Um colecionador de discos de Vancouver, Canadá, teve a maior das surpresas nos últimos dias: encontrou uma fita de áudio de alta resolução que parece ser uma cópia da gravação de audição dos Beatles que foi recusada pela gravadora Decca na Inglaterra. Um verdadeiro tesouro de 63 anos!!!! A notícia foi divulgada no começo da semana na imprensa canadense, via CBC, e ontem apareceu na imprensa internacional, como na Billboard e no New York Post.

Rob Frith e a fita perdida.

Rob Frith é um colecionador de discos e proprietário da loja Neptoon Records em Vancouver e há alguns anos atrás recebeu uma fita profissional com a seguinte anotação: Beatles 60s Demos, que ele pensou ser o registro de um disco pirata. Recentemente, a partir de um amigo que tem o equipamento necessário para rodar a tal fita (afinal, é de mais de 60 anos atrás), chamado Harry Hennessey, ele ouviu e percebeu ser um registro da famosa The Beatles: Decca Tapes, a audição que os Beatles realizaram na gravadora Decca em 1962, na época a segunda maior gravadora britânica, e foram recusados sob a diretriz de que “grupos de guitarras estão em declínio”. A banda conseguiu um contrato com o pequeno selo Parlophone, pertencente à gravadora EMI, seis meses depois.

Capa do famoso disco pirata Decca Tapes.

A gravação da Decca ficou lendária depois disso e se transformou no disco pirata mais famoso dos Beatles, tendo sido lançado no mercado nos anos 1970 e hoje é relativamente fácil de ouvir, via YouTube, por exemplo, ou pode até mesmo ser comprado em CD ou vinil pela internet. A banda chegou a comprar os direitos da fita nos anos 1990 e três das 15 faixas registradas chegaram a ser lançadas oficialmente no disco The Beatles Anthology I, de 1995, que reunia gravações raras, demos, ao vivo e out-takes de estúdio.

Contudo, a fita de Frith parece ser uma boa cópia da fita master, ou a própria fita master (pois está em uma embalagem de papel com selo e tudo a anotado: “cliente: Beatles”) e, portanto, tem uma qualidade infinitamente superior às gravações que temos acesso atualmente. Firth explicou essa história e postou em suas redes sociais, afirmando que pela qualidade de som, acha que é a fita master (a matriz original da gravação) ou pelo menos uma cópia direta dela.

Jack Herschorn foi quem adquiriu a fita nos anos 1970.

Frith foi atrás da história da fita com quem a lhe deu: Jack Herschorn, um executivo de gravadora de Vancouver, que lhe disse que ganhou a fita de um produtor musical em Londres em 1971, que lhe disse que transformasse aquilo em um disco e vendesse no Canadá, mas Herschorn pensou que isso seria anti-ético e desrespeitaria os direitos autoriais dos músicos (os Beatles) e não o fez, apenas guardando a fita. Firth colocou em seu Instagram a audição da versão de Money (that’s what I want), cover de Barret Strong que os Beatles mais tarde gravariam profissionalmente em seu segundo álbum, With The Beatles, de 1963.

Questionado pelo CBC, Herschorn, que hoje está aposentado e vive no México, disse que espera que Frith repasse o material aos Beatles, a quem considera os verdadeiros donos da fita. Já Frith disse que não sabe bem o que fazer, mas que com certeza, não irá produzir um disco a partir da fita (afinal, ele tem uma gravadora). Ele afirma que se a Decca Records quiser uma cópia limpa do material, ele repassa, e também que se Paul McCartney (um dos dois membros vivos dos Beatles) for pessoalmente à sua loja, ele também lhe entrega uma cópia da fita.

Qual destino terá a fita e essas gravações já conhecidas, mas agora em alta resolução?

Também é interessante pensar que, nos últimos tempos, têm se encontrado algumas fitas raras de gravações dos Beatles… O HQRock, por exemplo, noticiou quando encontraram um tape amador de um show da banda em uma escola de 1963 (leia aqui). A tecnologia atual, com a IA permitindo a separação de sons, pode tornar esse tipo de gravação usável para lançamentos oficiais.

Os Beatles em 1961 no Cavern Club ainda com Pete Best na bateria.

Os Beatles estavam em busca de uma gravadora após terem firmado contrato com seu novo empresário Brian Epstein no fim de 1961, que conseguiu uma audição para a Decca Records no dia 1º de janeiro de 1962. A banda tinha então a formação com John Lennon (vocais e guitarra), Paul McCartney (vocais e baixo), George Harrison (guitarra solo e vocais) e Pete Best (bateria), pois o baterista Ringo Starr, que ficou famoso com o grupo, só entraria oito meses depois! A banda ficou decepcionada com a gravação da Decca: tinham feito um show na noite anterior e embarcaram logo em seguida para a então longuíssima viagem de Liverpool até Londres, e não dormiram direito antes da sessão. A banda soa tímida, insegura, nervosa e até ligeiramente desafinada em alguns momentos, ainda que o resultado geral seja bom. Não ótimo.

O produtor que conduziu a sessão – desde sempre planejada para ser apenas uma demo e não uma gravação profissional -, Mike Smith, gostou do resultado e quis contratar o grupo, mas a direção da Decca, na figura do executivo Dick Rowe, os recusou por achar que o mercado estava se afastando das bandas de rock. Dez meses depois, os Beatles lançaram seu primeiro compacto pela EMI com Love me do que chegou ao Top20 das paradas e, no ano seguinte, chegaram ao número 1 e viraram um fenômeno cultural na Europa inteira. Como uma maneira de se redimir, a Decca contratou os Rolling Stones em 1963.

Os Beatles foram a banda de maior sucesso, importância e influência do século XX e lançaram 13 álbuns até 1970 quando se separaram e todos os seus quatro membros fizeram sucesso em carreiras individuais.

Quer saber mais sobre o Decca Tapes? O HQRock detalha a gravação e a fita em seu post especial com a Discografia Completa dos Beatles! Clique aqui!