O site The Vulture ironiza em uma matéria o fato de que, pela primeira vez na carreira, o cantor e compositor Bob Dylan chegou ao topo de uma parada de sucessos da revista Billboard, a principal e oficial “parada de sucessos” dos EUA. O músico estadunidense tem 58 anos de carreira, e já ganhou um Oscar, 10 Grammy e o Prêmio Nobel de Literatura.

Mas nem se anime: Dylan não chegou ao topo dos Hot 100 (a parada de sucessos de canções) ou ao Top 200 (os álbuns mais vendidos) e nem mesmo às paradas específicas de rock, como Hot Rock Songs ou Top Rock Albuns. A lenda da música ficou em primeiro lugar da Digital Rock Sales desta semana, ou seja, as canções de rock mais vendidas em meio digital, com a faixa Murder must foul, recém lançada.
Murder must foul é a primeira canção inédita de Dylan desde o lançamento do álbum Tempest, em 2012. De lá para cá, ele até lançou uma trilogia de discos – Shadows in the Night, Fallen Angel e Triplicate – dedicados a covers de artistas tipicamente norteamericanos, como Frank Sinatra. Murder must foul tem quase 17 minutos e é quase declamada, com um acompanhamento lento de piano, orquestra e uma bateria discreta, falando sobre o assassinato do ex-presidente dos EUA, John F. Kennedy, em 22 de agosto de 1963.

Na verdade, Dylan havia chegado ao topo das paradas da Billboard, mas apenas como compositor, quando o trio folk Peter, Paul & Mary gravou Blowin’ in the wind, em 1963, e a banda fundadora do folk rock The Byrds gravou Mr. tambourine man, em 1965. Como artista, Dylan chegou ao número 2 da parada geral da Billboard em três ocasiões, com Like a rolling stone, em 1965; Rainy day women # 12 & 35, em 1966; e Things have changed, em 2000.
Bom, agora, pelo menos o maior compositor norte-americano da história do rock pode se orgulhar de – após seis décadas – finalmente ter sido reconhecido em vendas por seu país. Bom, pelo menos por uma semana e com uma música em uma parada secundária da categoria específica de rock da Billboard.

O caso de Dylan – que verdade seja dita, virou um super star em meados dos anos 1960, mesmo sem um N.º 1 na Billboard – ilustra muito bem uma discussão entre a diferença de sucesso e qualidade. E mais ainda do que na era do rock clássico – quando verdade seja dita de novo, os álbuns de Dylan ficavam muito bem posicionados na Billboard – isso diz respeito aos dias de hoje.
Nascido como Robert Zimmerman em 1941, em Duluth, Minnesota, nos EUA, ainda criança, aprendeu a tocar violão e piano, tocou em bandas de rock and roll amadoras, quando passou a se dedicar à música folk, acompanhado apenas por sua voz, violão e gaita, e adotou o nome artístico de Bob Dylan, chegando ao primeiro álbum em 1962, conseguindo o reconhecimento e sucesso como compositor em 1963, mas efetivamente virando uma estrela em 1965, quando adotou instrumentos elétricos e se uniu à nascente cena roqueira dos EUA no movimento chamado Reação Americana, em resposta à Invasão Britânica de Beatles e Rolling Stones.

Dylan se tornou um dos mais importantes e influentes compositores não só da história do rock, mas da história da música dos EUA ao longo da segunda metade do século XX. Com uma carreira longeva, o músico teve alto e baixos, mas especialmente a partir dos anos 1990, voltou a lançar com frequência álbuns bem recebidos pela crítica.
Nos últimos anos, sua importância foi coroada com o Prêmio Nobel de Literatura, que ganhou em 2016. Dylan tem 78 anos e se mantém bastante ativo, fazendo shows e turnês constantemente.