Jean Grey sempre foi uma das mais queridas, importantes e poderosas membras dos X-Men e isso só ficou mais evidente quando ela se tornou a Fênix, se associando a uma entidade capaz de destruir mundos. A associação da antiga Garota Marvel com a Fênix é um dos temas recorrentes das histórias dos mutantes da Marvel Comics desde o fim dos anos 1970 e volta à tona agora com uma nova série dedicada à personagem, escrita pela veterana Louise Simonson. E num chat com fãs, a escritora comentou a possibilidade de a própria heroína ter criado a Fênix? Será?

Já há algum tempo, a Marvel vem promovendo um evento anual chamado Hellfire Gala, uma festa de gala do Clube do Inferno, uma associação exclusiva de Nova York que reunia ricos e poderosos industriais, mas que ultimamente está tomado pelos mutantes dos X-Men. E no evento desse ano, Jean Grey foi morta outra vez. Afinal, voltar dos mortos é uma de suas características mais famosas hoje em dia… Para mostrar isso, está saindo a nova série escrita por Louise Simonson, Jean Grey 01, a revista solo da heroína cuja primeira edição saiu agora em agosto.
E para promover o título, a Marvel organizou uma entrevista com ela via AiptComics, e foi questionada por um fã sobre se ela considera que a Fênix (uma entidade normalmente associada ao mal) é um “lado” de Jean Grey, Simonson respondeu de modo surpreendente:

Eu acredito que Jean é poderosa o suficiente para ter criado a Fênix. Nós apenas começamos a explorar suas imensas habilidades… Então, a questão é: ela criou uma entidade separada de si mesma, com seus próprios objetivos? Ou quando a Fênix entra em contato com outros personagens, é ela [Jean] manifestando sua vontade telepaticamente pelo Universo Marvel? Eu não sei… Só o tempo dirá.
Simonson não desenvolveu o tema, pareceu só lançá-lo ao ar, mas, definitivamente, é algo que a Marvel pode explorar daqui em diante. Ainda mais porque a série em questão traz a Fênix dominando o corpo e a mente de Wolverine.

Aos não iniciados, essa é uma questão complexa… A Garota Marvel foi criada junto com os X-Men originais, em 1963, por Stan Lee e Jack Kirby, em The X-Men 01, mas foi retratada como a participante mais novata e com poderes de telecinese nas primeiras aventuras, e disputada pela afeição de Warren Worthington III (o Anjo), mas terminando como par romântico do líder Scott Summers (o Ciclope). Foi apenas retroativamente que ela se tornou telepata, em histórias de Roy Thomas e Don Heck (a partir de X-Men 42 de 1967), estabelecendo que seu poder havia sido “destravado” pelo professor Charles Xavier.

O envolvimento com a Fênix só veio muito mais tarde. Após os X-Men serem renovados com novos membros – incluindo, Wolverine, Tempestade, Colossos, Noturno etc. – uma batalha em uma estação espacial contra os Sentinelas colocaram o grupo de volta à Terra em um ônibus espacial danificado no meio de uma tempestade solar terrível. Jean era a única que poderia teoricamente trazer a nave de volta, pois pôde absorver o conhecimento da pilotagem por meio da telepatia e usar sua telecinese para barrar os raios solares do casco rompido da nave. Ela o fez, mas morreu no processo.

Mas como vimos na passagem de X-Men 100 para 101, de 1976, por Chris Claremont e Dave Crockum, Jean morreu e renasceu como a Fênix, agora, uma mulher superpoderosa, capaz de alterar a realidade. Ainda demorou um tempo até que Claremont, agora ao lado de John Byrne, criassem A Saga da Fênix Negra, na qual gradativamente, Jean vai perdendo o controle de seus poderes até ser corrompida por eles e se tornar uma vilã, uma mulher má que chegou a ir ao espaço e consumir uma estrela, o que resultou na morte de um planeta inteiro. Como punição por esse gesto, mesmo após Jean reestabelecer o controle, a Fênix foi caçada pelo império alienígena de S’hiar, ex-aliados dos X-Men, o que resultou em uma batalha feroz. Mas em vias de perder o controle de novo, Jean optou pelo suicídio na Lua, como vemos em The Uncanny X-Men 137, de 1981.
Era apenas o inicio da história… Cinco anos depois, a Marvel decidiu reunir os X-Men originais como uma equipe à parte, um spin-off da revista dos mutantes, que faziam sucesso como nunca. Mas para a reunião ser completa, era preciso que Jean Grey retornasse dos mortos. Assim, uma reunião entre o editor-chefe Jim Shooter, o escritor da nova revista, Bob Layton, e os roteiristas Roger Stern (ex-editor da revista dos X-Men) e John Byrne (coautor d’A Saga da Fênix Negra) definiu a trama em que isso aconteceria.
Assim, os Vingadores encontram um misterioso casulo no fundo da Baía Jamaica em Nova York e o levam para sua Mansão para estudá-lo (numa história de Roger Sterne John Buscema), e o Quarteto Fantástico termina descobrindo que Jean Grey está lá dentro (na trama escrita e desenhada por John Byrne)! Assim, descobrimos que, no acidente do ônibus espacial, uma entidade cósmica chamada Fênix apareceu para Jean e se ofereceu para assumir seu corpo em troca de salvar seus amigos (quase um pacto com o diabo) e Jean foi mandada para o casulo para se curar, enquanto a Fênix sempre foi, desde o início, uma entidade separada, copiando Jean.

De volta à vida, Jean se torna o estopim para que os cinco membros originais dos X-Men se reúnam em uma nova equipe, o X-Factor, já que nenhum deles estava no grupo naquela época, como vemos em X-Factor 01, de Bob Layton e Jackson Guice, em 1986. O grupo e Jean passaram a ter suas aventuras, que pouco tempo depois, foram assumidas pela roteirista Louise Simonson, que trouxe seu marido, o aclamado Walt Simonson para desenhar a revista.
Louise Simonson fez um ótimo trabalho na revista X-Factor e permaneceu por um bom número de anos à frente daqueles mutantes (foram 57 edições até X-Factor 63, de 1990), sendo uma das maiores construtoras da personalidade moderna de Jean Grey. Mas a questão da Fênix ser uma entidade separada foi algo que sempre incomodou muitos fãs e artistas e, no fim das contas, a escritora e o veterano Chris Claremont (que continuava escrevendo a revista Uncanny X-Men) entraram em um acordo para resolvê-lo: a saga Inferno, que se espalhou pelas revistas da Marvel terminou por revelar que Jean tinha um clone, Madelyne Pyor, que teve um filho com Ciclope (o menino que irá crescer no futuro para voltar ao presente como o herói chamado Cable), e terminou se tornando hospedeira da Fênix até que Jean termina se fundido com a entidade e, suprimindo os poderes sem controle dela, Jean e Fênix se tornam uma coisa só, com a heroína absorvendo as memórias da segunda como se fossem suas.
Resolvido.

Ciclope e Jean Grey retornaram aos X-Men depois, o X-Factor virou outro tipo de grupo e a heroína morreu e voltou diversas vezes desde então, chegando até a ter sua versão adolescente trazida até o presente para viver novas aventuras. Em tempos mais atuais, a Jean adulta chegou a até estabelecer um trisal com Ciclope e Wolverine.
Com a nova morte e as ideias de Louise Simonson voltando a escrever a personagem, o que será que vem por aí?
Jean Grey é a nova revista da Marvel Comics que começou a ser publicada no mês de agosto, com roteiro de Louise Simonson e arte de Bernard Cheng.

