Havia/Há bastante expectativa em volta de The Flash e o filme do velocista escarlate estreou nos EUA (e no Brasil) este fim semana… para um resultado decepcionante nas bilheterias. O que aconteceu?

O longa de Andy Muschietti arrecadou US$ 55,1 milhões no fim de semana (contando três dias) e US$ 64 milhões nos quatro dias, o que é bem menos do que a previsão da Warner de arrecadação de 72 milhões. No restante do mundo onde chegou às salas de exibição, The Flash arrecadou outros 75 milhões, somando uma bilheteria de US$ 130,1 milhões em seu primeiro fim de semana.

A bilheteria de The Flash em sua estreia foi ainda menor do que a de Adão Negro, que coletou US$ 67 milhões para o longa estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson, o que foi considerado um fracasso retumbante…

Em contrapartida, o velocista escarlate encontrou uma boa avaliação no Rotten Tomatoes, que classifica os filmes entre “frescos” ou “podres”, mas não foi tão bem no CinemaScore, conseguindo apenas uma nota B.

Provavelmente, o resultado nem diz tanto respeito à qualidade do filme, mas à imagem que a DC Comics construiu para si nos cinemas.

Sua concorrente Marvel Comics construiu um universo forte e de grande apelo ao público através de um plano de longo prazo, ainda que após o encerramento de seu primeiro grande ciclo – com Vingadores – Ultimato – venham crescendo as críticas e o descontentamento do grande público com as produções recentes, tanto no cinema quanto na TV. (Em nossa visão, após a consagração, a Marvel decidiu experimentar algumas coisas não-óbvias ao mesmo tempo em que “guarda” o máximo possível a sua marca maior [os Vingadores] para não desgastá-la, prevendo dar um descanso a eles até daqui há dois ou três anos para retomar bilheterias maiores, como de 1 bilhão de dólares… Não que eles vão conseguir esse plano, exatamente).

A DC Comics, ao contrário, construiu um arremedo de universo compartilhado composto quase que exclusivamente de produções divisivas, que agradaram alguns e deixaram muitos descontentes. Desde o início, em 2013 com O Homem de Aço, provavelmente, Mulher-Maravilha (2017) e Aquaman (2020) foram as únicas produções que agradaram mesmo público e crítica (e a primeira se mostrou “fogo de palha” com sua sequência horrenda; a de Aquaman ainda vem aí…). Estamos falando de 11 filmes no total (excluindo The Batman e Coringa que correm por fora do DCU) e somente dois atingiram um (grau limitado) de consenso.

Claro, não se constrói uma marca positiva dessa forma, não é mesmo? Então, por que esperar que o público espere por um bom filme a qualquer lançamento da DC?

Em termos meramente comerciais, The Flash ainda tem o agravante de servir de reiniciação de algo que nunca começou… Por sua trajetória trôpega, o DCU jamais existiu de verdade e seu conjunto de 11 filmes criam grandes contradições e pontos de conexão incerta entre eles mesmos. Originalmente, The Flash foi pensado como um tipo de roboot para consertar isso, mas a mudança na direção da Warner Bros. Discovery e a criação do novo DC Studios transformaram o longa num fim sem começo e num começo sem fim.

E sem falar que The Flash concorre contra ele mesmo no sentido de que existe uma série de TV sobre exatamente o mesmo personagem que está sendo encerrada após 9 temporadas e que tem um público cativo e não desprezível. A Warner/DC sempre gostou de diluir a força de seus personagens em versões paralelas concomitantes (tanto em termos comerciais [vide Flash, Batman e Superman que tinham até há pouco duas versões – televisivas e cinematográficas – concorrentes; e no caso do Batman, na verdade, eram quatro: duas no cinema e duas na TV]).

Se existe uma fórmula do sucesso, com certeza não é essa…

Podemos estar errados, mas a tendências das bilheterias no cinema, quase sempre, é de serem fortes no primeiro fim de semana e caírem em seguida (descer até 30% ou 40% no segundo fim de semana ainda pode configurar um sucesso; descer de 60 a 70%, configura um fracasso)… então, a tendência é The Flash seguir um caminho bastante similar ao de Adão Negro e ficar por isso mesmo apesar do hype. Ainda que alguns fãs (vestidos de críticos) tenham AMADO o filme nas exibições prévias a qual tiveram acesso, o que parece se configurar é que o grande público não está interessado, obrigado.

A conclusão épica do Marvel Studios aliada à má recepção das inúmeras produções irregulares (e experimentais) que vieram depois mais a sequência de lançamentos sempre duvidosos e recebidos com pé atrás da DC, colocaram o gênero de super-heróis na berlinda. Somada ainda a pandemia e o afastamento do público das salas de cinemas, isso significa que o cenário explosivo da década passada não existe mais.

O gênero de super-heróis precisará galgar novamente uma escalada de sucesso e apreciação, enquanto terá o desgaste e a decepção jogando contra ele o tempo todo. Ele se reerguerá no futuro? Quem sabe… mas por ora, não é bom esperar um grande sucesso de bilheteria, não.

James Gunn, o grande nome criativo por trás da DC Studios tem um imenso desafio nas mãos: fazer o público se interessar pela DC a despeito da “queimação” da marca que seus antecessores promoveram tão bem. (É preciso dizer: manchar a imagem de seus próprios personagens é uma coisa que a Warner sabe mesmo fazer, especialmente no cinema).

Repetir as jogadas da Marvel – multiverso, jogar com a nostalgia dos fãs (como fez Homem-Aranha – Sem Volta para Casa ao qual The Flash mimetiza) – não é mais suficiente.

Gunn é bastante bom em movimentar as redes sociais e tem a vantagem de ser bastante direto na comunicação com os fãs, guardando a honestidade possível dentro do mundo corporativo no qual vive (tanto como diretor quanto como CEO da DC Studios). Isso pode ser uma vantagem em sua árdua missão de (re?)erguer o DCU nos cinemas.

Mas será preciso criar um hype absolutamente espetacular com Superman – Legacy e, em seguida, Batman – The Brave and the Bold (no nível de Star Wars – O Despertar da Força, em 2015… e lembre-se, a história é cruel, este exemplo frustrou os fãs após o lançamento e deu no que deu… mas o hype de seu lançamento [o retorno da franquia após uma década] foi imenso).

A DC, contudo, não tem uma década de intervalo até lá. E nem produtos que encantaram o grande público o suficiente para garantir uma animação frenética ao (re?)lançamento do DCU. E não estranhe se o público simplesmente olhar para o lado e pensar: “ah, é apenas mais um filme do Batman… blá!”.