Durante muito tempo, um dos programas de TV mais lendários do rock era o Rock and Roll Circus dos Rolling Stones, que gravado em 1968, só foi lançado oficialmente em 1996. Agora, a banda anuncia uma versão estendida do programa, em várias versões, incluindo áudio e vídeo, além de novas canções inéditas, incluindo um ensaio de Revolution dos Beatles tocada por John Lennon, Eric Clapton, Keith Richards e Mitch Mitchell.

Os Stones tinham acabado de lançar o álbum Beggars Banquet, no qual retornavam à sonoridade blues e R&B após dois anos imersos na psicodelia. E tiveram a ideia de promovê-lo com um filme para a BBC, a ser exibido na época do Natal. Dirigido por Michael Lindsay-Hogg (que fizera vários clipes para os Beatles e dirigiria e seguida o Let it Be), o The Rolling Stones’ Rock and Roll Circus foi gravado em 11 de dezembro de 1968, numa explosiva reunião de artistas, como Jethro Tull, Taj Mahal, Marianne Faithfull, The Who e o supergrupo The Dirty Mac, que consistia em John Lennon e Eric Clapton nas guitarras, Keith Richards no baixo e Mitch Mitchell (do The Jimi Hendrix Experience) na bateria. Ah, e também Yoko Ono. E, claro, dos próprios Rolling Stones.

Mas problemas na produção (e a insana decisão de gravar tudo em um dia só, seguindo a ordem das apresentações de verdade) fizeram os Stones se apresentarem já de madrugada, depois de um dia inteiro acompanhando as filmagens, e a banda tocou cansada e desanimada. Avaliando o material, o grupo achou que estava aquém do que queriam e cancelaram o projeto, que não foi exibido.

Esquecido nos arquivos, o filme foi se tornando lendário com o tempo e vazou para a pirataria. A seção do The Who, por outro lado, foi lançada oficialmente no documentário biográfico The Kids Are All Right, em 1979. Mas no fim das contas, os Stones terminaram lançado o programa em vídeo e disco em 1996.

Agora, a banda irá lançar uma versão de luxo e estendida do material. Segundo a revista Rolling Stone, o material é o seguinte:
Em vídeo:
The Film
“Song For Jeffrey” – Jethro Tull
“A Quick One While He’s Away” – The Who
“Ain’t That A Lot Of Love” – Taj Mahal
“Something Better” – Marianne Faithfull
“Yer Blues” – The Dirty Mac
“Whole Lotta Yoko” – Yoko Ono & Ivry Gitlis, and The Dirty Mac
“Jumpin’ Jack Flash” – The Rolling Stones
“Parachute Woman” – The Rolling Stones
“No Expectations” – The Rolling Stones
“You Can’t Always Get What You Want” – The Rolling Stones
“Sympathy for the Devil” – The Rolling Stones
“Salt Of The Earth” – The Rolling Stones
Extras
Widescreen Feature, Aspect Ratio: 16:9 (65 min)
Pete Townshend Interview, Aspect Ratio: 4×3 (18 min)
The Dirty Mac:
“Yer Blues” Tk2 Quad Split, Aspect Ratio: 4×3 (5:43)
Taj Mahal:
-“Checkin’ Up On My Baby,” Aspect Ratio: 4×3 (5:37)
-“Leaving Trunk,” Aspect Ratio: 4×3 (6:20)
-“Corinna,” Aspect Ratio: 4×3 (3:49)
Julius Katchen:
-“de Falla: Ritual Fire Dance,” Aspect Ratio: 4×3 (6:30)
-“Mozart: Sonata In C Major-1st Movement,” Aspect Ratio: 4×3 (2:27)
Mick & The Tiger/ Luna & The Tiger, Ratio: 4×3 (1:35)
Bill Wyman & The Clowns, Aspect Ratio: 4×3 (2:00)
Lennon, Jagger, & Yoko backstage, Aspect Ratio: 4×3 (45sec)
Film Commentary Tracks
— Life Under The Big Top (Artists) Featuring: Mick Jagger, Ian Anderson, Taj Mahal, Yoko Ono, Bill Wyman, Keith Richards (65 min)
— Framing The Show (Director & Cinematographer) Featuring: Michael Lindsay Hogg, Tony Richmond (65 min)
— Musings (artists, writer, fan who was there) Featuring: Marianne Faithfull, David Dalton, David Stark (50 min)
Em áudio:
The Rolling Stones Rock and Roll Circus Expanded Audio Edition
1. Mick Jagger’s Introduction Of Rock And Roll Circus – Mick Jagger
2. “Entry Of The Gladiators” – Circus Band
3. Mick Jagger’s Introduction Of Jethro Tull – Mick Jagger
4. “Song For Jeffrey” – Jethro Tull
5. Keith Richards’ Introduction Of The Who – Keith Richards
6. “A Quick One While He’s Away” – The Who
7. “Over The Waves” – Circus Band
8. “Ain’t That A Lot Of Love” – Taj Mahal
9. Charlie Watts’ Introduction Of Marianne Faithfull – Charlie Watts
10. “Something Better” – Marianne Faithfull
11. Mick Jagger’s and John Lennon’s Introduction Of The Dirty Mac
12. “Yer Blues” – The Dirty Mac
13. “Whole Lotta Yoko” – Yoko Ono & Ivry Gitlis with The Dirty Mac
14. John Lennon’s Introduction Of The Rolling Stones + Jumpin’ Jack Flash – The Rolling Stones
15. “Parachute Woman” – The Rolling Stones
16. “No Expectations” – The Rolling Stones
17. “You Can’t Always Get What You Want” – The Rolling Stones
18. “Sympathy for the Devil” – The Rolling Stones
19. “Salt Of The Earth” – The Rolling Stones
BONUS TRACKS
20. “Checkin’ Up On My Baby” – Taj Mahal
21. “Leaving Trunk” – Taj Mahal
22. “Corinna” – Taj Mahal
23. “Revolution” (rehearsal) – The Dirty Mac
24. “Warmup Jam” – The Dirty Mac
25. “Yer Blues” (take 2) – The Dirty Mac
26. Brian Jones’ Introduction of Julius Katchen – Brian Jones
27. de Falla: Ritual Fire Dance – Julius Katchen
28. Mozart: Sonata In C Major-1st Movement – Julius Katchen
Como se pode ver, há alguns destaques. Dentre eles, mais três canções de Taj Mahal e três outras faixas do The Dirty Mac, que só existiu nessa ocasião e é visto no filme tocando Yer Blues, canção que os Beatles tinham acabado de lançar no White Album. Nos extras, teremos um segundo take de Yer Blues e as totalmente novas Revolution, outra canção dos Beatles, lançada no Lado B do compacto de Hey Jude; e uma jam session, Warmup Jam.
Infelizmente, não há nada dos Rolling Stones nos extras, já que todas as faixas tocadas pela banda foram exibidas no filme.

O Rock and Roll Circus tem algumas importâncias históricas. Além da explosiva reunião de Lennon, Clapton e Richards (que por si só já seria um dos momentos mais importantes da década de 1960 e o Dirty Mac faz uma versão matadora de Yer Blues); há uma performance também explosiva do The Who com A quick one (while he’s away), que é uma das performances mais famosas (e com razão) da banda de Roger Daltrey e Pete Towshend. Simplesmente espetacular. Há por fim, a curiosidade de ver o único registro do Jethro Tull com o guitarrista Tony Iommi, do Black Sabbath, na banda.

Naquela época, o Black Sabbath já dava seus primeiros passos, mas o Jethro Tull perdeu seu guitarrista e Iommi não pôde recusar a oportunidade de ingressar em uma banda que já lançara um álbum superbem recebido por público e crítica. Mas após duas semanas no grupo, ficou infeliz com o controle excessivo do vocalista, flautista e compositor Ian Anderson, e voltou para a trupe que fundou com Ozzy Osbourne. No fim das contas, foi a decisão certa: o Tull ganhou o guitarrista Martin Barre, que tocou na banda por muitos e muitos anos; e o Black Sabbath lançaria seu disco de estreia em 1970 e se tornaria uma das bandas mais importantes da história do rock.

Mas há uma importância fundamental em Rock and Roll Circus para os Rolling Stones: foi a última performance da banda com o guitarrista Brian Jones. Membro fundador do grupo – saiba mais sobre sua incrível biografia neste velho post do HQRock – Jones era um apaixonado pelo Blues e um músico muito talentoso que dividia as cordas com Keith Richards.
Porém, quando Jagger e Richards começaram a compor a maior parte do repertório do grupo, Jones ficou meio de lado, pois tinha dificuldade em se encaixar musicalmente nas canções da dupla. Aproveitando o interesse de todos na psicodelia, Jones terminou investindo sua musicalidade na habilidade de tocar instrumentos exóticos ao rock – flautas, cítaras, instrumentos medievais, além de saxofone, teclados etc. – o que deu toda aquele colorido ao som dos Stones naquela fase.

Ao mesmo tempo, infelizmente, Jones também mergulhou fundo nas drogas e foi se tornando cada vez mais viciado e desinteressado pela participação no grupo. Durante as sessões de Beggars Banquett, em 1968, Jones só aparecia de vez em quando e muitas vezes não sabia o que fazer. Embora o disco traga ainda bons momentos dele como músico – tocando a guitarra base de Jumpin’ Jack flash (que não saiu no álbum, mas apenas em compacto); fazendo a cítara e a tamboura (dois instrumentos indianos) em Street fighting man; e principalmente, o lindo slide guitar de No expectations – na maior parte das canções ele apenas toca marracas ou não aparece.
Em Rock and Roll Circus, Jones soa bem e parece integrado musicalmente, embora esteja já de olhar distante. Foi a última vez que se apresentou com a banda.
No início de 1969, os Stones voltaram ao estúdio para gravar um novo álbum, e Jones praticamente não apareceu mais. Então, Mick Jagger e Keith Richards optaram por demiti-lo do grupo. A notícia de sua demissão chegou à imprensa em junho daquele ano, e já em 03 de julho, Brian Jones foi encontrado morto em sua casa, afogado em sua piscina durante uma festa. Provavelmente, estava tão chapado que desmaiou e se afogou. Tinha apenas 27 anos.

Três dias depois de sua morte, os Rolling Stones se apresentaram no Hyde Park, em Londres, com seu substituto, o guitarrista Mick Taylor. A apresentação já estava agendada e se decidiu não adiar, transformando o evento em uma homenagem ao ex-membro.
Longe de ser perfeito – ainda mais na parte exclusiva dos Stones (que têm, hoje, farto material ao vivo disponível, de todas as épocas) – Rock and Roll Circus é uma amostra interessante dos anos 1960 e de como Jagger, Richards & Cia. estavam contextualizados dentro de tudo aquilo. É uma jornada musical interessantíssima.
A ampliação do leque, só o tornará mais curioso.
The Rock and Roll Circus box set será lançado em vários formatos, incluindo uma coleção de 3 LPs de vinil, que marcará a primeira vez que o material é lançado nesse formato. Também haverá a versão em 2 CDs, e ambos virão acompanhados de um livreto de 44 páginas com fotografias de Michael Rundolf e um texto de David Dalton. Além dos vídeos em Blu-ray e DVD. A caixa já está em pré-venda e será lançada pela ABKCO, empresa que é responsável pelo catálogo dos Rolling Stones entre 1963 e 1970, e chega às lojas em 07 de junho.
50 anos depois, os Rolling Stones continuam vivos e atuantes, e embora tenha adiado uma turnê pelos EUA para que Mick Jagger fizesse um procedimento cirúrgico no coração de emergência, os planos são de retomar a turnê e ainda gravar um novo álbum de estúdio, sucessor de Blue & Lonesome, de 2016.