Numa época em que praticamente apenas os velhos “dinossauros do rock” são capazes de levar multidões aos estádios para curtir o velho rock’n’roll, de modo bastante precoce se fala sobre uma próxima turnê do The Who, a clássica banda britânica que é um ícone dos anos 1960. Os remanescentes Pete Townshend (guitarra) e Roger Daltrey (vocais) finalizaram uma turnê ainda em agosto de 2023, mas desde então, a imprensa musical comenta incessantemente sobre a “próxima”. Perguntado pelo The New York Times, Townshend disse que deseja fazer uma grande turnê de despedida da banda, antes de se aposentar.

Ao célebre jornal, o guitarrista e compositor disse:

Eu sinto que há uma coisa que o The Who pode fazer: é uma turnê final onde nós toquemos em cada território do mundo e, então, nos retiremos para morrer.

Sobre o que uma turnê desse tipo traz de desafiador, o músico foi sincero:

Eu não tenho muito entusiasmo em tocar com o The Who. Se eu for totalmente honesto, estou excursionando pelo dinheiro. Minha ideia de um estilo de vida comum é muito elevado.

Bom, em vista a contribuição do The Who para a cultura mundial nos últimos 60 anos, não podemos reclamar de Townshend querer juntar dinheiro para sua aposentadoria, podemos?

O guitarrista já declarou em entrevistas anteriores não estar muito interessado em gravar novos discos e disse, no fim do ano passado, que ele e o vocalista Roger Daltrey – os dois únicos sobreviventes da banda – precisariam sentar para discutir o que fazer a seguir.

Townshend e Daltrey são os remanescentes do The Who.

Falando nele, há não muito tempo atrás, Daltrey se manifestou dizendo que achava que o The Who já tinha encerrado as atividades. Em conversa com o The Times britânico, em janeiro deste ano, ele disse:

Não posso dar uma resposta definitiva. Eu não escrevo as músicas. Nunca escrevi. Precisamos sentar e ter uma reunião, mas, no momento, estou feliz em dizer que essa parte da minha vida está encerrada.

De volta à declaração de Townshend no final do ano passado, à revista Record Collector, o guitarrista havia dito:

Sandringham [local do último show da turnê Hits Back!] não deveria parecer o fim de nada, mas parece o fim de uma era.

Sim, o The Who pode ter um fim mais digno, um concerto de despedida em Londres, por exemplo, e isso pode mesmo acontecer. Uma turnê é menos provável, mas é possível, também. Em tempos em que os músicos não ganham mais dinheiro com a reprodução ou venda de canções, mas com shows, é comum artistas lendários fazerem várias turnês de despedida.

The Who tocando no Brasil, em 2016.

Com ambos os músicos chegando à casa dos 80 anos, ainda há um tempinho para a despedida. Quem sabe?

Se tudo tiver terminado no ano passado… bom, Townshend e Daltrey (junto aos falecidos Moon e Entwistle) escreveram um dos capítulos mais importantes da música do século XX e continuaram a tocar por bem mais tempo do que se esperava deles. Quem pode reclamar?

O The Who se formou em Londres em 1963 e chegou aos discos em 1965, com uma estreia explosiva, com o single I can’t explain e o álbum My Generation. Formado por Roger Daltrey (vocais), Pete Townshend (guitarras), John Entwistle (baixo) e Keith Moon (bateria), marcou época por sua sonoridade pesada e as composições inacreditáveis de Townshend, narrando as idiossincrasias de seu tempo e do estilo de vida britânico, marca que, inclusive, dificultou sua recepção nos Estados Unidos e no resto do mundo, a despeito do sucesso onipresente na Inglaterra desde a estreia.

O The Who em 1970.

Foi somente com a ópera-rock Tommy (1969), formato musical que criaram, que o grupo se tornou uma das bandas de rock mais importantes do mundo. O grupo produziu obras seminais, como Who’s Next (1971) e Quadrophenia (1973), antes da morte de Moon por overdose de remédios e álcool, em 1978. Seguindo em frente, o grupo encerrou as atividades oficialmente em 1984, mas prosseguiu realizando turnês celebrativas ocasionais, mesmo após a morte Entwistle por overdose em 2002.

Desde 2004, as turnês se tornaram mais constantes, e o grupo até lançou dois álbuns inéditos finais, em 2006 (Endless Wire) e 2019 (Who).