
O dia 02 de fevereiro marca uma data triste para muitos roqueiros: é a data em que é lembradao o fim do Movimento Punk original, aquele dos anos 1970. O motivo é que neste dia, em 1979, morria Sid Vicious, o lendário baixista do Sex Pistols uma das mais famosas e radicais bandas do movimento que revolucionou o rock.
Antes de falar do artista, é importante uma ressalva: o Punk é não apenas um marco divisor na história do rock, mas “o marco divisor”, pois é a principal ruptura entre as várias que o gênero musical já apresentou em sua longa história. O rock que surgiu nos anos 1950, foi remodelado nos anos 1960, tomado por um espírito de liberdade, de contestação e de experimentação, o que resultou no que os estudiosos chamam de rock clássico: a geração que nos deu Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd, Eric Clapton, Black Sabbath e muito, muito mais.

Porém, em plenos anos 1970, o rock era o maior negócio da Terra: bandas multimilionárias, turnês mundiais, propaganda, marketing, grandes gravadoras etc. Assim, embora o lema “sexo, drogas e rock and roll” da década anterior ainda fosse entoado, a maioria das principais bandas atuantes tinha que fazê-lo conviver com empresários, advogados e executivos de gravadora, sem contar na bajulação à imprensa especializada, como das revistas Rolling Stone e Billboard.
Assim, nada mais justo que uma nova geração emergir no fim da década e por tudo de cabeça para baixo: o Movimento Punk. Renegando as “grandes estrelas do rock” e o experimentalismo que alimentou as elaboradas mudanças de tempo e feeling do hard rock ou a complexidade musical do rock progressivo ou mesmo a supervelocidade técnica do heavy metal, o punk veio para destruir a velha guarda e impor uma nova. E conseguiu.
A emergência do Movimento Punk nos EUA e na Inglaterra entre 1976 e 1977 pode muito bem ser o marco definidor do fim do rock clássico. E, portanto, o início de algo que podemos chamar de rock contemporâneo.
Embora as bandas de hoje continuem pagando tributo ao rock clássico, uma análise profunda demonstra muito mais similaridades e até certo continuismo com o Movimento Punk e seus descendentes: New Wave, Pós-Punk, hardcore, grunge, indie, alternativo etc.
E quem foi melhor exemplo disso do que Sid Vicious? Ninguém!
Imagine um rapaz que não sabia tocar, que se cortava com navalhas nos shows, que era um consumidor inveterado de drogas, que matou a própria namorada a facadas, foi preso e morreu de overdose! O que pode ser mais punk do que isso?
John Beverley?
![sid--vicious[1]](https://hqrock.com.br/wp-content/uploads/2012/02/sid-vicious1.jpg?w=300&h=234)
Após a separação de seus pais, o rapaz adotou o sobrenome de seu padrasto, passando a ser conhecido como John Beverley. Aos 17 anos de idade, o rapaz começou a frequentar o circuito barrapesada da periferia de Londres que daria origem ao movimento punk, inclusive, se reunindo com amigos na loja Sex da (hoje famosa) estilista Vivienne Westwood e Malcolm McLaren, o futuro empresário dos Sex Pistols.
Entre os amigos de John estavam futuros astros do movimento, como a norteamericana Chrissie Hinde que mais tarde ficaria mundialmente famosa como a bandleader dos Pretenders. Naquela época, Hinde até propôs um casamento de fachada ao rapaz, para que ela pudesse obter um visto de trabalho, algo que ele negou.
Outros de seus amigos foram fundadores de bandas seminais do movimento punk britânico, como os próprios Sex Pistols (na figura de John Lydon), The Clash e de The Dammed, ao qual chegou até a fazer uma audição como vocalista.
Juntamente ao futuro vocalista dos Sex Pistols, John Lyndon, John Beverley fazia parte de um grupelho chamado The Four Johns que ficavam tocando e fazendo barulho nas ruas.
Sua primeira banda de verdade foi The Flowers of Romance, formada com o futuro membro do Clash e do P.I.L., Keith Levene. Depois, ingressou como baterista na banda Siouxsie and the Banshees, que fez sua estreia em uma lendária apresentação no 100 Club Punk na Oxford Street de Londres. Ao sair, foi substituído pelo futuro astro Billy Idol.
The Sex Pistols

Paralelamente a isso, vinha a história dos Sex Pistols. A banda também se formou em volta da Sex de Westwood e Malcolm McLaren, que se tornou seu empresário. A formação original do grupo tinha John Lydon (agora chamado Johnny Rotten) nos vocais, Steve Jones na guitarra, Glen Matlock no baixo e Paul Cooke na bateria. O grupo se formou no fim de 1975 e passou a tocar um set list que incluia canções de grupos tipicamente britânicos, como The Who e Small Faces, embora também passasse a mostrar composições próprias, escritas por Rotten (letras) e Matlock (música), embora fossem creditadas sempre ao quarteto.
A estreia da banda ao vivo se deu no Saint Martins College, onde McLaren estudava, em novembro daquele ano, e terminou em uma briga com a atração principal da noite, Bazooca Joe, que achava que o concerto se extendeu demais.
Logo em seguida, os Sex Pistols sairam fazendo pequenos concertos no circuito de clubes inferninhos do centro de Londres e atraíram um considerável público, tão fiel que ficou conhecido por um nome, The Bromley Contigent, formado pelas futuras estrelas da música punk britânica.

A banda começou a chamar a atenção fora do circuito alternativo com um concerto no lendário Marquee Club, em fevereiro de 1976. Daí para frente, a influência da banda começou a se espalhar e as novas bandas de punk – surgidas dos próprios fãs dos Pistols – como The Clash, The Dammed, Siouxsie and the Banshees, Buzzcocks etc., também surgiram na cena e aumentaram seu espectro.
Em abril de 1976, quando o disco de estreia da banda punk norteamericana The Ramones foi lançado, a cena punk britânica já estava consolidada e até tentou desdenhar dos yankees, que mantinham alguma proximidade com o rock clássico, enquanto o movimento punk britânico era muito mais radical tanto esteticamente quanto politicamente.
Ao longo do verão, os punks incendiaram Londres e os Sex Pistols fizeram suas primeiras gravações, como o engenheiro de som Dave Goodman. Em agosto, fizeram sua primeira aparição na TV, no programa So it’s Goes de Tony Wilson, onde apresentaram a canção Anarchy in the UK, que causou uma grande sensação.

O sucesso levou a um contrato com a gravadora EMI, a maior na Inglaterra e “casa” de Beatles e Pink Floyd, duas bandas odiadas pelos Sex Pistols. O grupo regravou suas músicas, produzidas por Chris Thomas, que ironicamente, tinha em seu currículo justamente trabalhos com aquelas duas bandas. Mas credenciava-se para o trabalho por ter produzido os discos da Roxy Music, banda considerada “moderninha” na época.
O compacto com Anarchy in the UK foi lançado pela EMI em novembro de 1976 e foi um grande fenômeno de popularidade, chegando ao 36º lugar das paradas britânicas, o que era demais para uma canção em que o vocalista conclama: “eu sou o anticristo/ eu sou a anarquia/eu não sei o que quero/mas sei como conseguir/eu quero destruir o transeunte/ eu quero estar na anarquia”.
Para promover o disco, a EMI conseguiu outra aparição na TV da banda, no programa Today, da Thames Television, apresentado por Bill Grundy, em dezembro. O Sex Pistols compareceu junto à parte de seu público, incluindo Siouxsie Sioux, e bebeu demais até entrarem no ar. Segundo alguns informes, o apresentador Grundy também estava bêbado e o resultado foi um verdadeiro pandemônio, na qual Grundy ficou provocando a banda e dando cantadas em Siouxsie, enquanto Steve Jones e Johnny Rotten pronunciaram a palavra “fuck” pela primeira vez na história da televisão britânica e mandaram o apresentador se “fuder”.
Como resultado, os tablóides britânicos “fizeram a festa” durante dias, Grundy foi suspenso e teve sua carreira arruinada pelo evento e os Sex Pistols se tornaram famosos em todo o Reino Unido. A banda e McLaren capitanearam isso e realizaram a Anarchy Tour of the UK naquele mesmo mês, rodando o país com o The Clash como banda de abertura.

Em janeiro de 1977, após uma rápida turnê pela Holanda, a banda foi acusada de causar uma confusão no avião – o que executivos da EMI que estavam no vôo negaram – e o mal-estar na imprensa levou ao fim do contrato com a gravadora.
Ainda assim, o grupo voltou aos estúdios para mais uma rodada de gravações que resultariam em seu segundo compacto: God Save the Queen, novamente com engenharia de Dave Goodman e produção de Chris Thomas.
Após essas sessões, a banda demitiu o baixista Glen Matlock – o principal compositor do grupo – sobre a alegativa de que “ele gostava de Beatles e de Paul McCartney”.
Sid Vicious entra para a banda

Para substituí-lo, McLaren e Rotten decidiram colocar o jovem John Beverley, agora já conhecido como Sid Vicious, que era o “fã n.º 01” dos Sex Pistols, mas não sabia tocar. E daí?
Sid Vicious era jovem e bonito e era o punk rocker por excelência no visual e no estilo de vida. Parecia ser a pessoa exata para estar na banda e, sob certos aspectos, era mesmo.
A estreia pública de Sid Vicious como membro da banda foi em março de 1977 em uma cerimônia realizada ironicamente no lado de fora do Palácio de Buckinham, onde os Sex Pistols assinaram um contrato com a gravadora A&M. Porém, naquela mesma semana, o comportamento da banda na sede da gravadora – quebrando moveis, brigando, ameaçando a vida das pessoas, abusando das mulheres etc. – levou ao fim do contrato seis dias depois, com as cópias do novo compacto sendo destruídas.

Logo em seguida, o novo baixista fez sua estreia ao vivo na banda em concertos no Notre Dame Hall e no clube Screen on the Green, que se tornaria uma lenda no movimento. Vicious era um fenômeno no palco: tinha um carisma enorme, insultava a plateia e se automutilava com navalhas.
A banda não ficou muito tempo sem gravadora e, em maio, a Virgin Records assinou contrato com eles e lançou, finalmente, o segundo single da banda ainda no fim daquele mês: God save the Queen. A canção causou bastante mal-estar na Inglaterra por dizer que a Rainha não é um ser humano, que o regime monárquico é fascista e por lançar o lema do movimento punk: “não há futuro“.
Lançado a tempo de coincidir com as comemorações do Jubileu de Prata da Rainha Elizabeth II, o compacto foi um grande sucesso e, apesar de não tocar nas rádios – que se negaram a executá-lo – chegou ao primeiro lugar das paradas britânicas, mesmo que com uma tarja preta em cima do nome da canção nos jornais de música! Para “comemorar” a banda e seu staff promoveram um concerto surpresa em uma barca no Rio Tâmisa em meio aos festejos e terminaram todos presos por desordem.
Em seguida, uma onda de violência se abateu sobre a banda e tanto Rotten quanto Jones chegaram a ser agredidos na rua; enquanto seus shows eram consecutivamente cancelados. Uma turnê realizada naquele verão foi feita de modo quase secreto, com a banda usando pseudônimos para que os concertos ocorressem.

Ainda assim, a banda se reuniu no estúdio, novamente sob a batuta de Chris Thomas, e gravou o seu único álbum: Never Mind the Bollocks, que saiu em outubro de 1977 e foi seguido de dois compactos: Pretty vacant e Hollidays in the sun, todos chegando ao Top10 britânico.
O álbum foi extremamente bem recebido pela crítica musical internacional e foi aclamado como um dos melhores da década. Ainda assim, muitos dos shows do Sex Pistols eram cancelados pela polícia, durante sua turnê Never Mind the Bans Tour em dezembro.

Em janeiro de 1978, o grupo foi para sua primeira (e única) turnê nos Estados Unidos, especialmente nas regiões mais conservadoras do meiooeste e sul. O resultado foi catastrófico, com muitas brigas, confusões, prisões, shows cancelados, insultos ao público, alto consumo de drogas e brigas internas.
O resultado só poderia ser um: após um show em São Francisco, na California, os Sex Pistols encerraram suas atividades.
Carreira Solo
Com o fim da banda, Johnny Rotten voltou a usar seu verdadeiro nome, John Lydon e formou a banda pós-punk Public Image Ltd (P.I.L.) que faria relativo sucesso.

John Beverly, o Sid Vicious, permaneceu nos EUA, se mudando para Nova York com sua namorada, Nancy Spugen. A “fama” da moça não é das melhores: as “lendas do rock” afirmam que ela era uma grouppie que, após ser recusada por Rotten, terminou nos braços de Vicious e tirou a virgindade dele. Daí em diante, os dois seriam inseparáveis. Não demorou muito para que a moça fosse vítima da “síndrome de Yoko Ono“: fãs e amigos da banda a culpam pelo fim do Sex Pistols e por tornar a vida de Vicious mais degenerada.
O fato é que o casal era ávido consumidor de drogas e, com o fim do grupo, ambos se instalaram no Hotel Chelsea em Nova York, onde passaram a viver com músicos e traficantes. Spugen se tornou a empresária dele e o rapaz conseguiu motivar a gravadora Virgin Records e investir em uma carreira solo.
Sid Vicious lançou um compacto com uma versão irônica de My way (aquela mesma, versionada para o inglês por Paul Anka e famosa na versão de Frank Sinatra), mas a carreira não deslanchou, embora ele tenha passado a realizar alguns concertos bastante concorridos no clube Max’s Kansas City.
O capítulo final de sua vida começou a ser escrito em 12 de outubro de 1978, quando Sid Vicious foi preso acusado de matar Nancy Spugen a golpes de faca. O músico alegou que acordou após um grande consumo de drogas e Nancy estava morta no banheiro. A polícia apurou que a moça foi vítima de uma única punhalada no abdômen de uma faca de caça pertencente a ele.
Apesar da defesa alegar inocência e surgir uma teoria de que o verdadeiro assassino teria sido um traficante que frequentava o hotel e abastecia o casal e que aproveitou enquanto Sid estava desacordado para matá-la; o fato é que Vicious foi preso, mas posto em liberdade por ser réu primário enquanto corria o processo.
Dez dias depois, o baixista tentou suicídio e terminou internado no hospital Bellevue. Contudo, ele foi preso de novo no dia 09 de dezembro, depois de brigar em um clube com o irmão da cantora Patti Smith, provavelmente por ter ficado com a namorada dele.
Pela reincidência, Vicious ficou preso por 55 dias no Presídio da Ilha Rikers, mas Malcolm McLaren conseguiu convencer a Virgin Records a pagar a fiança para pô-lo em liberdade condicional.

A saída da cadeia, em 01 de fevereiro de 1979 foi comemorada com uma festa da então namorada de Sid, Michelle Robinson, na qual compareceram vários amigos e, inclusive, a mãe do baixista. Esta também era dependente química e levou heroína para a festa e forneceu ao filho.
No entanto, Vicious tinha passado por um programa de desintoxicação e terminou tendo uma overdose, sendo encontrado morto na manhã do dia 02 de fevereiro.
Sua morte após meteórica carreira pode ser tomada como o fim do movimento punk original, especialmente em sua acepção britânica. Dali em diante, o punk começou a perder força e ceder espaço para seu filho mais bem comportado: o New Wave, que de certo modo, definiu a sonoridade dos anos 1980.
Mas as ideias do movimento punk permaneceram voltando à tona em várias outras rupturas, como a do grunge nos anos 1990 ou a do indie rock nos anos 2000.


Não escuto rock. curto gospel. Mas gosto muito de uma boa história. Parabéns pelo post
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New Wave? The smiths eram isso?
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Obrigado por escrever Alrimar. Fico feliz em ver que uma pessoa que não gosta de rock ainda assim gostou do post pela história que ele traz. Isso é uma aula de civilidade. Obrigado mesmo.
Quanto à pergunta, você está certo. O New Wave é um gênero estético que emerge no fim dos 70 e início dos 80 marcado por alguns elementos punks, mas o uso abundante de cores, resgatando aspectos do glam.
NO aspecto musical, diz respeito a um punk mais limpo. Embora exista uma vertente bem pop do New Wave (como B-52, Blondie e até a Blitz no Brasil), também há um New Wave mais rock,que pode ser encontrado em bandas como Smiths, Dire Straits e até The Police.
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cara gostei muito do post deu pra conhecer melhor o sid porra me apaixonei por essa banda.
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Que legal, Darlan!
Seja bem-vindo ao HQRock!
Abraço!
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Ele não matou a Nancy!!!!!!!!!
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Gostei do post, fui punk e Sex pistols foi uma das bandas punk’s que eu curtia pacas assim como o estilo… Foi uma pena a morte prematura do sid, ele amou demais a Nancy e junto amou as burradas que ela o levou, ele não chegou a ter uma mãe exemplo, tudo isto acho que o influenciou para levar a vida que levou, o que foi uma pena para o movimento Punk.
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