinadas edições raras.

Inicialmente, isso aqueceu mais ainda o mercado, que viveu um apogeu comercial incrível entre 1990 e 1993, mais ou menos, com vendagens só equiparadas àquelas da década de 1940. Mas o exagero e a repetição minaram a qualidade, então, não houve jeito: as vendas despencaram! Só que agora o prejuízo era maior aos “especuladores”, que fugiram do mercado e esvaziaram mais ainda as vendas, em um efeito em espiral decrescente.
Além disso, enquanto leitores mais jovens chegavam encantados com a profusão de cores, músculos, seios e fios-dentais das histórias e capas; os leitores mais velhos (a grande maioria) começaram a ficar desapontados demais e a desconhecer os personagens que liam há tempos e gradativamente começaram a se afastar do mercado, o que fez a indústria de HQs perder sua base sólida e começar a flutuar. Somando o interesse das novas gerações em novas mídias eletrônicas, como videogames e os desenhos animados na TV, as vendas caíram mais ainda.
Em 1996, o alerta na Marvel disparou bem alto: a empresa corria sérios riscos financeiros. E ainda iria piorar…
Como se toda a desgraça não fosse suficiente, na Avengers 390, de setembro de 1995, por Harras e Deodato, inicia-se aquele que é o mais polêmico dos arcos de histórias da equipe: The Crossing. Em uma batalha contra Kang, os Vingadores recrutam um Tony Stark ainda adolescente para ajudá-los a vencer, quando descobrem que o Stark do presente teve a mente dominada pelo vilão.

Era uma estratégia dos roteiristas da velha guarda de resguardar o personagem Tony Stark, que se comportava de modo radical, passando por cima de tudo e de todos por aquilo que acreditava desde eventos como A Guerra das Armaduras, Tempestade Galáctica e as histórias da Força-Tarefa. Mas o tiro saiu pela culatra: no típico afã de “evento bombástico” para gerar mídia e (presumivelmente) aumentar as vendas, Tony Stark morre para salvar o mundo e seu lugar é substituído por sua versão mais jovem (apelidada de Teen Tony).
É o ponto mais baixo da equipe.
A Falência da Marvel, o Fim e o Fim De Novo
Mas sempre pode piorar…
Com as vendas cada vez mais baixas e a Marvel perigando fechar as portas, o conselho de editores (que substituiu a figura do editor-chefe) e que estava submetido ao departamento de marketing (que era o topo da cadeia de decisões – sim, isso é tão ruim quanto parece) teve a “brilhante” ideia de mudar tudo: veio o maior de todos os crossovers, Massacre (Onslaught), na qual um poderosíssimo vilão surge da união das mentes do Professor Charles Xavier e de Magneto, o que obriga aos Vingadores se matarem ao usar sua energia vital para derrotar o monstro.

É o fim do volume 01 da revista Avengers, no número 402, de 1996, ainda por Harras e Deodato.
Todos os personagens da Marvel que não fossem supercampeões de vendas – como os X-Men, o Homem-Aranha e quase mais ninguém – morreram na batalha do Massacre. E agora?
Veio então a grande “sacada” dos editores… Mas antes uma explicação: quando a indústria atingiu seus maiores picos ali no início da década de 1990, grande parte do “mérito” caiu nas mãos dos desenhistas-sensações que estabeleceram as bases do Efeito Muscular, como Jim Lee (nos X-Men), Todd McFarlane (no Homem-Aranha) e Rob Liefeld (X-Force).
Esses artistas começaram a ganhar muito dinheiro, mas começaram também a demandar mais controle. Mas as redações das editoras, em particular da Marvel na época, foi muito resistente a dar espaço aos desenhista em vez dos escritores, e como resultado, num movimento articulado impressionante, Lee, McFarlane e Liefeld se demitiram da Marvel em 1992, agregaram outros artistas (como Mark Silvestri e Eric Larsen) e fundaram uma nova editora chamada Image Comics, onde cada um deles comandava o próprio selo e editava suas revistas. Com personagens como Spawn, WildCATS, Gen 13, Savage Dragon etc., a Image foi um grande sucesso e se tornou a terceira maior editora de HQs dos EUA, atrás apenas de Marvel e DC.

Então, uma vez que a crise estava grande e os anos amainaram as mágoas (e o orgulho), a Marvel fez um acordo com os artistas da Image para eles editarem os quatro novos títulos principais da Marvel que não fossem da franquia dos X-Men e do Homem-Aranha, ou seja: Vingadores, Capitão América, Homem de Ferro e Quarteto Fantástico. Na distribuição, Jim Lee ficou responsável pelos dois últimos e Rob Liefeld pelos dois primeiros.
Foi um desastre completo.

A megassaga Heróis Renascem inicia em outubro de 1996 na nova Avengers (Vol. 2) 01 que trouxe roteiros de Rob Liefeld e arte de Jim Valentino, em histórias sem pé nem cabeça. Nem graça. A proposta era contar novas origens “mais modernas” dos heróis e apresentar versões mais “fodásticas” de todo mundo, mas o plano geral carecia de sentido e propósito.
O projeto não agradou e terminou após 13 edições. O arco todo foi pavoroso, a arte era quase medonha e só piorou tudo.
A Marvel pediu concordata em 1997 e passou por um rigoroso processo de recuperação judicial sob a fiscalização do Tesouro dos EUA, o que resultou na mudança de propriedade do grupo. Uma nova organização editorial foi montada e o cargo de editor-chefe foi reestabelecido e entregue para nosso velho conhecido Bob Harras.
Sua missão? Criar histórias de qualidade que atraíssem de volta os velhos e os novos leitores.
Os Thunderbolts
Enquanto os Vingadores viviam suas bizarras aventuras do Estilo Muscular de Heróis Renascem, o Universo Marvel tradicional seguia existindo, com uma narrativa que explorava uma Terra arrasada pela morte dos Vingadores e do Quarteto Fantástico, enquanto outros personagens, como Homem-Aranha e os X-Men seguiam suas aventuras. Mas a ausência dos dois grupos de heróis criou um desequilibro e parte disso foi preenchido pelos Thunderbolts.

Criados pelo escritor Kurt Busiek e o artista Mark Bagley, o novo grupo de “heróis” fez sua estreia em Incredible Hulk 449, antes de estrearem em seu próprio título, em The Thunderbolts 01, de janeiro de 1997. Na trama, o novo grupo surge do nada e começa a ajudar a humanidade e apenas na última página o público descobre que, na verdade, eles são ninguém menos do que os Mestres do Terror reunidos se fingindo de heróis para conseguir segredos e ganhar vantagens e poder com isso, liderados por Barão Zemo (Cidadão V), mais Rocha Lunar (Meteorita), Gigante (Atlas), Besouro (Match-1), Armador (Tecno) e Colombina (Soprano), ganhando a heroína ingênua Choque (Jolt, no original), que realmente acreditava que eles eram heróis.

A revista Thunderbolts pode ser pensada como um spin-off dos Vingadores (pois envolve personagens que faziam parte do universo dos heróis desde sempre) e fez bastante sucesso com a escrita de tipo clássico de Busiek, que rapidamente emergiu como um dos grandes nomes da indústria de quadrinhos, e desenvolveu uma narrativa bastante interessante, com os vilões gradativamente sendo tocados pelos atos heroicos até decidirem realmente se redimirem (à exceção de Zemo, Rocha Lunar e Armador).
No fim das contas, quando Zemo percebe que seus planos estão indo por água abaixo por causa disso, ele revela ao mundo a real identidade dos Thunderbolts (edição 10) e isso cria um cisma no time, com uma batalha final na edição 12, que contava já com o retorno dos Vingadores e do Quarteto Fantástico para combatê-los e ajudá-los. Isso leva ao fim da primeira fase do time, mas a partir da edição 16 começa uma nova fase, na qual os ex-vilões são apadrinhados pelo Gavião Arqueiro (que também teve problemas com a lei antes dos Vingadores) e ele lidera a equipe em reais atos heroicos.
Retomada do Classicismo
Nem tudo era terra desolada naqueles tempos. Uma classe de autores mais tradicionais se ergueu contra o domínio do Efeito Muscular ainda na época do auge deste, inclusive, criando obras que serviam de manifesto contra aquele movimento majoritário, especialmente na DC Comics em duas obras exemplares escritas por Mark Waid: Reino do Amanhã (com arte pintada de Alex Ross) e Liga da Justiça: Ano Um (com arte de Barry Kitson).

Mas a obra pioneira dessa reação veio da Casa das Ideias: Marvels, uma minissérie de quatro edições escritas pelo relativamente novato Kurt Busiek e com a maravilhosa e belíssima arte pintada a óleo de Alex Ross. A trama mostrava um homem comum – um fotógrafo – vivendo no Universo Marvel ao longo das eras, desde as aventuras na II Guerra Mundial até às tramas dos anos 1970. O texto simples e efetivo e a arte que ressaltava as qualidade icônicas da arte clássica das Eras de Ouro, Prata e Bronze mostravam que a abordagem clássica mantinha sua força iconográfica e iconoclasta intactas.
Com o fundo do poço da quase falência e dos Heróis Renascem, a Marvel decidiu apostar nesse neoclassiscismo numa espécie de retomada da velha (e gloriosa) Marvel. Os editores criaram a saga O Retorno dos Heróis, na qual é explicado que quando os heróis se uniram em energia para derrotar o Massacre, suas essências foram salvas pelo poderosíssimo Franklin Richards (o filho do Sr. Fantático e da Mulher-Invisível) em uma espécie de universo artificial compacto (que era o mundo de Heróis Renascem) até que alguém descobriu isso – Franklin era uma criança – e resgatou os heróis. Pronto! Resolvido!

Para os Vingadores, Bob Harras (agora como editor-chefe) comissionou o editor Tom Brevoort para administrar o título e os dois selecionaram justamente Kurt Busiek – um grande fã e conhecedor do universo Marvel clássico – para assumir os roteiros; e para a arte, quem melhor do que George Perez? Que desde A Manopla do Infinito fazia alguns trabalhos pontuais na Casa das Ideias, mas ainda não tinha assumido uma revista mensal em longo termo.
Busiek e Perez se mostraram as pessoas certas para esse novo momento, criando uma longa fase de altíssima qualidade de teor clássico e relevante.

Começa em Avengers (Vol. 3) 01, de fevereiro de 1998: após voltarem a nossa realidade, os Vingadores se reagrupam, com Capitão América, Thor, Homem de Ferro, Gigante e Vespa (basicamente, o time original) se reunindo para escolher os novos membros, mas um maciço ataque da feiticeira Morgana, reuniu praticamente todos os membros (vivos) da equipe, numa aventura do tipo “quem é quem” que ocupa os três primeiros números.

Avengers (vol. 3) 04 finalmente traz a nova formação oficial dos Vingadores: com liderança do Capitão América mais Homem de Ferro, Thor, Feiticeira Escarlate, Gavião Arqueiro, Warbird, Visão (apenas como um holograma – uma visagem – pois seu corpo fora destruído) e novos membros reservas Justiça e Flama (Firestar, no original), dois ex-membros dos Novos Guerreiros. Magnum que tinha ressurgido na edição anterior como um tipo de projeção de energia também irá logo se agrupar e, pouco tempo depois, retoma sua corporalidade.
Warbird era ninguém menos que Carol Danvers assumindo sua terceira identidade heroica – depois de Miss Marvel e Binária – mas voltando a usar o seu segundo uniforme, ainda lá dos anos 1970. Era a primeira vez que a personagem atuava de verdade com os Vingadores desde aquela polêmica história de quase trinta anos antes e, em certo sentido, era uma forma de George Perez se redimir com a heroína, que passaria a ter um papel protagonista na revista.
Aliás, o desenvolvimento de personagens seria uma marca forte dessa maravilhosa fase de Busiek e Perez: os artistas não ignoraram as rusgas e diferenças morais entre o Capitão América e o Homem de Ferro; mostravam as consequências psíquicas das aventuras para Carol Danvers (que é superpoderosa, mas nunca está satisfeita consigo mesmo, nunca se acha boa o suficiente e termina desenvolvendo um tipo de alcoolismo tal qual Stark no passado; e também aprofundaram o peso do passado em Wanda Maximoff.

Inclusive, como um tipo de reparação histórica necessária, Perez passou a desenhar Wanda com as típicas feições de uma mulher cigana do Leste Europeu, o que foi um efeito bem interessante. E após ela usar seu uniforme clássico por um tempo, Perez criou um novo com referenciais orientais também. Ah, e ela usa seus poderes para reconstituir o corpo do Magnum e os dois terminam se reconciliando e se envolvendo amorosamente. O Visão, por sua vez, se mantém como uma figura fantasmagórica e sem aquela pequena dose sentimental ganha nas histórias de Harras anos antes.
Busiek e Perez não escondiam que seu referencial era o clássico e a primeira ameaça dos Vingadores nessa nova fase é justamente o Esquadrão Supremo, nas edições 05 e 06, com um glorioso quebra pau como nos velhos tempos. Mas mostram que eram conhecedores de elementos mais recentes, pois a Legião Lunática ataca na edição 07. Nessa aventura, Warbird termina matando um dos oponentes – ela se excedeu porque tinha bebido – e os Vingadores decidem realizar uma corte marcial para ela, mas Carol decide sair do grupo antes disso.

Seu lugar na equipe será ocupado pelo Triatlo, um velocista – como Mercúrio – que aparece na edição 08. A sequência de oponentes clássicos prossegue, com Moses Magno (edição 09), Ceifador (10), Thunderbolts (12), a Gangue da Demolição (16)…
Dois números de férias – as edições 17 e 18 – foram escritas e desenhadas por Jerry Ordway, na qual Warbird brevemente retorna à equipe para auxiliá-los a combater um de seus velhos inimigos, o Doomsday Man, mas era apenas um descanço para que Busiek e Perez pudesse preparar o grande momento que veio a seguir…
O ápice da fase é a saga Ultron Ilimitado, publicada em Avengers 19 a 23, começando em agosto de 1999, em mais um clássico confronto com o robô maligno.
Na trama, Ultron retorna agora liderando um exército de drones comandados por eles, o que lança um grande desafio aos Vingadores conseguirem detê-los a todos. O vilão, inclusive, é o responsável pela morte da população de um país inteiro: a fictícia Slorenia, no Leste Europeu! Um super-time de heróis com Capitão América, Thor, Homem de Ferro, Feiticeira Escarlate, Visão, Golias, Vespa, Pantera Negra, Magnum, Flama e Justiça não medem esforços para derrotá-lo.
No fim, após conseguirem neutralizar os drones, os Vingadores encurralam Ultron e Hank Pym (Golias) usa um artefato de vibranium para destruir seu corpo e sua mente. Essa história também revela que a mente computacional de Ultron foi criada a partir dos padrões cerebrais de Pym, assim como a do Visão foram do Magnum. É uma história colossal e um clássico moderno.
Paralelamente, Busiek também produziu a maxissérie Avengers Forever, em 12 capítulos publicados entre 1998 e 1999, coescritos com Roger Stern e desenhados por Carlos Pacheco, que mostram uma batalha contra Kang, o conquistador, e Immortus e com suas viagens no tempo para explorar o passado da equipe e corrigir (ou esclarecer) aspectos cronológicos de mais de 30 anos de publicações.

Na trama, o ex-ajudante Rick Jones se torna o responsável por recrutar uma equipe de Vingadores composta por membros de várias épocas diferentes, tomados de momentos-chave de suas cronologias, como o Capitão América logo após a saga do Império Secreto (e o abandono de sua identidade para virar o Nômade); o Gavião Arqueiro quando mudou seu uniforme após o fim da Guerra Kree-Skrull; a Vespa do presente; o novo Capitão Marvel (Gengis-Vell, o filho perdido de Mar-Vell); e não somente um, mas dois Hanks Pyms: o Gigante do presente (embora voltando a usar o belo uniforme do Golias em azul e amarelo de 1966) e o Jaqueta Amarela imediatamente antes de seu casamento com Janet Van Dyne, ou seja, uma versão raivosa, autoconfiante e algo inescrupulosa dele mesmo no que agora era tomado como outro episódio de surto psicótico em vez da desculpa dos gases experimentais das histórias de 1969.
Mas ao longo da saga, vários outros membros fazem participações, como Serpente da Lua, Fera, Felina e Magnum (todos retirados das aventuras dos anos 1970).

De volta à revista mensal há uma edição de férias em Avengers 26, de 2000, por Kurt Busiek e o ótimo desenhista Stuart Immonen, quando o Capitão América monta uma nova equipe para uma única missão, com Warbird, Homem-Formiga (Scott Lang), SilverClaw e o Capitão Marvel/Gengis-Vell. Mas era apenas um one-go.
Os Vingadores de verdade são reestruturados em Avengers 27, continuando a fase de Busiek e Perez, agora liderados pela Vespa e com Hank Pym (Golias), Homem de Ferro, Warbird, Feiticeira Escarlate, Mulher-Hulk e Triatlo. Esse time é testado contra oponentes clássicos, como o Ceifador, Madame Máscara e Conde Nefária.

Essa dourada fase se encerra em Avengers 37, quando George Perez se afastou do título após três anos. Kurt Busiek se mantém no roteiro e a arte é assumida pelo também ótimo Alan Davis na edição 38, de 2001. A partir desse número, o Capitão América regressa ao time e a liderança da equipe passa a ser dividida entre a Vespa e ele. Esta edição também dava início a outra grande saga da equipe: A Dinastia Kang. Esse longo arco transcorreu por 15 edições de Avengers, entre os números 41 e 55 e o Avengers Annual 2001, publicadas entre 2001 e 2002, ainda com textos de Busiek e começando com desenhos Alan Davis, mas passando a Kieron Dwyer, o brasileiro Ivan Reis e do argentino Manuel Garcia.
Na trama, Kang, o conquistador, um dos maiores inimigos da história dos Vingadores, retorna do século 30, onde vive, para dominar o planeta no início do séxulo XXI. Ao lado do Centurião Escarlate, Kang aparece defronte o prédio da ONU e o destrói sem matar ninguém, dizendo que não quer guerra, mas salvar a Terra de si mesma, exibindo vários futuros terríveis que envolvem nossa história e que ele quer impedir. Mas isso significa se submeter a ele e os Vingadores não aceitam.

Ao longo da longa trama, Kang consegue que vários outros grupos de vilões se unam a ele em sua empreitada e consegue, realmente, dominar o mundo. Isso é importante, porque é a primeira vez na história da Marvel que um vilão realmente consegue dominar o mundo, apesar de todas as tentativas existentes desde 1961! (Vale lembrar que a maior história de Busiek até então, Ultron Definitivo, a terrível inteligência artificial havia dominado um país. Mas com a resistência dos Vingadores, os maiores heróis da Terra conseguem derrotá-lo.

Em meio à aventura, os Vingadores descobrem que o Centurião Escarlate é Marcus, o filho de Kang, o que de certo modo o conecta diretamente ao Marcus que estuprou e aliciou Carol Danvers lá atrás, em Avengers 200. Na linha do tempo da Marvel, Kang e Immortus – o pai daquele outro Marcus – são a mesma pessoa: um homem do século 30 que descobre como viajar no tempo e vai para o Egito Antigo e se torna um faraó, depois, assume a identidade de Centurião Escarlate, antes de se tornar, Kang, o conquistador, um dos maiores (senão o maior) inimigo dos Vingadores. Mas quando envelhece, mais maduro, ele se torna menos vilanesco, apenas meio manipulador, e se torna Immortus, quando abandona a tecnologia e assume poderes místicos.
Mesmo não sendo exatamente a mesma pessoa, a presença de Marcus dá asco à Carol, mas mesmo assim, Marcus se apaixona por ela (de novo?) e resolve ajudá-la na luta contra o Mestre do Mundo, outro vilão de tecnologia alienígena cujo equipamento poderia ajudar os Vingadores a vencer. Warbird termina matando o Mestre do Mundo na luta, em Avengers 48.
Após uma grande batalha global, os Vingadores vencem Kang (no fim, ele realiza um duelo contra o Capitão América e é derrotado) e o prendem para ser julgado por seus crimes, mesmo com ele pedindo para morrer em combate. Mas Marcus aparece e resgata o pai. De volta à sua base, Kang diz que sabe que o filho o traiu, ajudando Warbird e o mata.
Dinastia Kang encerrou a longa e maravilhosa fase de Kurt Busiek à frente dos Vingadores após mais de quatro anos, e Avengers (vol. 3) 57, de 2002, deu origem à temporada de Geoff Johns (mais tarde mais famoso como um dos maiores nomes da DC Comics na década de 2010), contando inicialmente com desenhos de Kieron Dwyer. Aquela edição dá origem ao arco Confiança Global e inaugura uma formação ligeiramente diferente de heróis, com Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Hank Pym (agora, de novo como Jaqueta Amarela), Vespa, Warbird, Mulher-Hulk, Feiticeira Escarlate, Jack of Hearts, e participações constantes de Falcão, Pantera Negra e Homem-Formiga (Scott Lang).
Lang, por exemplo, se efetiva no número 62, se tornando membro oficial do time pela primeira vez. Uma curiosidade dessas histórias é que houve a retomada do casal Pym-Dyne depois de quase 20 anos de separação no mundo editorial.
O principal tema de Confiança Global é os Vingadores voltarem a ser comissionados pela ONU, sob a fiscalização de Henry Gyrich, mas ao mesmo tempo, sofrerem grande oposição do Secretário de Defesa dos EUA, Dell Rusk, que na medida em que a trama avança, revela ser o vilão Caveira Vermelha. No fim, o vilão é detido, em Avengers 70, por Johns e arte de Oliver Coipel.
Após esta edição, é oferecida a Carol Danvers um alto cargo na Secretaria de Defesa dos EUA, como um tipo de intermediária entre os heróis e o mundo da política, e ela aceita e se afasta do time.
Depois, houve a fase do escritor Chuck Austen, que fez uma passagem rápida, incluindo uma Capitã Britânia no grupo, versão feminina do tradicional herói inglês dos anos 1970.
Essa fase com Johns e Austen foi uma relativamente longa, mas sem grandes atrativos. O Vol. 3 de Avengers é encerrado no número 84, de 2004, num arco que uniu os Vingadores aos Novos Invasores, nova versão da equipe de heróis da II Guerra Mundial, que agora trazia Namor e Agente Americano com versões modernas de Spitfire, Union Jack e Caveira Flamejante, que inclusive, ganhariam uma revista própria logo em seguida, como sequência desta história.
Depois disso, a Marvel decide retomar a numeração original do Vol. 1 de Avengers, de modo que o que seria o vol. 3 número 85 se tornou a edição 500. Mas antes de ir a este ponto é preciso fazer uma longa contextualização.
Mudança do Status Quo: Chegou o Século XXI
Quando Avengers chegou ao número 500 tivemos a entrada em uma Era totalmente nova para os Maiores Heróis da Terra, resultado na mudança de status quo não só da equipe, mas de alguns de seus principais personagens e a adoção de novos caminhos editoriais. Daí, é necessário apresentar o cenário da Marvel no início do Novo Milênio.
Após o traumático período de concordata em 1997, a gestão de Bob Harras como editor-chefe possibilitou realmente a melhora das histórias, como as temporadas de Kurt Busiek nos Vingadores e no Homem de Ferro, o Thor de Dan Jurgens, o Capitão América de Mark Waid…, mas ainda não era o suficiente. Era preciso uma grande mudança que trouxesse mais leitores para as revistas e, nesse ponto, chamou à atenção a iniciativa do Selo Marvel Knights, coordenado pelo desenhista Joe Quesada, que trazia histórias dos heróis mais urbanos da editora (como Demolidor, Justiceiro) no contexto de aventuras mais adultas e sombrias, com autores diferenciados e grande qualidade. Por causa disso, a direção da empresa achou por bem colocar Quesada como o novo editor-chefe a partir do ano 2000 e o artista realmente chegou sacudindo as coisas.
Do que nos interessa aqui, dentro do campo dos Vingadores, cinco grandes iniciativas mudaram o status quo do time e serviram de prólogo para a Era totalmente nova que chegaria em seguida: The Ultimates, a morte de Thor, o Capitão América de Ed Brubaker, a Guerra Secreta de Brian Michael Bendis e a grande fase do Homem de Ferro. Vamos apresentá-los rapidamente um a um antes de voltar ao time propriamente dito.
The Ultimates: Os Supremos
Uma das primeiras iniciativas de Joe Quesada como editor-chefe foi lançar a revista Ultimate Spider-Man, uma nova versão do Homem-Aranha (entendido como o bem mais precioso da Marvel) como se o personagem tivesse surgido no século XXI, atualizando sua origem dentro de uma cronologia totalmente nova, completamente apartada da cronologia padrão que a Marvel seguia desde 1961. O roteiro coube a Brian Michael Bendis – falaremos bastante dele a seguir – e arte de Mark Bagley, e as boas histórias, pautadas em diálogos afiados, fizeram muito sucesso.
Isso levou à criação de todo um universo paralelo ao principal (que ganhou a denominação Terra 616 – em alusão à data da publicação da primeira revista do Quarteto Fantástico [junho de 1961], que deu origem ao Universo Marvel), capitaneado por Ultimate X-Men de Mark Millar. Ele era um escritor escocês de grande sucesso na época e sua revista encantou fãs e críticos, o que fez a Marvel pedir que ele fizesse a versão Ultimate dos Vingadores.

Mark Millar se uniu ao desenhista Bryan Hitch, de traço ultra realista, e lançou a revista The Ultimates (Os Supremos, no Brasil), em março de 2002, estranhamente optando por não usar o nome Vingadores, e sim, aquele que dava nome ao tal novo universo. Na história, a dupla mantinha o core de personagens clássicos – Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Hulk, Gigante (Hank Pym), Vespa, Gavião Arqueiro, Viúva Negra, Feiticeira Escarlate, Mercúrio e Nick Fury – mas mudava completamente a ambientação e a trama: em Ultimates, sob os designíos da SHIELD, Fury reúne um time de superhumanos para ameaças globais e enfrentam a invasão de alienígenas transmorfos chamados Chitauri (em vez de Skrulls).
Publicada como uma série fechada de 12 capítulos (e depois com uma sequência com outros 12 episódios), The Ultimates foi um enorme sucesso de público e crítica: não bastasse a arte estupenda de Hitch, o roteiro inteligente e ousado de Millar levava os personagens ao extremo, com Pym tratado como um abusador de mulheres, Stark como alguém sem escrúpulos, um Capitão durão e não tão bonzinho, Viúva Negra e Gavião Arqueiro como assassinos frios, Fury como um manipulador (retratado como um afroamericano com o rosto do ator Samuel L. Jackson) e Thor como um hippie meio maluco cujo nenhum dos companheiros acredita que ele seja mesmo o “deus do trovão” (pensam que ele é apenas superpodoroso ou um mutante como os demais, já que Asgard não aparece no Volume 1).
Embora a história se passasse fora do Universo Marvel tradicional, muitos elementos de The Ultimates seriam adotados gradativamente naquele e a influência da obra foi enorme.
A Morte de Thor
Thor foi um personagem que sentiu bastante a virada de século em suas vendas. Apesar de algumas boas fases em anos recentes (incluindo o bombástico início da fase de Dan Jurgens com arte de John Romita Jr.), o personagem estava “fora de moda”, vendendo mal e sem conseguir emplacar sua revista. Então, a Marvel decidiu dar uma sacudida radical, começando em Thor (vol. 2) 80, de julho de 2004, escrita por Michael Avon Oeming e Daniel Berman e arte de Andrea Divito, na qual se inicia o arco Ragnarok, que é o nome do apocalipse dos deuses nórdicos.

Na trama, Loki usa o demônio Surtur para forjar novos martelos poderosos como o Mjolnir, e usa um exército para atacar e destruir Asgard, numa guerra que vai gradativamente matando todo o elenco coadjuvante das histórias do deus do trovão. Como último recurso para encerrar o ciclo do Ragnarok, Thor incorpora a Força-Odin, mata Loki e põe fim aos Nove Reinos, à exceção da Terra, o que também encerra a sua existência.
Thor estava morto e a edição 85 de sua revista, lançada em dezembro de 2004, dava fim ao seu ciclo de aventuras de modo (quase) definitivo após mais de 40 anos e, num feito praticamente inédito dentre os principais personagens da editora, ficaria praticamente três anos fora das bancas, sem ser publicado. Isso deixava o deus do trovão de fora de todo o início da nova era que se seguia.
O Capitão América de Ed Brubaker
Outro personagem que ia mal nas vendas e no “espírito” foi o Capitão América. Após inúmeras fases clássicas entre as décadas de 1960 e 80, o sentinela da liberdade viveu tempos mais difíceis nos anos 1990, e foi atropelado pela própria Marvel que preferiu encerrar precocemente uma das melhores fases que ganhou em muito tempo (por Mark Waid) para dar lugar à horrenda fase dos Heróis Renascem de Rob Liefeld. O retorno de Waid amainou um pouco as coisas, mas o atentado de 11 de setembro de 2001 transformou suas aventuras em uma ode nacionalista carregada de revanchismo que, ainda que tenha aplacado os ânimos no momento imediato, em médio prazo terminou deixando um gosto amargo em todo mundo.

Então, o editor-chefe Joe Quesada articulou para uma mudança de rota e trouxe o escritor Ed Brubaker, vindo dos quadrinhos independentes, com foco em detetives, e famoso por sua passagem no Batman nos primeiros anos do novo século. Brubaker se uniu ao desenhista Steve Epting (lembram dele, dos anos 1990?) – com inserções de Michael Lark nas cenas de flashback (o que foi uma grande sacada) – e lançou Captain America (vol. 5) 01, em janeiro de 2005, dando início a uma nova fase que foi aplaudida de pé desde o começo.
Coletivamente chamada O Soldado Invernal, o primeiro ciclo da saga de Brubaker resgatava uma série de elementos clássicos das histórias do Capitão numa trama de suspense, no qual velhos vilões rivalizam com novas ameaças e os estertores da já velha Guerra Fria são retomados de modo brilhante. O grande elemento da trama é o Soldado Invernal, um assassino soviético que atuou ao longo das décadas, congelado entre uma missão e outra para não envelhecer, que no fim, ele descobre ser seu velho amigo dos tempos da II Guerra Mundial, Bucky Barnes, que sobreviveu ao atentado do avião do Barão Zemo original e sofreu lavagem cerebral. Uma das melhores histórias do Capitão em todos os tempos, que lhe deu ares contemporâneos e relevância dentro do Universo Marvel.
Homem de Ferro: identidade pública e Extremis
Após altos e baixos nos anos 1990, o Homem de Ferro foi outro personagem bastante impactado com os efeitos políticos pós-11 de setembro, mas diferente do Capitão América, o background político do personagem (que sempre marcou suas histórias) e sua associação à tecnologia lhe favoreceram para que vivesse um bom momento na virada do milênio. Afinal, o rápido acréscimo de tecnologia na vida cotidiana do novo século apenas fez os leitores se identificassem mais ainda com um personagem cuja base fundamental é a tecnologia, e os roteiristas e desenhistas souberam aproveitar isso, ao mesmo tempo, em que evoluíram o visual do personagem para algo contemporâneo e tecnológico.

Dois eventos especiais transcorreram durante essa fase, quando após 20 anos de histórias com uma identidade secreta, Tony Stark finalmente revela ao público que é o Homem de Ferro, em The Invincible Iron-Man (vol 03) 55, de 2002, numa história de Mike Grell e Michael Ryan; e depois, Stark é convidado a assumir o cargo de Secretário de Defesa dos EUA no arco A Melhor Defesa, entre The Invincible Iron-Man (vol 03) 73 a 78, de 2003 e 2004, por John Jackson Miller e Josh Lucas, embora com um mandato curto.

Isso serviu para uma completa mudança de status quo do personagem no lançamento de Iron-Man (vol. 4) 01, de janeiro de 2005, por Warren Ellis e Adi Granov, com o arco Extremis, numa história com um roteiro inteligente do sempre ótimo Ellis, e a belíssima arte de Granov, no qual um vilão produz um vírus biotecnológico e a única maneira que Stark encontra de detê-lo é injetando o composto em si. Como resultado, após 50 anos sendo um cara que vestia uma armadura tecnológica, pela primeira vez, Stark se transformou num superser de verdade, com a armadura passando a ser uma extensão do seu corpo, emergindo e desaparecendo de sua pele e sob seu controle mental direto.
A Guerra Secreta de Brian Michael Bendis
O último dos eventos que mudou o status quo dos personagens em torno dos Vingadores foi também aquele que construiu uma ponte direta com o que viria a seguir. Em fevereiro de 2004, chegava às bancas a minissérie Secret War (Guerra Secreta), em cinco capítulos, que se apropriava do título daquela outra saga dos anos 1980, só que no singular, desta vez, escrita pelo escritor sensação Brian Michael Bendis e com a bela arte pintada de Gabriele Dell’Otto.
Bendis era outro daqueles escritores vindos dos quadrinhos independentes e que chegou ao mainstream por meio de histórias do Spawn e da série Powers, ambos na Image Comics, e chegou à Marvel com o Ultimate Spider-Man, como já vimos. Daí, ele começou a escrever vários títulos da editora, lançando a personagem Jessica Jones (uma ex-heroína que após um estresse pós-traumático passa a viver reclusa e trabalhando como detetive particular) na revista Alias, depois rebatizada de The Pulse, além das histórias do Demolidor. Mas parece que a Marvel decidiu testar se ele podia dar um passo mais além e veio a minissérie.

Em Guerra Secreta, vemos (tal qual em Ultimates) Nick Fury convocar alguns heróis (Capitão América, Homem-Aranha, Demolidor, Wolverine, Luke Cage e Viúva Negra) para uma missão secreta na Latvéria (o reino do Doutor Destino, então, dado como morto) sob a regência da primeira ministra Lucia Van Bardas. A trama avança um ano no futuro e vemos Bardas liderando um ataque em massa aos EUA ao financiar tecnologia para um verdadeiro exército de vilões secundários da Marvel, aqueles mesmos heróis se unem contra eles e descobrem que tiveram as mentes apagadas da missão anterior sob o comando de Fury, porque a ação deles resultou na morte de Bardas (o ataque é liderado por um robô que se passa por ela!) nas mãos da agente da SHIELD Daisy Johnson, codinome Quake, que tinha os poderes de causar pequenos terremotos. Se a execução se tornasse pública, isso seria um potencial de um incidente internacional.
Isso deixa os heróis bastante chateados e, no fim, com a vitória, a morde de Bardas se torna pública, o que resulta em Nick Fury ser destituído da direção da SHIELD e se tornar um foragido. O ex-aliado, em desgraça, manda uma mensagem dizendo que aquela é a última vez que o verão, e de fato, Fury praticamente desaparecerá do Universo Marvel nos quadrinhos.
Uma vez que esses cinco eventos estavam na mesa, pôde começar uma Nova Era para os Vingadores…
Brian Michael Bendis e a Década dos Vingadores
A fase de Kurt Busiek na revista Avengers fez bastante sucesso nos anos 1990, mas a temporada seguinte não. Então, o novo editor-chefe pós-2000, Joe Quesada queria que os Vingadores fossem revitalizados para o novo século, que se tornassem o pilar maior do Universo Marvel, e, ao lado do novo editor Tom Brevoort, descobriu que o escritor Brian Michael Bendis tinha um plano para que isso se tornasse realidade.

Nascido em Cleveland em 1967, Bendis começou a carreira como desenhista, em 1993, mas se desenvolveu como roteirista nos quadrinhos independentes e pequenas editoras. Seu estilo pautado em diálogos realistas e forte caracterização humana dos personagens fez bastante sucesso e Bendis causou grande sensação em revistas do lado urbano da Marvel, como Demolidor e a nova Jessica Jones, além do “teste” em Guerra Secreta. Bendis chegou para revolucionar os Vingadores e conseguiu, inaugurando um período fértil de mais ou menos sete anos nos quais não apenas tornou os Vingadores o centro do Universo Marvel, mas em seu maior sucesso e uma franquia fortíssima como nunca fora antes.
E o que ele fez? Destruir os Vingadores para transformá-los realmente nos maiores heróis da Terra. De novo.
Começou em Avengers 500, de setembro de 2004, por Bendis e a arte expressiva e detalhada de David Finch, com o arco Avengers Disassambled ou Vingadores: A Queda, no Brasil, em que o time sofre um ataque mortal na Mansão, que é destruída em uma explosão súbita, que resulta na morte do Homem-Formiga (Scott Lang) e do Gavião Arqueiro. O Visão diz que está sendo controlado por uma força misteriosa e libera o ataque de réplicas de Ultron, que causam mais destruição (inclusive a sua própria). Nos números seguintes, os ataques prosseguem e o time vai sendo derrotado até perceber que há uma ameaça mágica em ação.

Em Avengers 503, uma edição celebrativa de tamanho duplo, os Vingadores recebem a ajuda do Doutor Estranho e percebem que é a Feiticeira Escarlate quem está por trás de tudo. É um golpe duro ao time perceber que sua aliada vinha secretamente atacando e matando seus amigos (inclusive, seu ex-marido) para se vingar daqueles eventos de uma década antes, da fase de John Byrne, no qual descobriu que seus “filhos” gêmeos na verdade não existiam, resultando nela tendo as memórias sobre isso apagadas por sua mestra, Agatha Harkness – que descobrimos nesta edição ter sido morta por ela quando reativou essas memórias recentemente.
O Mago Supremo percebe que Wanda está acessando a Magia Caótica, o que pode ter gravíssimas consequências ao continuum espaço-tempo, mas consegue neutralizá-la, usando o Olho de Aganotto. Inconsciente, Wanda é levada embora por seu pai, Magneto, para um destino ignorado.
É o fim do título regular dos maiores heróis da Terra, que foi publicado ininterruptamente por 41 anos.
Mas houve ainda um epílogo: a edição especial (one-shot) Avengers Finale, publicada em janeiro de 2005, com texto de Bendis e arte de um batalhão de desenhistas: George Perez, Steve Epting, Steve McNiven, Jim Cheung e muitos outros. A história mostra os Vingadores lamentando suas perdas recentes e o Homem de Ferro informando que não pode mais financiar o time, pois a ONU os proibiu de agirem por causa da grande confusão causada pela Feiticeira Escarlate. Então, nas ruínas da Mansão, ele e o Capitão América decidem que o time precisa encerrar as atividades, enquanto uma multidão de pessoas faz um vigília pelo lado de fora em homenagem aqueles que se foram.
Novos Vingadores
Mas claro que a Marvel não esperou nem um segundo para que os heróis retornassem. Ou pelo menos uma nova versão deles…

No mesmo mês de janeiro de 2005, chegou às comics shops a revista New Avengers 01, com texto de Bendis e arte de Finch, inaugurando a novíssima fase dos maiores heróis da Terra. Dessa vez, Bendis arma a trama ao seu estilo: devagar, com camadas e o desenvolvimento de personagens, por meio de seus diálogos realistas e sempre trazendo elementos da realidade cotidiana (inclusive os banais) para o mundo fantástico dos super-heróis.
Na trama, seis meses depois do fim dos Vingadores (agora com Thor morto, Homem de Ferro com o vírus Extremis, Capitão América enfrentando o Soldado Invernal, Fury desaparecido…) ocorre um ataque à prisão de supercriminosos conhecida como A Balsa, o que na emergência termina por unir uma série de heróis “aleatórios” como Capitão América, Homem-Aranha, Luke Cage, Mulher-Aranha, Demolidor e Jessica Jones, mas são centenas de vilões em um espaço confinado, no qual vemos que Elektro (um dos inimigos do Aranha) criou o blecaute para encobrir a fuga de um grupo específico de criminosos.

Na edição 02, a trupe recebe o reforço do Homem de Ferro e do Sentinela, e na edição 03, os heróis conseguem manter presos 45 dos 87 prisioneiros originais. Em seguida, o Capitão vai até o Homem de Ferro dizendo que eles devem recriar os Vingadores, pois o ocorrido, além de relembrar a forma como os Vingadores originais se reuniram, o faz perceber que a não existência do time desequilibra a segurança do mundo de ameaça como a que combateram.

Apesar de Stark não estar convencido, ele aceita e Rogers recruta os heróis que participaram: Homem-Aranha, Luke Cage e Mulher-Aranha aceitam, enquanto Jessica Jones (ela estava grávida de Cage) e Demolidor recusam. São fundados, assim, os Novos Vingadores, agora com algumas mudanças, sem o apoio oficial do governo ou da ONU e sem a Mansão, alojados nos últimos três andares da Torre Stark no centro de Manhattan.
O Capitão América também apresenta o time a Maria Hill, a Diretora em Exercício da SHIELD – substituindo o foragido Fury – e diz que tem licença de Campeão, ou seja, pode montar equipes para missão sem autorização antecipada, o que legaliza a ação dos Novos Vingadores perante às autoridades e à própria SHIELD. Ainda mais porque Jessica Drew é uma agente. E ainda vemos Drew conversando com uma figura misteriosa do lado de fora da Torre, dizendo que entregar os segredos da SHIELD e dos Vingadores vai sair caro, colocando a heroína como uma traidora e agente dupla. Mas de quem?
Como se vê era um estilo diferente de narrativa também: à moda de Bendis, a maior parte das três primeiras edições se passa num intervalo de apenas duas horas aproximadamente, há longos diálogos entre os personagens e o time não é criado de imediato, mas vai se estruturando aos poucos.

Neste ponto, Bendis procurou mimetizar as histórias originais dos Vingadores, nas quais o time original se reúne e perde um de seus membros logo em seguida – originalmente, o Hulk, em os Novos Vingadores, o Demolidor que não aceita e o Sentinela que está sob custódia – mas do mesmo modo que a primeira equipe ganhou um novo membro que de certa forma o definiu (o Capitão América), o mesmo ocorreu com a nova versão….
New Avengers 04 mostra o time reunido (Capitão América, Homem de Ferro, Mulher-Aranha, Luke Cage e Homem-Aranha) indo atrás de Elektro em Boston, o vencendo com facilidade e investigando quem financiou a fuga da Balsa para descobrirem que o alvo era Karl Lykos, o mutante capaz de absorver energia vital e se transformar em um pterossauro humanoide chamado Sauron (das histórias dos X-Men), e na edição 05, vão à Terra Selvagem tentar capturá-lo, e lá descobrem que os Metamorfos (mutantes de lá) são os responsáveis pela fuga, e recebem a ajuda de Wolverine, que também está lá atrás de Lykos, mas os Vingadores são capturados e quando se soltam, além de enfrentar Sauron, descobrem, na passagem para a edição 06, que Ylena Bolova – a segunda Viúva Negra – está liderando uma facção “renegada” da SHIELD que está negociando vibranium para construir super-armas. No fim, a Viúva Negra é incinerada (mas sobrevive e foge) e a SHIELD oficial aparece, liderada por Maria Hill, para matar todo mundo que encontra, menos os heróis.

Bendis faz tudo de um modo novo: diálogos afiados e situações inusitadas – como quando os Vingadores são capturados e ficam todos nus sob custódia e reiniciam a batalha assim ou antes quando Drew consegue a informação sobre Lykos simplesmente oferecendo uma caixa de rosquinhas frescas aos recapturados na prisão da Ilha Ryker – trazendo também de volta a velha discussão moral que cindiu já há bastante tempo o Capitão do Homem de Ferro: a permissão para matar. Em vista do encontro com Wolverine, um notório assassino, Stark o convida imediatamente ao time, no que Rogers se opõe, por ele ser um matador, mas Stark argumenta que os tempos são outros, que as ameaças são mais sórdidas (como uma facção clandestina da SHIELD construindo armas e a agência legal matando inocentes [os Metamorfos escravizados] apenas para não deixar evidências), o que torna Logan um nome ideal para a equipe e esses tempos, definindo o mutante como um “guerreiro samurai que faz o que é necessário”.
Rogers não tem opção a não ser concordar, o que dá um tom realmente distinto aos Novos Vingadores.
E finalmente a equipe básica se reúne, agora com Capitão América, Homem de Ferro, Mulher-Aranha, Luke Cage, Homem-Aranha e Wolverine.
Bendis e o editor Tom Brevoort também organizaram a narrativa a modo de se acomodar em arcos de mais ou menos seis episódios, o que facilitava a organização depois em encadernados. Então, New Avengers 07, de julho de 2005, dá início a outro arco, batizado pelo personagem Sentinela, e com um novo desenhista: Steve McNiven (a ideia de trocar os artistas era dar uma “cara” a cada um dos arcos ao mesmo tempo em que se evitava atrasos). McNiven era um desenhista fabuloso, com seu traço limpo de linhas retas e cores sóbrias, exatamente o oposto do estilo sujo e escuro de seu antecessor.

A edição 07 mostra que os Novos Vingadores operam como um grupo de tempo não integral de modo realístico, então, enquanto Luke Cage, Mulher-Aranha, Homem-Aranha e Wolverine vão a Long Island enfrentar o Destruidor (líder da Gangue da Demolição), o Homem de Ferro segue a uma localização remota e secreta na qual se reúne com o grupo que será mais tarde batizado de Illuminati: Doutor Estranho, Reed Richards, Charles Xavier, Raio Negro e Namor, e fica implícito que eles se reúnem de vez em quando e discutem aspectos sobre o mundo dos super-heróis, inclusive, de certo modo, governando-o (em determinado momento, Richards comenta sobre a pauta de ter um grupo de heróis em Chicago e Los Angeles).
Era mais uma inclusão retroativa de Bendis, um seleto grupo de representantes das variações de superhumanos (da magia, da ciência, dos mutantes, dos Inumanos e dos Atlantes, além de Stark representando aqueles que não tinham poderes – bem, pelo menos inicialmente…). A existência do grupo era secreta e ninguém além deles mesmos – e do Pantera Negra, que mais tarde seria revelado como um dos membros, mas se desligou depois – sabia sobre sua existência. Adiantando um pouco, os Illuminati depois teriam uma edição especial (one-shot) chamada Avengers: Illuminati (em maio de 2006, quase um ano após a estreia), apresentando um pouco melhor o que era o grupo, e ganhariam uma minissérie em 5 episódios (desenhada por Jim Cheung), a partir de dezembro de 2006, contando sua história de modo mais detalhado.
Essas revistas estabeleceriam que o grupo se formou em algum momento após a Guerra Kree-Skrull e da Guerra Vingadores-Defensores para compartilhar informações sobre as raças alienígenas e as ameaças à Terra, e embora Stark tenha proposto que formassem um governo para liderar o planeta (todos os outros se opuseram), decidiram se manter secretos e se reunindo esporadicamente para discutir questões e eventos.

Mas a introdução do Illuminati e a batalha com o Destruidor, na verdade, eram apenas a abertura para a real trama do novo arco: Capitão América e Homem de Ferro se unem a Maria Hill e a SHIELD e vão ao encontro do Sentinela, e o encontram escondido e aterrorizado no deserto de Nevada, e a edição 08 tem uma maravilhosa inserção anexada à frente (como um tipo de prólogo), com texto de Paul Jenkins e a arte maravilhosa de Sal Buscema no mais clássico estilo Marvel dos anos 1960-70 introduzindo Robert “Bob” Reynolds como se ele fosse um super-heróis nos tempos das histórias dos anos 1960, o que se revela ser uma história em quadrinhos dentro da história em quadrinhos, produzida por Jenkins, que aparece como um personagem.
Na trama do “mundo real”, os heróis tentam descobrir quem é o Sentinela (e vemos os Illuminati fazendo isso também) até descobrirem que ele é um ser tão poderoso que, após ser um herói por um tempo, apagou da mente de todos a sua própria existência, porque ao manifestar seus poderes “de um milhão de sóis” (ele voa, tem superforça e dispara rajadas dos olhos!) libera uma força escura poderosa, que pode assumir várias formas monstruosas, chamada O Vácuo, que é uma parte (maligna) dele mesmo.

Nas edições 09 e 10, um supertime formado pelos Novos Vingadores, Quarteto Fantástico, X-Men, Inumanos e outros se une para combater o Vácuo enquanto a telepata Emma Frost auxilia Reynolds a reorganizar sua mente. Isso feito, seus poderes manifestam uma estrutura futurística acima da Torre Stark e o Sentinela está pronto para ser um herói novamente.
Neste ponto, vale à pena explicar que o Sentinela foi criado por Paul Jenkins, Rick Veitch e Jae Lee na minissérie em cinco partes The Sentry, publicada dentro do selo Marvel Nights na passagem de 2000 para 2001, e que depois ganhou outras cinco edições especiais (one-shots), concluindo com The Sentry vs. The Void, explorando aqueles elementos psicológicos do herói, o fato dele ser o Vácuo e apagar a memória do mundo sobre si. Com isso, Bendis trazia à tona outro personagem de caráter retroativo – ou seja, inserido no passado como se já tivesse existido – tal qual havia feito com sua própria criação, Jessica Jones. De qualquer modo, sua vinculação com os Vingadores deixou o Sentinela com destaque e ele teria algum papel no panorama do Universo Marvel pelo restante da década, como veremos.
Vale à nota de que, com o retorno do personagem nesse arco de histórias, o criador Paul Jenkins pôde produzir uma nova minissérie do Sentinela, agora em 8 episódios, com a arte de John Romita Jr.
De volta a New Avengers, na Era Bendis as coisas acontecessem devagar e de modo fluído, então, o arco seguinte, entre New Avengers 11 e 13, novamente com arte de David Finch, nem Sentinela nem Wolverine aparecem, e os Vingadores vão atrás do Samurai de Prata, que é um dos que fugiu da Balsa, pois temem que ele queira reorganizar o Tentáculo, a organização terrorista de ninjas japoneses místicos e assassinos das histórias do Demolidor e de Wolverine. O Capitão pede ao Demolidor que faça parte da missão (pois conhece bem o Tentáculo), mas ele recomenda outra pessoa, que é mantida em segredo do leitor e aparece como um novo personagem: Ronin.

Os Vingadores presenciam a reunião do Samurai de Prata na Mansão Yashida – a mais importante família mafiosa do Japão nas HQs da Marvel – e descobrimos que há uma união do Tentáculo com a HIDRA para retomar a grandeza Yashida (e da Yakuza, a máfia), mas o Samurai de Prata renega o plano, pois é um dos mocinhos agora, e ajuda os Vingadores e mata os agentes do Tentáculo com sua espada.
Mas descobrimos – os leitores apenas – quem é o contato misterioso da Mulher-Aranha: a Madame Hidra, líder da HIDRA (a velha vilã do Capitão América que depois migrou para as histórias de Wolverine). Os heróis flagram as duas conversando e Jessica finge derrotá-la com suas rajadas. Na volta para casa, no novo Quinjet, apenas pelo olhar, a Madame Hidra (também chamada Víbora), induz à Mulher-Aranha a abrir a porta de emergência e a vilã escapa em pleno voo.
Nas duas últimas páginas de New Avengers 13, de janeiro de 2006, descobrimos que a Ronin é Maya Lopez, a Eco – a heroína, ex-vilã que ganharia uma série de TV só sua em 2024 – e vemos o Capitão América perguntar para Jessica para quem ela trabalha…
Mas antes de seguirmos… dois intervalos…

Os Jovens Vingadores
Uma das consequências do fim dos Vingadores lá em A Queda foi o surgimento dos Jovens Vingadores, um time de jovens heróis que mimetizavam os poderes de alguns dos membros mais famosos do time, criados por Allan Heinberg e Jim Cheung em sua própria revista Young Avengers 01, de abril de 2005. Na trama, o Ironlad vem do futuro para reunir um grupo de jovens heróis para deter a ameaça de Kang, o conquistador, já que os Vingadores não existiam mais, reunindo o Asgardiano (mais tarde Wiccan), que mimetiza os poderes de Thor; Hulking, que mimetiza o Hulk (mas na verdade é um híbrido Skrull); o Patriota, que mimetiza o Capitão América; e o próprio Ironlad, mimetiza o Homem de Ferro.
O grupo é bem sucedido e logo depois ganhou outros membros, como Kate Bishop, mimetizando o Gavião Arqueiro; Cassie Lang, a filha do Homem-Formiga II (Scott Lang), mas mimetizando o Gigante/Golias de Hank Pym; e Speed, mimetizando Mercúrio. Com tramas bem escritas e os belos desenhos de Cheung, os Jovens Vingadores fizeram bastante sucesso.
A Dinastia M
A primeira grande saga envolvendo os Novos Vingadores foi House of M (Dinastia M, no Brasil), publicada como uma minissérie em 8 partes, a partir de agosto de 2005, escrita por Brian Michael Bendis e desenhada pelo excelente Olivier Coipel, que tinha como chamariz a reunião daqueles Novos Vingadores com o time de Astonishing X-Men, uma revista escrita (pelo roteirista e diretor de cinema e televisão) Joss Whedon, com desenhos de John Cassaday, que também fazia bastante sucesso na época.

Na trama, Wanda Maximoff está em Genosha – a ilha na costa da África habitada apenas por mutantes e governada por seu pai, Magneto – sendo tratada pelo professor Charles Xavier, mas sem grandes avanços. Xavier convoca uma reunião em Nova York com os Vingadores e os X-Men e propõe que Wanda seja morta, pois ela é uma ameaça sem precedentes ao mundo. Os heróis se dividem e decidem ir a Genosha ouvir Wanda, mas então, a realidade se distorce e todos migram para uma outra realidade na qual têm seus sonhos realizados: um mundo em que os mutantes são aceitos pela sociedade e os heróis da Marvel vivem vidas maravilhosas (em sua maioria).
Mas nessa nova realidade, muitos começam a perceber que vivem uma farsa e terminam conseguindo reverter tudo ao normal. Zangada pelo o que foi feito, Wanda pronuncia a frase “chega de mutantes!” e 90% da população de mutantes do planeta deixa de existir! Era o início de uma fase nova para o universo mutante da Marvel e Wanda passou um bom tempo desaparecida depois disso.
Os Segredos da Mulher-Aranha
Após ser questionada pelo Capitão América na última pagina da revista anterior, New Avengers 14, de fevereiro de 2006, continuando com Bendis e a arte agora de Frank Cho, revela o segredo de Jessica Drew, a Mulher-Aranha… Depois de mais de um ano comandando a revista dos Vingadores, Bendis se mostrava totalmente à vontade e entrega não somente uma, mas duas edições inteiras feitas apenas de diálogo, praticamente sem ação nenhuma! (Explicamos já o “praticamente”).

A edição 14 mostra Drew confessando seu segredo ao Capitão e recapitula um pouco da história da personagem (criada por Archie Goodwyn e Marie Severin em 1977) – manipulada geneticamente pelo pai cientista, ganhando poderes de planar e disparar rajadas, sendo aliciada pela HIDRA como uma terrorista, virou ao lado dos mocinhos por influência de Nick Fury e terminou sendo uma agente da SHIELD, antes de perder seus poderes e viver como uma detetive particular até chegar ao momento dessas novas tramas. Em resumo, a HIDRA a procurou para reabilitar seus poderes, desde que agisse como uma agente dupla dentro da SHIELD. Ela faz isso, mas avisa Nick Fury do plano, com Fury armando para que ela mantenha a fachada e informe às duas organizações.
Fury desapareceu e ela ficou mais perdida, mas o Capitão mostra que todo o grupo estava ouvindo a conversa deles e nem ele nem Wolverine acreditam que ela não tem o contato de Fury, de modo que o ex-diretor da SHIELD reaparece (no presente pela primeira vez desde a Guerra Secreta) para dizer que estava ouvindo tudo e que está trabalhando com Drew para descobrir quem está por trás da HIDRA, pois eles acreditam que existe uma terceira força maior por trás. Um detalhe que será bastante importante às tramas futuras.
No fim, vemos Drew ir num bar e contar tudo o que aconteceu para seu contato na HIDRA!

E a edição 15 faz uma homenagem à velha Avengers 16 e traz outra história basicamente só de diálogos – “praticamente” por que há uma cena de abertura com a Miss Marvel lutando contra o Garra Sônica, ela ouve a notícia sobre os Vingadores e vai ao encontro deles – no qual em meio às especulações na imprensa sobre o que seja a estrutura do Sentinela no topo da Torre Stark, o Homem de Ferro decide convocar uma coletiva de imprensa para anunciar oficialmente os Novos Vingadores (mas Wolverine não participa do evento porque é mutante e assassino e não quer ser oficialmente vinculado ao time).
A participação de Carol Danvers – que recusa o convite de se unir ao time – serve em termos narrativos para ela conversar com o Capitão América sobre as consequências da Dinastia M para ela (que viveu uma falsa vida maravilhosa lá) e queria tentar ser a pessoa que foi naquela “realidade alternativa”; e do ponto de vista editorial era uma safadeza oportunista de surfar no imenso sucesso que New Avengers estava fazendo para fazer propaganda da nova revista solo da personagem, Ms. Marvel (vol. 2) 01, que estreou em maio de 2006, com texto de Brian Reed e arte de Roberto de la Torre.
Não por isso, a revista fez bastante sucesso e gradativamente Carol Danvers se tornaria a maior heroína da Marvel naqueles tempos.
Essa aventura encerrou o melhor ciclo dos Novos Vingadores, pois infelizmente, a empreitada de Bendis seria redirecionada pelos rumos mandatórios das grandes sagas da Marvel. Além disso, o arco seguinte seria o mais desinteressante de toda essa nova fase: O Coletivo começa em New Avengers 16, ainda por Bendis e com arte de Steve McNiven no primeiro episódio e a bela e exuberante arte do brasileiro Mike Deodato Jr. no restante, de volta aos Vingadores após uma década.

Na trama, uma força misteriosa de energia, centrada em um homem misterioso, começa um circuito de destruição no Alasca e ingressa no Canadá, a diretora da SHIELD, Maria Hill, se recusa a enviar os Vingadores, então, manda a Tropa Alfa – os heróis canadenses que andavam meio sumidos do Universo Marvel – e o time inteiro é simplesmente morto pela tal ameaça. Assim, o Presidente dos EUA manda Hill chamar os Vingadores, e o grupo vai para lá reforçado pelo Sentinela, pela Miss Marvel e pelo Visão (que andava com os Jovens Vingadores) e uma grande batalha é travada ao mesmo tempo em que Hill tenta descobrir o que foi a Dinastia M e porque os mutantes perderam seus poderes.
Homem de Ferro e Homem-Aranha terminam descobrindo que a tal energia – chamada de Coletivo – é a reunião das assinaturas de poder dos mutantes desaparecidos incorporadas em um homem (Michael Pointer, que será o futuro Guardião, novo líder da Tropa Alfa) e que está atrás de Magneto, que está em Genosha e sem poderes. Os heróis vão para lá e o Coletivo também, e na batalha final, em New Avengers 20, de agosto de 2006, Magneto termina ganhando seus poderes de volta, desaparece em uma explosão e os Vingadores descobrem que a mente por trás do Coletivo é Xorn, um ex-membros dos X-Men.
Esta aventura mostrava as relações das autoridades – representadas pela SHIELD – cada vez mais tensas com os Vingadores e os heróis de um modo geral, com Bendis criando um clima no qual nenhuma das partes confia na outra, o que mostrava que o cenário metahumano da Marvel era um caldeirão prestes a explodir.
E ele explodiu no novo megaevento de verão da Marvel…
A Guerra Civil
Uma minissérie muda os rumos da Marvel definitivamente. Civil War foi escrita por Mark Millar (de Os Supremos) e desenhada por Steve McNiven, publicada em 7 episódios entre julho de 2006 e janeiro de 2007, aproveitou o clima de desconfiança entre heróis e autoridades e as velhas querelas entre Capitão América e Homem de Ferro e lançou tudo ao ar.

Na trama, Os Novos Guerreiros (um grupo de jovens heróis surgidos nos anos 1990 e meio de escanteio na época) confrontam o vilão Nitro (lembram dele? Oponente do primeiro Capitão Marvel…) e, sem querer, causam um acidente que resulta na morte de 600 pessoas (a maioria crianças de uma escola próxima) na maior tragédia envolvendo metahumanos em todos os tempos! Isso faz o governo acelerar uma proposta de Lei de Registro de Superseres, obrigando a todo mundo que têm superpoderes ou habilidades especiais a se registrar, revelar sua identidade secreta e trabalhar para o Governo dos EUA.
O debate se faz na comunidade de heróis e Homem de Ferro, Reed Richards e Hank Pym/Jaqueta Amarela aderem imediatamente à proposta, mas o Capitão América se recusa ao ser confrontado por Maria Hill para montar um time para perseguir aqueles que se recusarem a assinar, e é atacado pela SHIELD e declarado fora da lei antes mesmo da votação da lei no Congresso. Steve Rogers imediatamente reúne um grupo de opositores à lei que consiste de nomes como Luke Cage e Wolverine.

Na edição 02 da minissérie, um evento bombástico: aprovada a lei no Congresso, o Homem-Aranha aparece em uma coletiva de imprensa ao lado de Tony Stark e revela ao mundo sua identidade secreta, que é Peter Parker, como forma de servir de exemplo ao demais. Mas o grupo do Capitão continua agindo, perseguindo ainda vilões que escaparam da Balsa, e o Homem de Ferro reúne um time de Vingadores para perseguir os revoltosos.
Uma batalha se dá na edição 03 e Capitão e Homem de Ferro têm uma luta severa, na qual a tecnologia se dá melhor e Rogers leva uma surra e é tirado da batalha pelo Falcão. Mas Stark, Richards e Pym mostram seu às na manga escondido: Thor aparece para ajudá-los! Mas o deus do trovão continuava morto no Universo Marvel e essa aparição, como é logo revelado, trata-se de um clone de Thor criada a partir da tecnologia das três mentes mais brilhantes da Terra. Mas o Clone-Thor não age como o esperado: no furor da batalha mata o Golias (Bill Foster) deixando todos em choque!

Na edição 04, as consequências dessa morte se espalham e Stark, Richards e Pym (mesmo fortemente abalados pela morte do amigo) mostram que ainda têm outra “surpresinha”: criaram uma prisão extradimensional para aprisionar aqueles que se recusarem a aderir ao Registro! As duas ações (Thor e prisão) levam não somente o Homem-Aranha romper as relações com Stark, como também Susan Richards (a Mulher-Invisível) e seu irmão Johnny Storm (o Tocha Humana), com o trio se bandeando ao time do Capitão América. E outro aliado inesperado aparece: o Justiceiro! Apesar dele ser um assassino, Rogers termina aceitando a aliança, pois Frank Castle pode invadir o Edifício Baxter e obter os planos da prisão.

Mas há espiões de todos os lados. A Tigresa ajuda o Capitão ao mesmo tempo em que fornece informações para Stark e a Viúva Negra finge ajudar Stark e passa informações ao Capitão. Por fim, na edição 07, (publicada em fevereiro de 2007, pois houve atrasos no lançamento devido à lentidão de McNiven em retratar tantos heróis por página) Stark e seu time invadem o QG da trupe do Capitão e outra grande batalha se dá, com Hércules destruindo o clone-Thor (que se revela um construto biomecânico) e o Capitão mais preparado para uma luta contra o Homem de Ferro, derrotando-o.

Mas ao perceber a destruição que a batalha causou em um bairro residencial, o Capitão cai em si e se rende, sendo preso pelas forças oficiais. Seu time (gente como Wolverine, Luke Cage e o Homem-Aranha) apenas assiste e foge e se tornam, a partir dali, foras da lei. Como consequência, Tony Stark é nomeado Secretário de Defesa dos EUA e se torna o novo Diretor da SHIELD.
Em termos editoriais, claro, enquanto a minissérie era publicada, causando espanto e admiração nos leitores pela coragem da Marvel em sacudir de modo praticamente indelével seu Universo, as consequências iam se manifestando nos títulos envolvidos, especialmente em New Avengers (em histórias de Bendis e Howard Chaykin) e nas revistas individuais de Capitão América, Homem de Ferro e Homem-Aranha, com grandes implicações.

Além do fato de que, agora, Peter Parker tem sua identidade conhecida por todos, o que coloca sua família em enorme risco (e de fato a Tia May é logo baleada a mando do Rei do Crime, o que coloca o aracnídeo a voltar a usar seu uniforme negro), a maior consequência se dá com o Capitão América. Numa história publicada na histórica Captain America (vol. 5) 25, de 2007, por Ed Brubaker e Steve Epting, enquanto é levado à Corte para ser processado, Steve Rogers termina sendo baleado e morto nas escadarias do tribunal, num golpe duro à comunidade de super-heróis.
As histórias seguintes – tanto de Brubaker quanto de Bendis – exploram que a morte de Steve Rogers terminou por eximi-lo do papel negativo exercido (aos olhos do público) durante a Guerra Civil, e ele se transforma (como sempre foi) na encarnação do herói que estava certo, virando um mito e uma lenda. Essa ambientação é importante, porque vai consolidando cada vez mais a visão vilanesca que Tony Stark vai assumindo para si.
A revista Captain America não foi cancelada com sua morte, e mesmo sem seu protagonista, continuou a ser publicada normalmente, em histórias sensacionais focadas em seu elenco coadjuvante e nas consequências de sua morte e da Guerra Civil. No ano seguinte (2008), o escritor Ed Brubaker (sempre muito elogiado por seu trabalho) e o desenhista brasileiro Luke Ross mostrariam uma saga na qual o ex-Soldado Invernal, Bucky Barnes, velho amigo e parceiro do Capitão América, assume o lugar do amigo como o novo Capitão América. Em algum tempo no futuro ele estaria ao lado dos Novos Vingadores… aguarde.

De volta aos textos de Brian Michael Bendis, Tony Stark e Hank Pym montam dois novos grupos de Vingadores que são desdobramentos do conceito. Primeiramente, temos o time “oficial” de Vingadores, liderado em campo pela Miss Marvel, que tinha como membros Magnum, Sentinela, Homem de Ferro, Viúva Negra e Ares (o deus da guerra), cujas as histórias eram publicadas na nova revista The Mighty Avengers, escrita por Bendis com arte de Frank Cho (e por causa da revista, passam a ser chamados de Poderosos Vingadores para diferenciar dos Novos); e o outro empreendimento chamado “Projeto Iniciativa dos 50 Estados“, que visava treinar superseres para atuar ao lado do Governo dos EUA dentro dos ditames da nova lei, cujo líder imediato era Hank Pym sob a identidade do Jaqueta Amarela, publicados na revista Avengers: The Iniciative, lançada em 2007, com roteiro de Dan Slott e desenhos de Steffano Caselli.

Assim, os Vingadores viraram uma franquia de verdade (como Homem-Aranha e X-Men haviam sido no passado), coletando um conjunto relativamente numeroso de revistas em torno de uma trama geral, cujas ramificações se desenvolviam nos títulos específicos. Verdade seja dita, algo similar fora tentado lá no início dos anos 1990, sob a coordenação de Bob Harras, nos tempos de sagas como Operação Tempestade Galáctica, mas este outro momento a partir especialmente de Guerra Civil (mas que começara efetivamente com A Queda) levava para outro patamar, de importância e de sucesso.
Não à toa, agora os Vingadores tinham suas histórias distribuídas em várias revistas – New Avengers, The Mighty Avengers, Avengers: Iniciative, Young Avengers – e ramificações fortes em títulos individuais, como Captain America, Amazing Spider-Man e Iron-Man, bem como na nova versão dos Thunderbolts, por Warren Elis e Mike Deodato Jr., na qual Norman Osborn (o Duende Verde, arqui-inimigo do Homem-Aranha) se torna o líder da equipe de presidiários (como Venom, Mercenário, Rocha Lunar e alguns outros) que são enviados a missões suicidas a mando do Governo (numa imitação do Esquadrão Suicida da DC Comics).
Os eventos finais da Guerra Civil são desenvolvidos em New Avengers 25, mas lembre que a minissérie atrasou, então, a edição 26 surge como um tipo de capítulo extra não associado à saga: especialmente desenhada pelo magnífico Alex Maleev, temos uma aventura que mostra que Clint Barton (Gavião Arqueiro) sobreviveu aos eventos de A Queda e vai atrás até o Doutor Estranho em busca de Wanda Maximoff. Como o mago é incapaz de ajudar, Barton parte e, tempos depois, o vemos na Transia, indo até a vila nos pés do Monte Wundagore, e após algum tempo, encontra Wanda vivendo com uma outra identidade, como uma mulher normal e, aparentemente, sem lembranças de sua vida anterior.

Ela diz que vive com a tia “Agatha (Harkness)”, mas o bizarro é que Bendis mostra Barton se aproximando dela e os dois transando! Mas como Barton não descobre nada, vai embora. Qual o componente ético de transar com uma velha amiga que não lembra quem você é? Ainda mais depois que as velhas histórias mostravam que ele era afim dela, mas ela não dava bola para ele (porque era gamada no Capitão América)? Puxa…
Mas enfim, era uma edição importante, no fim das contas, pois mostrou o retorno de Wanda (pela primeira vez desde Dinastia M, indicando que estava viva) e de Barton (desde A Queda). A história não deixa muito claro em que tempo se passam esses eventos, mas fica subtendido que desde o início da nova fase até bem perto do presente. E a volta de Barton teria uma implicação em breve…
Então, a nova fase dos Novos Vingadores pós-Guerra Civil começa de verdade em New Avengers 27, de fevereiro de 2007 (mesma época em que a mini chegou ao fim), na qual Bendis e o desenhista filipino Leinil Francis Yu mostram a equipe como uma facção fora da lei, perseguidos pelo ex-aliado Tony Stark, e com um time liderado por Luke Cage mais Wolverine, Mulher-Aranha, Homem-Aranha (de volta ao seu uniforme negro), e as adesões de Punho de Ferro e Doutor Estranho.

No novo arco, chamado Revolução, os heróis recebem um pedido de ajuda de Eco (Maya Lopez) que ainda está no Japão (desde a edição 15), e vão para lá combater o Tentáculo liderado por Elektra e com a ajuda do Clã Yashida do Samurai de Prata. A batalha prossegue nas edições 28 e 29, onde o time salva Eco e recebe a ajuda de um misterioso novo Ronin ao mesmo tempo em que vemos um flashback de pouco tempo antes com uma batalha entre os Novos Vingadores e os Vingadores “oficiais” de Stark e Carol Danvers, e a edição 30 revela que Clint Barton é o novo Ronin, identidade que passará a usar durante um longo tempo.

O fim do arco se dá na New Avengers 31, de agosto de 2007, quando os Vingadores encurralam o Tentáculo e Eco mata Elektra! Mas para a surpresa de todos, a Elektra morta se revela um Skrull disfarçado. Ficam todos aturdidos não pelo episódio em si – pois os Skrulls são notórios transmorfos desde o início do Universo Marvel – mas porque nem os sentidos de Wolverine, o sentido de Aranha do Homem-Aranha, os poderes de Eco ou a magia do Doutor Estranho foram capazes de identificar que ela era uma Skrull.

E se os Skrulls agora eram capazes de tal façanha, o que isso significava? Porque os alienígenas colocariam uma falsa Elektra no comando do Tentáculo? O que queriam com isso? E se mais Skrulls estivessem por aí disfarçados de heróis e vilões?
Era a deixa para o novo megaevento de verão que daria outra grande sacudida no Universo Marvel…
O Retorno de Thor
Agora, um pequeno intervalo… Ao mesmo tempo em que esses eventos transcorriam, o Poderoso Thor regressava (de verdade) ao Universo Marvel depois de praticamente três anos fora de circulação. Na trama de J. M. Straczynski e Olivier Coipel, a partir de Thor (vol. 3) 01, de setembro de 2007, o médico Donald Blake reaparece na Terra e lembra de suas aventuras como o deus do trovão, recebendo a missão de resgatar os asgardianos que – como ele – estão vivos na Terra como se fossem humanos comuns, sem lembranças de seu passado.

Gradativamente, Thor vai resgatando todo o seu elenco coadjuvante e usa a Força-Odin para restaurar Asgard, que passa a flutuar acima do solo em Oklahoma, nos EUA, e seu irmão Loki termina reencarnado como uma mulher! É uma grande saga, com roteiros inteligentes de Straczynski e a bela arte de Coipel.

Mas dentro do nosso contexto, nos interessa bem mais Thor 03, na qual o deus do trovão se reencontra com seu velho amigo Tony Stark, o Homem de Ferro, após o Diretor da SHIELD dar um ultimato para que Asgard seja removida daquele lugar, ou então, o deus do trovão se submeta à Lei de Registro. Ciente da morte do Capitão América, da Guerra Civil, da perseguição aos heróis, de ter sido clonado e tudo mais, Thor dá uma surra em Stark e renega a sua amizade!
Tal fato é a pá de cal nos “três grandes” dos Vingadores, com Capitão morto, Stark quase um vilão e Thor por conta própria.
Invasão Secreta
Continuando para New Avengers 32, de setembro de 2007, Bendis e Yu mostram que, logo que os heróis voltam à Nova York, desconfiados uns dos outros, pois qualquer um pode ser um Skrull, surpreendentemente, a Mulher-Aranha rouba o corpo do Skrull e o leva para seus rivais e perseguidores Tony Stark e Reed Richards, que teriam mais recursos para investigarem o mistério, e os cientistas descobrem que não têm como identificar as novas camuflagens dos Skrulls, apesar de toda a tecnologia. Logo, descobrem que os Skrulls podem estar infiltrados na SHIELD, nos heróis e nos vilões.

Era a retomada da velha trama da infiltração dos aliens transmorfos Skrulls, já explorada em sua primeira aparição no Universo Marvel (lá atrás, em Fantastic Four 04, de 1962), na própria Guerra Kree-Skrull e até numa boa aventura do Hulk do início dos anos 1990, mas que nunca fora explorada de maneira mais ampla e nem de modo generalizado como Bendis a estruturou. Seguindo o novo estilo da editoria de Joe Quesada, os eventos vão se espalhando pelas várias revistas (principalmente do núcleo dos Vingadores, mas não somente) para culminarem em uma minissérie-evento que passa a concentrar a narrativa da editora por cerca de um ano, como ocorrera pouco antes com a Guerra Civil.
Mas dessa vez, Quesada e o editor Tom Brevoort deram um pouco mais de tempo para Bendis desenvolver seus planos, então, o grande evento de verão do ano de 2007 não foi diretamente relacionado aos Vingadores (pela primeira vez em anos!), mas sim, no lado cósmico da Marvel. (Foi a saga Aniquilação, que trouxe a formação da moderna versão dos Guardiões da Galáxia com Star-Lord, Rocket Raccoon, Groot, Drax, Gamora, Serpente da Lua, Adam Warlock e outros, em substituição ao velho time que era de viajantes do tempo que interagiram com os Vingadores lá nos tempos da Saga de Korvac).

Então, Bendis e Yu dão prosseguimento ao arco Confiança (Truth), a partir New Avengers 33, de outubro de 2007, na qual enquanto os Novos Vingadores continuam perseguidos por Stark, pela SHIELD e pelos Vingadores oficiais, precisam lidar com a paranoia Skrull e a emergência de uma nova ameaça: o vilão Capuz. Criado pelo escritor Brian K. Vaughan e os artistas Kyle Holz e Eric Powell, em sua própria minissérie do Selo Marvel Max (para leitores adultos), alguns anos antes, em 2002, era um jovem chamado Parker Robbins, um bandidinho comum, que fez um pacto com um demônio e ganhou poderes místicos através de seu manto vermelho e suas botas, que lhes deram poder de levitação e invisibilidade – com os quais inicia uma tomada de poder no submundo do crime.
O personagem tinha ficado esquecido desde então, e tal qual fizera com o Sentinela e Eco, Bendis decidiu dar-lhe um lugar de destaque dentro do novo panorama que estava criando. Na trama de New Avengers 33, o Capuz resolve aproveitar a cisão dos heróis para dar um grande golpe e controlar o submundo, algo que ele realmente vai conseguir nos meses seguintes. A gangue do Capuz reunirá vários outros vilões que já cruzaram os caminhos com os Vingadores, como a Madame Máscara (vilã do Homem de Ferro) e o Mago.
As edições seguintes mostram os Novos Vingadores atacados por simbiontes como Venom (número 35) e a união deles com os Poderosos Vingadores para deter essa ameaça e ajudar os civis, no que Stark deixa o time foragido fugir (num primeiro gesto de trégua desde Guerra Civil – o que servia para aliviar um pouco o retrato vilanesco que o personagem ganhara desde então), mas agora, a Mulher-Aranha faz parte do time dos legalizados e Wolverine a surpreende no banho (outra das ousadias de Bendis) na edição 36 para saber o quanto ela falou, enquanto os Novos Vingadores travam uma grande batalha com a gangue do Capuz, agora reforçada pela Gangue da Demolição (número 37), e Luke Cage ficar em conflito com sua esposa Jessica Jones assinar o Registro e se juntar aos Poderosos Vingadores na Torre Stark (número 38).
New Avengers 40, de junho de 2008, põe as coisas em movimento com uma edição (desenhada por Jim Cheung – que passará a alternar a arte com Billy Tan) mostrando os detalhes da conspiração, com um longo flashback os Skrulls na capital de seu império criando novas habilidades de transformação e, mais tarde, seu mundo destruído por Galactus e a princesa Veranke liderando uma retomada do império que tem como alvo primordial a Terra, pois eles acreditam que nosso planeta está religiosamente destinado a ser deles.

Era a Invasão Secreta, iniciada com uma ampla campanha de marketing, pôsteres mostrando versões assustadoras dos Skrulls (como nunca antes) e as HQs explorando o clima de paranoia e medo em torno de uma invasão silenciosa dos alienígenas que podem assumir a forma de qualquer pessoa. Numa situação assim, em quem podemos confiar?
A minissérie Invasão Secreta propriamente dita foi escrita por Bendis e desenhada por Leinil Francis Yu, publicada em 8 episódios a partir de agosto de 2008. Em meio à paranoia e aos ataques dos Skrulls, que querem tomar a Terra, os Novos Vingadores descobrem que pessoas como Hank Pym e a Mulher-Aranha eram, na verdade, Skrulls disfarçados há meses (desde os eventos de A Queda!). Inclusive, a Mulher-Aranha que andava com os Novos Vingadores era simplesmente a Rainha Skrull Veranke e a líder da empreitada toda e os Skrulls eram a grande ameaça oculta que estava por trás de todos os grandes eventos que mobilizaram os Novos Vingadores, desde a fuga da Balsa até a facção escusa da SHIELD e a tomada de poder do Tentáculo.

Como costume, em paralelo à minissérie principal, outras minisséries eram publicadas, mostrando desdobramentos da saga, que transcorria também nas revistas de linha. New Avengers 44, por exemplo, mostra uma história inteiramente focada nos Skrulls desenvolvendo sua nova habilidade e testando-a em seu planeta; enquanto a edição 45 mostra como o grupo Skrull – que envolvia Veranke/Mulher-Aranha – reagiu à Dinastia M e quase chegou a se revelar naquele evento; e o número 46 dá foco na cisão entre Luke Cage e Jessica Jones e o sequestro da filha Daniele pelo Jarvis-Skrull.
Porém, ao tirar o foco dos heróis – ainda que mostrando histórias interessantes do ponto de vista narrativo, como a edição 44 – o arco Invasão Secreta acendia uma luz de alerta nos excessos que trazem esse tipo de megaevento, pois não só obrigavam aos leitores a lerem (e comprarem) bem mais revistas do que estavam inicialmente dispostos, mas esvaziava de sentido e (temos que dizer) de conteúdo as revistas de linha, inclusive, a principal revista da Marvel naquele momento, que era New Avengers. Esse tipo de prática começou a pagar um preço que a Marvel demorou a perceber…

Mas de volta à minissérie principal… na tentativa de conter um ataque em massa, todas as equipes de Vingadores se unem e se lançam contra os aliens e a Vespa é morta. Porém, na batalha final, em Secret Invasion 08, de janeiro de 2009, quem consegue eliminar a Rainha Skrull é o vilão Norman Osborn – o velho Duende Verde, líder dos Thunderbolts, que se transforma em herói nacional por causa disso.

Aqui um rápido parênteses às histórias aracnídeas: como Duende Verde, Osborn fora o grande vilão do Homem-Aranha em suas aventuras dos anos 1960, e foi o primeiro (e por muitíssimo tempo, o único) dos vilões a descobrir sua identidade secreta, mas após matar a namorada de Peter Parker, Gwen Stacy, ele terminou morto por sua própria armadilha, numa história de 1973. O personagem ficou décadas “morto” e houve outros Duendes Verdes e até o Duende Macabro para substituí-lo, mas o final da infame Saga do Clone, em 1996, mostrou Osborn vivo e de volta para assombrar a vida de Parker.
Nesse retorno, ele usou sua fortuna – ele é um empresário milionário à lá Lex Luthor – para “limpar” seu nome, “provando” que não era o Duende Verde, e depois quando outras de suas ações terminaram por o levar à cadeia, começou uma jornada de “redenção” ao agir pelo “bem público” (como na liderança dos Thunderbolts). Com o fim de Invasão Secreta e a ideia de que a vida de crimes de Osborn era apenas um caso extremo de esquizofrenia, ele pôde pavimentar seu caminho a outro tipo de poder…
O fim da Invasão Secreta abre espaço para uma fase totalmente nova, o Reinado Sombrio de Norman Osborn.
Reinado Sombrio
O rebote dessa invasão Skrull é imenso e a opinião pública se volta contra os heróis de novo e Stark é visto como incompetente por não ter previsto ou impedido o que aconteceu, ainda mais entre a própria comunidade de heróis, que descobrem a existência dos Illuminati e o papel deles: Invasão Secreta revelou que os após a Guerra Kree-Skrull, os Illuminati organizaram um revide secreto aos aliens transmorfos que lhes custou grandes perdas. E essa era a vingança após anos de planejamento!

Com tudo isso, Stark é demitido do comando da SHIELD, e em uma louca decisão política, o Presidente dos EUA transforma Norman Osborn no novo Secretário de Defesa dos EUA, e ele decide extinguir a SHIELD, que foi considerada ineficiente, e em seu lugar cria o Martelo (HAMMER, no original em inglês), nova organização da qual também é o Diretor.
E claro, Osborn arma para alimentar a crença da opinião pública de que, se o Capitão América estivesse vivo, nada daquilo teria acontecido e que o Homem de Ferro era responsável pela morte do ex-amigo. E também consegue que Stark seja acusado de estar mancomunado com os Skrulls e o Homem de Ferro vira um fugitivo da lei e o “maior inimigo da nação” (o que tem, obviamente, grandes implicações para as aventuras solo do herói). E se os Novos Vingadores eram perseguidos até por Stark, imagine por Osborn…
Osborn, claro, garante a continuação da vigência da Lei de Registro e a criação de um grupo de Vingadores “oficiais” liderados por ele próprio: os Vingadores Sombrios ganharam uma revista própria, Dark Avengers, lançada em março de 2009, também escrita por Bendis e desenhada pelo brasileiro Mike Deodato Jr., virando um dos maiores sucessos da Marvel.
Nos Vingadores Sombrios, Osborn se apropria de uma das armaduras do Homem de Ferro e assume a identidade de Patriota de Ferro, enquanto reúne seus Thunderbolts se passando pelos Vingadores: a falsa Miss Marvel (Rocha Lunar), Ares, o falso Wolverine (Daken), o falso Gavião Arqueiro (Mercenário), o falso Homem-Aranha (Venom), mais os legítimos Marvel Boy e Sentinela.

Mas apesar de Osborn possuir os seus “próprios” Vingadores, o time oficial continua existindo, seguindo a publicação a partir de Mighty Avengers 21, de fevereiro de 2009, por Dan Slott e Khoi Pham, nova equipe criativa que herda o comando de Bendis neste título, com um grupo de heróis relutantemente agindo sob os auspícios legais e a supervisão do vilão. Esses Poderosos Vingadores irão se estabilizar com membros como Hank Pym (agora assumindo a identidade de O Vespa, em homenagem à ex-esposa falecida), Feiticeira Escarlate, Mercúrio (com os irmãos Maximoff reunidos em uma equipe pela primeira vez em eras), Hércules, Estatura, Visão, Agente Americano, e mais à frente aderindo também a Tigresa.
Dentro da narrativa, os heróis sabem que Osborn é o vilão da história, mas preferem se manter dentro da lei e encontrar uma forma de desmascará-lo ou derrubá-lo, o que efetivamente não vão conseguir em nenhum momento.

Os Novos Vingadores permaneciam como foras da lei, mas agora, perseguidos por Osborn, e em New Avengers 48, de fevereiro de 2009, o time assume uma feição ligeiramente nova, com Homem-Aranha, Wolverine, Luke Cage, Ronin e o novo Capitão América (Bucky Barnes, o Soldado Invernal).
Nos números seguintes, viriam outras adesões, como Harpia, Mulher-Aranha e Miss Marvel. Lembrando que Harpia (Bobbi Morse) havia morrido nas aventuras finais dos Vingadores da Costa Oeste (16 anos antes!) e, usando o tipo de recurso que esse tipo de narrativa permitia, estava de volta porque quem morrera fora uma Skrull. Ela e a Mulher-Aranha (Jessica Drew) verdadeira – mais outros como Hank Pym – estavam prisioneiros em uma nave Skrull que é descoberta pelos heróis durante a saga. E Miss Marvel chegaria porque se recusava a trabalhar para Osborn como uma Vingadora “oficial”.
Esta foi bastante interessante por vários motivos. Primeiro, Quesada, Brevoort, Bendis e a Marvel tiveram a coragem de assumir – por um longo período – um status no qual o mal venceu: Osborn está no poder. Segundo, porque isso colocava os heróis em uma situação de perigo ainda maior do que na Guerra Civil ou na Invasão Secreta. E terceiro, porque não houve uma mini ou maxissérie para conduzir os eventos de Reinado Sombrio, apenas o fluxo das histórias em cada revista, ainda que a Marvel tenha adotado o problemático uso sistemático de one-shots (revistas especiais de uma edição) para complementar a trama geral.
Ainda assim, foi uma das mais inovadoras e interessantes sequências de histórias do novo século.
Claro, o foco principal continuava a ser os Novos Vingadores, perseguidos implacavelmente por Osborn, que usava os canais legais para isso (os Vingadores Sombrios) e também os ilegais, claro (o Sindicato do Crime do Capuz). O grupo toma como base o apartamento secreto de Bucky Barnes e logo ganha adesão do Doutor Estranho, que foi bastante ferido pelo capuz e está na busca de um novo Mago Supremo para substituí-lo. Quem assumir o posto ganha a posse do poderosíssimo Olho de Agamotto e o Capuz o quer.
Enquanto enfrentam o Patriota de Ferro e os Vingadores Sombrios, os heróis conseguem escapar e Clint Barton (Ronin) ainda dá uma entrevista para a TV reclamando que parece que todos esqueceram que Osborn é um assassino, em New Avengers 50, e na edição 53, de julho de 2009, Estranho une forças com o Irmão Voodu e eles conseguem exorcizar o demônio Dormammu do corpo do Capuz, o deixando sem poderes. Ainda assim, os Novos Vingadores são difamados na imprensa e Barton começa a planejar matar o ex-Duende Verde.

Ao mesmo tempo, a Marvel apresenta um one-shot chamado Dark Reign: Cabal, com várias pequenas histórias escritas por um batalhão de escritores (os novos grandes nomes da editora): Matt Fraction, Kieron Gillen, Jonathan Hickman, Peter Milligan e Rick Remender, no qual Osborn reúne sua própria versão dos Illuminati, A Cabala, com vilões como Doutor Destino, Loki, Emma Frost, o Capuz e Namor. Na verdade, o grupo aparecera no último capítulo de Invasão Secreta (por Bendis e Yu), mas agora, começava a se desenvolver nos bastidores.
O Capuz termina recuperando seus poderes demoníacos por meio de Loki, que lhe dá acesso às Joias Nórdicas, entre New Avengers 55 a 57, e dando início a uma longa série de one-shots pautadas nos alvos primordiais de Osborn, Dark Reign: The List – Avengers, por Brian Michael Bendis e Marko Djurdjevic, mostra Barton (Ronin) tentando cumprir sua promessa de matar Osborn, invadindo sozinho a Torre dos Vingadores, vencendo vários vilões (Mercenário, Venom), mas sendo detido pelo deus Ares. Capturado e torturado, ele será salvo por seus colegas em New Avengers Annual 03, logo em seguida.
Várias outras The List foram publicadas, com destaque para Dark Reign: The List – Punisher, no qual o Justiceiro também tenta matar Osborn e luta contra Dakken (o Wolverine dos Vingadores Sombrios), que simplesmente fatia o anti-herói com suas garras, esquartejando o personagem!
A última dessas edições, claro, foi Dark Reign: The List – Spider-Man, de janeiro de 2010, por Dan Slott e Adam Kubert, na qual o Homem-Aranha trama um plano para expor os crimes de Osborn na imprensa, e tem uma grande batalha com o Patriota de Ferro, conseguindo danificar seriamente sua armadura. No fim, Peter Parker consegue divulgar online uma série de arquivos incriminatórios, que minam a reputação do vilão.
A Volta do Capitão América
Claro, que Steve Rogers não ia permanecer morto para sempre, não é? Enquanto esses eventos desenrolavam, Captain America 600 trazia Sharon Carter descobrindo que a arma que “matou” Rogers era um artefato especial, não uma pistola comum, então, vem a minissérie Captain America: Reborn, publicada em seis episódios a partir de julho de 2009, por Ed Brubaker e Bryan Hitch, na qual é revelado que a arma foi desenvolvida pelo Doutor Destino e que não o matou, mas congelou Rogers no tempo, só que quando Carter destruiu o artefato, o herói ficou perdido no tempo.

Mas o Caveira Vermelha e Armin Zola traçam um plano no qual irão trazer Rogers de volta ao presente, mas sua mente será dominada pelo Caveira, e dá certo, mas enquanto o vilão se articula para se aproveitar da posição de seu velho inimigo e criar seu próprio reino de terror, a batalha mental é vencida pelo Capitão América, que está de volta! O retorno de Rogers era o elemento que faltava para enfraquecer Osborn e o Presidente dos EUA (retratado como Barack Obama) assina um perdão presidencial aos “crimes” do Capitão pelo não cumprimento da Lei de Registro, ao fim da série, em janeiro de 2010.
Com o vazamento de informações do Homem-Aranha e o retorno do Capitão América, o insano Norman Osborn se desestabiliza e dá início ao seu louco e desesperado plano de tentar invadir o reino mítico de Asgard (lar dos deuses nórdicos e de Thor, que ainda pairava sobre Oklahoma) para aumentar o seu poder.

É a minissérie Siege (O Cerco), publicada em 6 episódios, a partir de janeiro de 2010, por Brian Michael Bendis e arte de Olivier Coipel. Mesmo com Osborn arregimentando a Cabala, a maioria dos vilões acha o plano maluco e Emma Frost, Doutor Destino e Namor têm um conluio para agir contra o ex-Duende Verde. Enquanto isso, finalmente – pela primeira vez em mais de cinco anos! – os três grandes dos Vingadores realmente se reúnem, com Capitão América, Homem de Ferro e Thor colocando suas diferenças de lado para combater essa ameaça maior.
Há uma grande batalha, a loucura de Osborn é exposta e ele é derrotado. Ao final, o Presidente dos EUA pede que Steve Rogers ocupe o lugar de Osborn como secretário de defesa e ele aceita, pedindo que Bucky Barnes continue sendo o Capitão América, enquanto ele terá um papel mais de bastidores dali em diante.
A Era Heroica
No campo editorial, a Marvel estava aproveitando o ótimo momento de sucesso avassalador para expandir a franquia e ganhar em cima disso.
Com o fim de O Cerco, veio a Era Heroica, em que há uma reformulação dos Vingadores. Steve Rogers não volta a ser o Capitão América, deixando Bucky Barnes continuando a usar a identidade. Rogers passa a ser o Supersoldado, usando um uniforme diferente (de azul escuro e sem máscara) e sendo o novo Diretor da SHIELD.
Nessa função, Rogers remonta os Vingadores oficiais com uma equipe principal formada por Capitão América (Bucky Barnes), Thor, Homem de Ferro, Wolverine, Homem-Aranha e pouco depois vem o Destruidor, Noh-Varr, um herói Kree. Esse time estrela a nova revista Avengers, que reinicia a numeração no número 01, em julho de 2010, com roteiros de Brian Michael Bendis e arte de John Romita Jr. Filho do lendário artista que foi diretor de arte da Marvel, Romita Jr. era um artista de estilo e méritos próprios e já tinha passagens históricas por Homem de Ferro, Homem-Aranha, X-Men e Demolidor, mas nunca havia ilustrado os maiores heróis da Terra em conjunto, e foi muito interessante fazê-lo com seu traço quadrado característico. Pela primeira vez em cinco anos, esta se torna a revista principal (carro chefe) da franquia dos Vingadores em substituição aos Novos Vingadores.

Por outro lado, Rogers mantém os Novos Vingadores existindo como uma equipe mais urbana, liderada por Luke Cage e contando com Harpia, Punho de Ferro, Homem-Aranha, Wolverine Mulher-Aranha, Harpia, Coisa, para combater ameaças do crime organizado. Como se vê – por questões editoriais de vendas, claro – o Aranha e Wolverine estavam nas duas equipes de Vingadores ao mesmo tempo! Esse arranjo dá início ao segundo volume do título New Avengers, com novo número 01, mas roteiros ainda de Bendis. O time continuaria a crescer: New Avengers (vol. 2) 07 trouxe o retorno do Doutor Estranho e a edição 16 trouxe (finalmente!) o ingresso do Demolidor, entrando de verdade na equipe pela primeira vez!

Para missões mais secretas e arriscadas, Rogers ainda cria os Vingadores Secretos, liderados por ele próprio e contando com Valquíria, Fera, Nova, Cavaleiro da Lua, Máquina de Combate, Viúva Negra, Sharon Carter e outros, de acordo com as necessidades das missões, numa nova revista chamada Secret Avengers escrita por Ed Brubaker e com a arte do brasileiro Mike Deodato Jr., que foi um enorme sucesso. O título trazia um clima mais sombrio e violento, com tramas repletas de suspense e espionagem, envolvendo o artefato místico da Coroa da Serpente, dos quadrinhos dos anos 1970.
E como herdeiros da Iniciativa dos 50 Estados, Rogers cria a Academia Vingadores, na revista Avengers Academy 01, por Christos Gage e Mike McKone, destinada a treinar novos heróis, que é liderada por Hank Pym (O Vespa) com o apoio de Mercúrio, Tigra, Justiça e Speedball responsáveis por treinar uma série de novos heróis. Apesar da vinculação óbvia com a Iniciativa, a nova revista terminou sendo muito mais uma herdeira de Mighty Avengers (que se encerrou na edição 35), com suas tramas e personagens principais.
A Avengers principal de Bendis e John Romita Jr. trouxe uma grande história, uma das melhores dos Vingadores nos últimos anos, na qual a equipe recebe a visita de Kang, o conquistador, que vem do futuro solicitar ajuda para uma missão dupla: por um lado, impedir que o robô Ultron destrua a humanidade em breve; e depois disso, que os filhos dos Vingadores não ascendam a um império de terror depois de destruírem Ultron e liderarem a humanidade com mão de ferro.

Claro que há bem mais escondido do que Kang revela e a trama vai se desdobrando de modo muito interessante, com uma arte fabulosa. Um parte da equipe vai ao futuro e outra fica no presente e descobrimos que foi o próprio Kang quem deu início à guerra contra Ultron, sendo sumariamente derrotado e procurando desesperadamente reverter os fatos.
No fim, os Vingadores vêm que Ultron se tornou tão poderoso que sequer cogitam enfrentá-lo: simplesmente tentam argumentar com ele e convencê-lo de que a guerra não o beneficia. E, claro, que é Kang/Immortus quem é o verdadeiro vilão da trama… Uma ótima história que também apresentou uma linha do tempo do futuro breve que deveria ser trilhado pelos Vingadores nos próximos anos, algo que a Marvel realmente cumpriu em parte.

O segundo arco, a partir de Avengers (vol. 4) 07, também muito bom, mostra a volta do Capuz em busca das Joias do Infinito, os velhos artefatos que deram grande poder a Thanos no passado. Descobrimos que no passado recente, cada membro dos já extintos Iluminatti, tinha guardado uma das gemas cósmicas ultrapoderosas e Capuz sai recolhendo cada uma delas. Os Vingadores contam com a ajuda do Hulk Vermelho – o velho general Thadeus Ross, inimigo do Hulk que virou uma criatura similar – para derrotar o vilão, ajudados pela inexperiência do capuz em lidar com tanto poder.
O Próprio Medo e Vingadores versus X-Men
Essa fase conduziu ao mega evento Fears Itself (O Próprio Medo), publicado numa minissérie principal de 7 episódios, entre abril e outubro de 2011, escrita por Matt Fraction e desenhada pelo excelente Stuart Immonen, além de dezenas de tie-ins, ou seja, revistas derivadas se espalhando pelos títulos regulares (dos Vingadores e seus membros) e até minisséries paralelas, como já tinha se tornado o padrão da indústria. Porém, essa saga foi má recebida pela crítica que afirmava que ela só serviu para mostrar que a fórmula dos megaeventos estava se esgotando.

Porém, uma das consequências da saga foi Steve Rogers voltar a ser o Capitão América, após Bucky Barnes ocupar o cargo por alguns anos. Este voltou a ser o Soldado Invernal. A trama de O Próprio Medo foca justamente no Capitão América e Thor – e da amizade de ambos – frente à ameaça do deus Serpente de Asgard, um irmão de Odin que foi banido eras atrás e retorna querendo seu trono de volta, tendo o poder de causar medo, desconfiança e paranoia no mundo (o que em alguma medida repetia os temas gerais de Invasão Secreta), mas também tem o poder de influenciar (dominar a mente) de seres poderosos, convertendo-os em vilões (temporários) associados como deuses, o que inclui gente como o Fanático (vilão dos X-Men), Colossos (dos X-Men) e o Hulk, mas no fim, tudo se resolve, embora com algumas mortes.

Logo em seguida, veio a minissérie Avengers: The Children’s Cruzade, uma minissérie em 9 episódios, publicada a partir de setembro de 2011, por Allen Heinberg e JIm Cheung, derivada diretamente das histórias dos Jovens Vingadores e focada na busca de Wiccano e Speed por sua mãe, a Feiticeira Escarlate, depois de descobrirem a verdade sobre esse fato em aventuras anteriores. Os dois garotos encontram Wanda na Latvéria, o país do Leste Europeu governado por ninguém menos do que Victor Von Doom, o Doutor Destino, um dos maiores vilões do Universo Marvel. Doom finge ajudá-la a trazer seus filhos de volta enquanto trama para roubar seus poderes, é claro, e do conflito que se estabelece faz necessária a aliança dos Jovens Vingadores com os Vingadores propriamente ditos.
Este evento – apesar de relativamente periférico dentro do aspecto editorial – é importante porque retoma a temática dos filhos perdidos que causou toda a destruição de A Queda e Dinastia M, e é de se compreender que os heróis fiquem assustadíssimos ao rever Wanda recuperar suas memórias, e ainda mais, reunida com seus filhos perdidos, mas no fim das contas, o objetivo da saga era trazer – em definitivo – a Feiticeira Escarlate para o lado dos mocinhos após mais de meia década associada à vilania. Wanda ajuda dos Vingadores a derrotarem Doom e se reaproxima do time.
Para sacudir um pouco as coisas, a Marvel criou o megaevento Vingadores versus X-Men, no qual as duas equipes saem em confronto, publicada como uma maxissérie (abreviada como AvX) em 12 episódios quinzenais (mais uma série de revistas complementares, spin-offs, minisséries paralelas etc.), a partir de abril de 2012, com roteiro de Brian Michael Bendis e vários desenhistas, como John Romita Jr. (na série principal), Oliver Coipel, Adam Kubert, Frank Choi etc.

Na trama, quando a Força Fênix – aquela mesmo que incorporou Jean Grey no passado – retorna à Terra, os heróis da Marvel se dividem, pois a facção dos X-Men liderada por Ciclope acredita que o evento é benéfico aos mutantes, pois existe a esperança dela ajudá-los a trazer os mutantes de volta (desde o “apagão” da Dinastia M); enquanto os Vingadores a enxergam como a maior ameaça que a Terra já viu. Então, um conflito acirrado entre os dois grupos se alastra.

Após uma série de batalhas entre membros de ambos os universos, com a Força Fênix tomando os corpos de vários mutantes, a Feiticeira Escarlate enfrenta Hope Summers, a messias mutante, filha de Ciclope e Jean Grey que cresceu em um futuro alternativo (nem pergunte…) e, após a briga, ambas se unem e dizem juntas a frase “chega de Fênix” e a entidade desaparece.
Como resultado, ao fim da saga em AvX 12, em outubro de 2012, Charles Xavier morre, Ciclope é preso e as relações entre mutantes e heróis ficam tensas como nunca antes.
A Capitã Marvel Definitiva
Uma das histórias complementares de Avengers versus X-Men trouxe o breve retorno de Mar-Vell, o Capitão Marvel original. Em Secrets Avengers 26 a 28, de 2012, por Rick Remender nos textos e o desenhista brasileiro Renato Guedes, esse time descobre que, para se proteger da Força Fênix, sacerdotes Kree usaram o Cristal M’Kraan (uma joia cósmica de enorme poder, surgida nas histórias dos X-Men de Chris Claremont, em 1975) para ressuscitar o Capitão Marvel para protegê-los.

A Força Fênix pretende destruir Hala – a sede do Império Kree — antes de ir à Terra e os Vingadores lutam bravamente para impedi-la, mas ela é poderosa demais. A Miss Marvel incorpora de novo todo o poder de Binária para lutar contra a Força Fênix e até consegue algum avanço, mas a entidade cósmica quer o poder do Capitão Marvel, e ao perceber isso, Mar-Vell decide se sacrificar de novo para salvar seu planeta e seu povo e se suicida.

Encantada pelo gesto nobre do velho amigo, Carol Danvers decide assumir de vez o legado de Mar-Vell, e adota a identidade de Capitã Marvel, estreando um belíssimo novo uniforme na revista Captain Marvel (vol. 7) 01, de 2012, nas mãos da escritora Kelly Sue DeConnick e desenhos de Dexter Soy, dando início a uma fase de enorme sucesso para personagem.
Vingadores No Cinema
Enquanto isso, finalmente, os Vingadores chegaram ao cinema. De fato, com todo o sucesso que os Vingadores alcançaram nas HQs da segunda metade dos anos 2000, além do hype que se expandiu para o grande público (por exemplo, via desenho animado), e num contexto de grandes adaptações de super-heróis aos cinemas, era pensado que em algum momento a hora dos maiores heróis da Terra iria chegar. E chegou!
Mas antes um longo parênteses… Super-heróis são adaptados a outras mídias como cinema e TV desde a década de 1940, e embora a DC Comics tenha ido muito mais longe nesse quesito (com obras como a série de TV do Batman nos anos 1960, a série de TV da Mulher-Maravilha no fim dos anos 1970, o desenho animado dos Super-Amigos, nos anos 1970 e 80, Superman – O Filme em 1978 e Batman – O Filme em 1989, dentre vários outros), a Marvel acertou alguns pontos a partir dos anos 1960, especialmente com desenhos animados, mas também com o sucesso da série de TV do Hulk no fim dos anos 1970.
A franquia do Batman nos cinemas a partir de 1989 deu um grande impulso para novas adaptações, mas a Marvel não soube capitanear o momento, e ele durou pouco, pois o lançamento do desastroso Batman & Robin, em 1997, fez com que ninguém mais quisesse investir em filmes de super-heróis. Pelo menos por um curto tempo.
No meio do processo de concordata da Marvel em 1997, a companhia decidiu vender os direitos de adaptação de seus personagens em blocos por uma mixaria, como forma de gerar renda rápida, e o movimento deu certo, capitalizando a empresa, ao mesmo tempo em que dava a estúdios como 20th Century Fox e Columbia o direito de fazer filmes com X-Men e Homem-Aranha, por exemplo. A Marvel até criou o Marvel Studios, sob a direção de Avi Arad, para acompanhar o processo, e como a Fox já tinha tido a experiência do enorme sucesso do desenho animado dos mutantes nos anos 1990, decidiu investir em uma versão cinematográfica, que chegou aos cinemas com sucesso com X-Men – O Filme, em 2000. Pouco depois, o movimento se confirmou com o imenso sucesso de Homem-Aranha, da Sony Pictures (que adquiriu a Columbia), em 2002.
O sucesso de público e de crítica desses dois filmes geraram uma grande onda de filmes de super-heróis, que envolveu também a DC Comics (Batman Begins e Superman – O Retorno, em 2005 e 2006), mas principalmente a Marvel, com X-Men 2, Hulk, Demolidor (todos em 2003), Homem-Aranha 2 (2004), Quarteto Fantástico (2005), X-Men – O Confronto Final (2006), Motoqueiro Fantasma e Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (ambos em 2007).
Todavia, todos esses filmes eram realizados por estúdios distintos (Fox, Sony, Universal), com o Marvel Studios apenas supervisionando as produções, embora sem real poder de decisão criativa. E o vice-presidente do Marvel Studios, Kevin Feige, tinha um plano arriscado de criar um universo ficcional cinematográfico por meio de vários filmes e franquias diferentes (exatamente como faziam as revistas em quadrinhos) e depois uni-los em um filme-evento dos Vingadores. Isso levou Feige a se tornar o presidente do Marvel Studios e ganhar a chance de tentar seu plano. E deu certo. Deu muito certo.
Tudo começou com Homem de Ferro, em 2008, que não apenas foi um grande sucesso, mas ao final, trouxe Nick Fury convidando Tony Stark para “A Iniciativa Vingadores“. No mesmo ano O Incrível Hulk não foi tão bem nas bilheterias, mas a cena final trazia o mesmo Tony Stark encontrando o general Ross para oferecer ajuda na caça ao Hulk. Além disso, no meio do filme, Ross comenta que o experimento que transformou Bruce Banner no Hulk era uma reativação do Projeto Supersoldado, que todo fã de quadrinhos sabe que é o nome do experimento que deu origem ao Capitão América na II Guerra Mundial. O sucesso da empreitada acelerou os planos.
Em 2010, Homem de Ferro 2 continuou as aventuras do herói e introduziu o Máquina de Combate e a Viúva Negra. Há uma menção ao Capitão América por meio de seu escudo. Em 2011, veio Capitão América – O Primeiro Vingador, que mostrou o surgimento do herói na II Guerra Mundial e o fato de que Howard Stark, o pai de Tony Stark, esteve envolvido nesses eventos. O herói luta contra o Caveira Vermelha, que está de posse do Cubo Cósmico, que no filme tem o nome de Tesseract. No fim, assim como nas HQs, o Capitão é congelado e desperto, décadas depois, em nosso tempo, encontrando Nick Fury.
2011 também viu o lançado de Thor, que mostra o herói sendo exilado na Terra por seu pai, Odin, para aprender uma lição sobre humildade; enquanto seu irmão Loki trama para matá-lo. No final, vemos que a SHIELD tem posse do Tesseract e que Loki está interessado nele.
Enfim, todas as peças se juntam em 2012, em Os Vingadores, escrito e dirigido por Joss Whedon, que vindo da televisão (criou Buffy – A Caça Vampiros, Angel e Firefly) era um roteirista tarimbado em Hollywood (responsável por Toy Story) e também tinha experiência nos quadrinhos (tendo escrito a ótima revista Astonishing X-Men). No filme, Loki vem à Terra e toma posse do Tesseract, para permitir a invasão de um ataque alienígena, em troca de ajuda para tomar Asgard. Isso força Nick Fury a ativar a Iniciativa Vingadores, reunindo Capitão América, Thor, Homem de Ferro, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro.
O fim do filme ainda mostra rapidamente que o alienígena por trás do plano de Loki é na verdade Thanos, abrindo espaço para seu retorno no futuro.
O resultado? Um grande filme e um sucesso estrondoso de bilheteria: mais de US$ 1,4 bilhões, tornando-se o terceiro maior sucesso da história do cinema naquele momento. E viria muito mais…

A partir daí, o MCU passou a se desenvolver, com um ciclo focado primeiro nas sequências dos filmes anteriores – Homem de Ferro 3, Thor – O Mundo Sombrio (ambos em 2013) – e a grande virada que foi Capitão América – O Soldado Invernal (2014), que adaptava a saga dos quadrinhos num filme mais sério, mais forte, mais “pé no chão” e com consequências maiores (a SHIELD é desmantelada após se mostrar corrompida por dentro pela HIDRA). Também vieram algumas novidades, como Guardiões da Galáxia (2014), focado no time que era pouco conhecido até dos leitores de HQs e foi um imenso sucesso. E também apresentou Thanos de modo mais apropriado e personagens relacionados a ele, como Gamora e Nebula.
Tudo culmina em Vingadores – Era de Ultron, que traz não somente o vilão clássico da equipe, como introduz o Visão e os irmãos Feiticeira Escarlate e Mercúrio, ainda que este seja morto antes do fim do filme.
HQs nos Tempos do Cinema
Enquanto os maiores heróis da Terra chegavam aos cinemas e também em paralelo à publicação de AvX, Brian Michael Bendis lançou uma nova revista para surfar na onda dos filmes do MCU: Avengers Assemble 01, chegou às comics shops em março de 2012, com arte de Mark Bagley, trazendo uma equipe de Vingadores exatamente igual a do cinema: Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro.

Bendis apostou em uma abordagem clássica, com forte caracterização e, apesar de situada dentro da cronologia normal, tinha pouquíssima vinculação ao que mais era publicado na franquia dos quadrinhos, porque o título se destinava ao novo público que chegaria às revistas por causa dos filmes. Apesar da importância de reunir membros fortemente vinculados ao time – em especial com o Hulk oficialmente um Vingador pela primeira vez (de verdade) desde 1963 (!) – a empreitada não foi tão bem recebida e só durou até a edição 08, e no arco seguinte, a revista migrou às mãos de Kelly Sue DeConnick e Stefano Caselli (a mesma dupla de Captain Marvel) já trocando Viúva e Gavião por Capitã Marvel e Mulher-Aranha.
A partir da edição 14, Avengers Assemble se tornou uma revista puramente de tie-ins, ou seja, destinada ao desdobramento das grandes sagas e sem um foco próprio. Ela seria cancelada após a edição 25, em 2014.
Enquanto os filmes do MCU iam estabelecendo o nome dos Vingadores como uma das maiores marcas do entretenimento global, a longa fase de Brian Michael Bendis no comando da franquia no papel ia chegando ao fim. De fato, havia já um cansaço notável nos últimos ciclos e sagas como O Próprio Medo não empolgaram os leitores como aquelas outras do passado recente. Então, se deu uma mudança de rumo.

Após Vingadores versus X-Men, Bendis migrou para o comando das revistas dos heróis mutantes da Marvel na tentativa (não lograda) de fazer o mesmo hype que conseguiu nos maiores heróis da Terra, enquanto os Vingadores se reestruturavam, especialmente, com uma nova revista diferente do que já fora feito: seguindo as consequências daquela saga contra os X-Men e a ressureição da Vespa (em Avengers Vol. 4 34 – na qual é revelado que ela não morreu na Invasão Secreta, apenas encolheu até o Microverso [sim, algo que os filmes iriam adaptar em breve]), Steve Rogers decide criar o Esquadrão Especial dos Vingadores – um novo grupo especial para missões mais radicais apelidado de Fabulosos Vingadores – publicados na revista Uncanny Avengers, publicada a partir de outubro de 2012, por Rick Remender e John Cassaday, que mescla, pela primeira vez, membros dos Vingadores (Capitão América, Thor, Feiticeira Escarlate, Magnum, Vespa) e dos X-Men (Destrutor, Vampira, Wolverine, Solaris etc.).
Com bons roteiros e bela arte, Uncanny Avengers foi um sucesso de público e crítica.

A despedida de Bendis do universo dos Vingadores em sua fase áurea, de certo modo, foi a saga A Era de Ultron, com arte de Bryan Hitch (sim, ele mesmo, dos Ultimates, abrilhantando o Universo Marvel tradicional), adotando um formato novo de publicação, com 10 episódios, cada qual publicado três vezes ao mês, entre março e junho de 2013. Na trama, o robô vilão cumpre a profecia de futuro anunciada por Kang nas revistas de três anos antes, e conquista o mundo e mata os heróis, obrigando aos poucos sobreviventes viajarem ao passado para tentar impedir sua criação por Hank Pym, um tipo de história que mimetizava (mais do que o recomendável) a velha e clássica Dias de Um Futuro Esquecido dos X-Men, de 1981). Embora Wolverine e a Mulher-Invisível planejassem matar Pym para impedir qualquer chance de Ultron ser criado, eles terminam sendo convecidos a não o fazerem e implantam, com a ajuda de Pym, um vírus de computador que destrói Ultron no presente.
Era de Ultron foi lançado com estardalhaço, mas apesar da arte de Hitch e da safada partilha de título com o segundo filme dos Vingadores (que seria lançado em 2014, um ano depois, mas sem nenhuma similaridade nas tramas), realmente não causou grande impressão, parecendo realmente finalizar a década de ouro dos Vingadores nas HQs e expor sem dúvidas o cansaço das megassagas ininterruptas que guiavam o Universo Marvel naquele tempo.
Mas o arco teve um desdobramento pouco depois, quando Ultron retornaria em Avengers: Rage of Ultron, de 2015, por Rick Rememder, Jerome Opeña e Pepe Larraz, na qual ocorre uma fusão entre as mentes de Hank Pym e Ultron, com os dois se tornando um só. Por causa disso, Pym é considerado morto e é realizado um funeral em sua homenagem, e esse novo Ultron é derrotado na Uncanny Avengers 12.

Em Uncanny Avengers 23, o Esquadrão Unitário encontra de novo seu primeiro inimigo, o Caveira Vermelha, e um acirrado confronto inicia, que leva ao evento AXIS, publicado na maxissérie Avengers & X-Men: AXIS, publicada em 9 edições a partir de outubro de 2014, por Rick Remender e Adam Kubert, na qual Wanda e Vampira são sequestradas pelo Caveira Vermelha e aprisionadas num campo de concentração em Genosha, onde a tentativa de Magneto de salvá-los dá errado e nasce o Onsglaught Red Skull (Caveira Vermelha Massacre – uma releitura do nefasto [em termos editoriais] vilão dos anos 1990). Ao fim da batalha, com a ajuda do Irmão Voodu os heróis vencem, mas Wanda e Mercúrio terminam por “descobrir” que Magneto não é o pai deles. Então, quem é?
Acontece que naquela época, em 2014, os heróis da Marvel ainda estavam divididos em dois estúdios principais de cinema, com o Marvel Studios (via Disney) produzindo a megafranquia dos Vingadores e a Fox fazendo o mesmo com os X-Men. Feiticeira Escarlate e Mercúrio eram dois personagens que sempre transitaram por esses dois mundos, pois surgiram nas revistas mutantes antes de integrarem o elenco principal dos Vingadores, o que criava um vácuo legal que permitia a ambos os estúdios de cinema a usarem esses personagens.
Para evitar maiores confusões ao grande público, Marvel e Fox fizeram um acordo: embora Mercúrio apareça (e morra) em Vingadores – Era de Ultron (de 2015), a Marvel ficou com o uso de Wanda nos filmes seguintes dos Vingadores; ao passo que a Fox colocou Mercúrio no elenco dos X-Men a partir de Dias de Um Futuro Esquecido (de 2014). E assim foi. Mas a Marvel foi obrigada por seus executivos a mudar o parentesco dos Maximoff em relação a Magneto (que era desde sempre o principal vilão nos filmes da Fox) como um tipo de represália ao estúdio.

Daí vem o pastelão de Uncanny Avengers (vol. 2) 01, de janeiro de 2015, ainda com roteiro de Rick Remender, mas desenhos de Daniel Acuña, que dá início à nova saga do Esquadrão Unitário, agora, com uma formação com o novo Capitão América (Sam Wilson), Feiticeira Escarlate, Mercúrio, Visão, Vampira, Irmão Voodu e Dentes de Sabre (sim, o arquinimigo do Wolverine estava “bom” por causa de um feitiço). Na trama, Wanda e Pietro vão a Wundagore atrás de investigar suas origens de novo, já que agora sabem que Magneto não é seu pai e interrogam o Alto Evolucionário sobre o caso. O vilão diz pra eles, na edição 04, que eles são filhos de Django e Marya Maximoff mesmo – o casal de ciganos – e que ele próprio fez uma série de manipulações genéticas neles para que eles se tornassem quem são, e portanto, não seriam nem mutantes!



































































Excelente resumo da trajetória da equipe!
SÓ UMA CORREÇÃO: A VESPA NÃO MORREU EM “A QUEDA”, FOI DEPOIS EM “INVASÃO SECRETA”
Avante Vingadores!
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você é cchato bruno sei la o que
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Isso mesmo, Bruno, você tem toda a razão, a Vespa só morreu na Invasão Secreta e não em A Queda.
Já corrigi o pequeno deslize!
Obrigado mesmo pela dica!
Um grande abraço e apareça sempre!
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continue o bom trabalho…obrigado
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Só tem artigo bom nesse site.Irei recomendar aos amigos.Continue com esse excelente trabalho.
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Muito obrigado, Victor! Que bom que você gostou.
Volte sempre ao HQRock.
Um grande abraço!
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eu acho que é a melhor oisa que eu ja vi na minha vida mais esquecerao de muitos super erois aimais eu achei demais eu estou brincando É A COISA MAIS legau do universo achei a ultima imagen a mais legal de todas obrigado por lere eu adorei este saite é o melho saite de imagens do universo.
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Muito bom Exelente texto parabens!!
vou divulgar o site de voces pros amigos !!!
Abraços!
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Hostei muito do resumão, mas vai indo indo e acaba no mesmo ponto os primerios juntos de novo
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Gostei muito do resumo. Gostaria de ver um artigo relacionando toda essa evolução dos heróis Marvel à História real do seu tempo, ou seja, como os fatos históricos reais vigentes em cada período influenciaram os roteiristas e desenhistas dos comics.
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Essa vinculação entre comics e história realmente geraria um ótimo post, Rosa.
Quem sabe não escrevo um?
Um abraço!
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Muito bom resumo da evolução dos comics da Marvel, em especial Os Vingadores.
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O que Aconteceu com o Visão ???
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Outro excelente trabalho, é sempre bom achar um blog que propicie leituras prazerosas como esta, abraço.
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Que bom que gostou, Marcus. É muito bom poder ter essa resposta positiva de vocês leitores. Isso é fantástico.
Um abração!
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Excelente reportagem… Uma das melhores e mais completas que já li… Mas quero meu brinde:
Homem Máquina
Tocha Humana Original
Vespa Janet Van Dyne (depois Pym) nas molduras em seus diversos uniformes
Raio vivo (Human Lightining)
Cavaleiro Negro Dane Withman
Água Estelar – Guardiões da Galáxia Originais
Jocasta
Asa de Fogo
Relâmpago Vivo
Mulher Invisivel
Senhor Fantástico
Rick Jones
Hulk
Viúva Negra
Cavaleiro da Lua
Dr. Druida
Gilgamesh
Youndu Udonta – Guardiões da Galáxia Originais
Namor
Hércules
Harpia
Crystalis
Mercúrio
Charlie 27 – Guardiões da Galáxia Originais
Hank Pym
Feiticeira Escarlate
Gavião Arqueiro
Mantis
Thunderstrike – Eric Masterson
Asa Vermelha (pássaro do Falcão)
Falcão
Golias
Homem de Ferro – Tony Stark
Homem de Ferro – Jim (James) Rodhes
Homem de Ferro – Jovem Tony Stark
Espadachim Clássico
Espadachim em sua volta aos Vingadores (participação especial – não é o espírito)
Jaqueta Amarela
Starfox – Eros
Homem Areia
Homem Formiga
Visão
Mortalha
Homem Aranha
Capitão América
Gigante
Máquina de Guerra
Major Vitória – Vance Astro – Guardiões da Galáxia Originais
Golias – Ben Foster
Hellcat
Tigresa
Fera
Nikky – Guardiões da Galáxia Originais
Two Guns
Agente Americano
Capitão – Steve Rogers
Mulher Hulk
Coisa
Thor
Mulher Aranha
Serpente da Lua
Capitã Marvel
Miss Marvel – Warbird
Quasar
Deathcry
Martinex – Guardiões da Galáxia Originais
Arraia
Pantera Negra
Triatlo
Magnum
Sersi na fase das “jaquetinhas”
Falcão de Aço
Jarvis
No alto, os originais Hulk, Thor, Homem Formiga, Vespa e Homem de Ferro
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Está de parabéns, Marcos! Um abraço!
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Vcs estão de parabéns pelo excelente trabalho! Falhas são compreênssíveis! Forte abraço!
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Obrigado, Edyjael! Que bom que gostou! Se encontrar algum erro, não hesite em nos contactar, pois assumimos nossas limitações e estamos sempre dispostos a melhorar. Um grande abraço!
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Um ótimo trabalho! Meus parabens! Vou até guardar aqui e mandar para uns amigos meus. Abração.
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Obrigado, Marcelo! Que legal que você gostou. Aproveita e dá uma olhada nos outros Dossiês que temos, do Capitão América, Homem de Ferro, Thor… E se gostar, tem da DC Comics também. 😉 Um grande abraço!
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Parabéns pelo excelente resumo!!! Esse tipo de conteúdo ajuda muito novos leitores, como eu, a se nortearem…
Apenas um pequeno comentário, A Warbird não chegou a matar ninguém, em Avengers (Vol 3) edição 7, quando se demitiu dos vingadores, por pouco, mas não matou. 👍👍👍
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Parabéns pelo excelente resumo!!! Esse tipo de conteúdo ajuda muito novos leitores, como eu, a se nortearem…
Apenas um pequeno comentário, A Warbird não chegou a matar ninguém, em Avengers (Vol 3) edição 7, quando se demitiu dos vingadores, por pouco, mas não matou. 👍👍👍
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