Embora a notícia só tenha sido revelada ontem, morreu no sábado, 24 de maio, o escritor de quadrinhos Peter David, famoso por seu trabalho com Hulk, Homem-Aranha e Supergirl. A informação foi colocada nas redes sociais e confirmada pela esposa do artista. Não foi divulgada a causa do falecimento, mas o escritor tinha problemas renais há alguns anos, e no ano passado teve sérios episódios de saúde, ficando internado e precisando de uma vaquinha online para auxiliar nos custos.

Peter Allan David nasceu em 23 de setembro de 1956, em Fort Meade, em Maryland, nos EUA, e cresceu nas cidades de Blomsfield e Verona, em Nova Jersey, filho de uma família judia, cujo avô e pai fugiram da perseguição antissemita nazista da Alemanha pré-Segunda Guerra. Seu pai era jornalista, o que influenciou bastante o jovem Peter a escrever e ele se tornou fã de quadrinhos desde a infância, especialmente do Superman e do Homem-Aranha nos anos 1960. Depois de deixar de ler quadrinhos na adolescência, ele terminou retornando o hábito em 1978 quando viu a revista Superman vs. Muhammad Ali, e em seguida, os Novos X-Men de Chris Claremont.
De ideias liberais, inclusive, apoiador das causas LGBTQIA+, David se formou em Jornalismo na Universidade de Nova York, e trabalhou alguns anos como jornalista, enquanto tentava vender histórias de ficção científica a revistas, e terminou trabalhando no mercado editorial de livros, na parte comercial, o que o levou a trabalhar no Departamento de Marketing da Marvel Comics, em 1980, onde se tornou o Gerente de Vendas, em 1982.

Mesmo assim, ele tentou vender alguns roteiros à editora, mas era negado porque havia uma rivalidade entre os departamentos de arte e comercial, e também porque a prática era vista como conflito de interesses, mas quando Jim Owsley se tornou editor das revistas do Homem-Aranha, ficou impressionado com os roteiros de David e os publicou como “tapa-buracos”, e por fim, encomendou um arco completo, com A Morte de Jean DeWolff sendo publicado em Peter Parker: The Spectacular Spider-Man 107 a 110, de 1985, no que acabou se tornando uma das melhores, mais lembradas e chocantes histórias do cabeça de teia.
A boa recepção fez de David o escritor fixo de Spectacular, a revista secundária do aracnídeo, onde entregou histórias adultas e pesadas, marcadas por drama e violência, o que desagradou o editor-chefe Jim Shooter até ele ser demitido da revista.

Mas em seguida, o editor Bob Harras lhe ofereceu o trabalho em The Incredible Hulk, uma revista que andava com vendas baixas e nenhum outro escritor queria. Com a liberdade que veio disso, David revolucionou o personagem, dando uma abordagem séria e psicológica ao Hulk, apresentando Bruce Banner como tendo sofrido abuso infantil de seu pai e que a raiva do Hulk era uma manifestação desse trauma, tratando o personagem como vítima de múltiplas personalidades. Trabalhando com desenhistas como Todd McFarlane, Dale Keown e Gary Frank, criando a célebre história Futuro Imperfeito, David ficou nada menos do que 12 anos à frente da revista do Hulk, produzindo sua fase mais memorável, mais importante e mais famosa.
Além do aspecto psicológico, que tornou Banner um personagem mais complexo, o escritor se notabilizou por abordar temas delicados em suas HQs, como homossexualidade, suicídio, vida sexual da mulher jovem, e ganhou prêmios por uma incrível história sobre a AIDS num tempo em que essa doença era uma epidemia terrível, envolta em preconceitos.
Em sua longuíssima temporada, mudou o status quo do Hulk diversas vezes, trabalhando com a versão cinza do monstro e deixando-o mais inteligente e sacana, fazendo o monstro ser um fugitivo da SHIELD, virar um gangster em Las Vegas (o Sr. Tira-Teima), se tornar o Professor Hulk com a inteligência de Banner, se aliar à misteriosa organização Panteão, lidar com o envenenamento radioativo da própria esposa, e muito mais.

Dedicado exclusivamente à escrita, David começou a escrever para a DC Comics, em histórias do Lanterna Verde e do Aquaman, em 1988, e outras revistas da Marvel, como uma temporada em Wolverine, e em X-Factor, na qual mudou o conceito do time para um grupo governamental com o foco em humor, o que fez bastante sucesso. Ele também criou o Homem-Aranha 2099, quando a Marvel lançou uma linha de heróis do futuro que assumiam o manto de heróis clássicos.


Saindo da Marvel, David lançou a minissérie Aquaman: Time and Tide, em 1994, que terminou lançando uma nova revista do herói aquático no qual era realizada uma nova abordagem, com o personagem com uma atitude mais agressiva e até perdendo a mão esquerda para usar uma gancho no lugar. Ele escreveu uma aclamada fase da Supergirl e foi um dos escritores do megaevento DC vs. Marvel, em 1997.
Nos anos 2000, David investiu mais em criações autorais, publicadas pela DC e IDW, mas trabalhou na nova versão do Capitão Marvel, na Marvel, e em 2005, promoveu um breve retorno ao Hulk e engatou uma polêmica fase no Homem-Aranha, e em 2008, retornou ao X-Factor numa fase de grande sucesso que se estendeu até 2013, além da Mulher-Hulk.
David foi coautor de uma biografia de Stan Lee, em 2015, que fez muito sucesso, e em 2017, voltou ao Homem-Aranha outra vez.
Além dos super-heróis, David trabalhou na versão em quadrinhos de Dark Tower de Stephen King, e fez muito sucesso com as HQs de Star Trek publicadas pela DC Comics. Ele também escreveu muitos livros, inclusive, alguns adaptando filmes de super-heróis, como Batman Eternamente, Homem-Aranha, Homem-Aranha 2, Homem-Aranha 3, Hulk, O Incrível Hulk e Homem de Ferro.
Peter David tinha 69 anos e suas poderosas histórias serão sempre lembradas por sua qualidade, pela capacidade de inserir problemas da vida real nas histórias e por conseguir trabalhar com drama pesado, violência ou humor escrachado com desenvoltura.


Mais um grande que se vai, R.I.P. Peter David.
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Sim, amigo, é muito triste. Li toda a temporada do Peter David no Hulk na época em que saiu… foi algo muito bom na época, colocou Bruce Banner em outro patamar. Incrível, mesmo. Lembro que comecei a ler a revista “O Incrível Hulk” da Abril por causa das histórias do Homem de Ferro, que eram muito boas naquela época, mas quando começou a fase de Peter David, finalmente, dei real atenção ao gigante cinza.
Um abração!
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