Pouco mais do que duas semanas após fazer seu show de despedida, o vocalista e lenda do rock e do heavy metal, Ozzy Osbourne, morreu hoje, aos 76 anos de idade. A notícia foi dada por um comunicado oficial de sua família. Nos últimos anos, o músico vinha sofrendo muitos problemas de saúde, incluindo o diagnóstico do Mal de Parkinson.

Nascido em 03 de dezembro de 1948 na comunidade de Aston, na cidade de Birmingham, na Inglaterra, no seio de uma família operária, John “Ozzy” Osbourne cresceu como um rapaz desajustado e com dificuldade de aprendizagem, o que resultou nele ser preso por roubo e trabalhar em um açougue e em uma fábrica de buzinas. Mas ele gostava de música e investiu seu dinheiro em um microfone e um par de amplificadores, colocando um anúncio para encontrar outros rapazes para formar uma banda. E deu certo: ele foi procurado por um ex-colega da escola, Tony Iommi, guitarrista, com quem terminou fundando uma banda chamada Earth, ao lado do baixista Geezer Butler e o baterista Bill Ward, que desenvolveram um tipo de blues pesado que evoluiu rapidamente para um rock mais rápido e com muito peso na guitarra distorcida e notas rápidas de baixo e bateria, emolduradas pela voz estridente de Ozzy.
Rebatizada de Black Sabbath, a banda lançou seu primeiro disco, homônimo em 1970 e mudou tudo: já existiam outras bandas pesadas na Inglaterra (The Jeff Beck Group, Led Zeppelin…), mas ninguém tinha aquele som sujo, pesado e carregado de temáticas sombrias, com um clima que remetia diretamente aos filmes de terror, ainda mais com aqueles jovens cabeludos usando roupas de couro preto. Estava inventado o heavy metal!

O Black Sabbath teve uma carreira vitoriosa nos anos 1970, em álbuns como Paranoid, Masters of Reallity e Vol. 4 e se firmaram como uma das principais referências sonoras do rock pesado e difusores da linguagem do heavy metal, ao mesmo tempo em que abusaram perigosamente de todas as drogas e situações de risco que se puder imaginar.
Com a crescente tensão em relação aos demais membros, Osbourne terminou por largar o Black Sabbath, em 1979, e se lançou como artista solo, ao passo que a banda prosseguiu sem ele, conseguindo relevância com o vocalista Ronnie James Dio, com quem lançaram dois álbuns.

Ozzy, por sua vez, emplacou dois álbuns Blizzard of Ozz (1980) e Diary of a Madman (1981), que fizeram muito sucesso, especialmente nos Estados Unidos, ao ponto que o cantor se tornou mais popular do que sua antiga banda e prosseguiu toda a década de 1980 e 90 fazendo álbuns importantes e permanecendo como um dos mais destacados artistas da cena de rock pesado do mundo.
Nos anos 2000, Ozzy ainda experimentou um sucesso diferente, quando estrelou o reallity show The Osbournes, que registrava o cotidiano de sua família, com a esposa e empresária Sharon Osbourne e os filhos.

O Black Sabbath realizou algumas reuniões ao longo do tempo, como para a turnê e o disco Reunion (1998), mas a mais importante se deu em 2013 e quando lançaram o álbum 13, que seria o último do grupo, e fizeram a turnê de despedida The End Tour, que acabou em 2016, e foi também a última da banda.
Aquela reunião contudo, deixou um gosto amargo, porque o baterista Bill Ward decidiu não seguir nem a gravação nem a turnê, o que deixou a reunião incompleta.
Desde então, os músicos sempre comentavam que deveriam se reunir com todos os quatro para uma despedida.

Isso contudo era difícil em vista dos problemas de saúde de Ozzy. Uma vida de excessos, com consumos homéricos de álcool e drogas não o tornaram um sujeito exatamente saudável, mas tudo ficou pior após dezembro de 2003, quando o músico já estava sóbrio e curtindo a fama na TV e sofreu um gravíssimo acidente de quadricíclo em sua propriedade rural na Inglaterra. Ozzy fraturou diversos ossos, teve que ser reanimado duas vezes a caminho do hospital e ficou oito dias em côma. A fratura de uma vértebra deixou sequelas.
Após iniciar uma turnê solo chamada No More Tours, em 2018, ele sofreu uma queda no ano novo de 2019, que fraturou uma vértebra e a cirurgia corretiva piorou a situação da lesão antiga, o que o fez usar bengala definitivamente. Mas não parou aí… logo em seguida, um corte na mão em um acidente doméstico que resultou em uma grave infecção, e depois sofreu outra infecção, agora respiratória, que o mandou para o hospital, convalescendo ao longo do ano de 2019, o cantor tinha esperança de retomar a turnê, mas em 2020 ele revelou que tinha o diagnóstico do Mal de Parkinson e que jamais poderia fazer uma excursão novamente.

A consciência da finitude levou Ozzy a organizar um grande show de despedida, ocorrido no último dia 05 de julho, que trouxe não apenas uma apresentação com canções de sua carreira solo e a reunião derradeira do Black Sabbath para fechar a noite, dessa vez, com o quarteto original todo reunido, com Iommi, Butler e Ward. Ozzy passou os dois shows sentado em um trono preto com uma grande caveira e asas de morcego, mas mandou ver muito bem em seus vocais.
O show se configurou como um festival que trouxe atrações importantes como Metallica, Slayer, além de integrantes de bandas como Guns N’ Roses e Rage Against the Machine, todos querendo homenagear seus ídolos. A festa aconteceu em um estádio em Birmingham, a terra-natal dos músicos.
É triste e chega a ser surpreendente que o fim de Ozzy se dê tão próximo desse grande show de despedida, especialmente, quando ele insistia que só iria se aposentar quando morresse.

