Após ter comunicado a disposição de venda da Warner Bros. Discovery, o CEO da companhia, David Zaslav, oficializou no dia 21 de novembro que o conglomerado recebeu “múltiplas ofertas não solicitadas” e estão avaliando as propostas, ao mesmo tempo em que continuam trabalhando na anteriormente anunciada decisão de dividir (novamente) o grupo em duas partes: a Warner dedicada à criação de conteúdo, com estúdio de cinema e streaming; e a Discovery Global voltada a canais de TV. Embora não nomeados no comunicado oficial, a imprensa destaca que as propostas vieram de três poderosos criadores de conteúdo: Paramount Skydance, Comcast e Netflix. E no que nos interessa aqui no HQRock… quais as consequências disso para o novo DCU de James Gunn?

James Gunn.

A Warner Bros. Discovery é um conglomerado relativamente jovem, tendo sido formado apenas em 2022 pela fusão da Discovery com a Warner, com a primeira comprando a segunda e o CEO desta, Zaslav, mantendo a liderança da nova empresa. A Warner é famosa por seus estúdios de cinema e TV (que incluem o Warner Channel, The CW, HBO e o streaming HBO Max), além de ser proprietária da DC Entertainment (guarda-chuva da DC Comics); enquanto a Discovery trouxe seu pacote com a rede de canais a cabo que levam o seu nome, mais outros como TNT e CNN. Com a chegada de Zaslav e a formação da WBD, em outubro de 2022 foi criado o DC Studios para cuidar das adaptações de cinema da DC, liderado pelos CEOs James Gunn e Peter Safran, enquanto a editora DC Comics passou à liderança de Jim Lee, em maio de 2023, que desde então acumula os cargos de Presidente, Diretor Criativo e Publisher. Zaslav, Gunn e Safran optaram por descontinuar os filmes baseados na DC – agora chamados de DCEU – e inaugurar uma nova era, o DCU, que iniciou de verdade com Superman nos cinemas este ano.

O comunicado do dia 21 de Zaslav aos investidores da WBD afirmava que a empresa está em busca de otimizar os investimentos e que a separação Warner-Discovery busca atingir este objetivo, e deve se completar no meio do ano de 2026. Em paralelo, segue a oferta da venda, que deve ser decidida em breve: o prazo é ainda em dezembro!

As propostas de Paramount Skydance, Comcast e Netflix, obviamente, não são conhecidas do público ou da imprensa, mas a imprensa vem noticiando que a primeira já teria dado pelo menos dois lances, com o primeiro sendo considerado “muito baixo” pelo Conselho Diretor da WBD. A avaliação de mercado da empresa varia entre 50 e 60 bilhões de dólares e a venda pode atingir 80 bilhões no cenário mais otimista.

Neste fim de semana, o The Hollywood Reporter noticiou que a Paramount (um forte estúdio de cinema, proprietário da franquia Missão Impossível) seria o único dos conglomerados que estaria interessado na integridade da WBD, ao passo que Comcast (proprietária do grupo Universal de cinema e música) e Netflix (gigante do streaming) estariam interessadas apenas na parte de cinema da empresa, ou seja, não querem a parte Discovery do negócio. O jornal também diz que tanto Paramount quanto Comcast foram atrás de investidores do Oriente Médio para financiar a compra, mesmo com a primeira negando tal movimentação, mas fontes da indústria do entretenimento e veículos respeitados, como o The Wall Street Journal, insistindo que aquilo é verdade.

A imprensa nerd tenta avaliar qual a consequência para o DCU se qualquer um deles adquirir a WBD, e embora parte da mídia procure minimizar o efeito, sem dúvidas nenhuma, terá grandes consequências. O próprio James Gunn foi perguntado sobre a questão e disse que, independente da compra, seu contrato está garantido (e o de Safran também). Mas não é bem assim.

Liga da Justiça: fracasso em 2017.

A Warner foi vendida duas vezes nos últimos dez anos (o que já é um diagnóstico de sua saúde financeira) e em ambas os efeitos nas adaptações de filmes da DC Comics foram devastadores. Na primeira vez, em 2016, o grupo foi comprado pela AT&T, e a consequência foi a mudança dos rumos cinematográficos, com um novo CEO da Warner mudando os planos anteriores, o que levou, inclusive, ao fiasco fenomenal de Liga da Justiça, em 2017, causado por uma combinação desastrosa de más decisões administrativas e artísticas. Com o DCEU já em crise, a venda para a Discovery resultou na descontinuidade dos filmes daquela era, o cancelamento de projetos (inclusive, o filme Batgirl, inteiramente filmado e não lançado) e a decisão de começar do zero com um novo DCU sob liderança de James Gunn.

Como o HQRock já comentou antes, questões políticas podem (e devem) influenciar os rumos da DC nos cinemas: executivos conservadores estão insatisfeitos com o desempenho (temático-social) de Superman e já se antevê um grande problema caso a WBD seja comprada pela Paramount Skydance, cujo CEO é David Ellison, filho do bilionário Larry Ellison, fundador da Oracle e um grande apoiador de Donald Trump. É realmente difícil de imaginar que o Ellison filho irá deixar Gunn no comando do DC Studios…

E nada é garantido caso Netflix ou Comcast adquiram a WBD ou partes dela que incluam o DC Studios. O novo proprietário da marca pode querer modificar rumos e tons, contar outras histórias e trilhar outras abordagens contrárias ao estilo colorido e socialmente relevante que Gunn imprimiu ao seu Superman, que fez sucesso de público e crítica.

Ou seja, sim, existe a possibilidade de um novo reboot da DC em curto prazo. Basta a nova direção querer. Gunn tem seu contrato? Contratos podem ser renegociados.

Zack Snyder.

Por fim, não deixa de ser importante colocar um ponto quase anedótico: o Comic Book Movie destacou que não parece ser coincidência que nas últimas semanas o diretor Zack Snyder – o principal artificie criativo do antigo DCEU (antes do fracasso de Liga da Justiça) – tenha começado a seguidamente divulgar fotos e imagens do “seu” universo DC, com legendas como “Henry Cavill é o Superman” ou “Ben Affleck” foi o melhor Batman.

Snyder atualmente tem uma parceria de desenvolvimento de conteúdo com a Netflix. Os conspiracionistas já apontam que o diretor está pavimentando para, caso a rede de streaming adquira a WBD, a Warner ou mesmo o DC Studios, colocá-lo de novo no comando desse universo fictício. É exagero? Conspiração? Coincidência?

Veremos…