O ex-líder e compositor do Pink Floyd, Roger Waters é um vocal crítico da postura do povo israelita diante dos palestinos na crítica região do Levante, e isso lhe rendeu em tempos recentes a pecha de antissemita. Por causa disso, Waters teve alguns shows cancelados em sua corrente turnê pela Europa, em particular, uma apresentação em Frankfurt, na Alemanha, impossibilitada por uma ação da prefeitura local. Em reação ao cancelamento, um grupo de apoiadores organizou uma petição na plataforma change.org. As informações são da 89 Rádio Rock.

Waters tocaria sua turnê This is Not a Drill em Frankfurt no dia 28 de maio próximo, na sala de concertos Festhalle, mas a apresentação foi cancelada pela prefeitura.

A petição para a realização do show foi organizada por Katie Halper, uma comentarista política e comediante dos EUA, e já contou com apoios públicos de Eric Clapton, Peter Gabriel, Brian Eno, Tom Morello (da banda Rage Against the Machine), além do seu ex-colega de Pink Floyd, o baterista Nick Mason.

A petição tem a seguinte sinopse:

A crítica de Waters ao tratamento dado por Israel aos palestinos é parte de sua defesa de longo prazo dos direitos humanos em todo o mundo. Waters acredita que todos os nossos irmãos e irmãs em todo o mundo, independentemente da cor de sua pele ou da profundidade de seus bolsos, merecem direitos humanos iguais sob a lei.

Ontem, a petição já tinha alcançado 10 mil assinaturas.

Em tempos recentes, Waters vem sendo frequentemente acusado de antissemitismo, inclusive, por seu antigo parceiro de conjunto no Pink Floyd, o guitarrista David Gilmour, que respondeu um tuíte de sua esposa – a escritora Polly Samson, também letrista do Pink Floyd em sua última fase – que o acusava disso e outras coisas. Gilmour depois endossou o comunicado, dizendo que tudo “era provavelmente verdadeiro”.

O posicionamento de Waters na delicada questão de israelitas e palestinos é um ponto sensível que merece atenção cuidadosa, mesmo em tempos de cancelamentos “fáceis”. À princípio, a julgar pelos comentários que o músico realizou publicamente – alguns deles acompanhados aqui pelo HQrock – podemos pensar que a crítica de antissemita é injusta, pois o que Waters reclama, baseado em fatos e denúncias (que precisam ser apuradas, é claro) é do tratamento que os dirigentes políticos de Israel dão ao povo palestino, que sofreriam perseguições e um tipo de política segregacionista.

São acusações graves e, de novo, merecem apuro e cuidado. Mas se a crítica de Waters é a este nível, isso não o classificaria como antissemita, pois não identificamos – pelo menos até agora – uma postura contra o povo judeu em si ou mesmo um preconceito exacerbado. A defesa de boicotes a shows em Israel, por exemplo, que Waters já vocalizou – um boicote como o que ele está sofrendo – é justificada em seu discurso pela ação dos dirigentes políticos de Israel e não contra o povo judeu.

É importante salientar que se Waters tem posturas públicas antissemitas, que elas sejam expostas, analisadas e combatidas. Mas esse não parece ser o caso, pelo menos até agora.

Porém, vivemos em tempos de muita inflamação nos discursos identitários e reações violentas, às vezes, desmedidas.

Ainda que a polêmica levantada, em si, possa servir de motivos para a prefeitura de Frankfurt vetar suas apresentações por lá, é um tema que merece ser discutido com parcimônia.