Uma surpresa nas paradas de sucesso britânicas foi noticiada pela imprensa esses dias. A Forbes chamou à atenção para o fato de que o novo single ao vivo do ex-Beatles John Lennon estreou na semana passada dentro do Top10 de três paradas britânicas! Um sucesso! É algo muito interessante, ainda mais porque o disquinho em questão é um lançamento apenas físico (não está disponível no digital nem em streaming – pelo menos não ainda) e exclusivo para o Record Store Day. Quer dizer: a força criativa de Lennon foi capaz de jogar um single de tiragem limitada para o topo das paradas!

O single em questão é na verdade um EP (extended play), algo que no Brasil chamávamos de compacto-duplo (porque trazia 4 faixas) no tempo em que havia o lançamento desses disquinhos de poucas músicas por aqui, mas foi oficialmente classificado como single por causa de sua curta duração. Chamado Power to the People: Live at the One to One Concert, New York City, 1972, o compacto traz quatro performances ao vivo de Lennon, sua esposa Yoko Ono e a banda Elephant’s Memory no Madison Square Garden, em dois concertos beneficentes, no dia 30 de agosto de 1972, com duas sessões, uma vespertina e outra noturna. O single traz no Lado A as faixas Well, well, well e Instant Karma!, e no Lado B Cold Turkey e Don’t worry Kyoko (Mummy’s only looking for a hand in the snow), sendo as três primeiras de Lennon e a última de Yoko Ono.

O concerto do Madison Square Garden em 1972 foi o único show completo em que John Lennon se apresentou após o fim dos Beatles, embora o músico tenha lançado vários discos e até feito algumas apresentações mais curtas ou em participação especial. Lennon morreu em 1980, assassinado por um fã por distúrbios mentais.
O EP Power to the People foi lançado semanas atrás no Record Store Day – um evento internacional feito para promover a venda de discos físicos em lojas – e chegou às paradas britânicas na semana passada, do dia 18 de abril, estreando na UK Official Charts (as paradas oficiais do Reino Unido) no 5º lugar consecutivo em duas paradas diferentes, na de singles físicos e na de singles de vinil (os singles também podem ser lançados em CDs, lembra?). E não somente isso, o disquinho também ficou em 7º lugar da parada de vendas de singles em geral. De novo, é um feito e tanto para um disco físico de lançamento com número de cópias limitadas.

Infelizmente, para quem gosta de rock, Lennon tem poucos companheiros para dividir os louros, com a parada tomada por artistas pop. Ainda assim, na parada de discos físicos, a veterana banda The Cure aparece em 4º lugar com Alone, Lennon em 5º lugar, o ex-baterista do Pink Floyd com sua banda cover da velha banda Nick Mason’s Saucerful of Secrets com Echoes, em 6º lugar, e o ex-guitarrista do Pink Floyd, David Gilmour, ao lado de sua filha Romany Gilmour, com Between two points, em 8º lugar, todos esses estreando naquela semana.
Já na parada das vendas de singles, os mesmos nomes se repetem em posições diferentes: The Cure em 6º lugar, Lennon e Ono em 7º, Nick Mason em 8º e David e Romany Gilmour em 10º.

O lançamento do casal Lennon-Ono serve de divulgação para o filme documentário One to One, que saiu nos cinemas no dia 11 de abril documentando a vida dos artistas entre os anos de 1971 e 1973, quando se mudaram da Inglaterra para os Estados Unidos e se envolveram com movimentos pacifistas e da esquerda radical, ao passo que é conduzido pelas performances do show de agosto de 1972. O HQRock já detalhou mais o filme e o concerto nesta postagem de algumas semanas atrás, leia lá!
O concerto em si será lançado como parte de um box-set especial de nove discos em 09 de outubro deste ano, a data de aniversário de Lennon, e é bastante aguardado pelos fãs, porque, além da ocasião especial, com um show completo, ele permanece inédito há quase 40 anos. Com o título de Live at New York City, o concerto fora lançado em LP, CD e VHS em 1986, mas trazia sérios problemas de áudio, pois o equipamento de gravação falhou, especialmente no show da noite, que foi melhor do que o da tarde, cuja banda estava mais nervosa e falha. Porém, as tecnologias atuais permitiram ao filho do casal, o também compositor e produtor musical Sean Ono Lennon remasterizar e remixar todo o material a partir do zero, recuperando toda a qualidade sonora do evento e separando cada um dos instrumentos musicais. As amostras liberadas até agora indicam uma qualidade sonora monstruosa, a mil anos-luz de distância do antigo lançamento.

Não foi detalhado ainda qual será o conteúdo do box de 9 discos, mas provavelmente, teremos o concerto na íntegra (será que de cada show?) que não foi contemplado nem no disco e nem no filme antigos e é muito provável que o álbum de estúdio Sometime in New York City, lançado na mesma época, seja incluído numa versão remasterizada e remixada. Este é considerado o disco mais fraco da carreira solo de Lennon e não vendeu bem na época, em parte, por causa de seu pesado conteúdo político, ainda que as canções em si não sejam mesmo tão extraordinárias quanto no restante de seus álbuns. Daí que Sometime… não teria a força de carregar sozinho um lançamento em box-set como foi realizado pelo mesmo Sean Lennon em anos recentes com Plastic Ono Band (1970), Imagine (1971) e Mind Games (1973), que ganharam incríveis versões remixadas, inclusive, com este último ganhando o Grammy de Melhor Relançamento este ano.
Além do box-set puxado pelo One to One Concert, o novo filme do concerto também será relançado, com uma nova edição e som e imagem completamente restaurados, do qual o enxerto do filme que está nos cinemas é apenas uma amostra. Daí, um detalhe curioso: se o filme que está nos cinemas se chama One to One e o EP Power to the People, é provável que o box-set e o filme do concerto mantenham o nome Live at New York City que ostentaram nos anos 1980. Veremos…

John Lennon nasceu em Liverpool, na Inglaterra, em 1940, e fundou uma bandinha de rock na escola que evoluiu para se tornar os Beatles, que lançaram seu primeiro disco em 1962 e se transformaram no maior fenômeno cultural popular do século XX e a banda musical mais influente da história, embalados nas composições de Lennon ao lado de seu parceiro, Paul McCartney. Após 13 álbuns, a banda se separou em 1970 e todos os membros do quarteto fizeram carreiras solo de sucesso. Lennon se destacou por seu envolvimento político, suas faixas críticas e suas letras poderosas, e foi assassinado em 1980, aos 40 anos de idade.

