Segundo a Variety, morreu o compositor e guitarrista Robbie Robertson, que liderou o grupo de rock The Band, que fez sucesso e também acompanhou Bob Dylan. O músico também atuou como produtor musical dos filmes de Martin Scorsese. A revista diz que o empresário dele, Jared Levine, divulgou um comunicado que informa a morte de Robertson, em paz e ao lado de sua família, na quarta-feira passada, após uma longa luta contra uma doença.

Nascido Jaime Royal Robertson, em Toronto, no Canadá, em 05 de julho de 1943, “Robbie” Robertson se envolveu com a música na adolescência. Sua mãe era indígena, descendente dos Cayuga e Mohawk e sua família vivia em uma reserva das Seis Nações do Grande Rio, que ele frequentava nas férias e foi onde aprendeu a tocar violão com um primo.

Ele formou várias bandas a partir de 1956, tocando rocks e sucessos em bailes adolescentes até que uma delas chamou à atenção do cantor Ronnie Hawkins, em 1959, e logo o grupo de Robertson se tornou sua banda de acompanhamento, usando o nome Ronnie Hawkins and the Hawks, e Robbie começou a contribuir com material autoral, também, com duas canções suas (Hey baba Lou e Someone like you) entrando no disco Dynamo de Hawkins, ainda em 1959.

The Band in London, June 1971. From left: Levon Helm, Richard Manuel, Robbie Robertson, Rick Danko and Garth Hudson.

Robertson permaneceu acompanhando Hawkins por anos e, gradativamente, os membros do The Hawks foram mudando até atingir, em 1964, a formação com ele próprio na guitarra, Levon Helm na bateria, Rick Danko no baixo, Richard Manuel no piano e Garth Hudson no órgão – embora todos fosse multiinstrumentistas e podiam mudar de instrumentos dependendo da necessidade da canção.

Neste ponto, The Hawks largou o trabalho com Hawkins e seguiu tocando as próprias canções, acompanhando o músico de blues John P. Hammond (So Many Roads, 1965) e gravando (apenas a banda) uma sequência de singles pela gravadora Apex Records até que um amigo de Hammond, Bob Dylan, se interessou em ter Robbie Robertson tocando guitarra em sua própria banda.

Com violão e gaita, o primeiro Bob Dylan: caipira intelectual engajado.

Dylan era “a voz de sua geração”, um cantor e compositor folk que estreou em disco em 1962, cantando e sendo acompanhado apenas por si próprio no violão e gaita, e se não fez sucesso popular, ao menos era o favorito da crítica e do público universitário. Mas o sucesso dos Beatles e da Invasão Britânica inspirou Dylan a abraçar o rock, passando a ser acompanhado por instrumentos elétricos ao mesmo tempo em que a banda The Byrds, de Los Angeles, começou a fazer um imenso sucesso tocando faixas de Dylan numa roupagem à lá Beatles.

Bob Dylan com a the Band em 1966, e Robbie Robertson (dir.).

Dylan e os The Hawks se uniram em outubro de 1965 e saíram na primeira turnê elétrica do compositor, que sofreu bastante resistência de seu público tradicional, apegado à roupagem acústica, mas começou gradativamente a ficar cada vez mais popular. Dylan fazia um show com duas seções: a primeira acústica e a segunda com o acompanhamento do The Hawks. Após rodarem por EUA e Canadá, em abril de 1966, a turnê avançou para Havaí, Austrália, Europa e Reino Unido, onde Dylan e os Hawks confraternizaram com Beatles, Rolling Stones e The Animals. Mas a tensão nos shows persistia.

Os álbuns de Dylan – como Blonde on Blonde (1966) – [gravados sem os Hawks] se tornavam cada vez mais populares, mas o compositor sofreu um gravíssimo acidente de moto em julho de 1966 e aproveitou o episódio para se afastar dos holofotes e viver de maneira reclusa em Woodstock, no interior do Estado de Nova York. Em fevereiro de 1967, Dylan convidou os Hawks para irem morar na região e ensaiarem algumas canções novas.

Robbie Robertson alugou uma grande casa pintada de rosa e os ensaios passaram a ocorrer no estúdio improvisado montado no porão. Dezenas de músicas foram escritas e tocadas nessas seções e as fitas com gravações dos ensaios começaram a circular no meio musical, o que levou os Byrds, por exemplo, a lançarem algumas delas. Um bootleg (álbum pirata), com a capa branca – e por isso chamado de The Great White Wonder – começou a circular e a revista Rollin’ Stone fez campanha para que fosse lançado oficialmente. Apelidadas de The Basement Tapes, essas sessões seriam lançadas oficialmente apenas em 1975, compiladas e mixadas por Robertson.

Dylan terminou indo embora gravar o álbum John Wesley Harding (1967) e Robertson e os Hawks foram convidados pela Capitol Records e o produtor John Simon para gravarem um álbum próprio, que sairia em 1968 com o título Music From the Big Pink, em homenagem à casa rosa em que ensaiavam. Fazendo piada com o fato de terem sido banda acompanhante de Ronnie Hawkins e Bob Dylan, o que os fazia ser apresentados apenas como Bob Dylan and the band, Robertson e seus colegas adotaram o nome definitivo de The Band.

Music From the Big Pink foi um grande sucesso entre críticos e músicos e Robertson escreveu quatro de suas faixas, incluindo a mais famosa delas, The weight, que ganhou inúmeros covers (Aretha Franklin, The Supremes with Temptations) e apareceu em destaque na trilha sonora de Easy Rider, virando um clássico do rock. O som despojado e solto foi um respiro de alívio após os excessos da era psicodélica e incentivou muitos músicos a retomarem uma sonoridade menos espetaculosa, num movimento reforçado por Beatles e Rolling Stones.

O segundo disco, The Band (1969) fez mais sucesso ainda, chegando ao 9º lugar das paradas dos EUA e rendendo os hits The night they drove the old dixon down e Up on cripple creek, ambas de autoria de Robertson, o que motivou apresentações, naquele mesmo ano, no Festival de Woodstock e no Festival da Ilha de Wight na Inglaterra, esta ao lado de Dylan.

The Band e Bob Dylan em 1974.

The Band continou sendo um grupo popular nos EUA, mas deixaram de fazer shows em 1971, só retornando dois anos depois no Summer Jam at the Watkins Glen (o maior dos festivais de rock do país, com 600 mil pessoas), e depois, se reunindo novamente com Bob Dylan para gravarem o álbum Planet Wave (1974) e saírem em uma grande turnê, que rendeu o disco ao vivo duplo Before the Flood (1974), creditado a Bob Dylan/The Band, que chegou ao 3º lugar das paradas.

O lançamento de The Basement Tapes (1975) manteve a The Band na ribalta e o grupo voltou a excursionar em 1976 e lançou os álbuns Northern Lights – Southern Cross (1975) e Islands (1976). Mas Robbie Robertson queria encerrar o grupo e os convenceu a fazer um grand finale, o que resultou no The Last Waltz Concert no The Winterland Ballroom de San Francisco, no Dia de Ação de Graças de 1976, reunindo a The Band e um séquito de convidados especiais: Eric Clapton, Neil Young, Bob Dylan, Ronnie Hawkins, Muddy Waters e vários outros.

Bob Dylan e The Band ao vivo em 1976.

O concerto foi filmado por Martin Scorsese e The Last Waltz se tornou um dos documentários musicais mais amados de todos os tempos, um grande sucesso, quando lançado em 1978. Para compor o lado sonoro do filme – que rendeu um disco triplo ao vivo também – Robertson trabalhou bem próximo do diretor, o que firmou uma parceria entre eles.

(FILES) Robbie Robertson attends the “Once Were Brothers: Robbie Robertson and the Band” press conference during the 2019 Toronto International Film Festival at TIFF Bell Lightbox in Toronto, Ontario, Canada, on September 05, 2019. – Robbie Robertson, guitarist and main songwriter of the seminal rock group The Band, has died, the trade publication Variety said on August 9, 2023, citing his manager. He was 80 years old. (Photo by KEVIN WINTER / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP)

Dali em diante, Robertson atuou como produtor musical de vários filmes de Scorsese, como Touro Indomável, O Rei da Comédia, A Cor do Dinheiro, Gangues de Nova York, Os Infiltrados, O Lobo de Wall Street e O Irlandês. Trabalhando mais para cinema, produzindo artistas ou compondo algumas faixas, Robertson terminou tendo uma carreira solo bissexta, com os discos Robbie Robertson (1987), Storyville (1991), Contact From the Underworld of Redboy (1998), How to Become Clairvoyant (2011) e Sinematic (2019).

Não foi informada a doença a qual ele sofria. Robertson tinha 80 anos.