Durante algum momento, lá pelos anos 1990, o Oasis foi a maior banda de rock do mundo! Liderado pelos irmãos Noel e Liam Gallagher, o Oasis foi uma usina de força, lançando hits ininterruptos em seus primeiros anos e viraram uma referência do rock britânico contemporâneo e se tornaram a ponta de lança do chamado Britpop, o movimento musical que colocou o Reino Unido no centro das atenções depois de uma longa temporada com os EUA dominando tudo, e vindo no reboque do que a imprensa chamava de “marasmo” que tomou conta da cena após a explosão do grunge de Seattle.
O britpop revelou um monte de bandas (Radiohead, Blur, The Verve, Supergrass) e prosseguiria até a década seguinte, já no novo século, quando ganhou uma “segunda leva” por meio daquilo que chamamos de indie rock. E embora algumas bandas e gravações tenha vindo antes, a explosão mundial do britpop se deu mesmo em 1994 com o álbum de estreia do Oasis, que com sua energia, canções arrebatadoras, de enorme simplicidade e a cólera de seus líderes, fizeram um sucesso enorme e se transformaram em uma das grandes bandas das últimas décadas.
Este post foi originalmente escrito em 2014, quando completaram-se os 50 anos da Invasão Britânica (leia aqui), quando uma leva de bandas do Reino Unido virou o rock de cabeça para baixo e consolidou o gênero tal qual conhecemos hoje, e no meio da celebração dos 20 anos da nova invasão que foi o fenômeno conhecido como britpop, Mas deste então foi atualizado.
O HQRock traz aqui a Discografia Completa Comentada do Oasis e celebramos a carreira de uma das mais importantes bandas britânicas dos anos 1990. Então, pegue sua guitarra Gibson com a estampa da union jack, segure um pandeiro, cante com a voz mais rasgada que puder, coloque a caixa no último volume, capriche na distorção, toque acordes simples em melodias arrebatadoras e vamos mergulhar no Oasis do rock.
Esta noite quero ser uma estrela do rock
O Oasis surgiu em Manchester, no norte da Inglaterra, uma cidade mais famosa por seus dois times de futebol, mas que também tem uma importância histórica incomparável por ter sido o grande berço da Revolução Industrial que deu origem ao mundo moderno em que vivemos. Também não é desimportante dizer que a cidade é vizinha de Liverpool, o berço dos Beatles, uma banda que teve uma influência desmedida na obra daquela banda.
Os irmãos Noel Thomas David Gallagher e William John Paul Gallagher são filhos de Thomas e Peggy Gallagher e nasceram em Manchester, em 1967 e 1972; e ainda possuem um outro irmão, Paul, nascido em 1966. O pai deles era alcoólatra e tinha um comportamento violento em casa, algo que afetou demais Liam e Noel. Noel se envolveu primeiramente com a música, até por ser mais velho; enquanto Liam não demonstrou grande interesse pela música até o fim da adolescência, quando se apaixonou pelo rock inglês (especialmente dos anos 1980) e desenvolveu uma paixão sem medidas pelos Beatles e uma obsessão por John Lennon.
Ambos aprenderam a tocar guitarra e Noel terminou trabalhando como rodie, função pela qual acompanhou a banda indie Inspiral Carpets pelos EUA no início dos anos 1990. Enquanto isso, Liam conheceu na escola o jovem Paul McGuigan, que tocava baixo em uma banda chamada The Rain, que fora fundada há pouco tempo pelo guitarrista Paul “Bonehead” Arthurs. Arthurs tinha tido lições de piano e acordeão quando criança e aprendera a tocar guitarra sozinho. Nascido em 1965, era sete anos mais velho do que Liam e dois a mais do que Noel. Ele deixou a escola em 1981 e formou sua primeira banda, Pleasure and Pain, em 1984. O hábito de manter os cabelos bem curtos (e os primeiros sinais de calvície) lhe valeram o apelido Bonehead. O The Rain tinha, além de Arthurs e McGuigan, Tony McCaroll na bateria e o vocalista Chris Hutton.
Em no verão de 1991, insatisfeito com Hutton, Arthurs informou a Liam de que sua banda estava sem vocalista e o garoto de 19 anos se ofereceu para a função. Em seguida, não somente se tornou o vocalista, como também passou a liderar o grupo, compondo as canções junto a Bonehead. Liam também mudou o nome da banda de The Rain para Oasis. Há alguma controvérsia sobre a origem do nome: para alguns foi por causa do Oasis Leisure Center na cidade de Swindon, ao oeste de Londres, que aparecia em um cartaz do Inspiral Carpets pregado na parede do quarto de dormir de Liam e Noel; enquanto outros apontam que existia um pub chamado Oasis em Manchester, que era onde os Beatles tocavam na cidade antes da fama.
O primeiro show da banda foi em agosto de 1991 no Broadwalk Club, um famoso pub de Manchester, que também tinha uma sala de ensaios na qual o grupo praticava. Alguns meses depois, já em 1992, de volta dos EUA, Noel Gallagher assistiu um show da banda do irmão caçula e não ficou impressionado. Na verdade, disse depois em entrevistas que as canções eram “uma merda”, mas viu algum tipo de potencial e fez uma proposta ao The Rain: ele entraria para o grupo, mas teria que ser o líder e único compositor. Motivados pela altíssima qualidade das composições que Noel tinha acumulado em anos, o grupo topou.
A formação original da banda se firmou então: Liam Gallagher (vocais), Noel Gallagher (guitarras e vocais), Paul Arthurs (guitarra), Paul McGuigan (baixo) e Tony McCarroll (bateria). A sonoridade da banda assumiu uma nova função: as fortes canções de Noel (que já vinha escrevendo há anos) encontravam eco com a voz visceral e a interpretação enérgica de Liam, garantindo todo um feeling de rock and roll às melodias redondas do irmão. Além disso, Arthurs e McGuigan forneciam uma parede sonora de acordes simples e pouco movimento, que davam grande solidez ao som. Honestamente, McCarroll era o elo fraco, mas sua performance não comprometia o grupo, pelo menos nas gravações.
Daí, as coisas percorreram até rapidamente. Em 1993, a banda começou a crescer no circuito de indie rock e fizeram suas primeiras gravações semi-profissionais. Durante uma turnê pelo Reino Unido, chamaram a atenção de Alan McGuee, da Creation Records, um selo alternativo, com a qual assinaram contrato. O primeiro single foi um disco não-comercial, apenas distribuído às rádios com uma versão demo de Columbia tocou bastante no norte da Inglaterra. Em abril de 1994, saiu o primeiro compacto oficial: Supersonic, que chegou à 31ª posição das paradas do Reino Unido. Logo em seguida, o grupo assinou com a Sony Music, que distribuiu a música da banda para o resto do mundo.
Seguiram uma enxurradas de singles e um sucesso crescente: Shakemaker foi o segundo compacto e o terceiro foi Live forever, que foi seu primeiro grande hit, chegando ao top10. Tudo isso serviu para abrir caminho para o primeiro álbum, Defenitely Maybe, lançado em setembro daquele ano e foi um sucesso esmagador, sendo o disco britânico de estreia que vendeu mais rápido na história até então. Logo em seguida, ainda veio o compacto com Cigarettes & alcohol, que foi outro grande sucesso. A banda fechou o ano de 1994 com o single de natal Whatever, o único de seus grandes compactos a não ser incluído em um álbum em sua carreira.
Em meio a isso, a banda passou o ano inteiro excursionando, indo inclusive para os EUA pela primeira vez, no verão. Contudo, essa turnê foi alvo do primeiro desentendimento sério entre os irmãos Gallagher, numa briga num palco no Filmore West em San Francisco em que Liam acertou Noel com um pandeiro na cabeça. O grupo estava discutindo em meio ao show, pois Liam e Bonehead estavam bêbados demais para a banda tocar bem. Noel anunciou que estava fora da banda e deixou a turnê, sendo convencido a voltar pelos donos da Creation e juntando-se ao grupo de novo em Minneapolis. A turnê como um todo não foi exitosa e o Oasis falhou em cativar as plateias norteamericanas. Talvez para divulgar mais a energia da banda ao vivo, seria lançado depois o VHS Live by the Sea, com um concerto do grupo.
Em abril de 1995, o grupo lançou outro compacto inédito, Some might say, que foi outro grande sucesso, mas a tensão na banda estava cada vez mais crescente, o que resultou na demissão do baterista Tony McCarroll. Seu substituto foi Alan White, recomendado à banda pelo guitarrista Paul Weller (herói indie da banda The Jam dos anos 1980 e amigo pessoal de Noel).
Maravilha!
Com o novo baterista, a banda gravou e lançou o álbum (What’s the story?) Morning Glory, que seria o grande marco de sua carreira. Antes disso, as polêmicas em torno da banda continuaram, com uma “guerra de acusações” via mídia entre o Oasis e a banda Blur, que disputavam à tapa as paradas de sucesso na época. O pico dessa batalha foi em agosto daquele ano, quando Country house do Blur e Roll with it do Oasis foram lançadas no mesmo dia e a outra banda levou a melhor.
Lançado em setembro de 1995, (What’s the story?) Morning Glory foi um sucesso esmagador nas paradas, se transformando no quarto álbum mais vendido da história do Reino Unido, com quatro milhões de cópias. Em termos globais, o disco atingiu os 20 milhões. O single Wonderwall chegou ao primeiro lugar das paradas e se transformou na canção mais famosa do Oasis e o compacto seguinte foi Don’t look back in anger, primeiro hit cantado por Noel Gallagher.
Mesmo não lançadas em single, canções como Champagne supernova e Morning glory fizeram bastante sucesso nas rádios e ganharam videoclipes que lideraram as paradas da MTV. Foi uma fase de sucesso ostensivo do Oasis, continuando a render brigas e problemas. Na época do lançamento do álbum, o baixista Paul McGuigan chegou a deixar o grupo (alegando uma crise nervosa) e foi substituído brevemente por Scott McLeod (do The Ya’s-Ya’s) que tocou em alguns concertos nos EUA e aparece no clipe de Wonderwall. Porém, ainda no meio da turnê, McLeod também deixou o grupo, o que levou ao Oasis se apresentar apenas como um quarteto no Late Nite with David Letterman, em outubro de 1995, com Bonehead tocando o baixo. McLeod se arrependeu, mas Noel não o aceitou de volta, e ao regressarem à Inglaterra, em seguida, McGuigan foi readmitido.
O sucesso crescente do Oasis também abriu as portas para todas as grandes bandas do britpop, como Radiohead, Blur, The Verve e Supergrass. Algumas já tinham trabalhos lançados anteriormente (e até algum sucesso), mas a explosão do Oasis tornou tudo maior e uma expressão musical de alcance global.
1996 foi o ano em que o Oasis dominou o mundo, com seu sucesso se alastrando a partir da Europa e finalmente conquistando os EUA. Inclusive, Champagne supernova foi lançada como single nos EUA e chegou ao primeiro lugar da parada de Modern Rock da Billboard. Dois concertos especiais coroaram o ápice da carreira do grupo: primeiro em abril no Maine Road Football Ground na cidade natal Manchester, que rendeu o DVD Now and Them...; e em agosto, duas apresentações no prestigiado Knebworth Festival (um dos mais importantes da Inglaterra nos dias atuais), para um público de 500 mil pessoas em cada concerto.
Mas nem tudo eram rosas. Ao contrário! Após a glória, os problemas se agravaram. O Oasis decidiu gravar um MTV Unplugged, ainda em agosto de 1996, mas no dia da gravação, Liam decidiu não subir ao palco, alegando problemas na garganta. A banda se apresentou assim mesmo, com Noel fazendo todos os vocais, mas a apresentação, embora transmitida pela emissora, jamais ganhou um lançamento oficial em vídeo ou áudio, como é tradicional. Além disso, outra turnê nos EUA resultou em grandes brigas entre os irmãos, com Liam chegando a abandonar parte da excursão e Noel decidir ir embora sozinho para a Inglaterra. A imprensa chegou a anunciar o fim da banda, mas o grupo se reagrupou e continuou a turnê.
Tanto Faz
Quase sem descanso, já no fim de 1996 e no início de 1997, o Oasis foi ao Abbey Road – o famoso estúdio usado pelos Beatles – gravar seu terceiro álbum. Be Here Now foi um dos discos mais aguardados da história e fez um sucesso enorme, embora a crítica não tenha gostado e o público também passou a dar avaliações negativas em médio prazo. Mesmo assim, os compactos D’You know what I mean?, Don’t go away e Stand by me foram sucessos arrebatadores.
A roda louca do Oasis continuou a girar ao longo de 1997 com a turnê subsequente, mas no ano seguinte, o grupo decidiu dar um tempo em suas atividades, talvez para resguardar a saúde mental de todos. Para preencher o vazio – e tirar um pouco a ressaca da má recepção de Be Here Now – a banda lançou em 1998 a compilação The Masterplan, que reunia as canções lançadas apenas nos Lados B dos singles até então. O impressionante é que, visto como disco, realmente, The Masterplan é muito melhor do que Be Here Now.
Cigarros e Álcool
O Oasis se reagrupou no início de 1999 para a gravação de seu quarto álbum, mas as coisas simplesmente não funcionaram. Noel Gallagher agora estava limpo das drogas e não queria mais substâncias e álcool nas sessões, de modo que tal atitude resultou na demissão tanto de Paul Arthurs quanto de Paul McGuigan, anunciadas com duas semanas de intervalo em agosto daquele ano. Noel terminou por regravar as partes de ambos os músicos, para não ter futuros problemas contratuais e o álbum Standing on the Shoulder of the Giants sairia em fevereiro de 2000 com uma sonoridade levemente diferente e um espírito distinto.
Somente após o lançamento é que o trio Liam, Noel e Alan White procuraram substitutos para as funções vazias. Primeiramente, foi anunciado o guitarrista Colin “Gem” Archer (da banda Heavy Stereos), que estreou no videoclipe de Go let it out (na qual Liam toca violão, Noel baixo e Gem aparece na guitarra).
Somente em seguida surgiu o anuncio de Andy Bell (da banda Ride) como novo baixista. Bell era compositor e guitarrista em sua carreira anterior e teve que aprender a tocar o baixo para assumir a função. Contudo, a nova dinâmica com Gem Archer e Andy Bell (não raro se alternando entre guitarras e baixo) tornou o Oasis uma banda muito melhor ao vivo. Archer também começou a fazer solos de vez em quando, livrando Noel de assumir essa responsabilidade o tempo inteiro.
Standing on the Shoulder of the Giants não fez tanto sucesso como os anteriores, mas prosseguiu com a carreira de compactos nas paradas, adicionando ainda Who feels love? e Sunday morning call (esta cantada por Noel). A velha dinâmica das brigas também prosseguiu: durante a turnê pela Europa, após outro conflito entre os irmãos, Noel abandonou o grupo, que seguiu sem ele. Noel só retornou à banda algumas semanas depois, para os concertos no Reino Unido. Ainda assim, a banda gravou o show no Wembley Stadium, que encerrou a turnê e lançou o álbum ao vivo Familiar to Millions, que chegou às lojas ainda em 2000 em duas versões, CD simples e duplo.
Pouco a Pouco
O ano de 2001 foi tomado por alguns shows e gravações, de modo que o primeiro álbum com a nova formação foi lançado em julho de 2002: Heathen Chesmistry foi recebido com críticas divididas, mas foi exitoso em mostrar um novo Oasis, no qual embora Noel Gallagher continuasse a ser a força predominante, os demais membros (Gem Archer, Andy Bell e Liam Gallagher) também contribuíram com canções próprias, diversificando mais o som do grupo. O álbum também rendeu quatro singles de sucesso: The hindu times, Stop crying your heart out, Little by little (esta, cantada por Noel) e Songbird (este, o primeiro hit assinado por Liam Gallagher).
A saga de problemas e polêmicas da banda, contudo, seguiu inalterada. Na turnê nos EUA, Noel, Andy Bell e o tecladista de apoio Jay Darlington se envolveram em um acidente de carro, o que gerou um adiamento de alguns shows. Mais tarde, em dezembro, na Alemanha, Liam e Alan White se envolveram em uma briga em um pub, foram presos e um exame comprovou uso de cocaína em Liam, o que lhe rendeu um processo. White também teve um machucado na cabeça. Os shows foram adiados e realizados apenas em março de 2003.
Em janeiro de 2004, foi anunciado que Alan White estava fora da banda. Ele só não tinha tocado no primeiro álbum da banda e seu estilo de bateria com certeza tinha acrescentado muito à sonoridade do Oasis, o que fez os fãs lamentarem de verdade. Além disso, com sua saída, restou apenas Liam e Noel Gallagher como remanescentes do “velho” Oasis dos anos 1990. O grupo encontrou um substituto à altura, entretanto: Zak Starkey, o baterista do The Who e filho do beatle Ringo Starr. Todavia, Starkey permaneceu tocando no Oasis e no The Who ao mesmo tempo, de modo que nunca foi oficializado como membro oficial da banda. Assim, o Oasis se tornou um quarteto, com Liam, Noel, Gem Archer e Andy Bell. A banda seguiu na estrada com Starkey e foi o headline do Glastonbury Festival pela segunda vez em sua carreira no verão daquele ano.
Mantendo o Sonho Vivo
A estreia da nova formação em disco veio em 2005 com Don’t Believe the Truth, aquele que é considerado o melhor álbum da banda desde Morning Glory. Assim como o anterior, o disco traz contribuições de todos os membros nas composições, mantendo mais ou menos metade do disco com canções de Noel e o restante dividido entre Liam, Gem e Bell. O sucesso foi correspondente: o disco vendeu 7 milhões de cópias e chegou ao primeiro lugar das paradas do Reino Unido. O Oasis vivenciou, assim, uma segunda onda de altíssima popularidade, o que fez com os singles Lyla e The importance of being idle chegassem ao primeiro lugar e o terceiro Let there be love ficou em segundo lugar. A banda também fez uma ostensiva turnê mundial, que passou por 26 países, seguindo até 2006.

Ainda em 2006, a banda aproveitou o bom momento para lançar sua primeira coletânea de hits, o disco duplo Stop the Clocks, e no ano seguinte, lançou um documentário chamado Lord don’t slow me down, mostrando os bastidores da turnê e um concerto ao vivo. O título também era referência a uma canção nova que foi o primeiro single totalmente digital da banda, que chegou ao primeiro lugar das paradas e não está em nenhum dos álbuns do grupo.
Caindo
O quarteto e Starkey retornaram ao estúdio em seguida e lançaram o novo álbum Dig Out Your Soul em outubro de 2008. Novamente, o disco foi muito bem recebido e foi ao primeiro lugar das paradas do Reino Unido e quinto dos EUA. O primeiro single foi The shock of the lightning, que foi seguida por Falling down (cantada por Noel) e I’m out a time (um novo sucesso de autoria de Liam Gallagher).
Infelizmente, após o lançamento do disco, Starkey não pôde seguir com a banda em turnê, por causa de seus compromissos com o The Who. Foi substituído por Chris Sharrock, que também não foi oficialmente adicionado, permanecendo apenas como músico de apoio. Mal começou, a turnê já teve um incidente: em um show em Toronto, um fã subiu ao palco e derrubou Noel Gallagher, que quebrou três costelas, obrigando o adiamento de uma série de concertos.
A turnê foi retomada, mas ainda teve dois “eventos”. Primeiro, em um show “de volta para casa” em Manchester em junho de 2009, duas quedas de energia consecutivas interromperam o concerto. Na terceira volta ao palco, a banda anunciou que, agora, o show (e os dois seguintes para os próximos dias no mesmo lugar) eram agora gratuitos. Os outros dois foram considerados muito bons.
Por fim, em 22 de agosto, minutos antes de entrar no palco para um show em Paris, Noel e Liam tiveram uma séria discussão, com este quebrando uma adorada guitarra daquele. O público foi comunicado na hora de que o show não iria mais ocorrer porque a banda não existia mais. Poucas horas depois, Noel escreveu uma carta ao site oficial do grupo, comunicando que estava fora da banda porque não podia mais trabalhar um dia sequer com Liam.
Todos os compromissos do grupo foram cancelados e meses depois Liam comunicou oficialmente que Oasis tinha encontrado o seu fim.

Não Olhe para Trás com Rancor
Liam Gallagher, Gem Archer e Andy Bell, mais o baterista Chris Sharrock, decidiram se manter unidos e formaram uma nova banda chamada Beady Eye, que lançou dois álbuns (Different Gear, Still Speeding e BE, lançados em 2011 e 2013, respectivamente), fez algum sucesso, tocou no encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres e encerrou as atividades em 2014.

Noel Gallagher preferiu uma carreira solo, ainda que sob o nome de Noel Gallagher’s High Flying Birds e foi bastante bem recebido, lançando quatro álbuns (o disco homônimo, 2011, Chasing Yesterday, 2015, Who Build the Moon?, 2017, Council Skies, 2023), sendo muito elogiado pelos dois primeiros, mas diminuindo o impacto nos dois seguintes.

Liam ficou um tempo fora do ar, mas retornou em carreira solo fazendo um sucesso estrondoso, acumulando elogios do público e da crítica, e lançando três álbuns (As You Were, 2017, Why Me? Why Not?, 2019, C’mon You Know, 2022) mais uma colaboração com John Squire (guitarrista do Stone Roses), em 2024.

Ao longo dos anos, a esperança de uma reunião do Oasis alimentou fãs pelo mundo inteiro, mesmo com Noel e Liam trocando farpas constantemente via imprensa e Twitter. Depois de um tempo, Liam começou a se mostrar totalmente disponível a uma reunião e começou a maneirar nas provocações ao irmão, que oficialmente não se falavam desde o fim da banda, por isso, foi algo surpreendente quando, sem aviso, em 27 de agosto de 2024, a dupla anunciou que iriam retornar para uma turnê mundial, posteriormente agendada para começar no dia 04 de julho de 2025, em Cardiff, no País de Gales, e seguindo com shows no Reino Unido, EUA, México, Europa, Coreia, Japão, Austrália e América do Sul, se encerrando com dois concertos em São Paulo, o último deles em 23 de novembro.
Viver para Sempre
Agora, vamos analisar os discos da banda. Para não ficarmos repetindo as informações é bom constar que todos os álbuns de estúdio do Oasis chegaram ao 1º lugar das paradas britânicas (o que é um recorde), com Definitely Maybe vendendo 15 milhões de cópias no mundo, (What’s the Story) Morning Glory? chegando a 23 milhões, Be Here Now, 10 milhões e Don’t Believe the Truth, 7 milhões.
DEFINITELY MAYBE – 1994
O álbum de estreia do Oasis é um tour de force de canções ótimas numa embalagem muito rock and roll. A sonoridade mistura o apelo melódico dos Beatles com a energia punk e um toque do rock inglês dos anos 1980. É o único disco com a formação original da banda: Liam Gallagher (vocais), Noel Gallagher (guitarras e vocais), Paul Arthurs (guitarra), Paul McGuigan (baixo) e Tony McCarroll (bateria). Um crítico certa vez disse que o som do Oasis era tão simples que se transformava em uma força irrefreável. E é mais ou menos isso mesmo: não há nada de complicado na estrutura musical da banda, acordes simples, melodias bonitas, muita distorção e guitarra, baixo e bateria fazendo cada um apenas o básico, produzindo um som muito sólido, maciço e cativante. E claro, há a voz de Liam, que brota dos pulmões sem nada de técnica, apenas energia em força bruta, e impulsiona o conjunto para frente, dando aspereza e intensidade. O álbum abre já mostrando a arrogância carismática dos irmãos Gallagher com Rock and roll star, seguindo um desfile de grandes canções, como Shakermaker, Live forever, Up in the sky, Supersonic, Cigarettes & Alcohol e Slide away. É realmente uma estreia muito forte, com um álbum muito, muito bom.
(WHAT’S THE STORY?) MORNING GLORY – 1995
Apesar da boa estreia, Morning Glory é o disco fundamental do Oasis, onde a banda encontra sua real identidade sonora e estilo. O álbum é mais melódico do que o anterior e um pouco menos pesado. Agora, as guitarras distorcidas abrem espaço para conviverem com violões e percussão e até alguns instrumentos de orquestra. É um disco maravilhoso – perdoe o trocadilho – um dos melhores da década de 1990 e um dos maiores sucessos do período também. Traz as duas canções mais famosas da banda: o lema Wonderwall e a balada Don’t look back in anger, primeiro sucesso do grupo cantado por Noel Gallagher, o compositor de todas as canções. Falando em funções, é importante salientar que o Oasis ganhou um novo baterista neste disco: Alan White (não confundir com o homônimo baterista do Yes). E White acrescentou muito à música da banda, com uma batida cheia de suingue que pode ser entendida à perfeição nas duas canções citadas. O álbum é uma coleção de clássicos da banda: Hello, Roll with it, Hey now, Cast no shadow, Morning glory e Champagne supernova. Esta última tem ares progressivos, participação especial de Paul Weller (do The Jam) nos vocais e guitarra e virou uma peça cult do repertório do grupo. Morning Glory vendeu mais de 20 milhões de cópias e transformou o Oasis em um fenômeno mundial, explodindo de vez o britpop como um grande movimento.
BE HERE NOW – 1997
Depois do apogeu, só resta a queda. É o que diz o ditado. E neste caso foi verdade. Perdido em meio a drogas, polêmicas, brigas infernais, confusões em hotéis, aviões e bares, o Oasis se perdeu em excessos e, apesar da grande expectativa de público e crítica, produziu aqui seu pior disco. Tudo é excessivo em Be Here Now: há canções demais, letras demais, guitarras demais, distorções demais, efeitos demais… Repetição demais! A voz de Liam Gallagher está muito áspera, destruída por shows e cocaína. O álbum parece uma cópia (mal feita) de Morning Glory, claramente imitando sua estrutura e até posicionamento das canções, que guardam “similaridades” com as do disco anterior. Os highlights são D’you know what I mean?, Don’t go away e Stand by me, mas o disco soa cansativo e entediante.
THE MASTERPLAN – 1998 (coletânea)
A própria banda parece ter percebido que não fizera bonito no álbum anterior e decidiu “recuperar o prejuízo” em uma coletânea precoce. Pelo menos tiveram a ombridade de não investir em sucessos, mas na esperta decisão de reunir os Lados B dos compactos lançados até aqui e que não tinham saído em nenhum dos discos. O resultado é ótimo: mesmo com canções compostas e gravadas em períodos de tempo diferentes (entre 1994 e 1997), The Masterplan é um disco muito melhor do que Be Here Now. Muito mesmo! A coleção mostra a força impressionante do Oasis ao exibir que canções formidáveis como The Masterplan, Half the world away, Talk tonight, Going nowhere, Stay young, Rockin’ chair eram todas Lado B de compactos!
STANDING ON THE SHOULDER OF THE GIANTS – 2000
O Oasis entra no século XXI com um álbum de transição. Durantes as gravações, o guitarrista Paul Arthurs e o baixista Paul McGuigan foram demitidos e tiveram suas partes regravadas por Noel Gallagher. Neste álbum, a banda se resume a um trio com Noel, Liam e o baterista Alan White. Há certo embaraçamento nisso e este é o único disco da banda na qual os créditos de músicos não aparece, como que para não revelá-los. O álbum foi recebido com certa frieza e é o que vendeu menos no catálogo da banda. O Oasis busca uma sonoridade nova, mas ainda não chega lá. Há flertes com a eletrônica, timbres psicodélicos e uma volta ao básico da época de Morning Glory, contudo, o que prevalece é algo da superprodução indulgente de Be Here Now. Há destaque para Go let it out, Who feels love? (que tem toques de Strawberry fields forever dos Beatles) e Sunday Morning call (esta cantada por Noel). Para os mais iniciados, há Roll it over, uma bela viagem psicodélica que apenas se estende demais. Este também é o disco que traz a primeira composição de Liam Gallagher: Little James, uma balada convencional.
FAMILIAR TO MILLIONS – 2000 (ao vivo)
Primeira compilação ao vivo do Oasis lançada em disco (já havia Live by the Sea e Here and Then em DVD e VHS), mostra a nova formação do Oasis, com Liam Gallagher (vocais), Noel Gallagher (guitarras e vocais), Gem Archer (guitarra), Andy Bell (baixo) e Alan White (bateria) tocando algumas das melhores canções da banda, mais surpresas como Hey, hey, my, my de Neil Young e Helter Skelter dos Beatles. Não é um disco espetacular, contudo, talvez porque os novos músicos não estavam ainda tão bem integrados. O álbum foi lançado em duas versões (uma dupla e outra simples) e também em DVD.
HEATHEN CHESMISTRY – 2002
Primeiro álbum de estúdio com a nova dupla Gem Archer e Andy Bell (guitarra e baixo) mostra-se bem diferente de Standing on the Soulder of the Giants. O álbum se volta inteiramente para um rock mais básico como do começo da carreira e o resultado é bem melhor do que os álbuns imediatamente anteriores. A dinâmica sonora da banda está bem melhor, já que Archer e Bell são ótimos instrumentistas, o que somam mais. Também, pela primeira vez, a hegemonia de Noel Gallagher é questionada, no sentido de que os outros membros também compõem faixas para o disco. Embora a maioria dos highlight sejam de Noel – The hindu times, Stop crying your heart out e Little by little (esta última, cantada por ele) – há também o primeiro hit de Liam Gallagher como compositor: Songbird. Liam também assina outras duas canções (Born in a different cloud e Better man) e os novatos contribuem cada um com uma canção: Hung in a better place (de Archer) e a instrumental A quick peep (de Bell).
DON’T BELIEVE THE TRUTH – 2005
No intervalo entre o álbum anterior e este, o Oasis perdeu o baterista Alan White, que foi substituído por Zak Starkey (o filho do beatle Ringo Starr), também membro do The Who, o que o impediu de ser efetivado como membro formal do grupo, sendo apenas um acompanhante. Embora não tenha o estilo de White, Starkey é um grande baterista e influencia positivamente o som da banda. Don’t Believe the Truth é o melhor álbum do Oasis desde Morning Glory! É um disco sensacional, bastante forte, que consolida de vez a “nova” sonoridade da banda construída a partir de Heathen Chesmistry. Novamente, Noel Gallagher divide os créditos de composição com Liam, Archer e Bell, só que dessa vez, este trio responde por algumas das melhores canções do disco. E é uma sequência arrebatadora de grandes faixas: Mucky finger, Lyla, The importance of being idle, Let there be love (de Noel), Turn up the sun e Keep the dream alive (de Bell, esta última um grande sucesso nas rádios e trilhas sonoras de cinema), A bell will ring (de Archer) e Gess god think I am Abel (de Liam). É o disco definitivo da fase final do Oasis e trouxe a banda de volta ao topo das paradas e ao grande sucesso mundial.
STOP THE CLOCKS – 2006 (coletânea)
Primeira coletânea dos hits do Oasis, reúne algumas de suas canções mais famosas em uma capa realizada por Peter Blake, o mesmo cara que criou a capa do Sgt. Peppers dos Beatles. Apesar de duplo, este disco não traz nenhuma novidade.
DIG OUT YOUR SOUL – 2008
Álbum de estúdio final do Oasis, prossegue o mesmo caminho de Don’t Believe the Truth, embora não seja tão bom quanto aquele. Novamente, metade do disco é de Noel Gallagher, enquanto os outros três providenciaram o restante. The turning, The Shock of the lightning (o grande sucesso do disco) e Falling down são de Noel (a última cantada por ele), além do grande hit I’m out of time e Soldier on (de Liam) e The nature of reallity (de Andy Bell) e To be where there’s life (de Gem Archer). Novamente, Zak Starkey providencia a bateria e o disco fez grande sucesso.
TIMES FLIES… 1994-2009 – 2010 (coletânea)
Outra coletânea de hits, é basicamente uma nova versão de Stop the Clocks, agora, com algumas faixas de Dig Out Your Soul, além dos dois singles que não saíram em disco, como Whatever (de 1994) e Lord don’t slow me down (de 2007).

KNEBWORTH 1996 – 2021 (ao vivo)
Ter sido o headliner do tradicional Knebworth Festival, na Inglaterra, em 1996 serviu, de certo modo, como apogeu da carreira do grupo, pelo menos em termos comerciais, e foi um evento de enormes proporções: o coroamento de uma banda vinda do mercado independente no centro do maior palco do mundo. Realizado nos dias 10 e 11 de agosto daquele ano, os concertos foram filmados e gravados, mas a banda “meio que esqueceu” de lançá-los na época, e aproveitaram os estertores da pandemia de Covid-19 para disponibilizar o resultado, tanto como um documentário (exibido com enorme sucessos nos cinemas) quanto em um álbum duplo com quase 100 minutos de duração. É um show excelente, trazendo o repertório matador dos dois primeiros álbuns (Supersonic, Cigarrettes & alcohol, Live forever, Don’t look back in anger, Some might say) mais muitos Lado Bs (Acquiesce, Round away) e até duas faixas então inéditas que entrariam no álbum seguinte (My big mouth e It’s gettin’ better, man) fazendo justiça à formação clássica do grupo – com Bonehead na guitarra e Alan White na bateria – que ganha um lançamento oficial em áudio pela primeira vez, pois a despeito de existirem vários vídeos do Oasis com essa formação (Live by the Sea, 1995; …There and Them, 1996), o único registro completo ao vivo oficial em áudio do grupo era Familiar to Millions, já com a formação tardia.
Knebworth mostra a voz de Liam Gallagher gasta como usual, mas em um nível aceitável, e com a banda muito afiada em seu típico som monobloco simples e poderoso, mas aproveitando a ocasião especial para contarem com dois músicos de apoio (Mark Faltham na gaita e Janette Mason nos teclados), uma mini-orquestra (cordas e sopros) para a seção com Whatever, Cast no shadow, Wonderwall e The masterplan, mais a participação especial de John Squire (do The Stone Roses) no encerramento com Champagne supernova e I am the walrus (o cover dos Beatles).
Será que vem mais por aí?





























Cara, muito obrigada por esse post! Um dos melhores e mais completos sobre a discografia do Oasis que achei! Parabéns!
GostarGostar
Oi, Mariana, que bom que você gostou! Seja bem vinda ao HQRock! Nós temos várias outras discografias, como Beatles, Stones, Pink Floyd, Legião Urbana, Cazuza e Titãs. Vale uma olhada! Abração!
GostarGostar